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Edição 099<br />
05/06/2018<br />
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ÌLẸ IFẸ A ORIGEM DO MUNDO<br />
A cidade de ìlẹ ifẹ é considerada<br />
pelos Yọrùbà o lugar de origem de<br />
suas primeiras tribos. Ifé é o berço<br />
de toda religião tradicional Yọrùbà (a<br />
religião dos Ọrìșà, o candomblé do<br />
brasil), é um lugar sagrado, aonde os<br />
deuses ali chegaram, criaram e<br />
povoaram o mundo e depois<br />
ensinaram aos mortais como os<br />
cultuarem, nos primórdios da<br />
civilização. Ìlẹ ifẹ é o "berço da<br />
terra". Em um tempo onde os<br />
deuses e heróis andavam na terra<br />
com os homens. Ọlọdùmàrẹ o ser superior dos Yọrùbà, que vive num<br />
universo paralelo ao nosso, conhecido como Ọrùn. Por isso ele é também<br />
conhecido como Àjàlọrún e Ọlọrùn "senhor ou rei do Ọrùn", que através dos<br />
Ọrìșà por ele criado, resolve incumbir um dos Ọrìșà fùnfùn (do branco),<br />
Ọrìṣànlà, (o grande Ọrìșà) o primeiro a<br />
ser criado, também chamado de<br />
Ọrìṣànlà e de Ọbàtàlà, de criar e<br />
governar o futuro Àìyẹ: a terra, do<br />
nosso universo conhecido. Ele lhe<br />
entrega o Ẹpọ Ìwà (a sacola da<br />
existência) o qual contém todas as<br />
coisas necessárias para a criação, e é<br />
aclamado como Àláàbáláàsẹ, "senhor<br />
que tem o poder de sugerir e realizar".<br />
Como a tradição mandava, para todos,<br />
antes de iniciar a viagem ele foi<br />
consultar o oráculo de Ifá, com<br />
Ọrùnmìlà, outro Ọrìșà fùnfùn, e este lhe<br />
orientou a fazer alguns sacrifícios a<br />
divindade Ẹṣù, mas se ele já era<br />
orgulhoso e prepotente, mais ainda<br />
ficou, se recusou e nada fez, mas foi avisado que infortúnios poderiam<br />
ocorrer. Ọrìṣànlà, de posse do Àpọ Ìwà, põe-se a caminhar pelo Ọrùn, para<br />
chegar à "porta do espaço", até então um vazio, que viria a ser o Àìyẹ. Ele é<br />
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o Ọrìșà que usa um cajado ritual conhecida como Ọpáșọrọ, durante o<br />
caminho, com muita sede, ele se defronta com o Ìgì Ọpẹ (árvore do<br />
dendezeiro). E com o seu Ọpáșọrọ, perfura o caule da árvore da qual começa<br />
a "jorrar o Ẹmù" (vinho de palma), e põe-se a beber, a tal ponto, que cai<br />
totalmente embriagado no pé da<br />
palmeira e dorme profundamente. O<br />
infortúnio começa acontecer. Ọdùdùwà<br />
Àdẹ Ọlọjúmẹrìndilọgún, é a coroa<br />
possuidora de 16 faces, que para alguns,<br />
faz alusão aos possíveis 16 filhos de<br />
Ọdùdùwà. Outro Ọrìșà fùnfùn, o segundo<br />
criado por Ọlọdùmàrè, por conceito<br />
"irmão mais novo" de Ọrìṣànlà, ficou<br />
enciumado, porque Ọlọdùmàrè tinha<br />
entregado a Ọrìṣànlà o Àpọ Ìwà, e o<br />
estava seguindo pelos caminhos do Ọrùn,<br />
esperando que ele cometesse algum<br />
deslize, o que de fato aconteceu.<br />
Ọdùdùwà, encontrando-o naquele estado, apodera-se do Àpọ Ìwà e leva-o<br />
até Ọlọdùmàrè, narrando o acontecido. E, por este fato, Ọlọdùmàrè delega<br />
a Ọdùdùwà o poder de criar o Àìyẹ e por punição incumbe a Ọrìṣànlà de<br />
somente criar e modelar os corpos dos seres humanos no Ọrùn, sob sua<br />
supervisão e o proíbe terminantemente<br />
de nunca mais beber o Ẹmù. Ọdùdùwà,<br />
então, cumpre a tradição e faz as<br />
obrigações, para se tornar o progenitor<br />
dos Yọrùbà, do mundo: Ọlọfìn e<br />
Ọdùdùwà, o futuro Àjàláyẹ. Desde então<br />
a relação tempestuosa entre Ọdùdùwà e<br />
Ọbàtàlà se perpetuou, ora em disputas,<br />
discórdias, controvérsias e de outras<br />
formas, mas sempre munindo a eterna<br />
rivalidade. Ọdùdùwà chegando ao Àìyẹ<br />
cria tudo o que era necessário e delega<br />
poderes às divindades que o seguiram,<br />
conhecidos como os Àgbà, para<br />
governarem a criação, e volta ao Ọrùn, e<br />
só retornaria quando tudo estivesse<br />
realmente concluído. Ọrìṣànlà, que tinha ficado no Ọrùn com seus<br />
seguidores, já tinha moldado corpos suficientes para povoar o início do<br />
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mundo, vai então para o Àìyẹ, com seus seguidores, os fùnfùn; fato que<br />
ocorre antes da volta de Ọdùdùwà para o Àìyẹ. Quando Ọlọfìn Ọdùdùwà<br />
retorna ao Àìyẹ, funda a cidade de Ìlẹ ifẹ, e vem a ser o primeiro oba (rei) do<br />
povo Yọrùbà com o título de "Ọbá Ọọni", ou seja, o primeiro Ọọni de ifẹ, e a<br />
cidade se torna a morada dos deuses e dos novos seres. Durante todo este<br />
tempo, Ọdùdùwà que já estava casado com Ìyà Ọlọkùn, divindade feminina,<br />
responsável e dona dos mares, tem dois filhos, o primogênito, a divindade<br />
Ọgùn e uma filha de nome Ìsẹdẹlẹ.<br />
O tempo passa, e Ọdùdùwà, que<br />
era uma divindade negra, porém<br />
albina, incumbe seu filho Ọgùn de<br />
ir para a aldeia de Ọgọtún, vizinha<br />
de ifẹ, conter uma rebelião. Ọgùn,<br />
divindade negra, senhor do ferro,<br />
parte para sua missão e realiza o<br />
intento, trazendo consigo làkánjẹ,<br />
filha do rebelde vencido. Ora,<br />
làkánjẹ era espólio de Ọdùdùwà, o<br />
Ọọni de ifẹ, portanto intocável, mas làkánjẹ era muito bela e extremamente<br />
sensual e Ọgùn não resistiu aos seus encantos e com ela teve várias noites<br />
de amor, durante sua viagem de volta. Chegando a ifẹ, ele entrega os<br />
espólios da conquista, inclusive làkánjẹ, a seu pai Ọdùdùwà, que também<br />
não resistiu aos lindos encantos da mortal làkánjẹ e por ela se apaixona e<br />
acabaram por casar-se. Ọgùn nada tinha<br />
contado a seu pai dos fatos ocorridos e<br />
logo após o casamento làkánjẹ está<br />
grávida, desta gravidez nasce um filho de<br />
nome Ọdẹdẹ. Só que o destino foi fatídico,<br />
Ọdìdẹ nasceu metade negro, como a pele<br />
de Ọgùn e metade branco, como a pele do<br />
albino Ọdùdùwà, revelando assim, a<br />
traição de Ọgùn para com a confiança do<br />
seu pai, esta situação gerou muita<br />
discussão entre Ọdùdùwà e Ọgùn, mas a<br />
principal foi "quem tinha razão", ou, quem<br />
teria mais "genes" no filho em comum,<br />
Ọdẹdẹ, e cada um se posicionava com a<br />
seguinte frase: "a minha palavra triunfou" ou "a minha palavra é a correta",<br />
que aglutinada é Ọrànyíàn e foi assim que ele passou a ser chamado e<br />
conhecido. Com làkánjẹ, uma das muitas esposas de Ọdùdùwà, ou com<br />
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outras, teve ou já tinha mais seis filhos, outros dizem dezesseis, uns, um<br />
número maior ainda, enfim, alguns dos filhos destas esposas, geraram as<br />
linhagens dos obas Yọrùbà, uns foram os precursores de sete das principais<br />
tribos, ou mais, que deram origem à civilização dos Yọrùbà, e religiosamente<br />
falando, todos os povos do mundo. Os filhos, netos ou bisnetos de Ọdùdùwà,<br />
os deuses, semideuses e/ou heróis, formaram a base da nação Yọrùbà,<br />
portanto Ọlọfìn Ọdùdùwà Àjàláìyẹ é<br />
aclamado como "o patriarca dos<br />
Yọrùbà". Ọbàtàlà (Ọrìṣànlà), que<br />
também já estava no Àìyẹ com sua<br />
comitiva, mas devido à grande<br />
rivalidade com Ọdùdùwà, foi expulso<br />
de ìlẹ ifẹ e funda a cidade de Ìgbọ e se<br />
torna o primeiro Ọbà Ìgbọ chamado<br />
também de bàbà Ìgbọ, pai dos Ìgbọ.<br />
Numa sociedade polígama, Ọrìṣànlà é um caso raro de monogamia, pois a<br />
divindade Ìyẹmọwọ foi sua única esposa e não tiveram filhos.<br />
Ọrànyíàn é Àlàfìn de Ọyọ: Ọbà Ádẹníràn<br />
Ádẹyẹmí, um sucessor de Ọrànyíàn, o 1º Àlàfìn<br />
de Ọyọ - Após grandes vitórias, Ọrànyíàn tornase<br />
o braço direito de seu pai em ìlẹ ifẹ, pois seus<br />
outros irmãos foram povoar regiões distantes,<br />
menos Ọbàlùfàn Ọgbọgbọdìrìn. Ọdùdùwà<br />
ordena então que Ọrànyíàn conquiste terras ao<br />
norte de ifẹ, mas Ọrànyíàn não consegue<br />
cumprir a tarefa e sai derrotado e, com<br />
vergonha de encarar seu pai, não volta mais a<br />
ifẹ, com isso funda uma nova cidade e lhe dá o<br />
nome de Ọyọ, tornando-se o primeiro oba Àlàfìn<br />
de Ọyọ. Casado com Mọrẹmí, uma bela mortal,<br />
nativa de Ọfà, que se tornou mais tarde uma<br />
heroína em ìlẹ ifẹ, da qual tem um filho, que<br />
recebe o nome de Àjàkà. Após algum tempo,<br />
Ọrànyíàn investe em novas conquistas e volta a<br />
guerrear contra a nação dos tapas, onde havia<br />
sido derrotado, mas desta vez consegue uma<br />
grande vitória sobre Ẹlẹmpẹ, na época rei dos tapas. Por sua derrota, Ẹlẹmpẹ<br />
entrega-lhe sua filha Tọrọṣí, para que se case com ele. Retornando a Ọyọ,<br />
Ọrànyíàn casa-se com Tọrọṣí e com ela tem um filho, chamado de Ṣàngọ, um<br />
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mortal, nascido de uma mãe mortal e um pai semideus, portanto com<br />
ascendentes divinos por parte de pai. Após este período com inúmeras<br />
vitórias, a cidade de Ọyọ torna-se um poderoso império, Ọrànyíàn,<br />
prestigiado e redimido de sua vergonha, volta para ìlẹ ifẹ, deixando em seu<br />
lugar, em Ọyọ, o príncipe coroado, seu filho Àjàkà, que torna-se o segundo<br />
Àlàfìn de Ọyọ. Em uma de suas conquistas, a da cidade de Bẹnin, anterior a<br />
fundação de Ọyọ, Ọrànyíàn termina com a dinastia de Ọgísọ, o então rei,<br />
expulsando-o e assumindo o trono, tornando-se o primeiro Ọbabínín, e inicia<br />
sua dinastia tendo um filho, chamado Ẹwẹkà, com uma mulher do local.<br />
Antes de deixar a cidade, ele<br />
torna Ẹwẹkà como seu sucessor<br />
no trono do Bẹnin. (Atual cidade<br />
na Nigéria, antigo reino do<br />
Bẹnin, não confundir com a<br />
república do Bẹnin, antigo país<br />
chamado Dàọmé). Durante sua<br />
longa ausência em ìlẹ ifẹ,<br />
Ọbàlùfàn Ọgbọgbọdìrìn, seu<br />
irmão mais velho, se tornou o<br />
segundo Ọọni de ifẹ, após o<br />
reinado de Ọdùdùwà. Quando<br />
Ọbàlùfàn morreu, e ninguém sabia do paradeiro de Ọrànyíàn, o povo de ifẹ<br />
aclamou Ọbàlùfàn Àláyẹmọrẹ como sucessor direto de seu pai. Quando<br />
Ọrànyíàn chega em ifẹ, Ọbàlùfàn Àláyẹmọrẹ já reinava como o terceiro Ọọni<br />
de ifẹ, mas com um fraco reinado. Enfurecido com o povo de ifẹ que haviam<br />
aclamado Àláyẹmọrẹ, e que o tinham chamado para combater possíveis<br />
inimigos, o poderoso guerreiro colérico, comete<br />
várias atrocidades e só para quando uma anciã<br />
grita desesperada que ele está destruindo seus<br />
"próprios filhos", o seu povo. Atônito, ele finca no<br />
chão seu Àṣà (escudo) que imediatamente se<br />
transforma em uma enorme laje de pedra, num<br />
lugar hoje chamado de "Ìtà Àláṣà”, e decide ir<br />
embora e nunca mais voltar à ifẹ. Quando<br />
rumava para fora dos arredores de ifẹ, em Mọpá,<br />
foi interceptado pelo povo que o saudavam<br />
como Ọọni de ifẹ e suplicavam por sua volta. Ele<br />
então satisfeito e envaidecido, atende ao povo e<br />
finca no chão seu Ọpà (seu bastão de guerreiro)<br />
transformando-o em um monólito de granito (ver foto: Ọpà Ọrànyíàn)<br />
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selando assim o acordo com o povo e volta em uma<br />
procissão triunfante ao palácio de ifẹ. Sabendo disso,<br />
Ọbàlùfàn Àláyẹmọrẹ abandona o palácio e se exila na<br />
cidade de Ìlárá. Ọrànyíàn ascende ao trono e se torna<br />
o 4ª Ọọni de ifẹ até sua morte. Ọbàlùfàn Àláyẹmọrẹ,<br />
retorna do exílio e reassume como o 5ª Ọọni de ifẹ e<br />
reina desta vez, com sucesso até a sua morte. Ọpà<br />
Ọrànyíàn: o grande monólito de granito com ferro<br />
incrustado na forma de bastão, com 5,27 metros de<br />
altura, artefato considerado uma relíquia de Ọrànyíàn,<br />
para alguns ele "entrou na terra" neste lugar e foi para<br />
o Òrùn, de onde nunca mais voltou, ou ainda,<br />
transformou seu Ọpà fincando-o no chão e surgindo<br />
então, o monólito para ser lembrado e reverenciado. -<br />
Àjàkà Àdẹ bàyànnì, tipo de coroa usada por Dàdà Àjàkà,<br />
durante seu exílio na cidade de Ìgbọhọ. O Àlàfìn de<br />
Ọyọ, o oba Àjàkà, meio irmão de Ṣàngọ, era muito<br />
pacifico, apático e não realizava um bom governo.<br />
Ṣàngọ, que cresceu nas terras dos tapas (núpẹ), local<br />
de origem de Tọrọṣí, sua mãe, e mais tarde se instalou<br />
na cidade de kọṣọ, mesmo rejeitado pelo povo por ser violento e<br />
incontrolável, mas sendo tirânico, se aclamou como oba kọṣọ. Mais tarde,<br />
com seus seguidores, se estabeleceu em Ọyọ, num bairro que recebeu o<br />
mesmo nome da cidade que viveu, kọṣọ e com isso manteve seu título de<br />
oba kọṣọ. Ṣàngọ percebendo a fraqueza de seu irmão e sendo astuto e ávido<br />
por poder, destrona Àjàkà e torna-se o terceiro Àlàfìn de Ọyọ. Àjàkà,<br />
também chamado de Dàdà, exilado, sai de Ọyọ<br />
para reinar numa cidade menor, Ìgbọhọ,<br />
vizinha de Ọyọ, e não poderia mais usar a coroa<br />
real de Ọyọ. E, com vergonha por ter sido<br />
deposto, jura que neste seu reinado vai usar<br />
uma outra coroa (ade), que lhe cubra seus<br />
olhos envergonhados e que somente irá tira-la<br />
quando ele puder usar novamente o ade que<br />
lhe foi roubado. Esta coroa que Dàdà Àjàkà<br />
passa a usar, é rodeada por vários fios ornados<br />
de búzios no lugar das contas preciosas do ade<br />
real de Ọyọ, e esta chama-se ade bàyànnì (ver<br />
fotos). Dadá Àjàkà então casa-se e tem um filho<br />
que chama-se Àgànjù, que vem a ser sobrinho de Ṣàngọ. Ṣàngọ reina durante<br />
