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___Baggini-Fosl-as-Ferramentas-Dos-Filosofos-Um-Compendio-Sobre-Conceitos-e-Metodos

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Ferrament<strong>as</strong> de avaliação 1 167<br />

3.29 Testabilidade<br />

U rn indicador comum daquilo que alguém mais teme é aquilo a que<br />

urna pessoa afirma ser mais ferrenhamente contrária. Se isso é verdade<br />

também na filosofia, então, na era moderna, é provável que a filosofia<br />

tenha tido mais temor dos sofism<strong>as</strong>: o contr<strong>as</strong>senso disfarçado de pensamento<br />

soflsticado. Desde que Berkeley argumentou que deveríamos<br />

abandonar <strong>as</strong> concepções filosófic<strong>as</strong> acerca da substância material não<br />

por serem fals<strong>as</strong>, m<strong>as</strong>, literalmente, por serem destituíd<strong>as</strong> de significação,<br />

os filósofos empenharam-se em purificar sua disciplina de todo contr<strong>as</strong>senso<br />

- ou daquilo a que Wittgenstein referiu-se como unsinnig.<br />

Esse receio de que a filosofia seja contaminada pelo contr<strong>as</strong>senso<br />

que serve de obstáculo à reflexão frutuosa teve seu ápice no início do<br />

século XX. Os positivist<strong>as</strong> lógicos e seus sucessores no movimento que<br />

ficou conhecido corno filosofia analítica buscaram purificar a filosofia do<br />

contr<strong>as</strong>senso por meio de um cotejo com regr<strong>as</strong> simples que nos capacitariam<br />

a separar o joio vazio do trigo válido.<br />

<strong>Um</strong>a dess<strong>as</strong> regr<strong>as</strong> era o princípio de verificabilidade do significado,<br />

um princípio desenvolvido com particular detalhamento por Alfred<br />

Jules Ayer (1910-1989). O princípio de verificabilidade apareceu sob<br />

form<strong>as</strong> divers<strong>as</strong>. Pode ser formulado, sucintamente, do seguinte modo:<br />

somente proposições que possam ser verificad<strong>as</strong> por referência à sensação<br />

são significativ<strong>as</strong>.<br />

Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> não são meramente fals<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> literalmente desprovid<strong>as</strong><br />

de significação. Desse modo, por exemplo, a ideia de que existe<br />

neste recinto um elefante cor-de-rosa invisível e intangível é desprovida<br />

de significação, dado que, por princípio, este enunciado não pode ser<br />

verificado pela experiência sensível, já que algo intangível é, por definição,<br />

algo que não pode ser experienciado. Deste ponto de vista, grande<br />

parte da metafísica, da teologia e da ética é desprovida de significação e<br />

deve ser excluída da filosofia.<br />

O verificacionismo como princípio de significado malogrou, pois<br />

ninguém foi capaz de oferecer uma formulação que não excluísse o que<br />

pretendia permitir, ou que não permitisse o que pretendia excluir. O que<br />

é mais grave, uma vez que o próprio princípio não pode ser verificado<br />

pela experiência sensível, é, aparentemente, desprovido de significação<br />

por seu próprio critério. Este não é, entretanto, um simples problema<br />

de semântica, pois afeta também a filosofia da ciência.

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