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Pág. 6 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA! Jornal Comunitário de Maringá | Ano 01 | Edição <strong>004</strong> | Maringá, abril de <strong>2018</strong><br />
QUEM TEM MEDO DO MST?<br />
“Se não fosse o MST, pode ter certeza que teríamos muito mais violência no campo.” (José Damasceno)<br />
J.C. Leonel<br />
LONDRINA • O Movimento<br />
dos Agricultores Sem Terra teve<br />
origem na década de 70 opondo-se<br />
ao modelo de reforma agrária<br />
proposto pelo regime militar que<br />
priorizava a colonização de terras<br />
em regiões remotas da nação,<br />
enquanto agricultores queriam a<br />
desapropriação e redistribuição das<br />
terras improdutivas, como previsto<br />
na Constituição brasileira.<br />
Por que o MST nasceu no Paraná<br />
e por que no Oeste?<br />
No início dos anos 80, o Paraná<br />
acelerava a implantação de um modelo<br />
agrícola baseado na mecanização<br />
da lavoura. O “avanço” se<br />
adaptava a culturas agrícolas que<br />
empregam pouca mão de obra. Soja,<br />
milho e trigo em substituição a<br />
café, arroz, feijão e algodão fez engrossar<br />
a fila dos desempregados<br />
no campo. Outro fator que agravou<br />
a situação no Estado foi a construção<br />
da barragem de Itaipu, que desapropriou<br />
terras produtivas e obrigou<br />
agricultores e trabalhadores a<br />
procurarem novas oportunidades<br />
em outras regiões do Paraná. Obviamente<br />
só encontraram muitos outros<br />
desempregados do campo. Em<br />
1984, veio a oficialidade. Agricultores<br />
de 12 Estados da União participaram<br />
em Cascavel no Paraná, ao<br />
1º encontro dos trabalhadores rurais<br />
sem terra.<br />
Feirão da Resistência e da Reforma<br />
Agrária “É exercício pedagógico<br />
com a sociedade.”<br />
Dia 10 de Março, o barracão do<br />
3241 da Avenida Duque de Caxias<br />
de Londrina, ocupado pela associação<br />
dos artistas de rua, dito MARL,<br />
dividiu espaço pela oitava vez com<br />
o Feirão da Resistência e da Reforma<br />
Agrária. Foi lá que encontramos<br />
José Damasceno, membro da<br />
coordenação estadual do MST no<br />
Paraná, que é categórico sobre o tema:<br />
“Se não fosse a luta desses trabalhadores<br />
durante os 34 anos de<br />
existência do MST, o tema da reforma<br />
agrária já teria saído da pauta<br />
da sociedade brasileira e da agenda<br />
política dos governantes.”<br />
Natureza, função e meta<br />
Sobre a natureza do movimento<br />
Damasceno disse a O <strong>FATO</strong><br />
<strong>MANDACARU</strong>: “ São Homens,<br />
mulheres e crianças que reivindicam,<br />
e lutam pelo direito a cultivar<br />
terras não produtivas ou que não<br />
cumprem suas funções sociais.<br />
Nosso objetivo principal é a reforma<br />
agrária”.<br />
Sobre a função do movimento,<br />
Damasceno divide o tema em três<br />
partes: “O MST em primeiro lugar<br />
cumpre exatamente o papel de pressionar<br />
as autoridades para que não<br />
deixem de pautar a reforma agrária<br />
na agenda política. A segunda função<br />
é fazer a reforma agrária acontecer.<br />
E muito mais do que lutar pelas<br />
desapropriações de terras improdutivas<br />
ou griladas, a função do<br />
MST é gerar empregos, gerar renda<br />
para as famílias“.<br />
O feirão da resistência é para o<br />
membro do MST um exercício pedagógico<br />
que visa aproximar a população<br />
àquilo que o MST produz<br />
de bom, alimentos livres de agrotóxicos.<br />
Verduras, frutas, embutidos,<br />
conservas, tudo orgânico e de excelente<br />
qualidade e faz contraponto<br />
ao agronegócio. “Aqui se trata de<br />
produzir alimento saudável, diz Damasceno,<br />
e não simplesmente produzir<br />
para exportar. Se trata de alimentar<br />
as famílias assentadas, gerar<br />
empregos no campo e produzir<br />
alimentos saudáveis para a sociedade.<br />
Enquanto o agronegócio produz<br />
pensando no equilíbrio da balança<br />
comercial, produz só soja para<br />
servir de ração para rebanhos europeus<br />
e não deixa nada na mesa do<br />
brasileiro, a reforma agrária em curso<br />
com seus assentamentos faz o<br />
contrário; nós levamos o alimento<br />
direto para a mesa do brasileiro e<br />
não envenenamos a terra, as águas<br />
e os cidadãos. Esse é o futuro para o<br />
mundo todo. Produzir alimentos saudáveis<br />
dá certo”.<br />
Se nos Feirões da resistência<br />
de Londrina que acontecem sempre<br />
no segundo sábado de cada<br />
mês, sempre no MARL, é possível<br />
encontrar-se com a qualidade dos<br />
produtos orgânicos do MST, pode<br />
ser que não baste a render ideia da<br />
dimensão do feito a nível nacional.<br />
Informação sobre isso, porém não<br />
falta. A internet está lotada de dados<br />
oficiais que comprovam que a<br />
José Damasceno - Membro da<br />
Coordenação Estadual do MST no Para.<br />
teoria de Damasceno está funcionando.<br />
No ano passado, o MST se<br />
tornou o maior produtor de arroz orgânico<br />
da América Latina. A safra<br />
no Rio Grande do Sul foi de mais<br />
de 27 mil toneladas, produzidas em<br />
22 assentamentos e envolvendo<br />
616 famílias gaúchas. O movimento<br />
já tem também em sua coleção, o<br />
recorde na produção de sementes<br />
não transgênicas.<br />
Quem tem medo do MST?<br />
Mas se tudo isto está dando certo<br />
porque ainda há tanta rejeição ao<br />
MST por parte da sociedade? A resposta<br />
está na ponta da língua do<br />
mesmo José Damasceno: “A mídia<br />
empresarial deste país nos taxa de<br />
baderneiros, e por muito tempo não<br />
tivemos meios e espaço para responder,<br />
mas hoje digo: Se não fosse<br />
o MST pode ter certeza que teríamos<br />
muita violência no campo.<br />
O MST não ocupa terras, o MST<br />
orienta pessoas que já iam ocupar<br />
terras independentemente dele existir<br />
ou não. Nós somos contra a violência<br />
e na verdade somos vítimas<br />
dela. O MST é um movimento que<br />
luta pela vida e bem por isso é pacifico,<br />
ele não agride a vida nem o meio<br />
ambiente”.■