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AEDES AEGYPTI, VETOR DE EPIDEMIAS ANUNCIADAS<br />
sentindo do comprometimento e da<br />
atenção devida de um repórter nesse<br />
aspecto. Temos dois grandes problemas<br />
na imprensa, duas grandes<br />
crises: uma crise de negócios e uma<br />
crise de mercado. Essas duas crises,<br />
combinadas, trazem problemas graves<br />
para a imprensa, muito além da<br />
questão da crise econômica.<br />
As equipes dos jornais são menores<br />
e a verba para investigações, para<br />
tempo, para viagens e, inclusive para<br />
demandar repórter, são muito menores.<br />
A minha grande dificuldade<br />
hoje, por exemplo, é receber convite<br />
de determinadas ONGs e conseguir<br />
mandar um repórter. Vou explicar<br />
um pouco com alguns números<br />
que eu trouxe em relação aos jornais<br />
impressos, em relação a essas<br />
operações [o convidado refere-se<br />
às operações realizadas pela Polícia<br />
Federal] e a denúncia do presidente<br />
[Michel Temer].<br />
Temos um problema que é importante<br />
que a gente discuta efetivamente.<br />
Informação não é uma coisa barata.<br />
Produzir informação de qualidade<br />
não é algo fácil. No mundo e no<br />
Brasil as pessoas sempre acharam<br />
que produzir informação é um custo<br />
barato. Você pode ter um blog e pensar:<br />
“mas eu consigo discutir bem<br />
isso”. Não. Eu acredito piamente - e<br />
é isso o que me faz acordar todos<br />
os dias e ir para a redação do jornal<br />
- que se consegue produzir informação<br />
de qualidade dentro da redação<br />
do jornal, por conta de hierarquia, de<br />
informação, de checagem, de tentar<br />
minimizar os erros.<br />
A gente diz que a redação é a “oficina<br />
do diabo”. Todo mundo que está<br />
ali, está dentro de uma hierarquia,<br />
quase militarizada. Por mais que<br />
você entre em uma redação e veja<br />
uma “zona”, por trás há uma hierarquia<br />
extrema. Sair uma informação<br />
dali da redação que não esteja checada<br />
e que não tenha o acompanhamento<br />
de dois editores, pelo menos,<br />
é algo muito difícil. Mas, tem erros?<br />
Sim, vários erros.<br />
Por exemplo, quando a gente pensa<br />
que a informação era de graça, e<br />
estou falando do Jornal Nacional. Se<br />
a gente for pensar que o indivíduo<br />
da década de 60 e 70 chegava em<br />
casa, ligava a televisão e precisava<br />
ter um aparelho de televisão ali para<br />
ter uma informação, por mais que a<br />
gente possa questionar a ideologia e<br />
determinados aspectos de cobertura<br />
da Globo – mas não é esse o debate<br />
que se quer fazer aqui –, a pessoa se<br />
mantinha mais ou menos informada.<br />
Se ela queria um pouco mais, ia<br />
à banca de revista e comprava um<br />
jornal, que também era subsidiado<br />
pelos anúncios.<br />
Mas sempre houve, na cabeça das<br />
pessoas, mesmo antes da internet,<br />
uma impressão de que informação é<br />
de graça, que a informação se produz<br />
muito facilmente. Com a internet<br />
isso piorou drasticamente, porque os<br />
jornais não souberam como trabalhar<br />
isso e acabaram liberando muita<br />
informação. Até hoje, na verdade, as<br />
pessoas continuam com essa impressão.<br />
Não estou querendo dizer que<br />
as pessoas têm que pagar por informação.<br />
Seja de que forma vamos<br />
estabelecer, de fato, no país, uma<br />
informação de verdade e efetiva<br />
para a população, nós temos que<br />
pensar nisso, e temos que pensar<br />
que não é fácil e não é de graça<br />
produzir informação.<br />
Vou dar um exemplo: tem um rapaz<br />
que pedala comigo todos os dias, que<br />
é economista. Tem 59 anos, é um<br />
pesquisador qualificado, que está no<br />
topo da hierarquia do serviço públi-<br />
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