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sete anos sobre Ọyọ e com intenso remorso das inúmeras atrocidades<br />
cometidas e com o povo revoltado, ele abandona o trono de Ọyọ e se refugia<br />
na terra natal de sua mãe em tapa. Após um tempo, suicida-se, enforcandose<br />
numa árvore chamada de Àyọn<br />
(Àyán) na cidade de kọṣọ. Com o fato<br />
consumado, Dàdà Àjàkà volta à Ọyọ e<br />
reassume o trono, retira então o ade<br />
bàyànnì e passa a usar o ade Àlàfìn,<br />
tornando-se então o quarto Àlàfìn de<br />
Ọyọ. Após sua morte, assume o trono<br />
seu filho Àgànjù, neto de Ọrànyíàn e<br />
sobrinho de Ṣàngọ, tornando-se o<br />
quinto Àlàfìn de Ọyọ. Como Àgànjù<br />
não teve filhos, com ele acaba a<br />
dinastia de Ọdùdùwà em Ọyọ, assim<br />
termina o primeiro período de<br />
formação dos povos Yọrùbà. De ifẹ<br />
até Ọyọ, de Ọdùdùwà a Àgànjù,<br />
passando por Ṣàngọ. Àdẹ bàìànì ou<br />
Àdẹ bànnì, tipo de coroa usada no brasil, nos candomblés, nas festas do ciclo<br />
de Ṣàngọ, chamado de Ẹjìlá Ṣàngọ, nos ritos para Ìyámaṣṣẹ - Ṣàngọ O que<br />
notamos nesse primeiro período Yọrùbà, é que na realidade, o que se fala<br />
de Ṣàngọ, e a sua história nos candomblés do brasil, e de outros acima<br />
descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais. Inicialmente,<br />
averiguamos que Ọdùdùwà é um Ọrìșà fùnfùn masculino e único, é o pai do<br />
povo Yọrùbà e não uma simples "qualidade" de Ọrìṣànlà, ou seja, são<br />
divindades totalmente distintas, inclusive, não se suportavam, pelos fatos<br />
vistos; e que também Ìyà Ọlọkùn, é um<br />
Ọrìșà feminino e a dona do mar,<br />
portanto da água salgada, é quem<br />
governa os oceanos e não o Ọrìșà<br />
Iyẹmànjá, "senhora do rio Iyẹmànjá e<br />
do rio Ọgùn", divindade de água doce,<br />
e muito menos mãe de Ọgùn e de<br />
outros filhos Ọrìșà à ela atribuídos.<br />
Notar a acentuação diferente no nome<br />
do Ọrìșà Ọgùn e do rio, pois são<br />
palavras distintas. Quanto a Ṣàngọ, demonstramos que foi um mortal em sua<br />
vida no Àìyẹ, portanto quando morreu, tornou-se um Ẹẹgùn, pois seus pais<br />
eram mortais. O que ocorreu em sua vida, foi que uma de suas esposas, e a<br />
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única que o acompanhou em sua fuga de Ọyọ, era a divindade Ọyá,<br />
loucamente apaixonada por ele, e no instante de sua morte ela o pega com<br />
o seu poder de Ọrìșà e o conduz diretamente a<br />
Ọlọdùmàrẹ, e por insistência de Ọyá, ele o<br />
"ressuscita" como uma divindade, já que em<br />
vida, Ọyá, perdida de amores, ensina-lhe vários<br />
segredos dos Ọrìșà, principalmente o segredo<br />
do fogo que pertencia somente a Ọyá, que ela<br />
lhe ensina e lhe dá este poder e outros, por<br />
paixão. Esta afirmação é facilmente notada,<br />
pois Ṣàngọ é a única divindade do panteão que<br />
é assentada de forma material completamente<br />
diferente, isto é, em madeira, numa gamela<br />
sobre um pilão, sua roupa ritual é composta de<br />
várias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo<br />
sobre as pernas, que lembra perfeitamente o<br />
tipo de roupa usada pelos bàbà Ẹgùngùn<br />
(ancestrais) e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos<br />
Ẹẹgùn, dos mortos comum, o carneiro; existe também outras minúcias, que<br />
aqui não cabe mencionar. Nos candomblés, citam Àjàkà e Àgànjù como<br />
sendo "qualidades" de Ṣàngọ, que agora sabemos isto não é possível, pois,<br />
Àjàkà é seu meio irmão e Àgànjù é filho de Dàdà Àjàkà, portanto seu<br />
sobrinho, notoriamente pessoas mortais e completamente distintas, que<br />
fazem parte da família de Ṣàngọ, mas não tiveram a honra de tornarem-se<br />
Ọrìșà, mas são ancestrais ilustres. Também no brasil, faz-se uma cerimônia<br />
chamada de "coroa de Dàdà" ou "Àdẹ<br />
bàìànì". Que a coroa é levada<br />
ritualmente em uma charola durante<br />
as festas do ciclo de Ṣàngọ chamada de<br />
bànnì ou Ìyámaṣṣẹ, que representa a<br />
mãe de Ṣàngọ. Ora, sabemos que<br />
quem usou este ade foi, Àjàkà,<br />
apelidado de Dàdà, de quem Ṣàngọ lhe<br />
roubou o trono, e que a mãe de Ṣàngọ<br />
foi Tọrọṣí, filha de Ẹlẹmpẹ, rei dos<br />
tapa, e que ela não tem nenhuma<br />
importância teológica, somente<br />
histórica, por ter sido mãe de um Àlàfìn. Não estamos desmerecendo e nem<br />
tampouco desprestigiando o Ọrìșà Ṣàngọ, somente tentamos elucidar fatos<br />
notoriamente conhecidos na terra dos Yọrùbà, sob os aspectos histórico,<br />
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através da tradição oral, e divino que se convergem e se conservam na<br />
grandiosidade de Ṣàngọ.<br />
Obs.: os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos, por<br />
vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral Yọrùbà. Sob o<br />
ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos, pois não<br />
são dados comprovados por documentos e nem tampouco pela arqueologia,<br />
que pouco investiu, os "pouquíssimos" artefatos que foram achados e<br />
datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto da longínqua história<br />
da civilização Yọrùbà. No contraponto, em nenhum momento afirmamos<br />
que não exista a história dos Yọrùbà, isto sim, seria um absurdo afirmar. A<br />
tradição oral pode ser contraditória e a cronologia praticamente inexistente,<br />
pela forma cultural dos Yọrùbà mensurarem o tempo, mas jamais poderá ser<br />
negligenciada e nem tampouco rejeitada.<br />
Por:<br />
Àwọ Ifábùnmì Fátùmbí<br />
Marco Rodrigues<br />
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Por: Pierre Fátùmbí Verger<br />
A instituição de confrarias religiosas, sob a<br />
égide da Igreja Católica, separava as etnias<br />
africanas. Os pretos de Angola formavam a<br />
Venerável Ordem Terceira do Rosário de<br />
Nossa Senhora das Portas do Carmo,<br />
fundada na Igreja de Nossa Senhora do<br />
Rosário do Pelourinho. Os jẹjẹ reuniam-se<br />
sob a devoção de Nosso Senhor Bom Jesus<br />
das Necessidades e Redenção dos Homens<br />
Pretos, na Capela do Corpo Santo, na Cidade<br />
Baixa. Os nagôs, cuja maioria pertencia à<br />
nação Kẹtú, formavam duas irmandades:<br />
uma de mulheres, a de Nossa Senhora da Boa<br />
Morte; outra reservada aos homens, a de<br />
Nosso Senhor dos Martírios. Essa separação por etnias completava o que já<br />
havia esboçado a instituição dos batuques do século precedente e permitia<br />
aos escravos, libertos ou não, assim reagrupados, praticar juntos<br />
novamente, em locais situados fora das igrejas, o culto de seus deuses<br />
africanos. Várias mulheres enérgicas e voluntariosas, originárias de Kẹtú,<br />
antigas escravas libertas, pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora da<br />
Boa Morte da Igreja da Barroquinha,<br />
teriam tomado a iniciativa de criar<br />
um terreiro de candomblé chamado<br />
Ìyà Omi Àṣẹ Àyrá Ìntílẹ, numa casa<br />
situada na Ladeira do Berquo, hoje<br />
Rua Visconde de Itaparica, próxima à<br />
Igreja da Barroquinha. As versões<br />
sobre o assunto são numerosas e<br />
variam bastante quando relatam as<br />
diversas peripécias que<br />
acompanharam essa realização. Os<br />
nomes dessas mulheres são eles<br />
mesmos controversos. Duas delas chamadas Ìyálúṣṣọ Dánádáná e Ìyánáṣṣọ<br />
Àkálá, segundo uns, e Ìyánáṣṣọ Ọkà, segundo outros, auxiliadas por um<br />
certo Babá Àṣṣíká, saudado como Ẹṣṣá Àṣṣíká no padê do qual falaremos<br />
mais tarde, teriam sido as fundadoras do terreiro de Ase Aira Ìntílẹ. Ìyálúṣṣọ<br />
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Dánádáná, segundo consta, regressou à África e lá morreu. Ìyánássọ teria,<br />
pelo seu lado viajado a Kẹtú, acompanhada por Marcelina da Silva. Não se<br />
sabe exatamente se esta era sua<br />
filha de sangue, ou filha espiritual,<br />
isto é, iniciada por ela no culto dos<br />
Ọrìșà, ou ainda, se se tratava de<br />
uma prima sua. As opiniões sobre<br />
o assunto são controversas e<br />
tornam-se objeto de eruditas<br />
discussões, estando porém todos<br />
de acordo em declarar que seu<br />
nome de iniciada era Ọbátọṣṣí.<br />
Marcelina-Ọbátọṣṣí fez-se<br />
acompanhar nessa viagem por sua<br />
filha Madalena. Após sete anos de<br />
permanência em Kẹtú, o pequeno grupo voltou acrescido de duas crianças<br />
que Madalena tivera na África, e grávida de uma terceira, Claudiana, que<br />
será por sua vez mãe de Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora,<br />
Ọṣùn Míwá, da qual tive a insigne honra de<br />
tornar-me filho espiritual. Ìyánáṣṣọ e Ọbátọṣṣí<br />
trouxeram de Kẹtú, além dessas filhas e netas,<br />
um africano chamado Bángbọṣẹ, que recebeu<br />
na Bahia o nome de Rodolfo Martins de<br />
Andrade, e, no padê ao qual me referi acima,<br />
é saudado como Ẹṣṣá Ọbitikọ. O terreiro<br />
situado, quando de sua fundação, por trás da<br />
Barroquinha mudou-se por diversas vezes e,<br />
após haver passado pelo Calabar na Baixa de<br />
São Lourenço, instalou-se sob o nome de Ilê<br />
Ìyánássọ na Avenida Vasco da Gama, onde<br />
ainda hoje se encontra, sendo familiarmente<br />
chamado de Casa Branca do Engenho Velho, e<br />
no qual Marcelina-Ọbátọṣṣí tornou-se a mãede-santo<br />
após a morte de Ìyánássọ. Verifica-se ligeira divergência na versão<br />
dada por Dona Menininha relativa às origens dos terreiros provenientes da<br />
Barroquinha. O nome de Ìyálúṣṣọ Dánádáná não é mencionado. A primeira<br />
mãe-de-santo teria sido Ìyà Àkálá (distinta de Ìyánássọ), que, tendo<br />
regressado à África, aí mesmo veio a falecer. A segunda mãe-de-santo teria<br />
sido Ìyánássọ Ọkà (e não Àkálá). Não se sabe com precisão a data de todos<br />
esses acontecimentos, pois, no início do século XIX, a religião católica era<br />
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ainda a única autorizada. As reuniões de protestantes eram toleradas só<br />
para os estrangeiros; o islamismo, que provocara uma série de revoltas de<br />
escravos entre 1808 e 1835, era<br />
formalmente proibido e<br />
perseguido com extremo rigor; os<br />
cultos aos deuses africanos eram<br />
ignorados e passavam por<br />
práticas supersticiosas. Tais cultos<br />
tinham um caráter clandestino e<br />
as pessoas que neles tomavam<br />
parte eram perseguidas pelas<br />
autoridades. Por volta de 1826, a<br />
polícia da Bahia havia, no decorrer<br />
de buscas efetuadas com o objetivo de prevenir possíveis levantes de<br />
africanos, escravos ou livres, na cidade ou nas redondezas, recolhido<br />
atabaques, espanta-moscas e outros objetos que pareciam mais adequados<br />
ao candomblé do que a uma sangrenta revolução. Nina Rodrigues refere-se<br />
a certo quilombo, existente nas matas do Urubu, em Pirajá, “o qual se<br />
mantinha com o auxílio de uma casa de fetiche da vizinhança, chamada a<br />
Casa de Candomblé”. Um artigo do Jornal da Bahia, de 3 de maio de 1855,<br />
faz alusão a uma reunião na casa<br />
Ilê Ìyánássọ: “Foram presos e<br />
colocados à disposição da polícia<br />
Cristóvão Francisco Tavares,<br />
africano emancipado, Maria<br />
Salomé, Joana Francisca,<br />
Leopoldina Maria da Conceição,<br />
Escolástica Maria da Conceição,<br />
crioulos livres; os escravos<br />
Rodolfo Araújo Sá Barreto,<br />
mulato; Melônio, crioulo, e as<br />
africanas Maria Tereza,<br />
Benedita, Silvana… que estavam no local chamado Engenho Velho, numa<br />
reunião que chamavam de candomblé”. É curioso encontrar nesse<br />
documento o nome, pouco comum, de Escolástica Maria da Conceição, o<br />
mesmo com o qual seria batizada, trinta e cinco anos mais tarde, Dona<br />
Menininha, a famosa mãe-de-santo do Gantois, cujos pais, a essa época,<br />
sem dúvida, frequentavam ou faziam parte do terreiro de Ilê Ìyánássọ, onde<br />
houve essa ação policial. Com a morte de Marcelina-Ọbátọṣṣí, foi Maria<br />
Júlia Figueiredo, Ọmọníkẹ, Ìyàlọdẹ, também chamada Ẹrẹlú na sociedade<br />
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dos Gẹlẹdẹ, que se tornou a nova mãe-de-santo. Isso provocou serias<br />
discussões entre os membros mais antigos do terreiro de Ilê Ìyánássọ, tendo<br />
como consequência a criação de<br />
dois novos terreiros, originários do<br />
primeiro; Júlia Maria da Conceição<br />
Nazaré, cujo Ọrìșà era Dàdà Àbiyàn<br />
Àjàkú, fundou um terreiro<br />
chamado Ìyà Ọmì Àṣẹ Ìyámaṣẹ no<br />
Alto do Gantois, cuja mãe-de-santo<br />
atual, e quarta a ocupar este lugar,<br />
é Dona Escolástica Maria da<br />
Conceição Nazaré, “Menininha”, a última das famosas mães-de-santo da<br />
antiga geração. Segundo Menininha, Júlia da Conceição Nazaré, fundadora<br />
do Terreiro do Gantois, teria sido a irmã-de-santo, e não filha-de-santo, de<br />
Marcelina-Ọbátọṣṣí. Uma personagem importante nos meios do<br />
candomblé, chamada Babá Àdẹtá Ọkánlẹdẹ, consagrada a Oxóssi e<br />
originária de Kẹtú, teria tido um papel importante quando foi criado o<br />
Terreiro do Gantois, Ìyà Ọmì Àṣẹ Ìyámaṣẹ. Eugênia Ana Santos, Aninha<br />
Ọbábíyí, cujo Ọrìșà era Ṣàngọ,<br />
auxiliada por Joaquim Vieira da Silva,<br />
Ọbáṣanyá, um africano vindo do<br />
