Revista LiteraLivre 9ª edição
9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
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<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018<br />
do cheiro ruim do córrego e dos porcos que o papai os engordava para o Natal,<br />
em um chiqueiro de ferro. Por falar nisso, quando não havia porcos, mamãe<br />
lavava o chiqueiro com creolina e muita água. Então, ele virava uma casinha<br />
chique para brincarmos de boneca. Era pelo quintal dos fundos que saíamos com<br />
as latas, atravessávamos a pontezinha de madeira e íamos pelo campinho florido,<br />
buscar água, no poço da Itambé, na época da seca.<br />
O outro mundo era a área da frente, que dava para a Avenida Amazonas e<br />
era bem maior. O mundo dos ricos, do balanço e escorregador, das roseiras que<br />
davam sombras na vidraça do quarto, dos pés de frutas, do banco de madeira<br />
onde mamãe sentava-se para nos contar histórias. Era ali que andávamos de<br />
patinete e o papai ligava a “radiola” para tocar seus boleros. Lembro-me da<br />
Jacira, minha prima, com o vestido tubinho e sapatos de saltos altos, rodando ao<br />
sabor de “La Paloma” nas infinitas festas dadas por qualquer motivo.<br />
Tanta coisa fez com que a casa ficasse impregnada na minha mente. As<br />
doze pessoas que lá viviam, a gata Pretinha, o passarinho Rolinha, o Peri, meu<br />
cachorro mais antigo, a Márcia, minha primeira “filha”, os quartos abarrotados de<br />
camas, as fogueiras de São Pedro, os Natais.<br />
A vida não era fácil, mas também não era tão difícil. Sempre foi boa. Nos<br />
Natais a alegria era garantida e os presentes chegavam. As bonecas que tinham<br />
desaparecido misteriosamente, meses antes, surgiam com vestidos novos e<br />
bochechas rosadas. Os velocípedes e os patinetes eram entregues reluzentes nas<br />
novas cores. O porco assado, as saladas, o tutu-de-feijão, a farofa, os doces e as<br />
garrafas de Coca-Cola enchiam as mesas para os de casa, primos, tios e amigos<br />
que surgissem.<br />
Mesmo depois que nos mudamos para a casa grande da Amazonas, não<br />
deixei de visitar, algumas vezes, a casa dos fundos.<br />
Morei por dez anos nos fundos. A mudança para a casa nova foi um<br />
acontecimento. A casa no segundo andar tinha janelas com vidro fumê, sala e<br />
copa conjugadas, quatro quartos com pisos de sinteco, paredes com azulejos, a<br />
varanda de cerâmica vermelha e rampas de pedras, a vista do trânsito na<br />
Avenida e muito barulho. Esse foi o problema maior, acrescido de outros<br />
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