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Revista LiteraLivre 9ª edição

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018<br />

Não é coisa nova, o fato de substituir uma muralha com uma ponte levadiça...<br />

Lembro-me de quando era garoto e os nossos jogos de guerra recordavam os<br />

torneios dos cavaleiros das "idades escuras". Havia pontes levadiças de castelos.<br />

Então crescemos e os jogos ficaram mais realistas. As muralhas voltaram: em<br />

Berlim, após em Chipre, Sara Ocidental, Jerusalém, na fronteira do México.<br />

Poucas dessas barreiras caíram.<br />

Minha cidade ainda está cheia de muralhas compridas, cobertas com frascos de<br />

vidro, mas são apenas os restos do passado, barreiras desnecessárias, erguidas<br />

em torno de fábricas que não existem mais.<br />

Parece que os meus concidadãos não sabem derrubar as muralhas que se<br />

tornaram inúteis. Eles as usam para esconder novas realidades marginais, como<br />

uma governanta que varre o chão e não limpa, mas esconde a sujeira debaixo do<br />

tapete.<br />

Essa muralha é uma sobrevivente. Hoje, mais de trinta anos após o<br />

encerramento da fábrica, já não protege nada e ninguém, separa apenas a<br />

realidade cotidiana e o pesadelo de sua negação, a "não-realidade". Atrás de<br />

seus tijolos, há apenas campos de ruínas parcialmente derrocadas e solos<br />

impregnados de produtos químicos, precisando de ser recuperados, armazéns em<br />

abandono, resíduos de arqueologia industrial, que ninguém pretende restaurar. A<br />

muralha protege um monumento autêntico do absurdo: vinte hectares de "sem<br />

cidade" e "nenhum país", uma verdadeira cicatriz no coração do desenvolvimento<br />

urbano. Falta-lhe só a palavra. Eu acho que nem sempre é necessário derrocar as<br />

muralhas. Gostaria que esta fosse preservada, como uma lembrança do século<br />

das indústrias, e que, por trás disso, os antigos armazéns restaurados poderiam<br />

oferecer o espaço para um lugar de exposições.<br />

Os armazéns e as chaminés das antigas usinas industriais são considerados<br />

monumentos da arqueologia industrial. Penso que os verdadeiros monumentos<br />

do passado são precisamente aquelas muralhas que separaram a cidade dos<br />

vivos das "cidades do trabalho". Não derroquem essas muralhas. Em seu lugar,<br />

poderia ficar um lugar vazio, e já não saberíamos como enchê-lo, talvez<br />

tenhamos que nos arrepender.<br />

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