Recife e saudado Ẹṣṣá Ọbawúrọ, no<br />
Padê ao qual já fizemos alusão,<br />
fundaram outro terreiro saído do Ilé<br />
Láwanaṣṣọ e chamado “Centro Cruz<br />
Santa do Àṣẹ de Ọpọ Afonjá”, que foi<br />
instalado, em 1910, em São Gonçalo<br />
do Retiro, depois do Àṣẹ ter<br />
funcionado provisoriamente no lugar<br />
denominado Camarão, no bairro do<br />
Rio Vermelho. Sob o impulso desta grande Mãe de Santo, o novo terreiro<br />
rapidamente igualou – e talvez, mesmo, tenha ultrapassado – em reputação<br />
os outros candomblés Kétu. Maria da Purificação Lopz, Tia Bada Ọlúfándẹí,<br />
sucedeu, em 1938, a Aninha e deixou, em 1941, o encargo do terreiro a<br />
Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora Ọṣùnmíwá, filha espiritual de<br />
Aninha Ọbábíyí. Pelo jogo complicado das filiações, Senhora era bisneta de<br />
Ọbátọṣṣí por laços de sangue e sua neta somente por laços espirituais da<br />
iniciação. Em outros termos, Ìyánássọ Àkálá (ou Ọkà) foi, na geração<br />
anterior, ao mesmo tempo, a bisavó e a trisavó de Senhora. As coisas<br />
tornaram-se mais complicadas ainda quando Senhora recebeu, em 1952, o<br />
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título honorífico de Ìyánássọ, dado pelo Àlàfìn Ọyọ da Nigéria, por<br />
intermédio de uma carta de que tive a honra de ser o portador. Senhora,<br />
abolindo o tempo passado, graças a<br />
esta distinção, tornou-se<br />
espiritualmente a fundadora desta<br />
família de terreiros de candomblé da<br />
nação de Kétu, na Bahia, confirmando<br />
tão elevada posição em 1962, quando<br />
foi presidir, seguida de seus Ọgàn<br />
(onde figuravam os colaboradores<br />
desta obra, Carybé, Jorge Amado,<br />
Waldeloir Rêgo e eu mesmo), o Àṣẹṣẹ<br />
ou cerimônia mortuária da saudosa, e mais que centenária, Mãe de Santo<br />
do Ilê Ìyánássọ da Casa Branca do Engenho Velho, Maximiana Maria da<br />
Conceição, Tia Massi Ọínfúnkẹ. Esta dignidade recebida da África por<br />
Senhora provocou, diga-se de passagem, comentários e rumores, os<br />
“fuxicos” que agitam e apaixonam as pessoas que pertencem a este<br />
pequeno mundo, cheio de tradição, onde as questões de etiqueta, de<br />
direitos fundamentados sobre o valor dos nascimentos espirituais, de<br />
primazias, de gradação nas formas elaboradas de saudações, de<br />
prosternações, de joelhos são<br />
observadas, discutidas e criticadas<br />
apaixonadamente; neste mundo<br />
onde o beija-mão, as curvaturas, as<br />
respeitosas inclinações de cabeça, as<br />
mãos ligeiramente balançadas em<br />
gestos abençoadores representam<br />
um papel tão minucioso e docilmente<br />
praticado como na Corte do Rei Sol.<br />
Os terreiros de candomblé são os<br />
últimos lugares onde as regras do bom tom reinam ainda soberanamente.<br />
Após o desaparecimento da saudosa Mãe Senhora, em 1967, duas novas<br />
Mães de Santo lhe sucederam à frente do Àṣẹ Ọpọ Afonjá. A atual Maria<br />
Estella de Azevedo Santos, Ọdẹ Kàyọdẹ, retornando a tradição de Ìyánássọ<br />
e de Ọbátọṣṣí, foi fazer uma viagem às fontes, na Nigéria e no ex-Dàọmé.<br />
Após a morte de Senhora, outros terreiros foram criados, originários todos<br />
do Àṣẹ Ọpọ Afonjá formando uma terceira geração desta família de<br />
candomblés que nasceu na Barroquinha. Citemos o Àṣẹ Ọpọ Àgànjù, de<br />
Balbino Daniel de Paula, Ọbáráyin, que viajou para África e aí participou das<br />
festas para Ṣàngọ, com perfeita naturalidade, como se sua família não<br />
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houvesse deixado aquele país há várias<br />
gerações. Existem numerosos outros<br />
terreiros que seguem o ritual Kétu, como<br />
o do Ilé Máíọlájẹ no Matatu, mais<br />
conhecido sob o nome de Àlàkẹtù, cuja<br />
Mãe de santo atual, Olga de Àlàkẹtù, já foi<br />
várias vezes à África. Citemos, ainda, o<br />
terreiro de Ilé Ọgúnjá, também no Matatu,<br />
do falecido Pai de Santo Procópio Xavier<br />
de Souza, Ọgúnjọbí. Ao lado dos terreiros<br />
Nagô-Kétu, há na Bahia os da nação Ìjẹ̀ṣà.<br />
O mais digno dentre eles é o de Eduardo<br />
Ìjẹ̀ṣà, ou Eduardo Antônio Mangabeira,<br />
meio-irmão de Otávio Mangabeira, que foi governador do Estado da Bahia.<br />
Durante a década de 50 ele enviou cartas redigidas em perfeito Yọrùbà a<br />
seu distante parente, o Rei de Ìjẹ̀ṣà, que as recebeu de minhas mãos<br />
bastante emocionado. Os terreiros Jẹjẹ, onde se praticava o culto dos<br />
Vọdùn do Dàọmé, eram mais raros. O mais conhecido era o do Bọgùm, da<br />
falecida Emiliana Piedade dos Reis, à qual sucedeu a falecida Valentina<br />
Maria dos Anjos, Mãe Runhó. Os cultos Jẹjẹ e Nagô se fundiam em terreiros<br />
como o de Ọṣùmàrẹ, na Rua Vasco da Gama, dos falecidos Antônio de<br />
Oxumaré, Cotinha e Simpliciana. O ritual dos cultos de origem Bantu era<br />
inicialmente diferente das cerimônias Nagôs e Jẹjẹ. Misturaram-se, depois,<br />
tornando-se bastante próprios. A originalidade destes cultos Bantus é difícil<br />
de definir. Não se sabe se os rituais Jẹjẹ e Nagô foram ou não influenciados<br />
por escravos do Congo e de Angola, já presentes no Brasil em grande<br />
quantidade, no final do século XVII.<br />
Relações mais constantes<br />
estabeleceram-se nos séculos<br />
posteriores, entre Bahia e<br />
Pernambuco e a Costa dita dos<br />
Escravos; a maioria dos cativos<br />
desembarcados nestas duas<br />
províncias era constituída, então,<br />
pelos Jẹjẹ e Nagôs (Dàọmé e Yọrùbà).<br />
Expusemos, em outras obras, as<br />
razões comerciais criadas pela presença do fumo na Bahia e em<br />
Pernambuco, razões que determinaram a afluência dos Jẹjẹ e dos Nagôs a<br />
estas duas regiões, a partir do século XVIII, e não às outras partes do Brasil,<br />
onde os Congos e Angolas continuaram a ser importados em grande<br />
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proporção. A palavra candomblé, que serve para designar, na Bahia, as<br />
religiões africanas em geral, parece ser de origem Bantu. É possível que as<br />
influências das religiões vindas<br />
destas regiões não se restringissem,<br />
apenas, ao nome dado às<br />
cerimônias, mas tivessem dado aos<br />
cultos Jẹjẹ e Nagô na Bahia uma<br />
forma diferente, em certos<br />
detalhes, destas mesmas<br />
manifestações na África. Um<br />
estudo em separado do ritual Bantu<br />
é tarefa bastante difícil, pois seria<br />
necessário fazê-lo em diversos pontos do Brasil, em lugares onde esta<br />
influência Jẹjẹ - Nagô não se tivesse feito sentir. Na Bahia, temos que nos<br />
contentar com a presença de alguns cantos e ritmos de tambores. Seria<br />
necessário, também, localizar os termos Bantus ainda conhecidos, termos<br />
estes que os participantes de terreiros Bantus têm tendência a exprimir no<br />
seu equivalente Nagô, seja por espírito de discriminação, seja para falar<br />
numa língua compreensível aos seus interlocutores. Existem na Bahia o<br />
terreiro Congo do falecido Manoel Bernardino da Paixão, o Bate Folha, no<br />
bairro de Beiru; o terreiro Angola da falecida Maria Neném do Tumbeuci,<br />
também no Beiru, e o de seu Filho de Santo, o falecido Manoel Ciríaco de<br />
Jesus, o Tumba Juçara, no Alto do Corrupio, hoje sob a direção da Mãe de<br />
Santo Dere. Destaquemos, finalmente, o caso do falecido Pai de Santo João<br />
Alves de Torres, mais conhecido como Joãozinho da Goméa, que deve seu<br />
renome ao Caboclo Pedra Preta, e cujo culto, realizado à maneira africana,<br />
era dedicado aos ancestrais indígenas, Senhores desta Terra do Brasil.<br />
Iniciado no ritual Angola por Jubiabá, Joãozinho for herdeiro de uma Ọyá e<br />
se orientou, cada vez mais, em direção ao ritual Nagô. Este caso nos parece<br />
típico da ascendência exercida pelo ritual Nagô sobre as religiões de etnias<br />
diferentes. Na própria África, as religiões Bantus parecem centradas sobre<br />
uma série de devoções aos ancestrais de um grupo familiar reduzido e não<br />
sobre o culto de deuses ligados às forças da natureza. É possível que<br />
existissem estes tipos de cultos, mas, na Bahia, eles tomaram uma forma<br />
bem próxima da concepção Yọrùbà.<br />
Texto adaptado<br />
Àwọ Ifábùnmì Fátùmbí<br />
Marco Rodrigues<br />
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Rodolfo Manoel Martins<br />
de Andrade é um dos<br />
personagens mais<br />
destacados da história do<br />
candomblé. Bàbàlàwọ e<br />
sacerdote de Ṣàngọ, ele é<br />
mais lembrado por seu<br />
nome Yọrùbà, Bámbọsẹ<br />
Ọbítíkọ, e é considerado<br />
um ancestral de um dos<br />
terreiros mais antigos da<br />
Bahia, o Ilê Àṣẹ Ìyà Náṣṣọ<br />
Ọkà, hoje popularmente<br />
conhecido como Casa<br />
Branca. Também aparece<br />
nas tradições orais de<br />
terreiros no Recife e no<br />
Rio de Janeiro. Nascido<br />
no reino Yọrùbà de Ọyọ,<br />
provavelmente por volta<br />
de 1820, foi escravizado já em idade adulta e enviado para a Bahia, mas em<br />
poucos anos obteve sua liberdade. Posteriormente, viajou para diversas<br />
províncias do então Império do Brasil, ainda retornando à África. Radicouse<br />
em Lagos, mas voltava sempre ao Brasil. Hoje, tem descendentes nos<br />
dois lados do Atlântico. Vale notar que o método de oráculo com 16 búzios<br />
usados hoje em todo o Brasil, o Ẹrìndínlọgun, ou “jogo de búzios”, é<br />
frequentemente conhecido, entre os adeptos do candomblé, como o<br />
“sistema Bámbọsẹ” (Beniste, 1999, p. 13; Braga, 2011), enquanto na<br />
literatura etnográfica o papel de Bámbọsẹ Ọbitikọ no período de formação<br />
das religiões afro-brasileiras tem<br />
sido frequentemente comentado.<br />
Em trabalho recente, apresentei<br />
as primeiras informações<br />
históricas sobre sua vida,<br />
apontando para sua atuação em<br />
uma rede de libertos que se<br />
estendia da Bahia até<br />
Pernambuco, Rio de Janeiro e<br />
Lagos (Castillo, 2012). O presente trabalho traz novos dados etnográficos e<br />
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documentais que contribuem com<br />
nuanças importantes para a<br />
reconstrução histórica de sua história de<br />
vida singular, contextualizando sua<br />
escravização no quadro político da queda<br />
do império de Ọyọ e do fim do tráfico<br />
atlântico de escravos. O texto também<br />
analisa suas atividades religiosas no Rio<br />
de Janeiro, onde, nas duas últimas<br />
décadas do século XIX, Bámbọsẹ Ọbítíkọ<br />
atraiu uma comunidade de filhos de<br />
santo e clientes. Seu status como líder<br />
religioso nessa cidade — onde os<br />
falantes de línguas bantus eram muito<br />
mais numerosos do que os falantes de<br />
Yọrùbà — demonstra a importância de<br />
nagôs residentes na Bahia em promover a disseminação do culto aos Ọrìșà<br />
em outras partes do Brasil. Finalmente, este trabalho aponta para vínculos<br />
indiretos entre Bámbọsẹ e um dos mais conhecidos personagens negros do<br />
Rio, o alferes Candido de Fonseca Galvão, cujo pai, o liberto nagô Bemvindo<br />
da Fonseca Galvão, tinha laços com o Ilê Axé Ìyà Náṣṣọ Ọkà por<br />
intermédio da Ìyàlọriṣà Marcelina da Silva (Obá Tossi). De acordo com a<br />
família Bámbọsẹ-Martins de Lagos, que descende de Bámbọsẹ Ọbítíkọ, ele<br />
pertencia a uma linhagem real de Ọyọ, e como tal era descendente direto<br />
de Ṣàngọ. Um dos primeiros Àlàfìn (reis) do reino, Ṣàngọ foi deificado após<br />
sua morte e se tornou um dos mais importantes Ọrìșà de Ọyọ, e seu culto<br />
difundiu-se junto com a expansão política do Estado. Conforme<br />
mencionado anteriormente,<br />
Bámbọsẹ era sacerdote de Ṣàngọ.<br />
No Brasil, as tradições orais<br />
afirmam ainda que foi consagrado a<br />
Ọgọdọ, uma “qualidade” desse<br />
Ọrìșà. Frequentemente, nomes e<br />
práticas associados a determinada<br />
qualidade de Ọrìșà vêm de mitos e<br />
ritos de regiões específicas da<br />
Yọrùbà. No Brasil, como em Cuba,<br />
Ṣàngọ Ọgọdọ é especificamente associado aos núpẹ, grù cujas terras faziam<br />
fronteira a leste e ao norte com o antigo reino de Ọyọ. Diz-se que a mãe de<br />
Ṣàngọ era núpẹ. Além disso, existia uma importante cidade chamada<br />
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Ọgọdọ. Localizada na margem sul do rio<br />
Níger, não muito longe da cidade de Ọyọ<br />
- Ìlẹ, Ọgọdọ era originalmente núpẹ, mas<br />
caiu sob o domínio de Ọyọ no final do<br />
século XVIII. Até os anos 1830, a maioria<br />
dos grandes comerciantes de Ọyọ tinha<br />
representantes em Ọgọdọ. Uma grande<br />
potência regional, o reino de Ọyọ tornouse<br />
um império que incluía outros Estados<br />
Yọrùbà e recebia tributos de reinos<br />
vizinhos de outras etnias. O império de<br />
Ọyọ atingiu seu apogeu na segunda<br />
metade do século XVIII, sob o Àlàfìn<br />
Àbìọdún. Mas, depois de sua morte, por<br />
volta de 1789, disputas internas pelo<br />
poder começaram a rachar o império. O<br />
século XIX trouxe perdas significativas de<br />
território, primeiro por rebeliões nas províncias e posteriormente pelas<br />
invasões do califado de Ṣọkọtọ, um ascendente poder rival regional. Entre<br />
1835 e 1837, Ọgọdọ se aliou a Ìlọrín, uma cidade Yọrùbà controlada por<br />
