22.02.2018 Views

Gestão Hospitalar N.º30 1995

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

;, IJ<br />

r: 'r ivista da Associação Portuguesa<br />

e Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Nº 30 • ANO IX • DEZ/94-JAN/95 • 850$00<br />

o<br />

.J .....-<br />

J ~8.)!JLJllYllU<br />

!J uuJ j Ull Ll H<br />

f ll!Jrj ~u<br />

Membro da Associação Europeia<br />

de Directores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

DIRECTORA<br />

Armanda Miranda<br />

CONSELHO REDACTORIAL<br />

Ana Isabel Gonçalves<br />

Joaquina Matos<br />

Jorge Poole da Costa<br />

Manuel Ligeiro<br />

Manuel Delgado<br />

Vítor Freire<br />

PROPRlF.UADE<br />

Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Empresa jornalística nº 209259<br />

Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />

ADMINISTRAÇÃO E ASSINATURAS<br />

APAH<br />

Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />

PUBLICIDADE .<br />

L PUBLICIDADE 1<br />

Avª. Ressano Garcia, 27-r/c 1000 Lisboa<br />

Tels.: 387 71 38/18/50/42 - 387 70 79<br />

PRODUÇÃO GRÁFICA<br />

Augusto Teixeira<br />

MONTAGEM<br />

Montalito<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

JMToscano<br />

Tel.: 3479735 Fax:3479736<br />

ASSINATURA ANUAL -3.000$00<br />

PlJBLICAÇÃO TRIMESTRAL<br />

TIRAGEM - 2.000 exemplares<br />

N 11 Registo 109060<br />

Depósito legal nº 16288/87'<br />

ISSN: 0871 - 0776<br />

1<br />

Revista da Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

EDITORIAL 4<br />

MARCO DO CORREIO 5<br />

SAIBA QUE... 6<br />

Notícias da APAH<br />

Agenda de Cursos é Congressos<br />

OPINIÃO 1<br />

Cenários para a Privatização<br />

- artigo de Manuel Delgado.<br />

OPINIÃO il<br />

12<br />

A ética na actividade hospitalar<br />

- artigo de Paula Apolinário Sousa<br />

e Maria Armanda Miranda<br />

DOCUMENTO 1<br />

Por uma política nacional<br />

de saúde mental<br />

_:_ As propostas da Associação<br />

9<br />

15<br />

DOCUMENTO li 21<br />

O futuro do sistema de saúde<br />

em Portugal, por Janet Guptill<br />

ENTREVISTA 24<br />

Entrevista com o Secretário<br />

de Estado da Saúde, Lopes Martins<br />

INVESTIGAÇAO 1 28<br />

Despesas com a Saúde em Portugal,<br />

por Francisco Ramos<br />

e Maria João Amaral<br />

INVEST.IGAÇÃO il 33<br />

O mercado de Cuidados de Saúde<br />

dos Hospitais Públicos<br />

da Região do Minho,<br />

por Lino Mesquita Machado<br />

ACONTECIMENTO 41<br />

Homenagem<br />

ao professor Augusto Mantas<br />

PERFIL 46<br />

Augusto Quintanilha Mantas<br />

GESTÃO 49<br />

As vantagens de um centro<br />

de tratamento de imagem,<br />

por Vasconcellos Guimarães<br />

HOSPITAL ABERTO<br />

51<br />

O Hospital de Abrantes<br />

- Entrevista com o administrador-<br />

-delegado, Silvino Maia Alcaravela<br />

LEITURAS 59<br />

NORMAS EDITORIAIS<br />

1ª A Revista aceita trabalhos sobre qualquer assunto relacionado<br />

com o tema geral da gestão de serviços ae saúde entendida esta no<br />

seu mais amplo sentido.<br />

Jf- Os artigos deverão ser enviados ao Director. A este caberá a<br />

responsabilidade de aceitar, rejeitar ou propor modificações.<br />

3'J Os artigos de verão ser enviados em duplicado (incluindo quadros<br />

e figuras), dactilografados a duas entrelinhas em folha de<br />

formato A 4. Em cada folha não deverão ser dactilografadas<br />

mais de 35 'linhas. As folbas serão numeradas em ordem<br />

sequencial. ·<br />

4ª Os art~<br />

· os deverão ser acompanhados, sempre que possível, por<br />

fotogra ia do(s) autor(es), tipo passe. .<br />

5ª Os tra alhos deverão conter em folhas separadas o seguinte:<br />

a)-Título do trabalho, nome(s) do(s) autor(es) e pegueno esboço<br />

curricular do(s) autor(es), principais funções ou titulos, até ao<br />

máximo de dois; ·<br />

b)-Pequena introdução ao artigo até ao máximo de uma página<br />

dactilografada;<br />

c)-0 texto;<br />

d)-Quadros com títulos e legendas (folhas autónomas);<br />

e)-Gráficos desenhados a traço de tinta-da-china sobre papel<br />

vegetal sem números ou palavras;<br />

{)-Títulos, legendas ou elementos dos gráficos escritos em folhas<br />

de fotocópias destes, à JJarte;<br />

g)-F'otografias numeradas no verso, a lápis, segundo a ordem de<br />

entrada no texto e respectivas legendas;<br />

h)-Peguenos resumos do artigo em língua francesa e inglesa,<br />

incluindo títulos;<br />

i)-Os originais não deverão conter pés-de-página. Todas as<br />

referências bibliográficas completas serão insertas no final do<br />

artigo.<br />

6ª Nas referências bibliográficas, os autores são colocados por ordem<br />

alfabetica (apelido seguido das iniciais do nome), seguindo-se o<br />

título completo do artigo, o título abreviado da Revista, o número<br />

do volume, os números da primeira e última páginas e o ano da<br />

publicação.<br />

O Editorial e os Arti gsxMg..g;ssi,11;~~n bilidade da<br />

Direcção da AssociaQ oESCOLA NP.CIONAL DE<br />

Os Artigos_ assinado são ~ Ái~ i ~Jf.J~~~abilid de dos s~us<br />

autores, nao com_pro t~GI,~ tos de vista<br />

neles expressos. Emb a merecendo a melhor atenção, colaboração<br />

não solicitada não rá devolvida, reser ando-se o ireito de a<br />

publicar ou não.<br />

3 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

BIB LICT EC:A.


Edite>rial<br />

Marce> de> Ce>rr~ie><br />

A gestão dos serviços de saúde<br />

volume de recursos envolvidos no sector da<br />

saúde e o tipo de organizações, cada vez mais<br />

diversificado, complexo e sofisticado, posto à<br />

disposição dos cidadãos, exige que os sistemas<br />

de saúde sejam geridos por profissionais de administração,<br />

especificamente habilitados e permanentemente actualizados.<br />

Esta afirmação, que há alguns anos atrás se julgaria<br />

adquirida e consensualmente partilhada por políticos e<br />

profissionais de saúde, foi a dado momento reequacionada<br />

pelo poder político, lançando-se a maior confusão<br />

na gestão dos serviços de saúde e, particularmente, na<br />

gestão dos hospitais.<br />

De repente, surgiu uma classe de pseudogestores, que<br />

com enorme desenvoltura e algum descaramento, passaram<br />

a fazer, diziam, a gestão dos hospitais. A ignorância,<br />

a insensibilidade e a arrogância, deram espaço a actos de<br />

gestão anedóticos, pretensamente tecnocráticos e socialmente<br />

desastrosos.<br />

Hoje, felizmente, a situação alterou-se em grande<br />

medida e parece caminhar-se de novo no sentido<br />

daquele postulado inicial.<br />

E é, justamente, neste contexto que parece oportuno<br />

reflectir sobre o papel do profissional de gestã•o de<br />

serviços de saúde num ambiente organizacional em que o<br />

poder, a vários títulos, se encontra sediado num grupo<br />

profissional bem definido - os médicos. Estes desencadeiam<br />

as prestações, escolhem os meios que consideram<br />

mais adequados, em suma, definem os níveis de utilização<br />

e, consequentemente, o respectivo custo.<br />

Há quem, à luz deste cenário, veja o gestor como um<br />

"contabilista" um "fiel de· armazém" ou um "hoteleiro"<br />

'<br />

'<br />

atentas as funções técnicas de natureza geral que<br />

instituições complexas como os hospitais, necessariamente<br />

têm que desenvolver. Haveria, assim, de um lado,<br />

D gestor dos serviços gerais e dos "aspectos burocráti-<br />

. cos" e, do outro, os médicos e outros técnicos de saúde<br />

que se encarregariam das tarefas clínicas.<br />

Apesar de ser ainda um cenário imaginado por muito boa<br />

gente, ele está, todavia, completamente ultrapassado,<br />

face aos desafios que as sociedades de hoje nos colocam<br />

em matéria de saúde.<br />

A adequação da oferta à procura, em quantidade,<br />

qualidade e preço socialmente ajustados, pressupõe a<br />

definição prévia de prioridades face ao tipo de mercado<br />

em que se opera e aos segmentos-alvo que se pretendem<br />

atingir, ou seja, pressupõe uma estratégia.<br />

A gestão corrente de "empresas" de saúde pressupõe a<br />

definição de o bj ectivos, a elaboração de planos de acção,<br />

a escolha criteriosa de modelos de intervenção clínica<br />

alternativos, com base em análises "custo-benefício",<br />

"custo-oportunidade" ou outras.<br />

Pressupõe também a concepção e desenvolvimento de<br />

modelos de controlo de gestão, que permitam, com base<br />

em indicadores de "performance", de natureza multidimensional,<br />

medir desempenhos, compará-los e fomentar<br />

a sua melhoria.<br />

Pressupõe ainda, um conjunto de- competências técnicas<br />

instrumentais em áreas tão importantes como os recursos<br />

humanos, o aprovisionamento, a gestão económico-financeira,<br />

o sistema de informação para a gestão, etc.<br />

Pressupõe, necessariamente, uma sólida capacidade de<br />

organização, que desenhe uma adequada estrutura<br />

(horizontal e vertical) e que crie circuitos e suportes<br />

de informação operativos, oportunos e fiáveis.<br />

Pressupõe, por fim, uma evidente capacidade de liderança,<br />

que permita prosseguir objectivos, galvanizar<br />

profissionais e cumprir uma missão.<br />

Percebe-se, assim, que a gestão de serviços de saúde não<br />

se confine às áreas de apoio geral. Pelo contrário, a<br />

ênfase que hoje se coloca na eficiência técnica e<br />

distributiva dos serviços de saúde, exige um esforço<br />

consideravelmente maior na gestão da acti vidade<br />

clínica, obviamente com a colaboração indispensável,<br />

.interessada, sincera e permanente dos técnicos de<br />

saúde, em particular, dos médicos.<br />

Há assim, à nossa frente, um amplo caminho a percorrer<br />

por gestores e por médicos, aprofundando o diálogo,<br />

conjugando esforços e espreitando novas oportunida- .<br />

des, para que os cuidados de saúde sejam mais efectivos e<br />

simultaneamente mais eficientes.<br />

'<br />

E urgente que assim seja.<br />

Mais caixões<br />

do que berços<br />

Sou de Mirandela e<br />

por razões que se prendem<br />

directamente com<br />

a minha actividade<br />

profissional, técnico<br />

paramédico, vivo em<br />

Lisboa. O motivo da<br />

minha carta tem a ver<br />

com um artigo sobre o<br />

hospital da minha terra,<br />

que muito me sensibilizou.<br />

Nele se<br />

dizia: "Um distrito<br />

que nos últimos 10<br />

anos perdeu mais de<br />

15% da sua população<br />

activa, que nos ' últimos<br />

5 teve um decréscimo<br />

de cerca de 25 %<br />

de nascimentos e onde<br />

se vendem mais caixões<br />

do que berços,<br />

tem de ser repensado, sob todas<br />

as vertentes".<br />

Sinceramente, também penso o<br />

mesmo.<br />

J. António Fontoura,<br />

paramédico<br />

Lisboa<br />

De acordo<br />

Estou perfeitamente de acordo<br />

com o prof. Correia de Campos<br />

quando, no seu artigo sobre<br />

"Competição gerida: contributos<br />

para o debate indispensável",<br />

propõe que "o papel do Estado<br />

na saúde deixe cada vez menos de<br />

ser o de Estado-empresário para<br />

ser cada vez mais o de Estado­<br />

· regulador, isto é, apenas pai, que<br />

não patrão. Um Estado que seja<br />

apenas árbitro e não parte".<br />

Oxalá, sr. prof., que em breve<br />

possa ter oportunidade de concretizar<br />

a política que defende.<br />

António M. Martins,<br />

enfermeiro<br />

Coimbra<br />

Conselho<br />

Escrevo estas breves palavras<br />

para aconselhar a todos quantos<br />

passaram pela ENSP a excelente<br />

entrevista do prof. Caldeira da<br />

Silva. Não resisto também em<br />

dirigir o mesmo conselho a algumas<br />

personalidades que passaram<br />

pela Saúde - passaram, felizmente<br />

- sem se terem apercebido da<br />

importância deste estabelecimento<br />

de ensino.<br />

Leitor identificado,<br />

administrador hospitalar<br />

Lisboa<br />

Mestrado<br />

Li com agrado a entrevista que o<br />

prof. Caldeira da Silva deu, no seu<br />

último número, , à GESTÃO HOS-<br />

PIT ALAR. E realmente uma peça<br />

interessante e rica sob variadíssimos<br />

aspectos, que os administradores<br />

hospitalares, em que me<br />

incluo, terão apreciado.<br />

A novidade de um mestrado em<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong> que a<br />

