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Revista LiteraLivre 9ª edição

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018<br />

olvidar-se da ruína da mulher que um dia fora e vislumbrar uma guerreira a<br />

desbravar caminho.<br />

A cabeça do inspetor emergiu, precipitadamente, da porta do automóvel<br />

adquirido há poucos meses, e, sem uma palavra, uniram as mãos sobre o<br />

caminho enlameado. Vacilaram quando se aproximaram da campa de Catarina.<br />

Sentaram-se, em silêncio, e Masil pigarreou antes de começar a ler o conto<br />

preferido da filha dos dois inspetores: Era uma vez…<br />

Quando terminou de ler a história a Catarina, anoitecera e as estrelas<br />

pontilhavam o céu noturno de luzes dispersas. Arrefecera.<br />

João conduziu Masil para o apartamento secreto que partilhavam no Bairro<br />

Alto e observou-a a mudar de roupa e a esbater a maquilhagem. Ele também se<br />

transfigurara sob o olhar atento da Má da Silva, especialista em detetar a mínima<br />

dissonância. Afinal, havia uma missão a cumprir.<br />

Transfiguraram-se em animadores culturais voluntários de uma organização<br />

sem fins lucrativos. Sob esse disfarce, foram até a Serafina e bateram às portas<br />

das casas onde havia crianças com fome e frio, muitas delas molestadas. Sempre<br />

que podia, Masil narrava a história preferida da filha aos meninos e às meninas<br />

reféns daquele bairro sem sonhos. João entregava brinquedos e alimentos aos<br />

avós (decerto os pais e mães andavam no tráfico ou no consumo, e esses atos<br />

não respeitam dias festivos).<br />

Contar uma história era a única forma de honrar o natal das crianças que<br />

viviam uma realidade sem direito a infância. Na condição de inspetores, haviam<br />

congeminado este modo de manter a vigilância no bairro que seria sujeito a uma<br />

nova rusga no final de janeiro.<br />

https://www.facebook.com/saramarinatimoteo/<br />

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