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AEDES AEGYPTI, VETOR DE EPIDEMIAS ANUNCIADAS<br />
origens do vírus da zika, contamos a<br />
história das vítimas afetadas por essa<br />
e outras doenças transmitidas pelo<br />
Aedes e mostramos os esforços para<br />
combatê-lo. A cobertura envolveu<br />
diretamente seis repórteres, além de<br />
fotógrafos e pessoal da arte e vídeo.<br />
Durante a epidemia de zika e chikungunya,<br />
fiz inúmeras reportagens<br />
e colunas, com viagens para<br />
Pernambuco, Bahia e Paraíba. Vou<br />
relatar aqui um pouco das dificuldades<br />
que encontrei e dos desafios que<br />
ainda enfrentamos.<br />
Em razão de o epicentro da epidemia<br />
ter sido o Nordeste, a distância<br />
e a dificuldade de acesso às vítimas<br />
dificultaram um pouco a apuração.<br />
No início, não sabíamos qual era a<br />
real dimensão do que estava acontecendo<br />
e também faltou transparência<br />
do Ministério da Saúde na<br />
divulgação de informações.<br />
Não tínhamos, por exemplo, o número<br />
de casos de zika e tampouco<br />
o de microcefalia por municípios<br />
(apenas foram divulgadas as ocorrências<br />
por Estados). Sem isso, não<br />
conseguimos fazer uma investigação<br />
in loco da situação.<br />
Uma solução encontrada foi recorrer<br />
aos dados dos Estados. Houve distorções<br />
porque, no início, os critérios<br />
para notificação dos casos de microcefalia<br />
eram diferentes em cada<br />
localidade, só depois ocorreu uma<br />
padronização dos critérios.<br />
Também havia uma subnotificação<br />
histórica de outros casos de microcefalia<br />
não associados ao vírus da zika,<br />
fato que gerou uma certa confusão<br />
e uma desconfiança até por parte da<br />
comunidade científica.<br />
Um outro momento delicado foi a<br />
abordagem da questão do aborto nas<br />
situações de microcefalia. Fizemos<br />
reportagens mostrando que mulheres<br />
com maior poder aquisitivo que<br />
tinham contraído o vírus da zika<br />
estavam interrompendo a gravidez<br />
antes mesmo de saber se o bebê tinha<br />
ou não malformação. E também<br />
expusemos a situação miserável vivida<br />
por muitas mães de bebês com a<br />
síndrome que tinham que arcar, muitas<br />
vezes sozinhas, com o ônus da<br />
doença e enfrentar o descaso diário<br />
de governos das três esferas.<br />
Lidamos ainda com a onda de boatos<br />
relacionando a ocorrência da microcefalia<br />
a vacinas vencidas e ao uso<br />
de agrotóxico, por exemplo. Várias<br />
reportagens foram feitas desmistificando<br />
essas falácias.<br />
Comentários desastrosos, como do<br />
então ministro da Saúde, Marcelo<br />
Castro, que afirmou que torcia para<br />
que as mulheres pegassem zika antes<br />
da gravidez e teve que se desculpar<br />
depois, ou do atual ministro Ricardo<br />
Barros, que disse que o mosquito<br />
Aedes aegypti é “indisciplinado”<br />
também nada contribuíram para uma<br />
cobertura mais qualificada.<br />
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