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AEDES AEGYPTI, VETOR DE EPIDEMIAS ANUNCIADAS<br />
só se consegue esse profissional<br />
se você demandar o jornalista o<br />
tempo todo para trabalhar com isso,<br />
efetivamente. Nos jornais, hoje, se<br />
formos ver a média de dedicação de<br />
um repórter a determinadas áreas,<br />
perceberemos essa dificuldade. E aí<br />
vale a pena, do ponto de vista acadêmico,<br />
uma pesquisa, sobre qual<br />
a possibilidade, atualmente, de um<br />
jornal impresso ou de uma grande<br />
mídia na internet ter um repórter<br />
específico para determinado tema;<br />
quanto tempo ele passa acompanhando<br />
esse tema; quantas pessoas<br />
o acompanharam; quais as fontes<br />
efetivas que ele teve na cartilha<br />
dele, ao longo do tempo.<br />
De certa forma, isso foi posto na<br />
pesquisa apresentada, mas, temos<br />
que tratar disso. Porque, na verdade,<br />
não temos mais hoje, efetivamente,<br />
um repórter específico<br />
que se dedique à área de segurança<br />
pública, à área de saúde, e quando<br />
falo isso, falo tentando jogar luz<br />
sobre essa pesquisa apresentada<br />
aqui sobre os anos 80 – qual era<br />
a pergunta do repórter e qual a<br />
pergunta hoje. Estamos tendo um<br />
grau de “desconectação”, de saída<br />
do foco em relação a determinadas<br />
áreas que, na década de 80, como as<br />
redações eram maiores, e na década<br />
de 90, principalmente, conseguíamos<br />
ter repórteres dedicados a<br />
aquilo por mais tempo. E isso faz<br />
toda a diferença.<br />
Evidentemente, vocês sabem,<br />
como acadêmicos ou como fontes,<br />
que é muito diferente tratar com<br />
um repórter específico, que sabe<br />
o que está falando ou o que irá<br />
perguntar e com outro repórter<br />
que acabou de chegar na pauta e<br />
a pauta será entregue a ele, e ele<br />
sairá atrás da informação.<br />
E isso é uma cadeia que, no final,<br />
diz respeito à própria produção da<br />
notícia, e de como essa notícia será<br />
checada e colocada. E vamos cair<br />
em determinados cacoetes, de como<br />
as notícias serão dadas, e acabamos<br />
indo para o enfrentamento. “Ah, os<br />
jornais colaboraram, foram muito<br />
legais e prestaram serviços sobre o<br />
número de postos de vacinação, qual<br />
o endereço do posto”. Esse não é o<br />
papel do repórter, felizmente. Alguns<br />
repórteres e alguns assessores<br />
acham que o papel é esse, mas não é<br />
esse, e, aliás, está longe de ser.<br />
Acho que tem um problema aqui<br />
maior que é o que se acentua. A<br />
gente tem a crise econômica, a gente<br />
tem a crise de negócio, e, agora,<br />
a gente tem uma outra crise que é<br />
muito mais forte: a crise política. E<br />
sabe qual é o problema? É a que a<br />
crise política dá clique, efetivamente.<br />
Se estamos falando que temos<br />
dificuldade de cobrir áreas específicas,<br />
no meu caso, com o olho mais<br />
dedicado em relação à segurança<br />
pública, mas podemos ampliar para<br />
saúde, educação, com a crise política<br />
isso virou um problema ainda maior.<br />
Acho que desde a morte do Eduardo<br />
Campos os jornais se dedicaram<br />
efetivamente, exaustivamente, ao<br />
tema de política. Logo depois veio<br />
a eleição, veio “Dilma não pode<br />
continuar como presidente, vamos<br />
derrubar Dilma”, e etc.<br />
Para vocês terem uma ideia, tenho<br />
um amigo, o jornalista Marcelo<br />
Soares, que trabalha com jornalismo<br />
de dados, e é algo que quem não<br />
percebeu ainda, tem que perceber: o<br />
jornalismo de dados muda a forma<br />
como as pessoas trabalham. Eu<br />
trabalho pelo furo, sou um jornalista<br />
antigo, que busca o furo jornalístico.<br />
O jornalismo de dados muda com-<br />
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