Escola Nacional de Saúde Pública<br />

poderá vir a proporcionar, que a<br />

Revista justificadamente destacou,<br />

é uma boa razão para todos<br />

nos sentirmos satisfeitos.<br />

Leitor identificado,<br />

administrador hospitalar<br />

Porto<br />

4 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 5


Saiba qu49 ...<br />

Iniciativas APAH para o próximo triénio<br />

Programa<br />

I -INTRODUÇÃO<br />

Apresentamo-nos com uma<br />

lista de · continuidade do<br />

trabalho desenvolvido pe-<br />

. los actuais dirigentes.<br />

Por isso, os membros ·que<br />

compõem a presente candidatura<br />

são, no essencial, os mesmos,<br />

reforçados agora com novos colegas<br />

que, pensamos, poderão incrementar<br />

o ,trabalho associativo.<br />

Releve-se ainda, ó novo contexto<br />

estatutário da nossa Associação:<br />

mandatos de 3 anos e aumento do<br />

nº de membros dirige~tes são, em<br />

termos eleitorais, as alterações mais<br />

. importantes aprovadas na ·Última<br />

Assembleia Geral.<br />

Convirá, nestas circunstâncias, prestar<br />

contas, ainda que sucintamente,<br />

das actividades do anterior mandato.<br />

Cumprimos, no essencial, · a ·nossa<br />

. divisa programática: . «Dinamizar a<br />

Associação, Unir os Associados e ·<br />

Prestigiar os Profissionais».<br />

De facto, é hoje geralmente reconhecido<br />

por colegas e outros profissionais<br />

de saúde que a AP AH se<br />

revitalizou nos seus propósitos, nas<br />

suas. iniciativas e no seu papel como<br />

interlocutor válido e credível junto<br />

de diferentes instâncias, governa-<br />

. mentais ou profissionais.<br />

Isso contribuiu .decisivamente para o<br />

fortalecimento do espírito associativo.<br />

Realizámos várias iniciativas de<br />

natureza técnica e social e foi<br />

reconfortante verificar a presença<br />

significativa dos colegas, alguns<br />

que já não víamos há muito tempo,<br />

outros que recentemente abraçaram<br />

esta carreira.<br />

A APAH é hoje, porventura, mais<br />

conhecida e recónhecida do que no<br />

passado. Somos frequentemente convidados<br />

a participar em sessões<br />

científicas, colóquios e, debates por<br />

diferentes grupos profissionais. Somos<br />

variadíssimas vezes o bj ecto de<br />

opiniões e comentários extremamente<br />

favoráveis à nossa profissão<br />

e ao papel indispensável que temos<br />

na organização e gestão do sistema<br />

de saúde.<br />

Nã-0 podemos deixar de equacionar<br />

aqui a conjuntura politicamente<br />

favórável que atravessamos. O protagonismo<br />

de colegas nossos em<br />

funções públicas do maior relevo<br />

. são não só motivo de orgulho mas<br />

sobretudo de gratidão, pela lealdade,<br />

abertura, colaboração e apoio que<br />

nos têm permanentemente, e de uma<br />

forma geral; dispensado.<br />

Provavelmente por isso,é crescente o<br />

número de profissionais de administração<br />

hospitalar a desempenhar<br />

funções de administrador-delegado<br />

e é com satisfação que o constatamos.<br />

Mas esta tendência não ilude as<br />

questões essenciais: a legitimidade<br />

para o exercício daquele cargo(não<br />

formalmente reconhecida), a despartidarização<br />

das nomeações (frequentemente<br />

violada) e a coerência no<br />

perfil dos nomeados (nem sempre se<br />

escolhem os mais qualificados ... ).<br />

Assumimos, portanto, um papel reivindicativo<br />

ein matéria de Órgãos de<br />

gestão hospitalar e em prol de um<br />

ajustamento renovado da nossa carreira,<br />

em confronto com o novo<br />

•<br />

enquadramento jurídico: o ingresso<br />

na carreira e o exercício tutelado, as<br />

regras de progressão, o exercício de<br />

funções de administração intermédia<br />

e a sua dignificação são também<br />

preocupações que deverão estar sempre<br />

presentes na nossa acção associativa.<br />

Pautámos a nossa actuação com base<br />

em dois princípios indiscutíveis e<br />

inalienáveis: a autonomia e o apartidarismo.<br />

O primeiro permitiu-nos<br />

• • - I •<br />

sempre assumir pos1çoes propnas,<br />

de critica ou de apoio à política de<br />

saúde e às iniciativas governamentais;<br />

o segundo fez com que a AP AH e<br />

os seus dirigentes, nas suas iniciativas<br />

e nas suas posições, se confinassem<br />

sempre à defesa dos seus associados<br />

e dos preceitos técnicos e<br />

políticos que em cada momentQ<br />

julgaram mais adequados, sem com-<br />

• I • I •·<br />

prom1ssos estrateg1cos ou tacticos<br />

com qualquer quadrante ideológico<br />

ou grupo de interesses.<br />

Pensamos, no entanto, que é possível<br />

fazer mais e melhor.<br />

Reconhecemos que no anterior mandato<br />

não foi possível cumpir todo o<br />

programa proposto.<br />

No âmbito da formação especificamente<br />

dirigida aos associados, por<br />

exemplo, não foi possível concretizar<br />

as iniciativas previstas.<br />

Não é ainda satisfatório o nível de<br />

mobilização dos associados em volta<br />

ga sua Associação.<br />

E significativo o número de associados<br />

cm~ quotas ~em atraso, pese<br />

embora o avançq · assinalável na<br />

angariação de nov-0s sócios.<br />

A republicação da Revista, veículo<br />

importante de comunicação e de<br />

união, embora ainda não com a<br />

periodicidade exigível, foi indiscutivelmente<br />

um dos pontos mais significativos<br />

do actual mandato e representa<br />

um esforço financeiro dificilmente<br />

suportável. A recente<br />

assinatura de um contrato com um<br />

agente publicitário poderá a breve<br />

prazo facilitar o seu financiamento e<br />

consequentemente o ritmo da sua<br />

publicação.<br />

A precaridade de recursos foi, a<br />

propósito, a maior limitação que<br />

sentimos no nosso mandato. Recursos<br />

financeiros escassos e meios<br />

logísticos praticamente inexistentes<br />

impedem um trabalho mais profissionalizado<br />

e constante. o empenha-<br />

. menta de todos e o apoio inestimável<br />

de instituições e pessoas singulares,<br />

e os patrocínios que, embora com<br />

dificuldade, conseguimos obter, fo­<br />

~am contributos impresciqdívei~ para<br />

o que se realizou.<br />

Aqui deixamos um elemento de<br />

reflexão: não é possível· manter o<br />

desenvolvimento já conseguido, nem<br />

reforçar o prestígio da AP AH e o<br />

apoio aos associados sem reponderar<br />

convenientemente a questão dos<br />

meios.<br />

li · Acções a desenvolver<br />

1. LEI DE GESTÃO HOSPITALAR<br />

Reafirmamos a nossa vontade de ver ,<br />

revista a actual lei de gestão hospi-·<br />

talar, designadamente no que se<br />

refere às condições de indigitação e ·<br />

· nomeação do Administrador-Delegado.<br />

Este deve voltar a ser, imperativamente,<br />

um profissional diplomado<br />

em administração hospitalar, reivindicação<br />

elementar, lógica e legítima,<br />

reconhecida até por outros grupos<br />

profissionais, como, por exemplo, a<br />

Ordem dos Médicos.<br />

Mas a actual lei de gestão hospitalar<br />

merece uma revisão profunda, quanto<br />

aos seus princípios enformadores<br />

e à estrutura de órgãos de gestão<br />

previstos.<br />

De facto, cerca de sete anos após a<br />

sua entrada em vigor, os resultados<br />

obtidos são de certa forma desanimadores:<br />

• Dependência crescente das Administrações,<br />

face ao Poder Central,<br />

contrariando a autonomia<br />

técnica, administrativa e financeira<br />

da gestão e a defesa primordial<br />

das populações e dos seus interesses;<br />

• Ausência de critérios minimlimente<br />

perceptíveis da avaliação<br />

da performance dos Hospitais e dos<br />

seus orgãos de gestão;<br />

• Substancial diminuição da competência<br />

técnica dos órgãos de<br />

gestão, com emergência crescente<br />

e preocupante de decisões e comportamentos<br />

tecnicamente comprometedores<br />

e eticamente discutíveis;<br />

• Não desenvolvimento de estruturas<br />

intermédias de Administração,<br />

previstas na lei, relegando os<br />

profissionais da Administração<br />

para funções meramente técnicas<br />

e administrativas ou auxiliares.<br />

Reconhecemos excepções e a tendência,<br />

que parece incrementar-se, de<br />

designar colegas nossos para administrador-delegado.<br />

Mas, ainda aqui,<br />

assistimos, com alguma frequência, a<br />

opções discutíveis quanto à competência<br />

dos nomeados, parecendo<br />

privilegiar-se critérios de natureza<br />

político-partidária.<br />

Não podemos ficar indiferentes a<br />

este fenómeno, que inverte de forma<br />

chocante princípios de competência<br />

e experiência, ao arrepio das próprias<br />

regras da carreira de administração<br />

hospitalar.<br />

2. CARREIRA DE ADMINISTRAÇÃO<br />

HOSPITALAR<br />

Apesar das insuficiências que tem, e<br />

que todos reconhecemos, a carreira é<br />

um elemento essencial de coesão e de<br />

estabilidade.<br />

A actual lei de gestão hospitalar, a<br />

forma como vem sendo aplicada e o<br />

estatuto sacio-remuneratório dos<br />

membros dos órgãos de gestão tornaram<br />

o Deccreto-Lei nº 101/80, de 8 de<br />

Maio, inadaptado face às novas<br />

realidades.<br />

Pretendemos abrir um amplo debate<br />

entre os associados sobre a carreira e<br />

o seu futuro, com vista a uma<br />

eventual proposta de ajustamento a<br />

apresentar à tutela.<br />

3. FORMAÇÃO<br />

A evolução dos sistemas de saúde em<br />

todo o mundo e as reformas em curso<br />

entre nós exigem dos administradores<br />

hospitalares uma constante actualização<br />

de conhecimentos, que<br />

lhes permita reflectir sobre o papel<br />

dos hospitais e de novas formas de<br />

organização para a prestação de<br />

cuidados de saúde, modelos de gestão<br />

mais dinâmicos e mais competitivos,<br />

novas modalidades de financiamento<br />

e regras de avaliação do<br />

sucesso e da qualidade.<br />

O recente Quadro Comunitário de<br />

Apoio abre-nos excelentes perspectivas<br />

de financiamento neste âmbito.<br />

Prometemos estudar convenientemente<br />

os condicionamentos legais e<br />

regulamentares com vista à apresentação<br />

de um programa de formação<br />

coerente e plurianual.<br />

Estamos em conversações com a<br />

ENSP e a Fundação Luso-Americana<br />

para o Desenvolvimento no sentido<br />

de se concretizar um «Ciclo de<br />

Estudos Especiais em Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>» ministrado por peritos<br />

norte-americanos.<br />

4. EVENTOS ESPECIAIS<br />

Pretendemos no próximo triénio<br />

concretizar, entre outras, as seguintes<br />

iniciativas:<br />

- I Congresso sobre a <strong>Gestão</strong> dos<br />

Hospitais Portugueses, em que se<br />

faça um balanço das últimas décadas<br />

da vida dos hospitais públicos<br />

portugueses e que incorpore três<br />

,<br />

areas essenciais:<br />

• «Novas ideias, Novos modelos» -<br />

com o contributo de conferencistas<br />

nacionais e estrangeiros de<br />

renome.<br />

• Debate sobre o passado, o<br />

presente e o futuro dos hospitais<br />

portugueses com diferentes grupos<br />

profissionais e personalidades da<br />

vida política.<br />

• «Experiências de gestão» - com a<br />

apresentação de trabalhos desenvolvidos<br />

na área da gestão e a<br />

atribuição de prémios aos melhores.<br />

- Dinamizar a realização de congressos<br />

de saúde de âmbito regional,<br />

promovendo um melhor conhecimento<br />

das realizações e dificuldades de<br />

natureza local.<br />

- Promover a organização de visitas<br />

de estudo ao estrangeiro, na sequência<br />

da bem sucedida visita aos EUA.<br />

-Continuação dos Encontros sobre a<br />

<strong>Gestão</strong> da Saúde em Portugal, face à<br />

boa aceitação que os ciclos de 1993 e<br />

1994 obtiveram e ao prestígio acrescido<br />

que tais iniciativas trouxeram<br />

para a APAH.<br />

- Candidatura à realização do Congresso<br />

da Associação Europeia de<br />

Gestores <strong>Hospitalar</strong>es em Lisboa, em<br />

1998.<br />

A AP AH é filiada na EAHM (European<br />

Association of Hospital Managers)<br />

e tem participado activamente<br />

nas suas mais recentes realizações.<br />

A actual Direcção apresentou a<br />

candidatura de Lisboa para a realização<br />

do Congresso anual de 1998,<br />

dados os atractivos singulares que<br />

nesse ano Lisboa conseguirá apresentar.<br />

Considerando a grande antecedência<br />

com que este tipo de decisões são<br />

tomadas, esperamos ter no próximo<br />

ano a confirmação dos nossos desejos,<br />

o que representará, com certeza,<br />

um momento alto de prestígio e de<br />

projecção da APAH.<br />

5. DEONTOLOGIA PROFISSIONAL<br />

Iremos promover a criação de um<br />

grupo de trabalho constituído por<br />

personalidades de indiscutível competência,<br />

no sentido de se preparar<br />

um projecto de Código Deontológico<br />

para os a·dministradores hospitalares.<br />

A estrutura e o funcionamento dos<br />

serviços e instituições de saúde, pela<br />

sua natureza e condicionalismos<br />

éticos muito próprios, colocam-nos<br />

desafios e interrogações novas, nas<br />

nossas opções e na formulação das<br />

nossas prioridades de gestão, com<br />

consequências marcantes na opinião<br />

pública e na segurança das pessoas.<br />

..<br />

6 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 7


~ 6. BENEFÍCIOS SOCIAIS<br />

Propomo-nos estudar a hipótese de<br />

viabilizarmos um plano de poupan- .<br />

ça-reforma de grupo para os associados,<br />

no ·sentido de nos facultar um<br />

complemento de reforma no futuro.<br />

Abordaremos, a propósito, entidades<br />

seguradoras especialmente vocacionadas<br />

para este tipo de produtos.<br />

7. SEDE DA APAH E UTILIDADE<br />

PÚBLICA ADMINISTRATIVA<br />

Propomo-nos estudar as condições<br />

necessárias para que a AP AH tenha<br />

uma sede própria. Para isso, é<br />

indispensável dispor de meios financeiros<br />

adequados com base em receitas<br />

estáveis e permanentes.<br />

A repescagem dos colegas com quotas<br />

em atraso, o desenvolvimento de<br />

acções de formação ou a angariação<br />

de mais publicidade para a revista,<br />

poderão ser. fontes de financiamento<br />

suficientes.<br />

Propomo-nos também solicitar superiormente<br />

o reconhecimento da<br />

APAH como instituição de utilidade<br />

pública administrativa, facto que<br />

facilitará a angariação de apoios e<br />

eliminará alguma carga burocrático­<br />

-administra tiva.<br />

Eleições para os Corpos<br />

Sociais da APAH<br />

Na primeira reunião da Direcção<br />

realizada em 17 de Novembro, foram<br />

distribuídos os cargos directivos do<br />

seguinte modo:<br />

Direcção/efectivos: Manuel Delgado<br />

(Presidente); Ana Isabel Gonçalves<br />

(Tesoureira); Armanda Miranda (Secretária<br />

da Direcção e Directora da<br />

Revista); Joaquina Matos e Armanda<br />

Miranda 0l ogais ligados à formação) ~<br />

Manuel Ligeiro 0/ice-presidente); Jorge<br />

Poole da Costa, Manuel Ligeiro e<br />

Vítor Freire Albuquerque (Vogais<br />

ligados à Revista e apoio jurídico).<br />

Suplentes:Alexandre Farinha e Carlos<br />

Andrade Costa.<br />

Assembleia Geral/ efectivos~ Jorge<br />

Varanda, ·Fràncisco Guerreiro e<br />

Rosa Reis Marques. Suplente: Carlos<br />

Gil.<br />

Conselho Fiscal/efectivos: Carlos<br />

Cada vez, António Paulino e Nazaré<br />

Silva. Suplente: Maria João Amaral.<br />

Sócios proponentes da candidatura<br />

aos Corpos Sociais da AP AH da lista<br />

única para o triénio 1994-97:<br />

Ana Maria Escoval, Antón10<br />

Davide de Lima Cardoso, António<br />

Menezes Duarte, Delfim Pereira<br />

Neto Rodrigues, Joaquim<br />

Daniel Lopes Ferro, Jorge Almeida<br />

Simões, José Fernando Reis de<br />

Oliveira, José Joaquim Nogueira<br />

da Rocha, Júlio Pereira Reis,<br />

Manuela Mota Pinto, Maria Ermelinda<br />

Carrachás, Maria Fernanda<br />

Sarmento Afonso Dias<br />

Almeida Taborda, Maria Helena<br />

Reis Marques, Maria Isabel<br />

Guerreiro, Marina Judite Peres<br />

da Silva, Olga Maria Seco, Paula<br />

Alexandra Costa Português Santos,<br />

Paula Borges, Pedro Brito<br />

Esteves, Raul Moreno Rodrigues,<br />

Ru~ Manuel Lopes dos .Reis,<br />

Silvino Maia Alcaravela, Vasco<br />

Pinto dos Reis e Vitor Seabra.<br />

:-:·:·::·::.::::;.::::: :· :·:·.:=::~: ;:::::;: ;.;::::;:;:· ........ ·.·.·.·.·,·.·.·.·.··:·:····· .·.·.·.·.·.:·:·:-:-:-:·::·::::;:;::::::::::: "··:::::::::t::::::.::::::::::::::::::::::::::::<br />

::1:1:::11:1:1111~:::11111:1111:11 111~111 111:11111::::1111:1~1 :1<br />

.· ··.·.··.·-:-··<br />

ma "' i; ·manças ,. · ; ·<br />

.:::::;:;:;:;:;:;:.:;:;:::::::::;:::::::::::::::;:;::::: :;::::;:<br />

·········· ····.·.·.·.·.·.········-----··:·.::·<br />

:açoes<br />

:_··Inte.mae.io.nais- ~ , 1 •. : __ ::....·. ·.··· ·· ...<br />

-:-:·=·-·.·.·:·.·-:-:-:: ~~:t:ft~~t~~:~ ~~?~~~~?I?~~~~t??tf?? ::::::::::::=::::::::::::::::::::: ::::::::::::::::: ·-:-:-:·:::::· ···:·::=· ···<br />

Agenda<br />

- Dias 15 e 17 de Fevereiro, em<br />

Basileia (Suiça) tem lugar no Crossair<br />

Conference Center, o "Second<br />

International Hospital Symposium<br />

for Efficient Energy Use".<br />

-Dias 30 e 31 de Março, tem lugar no<br />

Auditório Principal da Torre do<br />

Tombo em Lisboa, o seminário "Da<br />

Documentação Clínica" organizado<br />

pelo Núcleo de Estudos de<br />

Investigação em Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>, destinado ao pessoal<br />

dirigente da área da saúde.<br />

- Dias 18 e 19 de Maio, realiza-se em<br />

Lisboa, no Centro de Congressos da<br />

Associação Industrial Portugues~<br />

um congresso cuja designação é "A<br />

descoberta de novos rumos para<br />

as capitais europeias".<br />

- De 23 a 26 de Maio, terá lugar em<br />

Budapeste (Hungria), no Palácio dos<br />

Congressos, o XXIX Congresso<br />

Internacional dos Hospitais, sob<br />

o tema "Racionamento, Direitos e<br />

Responsabilidades em Cuidados de<br />

Saúde".<br />

- Em Outubro, decorrerá em Bruxelas<br />

(Bélgica), o XIII Congresso da<br />

Associação Europeia de Directores<br />

de Hospitais.<br />

1<br />

Forum Saúde ~ Novas estratégias na <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

A Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es vai realizar,<br />

no dia 10 de Março de <strong>1995</strong>, em<br />

Lisboa, o Forum Saúde - Novas<br />

estratégias na <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

destinado a todos os profissionais<br />

de saúde e, em particular, aos<br />

responsáveis pela gestão das unidades<br />

hospitalares. Para esse evento<br />

estão previstas quatro intervenções,<br />

feitas por, Bagão Félix (ex-secretário<br />

de Estado da Segurança Social e<br />

actual presidente do C.A. da "Ocidental<br />

Seguros"); Vasco Reis (professor<br />

da Escola Nacional de Sa~de ·<br />

Pública/Universidade Nova· ue-Lisboa);<br />

Michel Cremadez ~(pro(essor<br />

dos Altos Estudos Comer.ciais, Paris,<br />

co-autor do "Strátegor" e autor<br />

de "Le Menagement Strategique<br />

Hospitalier" e director-geral do PCS<br />

(Plus, Consultants, Santé); José Carlos<br />

Lopes Martins (secretário de<br />

Estado da Saúde). Serão moderadores,<br />

Nogueira da Rocha (professor da<br />

ENSP/UNL) e Caldeira da Silva<br />

(presidente do Conselho Directivo<br />

da ENSP /UNL).<br />

Workshop sobre <strong>Gestão</strong> da Qualidade em Hospitais<br />

Integrado no programa de actividade<br />

da APAH, confirmamos a possibilidade<br />

de termos entre nós, no próximo<br />

mês de Março, o prof. Williamson,<br />

um dos mais reputados peritos a<br />

nível mundial na área da qualidade<br />

em cuidados de saúde. o prof.<br />

Williamson virá acompanhado pot<br />

um qualificado colaborador, o prof.<br />

8 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

Charles Turner, ambos participantes<br />

na task force para a Saúde com a<br />

senhora Hillary Clinton. Esta acção<br />

de formação insere-se num ciclo de<br />

quatro módulos ·destinado exclusivamente<br />

a profissionais da Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> membros da AP AH e,<br />

por isso, conta com a colaboração<br />

científica e logística da ENSP.<br />

Opiniãe><br />

~ .<br />

Cenarios para ·a Privatiza~ão<br />

Manuel Delgado *<br />

. A existência de "am-<br />

.<br />

bientes privados" de<br />

actuação no contexto<br />

de um hospital público<br />

é, provavelmente, o cenário<br />

mais controverso<br />

e, porventura, menos<br />

legítimo de todos.<br />

ideia de privatizar<br />

em presas e ~rv1 -<br />

ços públicos para<br />

incrementar a eficiência<br />

e a qualidade<br />

da produção e<br />

dos produtos é hoje um destino<br />

aparentemente inexorável na sociedade<br />

portuguesa.<br />

E as razões parecem ser óbvias:<br />

burocratização da gestão, falta de<br />

incentivos, estratégias defensivas<br />

(de interesses políticos ou partidários<br />

esquecendo os interesses dos<br />

consumidores), custos estruturais<br />

pesadíssimos, etc., etc., conduzem à<br />

ineficiência, ao desperdício e à<br />

insatisfação dos consumidores.<br />

Valerá a pena, todavia, discutir um<br />

pouco melhor o conceito em causa:<br />

"privatização".<br />

Há, sobre a matéria, que encarar<br />

várias acepções, de cuja implementação<br />

poderão resultar consequências<br />

de natureza ideológica ou<br />

política:<br />

a) num sentido maximalista, privatizar<br />

será sinónimo de propriedade<br />

privada dos meios de produção,<br />

autonomia na definição de finalidades,<br />

objectivos e valores, no<br />

desenvolvimento da gestão e no<br />

seu controlo.<br />

Aceitar-se-á este tipo de privatização<br />

em actividades sem a marca de<br />

interesse público, sujeitando-se os<br />

agentes às regras ditadas pela<br />

concorrência e pelo mercado. Ou<br />

seJa, a natureza, quantidade e<br />

•<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 9<br />

qualidade dos bens e serviços<br />

oferecidos ajustár-se-ão naturalmente<br />

às regras do mercado, salvaguardando-se,<br />

obviamente e sempre,<br />

algum papel regulador . por<br />

parte do Estado;<br />

b) num sentido oposto se orienta a<br />

noção de "privatização da gestão"<br />

de empresas e serviços públicos.<br />

Nesta acepção, privatizar significa<br />

apenas outorgar a gestão corrente<br />

a quem prometer cumprir melhor<br />

certos pressupostos de racionalidade,<br />

mas, sublinhe-se, dentro de<br />

uma missão e submetida a um<br />

controlo rigorosamenFe definido e<br />

supervisionado pelo Estado.<br />

Estarão nestas condições todo o<br />

tipo de bens e serviços, em que o<br />

Estado pretende garantir a nature- ·<br />

za, a quantidade e a qualidade da<br />

oferta;<br />

c) numa perspectiva operacional,<br />

"privatizar" significará ainda a<br />

cedência a entidades privadas, de<br />

sectores ou áreas de actividade de<br />

natureza geral ou complementar<br />

incluídas num determinado mod9<br />

de produção de. natureza pública. E<br />

. o que acontece, por exemplo, quando<br />

uma repartição pública ou um<br />

hospital contratualizam com empresas<br />

especializadas a limpeza ou<br />

a segurança das suas instalações.<br />

Nestes casos, não estão em causa,<br />

nem a missão, nem o processo<br />

produtivo, nem o controlo dos<br />

resultados que continuam a ser de<br />

natureza pública; ...


