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Eurobike magazine #18

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68 | <strong>Eurobike</strong> <strong>magazine</strong><br />

PRAZER<br />

de um ano de exigências e três inspeções, foi uma festa para<br />

o aeroclube, e o primeiro voo foi marcado para a data desta<br />

reportagem.<br />

Ninian estava ansioso. Afinal, diz ele, por vários momentos ficou<br />

em dúvida se iria receber a licença. Caso negativo, seu Tiger<br />

Moth não teria permissão de voar.<br />

Diz que o maior prazer em todo esse processo de restauração<br />

foi quando recebeu o ”sim” da ANAC. Nesse momento, entendeu<br />

que todo o período, todas as buscas, as dificuldades, as viagens,<br />

tudo valeu a pena. E naquele dia, 6 de novembro de 2011, ele<br />

finalmente iria decolar sua obra de arte.<br />

Voar<br />

Era um domingo de sol e céu azul, límpido. Poucas nuvens e<br />

pouco vento, sinais positivos para a aviação. Era essa a previsão<br />

de todos os sites de metereologia. Chegamos por volta das 8h e<br />

aguardamos Ninian, que apareceu logo em seguida, visivelmente<br />

compenetrado, como um piloto de Fórmula 1 antes da corrida.<br />

Depois de quatro anos, seu Tiger Moth finalmente subiria aos<br />

ares brasileiros, como uma aeronave licenciada.<br />

Antes de alçar voo, existe todo um protocolo a ser cumprido. O<br />

pessoal da cabine de comando do Aeroclube precisa ser avisado,<br />

os motores testados, hélice, assentos, ventos. Tudo vistoriado,<br />

Ninian se posicionou no assento traseiro da sua cabine e Lucas,<br />

outro piloto e professor, girou as hélices. O motor pegou. A<br />

emoção do irlandês já estava no ar.<br />

Como faríamos a reportagem, Lucas acompanhou o Tiger Moth<br />

em seu próprio avião. Convidou Lalo para que fosse com ele e<br />

pudesse tirar as fotos lá de cima. E assim, foram: os dois aviões,<br />

lado a lado, em um trajeto de meia hora.<br />

Ana, a restauradora de arte que acompanhou a restauração,<br />

ficou ao meu lado em terra firme e explicou todas as vantagens<br />

e desafios de se voar num exemplar daquele. Como pontos<br />

positivos, uma cabine aberta que permite observar a paisagem<br />

lá embaixo, literalmente sentindo no rosto a liberdade do voo.<br />

Como ponto de atenção, a dificuldade em pousar. É preciso<br />

alinhar a aeronave bem certinha em relação ao solo, para uma<br />

aterrissagem adequada. Se o nariz estiver muito alto ou muito<br />

baixo, o avião poderá pular, estolar ou ambos. De qualquer<br />

forma, uma vez dominada a técnica de aterrissagem, o piloto<br />

estará mais bem preparado para dirigir outros aviões.<br />

Passados quase trinta minutos, ao longe, avistamos os dois<br />

aviões, lado a lado, um mais acima, outro mais abaixo, se<br />

aproximando da pista de pouso. Respiração suspensa para<br />

assistir a aterrissagem. Ninian desceu com suavidade.<br />

Palmas. Assobios. Gritinhos de alívio. Ele saiu do avião, feliz.<br />

Disse que ainda havia alguns ajustes a serem feitos. Mas estava<br />

realizado com o voo inaugural de seu Tiger Moth. Enfim.<br />

Sentamos em uma mesa para conversar, tomar um café e falar<br />

sobre o restauro. E ali eu percebi o que realmente está na cabeça<br />

e coração do Ninian: não é o trabalho que acabou de fazer e<br />

para o qual dedicou tempo, energia e dinheiro consideráveis,<br />

mas sim seu próximo projeto.<br />

Como um verdadeiro explorador, Ninian não descansa sobre os<br />

louros de seus feitos passados, mas está sempre em busca de<br />

novos destinos. Novos desafios.<br />

A bola da vez é um Sopwith Camel, de 1915. O avião que ganhou<br />

a Primeira Guerra Mundial. Não sobrou nenhum original, mas<br />

existem cinco exemplares — três na França e dois na Inglaterra<br />

— sendo construídos como os originais. O irlandês quer ser o<br />

sexto a embarcar nessa história. Aqui o caso não é restauração,<br />

mas reconstrução.<br />

“Calculo que levarei uns 10 anos nessa missão”, diz sorrindo.<br />

Como se essa fosse a grande graça da sua vida. Passar seus<br />

dias em novos voos. No ar e na imaginação.<br />

Ninian me lembra uma frase de Santos Dumont:<br />

“O homem há de voar.”<br />

Aeroclube de Bragança Paulista<br />

Tel.: (11) 4032-7857<br />

www.acbp.com.br

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