Ṣọkọtọ desde os anos 1820. Juntas, Ọgọdọ e Ìlọrín atacaram a capital<br />
imperial. Ọyọ - Ìlẹ foi incendiada e seus<br />
habitantes fugiram para sudeste. O legado<br />
de Bámbọsẹ Ọbítíkọ no culto aos orixás no<br />
Rio de Janeiro continua até hoje. Os<br />
primeiros herdeiros foram Mãe Aninha, sua<br />
filha de santo, e Felisberto Sowzer, seu<br />
neto. Nas primeiras décadas do século XX,<br />
ambos foram líderes importantes no mundo<br />
do candomblé até suas mortes, em 1938 e<br />
1940, respectivamente. Nas próximas<br />
gerações foram substituídos por Agripina de<br />
Souza (uma das primeiras filhas de santo de<br />
Aninha), Cantulina Pacheco (neta carnal de<br />
Joaquim Viera da Silva e também filha de<br />
santo de Aninha) e Regina Topázio Sowzer<br />
(filha carnal de Felisberto Sowzer), todas elas naturais da Bahia. Além<br />
dessas pessoas, da descendência carnal e espiritual de Bámbọsẹ Ọbítíkọ,<br />
outros baianos envolvidos no candomblé também se estabeleceram na<br />
então capital federal nesse período (Rocha, 2000, p. 32-35; Conduru, 2010;<br />
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Augras e Santos, 2005). A multifacetada trajetória de Bámbọsẹ Ọbítíkọ<br />
fornece um estudo de caso que esclarece diversos aspectos da experiência<br />
vivenciada por africanos no Brasil escravocrata, bem como a influência do<br />
quadro político da queda do Império de Ọyọ sobre o crescimento do culto<br />
a Xangô. Ao mesmo tempo, ao seguir seus passos entre Salvador, Recife,<br />
Lagos e Rio de Janeiro, percebe-se a existência de sofisticadas redes social<br />
religiosas, tanto no movimento de retorno à África quanto no trânsito a<br />
outras capitais do império, especialmente o Rio de Janeiro. Sua atuação<br />
nesta cidade constitui um exemplo bastante concreto do papel de atores<br />
“baianos” no crescimento do culto aos Ọrìșà durante as últimas décadas do<br />
século XIX, um fenômeno bastante comentado na historiografia e na<br />
etnografia da religiosidade afro-brasileira, mas relativamente pouco<br />
documentado.<br />
Texto adaptado<br />
Àwọ Ifábùnmì Fátùmbí<br />
Marco Rodrigues<br />
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Casa Branca do Engenho<br />
Velho, Sociedade São Jorge<br />
do Engenho Velho ou Ìlẹ Àṣẹ<br />
Ìyà Náṣṣọ Ọkà é considerada<br />
a primeira casa de<br />
candomblé aberta em<br />
Salvador, Bahia. "Terreiro da<br />
Casa Branca constituído de<br />
uma área de<br />
aproximadamente 6.800 m2,<br />
com as edificações, árvores e<br />
principais objetos sagrados,<br />
situado na Avenida Vasco da<br />
Gama s/nº, em Salvador, Bahia". Texto do tombamento Terreiro Casa<br />
Branca, realizado em 14/8/1986 pelo IPHAN. A história da Casa Branca do<br />
Engenho Velho foi contada na III Conferência Mundial da Tradição dos Orixá<br />
e Cultura, realizado em Nova York, pelo representante oficial da Casa<br />
Branca, José Abade de Oliveira, Ọtún Ọlú, Ọtùn Àjàgùn. No período da<br />
escravidão no Brasil, os negros formavam suas comunidades nos engenhos<br />
de cana. Na Bahia, princesas, na condição de escravas, vindas de Ọyọ e Kẹtú,<br />
fundaram um centro num engenho de cana. Depois se agruparam num local<br />
denominado Barroquinha, onde fundaram uma comunidade de Nagô, que<br />
segundo historiadores,<br />
remonta mais ou menos 300<br />
anos de existência. Sabe-se<br />
que esta comunidade fora<br />
fundada por três negras<br />
africanas cujos nomes são:<br />
Àdẹtá ou Ìyà Dẹtá, Ìyà Kálá e<br />
Ìyà Náṣṣọ. Não se tem certeza<br />
de quem plantou o àṣẹ,<br />
porém o Engenho Velho se<br />
chama Ilé Ìyà Náṣṣọ Ọkà. O Ilé<br />
Ìyà Náṣṣọ funcionava numa Roça na Barroquinha, dentro do perímetro<br />
urbano de Salvador. Os africanos que se encontravam ali, lugar deserto<br />
naquela época, porém próximo ao Palácio de sua Real Majestade, tiveram<br />
receio da intervenção das autoridades no seu Culto, daí, Ìyà Náṣṣọ resolveu<br />
arrendar terras do Engenho Velho do Rio Vermelho de Baixo, no trecho<br />
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chamado Joaquim dos<br />
Couros, lugar onde se<br />
encontra até hoje,<br />
estabelecendo aí o primeiro<br />
Terreiro de Culto Africano na<br />
Bahia. À Ìyà Náṣṣọ, sucedeu<br />
Ìyà Marcelina (esse foi o<br />
conflito que faz nascer o<br />
terreiro do Gantois). Após a<br />
morte desta, duas das suas<br />
filhas, Maria Júlia da<br />
Conceição e Maria Júlia Figueiredo, disputaram a chefia do candomblé,<br />
cabendo à Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (Ìyà Kẹkẹrẹ)<br />
tomar a posse de Mãe do Terreiro. Maria Júlia da Conceição afastou-se com<br />
as demais dissidentes e fundaram outra Ilé Axé, o (Terreiro do Gantois).<br />
Substituiu Maria Júlia Figueiredo na direção do Engenho Velho, a Mãe Sussu<br />
(Ursulina de Figueiredo). Com a sua morte nova divergência foi criada entre<br />
suas filhas, Sinhá Antônia, substituta legal de Sussu, por motivos superiores<br />
não podia tomar a chefia do Candomblé, em consequência o lugar de Mãe<br />
foi ocupado por Tia Massi (Maximiana Maria da Conceição). Vencendo o<br />
partido da Ordem, os dissidentes inconformados fundaram então uma<br />
outra Ilé Axé, o (Ọpọ Afonjá). Talvez seja oportuno abrir um parêntese. O<br />
explanador é sobrinho de Sinhá<br />
Antônia e Ọgàn de Ọṣàguyìàn da<br />
Tia Massi. Maximiana Maria da<br />
Conceição, Tia Massi foi sucedida<br />
por Maria Deolinda, Mãe Ọkẹ. A<br />
direção sacerdotal do Engenho<br />
Velho foi posteriormente confiada<br />
à Marieta Vitória Cardoso, Ọṣùn<br />
Níkẹ, recentemente desaparecida.<br />
Atualmente, assumiu a chefia da Casa, a Ìyàlọriṣà Altamira Cecília dos<br />
Santos, filha legítima de Maria Deolinda.<br />
Poste central do barracão<br />
O Terreiro é de Ọṣọṣṣì e o Templo principal é de Ṣàngọ. O Barracão que tem<br />
o nome de Casa Branca, é uma edificação alongada com várias divisões<br />
internas que encerram residências das principais pessoas do Terreiro, como<br />
também espaços reservados aos quartos de Ọrìșà, quarto de Àṣẹ, Salão<br />
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onde se realizam as festas públicas, bem como a cozinha onde se preparam<br />
as comidas sagradas. Uma bandeira branca hasteada no Terreiro indica o<br />
caráter sagrado deste espaço. No telhado do Barracão, símbolos de Xangô<br />
identificam o Patrono do Templo. O<br />
terreno fica situado numa encosta<br />
que se estende até uma cota de<br />
30.00m com declividade de 30%, no<br />
lado direito da atual Av. da Gama, no<br />
sentido de progressão para o Rio<br />
Vermelho, entre as Ladeiras Manoel<br />
do Bonfim e do Bọgùn, na Unidade<br />
Espacial C-5 em Salvador - Bahia.<br />
Ocupa uma área de 6.000m². Tem como endereço, Av. Vasco da Gama, 463.<br />
Em redor do Barracão existem várias casas de Ọrìșà.<br />
Situação atual<br />
No início, as atividades do Ilé Àṣẹ<br />
sofreram perseguições da<br />
Sociedade e por parte da Polícia. Já<br />
no período da República, o<br />
candomblé fora proibido de<br />
exercer as suas atividades e os<br />
Terreiros ficaram subjugados à<br />
Delegacia de Jogos, Entorpecentes<br />
e Lenocínio. Hoje porém a situação<br />
é diferente. Existe na Prefeitura de Salvador, o Projeto MAMNBA da Prómemória,<br />
sob a direção do Antropólogo Ordep José Trindade Serra, cujo<br />
objetivo é proceder o Mapeamento de Sítios e Monumentos Religiosos<br />
Negros na Bahia. Em 14 de junho do corrente ano, o Ministério da Cultura,<br />
a Prefeitura Municipal de Salvador e o Ministério da Relações Exteriores,<br />
em conjunto lançaram oito postais sobre a Ilé Axé Ìyà Náṣṣọ Ọkà e a revista<br />
do Patrimônio Histórico e<br />
Artístico Nacional publicou -<br />
A Coroa de Ṣàngọ no Terreiro<br />
da Casa Branca - em separata<br />
do número 21/1986. Chegou<br />
então a hora da proteção a<br />
todos os Terreiros de<br />
Candomblé do Estado. O Ilé<br />
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Axé Ìyà Náṣṣọ é o 1º Templo de Culto Religioso Negro no Brasil - Casa Branca<br />
do Engenho Velho. É o primeiro Monumento Negro considerado<br />
Patrimônio Histórico do Brasil desde o dia 31 de maio de 1984 Tombamento<br />
do Terreiro do Engenho Velho). Antes disso, em 1982, o Terreiro já havia<br />
sido tombado como Patrimônio da Cidade do Salvador 1ª Capital do Brasil.<br />
Em 1985 o Terreiro do Engenho Velho foi considerado àṣẹ Especial de<br />
preservação Cultural do Município de Salvador. A Sociedade São Jorge do<br />
Engenho Velho, representante legal da Comunidade do Ilé Àṣẹ Ìyà Náṣṣọ<br />
Ọkà foi considerada de utilidade pública Municipal e Estadual. É Membro<br />
do Conselho Geral do Memorial Zumbi. Atualmente está feito o Plano de<br />
preservação do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho e prepara-se o<br />
Projeto de Recuperação da área em convênio com o Ministério da Cultura<br />
e a Prefeitura Municipal do Salvador.<br />
Deu origem a inúmeros Templos Afro-<br />
Brasileiros. Em nome da Ìyàlọriṣà e de<br />
todo o Corpo sacerdotal do Terreiro,<br />
transmitimos nossas saudações aos<br />
irmãos negros dos Estados Unidos e<br />
de todo o Mundo, em primeiro lugar.<br />
Abraçamos também os Povos e<br />
Nações existentes no Continente<br />
Americano e todos os Homens de boa vontade pela Paz e Igualdade de<br />
todos.<br />
Texto adaptado<br />
Àwọ Ifábùnmì Fátùmbí<br />
Marco Rodrigues<br />
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O Ilê Ìyà Ọmì Àṣẹ Ìyámaṣẹ,<br />
localizado na cidade de<br />
Salvador e mais conhecido<br />
como o Terreiro do<br />
Gantois, é um dos mais<br />
antigos candomblés da<br />
Bahia, comentado nos<br />
estudos afro-brasileiros<br />
desde os tempos de Nina<br />
Rodrigues e reconhecido<br />
como patrimônio histórico do Brasil desde 2002. Contudo, pouco se sabe<br />
sobre seus primeiros tempos, além de tradições orais sobre o envolvimento<br />
da fundadora no legendário Candomblé da Barroquinha. Este texto cruza<br />
dados das tradições orais com pesquisa documental e etnográfica,<br />
reconstruindo assim as histórias de vida da fundadora, Maria Júlia da<br />
Conceição, e de seu marido, Francisco<br />
Nazareth d’Etra, desde o cativeiro até a<br />
liberdade. A fundadora era de nação nagô,<br />
mas seu marido era jẹjẹ e as evidências sobre<br />
os primeiros tempos da comunidade<br />
religiosa apontam para a importância de<br />
influências jẹjẹ. O texto ainda traz novas<br />
reflexões sobre a antiga relação entre o<br />
Gantois e o Ilê Àṣẹ Ìyà Náṣṣọ Ọkà (Casa<br />
Branca), sugerindo uma nova cronologia<br />
para a cisão entre as duas comunidades. O Ilê<br />
Ìyà Omi Axé Ìyámaṣṣẹ, ou o Terreiro do<br />
Gantois, como é mais conhecido, é um dos<br />
mais antigos candomblés da Bahia. Tombado pelo Instituto de Patrimônio<br />
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 2002, o Gantois tem destacada<br />
importância desde o início dos estudos sobre as religiões afro-brasileiras.<br />
Numa série de artigos publicados em 1896, Nina Rodrigues, o pioneiro<br />
desse campo acadêmico, tomava o terreiro como modelo “para uma ideia<br />
exata de que é um templo fetichista na Bahia”.1 Naquele tempo, a casa<br />
ainda era liderada pela fundadora, a velha africana Maria Júlia da<br />
Conceição, com o auxílio de uma filha, Pulquéria. Em 1917, o Gantois voltou<br />
à cena etnográfica, no trabalho do intelectual e ativista negro Manuel<br />
Querino, ele mesmo membro da comunidade religiosa. Nesse ínterim,<br />
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Maria Júlia havia falecido, sendo substituída por Pulquéria. Segundo a<br />
tradição oral, Maria Júlia e seu marido, um jẹjẹ liberto chamado Francisco<br />
Nazaré de Ẹtà, tiveram sete outros filhos, entre<br />
eles uma filha chamada Damiana, cuja neta,<br />
Escolástica, foi a terceira Ìyàlọriṣà. Conhecida<br />
como Mãe Menininha, ela permaneceu no<br />
cargo por mais de seis décadas, tornando-se<br />
uma personagem célebre, tanto no âmbito<br />
religioso quanto no imaginário popular,<br />
atraindo intelectuais e músicos nacionalmente<br />
conhecidos ao terreiro. Depois de sua morte<br />
em 1986, Menininha foi sucedida pela mais<br />
velha de suas duas filhas, Cleuza. Com o<br />
falecimento de Mãe Cleuza em 1998, a irmã<br />
caçula, Carmen, se tornou a quarta Ìyàlọriṣà,<br />
cargo que ocupa até hoje.2 Apesar do reconhecido prestígio etnográfico do<br />
Gantois e da fama mais ampla que o terreiro alcançou nos tempos de Mãe<br />
Menininha, pouco se sabe sobre seus primeiros tempos. A narrativa mais<br />
conhecida, registrada pelo etnógrafo Edison Carneiro, afirma que a<br />
fundadora do Gantois era filha de santo de outro terreiro histórico, a Casa<br />
Branca do Engenho Velho, mas, depois da morte de Marcelina da Silva<br />
(Ọbátọṣṣí), Ìyàlọriṣà desta casa, Maria Júlia se afastou em decorrência de<br />
divisões internas sobre a sucessão, fundando em seguida seu próprio<br />
terreiro. Essa versão dos fatos, registrada em 1948, tem sido reproduzida<br />
por gerações de pesquisadores e pela mídia, tornando-se pedra<br />
