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As Relações da Saúde Públicacom a Imprensa<br />
56<br />
Comunicar riscos, da melhor forma<br />
possível, de modo objetivo e sem provocar<br />
alarme era a nossa meta. No dia<br />
25 de novembro, em Brasília, foram<br />
reunidos em um seminário representantes<br />
das assessorias de comunicação<br />
de todas as Secretarias de Saúde das<br />
Unidades da Federação para conhecer<br />
o que poderia ser o caso número um<br />
de chikungunya no Brasil, a partir do<br />
relato da mídia e de um morador do<br />
Amapá, e o caso número um de zika<br />
na narrativa da mídia do Rio Grande<br />
do Norte.<br />
A oficina realizada em Brasília permitiu<br />
o levantamento de hipóteses, a<br />
análise do comportamento da mídia<br />
regional, que já divulgava vários<br />
casos de chikungunya e de zika no<br />
Brasil, e da mídia nacional, que quase<br />
nada falava do assunto, com exceção<br />
do jornal O Estado de S. Paulo.<br />
Cinthya Leite, repórter do Jornal do<br />
Commercio de Pernambuco, publicava<br />
de forma solitária matérias e entrevistas<br />
sobre casos de microcefalia<br />
em Recife, não identificava a causa,<br />
mas levantava suposições. Cinthya foi<br />
pioneira no trato do tema.<br />
No dia 12 de novembro, diante do<br />
crescente número de casos de microcefalia,<br />
o Ministério da Saúde<br />
declarou situação de Emergência em<br />
Saúde Pública. Um dia antes, o jornal<br />
O Estado de S. Paulo enviara à Recife<br />
sua setorista de saúde, Lígia Formenti,<br />
para cobrir essa pauta. Ela foi a<br />
primeira jornalista de mídia nacional<br />
a publicar reportagens especulando<br />
sobre a possível relação entre zika e<br />
microcefalia, dando nome a bebês e<br />
mães que conhecíamos apenas como<br />
estatísticas.<br />
Com Cinthya e Lígia conhecemos a<br />
história de Géssica, mãe de João Guilherme,<br />
que morreu, e de Conceição,<br />
mãe de Catarina, e de Alessandra,<br />
mãe de Samuel. Mulheres que<br />
contraíram zika durante a gestação e<br />
tiveram filhos com microcefalia ou<br />
malformações do sistema nervoso<br />
central.<br />
Logo depois, em 28 de novembro, o<br />
Instituto Evandro Chagas (IEC), órgão<br />
do Ministério da Saúde, estabeleceria<br />
a relação causal entre o vírus<br />
zika e os casos de microcefalia ao<br />
examinar tecidos humanos enviados<br />
para análise. As provas eram poucas,<br />
mas contavam com o apoio do<br />
resultado de exame realizado pela<br />
Fiocruz que confirmou a presença<br />
do vírus zika no líquido amniótico<br />
em gestantes da Paraíba. Tínhamos<br />
fortes elementos para estabelecer<br />
alguma relação entre o vírus e a<br />
microcefalia e razões éticas do compromisso<br />
com a informação para dar<br />
visibilidade a este fato, realizando a<br />
comunicação de risco para mitigar<br />
danos.<br />
O que deveria ser comunicado?<br />
Como mitigar o dano? O que dizer<br />
para as mulheres e a população em<br />
geral? Começava aí a busca pela<br />
melhor mensagem e a intensificação<br />
do diálogo com os gestores para que<br />
a estratégia fosse implementada. O<br />
argumento era simples: seremos<br />
demandados e precisamos estar<br />
preparados, se não tivermos uma<br />
mensagem para a mídia e para a<br />
sociedade, a imprensa vai procurar<br />
outras fontes de informação e nós<br />
perderemos espaço e oportunidade.<br />
As manifestações para a imprensa<br />
começaram com notas formais,<br />
mas no dia primeiro de dezembro<br />
foi organizada a primeira entrevista<br />
coletiva de imprensa, e depois dessa<br />
muitas outras vieram, com a defini-