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Revista Curinga Edição 21

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Opinião<br />

Texto: Laís Stefani<br />

Arte: Deborah Alves<br />

Estava prestes a entrar no ônibus. Tinha<br />

ido para aquela cidade passar férias. Era minha<br />

primeira viagem sozinha e tinha sido a melhor<br />

que eu poderia ter feito. Não só por ele, mas por<br />

ter conhecido mais sobre a história do Brasil e<br />

também pelo tanto que todo mundo era acolhedor.<br />

Ele, que fez minha viagem ser tão mais especial,<br />

tinha nascido e crescido naquela cidade de<br />

interior, mas seu sonho era voar por todo o mundo<br />

e conhecer novas culturas.<br />

Ele estava me ajudando a carregar as malas, e<br />

depois de tê-las colocado no bagageiro, senti que<br />

meus olhos estavam marejados. Olhando-me fundo,<br />

beijou-me nos lábios e disse: “Sentirei saudades.” O<br />

que antes era apenas o começo de um choro, agora<br />

as lágrimas escorriam por toda a face.<br />

Apesar de todo o sentimento de perda e<br />

abandono, eu chorava mesmo por aquilo que eu<br />

havia escutado. Duas semanas antes daquele dia,<br />

conversamos sobre a tal da saudade. E confessandome,<br />

disse que nunca havia sentindo saudade de<br />

ninguém e que jamais havia falado essa palavra. O<br />

que ele sentia mesmo era falta. E entre sentir falta e<br />

sentir saudade há uma enorme distância.<br />

Não nos conhecíamos há muito tempo, e isso só<br />

prova que saudade não é sobre se conhecer ou não<br />

se ver por muito tempo. Sentada naquela poltrona,<br />

indo para um lugar tão distante dali, fiquei pensando<br />

no quanto a saudade poderia representar aquele um<br />

mês de sentimentos intensos.<br />

A dificuldade de se traduzir a palavra saudade,<br />

é a mesma em explicar o que vivemos naquele amor<br />

de férias. São sentimentos únicos, assim como<br />

essa palavra, que só existe para nós brasileiros.<br />

Desde que os portugueses desceram de suas<br />

caravelas aqui, deixando para trás família, amores,<br />

amigos e também a pátria, aquele sentimento<br />

angustiante, que nos faz lembrar do que vivemos<br />

de melhor, é chamado saudade.<br />

Enquanto o ônibus foi cada vez mais seguindo<br />

a sinuosa estrada, uma saudadezinha logo cresceu<br />

dentro de mim. É como está no dicionário:<br />

“Lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma<br />

coisa de que alguém se vê privado.” Quanto mais<br />

nos distanciamos fisicamente, mais intensa é a sua<br />

presença, tornando tudo que vivemos nosso.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>21</strong> 42

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