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Revista Curinga Edição 21

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Raquel acredita que o slam é um espaço de<br />

expressão para a juventude. “A gente parte do<br />

princípio de uma produção que não está alinhada<br />

com uma corrente clássica, ela vem no<br />

sentido da literatura marginal”.<br />

Guilherme Pimenta, 20, estudante de prévestibular,<br />

dividiu com Samila o prêmio. Ele<br />

conta que o contato com as palavras se deu<br />

desde os tempos de escola, lá foi encorajado<br />

a seguir pelo mundo da poesia. “Acho que a<br />

literatura é um modo de treinar a saída da realidade.<br />

As pessoas ficam muito presas ao mundo<br />

que elas vivem e só conseguem reproduzir o<br />

que o sistema impõe. A literatura liberta”.<br />

Para Luiz Fernando Campos, mestre em Ciências<br />

da Informação pela UFMG, ações como o<br />

slam ressignificam o espaço urbano. Em sua pesquisa<br />

sobre o Duelo de MC’s realizado no Viaduto<br />

Santa Tereza em Belo Horizonte, Campos conclui<br />

que, “ao produzir discursos dissonantes àqueles<br />

já instituídos, o Duelo de MCs reafirma o papel<br />

central que a prática política em espaços não usuais<br />

tem na contemporaneidade e contribui para a<br />

ampliação do espaço público e o deslocamento das<br />

relações de poder”.<br />

está aprendendo pelo rap. Não é o professor sentado<br />

na sua frente falando. É uma frase, uma ideia que já<br />

toca você e te faz pensar na hora”.<br />

No documentário “Palavra (En)cantada” (2008),<br />

dirigido por Helena Solberg, há uma reflexão sobre a<br />

relação entre música e poesia no Brasil. Em depoimento<br />

ao filme, José Miguel Wisnik, livre-docente pela<br />

USP, ressalta a importância que a canção popular, incluindo<br />

o RAP, conquistou na nossa sociedade. ”Criouse<br />

uma situação que não existe praticamente em país<br />

nenhum. Uma canção popular fortíssima que ganhou<br />

a capacidade de cantar para auditórios imensos e levar<br />

para esses auditórios poesias de densa qualidade”.<br />

Sonoridades urbanas<br />

O “Slam Invasor” não é a única movimentação<br />

cultural de rua em Mariana. A “Batalha das<br />

Gerais” é um duelo de RAP que ocorre quinzenalmente<br />

às sextas-feiras na Praça Gomes Freire.<br />

Pedro Mól, <strong>21</strong>, organizador e rapper, tem colhido<br />

bons frutos depois de dois anos da criação<br />

do movimento. “Tem se consolidado, aberto espaço<br />

pra geral mostrar seu trampo. Mas também<br />

vejo um pouco do descaso do poder público que<br />

não procura a gente pra saber o que está acontecendo<br />

com a juventude da cidade”, afirma.<br />

O motor do RAP (abreviação do inglês rythm<br />

and poetry) foi o movimento hip-hop que nasceu<br />

como expressão cultural da juventude afro-americana<br />

na década de 1970. No Brasil, o RAP ganhou<br />

força no fim da década de 1980. O grupo<br />

paulista precursor, Racionais MC’s, eternizou<br />

em seus versos o orgulho negro e narrou a crua<br />

realidade dos jovens de periferia daquela época.<br />

TSIC, <strong>21</strong>, rapper marianense, começou a rimar<br />

dentro da “Batalha das Gerais”. Atualmente dedida-se<br />

a seu trabalho solo. “Com o tempo eu vi que<br />

batalha não era meu forte. Essa parada de agredir<br />

o outro verbalmente sem nem conhecer. Sempre<br />

tentava levar pra um lado mais educativo, do<br />

que só atacar e atacar”.<br />

O artista lançou no início do ano sua primeira<br />

mixtape intitulada 1995, onde discute questões<br />

relacionadas ao modo como o ser humano se enxerga<br />

na sociedade e lida com suas pressões psicológicas.<br />

TSIC vê o RAP como um meio importante<br />

de aquisição de conhecimento. “Muita gente<br />

Natural de Mariana, o rapper<br />

TSIC relata nas letras de sua<br />

mixtape, 1995, contos de sua<br />

vida, suas visões e percepções.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>21</strong> 11

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