~ d) num sentido híbrido e complexo,<br />

"privatizar" poderá ainda<br />

representar a entrega à exploração<br />

privada de "áreas de negócio"<br />

claramente autonomizáveis no<br />

seio de uma empresa ou serviço<br />

público, assumindo os "privados" a<br />

propriedade de alguns meios de<br />

produção e a definição da sua<br />

própria missão, regras de funcionamento<br />

, e controlo de resultados.<br />

E o que se passará, por exemplo,<br />

sempre que um hospital admita o<br />

exercício de clínica privada nas<br />

suas instalações ou quando concessiona<br />

áreas físicas do estabelecimento<br />

à exploração de empresas de<br />

saúde privadas.<br />

Ressalvando-se alguma simplificação<br />

epistemológica, será interessante<br />

reflectirmos um pouco mais<br />

sobre cada um dos modelos enunciados<br />

e as consequências da sua<br />

aplicação para a política de saúde<br />

em Portugal:<br />

Cenário 1<br />

O livre jogo da oferta e da procura<br />

é em saúde um logro, se caírmos no<br />

simplismo de apenas imaginarmos,<br />

de um lado, as entidades prestadoras<br />

de cuidados e, de outro, os<br />

consumidores (utentes de serviços<br />

ge saúde).<br />

E que, se assim for, a ignorância do<br />

consumidor face aos "produtos"<br />

que deve ou não consumir e a<br />

posição fragilizada com que aparece<br />

junto dos prestadores, anulam­<br />

-lhe, quase por completo, a sua<br />

capacidade negocial, sendo estes a<br />

definir o tipo de prestações, a<br />

quantidade, a qualidade e o pró­<br />

:gno preço.<br />

E o que se passa no exercício da<br />

pura clínica privada entre nós,<br />

quer se trate de prestador individual<br />

(consultórios) quer se trate de<br />

uma prestação institucional (casas<br />

de saúde) . De facto, a clientela não<br />

apoiada por esquemas de protecção<br />

na doença, como SAMS, ADSE, etc,<br />

ou até seguradoras, é sujeita a<br />

preços claramente desconformes à<br />

relação custo-benefício e que podem<br />

variar extraordinariamente de<br />

prestador para prestador.<br />

Por outro lado, no conteúdo das<br />

prestações o cliente tende a sobrelevar<br />

as dimensões de natureza<br />

hoteleira e de relação interpes-<br />

A privatização em saúde envolve inconvenientes<br />

ponderosos que podem desvirtuar significativamente<br />

direitos constitucionais dos cidadãos<br />

portugueses.<br />

soal, ficando muitas vezes aquém<br />

das exigências mínimas as condições<br />

técnico-científicas da prestação.<br />

Em suma, preços claramente acima<br />

do razoável e não uniformizados e<br />

produto de adequação e qualidade<br />

discutíveis seria o resultado do<br />

"livre" jogo do mercado, com consequências<br />

desastrosas para a saúde<br />

das pessoas: só teriam acesso aos<br />

cuidados as pessoas com mais<br />

elevados rendimentos, ou apoiadas<br />

em regimes sociais elitistas.<br />

Cenário II<br />

"Privatizar" (apenas) a gestão de<br />

unidades de saú.de pressupõe que o<br />

Estado quer manter a titularidade<br />

dos meios de produção de natureza<br />

infra-estrutural (instalações e equipamentos<br />

pesados, por exemplo),<br />

quer preservar a missão e os<br />

objectivos das instituições (acesso<br />

universal, geral e tendencialmente<br />

gratuito), quer . supervisionar as<br />

condições de organização e funcionamento<br />

dos serviços (utilizando<br />

critérios de desempenho de natureza<br />

quantitativa e qualitativa, de<br />

efectividade e de eficiência) e ,quer<br />

proceder ao controlo de resultados<br />

(níveis de utilização, satisfação dos<br />

clientes, efectividade dos resultados<br />

finais, níveis de bem-estar,<br />

etc.).<br />

Ou sejai o Estado admite que as<br />

regras da administração pública<br />

são inadequadas face aos níveis de<br />

efectividade e de eficiência que<br />

pensa possíveis e, em conformidade,<br />

procura na gestão privada e<br />

nos seus modelos mais flexíveis e<br />

expeditos níveis de desempenho<br />

que incrementem a qualidade, a<br />

acessibilidade, a efectividade e a<br />

eficiência. Será, nesta perspectiva,<br />

um autêntico "ovo de Colombo", já<br />

que sem mudar a filosofia, o Estado<br />

garante melhor "produto" aos cidadãos<br />

e poupa dinheiro.<br />

Esta modalidade, tendencialmente<br />

aplicável no meio hospitalar a<br />

curto prazo (está um .concurso em<br />

marcha para o novo hospital da<br />

Amadora), enferma todavia de alguns<br />

preconceitos que convirá<br />

analisar:<br />

1 º- O Estado confessa-se impotente<br />

para alterar as suas próprias regras<br />

de organização e funcionamento.<br />

Ora, se assim não fosse, competir­<br />

-lhe-ia, antes de mais, conceber<br />

modelos específicos de administração<br />

para a área da saúde, autonomizando<br />

de facto a gestão, libertando-a<br />

de burocracias excessivas,<br />

flexibilizando carreiras profissionais,<br />

criando incentivos, relacionando<br />

o financiamento com a<br />

produção, etc.<br />

2º- Não é claro que a gestão privada<br />

possa apresentar ganhos de produtividade<br />

sem pôr em causa o acesso<br />

universal e a qualidade dos actos.<br />

Por um lado, não há "competências"<br />

privadas comprovadamente<br />

habilitadas para gerir hospitais<br />

em condições de livre acesso e<br />

dando resposta a toda a casuística.<br />

De facto, a prática privada é<br />

entre nós limitada a entidades<br />

monoprodutivas ou com um "ca se~<br />

-mix" pouco diversificado e pouco<br />

diferenciado. Constituem em suma,<br />

um exercício complementar de<br />

menor incorporação técnica, todavia<br />

mais disponível e com melhores<br />

condições hoteleiras.<br />

Por outro lado, e decorrente do<br />

facto anterior, não será de estranhar<br />

que a "gestão privada de<br />

hospitais públicos utilize processos<br />

de "desnatação" do SNS, seleccionando<br />

para si casuística menos<br />

severa e mais apropriada e remetendo<br />

para outros estabalecimentos<br />

do SNS, situações mais complexas<br />

e pesadas, bem como os imprecisamente<br />

denominados "casos<br />

sociais".<br />

3º- As ineficiências e os desperdícios<br />

que se verificam hoje nos<br />

hospitais portugueses têm em grande<br />

medida causas exógenas relacionadas<br />

com o propno sistema de<br />

..<br />

saúde.<br />

O facto de a demanda hospitalar<br />

surgir em parte substancial através<br />

dos serviços de urgência, impõe<br />

desde logo custos elevados de<br />

estrutura e funcionamento dos<br />

serviços.<br />

A circunstância de os cuidados de<br />

saúde primários funcionarem institucionalmente<br />

e sem integração<br />

com os hospitais afecta sobremaneira<br />

a eficiência e a qualidade.<br />

A inexistência de serviços de retaguarda<br />

tipo nursing homes para<br />

doentes de evolução prolongada,<br />

casos terminais ou "sociais", arrastam<br />

a utilização indevida de recursos<br />

hospitalares e o abaixamento<br />

de níveis de produtividade.<br />

Ou seja, o impacte da privatização<br />

poderá ficar significativamente<br />

comprometido erri termos de ganhos<br />

de eficiência, face a estas<br />

ineficiências sistémicas que se<br />

manterão.<br />

Cenario III<br />

A contratação de serviços de terceiros<br />

para assegurar a prestação<br />

de certas tarefas de apoio geral é já<br />

um · dado adquirido dentro dos<br />

hospitais portugueses: a alimentação,<br />

a segurança, o tratamento de<br />

roupas, a higiene e limpeza são<br />

actividades já entregues em muitos<br />

estabelecimentos a empresas da<br />

especialidade.<br />

Está por fazer um estudo sério e<br />

rigoroso que estabeleça a relação<br />

custo-benefício e a relação custo­<br />

-oportunidade de tais opções. Empiricamente,<br />

todavia, parece reconhecerem-se<br />

ganhos de qualidade.<br />

A tendência para que cada "área de<br />

negócio" se concentre no seu core<br />

business e ceda a terceiros actividades<br />

que não fazem parte da sua<br />

vocação, parece ser consensual,<br />

porque permitirá aumentar "competências"<br />

específicas e libertar a<br />

gestão corrente de áreas de natureza<br />

geral e para as quais há quem<br />

faça melhor.<br />

Cenário IV<br />

A existência de "ambientes privados"<br />

de actuação no contexto de<br />

um hospital é, provavelmente, o<br />

cenário mais controverso e, porventura,<br />

menos legítimo de todos.<br />

A questão que se coloca é, substantivamente,<br />

a seguinte: dentro de<br />

um estabelecimento público cujos<br />

princípios de actuação .obedecem a<br />

critérios de natureza exclusivamente<br />

clínica (a definição de doentes<br />

prioritários, o arranjo de listas<br />

de espera, a programação de actos,<br />

etc.), vai conviver um modelo de<br />

prestação orientado por outros<br />

valores (a casuística é seleccionada<br />

com base na capacidade de ·<br />

pagar - do próprio ou de terceira<br />

entidade - e não com base na<br />

severidade ou urgência da doença).<br />

Ora, esta situação é ética e constitucionalmente<br />

insustentável, já<br />

que admite a utilização dos recursos<br />

hospitalares para fins que<br />

exorbitam claramente a sua vocação<br />

de serviço público.<br />

A menos que se verificasse a<br />

subutilização de recursos por insuficiência<br />

da procura. Neste caso,<br />

seria até um louvável acto de<br />

gestão, "vender" serviços excedentários<br />

a terceiros. Mas, na situação<br />

portuguesa, em que o acesso aos<br />

cuidados é complicado e diferido,<br />

tal cenário é revelador de uma<br />

profunda iniquidade.<br />

*<br />

* *<br />

Parece poder inferir-se do que fica<br />

dito que a privatização em saúde,<br />

excepcionando a perspectiva operacional<br />

referida em no cenário III,<br />

envolve inconvenientes ponderosos<br />

que podem desvirtuar significativamente<br />

direitos constitucionais<br />

dos cidadaos portugueses.<br />

E de facto, se a privatização de<br />

serviços de saúde for desenvolvida<br />

de forma avulsa, sem analisar bem<br />

o papel dos diferentes agentes<br />

envolvidos (financiadores, industriais,<br />

prestadores, utilizadores) e,<br />

consequentemente, actuar no sentido<br />

de criar condições para que o<br />

mercado de saúde funcione em<br />

moldes inovadores, estamos convencidos<br />

de que não trará benefícios<br />

palpáveis para os cidadãos e<br />

não passará de uma ou outra<br />

experiência isolada.<br />

Achamos que o SNS tem que<br />

mudar, passando o Estado a ser<br />

mais agente regulador e menos<br />

agente prestador.<br />

Isto representará também a separação<br />

do financiamento e da prestação.<br />

Caberá a entidades não<br />

governamentalizadas a responsabilidade<br />

da prestação, com a contrapartida<br />

de serem pagas com base<br />

em preços competitivos, que remu-.<br />

nerem o capital e o risco, mas que<br />

mantenham custos controlados<br />

com níveis de qualidade elevados.<br />

Deveremos caminhar para a criação<br />

de "fundos de saúde" de natureza<br />

pública ou privada, que<br />

correspondam ao aforro efectivo e<br />

obrigatório das famílias.<br />

Estes "fundos" traduzir-se-ão em<br />

agentes reguladores poderosos na<br />

orientação da procura e na IJiii><br />

1 O <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 11


o - - 1n1 a o<br />

~ definição das características<br />

da oferta. Esta passará a ser<br />

necessariamente competitiva, já k<br />

que a liberdade de escolha lhe ·"'<br />

impõe níveis elevados de eficiên- ,.<br />

eia e qualidade para que se<br />

posicionem favoravelmente no<br />

momento em que se estabelecem<br />

contratos globais de prestação.<br />

Esses fundos poderão apresenta'<br />

a natureza de um seguro ma:;<br />

com contornos de cariz social<br />

não forçosamente compatível<br />

com o seguro comercial tradicional.<br />

Os princípios da solidariedade,<br />

do livre acesso, de equidade e da<br />

gratuitidade tendencial não são<br />

postos em causa nos momentos<br />

de utilização, e o aforro direccionado<br />

das famílias substituiria<br />

com vantagens a parte dos<br />

impostos que é alocada para o<br />

SNS e seria directamente dedutível<br />

na respectiva colecta.<br />

O Estado poderia manter alguns<br />

hospitais sobre a sua administração<br />

indirecta. Outros poderiam,<br />

com vantagens, passar a<br />

ser geridos com a participação<br />

_mista de autarquias, misericór- .<br />

dias, outras instituições de solidariedade<br />

social e até privadas<br />

com fins lucrativos. Concomitantemente,<br />

poderia e deveria<br />

existir uma iniciativa privada e<br />

lucrativa autónoma que se bateria<br />

com as mesmas armas num<br />

mercado cujas condições seriam<br />

iguais para todos.<br />

Acabar-se-ia,. assim, com o mo-<br />

. nopólio do Estado, no financiamento<br />

e na prestação de cuidados,<br />

cujos efeitos são bem visíveis:<br />

empobrecimento crescente<br />

das prestações, aumento das<br />

dificuldades no acesso aos cuidados,<br />

ausência de liberdade dE:<br />

escolha, burocratização e desperdício.<br />

Provavelmente gastar-se-ia mais<br />

dinheiro na saúde dos portugueses.<br />

Mas seria com certeza utilizado<br />

em seu efectivo benefício e<br />

com níveis ~e qualidade e adequação<br />

substancialmente mais<br />

elevados.<br />

Privatize-se, pois . . . neste<br />

sentido! 1<br />

* Administrador hospitalar<br />

A 8tica na actividade<br />

hospitalar<br />

Paula Apolinário Sousa *<br />

uando, em 1984t a<br />

revista GESTAO<br />

HOSPITALAR publicou<br />

um artigo<br />

sobre as Comissões<br />

de Ética nos Hospitais,<br />

da autoria do<br />

professor Daniel<br />

Serrão, não só demonstrou um<br />

enorme espírito de ~ntecipação,<br />

como também, ~ naturalmente,<br />

uma real preocupação com um<br />

tema que hoje está a ser alvo de<br />

grandes debates e objecto de referência<br />

obrigatória em momentos de<br />

decisão crucial.<br />

As questões éticas que se colocam<br />

no campo das decisões em saúde são<br />

de tal forma complexas que têm<br />

levado prescritores e órgãos de<br />

decisão e gestão a invocar cada vez<br />

com maior frequência este conceito.<br />

A. palavra ética (do grego éthikos,<br />

que significa costumes, hábitos,<br />

carácter) é do ponto de vista etimológico,<br />

o estudo dos costumes, das<br />

formas que reveste ou das normas<br />

que devem •reger a conduta do·<br />

homem.<br />

Objecto de estudo desde tempos<br />

recuados, a filosofia ética apenas<br />

Maria Armanda Miranda **<br />

nasce quando Sócrates abre a via do<br />

fundamento antropológico, ou seja,<br />

quando a razão se debruça sobre a<br />

consciência actuante (Cf. Enciclopédi~<br />

FOCUS, Vol.2, Lisboa, 1968,<br />

S.V.Etica).<br />

Filósofos como Platão, Aristóteles.<br />

Kant, Comte, Stuart Mill, Nietzs:<br />

che, Jean Paul Sartre expressaram·o<br />

seu conceito de ética.<br />

No entanto, é imprevisível a geração<br />

de futuros conceitos, dado<br />

tratar-se de um tema que questiona<br />

o que de mais importante existe na<br />

vida humana.<br />

Evoluindo, portanto, dum conceito<br />

moral, hoje em dia o termo é<br />

entendido em sentido mais vasto, o<br />

qual, não contrariando aquele, o<br />

complementa com aspectos de ordem<br />

filosófica e de direito, particulares<br />

de cada comunidade, de cada .<br />

região e mesmo de cada país.<br />

O exercício profissional<br />

nos serviços de saúde e a ética<br />

A prestação de cuidados de saúde é<br />

uma actividade exercida por homens<br />

em benefício de outros homens<br />

que se encontram em situação<br />

de vulnerabilidade. Parece tratar-<br />

•<br />

se, sem sombra de dúvida, de uma<br />

relação com uma grande componente<br />

ética, e não meramente de<br />

uma relação técnica.<br />

Exige-se que esta relação, profissional<br />

de saúde/doente, seja norteada<br />

pela competência, pelo civismo,<br />

pela solidariedade e pela inter­<br />

-ajuda. O doente encontra- ~ e , pela<br />

sua própria condição de doença,<br />

numa situação de fragilidade, de<br />

fraqueza, de inferioridade.<br />

Compete a todos os profissionais de<br />

saúde estabelecer com o doente um<br />

relacionamento orientado por um<br />

rigoroso condicionamento ético.<br />

Nos dias de hoje, em que os meios<br />

complementares de diagnóstico são<br />

frequentemente invasivos, passando<br />

pela utilização de equipamentos<br />

altamente sofisticados (e, por que<br />

não dizer-se, altamente assustadores)<br />

é preciso que o doente seja<br />

devidamente acompanhado com<br />

palavras tranquilizadoras, elucidativas<br />

e com a atenção que merece.<br />

Ou não será à volta do doente que<br />

giram todas as instituições prestadoras<br />

de cuidados de saúde?<br />

Preocupações deste t~or estão presentes<br />

no Parlamento Europeu, que<br />

prepara uma Carta de Direitos do<br />

Doente que envolve aspectos fundamentais<br />

ligados à ética.<br />

O doente não pode ser encarado<br />

apenas como um corpo, uma coisa.<br />

O doente é um ser humano onde<br />

qualquer tipo de intervenção, qualquer<br />

tipo de relacionamento tem de<br />

ser pautado por princípios de respeito<br />

e solidariedade.<br />

Parafraseando o prof. Daniel Serrão,<br />

diríamos que "toda a gente é<br />

pessoa; mas o doente é mais pessoa<br />

que toda a gente".<br />

Foi com o objectivo de zelar pela<br />

correcta aplicação das normas éti-<br />

O doente é um ser humano onde qualquer tipo de<br />

intervenção, qualquer tipo de relacionamento tem<br />

de ser pautado por princípios de respe ito e<br />

solidariedade. Para{ rase ando o prof. Daniel<br />

Serrão, diríamos que "toda a gente é pessoa; mas<br />

o Mente é mais pessoa que toda a gente".<br />

cas que deverão reger a prestação<br />

de cuidados de saúde e o comportamente<br />

dos prestadores que, nos<br />

inícios da década de 80, começaram<br />

a surgir, de forma espontânea e<br />

inf qrmal, as primeiras Comissões<br />

de Etica nos ho9pitais portugueses.<br />

Comissões de Etica sem carácter<br />

institucional, sem valor legal, mas<br />

que teriam a grande faculdade de<br />

poder emitir recomendações e directrizes<br />

em nome do Homem e da<br />

sua dignidade, promover a educação<br />

ética da comunidade hospitalar ·<br />

e proceder à análise de casos<br />

concretos que contivessem questões<br />

de índole ética.<br />

Comissões de Ética cuja constituição<br />

não obedeceu a orientações enunciadas<br />

superiormente, mas cujos membros<br />

de qirácter íntegro baseariam<br />

os pareceres na sua consciência<br />

ética, nas declarações internacionais<br />

existentes sobre a matéria e<br />

nos códigos deontológicos.<br />

As Comissões de Ética<br />

e o Dec.·Lei 97/94, de 9 de Abril<br />

O Dec. Lei nº 97 /94 é o primeiro<br />

diploma legal que refere a necessidade<br />

da existência de Comissões de<br />

'<br />

Etica nos serviços de saúde. Embora<br />

o obj ecto deste decreto se<br />

confine à realização de ensaios<br />

clínicos, estão, no mesmo, claramente,<br />

definidos três princípios de<br />

carácter ético desde sempre atribuídos<br />

à defesa dos direitos à vida e<br />

integridade física da pessoa humana.<br />

A saber:<br />

1- O direito a uma correcta<br />

informação<br />

2- O consentimento livre<br />

e esclarecido<br />

3- O direi to à confidencialidade<br />

e integridade<br />

Refere-se, aliás, no preâmbulo do<br />

citado Decreto-Lei ter-se procedido<br />

~ audição da Comissão Nacional de<br />

Etica para as Ciências de Vida,<br />

para além das ordens profissionais<br />

envolvidas, revelando-se assim a<br />

preocupação de carácter ético que<br />

tais ensaios envolvem. ·<br />

Por fim, e após a definição do<br />

objecto no seu artigo 1 º, está o<br />

mesmo submetido a um princípio<br />

geral ~undamental. "O bem individual<br />

da pessoa deve prevalecer em<br />

qualquer ensaio clínico sobre os<br />

interesses da ciência e da comunidade"(<br />

artº 2º). ·<br />

Nos termos do Dec.-Lei n~ 97/94 de 9<br />

de Abril, a Comissão de Etica deve:<br />

1. Reconhecer a qualificação lllJii. .<br />

12 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 13


CIRCUITO DE ENSAIOS CLÍNICOS<br />

De»cum~nte»<br />

:Alter~ =· · ·<br />

prottltôto , ·<br />

Requer<br />

autorização<br />

Autorização<br />

prévia<br />

Recebe<br />

informação<br />

Toma<br />

conhecimento<br />

Autorização<br />

prévia<br />

A pedido<br />

Designado<br />

pelo promotor<br />

para<br />

acompanhar<br />

o ensaio<br />

clínico,<br />

relatando a<br />

sua evolução<br />

verificando as<br />

informações<br />

corrigidas<br />

mantendo-o<br />

permanentemente<br />

informado<br />

Propõe a<br />

suspensão<br />

Autoriza<br />

Autoriza<br />

Autoriza<br />

Informação Toma .<br />

conhecimento<br />

Propõe Delibera<br />

alteração do<br />

protocolo<br />

Fornece A pedido<br />

Parecer<br />

Autorização<br />

prévia<br />

Recebe<br />

informação<br />

Autorização<br />

prévia<br />

Emite<br />

parecer<br />

favorável<br />

Emite<br />

parecer<br />

Emite<br />

parecer<br />

Toma<br />

conhecimento<br />

Emite<br />

parecer<br />

Recebe<br />

informação<br />

e protocolo<br />

Recebe<br />

informação<br />

Recebe<br />

informação<br />

Toma<br />

conhecimento<br />

A pedido<br />

Toma<br />

conhecimento<br />

(l) O investigador pode assumir-se, simultaneamente, corno promotor desde que assuma as responsabilida~es iner~ntes a este último.<br />

(2) Nos estabelecimentos onde não existe Comissão de Etica não pode ser autorizada a realização de ensaios clínicos.<br />

