A Princesa Adivinhona
De Aderaldo Luciano, livremente inspirado na obra de Luís da Câmara Cascudo. A publicação faz parte do projeto "Urucuia Grande Sertão", espetáculo da Peneira, com direção de Marcia do Valle e dramaturgia de Eridiana Rosa e Luiz Fernando Pinto
De Aderaldo Luciano, livremente inspirado na obra de Luís da Câmara Cascudo. A publicação faz parte do projeto "Urucuia Grande Sertão", espetáculo da Peneira, com direção de Marcia do Valle e dramaturgia de Eridiana Rosa e Luiz Fernando Pinto
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Parou à margem de um rio,<br />
Uma fogueira acendeu<br />
Com as tábuas do altar.<br />
Assou a carne e comeu.<br />
Foi quando avistou nas águas<br />
A cena que o comoveu.<br />
Boiava leve, arrastado,<br />
O cadáver de um jumento.<br />
Sobre ele, os urubus<br />
Bicavam seu alimento.<br />
Desistiu de tomar água<br />
Achando aquilo nojento.<br />
Em um pé de macambira<br />
Notou água do orvalho.<br />
Tomou, saciando a sede,<br />
Porém com muito trabalho.<br />
Encontrando outras bromélias,<br />
Repetiu o quebra-galho.<br />
Tocou o pé à cidade,<br />
Foi procurar pelo rei. Dizendo:<br />
— Eu trouxe um problema.<br />
Marque o dia que virei<br />
Desafiar a princesa<br />
E com ela casarei!<br />
Correu depressa a notícia<br />
Do amarelo coitado<br />
Que seria o próximo pobre<br />
A ter o lombo provado<br />
Pelas línguas do chicote<br />
Que já estava preparado.<br />
No dia da arguição<br />
Todo o povo reunido.<br />
O amarelo adentrou<br />
Aquele salão comprido.<br />
Pela boca da plateia<br />
Correu um breve alarido.<br />
— Amarelo como esse<br />
Não vai suportar lapada!<br />
— Vai se borrar pelas calças<br />
Com a poupança esfolada!<br />
Numa cadeira de ouro<br />
Viu a princesa sentada.<br />
A princesa adivinhona - miolo.indd 8 09/04/2014 09:59:00