fundamental no imaginário popular<br />
sobre o candomblé. Contudo, essa<br />
narrativa foi sempre contestada por<br />
Mãe Menininha, que afirmava ter sido<br />
sua bisavó “irmã de santo, e não filha<br />
de santo, de Marcelina Ọbátọṣṣí”.<br />
Segundo Menininha, o Gantois não<br />
descende do Engenho Velho. Pelo<br />
contrário, os dois terreiros seriam<br />
galhos do mesmo tronco, compartilhando uma origem em comum: uma<br />
comunidade religiosa primordial, localizada no centro da cidade, num<br />
distrito conhecido como a Barroquinha. Depois da morte de Menininha,<br />
foram encontrados dois documentos que respaldaram seus argumentos: o<br />
primeiro, o testamento de Marcelina da Silva, revela que ela faleceu em<br />
1885; o outro, uma matéria de jornal de 1868, comenta sobre o candomblé<br />
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de “tia Júlia” e de sua filha Pulquéria. Assim, fica claro que a fundação do<br />
Gantois antecedeu, por mais de quinze anos, o falecimento de Marcelina<br />
da Silva. A partir dessa constatação, realizei um levantamento documental<br />
e etnográfico com o objetivo de rastrear a trajetória de Maria Júlia e seu<br />
terreiro e de matizar a natureza da relação com a Casa Branca. Os dados<br />
encontrados vislumbram os<br />
caminhos percorridos por Maria<br />
Júlia e Francisco Nazareth, desde o<br />
cativeiro até a liberdade, revelando<br />
a importância fundamental da rede<br />
social do marido, constituída<br />
principalmente por barbeiros<br />
africanos envolvidos em confrarias<br />
negras. Embora as fontes<br />
documentais não confirmem a cisão posterior entre o Gantois e a Casa<br />
Branca, elas apontam para dois indivíduos que transitavam entre as duas<br />
comunidades. Essas informações, em cruzamento com dados etnográficos,<br />
sugerem a fundação do terreiro por volta de 1850. Este artigo ainda<br />
examina evidências documentais e etnográficas sobre as influências jẹjẹ na<br />
trajetória do Gantois, refletindo sobre as memórias de uma relação<br />
histórica com um importante terreiro de nação jẹjẹ, o Bọgùm. As tradições<br />
orais são fontes ricas para pesquisa histórica, mas ao mesmo tempo<br />
impõem desafios interpretativos,<br />
um assunto que suscitou bastante<br />
discussão nos campos da<br />
Antropologia e da História da África.<br />
No caso do candomblé, narrativas<br />
orais sobre os primeiros tempos dos<br />
terreiros guardam os nomes dos<br />
ancestrais fundadores, os quais<br />
fornecem pontos de partida para<br />
pesquisa documental, através da metodologia de “ligação nominativa”.<br />
Nessa abordagem, o pesquisador procura os nomes em diversas fontes,<br />
cruzando as informações obtidas para assim reconstruir trajetórias<br />
individuais de vida. Nos últimos anos, a metodologia tem proporcionado<br />
novas perspectivas sobre as vidas de pessoas que vivenciaram o cativeiro,<br />
inclusive personagens do candomblé. As tradições orais do candomblé,<br />
contudo, apresentam algumas dificuldades específicas. Primeiro, elas<br />
tendem a enfatizar a atuação das mulheres, enquanto nos documentos<br />
oitocentistas quem se destaca são os homens. Outro problema diz respeito<br />
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ao âmbito ritual: na memória oral, filiação espiritual e funções religiosas são<br />
centrais, enquanto na maioria das fontes escritas, são invisíveis ou quase<br />
isso em consequência do histórico de repressão e preconceito contra a<br />
religiosidade afro-brasileira. No que tange às primeiras gerações de<br />
ancestrais – aqueles nascidos na África –, ainda outro enigma é a dupla<br />
nomeação: os nomes adquiridos no<br />
cativeiro são menos lembrados do que os<br />
nomes africanos, mas estes quase nunca<br />
aparecem na documentação. Portanto, ao<br />
tentar preencher as lacunas nas tradições<br />
orais com informações proporcionadas<br />
por documentos históricos, é preciso<br />
proceder com extrema cautela, para não<br />
misturar por engano personagens que<br />
aparecem nos documentos, mas que não<br />
fazem parte da história do terreiro<br />
analisado. Ainda outro fator que precisa<br />
ser levado em conta é a plasticidade da<br />
memória oral. Como alerta o antropólogo<br />
Jan Vansina, tradições orais proporcionam dados valiosos, mas são<br />
interpretações do passado. Ao longo das gerações, vão se transformando,<br />
através de omissões, inclusões e substituições, as quais frequentemente<br />
resultam em uma narrativa em que os fatos são representados de forma<br />
muito mais metafórica do que literal.<br />
Mudanças também podem ser introduzidas<br />
pelos pesquisadores que registram as<br />
tradições orais, por falhas de memória ou<br />
mesmo de entendimento. Enfim, apesar do<br />
valor desses textos orais, sua análise exige<br />
certo “jogo de cintura”. Antes da chegada ao<br />
Brasil: na terra dos Ẹ̀gbá. Num artigo<br />
publicado em 1942, o sociólogo E. Franklin<br />
Frazier afirmou, com base em depoimentos<br />
de Mãe Menininha, que a fundadora do<br />
Gantois era de nação jẹjẹ máhì e seu marido<br />
era Ẹ̀gbá Àrákẹ. Porém, de acordo com a<br />
memória oral, Francisco Nazareth que era jẹjẹ<br />
máhì. Como vimos acima, a nação jẹjẹ é confirmada pelos registros<br />
paroquiais, deixando em aberto apenas a questão do subgrupo máhì. Na<br />
memória oral, quem era Ẹ̀gbá Àrákẹ – ou Àlákẹ, como é grafado em Yòrùbà<br />
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– era Maria Júlia. Essa informação já foi registrada em 1917, poucos anos<br />
depois da morte da fundadora, por Manuel Querino, que fazia parte da<br />
“família de santo” da casa, ocupando o posto de Ọgà. No texto de Querino,<br />
aparece o retrato da fundadora, com a legenda: “A antiga mãe do Gantois,<br />
tipo Ègbè” (Figura 1).12 Segundo a tradição<br />
oral do Gantois, o nome Yọrùbà de Maria<br />
Júlia era Ọmọníkẹ. Contudo, o antropólogo<br />
Vivaldo da Costa Lima associou esse nome<br />
com a sucessora de Marcelina da Silva na<br />
liderança da Casa Branca, também chamada<br />
Maria Júlia, mas de sobrenome Figueiredo.<br />
Adotado também por Verger, essa<br />
informação acabou se tornando senso<br />
comum na literatura etnográfica, mas a<br />
versão do Gantois é respaldada por<br />
evidências rituais de ambos os terreiros. No<br />
Gantois, Ọmọníkẹ é um dos primeiros<br />
antepassados femininos a ser chamado<br />
quando, nos ritos fúnebres, são recitados os<br />
nomes dos ancestrais da casa, o que ressalta<br />
seu papel fundamental nos primeiros tempos do terreiro. No mesmo ritual<br />
na Casa Branca, entretanto, o nome Ọmọníkẹ não consta. A memória da<br />
nação específica de Ọmọníkẹ ajuda a desvendar a sequência de eventos que<br />
levaram à sua escravização. Os Ègbè são um grupo Yọrùbà cujo reino é<br />
localizado no centro-sul do Yọrùbà, dentro da zona da floresta, à margem<br />
leste do rio Ọgùn. Eram divididos em três subgrupos, dos quais um era os<br />
Ègbè Àlákẹ, que ocupavam a região no extremo sul do reino. Como diversos<br />
outros povos Yọrùbà, os Ègbè foram subordinados durante muito tempo ao<br />
poder político do reino de Ọyọ.<br />
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Àwọ Ifábùnmì Fátùmbí<br />
Marco Rodrigues<br />
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Júlia Morim<br />
Consultora Fundaj/Unesco<br />
Foi em 1910, há 107 anos, que<br />
Eugênia Anna Santos (a Mãe Aninha<br />
Obá Bìyì) fundou o terreiro Ilê Àṣẹ<br />
Ọpọ Afonjá na Rua Direta de São<br />
Gonçalo do Retiro, na casa de número<br />
557, no bairro do Cabula. E quando<br />
ela o fez, talvez não soubesse a<br />
importância histórica que o lugar<br />
ganharia nas décadas seguintes,<br />
vindo a ser tombado pelo Instituto do<br />
Patrimônio Histórico e Artístico<br />
Nacional (Iphan) em 28 de julho de<br />
2000. O seu nome significa Casa da Força sustentada por Ṣàngọ. O lugar é<br />
um dos símbolos da resistência cultural dos descendentes dos negros<br />
escravizados em Salvador. Também conhecida como Casa de Ṣàngọ, o<br />
terreiro se tornou o segundo templo de cultura afro-brasileira a receber o<br />
status de patrimônio nacional – o que mostra a sua importância não apenas<br />
em Salvador, mas em todo o Brasil. A Casa de Ṣàngọ está situada em uma<br />
área de 39 mil metros quadrados, que<br />
abrange não apenas o templo religioso,<br />
mas edificações de uso habitacional e a<br />
Escola Eugênia Anna dos Santos. Além<br />
disso, o Museu Ìlẹ Ọhùm ìláiláì e a<br />
Biblioteca Ìkọjppọ Ìlẹ Ìwẹ Àṣẹ Ọpọ Afonjá<br />
também estão situados no local. A maior<br />
parte do terreno, porém é destinada a<br />
uma área de vegetação densa – uma das<br />
poucas no bairro do Cabula. Fundação e<br />
história O Ilê Axé Ọpọ Afonjá foi fundado<br />
por Mãe Aninha, que comandava um grupo dissidente do Terreiro da Casa<br />
Branca do Engenho Velho. Devido à topografia do lugar, as edificações<br />
foram construídas de modo mais ou menos linear, usando as áreas mais<br />
planas da cumeada. Mãe Aninha comandou o terreiro até 1938, quando<br />
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veio a falecer. Ainda durante o período em que estava no comando, foi<br />
criada a Sociedade Civil da Santa Cruz, com o intuito de manter o trabalho<br />
do Àṣẹ e também representá-lo civilmente. Com a morte de Mãe Aninha,<br />
foi Mãe Senhora quem assumiu o comando do lugar, seguida por Mãe<br />
Ondina e finalmente Mãe Stella<br />
de Ọṣọṣṣì, que comanda o<br />
terreiro desde 1976. O<br />
candomblé praticado no Ṣàngọ<br />
é de rito Ketu, de nação Nagô,<br />
ou seja, possui descendência<br />
Yọrùbà, oriundo da região da<br />
Nigéria, Benin e Togo.<br />
Atualmente, a Casa de Ṣàngọ<br />
tem a importância de<br />
formação, preservação e<br />
difusão da memória e da história dos africanos no Brasil. Uma dessas<br />
difusões acontece por meio da Escola Eugênia Anna dos Santos,<br />
municipalizada em 1998, onde também se ensina o Yọrùbà e a História da<br />
África. Além disso, o Museu Ìlẹ Ọhùm<br />
Ìláiláì, fundado em 1981, e a Biblioteca<br />
Ìkọjppọ Ilê Ìwẹ Axé Ọpọ Afonjá, fundada<br />
em 1996, são outros importantes<br />
centros de preservação da história do<br />
terreiro e dos africanos no Brasil.<br />
Importância e tombamento Mãe Aninha<br />
foi a responsável pela liberação legal do<br />
culto aos orixás. Em 1936, ela foi até o<br />
Rio de Janeiro, onde conseguiu uma<br />
audiência com o então presidente<br />
Getúlio Vargas. Foi por causa dessa<br />
audiência que, em 1939, foi proclamado o Decreto 1.202, que retirou dos<br />
municípios o poder de repressão direta aos terreiros e à capoeira. O<br />
tombamento aconteceu em 28 de julho de 2000 e garantiu que o terreiro<br />
continuasse no local. Além disso, agora há um impedimento para que as<br />
construções ali sejam demolidas, o terreiro passou a compor patrimônio e<br />
garantiu o direito de ser preservado para as próximas gerações. O<br />
tombamento garantiu também que o terreiro passe por intervenções para<br />
manter a sua integridade com o uso de recursos públicos.<br />
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Eugênia Anna dos Santos – Mãe Aninha era filha<br />
de africano da nação Grunci. Nasceu no século<br />
passado, em Salvador e faleceu em 03 de janeiro<br />
de 1939, sendo sepultada na Quinta dos Lázaros.<br />
Sua sucessores foi Mãe Bada de 1939 a 1941. Ìyà<br />
Aninha tinha como Ọrìșà Ṣàngọ. Foi ela que<br />
comprou em 109, a área para que fosse<br />
estabelecido o Ìlẹ Àṣẹ Ọpọ Afonjá, no bairro de<br />
São Gonçalo do Retiro. O nome do terreiro<br />
significa Casa de Força Sustentada por Afonjá, e é<br />
dedicado a Ṣàngọ. Mãe Aninha elaborou o Afonjá<br />
como se fosse uma miniatura da África, dando a<br />
cada Òrìṣà um pedaço de terra como que<br />
reproduzido costumes de regiões onde cada uma delas cultua apenas uma<br />
entidade. Um dos traços marcantes na personalidade de Mãe Aninha era a<br />
solidariedade. Ao comprar o terreno para instalação do Afonjá, determinou<br />
que jamais o espaço fosse vendido, e seria usado exclusivamente para a<br />
realização dos cultos aos Ọrìșà e para abrigar os seus filhos mais carentes.<br />
Determinação que persiste até hoje. Na área dos terreio vivem, em<br />
casinhas, inúmeros filhos e filhas do Àṣẹ. Dizem que Mãe Aninha era muito<br />
amiga de religiosos católicos. Mandava celebrar missas com frequência. Foi<br />
uma das pioneiras na Lavagem do Bomfim. No seu círculo de amizade tinha<br />
vários políticos. Graças a estas relações, ela conseguiu que o presidente<br />
Getúlio Vargas baixasse decreto dando liberdade de culto ao povo<br />
brasileiro.<br />
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Maria da Purificação Lopes, mas conhecida por Mãe<br />
Bada, era filha de africano. Seu Ọrìșà Ọṣàlà. Era<br />
também de Salvador e faleceu nesta cidade em 1941.<br />
Bada era muito amiga de Mãe Aninha, a quem<br />
substituiu na condução do Afonjá. Aninha, chamava<br />
Bada de mãe, está a acompanhava desde que fundou<br />