.,.. científica do(s) médico(s) que<br />

efectuam o ensaio clínico considerando<br />

a sua qualificação profissional<br />

e o tipo de ensaio a realizar;<br />

2. Emitir parecer favorável para<br />

que o órgão de administração possa<br />

autorizar a realização dos ensaios<br />

clínicos, não podendo os mesmos<br />

realizar-se em caso contrário (no<br />

caso das instituições públicas de<br />

saúde, este parecer deve ser acompanhado<br />

de parecer igualmente<br />

favorável do Director do Serviço<br />

em que deva ocorrer o ensaio).<br />

Deduz-se claramente, tal como está<br />

explicitado no artigo 7º, que nos<br />

estabelecimentos ou unidades de<br />

saúde onde não existe comissão de<br />

ética não pode ser autorizada a<br />

realização de ensaios clínicos;<br />

3. Fiscalizar a execução dos<br />

ensaios no que respeita aos aspectos<br />

éticos de segurança e integridade<br />

dos sujeitos do ensaio clínico;<br />

4. Receber comunicação periódica<br />

dos reembolsos de despesas ou<br />

prejuízos e dos respectivos montantes<br />

que os sujeitos hajam suportado<br />

pela participação no ensaio;<br />

5. Emitir parecer para o<br />

investigador sobre as propostas<br />

de alteração do protocolo que o<br />

mesmo pretende propor na sequência<br />

dos dados parciais do ensaio<br />

clínico (modificações e suspensão);<br />

6. Receber informação do investigador<br />

das medidas tomadas perante<br />

todas as reacções adversas<br />

graves ou não esperadas;<br />

7. Emitir parecer sobre a suspensão<br />

ou renovação da<br />

autorização previamente concedi-­<br />

da pelo órgão de gestão sempre q'ile<br />

se verifiquem o vício ou existência<br />

do consentimento dos sujeitos,<br />

incumprimento do protocolo ou<br />

perigo para a saúde dos participantes,<br />

em especial, sempre que ocorram<br />

reacções adversas.<br />

Conclusão<br />

Do exposto poçle concluir-se que a<br />

Comissão de Etica é o órgão de<br />

consulta do órgão de gestão e do<br />

investigador, cujo parecer positivo<br />

é indispensável nas autorizações de<br />

realização de ensaios clínicos, bem<br />

como na sua modificação ou suspensao.<br />

A inexistência dos seus pareceres<br />

favoráveis pode dar origem à aplicação<br />

das coimas de maior valor<br />

previstas no Decreto-Lei nº 97 /94,<br />

de 9 de Abril.<br />

Conclui-se que, no que respeita à<br />

realização de , ensaios clínicos, às<br />

Comissões de Etica estão cometidas<br />

funções de consulta de grande<br />

importância, em termos do reconhecimento<br />

de idoneidade científica<br />

e técnica do investigador, das<br />

condições de realização do ensaio,<br />

das suas alterações, modificação e<br />

revogação. No entanto, parece-nos<br />

algo estranho que a esta Comissão<br />

não deva ser dada, obrigatoriamente,<br />

informação de retorno acerca<br />

do prosseguimento dos seus<br />

pareceres, bem como dos resultados<br />

·dos ensaios quando concluídos.<br />

Será que a~ competências da Comissão<br />

de Etica no que concerne<br />

aos ensaios clínicos esgotam as<br />

necessidades e especificidades da<br />

~ua intervenção?<br />

E nossa convicção que estas deve-<br />

rão ser de âmbito mais vasto. Pois<br />

que, se aspectos como acreditação,<br />

licenciamento, qualificação científica<br />

e técnica dos investigadores,<br />

informação e consentimento dos<br />

sujeitos, confidencialidade dos dados<br />

pessoais estão considerados<br />

relativamente aos ensaios clínicos<br />

e nada está contemplado relativamente<br />

à actividade diária da instituição,<br />

então, parece-nos que as<br />

Comissões referidas no presente<br />

diploma se po~eriam designar por<br />

Comissões de Etica para a Investigação<br />

Clínica. Ora, os problemas<br />

éticos que ocorrem diariamente<br />

numa instituição prestadora de<br />

cuidados de saúde são muito mais<br />

abrangentes do que aqueles que se<br />

relacionam com a realização de<br />

ensaios clínicos.<br />

Daí a importâl}cia da existência de<br />

Comissões de Etica com competência<br />

nos aspectos acima referidos e<br />

noutros relacionados com domínios<br />

que procuram determinar a qualidade<br />

da vida humana e os meios de<br />

a alcançar, tendo sempre em linha<br />

de conta o direito a uma correcta<br />

informação, o consentimento livre<br />

e esclarecido e o direito à confidencialidade<br />

e integridade.<br />

É nossa convicção que o legislador<br />

contemplará estes e outros aspectos<br />

quando for dado cumprimento ao nº<br />

3 do artº. 8º do Deccreto-Lei nº 97 /<br />

94, de 9 de Abril. 1<br />

* Administradora hospitalar,<br />

administradora delegada do IPO<br />

- Centro de Coimbra<br />

** Administradora hospitalar do IPO<br />

- Centro de Lisboa<br />

•<br />

Por uma política nacional de saúde mental<br />

As propostas da Associação<br />

Portuguesa de Saúde Mental<br />

No dia 1 O de Outubro de 1994 comemorou-se o Dia da Saúde Mental.<br />

GESTÃO HOSPITALAR, assinalando a data,publica um manifesto·<br />

-A Necessidade de uma Po lítica de Saúde Mental<br />

xiste em Portugal uma<br />

política nacional de saúde<br />

mental escrita? A<br />

política de saúde mental<br />

está integrada numa estratégia<br />

de cuidados de saúde primários?<br />

Existe um programa operacional<br />

para concretizar a<br />

política definida? Existe um<br />

esforço para incrementar as ca pacidades<br />

de planificação e administração<br />

a nível distrital e local? Estão<br />

bem especificadas as acções de promoção,<br />

prevenção, tratamento e<br />

reabilitação? A ligação entre serviços<br />

está especificada? A integração e<br />

continuidade de cuidados está assegurada?<br />

As respostas a estas e às restantes<br />

questões que integram o instrumento<br />

de avaliação da qualidade das políticas<br />

de saúde mental, recentemente<br />

criado pela OMS, são cruelmente<br />

eloquentes sobre a qualidade da<br />

política de saúde mental do nosso<br />

país: tal política simplesmente não<br />

existe.<br />

Quatro anos volvidos sobre o abandono<br />

da política seguida na década<br />

de 80, continua a ignorar-se qual a<br />

política que a irá substituir. Desde<br />

1990, nem um único documento foi<br />

publicado pelo Ministério da Saúde<br />

através do qual se possam conhecer<br />

os objectivos que se pretendem<br />

atingir na área da saúde mental, as<br />

estratégias e os programas operacionais<br />

preconizados, os métodos escolhi<br />

dos para a monitorização e<br />

avaliação dos desenvolvimentos alcançados.<br />

Os quatro anos da chamada nova<br />

orientação resumem-se afinal a uma<br />

medida administrativa -a integração<br />

dos Centros de Saúde Mental. Uma<br />

medida cujo alcance político não<br />

ultrapassou o bloqueio da dinâmica<br />

de desenvolvimento de serviços na<br />

comunidade capazes de funcionar<br />

como alternativas aos hospitais psiquiátricos.<br />

E cuja avaliação demonstra<br />

hoje à evidência o completo logro<br />

que representou aquilo que, à força,<br />

se pretendeu apresentar como a<br />

"psiquiatria nos hospitais gerais".<br />

Nem uma unidade de psiquiatria se<br />

criou nos hospitais gerais; pelo<br />

contrário, desviaram-se para outras<br />

especialidades, as que, iniciadas<br />

antes de 90, foram entretanto concluídas;<br />

e, cúmulo da ironia, a<br />

criação de unidades em novos hospitais<br />

em construção é agora cancelada<br />

porque, "com a integração", "a<br />

psiquiatria já está nos hospitais".<br />

Esta situação assume uma gravidade<br />

ainda maior se pensarmos que a<br />

recente reestruturação da orgânica<br />

geral do sistema de saúde, com a<br />

criação de regiões . e de unidades<br />

funcionais de saúde, veio exigir<br />

medidas claras que permitam articular<br />

o desenvolvimento dos serviços<br />

de saúde mental com os princípios<br />

orientadores do novo quadro dos<br />

serviços de saúde, e que nada foi<br />

pensado neste sentido.<br />

Neste contexto, a definição de uma<br />

política nacional de saúde mental e.,.<br />

14 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 15


Document<br />


Documento<br />

_,.. seguintes ratios :<br />

Médicos: um chefe de serviço<br />

por 75.000 habitantes; um assistente<br />

hospitalar por 25.000 habitantes.<br />

Psicólogos: um por<br />

50.000 habitantes. Enfermeiros:<br />

seis por 50.000 habitantes. Técnicos<br />

de Serviço Social: um por<br />

50.000 habitantes. Terapeutas<br />

Ocupacionais: um por 50.000<br />

habitantes.<br />

Nas áreas correspondentes às unidades<br />

funcionais de saúde onde existem<br />

Departamentos de Psiquiatria e Saúde<br />

Mental (ex-Centros de Saúde<br />

Mental e Serviços Universitários), o<br />

desenvolvimento de serviços de acordo<br />

com este modelo não levanta<br />

problemas significativos. Basta existir<br />

vontade política de superar os<br />

constrangimentos organizacionais<br />

existentes e de planificar o desenvolvimento<br />

dos dispositivos e programas<br />

ainda não existentes.<br />

Problemas organizacionais mais<br />

complexos colocam-se, evidentemente,<br />

nas áreas actualmente assistidas<br />

pelos hospitais psiquiátricos.<br />

Considerando que toda a população<br />

portuguesa deve ter direito a cuidados<br />

de saúàe mental de igual qualidade,<br />

e que nada justifica que metade<br />

da população portuguesa fique condenada<br />

a apenas ter acesso a serviços<br />

incapazes de prestar todos os cuidados<br />

considerados indispensáveis, a<br />

APSM defende a elaboração de<br />

planos regionais que assegurem o<br />

desenvolvimento do modelo atrás<br />

apresentado nas áreas geo-demográficas<br />

assistidas pelos hospitais psiquiátricos,<br />

de acordo com os<br />

seguintes princípios:<br />

• Os sectores assistidos pelas diferentes<br />

equipas dos hospitais deverão<br />

se.r dotados dos diversos<br />

dispositivos extra-hospitalares. No<br />

que se refere ao internamento de<br />

doentes agudos, deverão criar-se<br />

unidades de psiquiatria em hospitais<br />

gerais das áreas correspondentes<br />

(devendo estabelecer-se um<br />

prazo limite para a concretização<br />

deste objectivo).<br />

• Cada equipa deverá ter a autonomia<br />

administrativa indispensável<br />

ao desenvolvimento de um programa<br />

de saúde mental na sua área de<br />

intervenção. A constituição de centros<br />

de responsabilidade a nível de<br />

cada equipa poderá, num primeiro<br />

tempo, constituir uma solução ade-<br />

•<br />

é chegado o momento de abandonar as<br />

abordagens ideológicas que caracterizaram a<br />

discussão dos problemas e de se empreender<br />

uma reflexão séria, e baseada em argumentos<br />

de ordem organizacional, sobre o modelo de<br />

administração dos serviços de saúde mental.<br />

quada, desde que permita, de facto,<br />

a gestão de recursos próprios e que<br />

seja articulada com uma estratégia<br />

geral de transferência de recursos<br />

do nível hospitalar para o nível<br />

extra-hospitalar.<br />

• A nível regional deverão estabelecer-se<br />

os mecanismos necessários<br />

ao desenvolvimento de um processo<br />

eficaz de realocação de recursos,<br />

que será indispensável a criação<br />

dos novos dispositivos.<br />

Este modelo, que nos parece ser o<br />

que melhor poderá responder às<br />

necessidades do futuro, no quadro<br />

da actual estrutura dos serviços de<br />

saúde, integra os grandes princípios<br />

preconizados pela OMS e retoma,<br />

adaptando-os às condições actuais<br />

do país, os desenvolvimentos mais<br />

fecundos da reorganização dos serviços<br />

de saúde mental registados nas<br />

últimas décadas em Portugal.<br />

Direcção dos serviços locais<br />

de saúde mental<br />

Depois de vários anos de controvérsias<br />

em torno da extinção ou não<br />

extinção dos centros de saúde mental,<br />

há que reconhecer que é chegado<br />

o momento de abandonar as abordagens<br />

ideológicas que caracterizaram<br />

a discussão dos problemas e de se<br />

empreender uma reflexão séria, e<br />

baseada em argumentos de ordem<br />

organizacional, sobre o modelo de<br />

administração dos serviços de saúde<br />

mental.<br />

A verdadeira questão é a de se saber<br />

qual o modelo capaz de assegurar<br />

uma maior eficácia:<br />

•Na gestão dos recursos existentes.<br />

• Na coordenação dos diferentes<br />

dispositivos e programas de saúde<br />

mental.<br />

• Na articulação entre as intervenções<br />

a nível hospitalar e as do nível<br />

dos cuidados de saúde primários.<br />

•Na criacão de programas comuns<br />

com a Segurança Social, o IEFP, as<br />

autarquias, etc.<br />

Na maior parte dos países desenvolvidos,<br />

todos os esforços se centram<br />

actualmente no desenvolvimento de<br />

esquemas de administração de serviços<br />

de saúde mental capazes de<br />

assegurar uma gestão integrada dos<br />

recursos e uma coordenação adequada<br />

dos programas (o que se pode<br />

verificar nas medidas recentemente<br />

tomadas na Holanda, em Inglaterra e<br />

nos Estados Unidos).<br />

Não faz sentido que, no mesmo<br />

momento, em Portugal, se caminhe<br />

em sentido inverso, privando os<br />

órgãos de direcção dos serviços de<br />

saúde mental da autonomia sem a<br />

qual não é possível uma gestão<br />

dinâmica, flexível e responsável.<br />

- Neste contexto, a APSM defende<br />

que:<br />

-A nível de cada unidade funcional<br />

de saúde, os serviços de saúde<br />

mental devem ser geridos por um<br />

órgão com a autonomia necessária<br />

a uma administração eficaz dos<br />

serviços, bem como a uma defesa<br />

adequada dos interesses da saúde<br />

mental no âmbito da divisão de<br />

recursos pelos vários serviços da<br />

unidade de saúde.<br />

- Este órgão deverá ser dotado dos<br />

meios para gerir os recursos afectos<br />

aos serviços de saúde mental e ter<br />

os poderes para estabelecer protocolos<br />

de cooperação com outras<br />

estruturas de saúde.<br />

- Este órgão deverá ainda poder<br />

estabelecer programas de intervenção<br />

em conjunto com a Segurança<br />

Social e com associações privadas<br />

de solidariedade social.<br />

- Embora haja razões para duvidar<br />

das reais capacidades da figura dos<br />

Centros de Responsabilidade para<br />

garantir a autonomia e a eficácia<br />

requeridas à administração dos<br />

serviços de saúde mental, não é de<br />

excluir a hipótese de se ponderar a<br />

..<br />

•<br />

•<br />

possibilidade da sua aplicação;<br />

desde que, naturalment.e,<br />

fique demonstrada<br />

a sua superioridade em<br />

relação a outras alternati-<br />

,<br />

vas, e so nos casos em que<br />

tal se verifique.<br />

Planeamento regional<br />

Com a recente regionalização<br />

dos serviços de saúde, o<br />

planeamento regional dos<br />

serviços de saúde mental<br />

tornou-se um instrumento<br />

essencial em qualquer processo<br />

de transformação dos<br />

serviços neste sector.<br />

Neste sentido, a APSM defende:<br />

• A extinção dos três Centros<br />

de Saúde Mental existentes,<br />

estruturas<br />

totalmente obsoletas e inoperacionais<br />

a partir do momento<br />

em que existem cinco<br />

administrações regionais de<br />

saúde.<br />

• A integração nas administrações<br />

regionais de saúde de uma componente<br />

de saúde mental, que possa<br />

assegurar a coordenação dos serviços<br />

de saúde mental da região,<br />

assim como a planificação e o<br />

desenvolvimento de novos programas<br />

nesta área. A existência desta<br />

componente específica da saúde<br />

mental justifica-se, pelo ·menos nesta<br />

fase, pela dimensão dos problemas<br />

da saúde mental e pela<br />

complexidade que necessariamente<br />

assumirá a reestruturação dos serviços<br />

de saúde mental.<br />

• A elaboração de um plano regional<br />

em cada uma das regiões. Este<br />

plano deverá definir o futuro dos<br />

actuais hospitais psiquiátricos, indicar<br />

os novos serviços, criar e<br />

estabelecer os programas operacionais<br />

para a implementação dos<br />

objectivos definidos para cada região.<br />

• A criação de um Conselho Consultivo<br />

Regional de Saúde Mental.<br />

-<br />

A questão dos hospitais<br />

psiquiátricos<br />

A transição progressiva dos sistemas<br />

centrados nos hospitais psiquiátricos<br />

para sistemas baseados na comunidade,<br />

e incluindo o internamento no<br />

hospital geral, é hoje consensual em<br />

todo o mundo.<br />

Em Portugal, cerca de 80% dos<br />

recursos continuam concentrados<br />

nos hospitais psiquiátricos. Estas<br />

instituições revelam-se. claramente<br />

incapazes de assegurar uma resposta<br />

de qualidade às diferentes necessidades<br />

de cuidados das populações.<br />

Nalguns casos, até, as pessoas que<br />

nelas se encontram internadas são<br />

obrigadas a viver em condições<br />

perfeitamente inaceitáveis num país<br />

europeu.<br />

A transição progressiva dos sistemas<br />

centrados nos hospitais psiquiátricos para<br />

sistemas baseados na comunidade, e incluindo<br />

o internamento no hospital geral, é hoje<br />

consensual em todo o mundo.<br />

Neste contexto, a APSM não<br />

pode deixar de considerar que:<br />

a) uma profunda reorganização<br />

dos hospitais psiquiátricos<br />

é inevitável nos próximos<br />

anos o que implica qecisões e<br />

planos específicos para cada<br />

'<br />

um deles, a criação de serviços<br />

alternativos na comunidade,<br />

a redefinição dos<br />

recursos afectos aos hospitais<br />

e a reciclagem do seu<br />

pessoal.<br />

b) este processo, como se tem<br />

demonstrado noutros países,<br />

exige bases técnicas, planeamento<br />

e orientações políticas.<br />

Quando se ignoram os<br />

problemas e não se tomam as<br />

medidas necessárias, os custos<br />

são maiores e, no fim, são<br />

sempre os cuidados de saúde<br />

mental que saem prejudicados.<br />

c) deverá, assim, ef ectuar-se<br />

um planeamento, a nível<br />

regional, que defina o papel de<br />

cada um dos hospitais a curto e<br />

médio prazo. Deverão, em particular,<br />

estabelecer-se regras precisas<br />

de realocação de recursos, entre as<br />

quais a de que "todo o recurso<br />

retirado no hospital é para investir<br />

na criação de novas estruturas na<br />

comunidade".<br />

Revisão da lei de saúde mental<br />

A maioria dos países europeus tem,<br />

nos últimos anos, reformulado as<br />

suas leis relacionadas com os problemas<br />

de saúde mental, reforçando os<br />

instrumentos legais que defendem os<br />

direitos dos cidadãos que sofrem de<br />

problemas de saúde mental.<br />

Neste aspecto, a situação portuguesa<br />

é particularmente grave, dado o<br />

vazio legal existente neste capítulo<br />

de há alguns anos para cá.<br />

A APSM defende a urgente revisão<br />

de toda a legislação relacionada com<br />

a saúde mental, em particular a Lei<br />

2118, e considera que este é um ponto<br />

que, mais do que qualquer outro,<br />

exige um amplo debate.<br />

Reabilitação psiquiátrica<br />

A reabilitação dos doentes mentais é<br />

hoje uma dimensão tão essencial dos<br />

cuidados que justifica uma abordagem<br />

particular. Nos últimos anos têm­<br />

-se feito progressos significativos _.,<br />

18 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 19


Documento<br />

~ nesta área. Mas é preciso não<br />

ignorar que para eles o Ministério da<br />

Saúde pouco ou nada contribuiu,<br />

quando poderia ter neste sector um<br />

papel insubstituível. ,<br />

Para que se possa recuperar o tempo<br />

perdido, impõem-se medidas urgentes,<br />

entre as quais a APSM destacaria:<br />

• Estabelecimento das bases jurídicas<br />

dé constituição e funcionamento<br />

de residências comunitárias para<br />

doentes mentais, com definição das<br />

regras de cooperação entre a Saúde,<br />

a Segurança Social e associações<br />

privadas de solidariedade social.<br />

• Estabelecimento de bases jurídicas<br />

de constituição e funcionamento<br />

de empresas ,sociais para doentes<br />

mentais.<br />

• Desenvolvimento de mecanismos<br />

de apoio a programas específicos de<br />

reabilitação e desinstitucionaliza­<br />

_ção.<br />

A concretização destas medidas não<br />

seria difícil: a experiência noutros<br />

países é vastíssima e, mesmo entre<br />

nós, o trabalho desenvolvido pela<br />

Comissão Interministerial para a<br />

Reabilitação e Desinstitucionaiização<br />

dos Doentes Mentais, que funcionou<br />

até 1990, incluía propostas<br />

válidas neste campo.<br />

Avaliação dos serviços<br />

de saúde mental<br />

A avaliação e a garantia de qualidade<br />

dos serviços representa uma das<br />

mais eficazes alavancas de transformação<br />

e progresso dos serviços.<br />

A existência de um sistema nacional<br />

de informação na saúde mental, com<br />

uma cobertura praticamente geral,<br />

torna especialmente fácil uma monitorização<br />

do desenvolvimento dos<br />

serviços. Todavia, tem que se reconhecer<br />

que as potencialidades do<br />

sistema criado estão longe de ser<br />

devidamente a provei ta das.<br />

Neste capítulo, a APSM considera<br />

que:<br />

a) deverão ser instituídos mecanismos<br />

de monitorização das actividades<br />

desenvolvidas pelos diferentes<br />

serviços e apresentados publicamente<br />

os resultados dessa avaliação<br />

permanente.<br />

b) deverão ser definidos padrões<br />

mínimos de qualidade dos serviços<br />

de saúde mental - não só a nível de<br />

estruturas e de processos, mas<br />

também de resultados. Neste último<br />

domínio, importa especialmente<br />

introduzir avaliações da satisfação<br />

e de outras dimensões da qualidade<br />

de vida dos doentes.<br />

Na sequência da definição atrás<br />

referida, deverão ser efectuadas auditorias<br />

às várias instituições psiquiátricas<br />

destinadas a verificar até<br />

que ponto se encontram nelas garantidos<br />

os padrões mínimos de qualidade.<br />

Como sucede noutros países em que<br />

se segue esta metodologia, às instituições<br />

deverão ser dados prazos<br />

20 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

determinados para superar as insuficiências<br />

registadas.<br />

Participação dos utentes,<br />

das famílias e associações<br />

não governamentais.<br />

A saúde mental é cada vez mais uma<br />

tarefa de todos, incluindo os que<br />

necessitam de cuidados. No futuro,·<br />

a cooperação dos utentes, das famílias<br />

e das organizações não governamentais<br />

tenderá a assumir um papel<br />

cada vez mais significativo. Esta<br />

evolução necessita, contudo, de ser<br />

estimulada e apoiada. Neste sentido,<br />

a APSM defende que:<br />

a) seja regulamentada e apoiada a<br />

participação dos utentes no planeamento<br />

e gestão dos serviços, a<br />

exemplo do que já se faz em muitos<br />

outros países europeus.<br />

b) sejam definidas medidas de apoio<br />

as associações de famílias que já<br />

começam a surgir entre nós e que,<br />

certamente, poderão vir a ter um<br />

papel de grande relevo no futuro.<br />

c) sejam também especialmente<br />

acarinhá.d.os tàdos os proj ectos<br />

desenvolvido_s ~e_las associações<br />

não gove,rn.~ntais, associações<br />

que, à c~st11 d€ grande esforço e<br />

entusiasmo, ... terri desenvolvido nos<br />

últimos anos um trabalho excelente,<br />

ném sempre devidamente avaliado.<br />

Criação do Conselho Nacional<br />

de Saúde Mental<br />

A criação de um Conselho Nacional<br />

de Saúde Mental, há muito defendida,<br />

assume no momento actual uma<br />

particular acuidade. A APSM defende,<br />

assim, a imediata criação deste<br />

órgão, vocacionado para dar parecer<br />

sobre todos os assuntos relevantes<br />

para a definição e desenvolvimento<br />

de uma política de saúde mental.<br />

Este Conselho deverá integrar representantes:<br />

dos vários grupos profissiorrais<br />

implicados na prestação de<br />

cuidados de saúde mental;das diversas<br />

Faculdades de Medicina e outras<br />

instituições de ensino relacionadas<br />

çom a formação em saúde mental; da<br />

Segurança Social; do IEFP; do Secretariado<br />

Nacional de Reabilitação;<br />

das entidades privadas e das organizações<br />

de solidariedade social envolvidas<br />

na prestação de cuidados de<br />

saúde mental e de associações de<br />

utentes e famílias. 1<br />

O futuro do sistema<br />

de saúde em Portugal<br />

profissão de gestor hospitalar<br />

em Portugal está hoje a<br />

passar por profundas transformações.<br />

Os gestores que<br />

exercem verdadeiramente um papel<br />

de liderança vêm reconhecendo que<br />

os seus conhecimentos serão, porventura,<br />

insuficientes para encarar<br />

os novos desafios que o sistema de<br />

saúde lhes coloca: "competição"<br />

privada, novas tecnologias de utilização<br />

cara mas dramaticamente<br />

efectivas, e expectativas crescentes<br />

para gerir a "qualidade dos cuidados".<br />

Acrescente-se ainda, a esta<br />

lista, um ponto crítico e decisivo na<br />

gestão hospitalar: desenvolver planos<br />

estratégicos para adaptar o<br />

hospital aos desafios do próximo<br />

milénio.<br />

Os gestores hospitalares têm de<br />

redefinir os seus papéis, mais em<br />

termos das pessoas que servem do<br />

que em termos da construção• de<br />

novas e maiores estruturas, ou da<br />

aquisição dos mais recentes equipamentos<br />

ou da contratação de mais<br />

pessoal. De facto, não há orçamentos<br />

ilimitados. Nem é possível encarar<br />

um número ilimitado de doentes<br />

para atender.<br />

Portugal tem nove milhões de pessoas<br />

para cuidar - nem mais, nem<br />

menos. E este número não deverá<br />

crescer no futuro, embora a sua<br />

composição venha a mudar necessariamente.<br />

Haverá menos bebés e<br />

Janet Guptill *<br />

mais idosos a viver mais anos. Os<br />

gestores hospitalares terão que<br />

a prender a fazer opções de tal modo<br />

que o conjunto de recursos de que<br />

eles dispõem para a sua comunidade<br />

sejam, de facto, ajustados às respectivas<br />

necessidades.<br />

Razão de ser<br />

do Planeamento Estratégico<br />

De uma maneira simples, um plano<br />

estratégico fornece a estrutura necessária<br />

para a tomada de decisões,<br />

por forma a atingir o máximo benefício<br />

ao mínimo custo. Um plano<br />

estratégico analisa as necessidades<br />

da comunidade e fornece uma estrutura<br />

que adapta os recursos a essas<br />

necessidades. Esclarecendo melhor,<br />

Pôr em prática um plano estratégico garante­<br />

-nos que as decisões tomadas em cadamomento<br />

não assentam em<br />

circunstancialismos políticos. Pelo contrário,<br />

são tomadas com base num entendimento<br />

sólido das tendências de longo-prazo e<br />

assentam nas projecções estatísticas da<br />

evolução das necessidades.<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 21<br />

