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Revista LiteraLivre 9ª edição

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018<br />

A Morte do Boi<br />

Paulo Luís Ferreira<br />

São Bernardo do Campo/SP<br />

Numa manhã, ao lado do Mercado Municipal, na cidade de Carinhanha,<br />

extremo norte do estado da Bahia, às margens do Rio São Francisco, presenciei a<br />

cena brilhantemente iluminada pelo sol causticante do semiárido Sertão<br />

Nordestino. No asfalto de paralelepípedo a quentura faiscava nas pedras. Ali iria<br />

ocorrer o abate de um boi. Essa imagem brutal ficou guardado na memória e<br />

registrado nesses rabiscos que agora transcrevo. É para isso que serve e deve se<br />

escrever: seja relatando os esplendores da vida, seja delatando os estertores da<br />

morte, da vida, do homem, do boi.<br />

Assisti entorpecido o homem, de gestos secos e certeiros moldados a “arte”<br />

de matar. Sua função, atingir num só golpe a nuca do animal. A faca-peixeira de<br />

24 polegadas é tirada da bainha, afiada, capaz de cortar até o silêncio que se<br />

estanca diante à morte. Num movimento largo e com destreza fia o vinco na<br />

pedra mó.<br />

Após o golpe o boi desmorona no chão, mas estrebucha e tenta resistir. A<br />

respiração ofegante. Os olhos arregalados agora chora antes da paralisação<br />

derradeira ao olhar o infinito que se esvai, ou para dentro de si como se fora o<br />

espectador de sua própria morte. Aos poucos perdendo as forças, mas o brio da<br />

vida ainda presente no corpo ferido, faz-se ainda vivo, e num último impulso e<br />

ato de coragem tenta inutilmente se levantar. O homem se arma para o próximo<br />

ataque, e agora com a destreza do gesto definitivo sangra a jugular do animal,<br />

que não mais reage.<br />

O sangue é amparado por um grande aguidal de barro, e como um exímio<br />

cirurgião, o homem inicia a operação de retalhar o couro, desnudando o corpo do<br />

boi, quando aparece, ainda quente a carne e seu tecido muscular à mostra e<br />

ainda trêmulo pelos espasmos dos nervos vivos e das veias mortas. Em seguida<br />

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