Revista LiteraLivre 9ª edição
9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
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<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018<br />
grandes que fazemos para 20/30 pessoas, de guerra. As pequenas de 7/8<br />
ocupantes, de pesca. Eles passaram por muita terra e tempo desconhecido.<br />
Dividiram-se em grupos seja por desavença seja por conquista na terra nova.<br />
— Verdade Ypané. Na origem fomos um só corpo. Os M’Bayas, dividiram<br />
quando aqui chegaram, perdendo um pouco de sua força. O grupo que nos criou,<br />
optou por viver em margem de rio, em região pantaneira, lugar que a água<br />
invade a terra e depois devolve fertilizada. O curso de água doce que adotamos<br />
era o rio Paraguai.<br />
Sempre demoramos pouco em terra firme, nosso lar foi sempre a água.<br />
Deixamos ao irmão de sangue Guaicuru a terra sagrada. Na água nos<br />
defendemos e temos inúmeras glórias refutando o invasor branco. Nossa técnica<br />
inigualável de usar a canoa em movimento transversal, quase submergindo,<br />
transformando o fundo duro de nosso transporte em escudo contra o pau de fogo<br />
do homem branco. Conseguíamos lançar flechas e lanças mais rápido que eles,<br />
três vezes mais, no recarregar de suas armas pessoais.<br />
Nosso povo é guerreiro pelo que acredita. Vemos o invasor como ameaça<br />
de nossa existência. Triste saber que estávamos corretos. Procuramos proteger o<br />
objeto amarelo reluzente que os brancos tanto procuravam, em função da<br />
destruição que praticam. O homem branco desbrava a mata com violência e sem<br />
respeito. Chamam a nós e aos irmãos de pele, de “selvagens”. Defendemos o<br />
lugar que só nos acolhe e dá sentido. Eles se servem. Nunca demos perdão.<br />
Nossos deuses são de luta. Há entre nós o lema: nunca deixe um irmão para<br />
trás. Nunca fizemos isso e jamais o faremos. Jure por esta palavra meu neto.<br />
Jure por nossos e por toda a verdade daqueles que se foram. Viver é dar valor ao<br />
que nos mantém e serve. A floresta e o rio que a mantém viva, deve ser a seiva<br />
da planta pela existência.<br />
— Avô amado. Esta promessa é compromisso. Venho além de requerer o<br />
saber, falar do homem branco português de nome Antonio Correa Barbosa que<br />
veio em sigilo me procurar. Sabe que perdi meu pai jovem, seu filho, nas<br />
andanças de nossa tribo pelos lados da fronteira tupi. A tarefa de conduzir nossa<br />
gente agora é minha. Sei que de onde vem um, virão vários. Em nossas lutas,<br />
bravos que fomos, sempre que destruíamos as monções do inimigo, outras<br />
tantas se formavam. Maiores e mais fortes. Vejo-me na dúvida, grande alma. Ou<br />
o ouço e firmo fileiras com ele, ou refuto conhecedor de uma tragédia anunciada.<br />
— O líder não faz nada fácil. É julgado por quem só vê o imediato. Meus<br />
braços falam pela repulsa e pela morte do branco destruidor. Fomos aliados dos<br />
castelhanos contra os portugueses. Recebemos traição, escravagismo e<br />
submissão. O português é igual. Os pajés dos brancos disseminam língua doce e<br />
céu dourado, mas, forçam nosso povo e nossos irmãos em trabalhos de<br />
destruição da nossa cultura. Neto meu. Dura a sua batalha. Não serei eu quem<br />
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