é um desperdício de dinheiro comprar<br />

uma segunda máquina "pneumocardíaca",<br />

quando a primeira só é<br />

utilizada, em média, para 50 cirurgias<br />

do coração, por ano.<br />

Por outro lado, para uma população<br />

idosa, seria muito melhor investimento<br />

a detecção precoce de riscos<br />

d.e ataque cardíaco do que executar<br />

- 50 bl pass coronários por ano. Do<br />

mesmo modo, não fará sentido ter<br />

uma consulta de pediatria aberta das<br />

14.00 às 17.30 horas, quando os pais<br />

prefiririam levar ·as crianças ao<br />

médico antes de irem trabalhar, ou<br />

então, após o trabalho.<br />

Pôr em prática um plano estratégico<br />

garante-nos que as decisões tomadas<br />

em cada momento não assentam em<br />

circunstancialismos políticos. Pelo<br />

contrário, são tomadas com base<br />

num entendimento sólido das tendências<br />

de longo-prazo e assenta.m<br />

nas projecções estatísticas da evolução<br />

das necessidades.<br />

As questões·chave<br />

do Planeamento Estratégico<br />

Os pontos de partida para o desenvolvimento<br />

de um plano estratégico<br />

assentam quer numa análise do<br />

"ambiente" externo, quer numa análise<br />

das condições internas.<br />

Numa perspectiva externa, destaca­<br />

-se, entre outras, as seguintes informações:<br />

1- Número de habitantes por idade e.<br />

sexo, por zona geográfica e respectivas<br />

projecções entre 5 e 10 anos;<br />

2- Dados históricos sobre taxas de<br />

utilização (por exemplo taxas de<br />

admissão para internamento) que<br />

mostrem a utilização de cuidados de<br />

saúde por idade e sexo e por diagnóstico<br />

(GDH), para uma dada zona<br />

geográfica;<br />

3- Tendências da tecnologia médica e<br />

suas consequências, ao nível das<br />

mudanças nas prestações ambulatórias,<br />

novas tecnologias, diagnósticos<br />

e terapias hodiernas, menos invasivas<br />

e de custo mais baixo.<br />

Na perspectiva interna, destaca-se a<br />

seguinte informação:<br />

1- Estatísticas de utilização por tipo<br />

de prestação, mostrando a . idade, o<br />

sexo, o diagnóstico e o recurso<br />

utilizado (dias de internamento,<br />

minutos em cirurgia, medicamentos<br />

e outros fornecimentos, etc.); ·<br />

2- Dados financeiros relacionando ...


~ recursos utilizados e respectivos<br />

custos (pessoal e material por dia de<br />

internamento, custos do equipamento,<br />

gastos administrativos e outras<br />

despesas gerais);<br />

3- Inquéritos sobre a satisfação dos<br />

clientes e outras medidas de resultados<br />

na perspectiva da qualidade, tais<br />

como percentagens específicas de<br />

óbitos, taxas de readmissão e erros<br />

' I '<br />

c1rurg1cos.<br />

Todos estes dados podem, então, ser<br />

combinados para criar cenários de<br />

futuro alternativos, utilizando modelos<br />

informáticos simples.<br />

Por exemplo:<br />

Um plano estratégico global, assente na<br />

população e nas suas necessidades,<br />

fornecerá com certeza as respostas para as<br />

questões complexas que giram à volta das<br />

prioridades de financiamento em sistemas de<br />

saúde.<br />

regime ambulatório.<br />

Usando estas fórmulas e as estatísticas<br />

portuguesas (Estatísticas da Saúde,<br />

Portugal, 1991/2) e considerando<br />

um ligeiro decréscimo, quer nas<br />

• População x taxa de admissão = Nº de admissões (por GDH/área clínica)<br />

• Nº de admissões x Demora média = Nº de dias de internamento<br />

• Dias de internamento : 365 : 80% (T.0.) = Nº de camas necessárias (por serviço)<br />

As tendências da tecnologia médica<br />

vêm reduzindo as taxas de internamento<br />

(esta medida em que as<br />

prestações clínicas podem ser crescentemente<br />

realizadas em regime<br />

ambulatório), e também as "demoras<br />

médias" (em parte por questões<br />

sociais, já que muitos doentes permanecem<br />

por longos períodos em hospitais,<br />

para além do clinicamente<br />

necessário, devido à ausência de<br />

condições familiares e habitacionais<br />

de suporte).<br />

Podem, assim, perspectivar um sistema.<br />

de saúde que, servindo a mesma<br />

população, o faz com menos camas<br />

hospitalares, mas com mais recursos<br />

destinados a áreas de tratamento em<br />

Diferença. ~ntre Hoss:-itais<br />

taxas de admissão quer na "demora<br />

média", podemos construir o seguinte<br />

cenário das camas hospitalares<br />

necessárias em Portugal (estes cálculos<br />

não equacionam eventuais e<br />

previsíveis mudanças no care-mix<br />

hospitalar).<br />

1992 <strong>1995</strong><br />

População 9 840 000 9 840 000<br />

Taxa de admissão<br />

(por mil habitantes) 178.0 150.0<br />

Demora média 8.5 6.0<br />

Camas necessárias 50 986 30 329<br />

Lotação oficial 43 684 43 684<br />

Novas camas 7 302 -<br />

Excesso de célmas . - 13 355<br />

Este exemplo não pretende ser uma<br />

l!ll<br />

o<br />

Cardiologia Ortopedia Medicina Interna ORL Cirurgia Cardio-torácica<br />

Obstetrícia Cirurgia Geral Oftalmologia Ginecologia<br />

fjôtt\lftàl 111 u, , . ~1à<br />

Fonte: Estatísticas da Saúde 91/92 - Portugal I991 National Hospital Discharge Survey the Sachs Group U.S.A.<br />

formulação rigorosa e definitiva<br />

sobre a necessidade de camas em<br />

'<br />

I<br />

Portugal. E apresentado apenas para<br />

ilustrar um modelo que pode ser<br />

elaborado com dados actualizados e<br />

disponíveis.<br />

Para além disso, esttes cálculos<br />

devem ser orientados segundo a<br />

idade e o sexo da população e por<br />

diagnóstico, por forma a quantificar­<br />

-se com rigor o tipo de recursos que o<br />

hospital deve disponibilizar.<br />

Portugal deve investir mais dinheiro<br />

na bertura de salas de operações<br />

para cirurgia ambulatória ou, em<br />

alternativa, investir em programas<br />

cirúrgicos para doentes internados<br />

(coração aberto, transplante de órgãos,<br />

etc.)? Deverá Portugal investir<br />

na construção de unidades de cuidados<br />

intensivos destinados a idosos<br />

(cardiologia, oncologia, nefrologia,<br />

etc.) ou, em alternativa, destinados<br />

a doentes mais novos (traumatologia,<br />

medicina desportiva, especialidades<br />

pediátricas )?<br />

Um plano estratégico global, assente<br />

na população e nas suas necessidades,<br />

fornecerá com certeza<br />

as respostas para<br />

estas e outras questões<br />

complexas que giram à<br />

volta das prioridades<br />

de financiamento em<br />

sistemas de saúde. •<br />

* Gestora<br />

de Serviços de Saúde<br />

22 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>


Entr~vista<br />

"O perfil exigido para o lugar de administrador-delegado aponta claramente para uma f armação específica<br />

facultada pelo curso de Administração <strong>Hospitalar</strong>", afirma Lopes Martins, Secretário de Estado da Saúde.<br />

Em sua opinião, "os profissionais que forma têm, na sua grande maioria, uma preparação de nível elevado e a<br />

