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As Relações da Saúde Públicacom a Imprensa<br />
72<br />
co. Ele produz, todo dia, toda semana,<br />
uma análise sobre o movimento<br />
político, e são análises perfeitas. E<br />
ele não compra uma única informação.<br />
Ele podia comprar informação,<br />
mas não. Todas as informações dele<br />
são de graça, e ele evita comprar informação.<br />
É o jeito de ele produzir.<br />
A análise dele é basicamente sobre<br />
informações produzidas por alguém<br />
que está gastando dinheiro com<br />
aquilo. Ele precisa pagar por aquilo?<br />
Não. Mais uma vez, não quero<br />
chegar nesse debate. Minha conversa<br />
é mais expor essa dificuldade hoje<br />
da mídia que falar sobre formas de<br />
financiamento em relação a isso.<br />
Mas, se em determinado momento,<br />
essas informações que ele tem hoje<br />
e são produzidas não chegassem até<br />
ele, a dificuldade dele de fazer essa<br />
análise mais efetiva sobre comunicação<br />
seria muito maior.<br />
Não queria entrar nessa questão da<br />
informação pública, mas acho que<br />
também é importante. Em determinado<br />
momento é a solução que a<br />
gente pode ter, efetivamente, apesar<br />
de os nossos casos de informação<br />
pública e de como a gente trabalha<br />
os nossos veículos de informação<br />
pública serem muito complicados do<br />
ponto de vista de gestão jornalística.<br />
Entramos em uma outra situação:<br />
se não conseguimos ter informação<br />
de qualidade e se não conseguimos<br />
estabelecer uma relação próxima<br />
da mídia com essa informação. Já<br />
foi falado aqui, sobre como a pós-<br />
-verdade e a história das bolhas se<br />
estabelecem dentro de determinados<br />
setores, e que a gente não consegue,<br />
de fato, ampliar a discussão.<br />
Pós-verdade nada mais é que uma<br />
mentira bem contata, uma velha e<br />
boa mentira bem contada. Acho que<br />
se pensarmos nas bolhas também em<br />
relação à circulação da informação,<br />
que elas não se ampliam, estamos<br />
pensando na caverna de Platão, onde<br />
se tem um grupo que olha as sombras<br />
pela fogueira, até que um dia sai um<br />
e diz: olha, temos que ampliar mais<br />
isso aqui.<br />
Nós estamos voltando a discutir temas<br />
academicamente. Os acadêmicos são<br />
espertos nisso, no sentido honesto da<br />
palavra, de criar determinados conceitos,<br />
mas estamos voltando a conceitos<br />
completamente antigos. O jornalista,<br />
essa pessoa que vai lá e vai dizer:<br />
“olha, vocês estão pensando em algo<br />
em uma bolha, vocês têm que ampliar<br />
esse debate”. Não, os jornalistas<br />
erram, e muito. Os jornalistas também<br />
vivem em bolhas.<br />
Se pensarmos na eleição do Donald<br />
Trump, que em poucos momentos<br />
a imprensa americana conseguiu<br />
perceber o que ia acontecer ali, estamos<br />
falando de uma bolha também<br />
em relação à apuração. No processo<br />
do Brexit, a mesma coisa, ninguém<br />
imaginou que aquilo ali pudesse vir a<br />
acontecer, porque estavam pensando<br />
em bolha, estavam muito ali na borda,<br />
não estavam conseguindo perceber a<br />
dificuldade de aprofundamento. Vou<br />
citar outra situação, o desarmamento<br />
da Colômbia. Todos os meus amigos<br />
colombianos diziam “é claro, vamos<br />
ganhar, está tudo certo”. Certo nada, a<br />
população não está querendo aquilo e<br />
ninguém conseguiu prever. Acho que<br />
a mídia também erra nesse aspecto, e<br />
erra muito.<br />
Com essa situação dos jornais, temos<br />
que pensar o seguinte, e não é passar<br />
a mão na cabeça dos repórteres e da<br />
imprensa: é conseguir perceber um<br />
pouco essa dificuldade. Hoje, formar<br />
um profissional específico, setorista<br />
como a gente chama no jargão jornalístico<br />
para cobrir determinada área<br />
é, mais uma vez, algo muito caro, e