Revista LiteraLivre 9ª edição
9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
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<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018<br />
Baú de histórias<br />
Renata Machado<br />
São Leopoldo/RS<br />
A enfermeira recolhe o livro do velho que está dormindo. Reconhece que é<br />
um exemplar da biblioteca e coloca na maleta em cima do criado-mudo, ao lado da<br />
cama. Sempre aberta, deixando a mostra os cartões-postais, um binóculo, um jogo<br />
de tarot e um porta retrato com ele ainda jovem. Na imagem, o homem tem um<br />
sorriso quase infantil e o cabelo comprido com cachos até o meio das costas, está<br />
escrevendo alguma coisa. É o registro da sessão de autógrafos do seu primeiro<br />
livro. O velho é escritor e parece que dos bons, tanto que tem obras dele na<br />
biblioteca. Foi um homem bonito, deve ter tido uma vida muito interessante.<br />
O velho sente um toque suave sobre as suas mãos. De repente escuta o<br />
barulho do derbak vindo da sala ao lado. Luísa deve estar ensaiando, dum dum<br />
tak, dum tak. Como gosta de vê-la dançar, nos palcos e nos ensaios, mas<br />
principalmente de improviso, sem respeitar ritmos e notas, só o desejo do corpo de<br />
quem está prestes a se entregar à paixão. E quantas vezes isso aconteceu e se<br />
sentiu como se estivesse num sonho.<br />
Ela gosta do velho e não esconde sua afeição, ele parece com o seu pai, mas<br />
mais inteligente. Seu pai também é cheio de histórias e muito imaginativo, mas<br />
nunca conseguiu desenvolver isso. Lembra no primeiro dia de trabalho, o encontrou<br />
em cima de uma árvore, fazendo folhas de jornal de binóculo e gritando terra à<br />
vista. Logo avisaram que o melhor é não dar corda, ele entra e sai do devaneio<br />
sozinho. Há quem pense que deveria estar em um hospício e não num asilo, coisa<br />
que ela não concorda. Apesar de sozinho, o velho parece feliz e satisfeito com a<br />
sua vida, apresenta aquele ar de quem se reconhece responsável e não como<br />
vítima. Já perdeu a conta de quantas vezes presenciou cenas bizarras<br />
protagonizadas pelo velho. Como as passadas largas, quase maiores que as pernas<br />
parar fugir das supostas bombas, agindo como se o pátio fosse um campo minado.<br />
Lembranças de guerra são sempre muito fortes e acompanham quem esteve em<br />
uma para o resto da vida. Tanto que ele afirma que o problema no joelho esquerdo<br />
foi por causa de uma mina que o atingiu de raspão na Guerra do Vietnã, quando<br />
trabalhava como repórter para a extinta revista Focus, nos anos 1960.<br />
Ou quando diminui o passo e bate palmas no ar, como se tentasse pegar<br />
algum inseto.<br />
- Estou brincando de pega-pega com a minha inspiração, as palavras andam<br />
por aí dando sopa, só precisamos caçá-las no momento certo, se demoramos muito<br />
para fazer a captura elas fogem e perdem o sentido. Mas agora, quando dá branco,<br />
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