sua alta qualificação é hoje genericamente reconhecida".<br />

ministra or - e e a o<br />

eve ter ormação especí ica<br />

ESTAO HOSPITALAR - O<br />

Senhor está praticamente<br />

há um ano a desempenhar<br />

as funções de Secretário<br />

de Estado da Saúde. Que balanço<br />

faz deste primeiro ano de governo?<br />

Que áreas especificas tem<br />

privilegiado na sua actuação?<br />

LOPES MARTINS - Obj ectivamente,<br />

um balanço positivo; de facto,<br />

em desenvolvimento do Programa<br />

do Governo, a acção do Ministér.io<br />

neste último ano foi orientada por<br />

três grandes eixos: aumentar a acessibilidade,<br />

reformular o financiamento,<br />

incrementar a eficiência.<br />

24 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

Relativamente a cada um destes<br />

objectivos, foram dados passos seguros<br />

de forma gradualista, constituindo<br />

um mix coerente de medidas, quer<br />

em matéria organizacional - como<br />

por exemplo a criação e o desenvolvimento<br />

do conceito de unidades de<br />

saúde e a distribuição mais equitativa<br />

de efectivos médicos através de<br />

concursos abertos em moldes que<br />

garantam o efectivo preenchimento,<br />

quer no iflcremento da eficiência<br />

concretizando a natureza mista do<br />

sistema de saúde, reorientando o<br />

papel do Estado como garante da<br />

prestação de cuidados e não necessariamente<br />

e sempre como executante -<br />

foram celebrados em 1994, 18 protocolos<br />

com Misericórdias para a prestação<br />

de cuidados continuados; está<br />

em curso o processo de selecção para<br />

a gestão privada de um hospital<br />

público e em fase de conclusão o<br />

diploma que viabiliza a gestão de<br />

centros de saúde ou a prestação de<br />

cuidados por grupos de médicos, quer<br />

ainda em matéria financeira, através<br />

do aprofundamento de medidas de<br />

rigor e contenção nas despesas e,<br />

muito importante, da recuperação<br />

da dívida a fornecedores com utilização<br />

de mecanismo financeiro extraordinário<br />

.<br />

Existe, podemos dizer, uma atenção<br />

sistemática e constante a todas as<br />

áreas; aliás, em saúde, dada a premência<br />

e a pressão de soluções em<br />

problemas de enorme diversidade que<br />

se revestem de natureza quase corrente,<br />

é difícil, muito difícil, estabelecer<br />

áreas privilegiadas.<br />

Naturalmente que são as múltiplas<br />

vertentes do financiamento que mais<br />

e maior preocupação suscitam.<br />

GESTÃO HOSPITALAR - É universalmente<br />

reconhecido que o<br />

crescimento das despesas da saúde<br />

tende a ser superior ao crescimento<br />

das economias dos<br />

diferentes países. Da contenção<br />

de custos, através de medidas<br />

inibidoras da utilização (anos 80),<br />

assiste-se agora, na Europa e nos<br />

EUA, por ex., a tentativas<br />

de racionalização dos sistemas<br />

de saúde (incrementando<br />

a eficiência,<br />

estabelecendo prioridades<br />

mais "custo-efectiv<br />

as", separando o<br />

financiamento da prestação,<br />

etc). O que se lhe<br />

oferece dizer sobre esta<br />

matéria e que medidas<br />

está o Governo a adoptar<br />

no sentido de introduzir<br />

maior racionalização no<br />

sistema?<br />

,<br />

"A acção do Ministério neste último ano foi orientada por três grandes<br />

eixos: aumentar a acessibilidade, reformular o financ iamento, incremen­<br />

·tar a eficiência".<br />

E patente a racionalização já<br />

LM - De facto existiu<br />

(talvez ainda exista nalgualcançada<br />

em 1994. O total<br />

das despesas públicas de<br />

saúde cresceu em 1994<br />

relativamente a 1993,<br />

6,8o/o, quando, como disse<br />

atrás, o crescimento médio<br />

nos últimos anos foi de cerca<br />

de 19%.<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 25<br />

ma medida e junto de algumas<br />

pessoas) uma tendência para que o<br />

crescimento dos custos seja acompanhado<br />

de uma disponibilização crescente<br />

dos recursos provenientes dos<br />

orçamentos nacionais, sabendo-se<br />

que, tal acréscimo é feito, muitas<br />

vezes, com limitados ganhos no estado<br />

de saúde das populações.<br />

Em Portugal e na Europa a progressão<br />

real das despesas de saúde<br />

ultrapassa largamente o crescimento<br />

do PIB.<br />

Entre 1985 e 1994 as despesas públicas<br />

com saúde cresceram entre nós<br />

em média, 19% ao ano; o défice de<br />

exploração, ainda que reduzido em<br />

cada ano (cerca de 5%/ano), tem<br />

vindo a acumular-se desde há duas<br />

decadas.<br />

Para <strong>1995</strong>, em Portugal e num contexto<br />

em que as despesas de funcionamento<br />

do Estado crescem menos<br />

que a inflação, há mesmo assim um<br />

aumento do peso das funções sociais<br />

do Estado (54, 7% do total, excluindo<br />

as despesas com a dívida pública).<br />

As despesas públicas com saúde<br />

ultrapassarão, em <strong>1995</strong>, 5% do PIB.<br />

Reconhece-se um pouco por toda a<br />

parte que as despesas públicas com a<br />

saúde não podem continuar a crescer<br />

ao ritmo que têm crescido.<br />

Verifica-se por um lado um ímpeto na<br />

adopção de políticas alternativas de<br />

financiamento e por outro lado um<br />

reaquacionar da afectação e distribuição<br />

dos recursos, visando o aumento<br />

da eficiência.<br />

De facto, em face da verdade incontestável<br />

de que os meios são limitados<br />

e quase sempre insuficientes, existe<br />

a preocupação dominante,<br />

transmitida aos vários níveis<br />

da rede dos serviços de<br />

saúde, de prosseguimento<br />

co nstante de melhoria<br />

quantitativa e qualitativa<br />

do desempenho das organizações<br />

e da ponderação<br />

sistemática dos benefícios<br />

marginais, isto é do que se<br />

perde reduzindo despesas,<br />

ou mais propriamente, que<br />

benefícios adicionais se obtêm<br />

com o crescimento dos<br />

gastos.<br />

E patente a racionalização<br />

já alcançada em 1994. Não ..,_


_... obstante o crescimento da produção<br />

de cuidados de saúde, a evolução<br />

qualitativa verificada e a melhoria de<br />

resultados, o total das despesas<br />

públicas de saúde<br />

cresceu em 1994 relativamente a 1993<br />

6,8%, quando, como disse atrás, o<br />

crescimento médio nos últimos anos<br />

foi de cerca de 19%.<br />

GESTÃO HOSPITALAR - O Senhor<br />

Ministro da Saúde lançou de<br />

forma explicita o debate sobre o<br />

financiamento da Saúde, dramatizando<br />

o postulado do subfinanciamento<br />

estrutural. Atendendo<br />

ao crescimento das despesas públicas<br />

da Saúde nos últimos anos e<br />

à repartição das despesas totais<br />

da saúde entre o "Público" e o<br />

"Privado", como é que encara este<br />

problema, quando, por esta via, se<br />

secundarizam as questões da eficiência<br />

técnica e distributiva?<br />

LP - Não me parece existir dramatização<br />

na constatação serena de uma<br />

situação que, embora continuada não<br />

é estrutural e que, se encarada<br />

frontalmente, é susceptivel de ser<br />

fortemente minorada através do combate<br />

ao desperdício, através da melhoria<br />

do desempenho das instituições<br />

e da sua eficiência e através da<br />

diversificação de fontes de financiamento.<br />

A relevante questão público/privado<br />

é extraordinariamente vasta, de incidências<br />

várias e nem sempre tratada<br />

com rigor.<br />

A análise comparada deve ser feita de<br />

uma forma unívoca, com dados nacionais<br />

e de outros países absolutamente<br />

homólogos .<br />

Não é raro ver algumas conclusões<br />

(sobretudo procurando inferir a elevada<br />

percentagem de despesas privadas<br />

nas despesas totais de saúde)<br />

baseadas em items não equivalentes .<br />

Por outro lado esta questão está<br />

obviamente ligada a ciclos<br />

e à vida económica de cada<br />

,<br />

pais.<br />

A desaceleração do crescimento<br />

económico e o aumento<br />

dos défices orçamentais<br />

tem levado os países a<br />

uma redução do crescimento<br />

das despesas públicas.<br />

Em Portugal a percentagem<br />

das despesas públicas<br />

nas despesas totais de saúde<br />

era em 1970 de 89%, em<br />

1975 de 68,9%, em 1985 de<br />

A rede hospitalar portuguesa há-de ser<br />

sempre integrada por hospitais públicos<br />

com gestão pública e por hospitais<br />

públicos com gestão privada.<br />

56,3% e em 1992 de 69,8%. Neste<br />

mesmo ano a média nos países da<br />

OCDE era de 75, 8%, mas significativamente<br />

nos 24 países os únicos<br />

crescimentos da componente despesas<br />

públicas nas despesas totais de<br />

saúde entre 1985 e 1992 foram na<br />

Bélgica, nos Estados Unidos e em<br />

Portugal; em três outros mantiveram­<br />

-se constantes e em todos os outros<br />

baixou.<br />

GESTÃO HOSPITALAR - Mas,<br />

em matéria de financiamento, a<br />

questão aparentemente mais polémica,<br />

prende-se com a hipótese<br />

dos cidadãos passarem a pagar,<br />

em parte substancial, a utilização<br />

dos cuidados de saúde no âmbito<br />

do SNS. De inspiração confessadamente<br />

tecnocrática, tal cenário<br />

tem, no entanto, sido objecto de<br />

profunda controvérsia ideológica<br />

à volta do carácter social da<br />

Saúde, da solidariedade, da descriminação<br />

e da emergência de<br />

cuidados de saúde elitistas. Como<br />

encara politicamente esta controversa<br />

questão, sabendo-se, até,<br />

que em todos os países de maior<br />

rendimento se procuram (ou exis- ·<br />

tem já) modelos que, precisamente,<br />

afastem a ideia do<br />

pagamento no momento da utilização?<br />

LP - O carácter social da saúde e a<br />

sua natureza de bem fundamental<br />

não evita infelizmente que os cuidados<br />

tenham que ser pagos.<br />

Eliminando o pagamento no<br />

acto da utilização, há que<br />

introduzir no sistema de<br />

financiamento da saúde diversidade<br />

de fontes, co-re -<br />

ponsabilização, selectividad<br />

desfavorecidos (como inequivocamente<br />

o faz a lei<br />

portuguesa) e, por outro<br />

lado assegurando que os<br />

doentes não paguem cuidados<br />

médicos muito caros<br />

relativamente aos seus rendimentos<br />

e que o preço seja<br />

em função da sua capacidade<br />

de pagamento.<br />

O modelo em concreto e a<br />

operacionalização destes<br />

princípios - estes sim incone<br />

solidariedade<br />

26 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

É perfeitamente claro que a gratuitidade<br />

é um mito, porventura bem<br />

intencionado mas bastante equívoco<br />

e socialmente injusto pelas razões<br />

que todos conhecemos.<br />

Retirado este ponto da controvérsia<br />

vamos ver como poderá ser suportado<br />

o aumento constante das despesas de<br />

saúde.<br />

Primeira hipótese: só a partir de<br />

orçamentos do Estado? Incrementando<br />

as receitas fiscais? Reafectando<br />

despesas, quando as funções sociais<br />

do Estado absorverão em <strong>1995</strong>, 75%<br />

do acréscimo global da Despesa<br />

Pública?<br />

Quero crer que ninguém hoje, com<br />

alguma preocupação de visão global<br />

dos problemas, poderá considerar<br />

consistente esta hipótese.<br />

Então, independentemente do modelo<br />

concreto, e eliminando naturalmente<br />

o pagamento no acto da utilização,<br />

há que introduzir no sistema de<br />

financiamento da saúde diversidade<br />

de fontes, co-responsabilização, selectividade<br />

e solidariedade.<br />

Obviamente sempre com respeito<br />

pelo princípio da equidade - todos<br />

os cidadãos deverão poder beneficiar<br />

dos cuidados médicos efectivamente<br />

necessários e a mesma necessidade<br />

deverá corresponder o mesmo tratamento,<br />

e com respeito pela protecção<br />

dos rendimentos dos cidadãos - desde<br />

logo isentando de qualquer co-responsabilização<br />

os que se encontram<br />

em situações clínicas ou pertençam a<br />

grupos sociais de risco e aqueles que<br />

financeiramente são mais<br />

..<br />

•<br />

Entrevista<br />

troversos e inabaláveis -<br />

fissionais de gestão hospitalar<br />

virá a ser brevemente<br />

vêm<br />

objecto de discussão pública,<br />

já que uma questão<br />

como esta diz respeito a<br />

todos e tem que ser serena<br />

e objectivamente reflectida,<br />

sem apropriações, sem<br />

demagogias e sem utilização<br />

indevida como arma<br />

fácil de arremesso por<br />

parte daqueles para<br />

quem é pouco relevante<br />

o mérito da solução, interessando<br />

muito mais<br />

contrariar a solução pelo<br />

facto de ser da iniciativa<br />

de origem político-partidária<br />

diferente.<br />

reassumindo um crescente<br />

protagonismo na<br />

administração dos hospitais<br />

e de outros serviços<br />

de saúde.<br />

1. Admite V. Exa. que a<br />

lei de gestão hospitalar<br />

possa vir a garantir a<br />

profissionalização desses<br />

importantes cargos?<br />

2. Considera a actual<br />

carreira de ac4ninistração<br />

hospitalar, ajustada<br />

à presente situação e aos<br />

desafios do futuro?<br />

3. E quanto ao Curso de<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong>.<br />

Que linhas de evolução<br />

GESTÃO HOSPITA­<br />

deveria prosseguir?<br />

LAR - A ideia de privatizar<br />

LP - A actual lei de gestão<br />

a questão de<br />

já garante a profissionali­<br />

unidades hospitalares<br />

zação de cargos de administração<br />

parece ser uma tentativa<br />

hospitalar (v.g.<br />

de ensaiar processos<br />

na gestão de centros de<br />

mais eficientes de gestão<br />

hospitalar. cuidados médicos efectivamente necessários e à mesma fil exigido para o lugar de<br />

"Todos os cidadãos deverão poder beneficiar dos responsabilidade) e o per­<br />

1. Pensa que a privatização<br />

da gestão será de<br />

aponta claramente para<br />

necessidade deverá corresponder o mesmo tratamento". administrador-delegado<br />

facto uma solução a estender para a gestão de centros de saúde e uma formação específica facultada<br />

futuramente a todos os hospitais para a prestação de cuidados. Aqui, o pelo curso de administração hospitaportugueses?<br />

Estado não aliena a titularidade e a lar. Considero que não é pelo facto de<br />

2. E em que áreas pensa ser responsabilidade; estes mecanismos este requisito não estar expressa e<br />

possível obter ganhos de eficiência?<br />

Estado na protecção da sa4de mas que deixa de haver por parte de<br />

não afectam a responsabilidade do peremptoriamente previsto na lei,<br />

3. Está aberto concurso para a visam obter o máximo de utilidade no quem propõe e por parte de quem<br />

gestão privada do Hospital da aproveitamento dos bens públicos, nomeia, a designação de pessoas com<br />

Amadora. Prevê sucesso nessa através de ganhos de eficiência reco- formação em administração hospitanhecidos<br />

à actividade prívada e aos lar e com características comporta-<br />

iniciativa, face à "blindagem"<br />

(aliás responsável e necessária) mecanismos que ela pode utilizar. mentais adequadas.<br />

do caderno de encargos?<br />

Naturalmente que esta solução é O que me parece inquestionável é que<br />

Tem novidades , sobre o assunto? ·estudada caso a caso e lançada só as escolhas para integrar os Consequando<br />

as circunstâncias o determi- lhos de Administração dos Hospitais<br />

LP - E de facto em nome da<br />

eficiência, da flexibilidade de gestão,<br />

da redução do peso do Estado a há-de ser sempre integrada por hos- administração da saúde, têm sido<br />

nem. A rede hospitalar portuguesa e de outros lugares de relevo na<br />

quem compete um papel de garante pitais públicos com gestão pública e feitas à luz de critérios de competênpor<br />

hospitais públicos com gestão eia, de capacidade, de isenção de<br />

da prestação de cuidados e não,<br />

necessariamente sempre o executante.<br />

Necessariamente que o concurso e espírito de missão. O curso de Admi­<br />

privada.<br />

profissionalismo e quantas vezes de<br />

Ainda visando a concretização da caderno de encargos que suporta esta nistração <strong>Hospitalar</strong> faculta · uma<br />

natureza mista do sistema de saúde solução tem que ter em conta a formação prestigiada no país e no<br />

por estímulo ao desenvolvimento do especial natureza da figura jurídica estrangeiro, actualizada e adaptada<br />

sector privado, e agora na componente<br />

do SNS, o Estado pretende, por um do serviço a gerir.<br />

Os profissionais que forma, têm na<br />

de gestão indirecta e a especificidade às necessidades do sistema de saúde.<br />

lado, incrementar os mecanismos Aquilo a que uns chamam blindagem, grande maioria uma preparação de<br />

empresariais já existentes, mecanismos<br />

tipo mercado, em serviços públirazão,<br />

prudência e segurança. ção é hoje genericamente reconheci­<br />

outros chamarão com bem mais nível elevado e a sua alta qualificacos,<br />

e por outro lado, introduzir a processo do Hospital Amadora- da, quer em função da actuação que<br />

incentivos através dos contratos de -Sintra está neste momento em fase desenvolvem nas várias áreas e níveis<br />

gestão privada de unidades públicas de apreciação de propostas. da administração dos hospitais, quer<br />

e do lançamento de mecanismos de<br />

âo papel que desempenham em muiconvenção<br />

com um grupo de médicos GESTÃO HOSPITALAR - Os pro- tas outras estruturas da saúde. •<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 27


lnv~stigaçãe><br />

Despesas com a Saúde em Portugal<br />

O debate sobre o crescimento dos gastos em saúde nas sociedades mais<br />

desenvolvidas tem sido, nos últimos anos, uma constante. Em alguns<br />

casos, com especial relevância para os Estados Unidos, o aumento dos<br />

gastos tem mesmo justificado processos de reforma do sistema de saúde,<br />

COfr! maior ou menor profundidade.<br />

Francisco Ramos*<br />

m Portugal, país em que a<br />

discussão sobre temas de administração<br />

de saúde é ainda<br />

muito escassa, a questão dos<br />

gastos tem merecido alguma atenção,<br />

embora só muito espaçadamente<br />

apareçam estudos sérios e rigorosos<br />

sobre esta matéria. A sua ausência<br />

permite uma situação em que se<br />

confrontam argumentos contraditórios,<br />

tais com.o "Portugal é o país<br />

europeu em que menos se gasta em<br />

saúde" ou "nos anos mais recentes,<br />

Portugal tem feito um importante<br />

esforço de investimento na saúde".<br />

Estes argumentos, não sendo falsos,<br />

só podem ser admitidos à discussão<br />

num panorama de escassez de- informação<br />

fiável, adequada e atempada,<br />

sendo normalmente usados em conformidade<br />

com as posições de "partida"<br />

do analista. A ausência de<br />

estudos é, por um lado, sintoma do<br />

estado amorfo em que técnicos,<br />

administradores e investidores têm<br />

vivido e, por outro lado, revelador do<br />

desinteresse do poder . político em<br />

fomentar estudos independentes que<br />

Maria João Amaral**<br />

possam auxiliar a tomada de decisão.<br />

A importância do conhecimento e<br />

evolução da estrutura dos gastos em<br />

saúde não constitui um fim em si<br />

mesmo, mas permite lançar pistas e<br />

fundamentos para a discussão sobre<br />

o modo como qualquer sistema de<br />

saúde, independentemente do seu<br />

modelo organizacional, está a cumprir<br />

os objectivos gerais de:<br />

1)- eficácia, promovendo o uso de<br />

técnicas clínicas que satisfaçam as<br />

necessidades individuais dos utentes·<br />

'<br />

2)- efectividade, garantindo a me-<br />

lhoria do nível de saúde da população<br />

coberta;<br />

3)- eficiência, garantindo que os<br />

cuidados sejam prestados com um<br />

nível de utilização dos recursos<br />

disponíveis aceitável pela sociedade;<br />

4)- equidade, afectando os recursos<br />

de modo a promover uma distribuição<br />

justa dos benefícios.<br />

Todos estes objectivos também se<br />

encontram expressos na legislação<br />

portuguesa, nomeadamente na Base<br />

II da Lei de Bases da Saúde de 1990,<br />

actualmente em fase de regulamentação.<br />

Neste artigo, os autores procuram<br />

relançar o debate sobre este<br />

assunto. Longe ainda de ousarem<br />

reinventar a roda, apresenta-se alguma<br />

informação disponível sobre gastos<br />

públicqs 'd~ mocfo a discutir<br />

alguns tópicos que até aqui têm sido<br />

tratados como . axiomas e até, nalguns<br />

casos, c"mo dogmas.<br />

Assim, estudo'Q-se a evolução dos<br />

gastos púb1icos "(SNS + ADSE) ao<br />

longo do ·período 1980-92, tentando<br />

uma actualização de outros trabalhos<br />

já realizados para a década de<br />

70 (Campos) e para o período 74-84<br />

(Mantas).<br />

Comparações internacionais<br />

A Figura 1 apresenta a evolução da<br />

percentagem de gastos em saúde no<br />

PIB no período 1980 a 1990, comparando<br />

o caso português com a média<br />

dos países que integram a Comunidade<br />

Europeia.<br />

Uma primeira constatação diz respeito<br />

ao aumento dos gastos relativo<br />

à média comunitária, ficando bem<br />

evidenciado um ritmo de crescimen-<br />

De todo o quadro comunitário, Portugal<br />

.<br />

apresenta o valor mais baixo de<br />

financiamento público de saúde: apenas<br />

60.9°/o são suportados por verbas<br />

públicas, deixando quase 40o/o das<br />

despesas a cargo das famílias.<br />

J<br />

to na década de 80 bem inferior ao<br />

verificado na década anterior.<br />

A linha de tendência para o caso<br />

português mostra uma evolução de<br />

crescimento, embora bastante mais<br />

errática que a média comunitária,<br />

com picos em 1981 e 1985.<br />

Num outro plano de análise, a<br />

comparação da importância dos gastos<br />

em saúde no PIB de Portugal com<br />

a média dos países da CE, mostra que<br />

quanto a gastos totais, a posição do<br />

nosso país está bem próxima da<br />

média europeia, ultrapassando-a<br />

mesmo em 1985 e em 1989. Quanto<br />

aos gastos totais, Portugal aparece<br />

"à frente" de países como a Dinamarca<br />

o Reino Unido ou a Espanha. Se<br />

' ,<br />

considerarmos apenas os gastos publicas,<br />

então a diferença mostra-se<br />

muito significativa, pois enquanto<br />

que em Portugal, estes representam<br />

cerca de 4% do PIB, a média comunitária<br />

está acima dos 5 %, sendo<br />

Portugal o país com o menor valor de<br />

todos os que integram a CE.<br />

Quadro 1<br />

GASTOS EM SAUDE<br />

NOS PAÍSES DA C.E. (% DO P.l.B.)<br />

-··· ·.·.·.·.·.·.·.·-:-:-'.·'.·'.·:·:·:·:·:·:···:·:·:·:·:·'.·'.·'.·:·:· ::::::;:;:'.:::-:-:;:::·:;.; ::::::: ::::::::::::::::::;:;:;:·::.:- -:=:.:-:.:::.:-:-:-:-:-:-·-:-:-·-·.·.·.······<br />

Alemanha 6.3 5.9<br />

Bélgica 5.5 6.1<br />

Dinamarca 5.8 5.2<br />

Espanha 4.5 5.2<br />

França 6.0 6.6<br />

Grécia 3.6 4.0<br />

Irlanda 8.0 5.8<br />

Holanda 6.0 5.8<br />

Itália 5.6 5.9<br />

Luxemburgo 6.3 6.5<br />

,_ Reino Unido 5.2 5.2<br />

-<br />

Portugal 4.3 4.1<br />

Fonte; OCDE,1993<br />

Estes números são confirmados pelos<br />

apresentados na Figura 2, em que se<br />

refere a importância rela tiva de<br />

gastos públicos e privados em cada<br />

país da CE.<br />

De todo o quadro comunitário, Portugal<br />

apresenta o valor mais baixo de<br />

financiamento público de saúde:<br />

apenas 60.9% são suportados por<br />

verbas públicas, deixando quase<br />

40% das despesas a cargo das famílias.<br />

Os países em que o Estado assegura<br />

uma maior fatia de financiamento<br />

são o Luxemburgo (92%), o Reino<br />

Unido (86.9%), a Dinamarca (86.7%)<br />

e a Irlanda (86.5%).<br />

Esta repartição de gastos, em que os<br />

m<br />

o... 5<br />

4<br />

o<br />

-;:!2. 3<br />

o<br />

2<br />

1<br />

Fig. 1<br />

EVOLUÇÃO DAS DESPESAS EM SAÚDE<br />

PORTUGAL E C.E. (1980-90)<br />

8<br />

7<br />

•<br />

•<br />

6<br />

o 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990<br />

-TOTAL PORTUGAL ~ PÚBLICOS PORTUGAL - +-TOTAW.- - -~~ ~~L~COS C.E. 1<br />

Fonte: OCDE, 1993<br />

portugueses são os que proporcionalmente<br />

mais gastam em saúde, no<br />

ponto de consumo, não pode deixar<br />

de ser considerada no mínimo, estranha,<br />

quando se sabe que Portugal<br />

tem um Serviço Nacional de Saúde<br />

que na lei é universal, geral e<br />

tendencialmente gratuito. O facto<br />

de o nosso país, como a generalidade<br />

dos países do Sul da Europa, ter<br />

adoptado o modelo SNS apenas no<br />

final dos anos 70, em plena crise<br />

económica motivada pelos "choques<br />

petrolíferos", enquanto os países do<br />

Norte criaram sistemas do tipo universal<br />

logo no pós-guerra, com as<br />

respectivas economias em fase de<br />

desenvolvimento, será certamente<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

