?! CURIOSA MENTE Por Natália Gallo Psicóloga do Hospital <strong>São</strong> <strong>Francisco</strong> @inclinarepsicologia O MAL DO SÉCULO Estar triste é o mesmo que ter depressão? 10 |
O que precisa ficar claro é que força de vontade não é suficiente para vencer a depressão e ela não acomete apenas pessoas frágeis. Quando se fala em depressão é comum que inúmeros enganos ocorram. O principal deles é confundir tristeza, ou até mesmo luto, com esta doença que é considerada o mal do século. A tristeza é um estado afetivo que costuma estar presente nos quadros depressivos, mas é um sentimento comum no ser humano, de forma que não pode, isoladamente, ser rotulada de depressão. O mesmo se dá com o luto, que é um período necessário em reação a uma perda significativa (nem sempre ligada à morte concreta) e também faz parte da experiência humana natural. Já a depressão é de fato uma doença, que possui inclusive causas orgânicas cada vez mais reconhecidas, como desregulações em circuitos cerebrais e importante fator hereditário. Envolve também aspectos psicológicos e sociais. Mas então, como reconhecer os sintomas da depressão? Os sinais clínicos são diversos como: pessimismo, baixa autoestima, desânimo, fadiga, insônia ou excesso de sono, perda de interesse e de prazer em atividades e pessoas, sensação de vazio ou falta de sentido, sentimento de culpa sem causa identificável, dificuldade de concentração, agitação ou lentidão, alteração de peso (aumento ou perda) e irritabilidade em alguns casos. O psiquiatra Neury Botega esclarece que nos quadros depressivos mais graves é possível inclusive que os indivíduos não consigam sequer chorar ou sentirem-se tristes, e exemplifica dizendo que “o indivíduo que está triste sente-se mal em relação à situação, enquanto o deprimido sente-se mal em relação a si mesmo”. O comportamento suicida é uma das decorrências mais graves da doença. Mas precisa ficar claro que nem todo depressivo deseja interromper a própria vida (aproximadamente 15% cometem suicídio) e a depressão está longe de ser a única causa para isto. Segundo a Organização Mundial de Saúde, tal comportamento costuma ser decorrente de sentimento de desespero somado à desesperança, gerando a necessidade de alívio que pode culminar no ato suicida. A boa notícia é que geralmente se trata de um momento de crise que, após adequadamente cuidado, pode ser controlado. Estima-se que, em cerca de 75% das tentativas de suicídio, a vontade da pessoa não era de fato morrer, mas sim livrar-se do sofrimento extremo, desejando uma nova vida. Quer envolva comportamento suicida ou não, fica evidente que a depressão é uma condição que necessita de intervenção profissional. Geralmente psicólogos e psiquiatras fazem o correto diagnóstico e diferenciação de outras condições que podem se assemelhar à depressão (demências, endocrinopatias, doenças infecciosas e neurológicas e mesmo alguns medicamentos). A partir disso, definem a melhor forma de tratamento, geralmente combinando medicação, psicoterapia e outras intervenções psicossociais. O que precisa ficar claro é que força de vontade não é suficiente para vencer a depressão e ela não acomete apenas pessoas frágeis. Indivíduos proativos, alegres e otimistas podem desenvolver a doença. Preconceitos e estigmas só atrapalham e desencorajam a busca por ajuda especializada, piorando ainda mais a situação de quem já está em sofrimento intenso. | 11