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O Brilho<br />
da velha bota<br />
Por Jorge Lucki<br />
É desnecessário ressaltar a importância da Itália dentro do cenário vinícola<br />
mundial. Toda sua extensão territorial é bastante propícia para o cultivo<br />
de uvas viníferas. Não há sequer uma província italiana que não tenha<br />
história e tradição nessa área. Seu destaque, porém, é um fenômeno relativamente<br />
novo. Até meados da década de 1970 poucos vinhos produzidos<br />
no país mereciam comentários elogiosos. Isso era resultado da mentalidade<br />
vigente que dava prioridade à quantidade ao invés de qualidade.<br />
O panorama mudou quando, sem perder suas raízes, alguns produtores<br />
se deram conta da situação<br />
começaram a buscar qualidade<br />
e investir em conceitos<br />
modernos de enologia. Essa<br />
quase revolução teve como<br />
ponto de partida a Toscana,<br />
e logo se espalhou, em particular<br />
no Piemonte, até atingir<br />
o país inteiro. A melhor<br />
resposta é o reconhecimento<br />
e a estima internacional, e o<br />
prêmio, a crescente posição<br />
no mercado.<br />
O prestígio alcançado por<br />
alguns vinhos toscanos causou,<br />
no entanto, certos disparates,<br />
em prejuízo de consumidores<br />
incautos. O mais<br />
inquietante é o que cerca<br />
o Brunello di Montalcino,<br />
considerado, talvez, o rótulo<br />
mais importante da província.<br />
A região de Montalcino cresceu muito rápido e sem<br />
critério. Até 1970, havia apenas 11 produtores de brunello e a<br />
área plantada não excedia míseros 60 hectares. O número de<br />
vinhateiros dobrou na década de 70 e chegou a 53 em 1980,<br />
quando foi elevada à então recém-criada categoria DOCG,<br />
Denominazione di Origine Controllata e Garantita. O descontrole<br />
começou mesmo a partir daí: em 1985 já havia 810<br />
hectares de vinhas, número que hoje ultrapassa 2,5 mil hectares e mais de<br />
200 vinícolas. A qualidade é absurdamente heterógena. Boa parte destes<br />
novos vinhedos foram implantados em locais inadequados, especialmente<br />
em se tratando de uma casta tão difícil de ser trabalhada. Estou convicto<br />
que é um dos vinhos que mais decepções causam aos que, seduzidos pelo<br />
rótulo, pagam preços desproporcionais à qualidade que ele oferece.<br />
PUBLI-EDITORIAL<br />
Para não se deixar impressionar por rótulos, o mais indicado é não comprar<br />
às cegas. Mais do que perguntar a um vendedor, que invariavelmente<br />
sabe pouco e está interessado em vender o que tem na mão, o correto é<br />
consultar um guia confiável. Na falta de outras informações, um dado<br />
importante, sem dúvida, é buscar o ano em que a vinícola foi fundada.<br />
É o caso da Canalicchio di Sopra, propriedade familiar que iniciou suas<br />
atividades na região em 1962 (bem antes da invasão), sendo comandada<br />
atualmente pela terceira geração. Com vinhedos muito bem situados e<br />
uma visão atual, sem esquecer da tradição, produz Brunellos que, de fato,<br />
dignificam Montalcino.<br />
Rivalidades à parte, o Piemonte é, junto com a Toscana, a região vinícola<br />
mais importante e prestigiada internacionalmente da Itália. É a terra dos<br />
Barolos e dos Barbarescos, vinhos que são elaborados integralmente com<br />
o mesmo tipo de uva, a Nebbiolo,<br />
em suas respectivas<br />
regiões demarcadas. São as<br />
pequenas, mas importantes<br />
diferenças no clima e solo<br />
destas duas localidades que<br />
explicam as significativas<br />
diferenças entre os dois vinhos.<br />
O Piemonte está localizado<br />
no noroeste da Itália, tendo<br />
os Alpes como limite ao<br />
norte e a oeste, e o mar da<br />
Ligúria ao sul. Seu clima é<br />
cheio de extremos: inverno<br />
costuma ser muito severo,<br />
com frequentes inversões de<br />
neblina e os verões bastante<br />
quentes. Cultivar as uvas nas<br />
encostas das montanhas,<br />
solo com boa drenagem e<br />
perfeita exposição ao sol, é<br />
fundamental para a boa qualidade da Nebbiolo, uva de maturação<br />
tardia. O resultado são Barolos, ricos e potentes, e os<br />
elegantes e mais frutados Barbarescos.<br />
Outras uvas da região que começam a brilhar com mais intensidade<br />
nos últimos tempos são a Barbera, que está em<br />
grande ascensão, e a Dolcetto (ao contrário do que o nome<br />
sugere, propicia vinhos secos e leves), ambos tintos com grande afinidade<br />
com a culinária italiana, em especial massas, risotos e pizzas. Dois<br />
bons exemplos de produtores fiéis aos melhores propósitos do Piemonte,<br />
com vinhos de alto padrão, são a Cascina Ballarin, com seus excepcionais<br />
Barolos, e a Azienda Piero Busso, especializada em Barbarescos. Tanto um<br />
como outro, propõem também Barberas e Dolcettos de primeiro nível.<br />
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