16 | <strong>Eurobike</strong> <strong>magazine</strong> RAZÃO Administrador de fortunas, Luiz Fernando Figueiredo ainda não está jogando polo aquático com a intensidade que gostaria. Bicampeão mundial na categoria máster, ele interrompeu a participação em torneios internacionais com o tsunami financeiro de 2008 e ainda não voltou ao desempenho que tinha antes da crise econômica mundial. O fato de ter voltado a cair na piscina, no entanto, embora sem a dedicação das três décadas anteriores, tem a seguinte tradução: a crise é séria, sim, mas o Brasil se encontra numa situação especialmente forte para enfrentá-la. Dá até para dar uma nadada entre uma e outra orientação de investimento. O diagnóstico de Figueiredo remonta a 2008. “Estamos vivendo a ressaca do que se fez para evitar o mal maior três anos atrás”, afirma Figueiredo, 47 anos, em entrevista na sede da Mauá Sekular, em São Paulo, no bairro de Itaim Bibi, em São Paulo, para onde se mudou com seus sócios no início de 2010. Ele lembra que os sistemas bancários norte-americano e europeu tinham dado um passo maior do que as pernas com a alavancagem do crédito. Como não podiam quebrar, se colocou em marcha um processo sem precedentes, com a transferência de dívidas do setor privado para o setor público. Coisa da ordem de uma dezena de trilhões de dólares. “Nem na década de 1930, durante a Grande Depressão, houve algo dessa magnitude”, compara Figueiredo. Nos Estados Unidos, o esforço ficou na casa dos US$ 7 trilhões, o que fez a dívida pública mais do que dobrar em três anos, passando de 45% para cerca de 100% do PIB. Na Europa, onde na média a dívida era mais elevada, entre 70% e 80% do PIB, também atingiu-se o 100%. A média, no entanto, mascara uma realidade mais preocupante. Na Itália, o endividamento público chega a 120%; na Irlanda, 130%; e na Grécia, onde a crise é mais aguda, a dívida era equivalente a 160% do PIB antes do acordo do final de outubro, que reduziu o valor que os credores teriam a receber. Para Figueiredo, a diferença entre as duas situações é que enquanto nos Estados Unidos a dívida é administrável, na Europa já deixou de ser. “Em vários países isso não é mais possível por mais austeridade que se venha a ter”, afirma. “Nos Estados Unidos”, continua Figueiredo, “o momento é de começar a pagar essa conta.” Isso significa que o país vai gastar menos e, consequentemente, crescer menos. Quanto menos? Figueiredo arrisca uma previsão: a expansão natural, de 2,5% ao ano, será limitada a 1% durante três, quatro ou até cinco anos. “É um processo penoso, mas positivo, porque ao final desse período a economia voltará a ser saudável.” E a Europa? Lá, a situação é mais dramática, diz Figueiredo. Os governos do continente minimizaram o problema por algum tempo e agora a ameaça é que a crise dos países periféricos contagie as economias centrais da zona do euro. Isso ocorre porque o sistema financeiro europeu, que é todo interligado, está frágil. “Diferentemente dos Estados Unidos depois de 2008, os bancos na Europa têm grau de alavancagem muito alto, ou seja, o risco é muito grande”, adverte o economista. Enquanto nos EUA a alavancagem está restrita a cerca de dez vezes o patrimônio, na Europa, vários grandes bancos têm alavancagem que chega a trinta ou quarenta vezes. Figueiredo tem uma tese sobre a origem mais remota dessa crise. “É a governança horrorosa na Europa. Não há capacidade de decisão, de ação”, afirma. Quando os europeus fizeram o Tratado de Maastrichit, que rege o euro, não colocaram algo fundamental: a união fiscal. Eles têm a união monetária e tributária, mas não a fiscal, devido à dificuldade de ordem política. “É um tripé em que falta um pé.” O problema maior, agora, é que a Europa não tem recursos suficientes para sanar a crise. “A conta é muito grande”, afirma Figueiredo. Num “chute qualificado”, estima as necessidades da Europa em até 3 trilhões de euros, mas o dinheiro disponível não chega a 300 bilhões. “A novela europeia vai longe. Mesmo no melhor cenário, haverá longo processo recessivo porque as políticas que estão sendo implementadas são contracionistas.” A análise da economia internacional não é completa sem se levar em conta o fator China. Para Figueiredo, o país é uma incógnita, tanto pelo tamanho como pela falta de transparência. O economista, porém, não poupa esforços para entender mais os chineses. Viaja com alguma frequência à China, e este ano mesmo esteve por lá tentando decifrar como eles vão lidar com a crise mundial. A conclusão é que o país tem muitos instrumentos para manobrar num ambiente adverso. “A China pode ter um crescimento menor, mas não muito menor. Se antes o país crescia em torno de 9% a 10% por ano, provavelmente irá crescer
“Infelizmente, estamos num mundo protecionista. Minimizo a negatividade porque está todo mundo fazendo a mesma coisa, mas não é por isso que vou achar que a medida é boa.” 17 | <strong>Eurobike</strong> <strong>magazine</strong>