28.06.2018 Views

Revista São Francisco - Edição 02

Produzida pela equipe de Comunicação e Marketing do Grupo São Francisco, a Revista São Francisco traz assuntos que interessam todos os tipos de público. Nela você vai ter acesso a notícias, dicas e muito entretenimento.

Produzida pela equipe de Comunicação e Marketing do Grupo São Francisco, a Revista São Francisco traz assuntos que interessam todos os tipos de público. Nela você vai ter acesso a notícias, dicas e muito entretenimento.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

RELATOS DE<br />

UM JOGADOR<br />

Conheci o bingo em 1999, com o pai da minha filha.<br />

Lembro que naquela noite ficamos por volta de<br />

uma hora jogando nas máquinas e ganhamos. Era<br />

tanto dinheiro que achei que era o local exato para<br />

eu ganhar mais e melhorar de vida. No início ia a<br />

cada 20 dias e, às vezes, uma vez por mês. Até que<br />

no mesmo ano saí de férias, e como não tinha nada<br />

para fazer resolvi ir até a casa de jogos e joguei até<br />

perder todo o dinheiro das férias. Achei um absurdo,<br />

pois trabalhei o ano todo e em questão de meia<br />

hora já havia perdido tudo. Na ânsia de recuperar<br />

meu dinheiro, passei a frequentar mais vezes, até<br />

o momento em que já não buscava mais o prazer<br />

do jogo e sim recuperar o valor perdido. Não tinha<br />

o controle do dinheiro, do tempo, da auto-estima,<br />

nem dignidade e amor próprio.<br />

Já não me alimentava, faltava ao trabalho, recebi<br />

duas cartas de advertência da empresa, mas<br />

nada me fez parar de jogar. Lembro que deixei minha<br />

filha, na época menor de idade, do lado de fora<br />

do bingo para jogar. Peguei dinheiro com agiotas,<br />

empréstimos nos bancos e com pessoas conhecidas,<br />

simulei assaltos, menti, manipulei, virei um<br />

trapo humano.<br />

Eu achava que meu problema era financeiro<br />

e não o jogo. Aliás, aquelas máquinas me fascinavam<br />

pelas luzes, era como se eu estivesse dopada<br />

e não percebia o tempo passar. Depois de virar<br />

uma pessoa derrotada procurei ajuda. Desde 20<strong>02</strong><br />

frequento o grupo de Jogadores Anônimos e vivo<br />

um dia de cada vez.<br />

al entre dois homens que tinham<br />

problemas com jogos. Eles começaram<br />

a se reunir regularmente e<br />

à medida que os meses se passavam<br />

nenhum deles voltou a jogar.<br />

No Brasil, a primeira reunião de Jogadores<br />

Anônimos ocorreu no Rio<br />

de Janeiro em 1993.<br />

Hoje o JA tem cerca de 30 grupos<br />

de apoio espalhados por todo<br />

o país, cada um recebe de 8 a 10<br />

pessoas por reunião que acontece<br />

uma vez por semana. Eles acreditam<br />

que a pessoa pode tratar o<br />

vício por meio de uma progressiva<br />

mudança de caráter, seguindo os<br />

conceitos básicos do Programa de<br />

Recuperação de Jogadores Anônimos<br />

que é composto por 12 passos.<br />

Nestes passos o viciado admite<br />

a impotência perante o jogo, passa<br />

a acreditar em uma nova forma de<br />

pensar e analisar a vida. É necessário<br />

tentar reparar os danos causados<br />

e buscar, ainda, apoio nas<br />

orações e na meditação. Depois de<br />

completado os 12 passos é hora de<br />

auxiliar outros jogadores. Além disso,<br />

no JA a família também recebe<br />

ajuda.<br />

VIDA REAL<br />

A ficção sempre se faz presente<br />

na vida real. É importante novelas<br />

e filmes, por exemplo, divulgarem<br />

problemas da sociedade que<br />

muitas vezes são escondidos. Com<br />

anos de trabalho na televisão, Lilia<br />

Cabral visitou jogadores anônimos<br />

para entender o que acontece na<br />

prática. Em um depoimento para o<br />

site da Globo, a atriz contou o que<br />

a surpreendeu. “O semblante deles<br />

é muito tranquilo, porque eles têm<br />

a consciência do vício diferente de<br />

um alcoólatra que tem a parte física<br />

alterada. Eles mentem tanto que<br />

poderiam ganhar o Oscar segundo<br />

disseram pessoas que convivem<br />

com esses jogadores”, diz Lilia.<br />

Nestes casos a ajuda da família<br />

é essencial. “Num primeiro<br />

momento a família pode tentar<br />

conversar, mas sem julgamentos<br />

porque isso só atrapalha. É importante<br />

conter a emoção, ser tolerante<br />

e paciente”, orienta Areco<br />

que indica o acompanhamento<br />

de um psicólogo “Muitas vezes é<br />

preciso fazer uma avaliação, e dependendo<br />

do caso, o viciado pode<br />

ser encaminhado ao médico psiquiatra”,<br />

finaliza.<br />

32 |

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!