You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Pág. 2 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA! Jornal Comunitário de Maringá | Ano 01 | Edição <strong>004</strong> | Maringá, abril de <strong>2018</strong><br />
O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ:<br />
Dos 8 meses de resistência de 1977 aos dias de hoje, que não estão no texto.<br />
É quase impossível fazer um jornal independente, de oposição autêntica no interior do Brasil, em qualquer época, em<br />
qualquer tempo. Os poucos que ousaram tiveram vida curta. Forças terríveis se levantaram contra eles com unhas e<br />
dentes e não descansaram um minuto até derrotarem os libertários que tiveram a coragem de enfrentá-las. Se na<br />
normalidade democrática já é difícil manter circulando jornais de oposição, avaliem em plena Ditadura Militar<br />
fascista sob a égide do AI-5. Era uma temeridade.<br />
Laércio Souto Maior - Escritor, Historiador e Jornalista<br />
MARINGÁ • O desafio foi aceito<br />
pelo Ramires Moacir Pozza, jovem<br />
empresário que gerenciava as<br />
empresas da família na década de<br />
1970.<br />
Com 17 anos, era dirigente estadual<br />
do Movimento Estudantil Livre<br />
(MEL) e militava como comandante<br />
do setor de inteligência<br />
da “Organização”, movimento<br />
clandestino que formava e estruturava<br />
em Maringá e na região Noroeste<br />
do Estado do Paraná, quadros<br />
revolucionários para apoiar o sonhado<br />
levante popular liderado pelo<br />
governador Leonel Brizola na<br />
sua tentativa de recuperar o poder<br />
para as forças democráticas alijadas<br />
do poder.<br />
EXPEDIENTE<br />
Ano 01 - Edição <strong>004</strong> - Abril de <strong>2018</strong><br />
Rua Itamar Garcia Pereira, 55<br />
Vila Sta. Isabel - Maringá/PR<br />
• Telefone: (44) 3246-1769<br />
• Whatsapp: (44) 99713-0030<br />
• E-mail: ofato_mandacaru@libero.it<br />
• Facebook: O Fato Mandacaru<br />
• Blog: ofatomandacaru.blogspot.com.br<br />
• YouTube: O Fato Mandacaru TV<br />
Ligiane Ciola:<br />
DRT-SP 46266 (Jornalista Responsável)<br />
J. C. Leonel:<br />
DRT- PR 4678<br />
Ricardo Rennó:<br />
Diagramação (ArtWork Com&Mkt)<br />
Impressão: O Diário do Norte do Paraná<br />
Tiragem: 5.000 exemplares<br />
Distribuição: Gratuita<br />
A opinião dos colunistas não representa<br />
necessariamente a posição editorial do Jornal.<br />
Quando a família Pozza comprou<br />
50% das ações tornando-se sócia<br />
majoritária do grande jornal do<br />
Norte do Paraná (o jornalista Franklin<br />
Vieira da Silva e Edson Castilho,<br />
detinham cada um 25% das ações<br />
do “Diário do Norte do Paraná”, portanto<br />
eram sócios minoritários sob o<br />
mando dos Pozzas), o Ramires me<br />
convidou para assumir o comando<br />
como redator-chefe a partir do mês<br />
de janeiro de 1977.<br />
Aceitei sob as seguintes condições:<br />
carta branca em relação aos<br />
donos do jornal (ele, Franklin Vieira<br />
da Silva e Edson Castilho) para<br />
imprimir uma linha de oposição ao<br />
poder a nível municipal, estadual e<br />
federal e liberdade para montar<br />
uma nova equipe composta pelos<br />
jornalistas José Carlos Struett, Edilson<br />
Pereira dos Santos, Manoel<br />
Messias Mendes, Ernesto Luiz Piancó<br />
Morato, Anésio Folleis Filho,<br />
Roberto de Freitas Pardal, Olício<br />
Profeta, Valdir Pinheiro, Luiz Carlos<br />
Rizzo, Claudio Folleiss, Pedro<br />
Chagas Neto e Angelo Rigon. A<br />
partir da minha ascensão ao cargo,<br />
a redação do “Diário do Norte do<br />
Paraná” tornou-se um território livre,<br />
quase um coletivo libertário,<br />
codirigido pelo redator-chefe, repórteres,<br />
diagramadores, fotógrafos<br />
e chargista.<br />
Foram oito meses de luta e resistência<br />
contra tudo de errado que<br />
acontecia na cidade, no estado e no<br />
país. Nada nos atemorizava. Com a<br />
lança sempre empunhada, investíamos<br />
contra o regime militar; contra<br />
os empresários que poluíam a cidade<br />
com seus frigoríficos e fábricas<br />
de ossos que infestavam os ares<br />
de Maringá com uma fedentina horrível;<br />
contra os embusteiros da religião<br />
(TFP); contra órgãos públicos<br />
(BNH) que não respeitavam os contratos<br />
com os proprietários; contra<br />
os maus vereadores da nossa Câmara<br />
Legislativa; contra os erros e maus<br />
feitos da Prefeitura; bicheiros;<br />
policiais torturadores, etc. Raro era<br />
o dia em que o jornal não era visitado<br />
por algum poderoso contrariado<br />
em seus interesses pela linha imprimida<br />
pelo “Diário do Norte do<br />
Paraná”: independente, democrática,<br />
oposicionista e libertária.<br />
Enquanto durou o período ora<br />
descrito neste artigo, as denúncias<br />
e críticas radicais foram crescendo<br />
numa cadência nunca vista na imprensa<br />
da Cidade Canção até o momento<br />
em que o governador Jaime<br />
Canet Junior em comum acordo<br />
com o prefeito João Paulino Vieira<br />
Filho deram um basta definitivo ao<br />
radicalismo oposicionista praticado<br />
pelos jovens mosqueteiros apelidados<br />
de “vermelhos” que formavam<br />
a equipe indômita de jornalistas<br />
que infernizava a vida dos empresários<br />
e políticos fascistas maringaenses,<br />
forçando o patriarca da<br />
família Pozza, Provino Pozza, a<br />
vender sua parte (majoritária) ao<br />
jornalista Frank Silva.<br />
Com o passar do tempo, analisando<br />
sem paixão a experiência do<br />
jornalismo libertário praticado naquele<br />
período perigoso em que o<br />
Brasil vivia sob a égide da Ditadura<br />
Militar, pode-se chegar ou não, a seguinte<br />
conclusão: valeu a pena tanta<br />
coragem e ousadia para no final jogar<br />
nos braços dos conservadores e<br />
da direita da cidade de Maringá um<br />
dos mais importantes jornal da imprensa<br />
do Estado do Paraná?■