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18 | <strong>Eurobike</strong> <strong>magazine</strong><br />
RAZÃO<br />
por volta de 8%. Ou seja, a China também vai sofrer, mas não<br />
vai atrapalhar a economia mundial.”<br />
Quanto ao Brasil, não vai deixar de sofrer, pois está inserido no<br />
mundo. Mas, para Figueiredo, o país nunca esteve em tão boa<br />
forma, estruturalmente, para enfrentar um problema como esse.<br />
O economista identifica uma grande diferença entre os governos<br />
do ex-presidente Lula e da presidente Dilma no trato da questão.<br />
“Lula falava em marolinha, mas este governo está encarando a<br />
crise como coisa muito séria”, compara Figueiredo, com a autoridade<br />
de quem já esteve do lado de lá do balcão — foi diretor<br />
de Política Monetária do Banco Central, durante o segundo<br />
mandato de Fernando Henrique Cardoso, e ajudou na transição<br />
para o governo Lula. Para ele, o governo está com a percepção<br />
correta de que esta crise, embora menos aguda que a de 2008,<br />
será mais longa.<br />
Figueiredo endossa a ação do governo, que desta vez está<br />
comprometido com uma política fiscal apertada, o que abre espaço<br />
para a redução das taxas de juros. Ele trabalha com os seguintes<br />
números: com a manutenção de um superávit primário<br />
da ordem de 3% do PIB, o governo terá condição de cortar os juros<br />
básicos de 12,5% ao ano para 8% ou 9% em pouco mais de<br />
seis meses. Para o economista, o Banco Central está na direção<br />
correta ao baixar os juros. “O mercado esteve cético, mas aos<br />
poucos vai convergindo para o diagnóstico do Banco Central.”<br />
Se o governo não merece dez com louvor, na avaliação de<br />
Figueiredo, é por causa de um aspecto de sua política industrial.<br />
O economista critica a decisão de elevar o IPI (Imposto sobre<br />
Produtos Industrializados) para carros importados. “É uma medida<br />
ruim, como toda medida protecionista”, afirma.<br />
A contabilidade de medidas protecionistas, porém, é favorável<br />
ao Brasil. Desde 2008, o Brasil adotou mais de setenta medidas<br />
protecionistas, diz Figueiredo, enquanto nos Estados Unidos,<br />
foram quase cem, a exemplo do que também aconteceu<br />
na Alemanha e no Canadá. “Infelizmente, estamos num mundo<br />
protecionista. Minimizo a negatividade porque está todo mundo<br />
fazendo a mesma coisa, mas não é por isso que vou achar que<br />
a medida é boa.”<br />
Para ele, a médio prazo, todos saem perdendo com esse tipo<br />
de medida. “O imposto maior protege a indústria, mas gera inflação”,<br />
afirma. “Também provoca menor competição, o que faz<br />
com que as empresas sejam menos eficientes. Assim, os aspectos<br />
positivos são neutralizados por ineficiência e inflação.<br />
No final, é ruim para a economia como um todo. Isso sempre<br />
desemboca em empresa sucateada e produto de pior qualidade,<br />
com custo maior para o consumidor.”<br />
O Brasil, de qualquer maneira, sairá da crise numa posição relativamente<br />
melhor, pois vai perder menos do que outros países,<br />
prevê Figueiredo. O efeito maior será em termos de menor crescimento,<br />
um pouco abaixo de 3% em 2012, “o que não deixa<br />
de ser bom se pensarmos no cenário mundial”. Para ele, se<br />
a situação na Europa não piorar muito, o país poderá crescer<br />
perto de 4% em 2013. A Copa do Mundo em 2014 terá alguma<br />
contribuição. Será um contrapeso num ambiente adverso, mas<br />
Figueiredo não acredita em impacto relevante na economia.<br />
Quanto à inflação, é algo que vem desaparecendo do radar do<br />
economista. “Inflação nunca é causa, mas sempre consequência<br />
do que acontece na economia. Olhar a inflação é como olhar<br />
no retrovisor”, diz Figueiredo. “Se estava aumentando nos últimos<br />
meses é porque antes a economia crescia demais.” Mas<br />
isso é coisa do passado. “A partir de agora, como o Brasil vai<br />
crescer menos do que pode, a inflação será mais baixa.” Sua<br />
previsão indica uma mudança de patamar: 5% no próximo ano,<br />
em comparação com um pico recente superior a 7%.<br />
O cenário econômico para o Brasil sugere que a Bolsa de Valores,<br />
de um modo geral, está barata. Na ocasião da entrevista,<br />
o índice Bovespa girava em torno de 55 mil pontos, uma região<br />
intermediária entre o pico de 70 mil e o piso inferior a 50 mil,<br />
ambos batidos neste ano. Muitas ações estão tão baratas, ele<br />
comenta, que as empresas estão aproveitando para recomprar<br />
seus próprios papéis.<br />
Seria hora, então, de entrar num investimento de risco? Figueiredo<br />
é cauteloso na resposta. Para ele, se o país estivesse crescendo<br />
sem o freio da crise mundial, o patamar poderia estar<br />
entre 65 mil a 70 mil pontos. Por isso, se cair a 40 mil o investidor<br />
pode fechar os olhos e comprar que estará fazendo um bom<br />
negócio a médio ou longo prazo. Mas nem tudo é pechincha, e<br />
as oportunidades precisam ser escolhidas caso a caso, diz.<br />
Proteger patrimônios em tempo de crise não é tarefa fácil.<br />
Figueiredo voltou a nadar, mas com alguma frequência o treino<br />
fica prejudicado por e-mails internos trocados com sócios e<br />
analistas depois da meia-noite. Se a volta à piscina indica que<br />
a crise é administrável, as mensagens em altas horas lembram<br />
que ela precisa ser administrada. “O momento é intenso”, resume<br />
Figueiredo.