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Fides 22 N2

Um publicação do Centro Presbiteriano de Pós-graduação Andrew Jumper.

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DARIO DE ARAUJO CARDOSO, O PAPEL DA MÚSICA NA REFORMA E A FORMAÇÃO...<br />

1.2 Divergências entre os reformadores sobre a presença<br />

e o papel da música na liturgia<br />

No entanto, ainda que os protestantes concordassem que deveria haver<br />

uma absoluta conexão entre a fé e a liturgia da Reforma, havia reformadores que<br />

tinham postura bastante divergente da de Lutero. Segundo White, em 1529, o<br />

encontro de líderes protestantes em Marburg demonstrou que eles não podiam<br />

concordar em todos os assuntos de culto e que seu desejo de total acordo não<br />

era possível, ainda que fosse possível ter unanimidade em um ou outro item.<br />

Eles logo descobriram que, embora todos viessem de uma única tradição cristã,<br />

tinham dois espíritos diferentes – que Lutero apontou com cândida observação,<br />

provavelmente a Martin Bucer: “Você tem um espírito diferente do meu”. Lutero<br />

representava a velho ensino e piedade. Zuínglio, Bucer, Oecolampadius<br />

representavam o novo ensino e o novo tipo de piedade. 18<br />

Entre essas divergências estava o uso da música na liturgia. Zuínglio,<br />

por exemplo, demonstrou “profunda suspeita com o que chamava de ‘sedutivo’<br />

poder da música, banindo da Igreja todo tipo de música”. 19 Martin Bucer<br />

(1491-1551), em Estrasburgo, seguiu padrão comedido, mas não tão radical.<br />

Descrevendo o culto, ele relata: “Após a remissão de pecados para aqueles<br />

que creem, toda a congregação canta pequenos salmos ou hinos de louvor...”. 20<br />

Desde 1525, os salmos eram cantados pelos exilados alemães e franceses em<br />

Estrasburgo. 21 Esse padrão proposto por Bucer foi de grande importância para<br />

o ensino e a prática litúrgica proposta por Calvino.<br />

Guilherme Farel (1489-1565), pregador responsável pela permanência de<br />

Calvino em Genebra, também manifestou simpatia pelo canto congregacional,<br />

particularmente dos salmos. Na controvérsia no Convento de Rive (1535), ele<br />

declarou: “Não é mau que todos os fiéis, ao se reunirem, cantem juntos, com<br />

o coração e também com a boca, salmos, em sua língua, que todos entendem,<br />

louvores a Deus”. <strong>22</strong><br />

Discordando de Zuínglio, Calvino, além dos perigos e seduções, via na<br />

música um poderoso instrumento de auxílio à edificação e ao zelo espiritual.<br />

No Prefácio ao Saltério de Genebra ele escreveu: “E na verdade nós sabe-<br />

18 WHITE, J. F. Protestant Worship: Traditions in Transition. Louisville: Westminster/John Knox,<br />

1989, p. 58.<br />

19 SILVA, Música na liturgia de Calvino, p. 86.<br />

20 Apud BARD, T. (Org.). Liturgies of the Western Church. Philadelphia: Fortress, 1980, p. 87.<br />

21 SILVA, Música na liturgia de Calvino, p. 91.<br />

<strong>22</strong> AUGUSTIN, C.; VAN STAM, F. P. (Orgs.). Ioannis Calvini. Epistolae, vol. 1 (1530–set. 1538).<br />

Genebra: Librairie Droz, 2005, p. 158; D’AUBIGNÉ, J. H. M. History of the reformation in Europe in<br />

the time of Calvin. Vol. 5, p. 310. Londres: Longmans, Green, and Co., 1869, p. 310ss.<br />

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