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As Relações da Saúde Públicacom a Imprensa<br />
Mas há uma questão macro que deveríamos<br />
nos preocupar e buscar, juntos,<br />
novas saídas: a cobertura do Aedes<br />
aegypti fora das grandes emergências<br />
públicas. Esse assunto praticamente<br />
sai do radar da imprensa nesses<br />
períodos de “calmaria”, provocados<br />
mais pela sazonalidade do vírus do<br />
que por ações efetivas de prevenção e<br />
de combate.<br />
Essas medidas preventivas, que deveriam<br />
ser contínuas, não costumam<br />
render grandes matérias. As razões<br />
que faz o país perder a luta contra o<br />
mosquito há quase três décadas, como<br />
o crescimento desordenado das cidades<br />
e a falta de saneamento básico,<br />
passam ao largo de grande parte do<br />
conteúdo jornalístico sobre o assunto.<br />
Também se fala muito pouco da insuficiência<br />
das atuais estratégias de<br />
combate, como fumacês e o trabalho<br />
casa a casa. Em muitos lugares do<br />
país, os focos do Aedes não estão<br />
em vasinhos de planta dentro de<br />
casa, mas, sim, na água armazenada<br />
no quintal, no lixo acumulado em<br />
terrenos baldios. E o poder público<br />
e a população são pouco cobrados<br />
sobre isso.<br />
No final de 2015, por exemplo,<br />
fizemos uma matéria sobre a falta de<br />
carros para o combate da dengue na<br />
zona norte de São Paulo, área que na<br />
época apresentava maior infestação<br />
do mosquito Aedes de toda a capital<br />
paulista. Houve atraso na licitação e<br />
simplesmente não havia carros para<br />
os agentes de controle de endemias<br />
irem até os bairros e fazerem o trabalho<br />
casa a casa.<br />
Falta ainda mais monitoramento<br />
das informações sobre o mosquito e<br />
acesso da população a esses dados,<br />
principalmente, sobre os índices<br />
mais atualizados de infestação. Isso<br />
poderia otimizar as ações contra a<br />
proliferação do Aedes.<br />
Também precisamos de mais discussão<br />
sobre as alternativas biotecnológicas<br />
que estão sendo testadas, como<br />
o projeto Wolbachia (que consiste<br />
em inocular no Aedes uma bactéria<br />
que o torna incapaz de transmitir os<br />
vírus) ou o mosquito transgênico<br />
que esteriliza a fêmea.<br />
Em geral, as reportagens tendem a<br />
ser pouco críticas sobre as novas<br />
tecnologias. É preciso ser um pouco<br />
“advogado do diabo”, buscar dados<br />
e profissionais qualificados (e, se<br />
possível, sem conflitos de interesses)<br />
que nos respondam se elas são<br />
realmente efetivas e seguras, se não<br />
trarão impactos negativos à saúde<br />
e ao meio ambiente. Ou seja, esse<br />
novo Aedes é tão do bem assim?<br />
É claro que ainda não temos muitas<br />
dessas respostas, a ciência tem outro<br />
tempo. Mas até por isso é importante<br />
lembrar do benefício da dúvida e<br />
que o ceticismo profissional deveria<br />
reger toda a atividade jornalística.<br />
Contudo, também é dever do jornalismo<br />
fugir da militância cega. As<br />
críticas devem, sempre, ser embasadas<br />
por evidências, por dados<br />
passíveis de comprovação.<br />
O mesmo vale para os testes<br />
sorológicos e as vacinas que vêm<br />
por aí. No caso dos testes para o<br />
vírus da zika, vimos vários serem<br />
lançados e muito anúncio publicitário<br />
sendo vendido como notícia<br />
jornalística. Poucas reportagens<br />
abordaram a necessidade de avaliar<br />
esses testes pela sensibilidade,<br />
especificidade e valor preditivo.<br />
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