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Revista LiteraLivre 9ª edição

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018<br />

Maurício Requião<br />

Salvador/BA<br />

A Mulher do Espelho<br />

Assustou-se. Mas era apenas uma porta de vidro. Um reflexo trêmulo,<br />

insuficiente para que ela saísse, mas que bastou para fazer seu coração disparar.<br />

Além do mais, ela não conhecia a magia. Levaria anos até que conseguisse<br />

compreender os rudimentos do que era preciso fazer para fugir.<br />

Ainda assim, desde que conseguira sair do espelho, vivia em constante<br />

tensão de que a outra a puxasse de volta. Anos a fio ela ficara escravizada.<br />

Obrigada a imitar os movimentos daquela mulher. Os longos e longos momentos<br />

de futilidade escovando o cabelo e admirando a própria beleza. Por detrás dela,<br />

conseguia ver o sol brilhando e a vida acontecendo. Mas a mulher do mundo só<br />

tinha olhos para ela mesma.<br />

Logo que fez a troca tomou a providência de cobrir e depois despachar todos<br />

os espelhos do apartamento. Isso não quer dizer que, mesmo com todo esforço,<br />

tenha conseguido evitar qualquer encontro. Na rua, principalmente, havia mais<br />

espelhos furtivos aguardando após cada esquina do que gostaria. A outra se<br />

limitou a imitá-la, como agora deveria fazer. No fundo dos olhos da mulher que<br />

estava no espelho, não pôde deixar de notar uma fagulha de ódio, fosse ele<br />

verdadeiro ou imaginado.<br />

Mas tudo aquilo ficaria no passado. Conseguira sua liberdade e não estava<br />

disposta a perdê-la. Ajeitava uns últimos detalhes pendentes da vida da outra,<br />

para não levantar suspeitas, e depois iria para o campo. Viveria entre as flores e<br />

deitar-se-ia na relva verde, cabelo desgrenhado e sorriso no rosto, sem nenhum<br />

espelho para lhe escravizar.<br />

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