o Afonjá. Mãe Bada ficou pouco tempo na direção do<br />
Afonjá, pois já estava bastante idosa e cm a saúde<br />
debilidade. Ela só conseguiu recolher para uma<br />
iniciação sete pessoas no rituais do candomblé.<br />
Como Mãe Aninha, Bada costuma iniciar os seu filhos no própria casa de<br />
Àṣẹ. Devido à dificuldade de ter uma espaço para tal fora do Àṣẹ. Substituiu<br />
Bada á Ìyàlọriṣà Mãe Senhora.<br />
Maria Bibiana do Espirito Santo era o<br />
nome de famosa Mãe Senhora, era<br />
baiana. Além de pessoas humildes,<br />
sobretudo ligada ao candomblé, incluía<br />
também políticos, artistas e intelectuais a<br />
exemplo do escritor Jorge Amado e o<br />
artista plástico Carybé. Senhora reinou por<br />
26 anos na roça do São Gonçalo do Retiro.<br />
O Ọrìșà Ṣàngọ, a quem ela se referia<br />
tratando-o de Chefe. Ela assumiu o Afonjá<br />
em 1942, aos 42 anos de idade. Senhora morava em Itaparica quando as<br />
entidades espirituais lhe incumbiram de zelar pelo Afonjá. Teve então que<br />
largar a sua quitanda na ilha, vindo morar em Salvador. Animada por uma<br />
por um espirito muito empreendedor, construiu uma novo barracão, pois o<br />
velho estava precário, e formou a casa de Ọṣàlà. Esta Ìyàlọriṣà era ligada<br />
aos cultos dos Ẹgùngùn da ilha de Itaparica, onde chegou a receber o título<br />
máximo dado a uma mulher, o de Ìyà Ẹgbẹ. Ela sempre viajava para o Rio<br />
de Janeiro, a passeio ou para orientar os seus filhos e filhas de culto, mas<br />
não faia obrigações fora de Afonjá. Na década de60, pelo muito que fez pela<br />
religião africana, recebeu Comenda ao Mérito, dada pelo então Presidente<br />
do Senegal, o intelectual Leopold Sedar Senghor. Mãe Senhora mantinha<br />
correspondência com algumas personalidades africanas, mas nunca quis<br />
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viajar para este continente. Faleceu em 20 de janeiro de 1968, sendo<br />
sepultado também na Quinta dos Lázaros. Foi substituída por Mãe Zinha.<br />
Mãe Zinha ou Ondina Valéria Pimentel, então Ìyà<br />
Kẹkẹrẹ, hierarquicamente está abaixo da Ìyàlọriṣà<br />
do Afonjá e que residia no Rio de Janeiro, foi<br />
quem tornou os destinos do Afonjá nas mãos,<br />
após o falecimento de Senhora. Quando Senhora<br />
morreu, Mãe Zinha se encontrava na Bahia. Foi<br />
ela quem fez os rituais do Àṣẹṣẹ de Mãe Senhora,<br />
voltando em seguida para o Rio de Janeiro, onde<br />
tinha uma terreiro, foi um período difícil para o<br />
Afonjá, pois Mãe Zinha constantemente vivia<br />
entre Salvador e o Rio de Janeiro, o que muito lhe<br />
desgastou. Seu grande sonho era construir uma<br />
nova casa para Ṣàngọ, que só foi possível depois<br />
da sua morte. Sobre as circunstância da morte desta Ìyàlọriṣà. Mãe Stella<br />
escreveu no painel existente no museu do Ìlẹ Ọpọ Àṣẹ Afonjá que história a<br />
vida de cada uma das lendárias Ìyà. Durante os sete anos que tomou conta<br />
dos destinos do Àṣẹ, fez aproximadamente 20 viagens para o Rio de Janeiro.<br />
Foi perdendo a saúde, e no dia de março de 1975, depois de um dia muito<br />
agitado, passou mal indo para o Pronto-Socorro, onde veio a falecer,<br />
deixando o Àṣẹ de Ṣàngọ à revelia, exposto aos acontecimentos inerentes<br />
nesta ocasião. Com a morte de Mãe Zinha, o encargo da direção do Afonjá<br />
ficou com Mãe Stella, que está até hoje.<br />
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Maria Stella de Azevedo Santos,<br />
Ìyà Ọdẹ Kàyọdẹ ou Stella de<br />
Ọṣọṣṣì, nasceu em Salvador, em<br />
02 de maio de 1925. Bisneta de<br />
Kọnìg Bàgbẹ, o inesquecível<br />
africano de abanigéria e dos<br />
Azevedo, de Portugal, Stella de<br />
Ọṣọṣṣì ocupou a liderança do Àṣẹ<br />
Ọpọ Afonjá, com a morte de Mãe<br />
Zinha. De todas as Ìyàlọriṣà que já reinaram no Àṣẹ, Mãe Stella é a mais<br />
politizada de todas. Está sua postura foi ressaltada, sobretudo, em 1983,<br />
durante a II Conferência Mundial da Tradição dos Ọrìșà, ocorrido em<br />
Salvador, quando pediu mais discernimento ao povo de candomblé com<br />
relação à prática do sincretismo, que provocou uma polêmica nacional<br />
tendo repercussão até hoje. Stella tem um espirito bastante<br />
empreendedor. Fez um imenso trabalho de reformas em toda a área do<br />
Àṣẹ. Foi ela quem, à frente da Sociedade Civil Cruz Sant Ọpọ Afonjá, assinou<br />
convênio com a Prefeitura Municipal do Salvador, transformando o Àṣẹ em<br />
utilidade pública. Com está medida, ela evitou a desapropriação, através do<br />
usucapião, das terras compradas por Mãe Aninha que tinha a preocupação<br />
de não só realizar rituais, mas também desenvolver trabalhos de alcance<br />
social na área do terreiro. Quem conhece um pouco a história de Mãe<br />
Aninha vê traços semelhantes com a personalidade de Mãe Stella,<br />
sobretudo pelo espirito criativo e empreendedor de ambas.<br />
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As “roças de<br />
candomblé” não têm<br />
limites. Isso constitui<br />
um dos desafios para<br />
pensar a recriação do<br />
espaço na cidade pelas<br />
religiões de matriz<br />
africana. Nos últimos<br />
anos tem sido muito<br />
positiva a experiência<br />
da criação de “redes”<br />
que, além de dar<br />
visibilidade a trabalhos realizados por todo o Brasil, solidificam laços<br />
essenciais para a manutenção das tradições negras no Novo Mundo.<br />
Verdade é que algumas dessas comunidades/terreiros constituídas no<br />
século XIX, que se afastaram do centro urbano, ora por prestígio ou a fim<br />
de garantir o culto, atualmente enfrentam, além da especulação imobiliária<br />
que empurra parte da população para a chamada periferia, os velhos<br />
discursos racistas de um lado por alguns programas oportunistas e do outro<br />
pelas falas ignorantes de algumas denominações neopentecostais e os<br />
evangélicos que em alguns casos<br />
têm ido para o embate físico.<br />
Somam-se a isso questões<br />
particulares de “vizinhos”, que<br />
variam dos condomínios a<br />
pessoas físicas, que acabam se<br />
aglomerando em torno dos<br />
terreiros e, na maioria das vezes,<br />
invadindo o espaço sagrado<br />
através de janelas que ignoram a<br />
lei que regulamenta tal<br />
construção ou mesmo escavando as encostas da comunidade para que as<br />
águas das chuvas comprometam o solo, provocando o deslizamento,<br />
facilitando a ocupação forçada, uma verdadeira “grilagem urbana”, história<br />
particular bem conhecida pela maioria dos terreiros de candomblé<br />
presentes Brasil. Junta-se a estes fatos, a violência crescente na cidade que<br />
obriga estas comunidades não apenas a conviver, mas a procurar<br />
alternativas para enfrentá-la, a fim de levar uma vida onde se possa cultuar<br />
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os ancestrais. A vida dos terreiros<br />
na cidade é de fato um desafio.<br />
No momento em que vejo<br />
situações como está infringindo<br />
leis e praticando a desordem e<br />
forçando os órgão competente,<br />
fiquei pensando se o contrário<br />
acontecesse. Em outras palavras.<br />
Se o povo de candomblé cada hora que fosse oportuna do pelos sons de<br />
mais de 70 decibéis dos aparelhos de som dos vizinhos fizesse apelo a uma<br />
emissora de rádio? Conheço casos de terreiros que aos domingos, dia<br />
consagrado para a renovação dos laços da comunidade com os ancestrais<br />
através de um ritual chamado Òṣẹ, são impossibilitados de realizar<br />
qualquer atividade religiosa porque as caixas de som colocadas sobre as<br />
lajes provocam barulho desde as<br />
primeiras horas da manhã até a<br />
madrugada seguinte, contrariando<br />
todas as normas da Lei 5354/98, que<br />
dispõe sobre sons urbanos, fixa níveis<br />
e horários em que será permitida sua<br />
emissão, cria a licença para utilização<br />
sonora e dá outras providências. Sem<br />
falar naquelas comunidades que, a fim<br />
de garantir o culto, assim o faz com a maior descrição, pois qualquer deslize<br />
pode acionar a” igreja vizinha”, assim chamada pois pode estar ao seu lado<br />
ou em frente, locais preferidos por algumas denominações a fim de ficarem<br />
mais “próximos do demônio” para combatê-lo, como costumam dizer.<br />
Acioná-las, significa dizer: colocar<br />
um alto falante, ou como se diz: virar<br />
a boca do alto falante ou das caixas<br />
de som para dentro do terreiro,<br />
sucumbindo o som dos atabaques,<br />
das palmas, a voz, ou qualquer outro<br />
instrumento litúrgico, sem falar das<br />
palavras de “exorcismo” lançadas<br />
em direção a comunidade/terreiro.<br />
E o que dizer dos foguetes que<br />
sobem por minuto em alguns<br />
bairros? Que no mínimo é uma<br />
linguagem que todos entendem sobre a qual recai o tabu de não falar para<br />
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não se calar para sempre.<br />
Desconheço a existência de algum<br />
terreiro que já tenha acionado um<br />
vizinho ou alguma “igreja vizinha”.<br />
Isso não significa que não haja<br />
registro de queixa, antes o fato de<br />
que, se na maioria dos casos, assim<br />
não fazem é porque acreditam que<br />
a cordialidade é a melhor maneira<br />
de garantir o viver em<br />
comunidade, como se todos ao<br />
redor do terreiro fossem parte<br />
dele. Os terreiros de candomblé<br />
vêm na verdade resistindo, pois não querem mais assistir à derrubada de<br />
outra comunidade por um capricho ou falta de entendimento entre órgãos<br />
que deveriam representar a cidade, mas que ao contrário, ao invés de<br />
dialogar entre si, estão sempre preparando um projeto para apresentar às<br />
comunidades/terreiros próximo às eleições, e depois de eleitos querem<br />
fazer um projetos para retirada e proibições de culto. Acredito, de fato, que<br />
estas coisas só acontecem porque alguns segmentos do poder público que<br />
deveriam apoiar, proteger e promover o patrimônio afro-brasileiro atuam<br />
ainda de forma tímida, ora pelo despreparo de alguns representantes, pela<br />
falta de conhecimento de questões<br />
referentes à cidade e os terreiros, ora<br />
mesmo pela falta de respeito e<br />
compromisso conosco, votam em<br />
candidatos que não tem ligação ou<br />
compromisso com a religião como tem<br />
com as outras religião. Esse fato resulta<br />
no ostracismo e no cinismo de algumas<br />
instituições, que insistem em se lembrar<br />
do povo de candomblé a cada quatro<br />
anos. Pensar sobre as<br />
comunidades/terreiros e a cidade é<br />
pensar, sobretudo, sobre nós mesmos.<br />
Sobre a dívida que as cidades têm com<br />
estas comunidades enquanto mantenedoras de identidades e centros de<br />
promoção da cidadania. Se os atabaques forem impedidos de tocar, se os<br />
foguetes forem proibidos de estourar, se as palmas, os sons dos<br />
instrumentos rituais não puderem mais ser ouvidos graças ao “apelo” das<br />
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cidades, que sons restarão nestas? Nas comunidades em que estamos<br />
inseridos? Certamente apenas o dos foguetes, das balas perdidas e o<br />
gemido de dor e desesperança saído num dia de uma casa, no outro de uma<br />
igreja, depois de um terreiro e assim por diante. Nós que acreditamos nos<br />
nossos ancestrais vamos continuar lutando para não vermos esse dia<br />
chegar; nós e as nossas gerações. Para isso vamos continuar afirmando que<br />
o “barulho” da cidade, entendido como os diferentes apelos que traduzem<br />
a sua complexidade, pode se transformar na mais linda melodia. Talvez<br />
possamos começar desligando os alto falantes e caixas de sons que estão<br />
voltados para os nossos vizinhos a fim de ouvirmos os sons que falam<br />
dentro de nós mesmos. Em outras palavras, precisamos dar voz ao sagrado<br />
que mora dentro de nós. Isso é vivência de nossa ancestralidade.<br />
*Vilson Caetano de Sousa Júnior – Omo Orixá do terreiro Pilão de Prata (Ilê<br />
Ọdọ Ọgẹ), doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, pós doutor em<br />
Antropologia, professor da Escola de Nutrição da UFBA, membro do<br />
Conselho de Cultura do Estado da Bahia.<br />
Texto adaptado<br />
Àwọ Ifábùnmì Fátùmbí<br />
Marco Rodrigues<br />
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Tapete de Croché<br />
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Na frente da mata<br />
sagrada, em meio a<br />
árvores e arbustos de<br />
várias espécies, guardada,<br />
silenciosa, misteriosa,<br />
presa e agarrada a terra<br />
como uma árvore onde<br />
seus pilares se<br />
transformam em raízes,<br />
está uma casinha singela, um pequeno templo, mas que contém entre as<br />
suas paredes e telhado um inimaginável poder e guarda, cuida, e esconde<br />
um grande segredo, o segredo de evocar os espíritos dos ancestrais e seus<br />
poderes de realização, o seu àṣẹ. Neste templo apenas homens e anciões<br />
imponentes, compassados, silenciosos, observadores, que se comunicam e<br />
falam apenas pelo olhar, só eles é que podem entrar, só eles penetram<br />
neste segredo, só eles dominam este poder conservado de geração em<br />
