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AEDES AEGYPTI, VETOR DE EPIDEMIAS ANUNCIADAS<br />
A porcentagem de pessoas que confiam sempre ou confiam muitas vezes nos<br />
jornais, por exemplo, chega a 59%. É uma crise dramática de credibilidade.<br />
Isso é um fenômeno global, assim como hoje é o zika, e os dados mostram<br />
que o nível de descrença no Brasil hoje está em torno de 48%, muito próximo<br />
do que existe nos Estados Unidos e na Itália, que são também, sociedades<br />
muito polarizadas. E ainda temos a situação de queda contínua na circulação<br />
dos jornais escritos. A Folha de São Paulo, maior jornal do País, com menos<br />
14% de tiragem. Em 2007, teve uma pequena subida na tiragem, mas é uma<br />
questão de queda contínua de receita e queda contínua de espaço. A saúde<br />
pública ainda tem que concorrer pela atenção dos jornalistas e com menos<br />
espaço, tem-se menor potencial de publicação e dispersão desse conteúdo. É<br />
o que está acontecendo dentro das redações.<br />
O pesquisador Sérgio Espanholo mostra um esvaziamento contínuo das redações.<br />
O meio impresso é o mais atingido, 733 demissões só de jornalistas, é<br />
uma enormidade. Estima-se que era alguma coisa como 5 e 6 mil, as principais<br />
redações. Observamos também a troca de repórteres e editores sênior<br />
por jovens, gente com muito ímpeto, mas, com muito pouco saber, muita<br />
ansiedade, uma grande tendência a ter um belíssimo viés de confirmação,<br />
e que não terão o que eu tive na minha geração. Eu passei pelas principais<br />
Redações como Folha, Estado, e eu tinha gente muito boa de cabeça branca<br />
corrigindo os meus erros, me apoiando, me ensinando como apurar notícia.<br />
Além disso, a gente tem o incentivo que gera click, que em inglês, eles chamam<br />
de “clickbait”, que são pautas para priorizar assuntos quentes, inclusive<br />
de saúde pública.<br />
E estamos crescendo rapidamente em termos de acesso de cobertura e da<br />
população, que começa a ler notícias via celular. Não dá para falar do que<br />
está acontecendo, sem que toque no chamado fenômeno das “Fake News”,<br />
das notícias falsas, e é bom, porque já que é uma metáfora orgânica, estamos<br />
falando de um ecossistema de informação. Então, se houver algo falso, desqualificado<br />
sobre a zika, muito possivelmente vai se enquadrar em algo nesse<br />
tipo. A paródia e a sátira são absolutamente essenciais à democracia, mas<br />
que a gente vai ter possíveis falsas conexões e falsos contextos, manipulação.<br />
Em uma sociedade politicamente polarizada, há risco de que a informação<br />
científica e de interesse de saúde pública seja manipulada com fins escusos.<br />
Isso precisa ser levado em conta.<br />
A Fiocruz, o Ministério da Saúde e o SUS, produzem diariamente montanhas<br />
de dados e informações. Os cientistas trabalham investigação científica,<br />
e nós jornalistas, com investigação jornalística. Existem paralelos importantes<br />
acerca dessa investigação. Jornalista tem que procurar um fato, qualquer<br />
fato. A verdade é tangível, para os pesquisadores também, e estamos<br />
dispostos à descobertas, erros e correções. Os pesquisadores são alvo e fonte<br />
de apurações da imprensa e de ativistas, com agenda muitas vezes clara ou<br />
não tão clara e são chamados stakeholders, também, tem interesse, seja no<br />
orçamento da União para pesquisa, seja nas próprias pesquisas que têm nas<br />
suas próprias convicções. Faz parte de uma democracia e todos nós nos comunicamos<br />
pela internet. Nós somos hoje, em parte, vizinhos, vozes em um<br />
ecossistema que está cada vez mais misturado. A internet é um resumo do<br />
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