<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018 Desenho: Marina Genaro Aguiar dos Santos Olhos Daniela Genaro São Paulo/SP Gosto de olhos que embalam, olhos que bailam, olhos que se espalham e então mergulham ao contrário. Gosto de olhos que escalam a parede da alma. Gosto de olhos que falam. Ai se esses olhos calam! 101
<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018 Paiaguás. Verdadeiros Piracicabanos Rogério Gonçalves Piracicaba/SP Vivemos os idos de 1760. Paiaguás habitavam um pequeno aldeamento, feridos de morte em função de sua postura, admitindo alguns poucos posseiros como vizinhos. A união da etnia já não exista na tribo. Os Paiaguás se dividiram, selando uma jornada. Eram poucos agora e Ypané escutava os antepassados, por sonho e visões, o quão tristes estavam face ao que foram. Na margem do Rio Piracicaba, distantes pouco mais de 90 km da foz, estavam os resistentes. Lá, um grande índio curioso, buscava de seu avô, um conhecimento de quem era ele, sua origem, de onde vinha. Ypané escolheu o dia perfeito, uma manhã de outono chuvosa, talvez castigo divino por aceitar os brancos que ontem, foram invasores e inimigos. A oca onde ele estava com seu avô, Mubua M’Boi, Filho do Deus Serpente, acolhia com carinho seus modestos e singelos moradores. — Meu neto, Ypané. A nossa verdade precisa ser repetida e conhecida. Fico feliz que tenha procurado o saber de suas veias. Saiba que o que irei contar, não pertence somente às minhas memórias. A força do grupo está no fortalecimento de nossa cultura. Somos povo forte, muito mais no passado e precisamos viver da glória e tradição. Conhecer, relatar e fazer com que, um dia, mesmo um estrangeiro, saiba o que fizemos e a razão porque lutamos. Nascemos água, lá na margem do rio. Somos água. Paiaguá é povo nascido do peixe Pacu que fertilizado, lançou nas correntes dos rios os óvulos de nossa raça. Nascemos. Assim como nossos irmãos Guaicurus que nasceram do Gavião Cara-Cará, que sobrevoa e domina a terra e dos quais somos vertente. Contam os velhos, que ouviram dos mais velhos como chegamos nestas terras e porque adoramos e dominamos a água. Viemos de terra distante, terra longínqua, onde nossos ancestrais demoraram muitas luas no volumoso e amplo rio salgado antes de chegar. A canoa nossa amiga, é e foi presente deles. Com bravura dominaram o azul imenso chegando por terras que não sabiam tamanho. Vieram do outro lado de Gaia, conhecedores de correntes e marés. M`bayas são nossa raiz. Muito antes dos castelhanos e da chegada do homem português. Naquele tempo a travessia foi feita em canoas similares às nossas, maiores na verdade. Dominavam a arte do fogo e esculpiam no Timbó, sulcando ao centro, transformando pau em objeto de transporte. Por isso, temos esta ciência e dominamos tanto a água. As 102