geração por um pacto de silêncio, pacto este firmado a muito tempo atrás<br />
em terras Yọrùbà. Mas o que é este templo que faz com que tudo cresça,<br />
Florença, se desenvolva em potência e beleza ao seu redor? Este templo é<br />
o Ìlẹ Àwọ, a casa do segredo, aparentemente constitui uma edificação<br />
muito simples, a mais precária de todo o conjunto arquitetônico do terreiro,<br />
pois é a que está sempre<br />
sofrendo modificações e<br />
ampliações, pois sempre precisa<br />
de novos espaços para<br />
comportar os novos assentos<br />
dos novos Ẹẹgùn à medida que<br />
os Ọjẹ falecem e tem os seus àṣẹ<br />
fixados nestes assentos.<br />
Constitui em uma casa feita de<br />
blocos cerâmicos aparentes, e<br />
com paredes mal aparelhadas e<br />
aprumadas cobertas com telhados ora feitos de telhas de fibrocimento ora<br />
de telhas cerâmicas artesanais. Aparenta uma edificação sem importância<br />
e insignificante para um olhar desatento, fora deste universo cultural<br />
complexo que se baseia em outros conceitos e valores. Todavia o Ìlẹ Àwọ<br />
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constitui a principal edificação do terreiro. Ela é a mais importante, é o<br />
centro de todo o terreiro, constitui todo o conjunto. Disto, num primeiro<br />
momento advêm uma questão primordial.<br />
O que é o belo para o nagô?<br />
O que é o belo para a sociedade do culto aos Ẹẹgùn?<br />
Belo para o nagô, para os membros da<br />
sociedade do Ọmọ Ìlẹ Ágbọùlá, é à noite que<br />
anuncia o início das festas de Bàbà, o céu<br />
limpo e estrelado, que anuncia as bênçãos de<br />
Bàbà, a presença do maior número possíveis<br />
dos filhos de Bàbà, todos vistosamente<br />
vestidos, com as suas melhores roupas, as<br />
mulheres com suas batas exuberantes.<br />
Belo, são as músicas que saem dos atabaques<br />
que chegam a todos os cantos de Ponta de<br />
Areia tocados pelas crianças ávidas de<br />
mostrar para a sociedade que estão evoluindo<br />
e aprendendo para satisfazer o Bàbà, para que<br />
eles não decepcionem quando este lhe pedir<br />
suas músicas prediletas.<br />
Belo, são as flores trazidas pelos filhos da casa<br />
para dá de presente a Babá, a ornamentação<br />
caprichosa feita especialmente para a festa,<br />
com standards, faixas, ramos, com as folhas<br />
no piso purificando o espaço do barracão.<br />
Belo, são as cantigas e as danças das mulheres<br />
de todos os postos ali juntas abrindo a festa,<br />
preparando a casa para Bàbà, e tão belo<br />
quanto, são os mais jovens e crianças<br />
acompanhando o ritmo e as letras das<br />
cantigas dos mais velhos.<br />
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Belo, são as comidas feitas especialmente<br />
para atender o gosto de cada Bàbà, para<br />
lhe satisfazer.<br />
Belo é a presença de Bàbà, entre seus<br />
filhos, todos reunidos e cantando alegres<br />
por estarem com os seus ancestrais, seus<br />
pais.<br />
E tão Belo é a felicidade de Bàbà ao estar<br />
na presença de seus filhos, a dançar e<br />
abençoar a todos os presentes,<br />
transmitido suas energias positivas.<br />
Belo, são os seus conselhos, suas<br />
recomendações e repreensões; são suas<br />
indumentárias coloridas, cheias de<br />
apetrechos dos mais diversos, com espelhos, búzios, contas, rigorosamente<br />
e delicadamente bordadas pelas suas filhas com os emblemas mais diversos<br />
que revelam que eles eram em vida, são suas ferramentas que trazem a<br />
mão e os seus tronos esculpidos que lhes afagam.<br />
Belo, são os respeitados sacerdotes, os<br />
Ọjẹ, que levam os pedidos da sociedade<br />
e trazem as vontades e conselhos dos<br />
Bàbà, pois eles são os únicos que<br />
entendem os que os Bàbà falam, e tão<br />
belo, são as varas sagradas que trazem a<br />
mão, pois elas é que guiam os Bàbà, os<br />
orientam no mundo, servindo ainda para<br />
separar os mortos dos vivos.<br />
Belo, é o abrir do barracão, o amanhecer,<br />
a aurora, o cheiro da terra molhada do<br />
orvalho, com a Casa de Ṣàngọ,<br />
recebendo os primeiros raios do sol<br />
nascendo na soleira de sua porta; com<br />
Ẹṣù, em sua casa, atento na entrada,<br />
montando guarda para que tudo ocorra<br />
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em, vigiando aqueles que estão indo embora, e zelando-os lá fora para<br />
que eles possam voltar.<br />
Belo, é o Ilé Ìyà Ẹgbẹ, com as portas e<br />
janelas abertas, onde as mulheres<br />
mais velhas entram para descansar<br />
depois de fazerem as comidas,<br />
cantarem e dançarem para Bàbà.<br />
Belo, é o contentamento, a satisfação<br />
e a harmonia de Ọnìlẹ, Ọgùn e Ìrọkọ,<br />
a avistar de longe os filhos da casa<br />
que se vão após cumprirem suas obrigações com eles e os ancestrais.<br />
Belo, é o portão do terreiro que se<br />
fecha, na certeza que seus filhos<br />
voltarão para terem com seus pais,<br />
para que juntos novamente possam<br />
festejar a vida.<br />
Portanto o belo para o nagô está<br />
atrelado a tudo aquilo que o liga,<br />
revela e manifesta a dimensão do<br />
sagrado em toda a sua carga<br />
simbólica e energética, aquilo que dinamiza a existência pela sua função<br />
utilitária sagrada de colocá-lo em contato com as divindades e os seus<br />
ancestrais. O belo é tudo o que é útil e dinâmico, ou seja, respectivamente,<br />
o que possibilita o sagrado e o desenvolve, o belo torna-se tudo cujo esforço<br />
e harmonia revela o sagrado.<br />
Por:<br />
Àwọ Ifá Ọladẹlẹ<br />
Jose Rodrigues<br />
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Quando os negros africanos aportaram no<br />
Brasil escravizados, descobriram que na nova<br />
terra, as coisas seriam totalmente diferentes<br />
de África, pois até mesmo lá, a escravidão não<br />
era desumana como aqui. Independente das<br />
divergências tribais, diferença de credo e de<br />
costumes, tornou-se a consciência do coletivo.<br />
Eles teriam que se ajudar mutuamente se<br />
quisessem sobreviver e ter esperança de um<br />
dia melhor. Nas senzalas, o clamor as<br />
divindades de suas terras, davam-lhes forças para continuar. E veio assim;<br />
unidos pelo sofrimento, a miscigenação de crenças, onde Ọrìșà, ẹbọrá,<br />
nkises, Vọdùn, passaram a fazer parte de um culto novo, conservando<br />
aquilo que foi possível se trazer para a nova terra. Muito havia se perdido<br />
com a vida para cá nos navios Negreiros. Ao aqui chegar, o negro deu-se<br />
conta de que nem tudo inerente a seus cultos, aqui seria encontrado. Essa<br />
falta de elementos, sacerdotes, ora, mortos em batalha ou castigos,<br />
culminou naquilo que hoje se conhece como o candomblé. Uma série de<br />
elementos, hábitos e costumes inerentes aquilo que lhes era sagrado, teve<br />
que sofrer adaptação; tanto por escassez como por falta do preparo<br />
religioso, visto que muitos chefes de clãs, tribos, reis e sacerdotes, haviam<br />
morrido em batalha ou fora separado do seu grupo étnico. Com a fundação<br />
dos grandes àṣẹ de Salvador, as casas mães, tentou-se preservar um pouco<br />
da pureza dos cultos, conforme se realizava na terra mãe. É notório que a<br />
influência de diversos povos, trouxe a<br />
mistura da dialética, costumes e<br />
procedimentos. Até mesmo por que, tal<br />
fato já era notado em território africano,<br />
por povos conquistados, trazendo<br />
divindades de determinadas etnias para o<br />
culto e convivência de outros. Podemos<br />
citar como exemplo o Vọdùn Ázàwuány,<br />
que é de origem Dàọmé, mas também<br />
cultuado pelos Yọrùbà. Estudos etnológicos e historiadores, afirmam que a<br />
origem do Vọdùn era em região de fronteira Yọrùbà, é devido a seus<br />
grandes feitos como curandeiro e guerreiro, passou a ser cultuado também<br />
pelos Yọrùbà. Isso, se reflete até os dias de hoje nos terreiros do Brasil.<br />
Por: Eduardo Carvalho<br />
Àwọ Ifáfẹmí – 21-99386-3725<br />
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Eyin - Ovo<br />
A natureza nos ensina que as formas esféricas e similares são excelentes<br />
para conservação de energia. Partindo deste princípio podemos perceber<br />
que a forma dos<br />
planetas, suas órbitas e<br />
até mesmo a geometria<br />
do universo são formas<br />
similares a estruturas<br />
esféricas. Sendo assim<br />
podemos considerar que<br />
o ovo equivale ao<br />
microcosmo com plena<br />
conservação de energia,<br />
por isso é gerador de vida<br />
e está potencialidade é<br />
utilizada dentro dos<br />
cultos para promover o àṣẹ. O por que se usa ovo e sua importância e<br />
utilidade dentro da nossa Liturgia, Preceitos e Fundamentos dentro do culto<br />
ao Ọrìșà, Ifá, Santeria (Lukumi), Candomblé entre outras religiões. O ovo é<br />
o principal e maior símbolo da fertilidade, utilizado amplamente nos rituais<br />
de iniciação, Ẹbọrì, Ẹbọ para reativar a energia positiva como também<br />
retirar as energias negativas. existem vários itan Ifá relatando a grande<br />
importância do Ẹyin. Um deles conta que Ọlọdùmàrẹ estava para dar<br />
origem ao universo, tinha num pote de barro “4 ovos”.<br />
1º ovo, deu origem a Ọṣàlà, Ọrìṣànlà ou Ọbàtàlà, surgindo na explosão da<br />
luz, sem forma, assim Ọṣàlà (oxalá) surgiu no mundo.<br />
2º ovo, deu origem a Ọgùn, a forma.<br />
3º, deu origem a Ọbálúáìyẹ, a estrutura.<br />
4º ovo acidentalmente cai de suas mãos, estourando-se no chão e<br />
revelando sua riqueza.<br />
Originou-se assim, a primeira Mãe ancestral chamada Ìyáàmi Ọșọrọngá,<br />
expondo o segredo de sua riqueza para o grande pai, ou seja, mostrando<br />
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seu poder de fertilidade sobrenatural, exposto a olho nu, diante do Ọlọrùn<br />
nascendo assim a fonte mantenedora da vida.<br />
O Ovo possui três diferentes cores, associado às cores principais e<br />
primordiais do universo:<br />
– O ovo de casca azul, representando a cor preta dùdù relacionada com a<br />
escuridão (a falta de luz nas profundezas da terra e dos mares).<br />
– O ovo de casca branca, relacionada a explosão da luz.<br />
– O ovo de casca vermelha, relacionada ao àṣẹ = fogo mantenedor da<br />
fertilidade totalmente relacionado ao poder astral.<br />
Seu conteúdo possui diversas características e a maioria das vezes, é<br />
branco, frágil e oval; dele nasce um novo ser associado à ideia de que o<br />
universo surgiu primordialmente dele próprio, na forma de um protótipo<br />
do mundo, como um filho de asas negras = Ìyáàmi Ọșọrọngá, que foi<br />
cortejada pelo fún fún (branco) = Ọṣàlà, Ọrìṣànlà ou Ọbàtàlà. O ovo é uma<br />
célula reprodutora feminina dos animais, chamada macro-gameta ou seja,<br />
rudimento de um novo ser organizado e primeiro produto do encontro dos<br />
dois sexos, pelos quais desenvolve a possibilidade de existência do feto.<br />
Origem e princípio, uma imagem viva do grande mundo (O Universo), em<br />
oposição ao microcosmo (o homem).<br />
A 1ª parte é a casca, que representa o útero (invólucro mítico).<br />
A 2ª parte é a membrana interna, que representa a bolsa, placenta uterina<br />
(parede defensora).<br />
A 3ª parte é a clara, matéria viscosa e esbranquiçada, do grupo das<br />
proteínas que representa o útero.<br />
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A 4ª parte é a gema amarela, parte intima central e globular, suscetível de<br />
reproduzir, a qual representa o feto, um novo ser está sendo gerado,<br />
preparado para nascer e atuar<br />
no que for necessário. O mito<br />
do ovo está presente em todas<br />
as culturas antigas, entre elas a<br />
Africana, Fenícia, Chinesa,<br />
Eslava, Polinésia, Hindu,<br />
Hebraica e demais. A força<br />
germinal contida no ovo, está<br />
associada à energia vital com<br />
grande desenvolvimento<br />
através de Ẹṣù, motivo pelo qual, tanto o ovo, quanto Ẹṣù desempenham<br />
uma função importantíssima no culto aos Ọrìșà, principalmente no culto de<br />
Ìyáàmi Ọșọrọngá, Ọsun, Ìyẹwà, Ọyá, Ǫbalúwayẹ. Confirmando uma total<br />
conexão com a fertilidade, magias para o amor, purificando e quebrando<br />
forças maléficas. A gema, sangue germinal unida à clara vamos ter<br />
nutrientes e hidratação, transformados num único ser vivo individual no<br />
interior do ovo; plagiando o mesmo processo no interior do útero, que<br />
indiscutivelmente é o mesmo processo que acontece nos nossos rituais, a<br />
mesma ideia de união do casal universal Ọbàtàlà e Ìyẹmọwọ. Mas no<br />
contexto do ovo acontece<br />
mais rapidamente, não<br />
existindo nenhum tipo de<br />
vínculo biológico entre a<br />
mãe e o filho, ou seja, não<br />
existe cordão umbilical. Isto<br />
explica o poder contido no<br />
ovo por si só, o qual foi um<br />
elemento<br />
criado<br />
diretamente pelo todo<br />
poderoso Ọlọdùmàrẹ, que colocou primeiramente o Ovo no mundo, logo<br />
depois surgindo dele a vida, ou seja, a ave. Por isso, o ovo é um elemento<br />
originado diretamente pelo Criador, o símbolo mais importante que<br />
representa o poder de Ìyáàmi Ọșọrọngá, Mãe Ancestral, que necessita<br />
intrinsecamente do poder masculino de Ọṣàlà, Ọrìṣànlà ou Ọbàtàlà, o qual<br />
