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Ano 01 | Edição <strong>004</strong> | Maringá, abril de <strong>2018</strong> | Jornal Comunitário de Maringá<br />
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA! | Pág. 7<br />
MARINGÁ • Pelos arredores<br />
do câmpus-sede da Universidade<br />
Estadual de Maringá caminhava,<br />
com frequência, nos idos dos anos<br />
80 e 90, um homem esguio, de<br />
sotaque carregado, cigarro quase<br />
sempre à boca, à procura de<br />
novidades. Caminhava.<br />
Hoje, a limitação física impõe limites<br />
a Manuel José Espech de<br />
Almeyda, pelo menos no deslocamento.<br />
A esta altura, o leitor deve estar<br />
se perguntando quem é este tal de<br />
Manuel. Calma, como ele próprio<br />
costuma dizer quando questionado,<br />
por exemplo, se consegue abrir o<br />
portão da residência sem ajuda, pois<br />
afinal o personagem sobre o qual estamos<br />
falando é deficiente visual.<br />
Perdeu a segunda visão, a do<br />
olho esquerdo, há alguns anos, em decorrência<br />
de uma doença degenerativa<br />
na retina. Como já não enxergava<br />
com o outro olho, acabou ficando praticamente<br />
cego. O máximo que consegue<br />
ver é o contorno da fisionomia<br />
de uma pessoa a uma distância média<br />
de um metro, ou identificar se a roupa<br />
alheia tem listras ou não.<br />
Deslocar-se, porém, somente<br />
com a ajuda de uma bengala. A esta<br />
altura, creio que uma boa parte dos<br />
leitores deve ter adivinhado de<br />
quem estou falando. Chileno de<br />
nascimento, brasileiro de coração,<br />
Manolo, como é conhecido entre<br />
os amigos, é um personagem ímpar,<br />
para ficar no jargão acadêmico,<br />
um homem de princípios, valores<br />
e crenças políticas imutáveis.<br />
Define-se como um marxista<br />
reformista, o que não significa, deixa<br />
bem claro, fazer concessão à ideologia<br />
que defendeu a vida inteira.<br />
Antes de tudo, gosta de se apresentar<br />
como um democrata.<br />
O RESGATE DA MEMÓRIA:<br />
OFÍCIO DE UM DEMOCRATA<br />
NASCIDO NO CHILE<br />
No Brasil há pelo menos 30 anos, o historiador e geógrafo fez amigos, militou na UEM, e se especializou em<br />
escrever memoriais de sindicatos, prefeituras e outras instituições<br />
Paulo Pupim<br />
Quando ainda podia caminhar<br />
por conta, Manolo acompanhava o<br />
trabalho do Diretório Central dos<br />
Estudantes, conversava com os acadêmicos,<br />
professores e funcionários<br />
da UEM, participava de campanhas<br />
eleitorais na instituição, e chegou<br />
a integrar a equipe do ex-reitor<br />
Fernando Ponte de Souza, entre<br />
1986 e 1990. Formado em História<br />
e Geografia, Manolo deu aulas na<br />
Universidade Federal do Mato<br />
Grosso e dedicou parte da vida profissional<br />
a elaborar o resgate histórico<br />
de diversas instituições, a maioria<br />
na forma de livros.<br />
Escreveu a memória da Cohapar<br />
de Londrina, a antiga Cooperativa<br />
Habitacional do Paraná, e da<br />
Associação dos Docentes da UEM<br />
(Aduem), além de ter elaborado e<br />
montado o arquivo históricotemático<br />
do DCE da UEM e do Sindicato<br />
dos Empregados em Estabelecimentos<br />
de Saúde de Londrina.<br />
Por gostar muito deste trabalho,<br />
ainda procura oportunidades para<br />
continuar desenvolvendo a atividade,<br />
com foco inclusive nas prefeituras,<br />
porque, afinal, criou a metodologia<br />
aplicada na elaboração dos memoriais.<br />
Metodologia esta baseada<br />
na construção da história oral, consulta<br />
em arquivos de órgãos públicos<br />
abertos (quando necessário), e<br />
consulta em arquivos particulares<br />
abertos de entidades privadas e arquivos<br />
pessoais da comunidade. A<br />
pesquisa engloba arquivos digitais,<br />
revistas, jornais e outras fontes escritas<br />
e iconográficas.<br />
Ao mesmo tempo, Manolo faz<br />
do dia a dia uma constante maratona<br />
para cumprir os compromissos<br />
daquilo que considera importante,<br />
numa prova cabal de que a limitação<br />
física não impôs restrições à militância<br />
dele.<br />
Preside o Instituto Paranaense<br />
de Estudos Geográficos, Econômicos,<br />
Sociais e Políticos (Ipegesp),<br />
uma ONG criada por ele, recebe estudantes<br />
e amigos em casa para conversas<br />
sobre a situação política e<br />
econômica brasileira, vai, com a<br />
ajuda de amigos, às manifestações<br />
públicas, e ainda encontra tempo<br />
para ministrar palestras e cursos.<br />
O conteúdo abordado vai de ensinamentos<br />
sobre direitos humanos,<br />
passando pela história socioeconômica<br />
da América Latina, até<br />
tópicos envolvendo geopolítica e a<br />
formação do Estado brasileiro. Das<br />
conquistas já alcançadas, ele se orgulha<br />
de ter contribuído para aprovar<br />
vários estudantes carentes em<br />
vestibulares. Como? Dando aulas<br />
gratuitas aos jovens, direcionadas<br />
principalmente ao período histórico-político<br />
brasileiro de 1930 aos<br />
dias atuais.<br />
Figura querida em boa parte da<br />
comunidade universitária, daquelas<br />
sobre quem não conhece ao menos<br />
já ouviu falar, Manolo acredita<br />
num País melhor, com mais justiça<br />
social, porém com a providencial<br />
ajuda de um estadista que tenha, para<br />
apresentar ao eleitorado, um projeto<br />
de Nação.■