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Revista LiteraLivre 9ª edição

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018<br />

Paiaguás. Verdadeiros Piracicabanos<br />

Rogério Gonçalves<br />

Piracicaba/SP<br />

Vivemos os idos de 1760. Paiaguás habitavam um pequeno aldeamento,<br />

feridos de morte em função de sua postura, admitindo alguns poucos posseiros<br />

como vizinhos. A união da etnia já não exista na tribo. Os Paiaguás se dividiram,<br />

selando uma jornada. Eram poucos agora e Ypané escutava os antepassados, por<br />

sonho e visões, o quão tristes estavam face ao que foram.<br />

Na margem do Rio Piracicaba, distantes pouco mais de 90 km da foz,<br />

estavam os resistentes. Lá, um grande índio curioso, buscava de seu avô, um<br />

conhecimento de quem era ele, sua origem, de onde vinha.<br />

Ypané escolheu o dia perfeito, uma manhã de outono chuvosa, talvez<br />

castigo divino por aceitar os brancos que ontem, foram invasores e inimigos. A<br />

oca onde ele estava com seu avô, Mubua M’Boi, Filho do Deus Serpente, acolhia<br />

com carinho seus modestos e singelos moradores.<br />

— Meu neto, Ypané. A nossa verdade precisa ser repetida e conhecida. Fico<br />

feliz que tenha procurado o saber de suas veias. Saiba que o que irei contar, não<br />

pertence somente às minhas memórias. A força do grupo está no fortalecimento<br />

de nossa cultura. Somos povo forte, muito mais no passado e precisamos viver<br />

da glória e tradição. Conhecer, relatar e fazer com que, um dia, mesmo um<br />

estrangeiro, saiba o que fizemos e a razão porque lutamos.<br />

Nascemos água, lá na margem do rio. Somos água. Paiaguá é povo nascido<br />

do peixe Pacu que fertilizado, lançou nas correntes dos rios os óvulos de nossa<br />

raça. Nascemos. Assim como nossos irmãos Guaicurus que nasceram do Gavião<br />

Cara-Cará, que sobrevoa e domina a terra e dos quais somos vertente. Contam<br />

os velhos, que ouviram dos mais velhos como chegamos nestas terras e porque<br />

adoramos e dominamos a água.<br />

Viemos de terra distante, terra longínqua, onde nossos ancestrais<br />

demoraram muitas luas no volumoso e amplo rio salgado antes de chegar. A<br />

canoa nossa amiga, é e foi presente deles. Com bravura dominaram o azul<br />

imenso chegando por terras que não sabiam tamanho. Vieram do outro lado de<br />

Gaia, conhecedores de correntes e marés. M`bayas são nossa raiz. Muito antes<br />

dos castelhanos e da chegada do homem português. Naquele tempo a travessia<br />

foi feita em canoas similares às nossas, maiores na verdade. Dominavam a arte<br />

do fogo e esculpiam no Timbó, sulcando ao centro, transformando pau em objeto<br />

de transporte. Por isso, temos esta ciência e dominamos tanto a água. As<br />

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