faz do ovo um elemento de muito Àṣẹ (poder realizador). O ovo é utilizado<br />
amplamente em vários rituais dos nossos preceitos, que depois de<br />
encantados com os Ọfọ, Ọríkì ou adura; tem a finalidade de neutralizar o<br />
mal, as energias negativas e purificar o Ọrí dos Ọmọ Ọrìșà kọn. Sendo um<br />
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elemento de manipulação, atua como agente de purificação nos Ẹbọ entes<br />
da iniciação dos Ọmọ Ọrìșà kọn; melhora assim o<br />
Ọrí que irá receber as oferendas do Ẹbọrì; para que<br />
o nosso Ọrìșà Ọrí que é a central de ligação entre o<br />
nosso corpo com o nosso Ọrìșà Ẹlẹdà esteja em<br />
perfeita harmonia; é o caminho para podermos<br />
superar os obstáculos em nossa vida, para que esta<br />
possa estar em harmonia e energeticamente<br />
positiva. O ovo também é utilizado com a<br />
finalidade de se obter fertilidade, atrair dinheiro,<br />
produtividade nos negócios e serenidade em certas<br />
situações. O ovo cozido é utilizado inteiro sobre os<br />
Ẹbọ (oferendas) para os Ọrìșà. Quando cozido e<br />
esfarinhado e misturado ao Ẹkùrù também<br />
esfarinhado, é espalhado sobre o solo da casa dos<br />
Ọrìșà, tendo a finalidade de agradar as Àjẹ (feiticeiras astrais),<br />
neutralizando as energias negativas, quando é invocado neste ritual. As Àjẹ<br />
sob o domínio de Ìyáàmi Ọșọrọngá, Ẹṣù e Ǫbalúwayẹ, propiciarão<br />
abundancia e prosperidade para a casa templo. O ovo cru quando utilizado<br />
inteiro em oferendas, tem a função de tranquilizar e acalmar. Por isso é<br />
comum vermos muitos ovos crus colocados nos pés de certos Ọjubọ<br />
(assentamentos dos Ọrìșà).<br />
A finalidade será de atrair abundância e<br />
proteção, fazendo com que todos os Ọrìșà<br />
compreendam perfeitamente que o Ẹbọ é<br />
uma suplica, e, dependendo da força<br />
energética e essência de cada Ọrìșà, esta<br />
não só atuará no tocante a fertilidade mais<br />
também proporcionara dinheiro, sorte,<br />
saúde e desenvolvimento na vida. Já<br />
quando quebrados diretamente na cabeça,<br />
têm a função poderosa de purificar e livrar<br />
até 80% de qualquer tipo de feitiço ou<br />
qualquer outro tipo de negatividade que esteja sobre o Orí de uma pessoa.<br />
Quando em um Ẹbọ, ovos crus são atirados no chão ou quebrados em cima<br />
do corpo de uma pessoa, que vulgarmente este ato é chamado de<br />
descarrego; terá a finalidade fazer uma modificação nos caminhos desta,<br />
tirando as dificuldades da vida da pessoa ou qualquer força energética<br />
negativa. Ao ser quebrado, ele revela sua riqueza e seu poder; pois no exato<br />
momento que é quebrado, o ovo não terá mais a possibilidade de germinar,<br />
ou seja, nascer algo dele, em uma substituição ou troca, que acabará com<br />
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o problema que aflige a pessoa, possibilitando o fim uma situação negativa.<br />
Por este motivo é que o ovo cru deve ser quebrado, principalmente no Ọrí<br />
dos Ọmọ Ọrìșà kọn, em uma preparação do Ọrí, que logo depois irá receber<br />
os outros elementos que fazem parte para a veiculação e transmissão do<br />
poder do Àṣẹ. Começando primeiramente pelo Ẹjẹ dùdù o Àgbọ, em<br />
seguida o Ẹjẹ pupa das aves ou quadrúpedes, e, finalmente o Ẹjẹ<br />
fùnfùn do Ìgbìn, colocado por cima de tudo; purificando e possibilitando a<br />
existência e a veiculação e transmissão do àṣẹ. Com a união dos três<br />
sangues primordiais, após ter sido purificada com o ovo cru, possibilita<br />
assim a pessoa a obter sorte, dinheiro, felicidade, prosperidade, saúde,<br />
tranquilidade e paz. Quando um ovo é quebrado em qualquer ritual, o<br />
nome das Ìyáàmi Ọșọrọngá é respeitosamente citado e reverenciado,<br />
porque, qualquer que seja o ovo, este lhe pertencerá, como relata vários<br />
Ìtàn de Ifá – corpo literário de Ifá. Quebrar um ovo na rua atirando ao chão<br />
pela manhã, por três ou sete dias consecutivos, chamando por Ẹlẹgbàrà e<br />
Ìyáàmi Ọșọrọngá, e espargindo dendê por cima do ovo, é um simples e<br />
poderoso ritual do culto a Ìyáàmi Ọșọrọngá; com a finalidade de afastar<br />
qualquer tipo de dificuldade ou prejuízo, acalmando qualquer energia<br />
desfavorável no caminho de uma pessoa.<br />
O OVO DE PATA- (pẹpẹyẹ)<br />
O “Ovo de pata” é o símbolo da vida e<br />
umas das proibições de Ìkù. A<br />
utilização do ovo de pata cru é<br />
essencial em certos rituais, tendo<br />
como finalidade quebrar as forças da<br />
morte, das doenças e das perdas.<br />
Quando cozido e esfarinhado, é<br />
utilizado como agente purificador,<br />
quando é passado pelo corpo de uma<br />
pessoa em Ẹbọ de Ẹgùngùn ou Ọnìlẹ. Com casca e seco ao sol, transformado<br />
em pó, é utilizado no Ìgbà Ọrí e assentamentos de Ọrìșà que tenham relação<br />
com Ìkù. “Ovo de pata cru:” enfraquece a força da morte, doenças graves e<br />
perdas. Assim, o ovo de pata pode ser utilizado nos Ẹbọ Ìkù, tirando<br />
qualquer tipo de morte, seja material, espiritual, financeira ou sentimental.<br />
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Ovo de galinha – Abọ Àdiẹ<br />
Ovo de galinha cru: purifica e tranquiliza. Ovo de<br />
galinha cozido: tira doenças. Ovo de galinha<br />
esfarinhado: neutraliza negatividade do<br />
ambiente, atrai prosperidade e abundância.<br />
Ovo de codorna<br />
Ovo de codorna: Neutraliza feitiços.<br />
Ovo de galinha D’ Angola - Ẹtù<br />
Ovo de D’ Angola: traz dinheiro, sorte,<br />
prosperidade, riqueza e sucesso nos negócios.<br />
Ovo de pomba-ẹiyẹlẹ<br />
Ovo de pomba: traz tranquilidade e fertilidade.<br />
Àwọ Ifákàiyọdẹ<br />
Júlio César<br />
Teor.romano@gmail.com<br />
Telefone e Zap: 21-9966-103030<br />
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A FORÇA AFRO BRASIL é uma<br />
organização não-governamental<br />
(ONG) sem fiz lucrativos. Registrada<br />
em 2014, possui estatuto próprio,<br />
diretoria e representantes em várias<br />
cidades do país.<br />
Realiza um trabalho significativo na<br />
área social, cultural, educacional e<br />
jurídica.<br />
Os profissionais atuam de forma<br />
voluntária, pois a entidade não<br />
cadastra associados e não recebe fomento governamental. As ações são<br />
desenvolvidas em parceria com a iniciativa pública/privada e pessoas<br />
físicas, dispostas a integrar a corrente de solidariedade. Ao longo dos anos<br />
a associação vem apoiando projetos e eventos beneficentes, voltados aos<br />
barracões e terreiros de religiões de matrizes africanas no DF e entorno com<br />
o intuito de colaborar em benfeitorias nesses locais, bem como promove<br />
campanhas assistenciais para auxiliar nas<br />
necessidades de todos aqueles que<br />
buscam a ONG, para doações e<br />
atendimentos, relacionados à saúde,<br />
alimentação, jurídico, dentre outros. Na<br />
área cultural, desempenha um papel de<br />
fortalecimento da resistência à cultura<br />
negra, apoiando grupos de BLACK MUSIC<br />
como os THE FUNKS BROTHERS, escolas de<br />
samba como a agremiação IMPÉRIO DO<br />
GUARÁ e alguns grupos de samba e pagode<br />
educação, atua em projetos, palestras e<br />
encontros com o objetivo de garantir a<br />
efetiva aplicação da lei 10.639/2003 que<br />
implanta no currículo a obrigatoriedade do<br />
estudo da história dos povos afro-brasileiros e africanos, em escolas da rede<br />
pública e privada.<br />
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No jurídico, conta com advogados que prestam orientação e atuam na<br />
resolução das diversas demandas, incluindo a intolerância religiosa e o<br />
racismo. Bem como desenvolve trabalho no sistema penitenciário, junto as<br />
famílias de apenados. Por essa atuação, o presidente da ONG, Kleyson<br />
Moreno, foi convidado pela AJUFE (Associação de Juízes Federais) a compor<br />
o debate sobre o tema na semana da Consciência Negra, realizado por esta<br />
entidade. A ONG apoia o movimento LGBTI, participando de diversas ações<br />
que garantem e assegurem os seus<br />
direitos, participando ativamente no<br />
combate à violência e preconceito, tais<br />
como as paradas no orgulho LGBTI em<br />
todo o DF e outras ações culturais em<br />
parceria com artistas e m eventos que dê<br />
em visibilidade a causa. Utilizando as<br />
mídias e redes sociais, a FORÇA AFRO<br />
BRASIL, desempenha um papel importante<br />
na divulgação e valorização das religiões de matrizes africanas,<br />
fortalecimento da negritude e empoderamemto feminino. Veja o<br />
depoimento dos dois primeiros Bàbàlọriṣà que apoiaram e apostaram no<br />
trabalho da entidade. "Seu trabalho é um bem necessário a todas as classes<br />
ditas como "Minorias" mas seu maior feito é em defesa de uma fé milenar<br />
e de uma cultura que nossos ancestrais africanos deixaram como legado a<br />
nossa amada Pátria Brasil. Sou Força Afro e estou com você Kleyson<br />
Moreno" Doté Maurício de Lissá. "Só<br />
tenho a agradecer e a somar com a FORÇA<br />
AFRO BRASIL. Acredito muito no trabalho<br />
que eles realizam com humildade e<br />
integridade, tendo a minha sincera<br />
confiança e absoluta certeza que farão<br />
muito mais pelo povo de Asé da umbanda<br />
e Candomblé, pelo povo negro, pelos<br />
fracos e oprimidos que sofrem<br />
humilhações e intolerância. Eu e o Ilê Asé Koque maior, apoiamos e estamos<br />
com Kleyson Moreno na luta!" Babalorixá Francisco de Oxóssi. O trabalho<br />
sério, responsável e comprometido da FORÇA AFRO BRASIL, trouxe a<br />
necessidade de indicar o nome do presidente KLEYSON MORENO na busca<br />
de representatividade política que atendam os anseios das minorias.<br />
Contamos com o apoio de todos que lutam ou se identificam com as causas<br />
defendidas e nossas bandeiras.<br />
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Quem é Kleyson Moreno?<br />
Kleyson dos Santos Silva, presidente da<br />
FORÇA AFRO BRASIL, conhecido como<br />
Moreno, apelido dado carinhosamente por<br />
sua mãe é o caçula de uma família de quatr o<br />
irmãos. Filho de pais nordestinos, mãe baiana<br />
e pai maranhense, nasceu em Brasília e<br />
residiu até o início da fase adulta no Guará. É<br />
casado e tem um filho. Formado em Gestão<br />
em segurança pública e privada, é faixa preta<br />
de judô e Jiu-jitsu. Aos 42 anos, atua há 20 na<br />
área de segurança, tendo sido lotado em órgãos públicos, empresas<br />
privadas e na FORÇA NACIONAL. Conheceu a umbanda através de um<br />
amigo, durante a travessia de um período de muita dor, após ter perdido o<br />
irmão mais velho, vítima de assassinato com arma de fogo. “A religião me<br />
trouxe o conforto que eu precisava, me levou novamente para o meu eixo,<br />
pois eu me encontrava muito revoltado e inconformado com essa<br />
situação”, relata Moreno. Permaneceu durante 10 anos como Ọgà, no<br />
TEUTU (Templo Espiritualista e Umbandista é Tempo de Unir), local onde<br />
nutre grande gratidão. Atualmente é filho de santo do pai Maurício de Lissá.<br />
As experiências percorridas através da religião, o traço personalíssimo de<br />
grande guerreiro e defensor da justiça para todos, fez crescer o desejo de<br />
atuar numa frente de luta que assegurasse os direitos dos praticantes de<br />
religiões de matrizes africanas. Foi quando foi orientado por uma entidade<br />
denominada Ẹṣù Gato Preto, a fundar a instituição FORÇA AFRO BRASIL. De<br />
lá pra cá os horizontes se ampliaram e a necessidade de abraçar outros<br />
aspectos dos DIREITOS HUMANOS, aumentou o leque de atuação de<br />
Moreno, em favor dos negros, crianças, mulheres, LGBTIs, periféricos e<br />
pessoas de baixa renda. Atualmente o seu trabalho está vinculado às áreas<br />
sociais, culturais e educativas, dentro do movimento negro e em defesa do<br />
povo de religião de Matrizes Africanas. Moreno, tem posicionamento<br />
político progressista e acredita que o único caminho para se fazer uma<br />
grande revolução no país que nos leve a uma transformação significativa é<br />
a EDUCAÇÃO,” Os abismos sociais são grandes. a distribuição de renda cada<br />
vez mais desigual e a crescente corrupção, tira o sono e os sonhos dos<br />
trabalhadores que já não aguentam mais essa covardia, A única arma do<br />
povo é a educação. Precisamos lutar incansavelmente por isso”.<br />
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Não acredite no que você ouviu.<br />
Não acredite em tradições porque ela são local, e existe a<br />
muito tempo.<br />
Não acredite em algo porque é dito por muitos.<br />
Não acredite meramente em afirmações escritas de<br />
sábios antigos.<br />
Não acredite em conjecturas.<br />
Não acredite em algo como verdade por força do hábito.<br />
Não acredite meramente na autoridade de seus mestres<br />
e anciãos.<br />
Somente após a observação e análise, quando for de<br />
acordo com a razão e construtivo para o bem e benéfico<br />
de todos.<br />
Somente raciocinando, ativa o pensamento e a<br />
consciência, e entendera e poderá executar.<br />
Somente então aceite e viva para isso.<br />
Àwò Ifábùnmì Fátùmbí<br />
Marco Rodrigues<br />
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