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Revista LiteraLivre 9ª edição

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018<br />

Angélica Neneve<br />

Cornélio Procópio/PR<br />

A Estação<br />

O trem chega a estação exatamente no horário programado, todos descem<br />

apressados, uns ansiosos pelo reencontro, outros satisfeitos pela viajem<br />

tranquila, todos felizes por terem alcançado seu destino. Um homem com seu<br />

chapéu coco nas mãos abre passagem para uma mãe com seu bebê de colo, a<br />

garotinha de laço no cabelo agarrada à sua boneca acompanha com seus passos<br />

pequenos o pai até a porta. Um vigia da estação ferroviária auxilia alguns<br />

passageiros com suas bagagens. Tudo naquela cena tem um tom nostálgico e<br />

alegre.<br />

- Posso ajudá-la?<br />

Um moço, meio franzino, perto de seus 20 anos, vestindo um terno azulmarinho,<br />

estendia as mãos em direção a uma pesada mala de couro.<br />

- Claro... - A jovem respondeu corando.<br />

A mala era ainda mais pesada do que parecia. O jovem se perguntava o que<br />

poderia haver ali dentro, e como ela teria conseguido arrastar aquilo até o trem.<br />

- Há alguém a sua espera? - A pergunta saiu em um tom nervoso, e ele logo se<br />

arrependeu de tê-la feito.<br />

- Sim, meu avô.<br />

O jovem sorriu.<br />

Os dois continuaram o caminho pelos corredores da estação em silêncio. Suas<br />

vozes pareciam ter sido roubadas, de quando em vez, os olhares se<br />

encontravam, mas logo eram desviados.<br />

A moça avistou seu avô e acenou freneticamente, o jovem rapaz ao perceber isso<br />

tirou um papel do bolso, às pressas, e começou a rabiscar.<br />

- Me escreva. Ele disse estendendo o pequeno pedaço de papel em sua direção. -<br />

Se quiser, claro.<br />

Se despediram com um aceno curto, a moça ainda sem jeito guardou o papel e<br />

foi ao encontro do avô que a aguardava. Ela escreveria ao moço de terno azulmarinho,<br />

ao qual nem sequer perguntara o nome, naquela mesma noite. E na<br />

semana seguinte, e todas as outras depois daquela.<br />

Ao som de uma sirene, a jovem desperta de seu devaneio. Vê-se deitada no chão<br />

ao lado de incontáveis mulheres, ainda sente a dor na cabeça raspada<br />

violentamente. Uma senhora soluça a um canto daquele galpão. Gritos de<br />

soldados são ouvidos a distância. Ela sabe como será seu dia, tem sido assim já<br />

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