Fonte: OCDE, 1993<br />

Fig. 2<br />

uma exphca;3.n oara esta rsal1


Investigação<br />

,... 1.1.,.Pessoal<br />

A parcela mais significativa no total<br />

dos gastos do SNS tem vindo a ser (e<br />

continuará certamente a sê-lo no<br />

futuro), a que respeita a despesas<br />

com pessoal.<br />

Em 1980, estes gastos representavam<br />

44.3% da globalidade da despesa do<br />

SNS, correspondendo a 21.5 milhões<br />

de contos, sendo esta percentagem de<br />

50.8% em 1992, com um valor de 267 .2<br />

milhões de contos. Ao longo deste<br />

período verificaram-se ligeiras flutuações<br />

com os extremos a rondar<br />

os 51 % (em 83, 90 e 91) e os cerca de<br />

45% (em 87).<br />

O crescimento dos gastos em pessoal<br />

é bem evidenciado, por os mesmos<br />

21.5 milhões de contos gastos em 1980<br />

para a totalidade do SNS, serem<br />

equivalentes ao que era gasto em<br />

1992 apenas pelos Hospitais Distritais,<br />

representando assim estas instituições<br />

8% dos gastos do pessoal do<br />

SNS, para este ano. Contrariamente<br />

às expectativas, a legislação referente<br />

à remodelação de carreiras de<br />

1990, nomeadamente no que respeita<br />

à actualização de escalões e reformulação<br />

de algumas carreiras, não<br />

incrementou, de modo significativo<br />

o peso relativo da parcela correspondente<br />

a pessoal, na despesa do SNS<br />

(51 % em 91 e 50.8% em 92).<br />

_ 1.2. Bens e Serviços<br />

para Consumo Próprio<br />

A percentagem atribuída aos consumos<br />

no SNS, à semelhança da anterior,<br />

verificou-se ter tido variação<br />

positiva no período em estudo.<br />

Assim, estes gastos têm vindo a<br />

representar entre 80 e 92, uma<br />

parcela da despesa global pública<br />

em saúde que oscila entre os 16.1 %<br />

em 80 (correspondendo a 7 .8 milhões<br />

de contos) e 26.4% em 92 (139 milhões<br />

de contos).<br />

1.3. Medicamentos<br />

Quanto aos medicamentos, estes<br />

continuam a ser um muito importante<br />

posto de despesa, mantendo-se nos<br />

últimos 4 anos na casa dos 18% do<br />

total de gastos. Apesar de toda uma<br />

panóplia de medidas de contenção de<br />

gastos nesta área, que foram sucessivamente<br />

implementadas ao longo da<br />

década, o melhor que se conseguiu<br />

foi suster o crescimento relativo dos<br />

medicamentos no total dos gastos<br />

públicos.<br />

A parcela mais significativa no total<br />

dos gastos do SNS tem vindo a ser a que<br />

respeita a despesas com pessoal,<br />

sendo esta percentagem de 50.8°/o em<br />

1992, com um valor de 267.2 milhões<br />

de .contos.<br />

As famílias portuguesas têm vindo a<br />

confrontar-se com a insuficiência<br />

efectiva das prestações de serviços<br />

do SNS, o que lhes origina um gasto<br />

suplementar em serviços de saúde<br />

privados.<br />

A importância relativa da parcela<br />

dos medicamentos nos gastos públicos<br />

em saúde pode considerar-se<br />

muito semelhante à parcela dos<br />

consumos até ao ano de 88, após o<br />

qual a primeira sofreu uma substancial<br />

redução.<br />

Com efeito, os 17.1 % da despesa do<br />

SNS que eram gastos em medicamentos<br />

em 1980 (8.3 milhões de contos)<br />

atingiram em 1987 os 21.4% (correspondentes<br />

a cerca de 40 milhões de<br />

contos) vindo precisamente a partir<br />

de 88 a registar um peso relativo<br />

sucessivamente menos acentuado,<br />

até atingir e!Il 92 os 14.5% (76.4<br />

milhões de contos).<br />

Não obstante esta redução percentual,<br />

o valor da despesa em medicamentos<br />

tem vindo a crescer<br />

significativamente ao longo do período,<br />

sendo apenas de registar uma<br />

quebra em 89, imediatamente recuperada<br />

no ano seguinte.<br />

1.4. Convenções<br />

As convenções têm vindo a representar<br />

uma parcela da despesa do SNS<br />

decrescente em termos percentuais,<br />

compensando assim os acréscimos<br />

verificados nas rubricas atrás analisadas<br />

(pessoal e consumos).<br />

De 22.6% em 1980 (equivalente a 10.9<br />

milhões de contos) a percentagem da<br />

despesa do SNS gasta em convenções<br />

em 1992, decresce para 9.8% (cerca<br />

de um terço do seu peso inicial).<br />

Embora em termos absolutos esta<br />

fatia se possa considerar importante<br />

30 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

(43.4 milhões de contos) não restam<br />

dúvidas do cada vez menor peso dos<br />

gastos em convenções na despesa<br />

pública em saúde.<br />

Não será por certo alheio, o facto das<br />

instituições públicas terem vindo a<br />

actualizar-se tecnologicamente ao longo<br />

da década, num esforço reconhecido<br />

de autonomia em relação a<br />

instituições privadas; com quem mantinham<br />

elevado número de convenções.<br />

Este pressuposto será<br />

particularmente reconhecido com a<br />

introdução de novas tecnologias no<br />

âmbito da Imagiologia, bem como da<br />

assumpção por parte do Estado de<br />

uma maior intervenção na programação<br />

e fiscalização da instalação de<br />

equipamento médico pesado, quer em<br />

instituições públicas quer em privadas<br />

(Dec-Lei nº 445/88, de 5 de Dezembro).<br />

Em resumo, podemos pois concluir<br />

que a estrutura da despesa do SNS<br />

se alterou ao longo da década de 80:<br />

-á parcela qiais significativa era)<br />

e manteve-se, a da despesa com o<br />

pessoal, representando metade da<br />

totalidade dos gastos públicos em<br />

saúde, em 1992;<br />

-as convenções, que detinham um<br />

peso relativo importante no início<br />

da década, diminuiram drasticamente<br />

no princípio dos anos 90,<br />

com valores inferiores a 10%;<br />

-os consumos variaram positiva e<br />

sustentadamente, até atingirem<br />

mais de um quarto da totalidade<br />

da despesa;<br />

1<br />

1<br />

j<br />

- quanto à percentagem de gastos<br />

em medicamentos, o balanço final<br />

(não considerando os picos intermédios)<br />

é de um decréscimo<br />

inferior a 3 pontos percentuais;<br />

no período em estudo.<br />

Fig. 3<br />

Evolução da estrutura<br />

da despesa do SNS em Portugal<br />

Gastos por natureza (1980-92)<br />

100%<br />

80%<br />

mostra que, na realidade, a política<br />

de saúde em Portugal tem privilegiado<br />

o cresçimento da área hospitalar,<br />

não admitindo portanto o surgimento<br />

das continuadas queixas dos<br />

utentes acerca do funcionamento<br />

dos Centros de Saúde.<br />

Assim, para o período em<br />

análise, a despesa imputada<br />

às ARS sofreu um incremento<br />

de apenas dois<br />

pontos percentuais, contra<br />

os cerca de 10% já referidos<br />

para os hospitais.<br />

ram (ou aumentaram mesmo) a usar o<br />

sector privado, mas cada vez menos<br />

sob a cobertura do financiamento<br />

público. Por outro l~do, a difícil<br />

articulação entre os diferentes níveis<br />

de prest;ação de cuidados de saúde, a<br />

deficiente distribuição de recursos<br />

humanos pelo país e a desregrada e<br />

excessiva procura de cuidados médicos<br />

de urgência, são factores que<br />

certamente contribuem para o elevado<br />

peso da rubrica "Hospitais" na<br />

despesa global do SNS.<br />

60%<br />

A este facto não será 3. A, COMBINAÇÃO<br />

estranho uma maior con- PUBLICO-PRIVADO<br />

40% frontação dos hospitais 3.1. Evolução 1980-90<br />

com o desenvolvimento As famílias .portuguesas têm vindo a<br />

20%<br />

tecnológico. A introdução confrontar-se com a insuficiência<br />

0%<br />

de novas tecnologias, com efectiva das prestações de serviços<br />

1980 1992<br />

elevados custos de investi- do SNS, o que lhes origina um gasto<br />

CONVENÇÕES • coNSUMOS mento e de exploração dos suplementar em serviços de saúde<br />

• MEDICAMENTOS • PESSOAL equipamentos (algumas privados.<br />

2. GASTOS POR TIPO<br />

DE ACTIVIDADE<br />

A análise por tipo de actividade<br />

adopta a divisão clássica entre Hospitais<br />

e Cuidados de Saúde Primários,<br />

individualizando apenas os<br />

gastos com medicamentos e convenções,<br />

habitualmente designados por<br />

"transferências para o sector privado".<br />

A Fig.4 evidencia que a fatia mais<br />

relevante continua a ser a dos<br />

Hospitais, que aumentam a sua<br />

importância relativa no período em<br />

análise de 40% em 1980, para cerca<br />

de 50% em 1992.<br />

Fig. 4<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

.. 70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

'20%<br />

10%<br />

0%<br />

Evolução da estrutura<br />

da despesa do SNS em Portugal<br />

Gastos por tipo de actividade (1980-92)<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

1980 1992<br />

• OUTROS CONVENÇÕES ARS<br />

MEDICAMENTOS<br />

• HOSPITAL<br />

Apesar do discurso oficial referir o<br />

primado dos cuidados de saúde<br />

primários, na linha de recomendações<br />

da OMS, a frieza dos números<br />

Fig. 5<br />

EVOLUÇÃO DOS GASTOS EM SAÚDE EM PORTUGAL<br />

(1980-92)<br />

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990<br />

1 • GASTOS>) PÚBLICOS • GASTOS PRIVADOS<br />

das quais não substituíveis,<br />

mas complementares<br />

às já existentes) e a indução<br />

da procura pela nova<br />

oferta, originam novos e<br />

elevados gastos, que se<br />

reflectem na rubrica em<br />

análise.<br />

A progressiva redução das<br />

tranf erências para o sector<br />

privado, representa certamente<br />

um reforço da capacidade<br />

própria do SNS na<br />

área da prestação de cuidados.<br />

No entanto, se associarmos<br />

a esta informação os dados<br />

referentes aos gastos das famílias<br />

(Fig. 5) facilmente se concluirá da<br />

insuficiência desse reforço, antes se<br />

verificando que os utentes continua-<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 31<br />

Esta percentagem privada nos gastos<br />

totais de saúde veio, ao longo da<br />

última década a aumentar, confirmando<br />

a escassez relativa dos gastos<br />

públicos.<br />

Nas Fig. 5 e 6, pode observar-se a<br />

tendência progressiva para um maior<br />

distanciamento entre os valores dos<br />

gastos totais e públicos, que equivale<br />

a um aumento dos gastos em prestações<br />

privadas, o que é contrário à<br />

pretensão da universalidade dos cuidados<br />

de saúde estabelecida no SNS.<br />

3.2 A Matriz<br />

Público-Privado em 1992<br />

A cohabitação óbvia dos mercados<br />

público e privado na área da. saúde<br />

em Portugal, levanta a questão da<br />

prestação e financiamento dos cuidados<br />

de saúde: quem presta que ..,,.<br />

"


70000<br />

60000<br />

50000<br />

40000<br />

30000<br />

20000<br />

10000<br />

o<br />

(em Escudos)<br />

Fig. 6<br />

GASTOS PER CAPITA EM PORTUGAL (1980-90)<br />

..<br />

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990<br />

GASTOS PÚBLICOS • GASTOS PRIVADOS GASTOS TOTAIS<br />

~ cuidados e quem os financia?<br />

Em artigo publicado em 1992,<br />

A.C.Campos modeliza a combinação<br />

público-privado nestas duas vertentes.<br />

O Quadro II reproduz esse<br />

modelo.<br />

Quadro li<br />

~ • Hospitais<br />

:i • Centros de Saúde<br />

m<br />

' ':::> • Outras lnst. Públicas<br />

o.<br />


lnve<br />

ação<br />

.,.. As falhas de mercado<br />

(fenómenos não consistentes<br />

com o mercado competitivo),<br />

e que levam a que<br />

não haja a denominada<br />

"eficiência de Pareto",<br />

são, em geral, as seguintes:<br />

falhas de concorrência,<br />

características<br />

inerentes aos bens públicos,<br />

externalidades, mercados<br />

incompletos, falhas<br />

de informação, desemprego<br />

e inflação.<br />

As características especiais<br />

do mercado de saúde,<br />

que o diferenciam do mercado<br />

puramente competitivo, e como resultado<br />

das suas falhas, são, em<br />

síntese:<br />

• Papel do médico, que funciona em<br />

simultâneo como entidade prestadora<br />

e procuradora (indicando ao<br />

doente outros serviços de que precisa),<br />

havendo, por conseguinte,<br />

uma "relação de agência" entre o<br />

médico e o doente, em que este lhe<br />

delega as suas decisões sobre o<br />

consumo, em parte devido ao fenómeno<br />

de "ignorância dos consumidores".<br />

•Ignorância dos consumidores, que<br />

possuem pouca informação sobre si<br />

próprios, os preços e a qualidade.<br />

• Externa/idades do mercado de<br />

saúde, podendo os custos com<br />

alguns indivíduos trazer benefícios<br />

a outros elementos da população,<br />

que não os directamente envolvidos<br />

no acto (caso das vacinas, por<br />

exemplo).<br />

• Características especiais, como é o<br />

caso das doenças não poderem ser<br />

previstas, não se planeando a compra<br />

de serviços de saúde (o que pode<br />

ser um incentivo para a compra de<br />

seguros).<br />

•Conceito da saúde como um direito,<br />

nalguns países, tornando mais difícil<br />

a sua percepção em termos de<br />

mercado.<br />

Quanto aos modelos específicos do<br />

mercado de saúde, e conforme os<br />

países, existem, designadamente, modelos<br />

da procura gerada pela oferta<br />

(indução médica) e modelos complexos<br />

de mercado para os serviços<br />

hospitalares.<br />

Para além do mercado de serviços<br />

hospitalares e de cuidados médicos, o<br />

mercado de saúde é uma amálgama<br />

de mercados de diferentes tipos de<br />

bens e serviços, como sejam:<br />

• Mercados de consumidores directos<br />

de serviços: optometristas, dentistas,<br />

fisioterapeutas, psicólogos,<br />

etc.<br />

• Mercados de grupos que funcionam<br />

como intermediários para os<br />

consumidores: por exemplo, de enfermagem,<br />

de técnicos de radiologia,<br />

etc., cujos serviços são utilizados<br />

pelos médicos nos hospitais.<br />

• Marcados de compra e venda de<br />

bens físicos: equipamentos médicos<br />

e outros, produtos farmacêuticos<br />

(com elevado crescimento e do tipo<br />

monopolista), de artigos médicos,<br />

etc.<br />

•Mercado de serviços educacionais<br />

e de recursos humanos, como sejam<br />

os do ensino médico e de enfermagem.<br />

• Mercados de outros. serviços<br />

intermediários, tais como o dos<br />

seguros para cuidados de saúde e<br />

para os riscos de negligência (que<br />

gera acréscimo de actividade dos<br />

advogados e aumento dos prémios<br />

dos seguros à medida que se eleva o<br />

número de casos ganhos em tribunal,<br />

uma vez que os médicos querem<br />

assegurar a manutenção do seu<br />

nível de vida).<br />

Nalguns países, como Portugal,<br />

o mercado de cuidados<br />

de saúde é fortemente<br />

controlado (e regulado) pelo<br />

Estado, que é, em simultâneo,<br />

prestador,<br />

financiador e detentor dos<br />

principais meios de produçao.<br />

Conforme o maior ou menor<br />

papel do Estado no controle/regulação<br />

do mercado,<br />

assim assumem especial relevo<br />

outros conceitos, designadamente:<br />

equidade,<br />

acessibilidade, eficácia, eficiência,<br />

externalidades e incentivos.<br />

Numa economia de bem-estar poderá<br />

.haver "melhoria de Pareto" até ao<br />

ponto em que é possível beneficiar<br />

determinado indivíduo (que ainda<br />

não esteja em eficiência de Pareto),<br />

sem prejudicar a situação dos outros<br />

membros da comunidade, conduzindo-nos<br />

ao "Princípio de Pareto",<br />

segundo o qual todas as melhorias<br />

devem ser desenvolvidas, e à intervenção<br />

das entidades competentes<br />

para o ,efeito. Contudo, num contexto<br />

de "Optimo de Pareto" as considerações<br />

sobre equidade duma<br />

distribuição são irrelevap.tes, uma<br />

vez que o critério do "Optimo de<br />

Pareto" depende, fundamentalmente,<br />

da distribuição inicial, daí resultando<br />

um conflito entre os objectivos da<br />

eficiência e da equidade. A questão é<br />

particularmente delicada em saúde,<br />

uma vez que constitui um bem de<br />

mérito, como já se disse atrás, onde<br />

há um certo "paternalismo" do Governo.<br />

I<br />

Quando surge trade-off (escolhia)<br />

entre eficiência e equidade, coloca­<br />

-se a interrogação de qual a eficiência<br />

que se está disposto a sacrificar para<br />

ganhar mais equidade, pelo que a<br />

avaliação do mercado de cuidados de<br />

Em Portugal, o mercado de cuidados de<br />

saúde é fortemente controlado (e<br />

regulado) pelo Estado, que é, em<br />

simultâneo, .prestador, financiador e<br />

detentor dos principais meios de<br />

produção.<br />

•<br />

saúde, bem como os programas de<br />

regulação governamental, devem utilizar<br />

uma combinação dos critérios<br />

de equidade e de eficiência, os quais,<br />

sendo diferentes podem colidir um<br />

com o outro, mas usados cuidadosamente<br />

podem ser complementares.<br />

O mercado em saúde também sofre o<br />

impacte do seu financiamento, conforme<br />

a proporção e papel dos seus<br />

principais intervenientes, ou seja, o<br />

Governo, o consumidor, e os seguros<br />

privados. Este impacte tem levado a<br />

que os governos de alguns países, por<br />

efeito de actuação no financiamento<br />

(a que se associa ou não outras<br />

variáveis, como a "propriedade da<br />

gestão", procurem formas mais eficientes<br />

de funcionamento do mercado<br />

de saúde.<br />

A Região do Minho<br />

Para efeitos deste trabalho considera-se<br />

a Região do Minho como o<br />

conjunto dos Distritos de Braga e de<br />

Viana do Castelo, que se situa a<br />

Noroeste do território Continental<br />

de Portugal, com uma área de 4885<br />

quilómetros quadrados. A região<br />

possui 23 municípios e 801 freguesias,<br />

a que corresponde cerca de um<br />

milhão de habitantes, ou seja mais,<br />

de 10% dos portugueses<br />

residentes no país, e tem<br />

uma elevada densidade<br />

populacional (204 hab/<br />

km2), quase dupla da média<br />

nacional, para o que<br />

Quadro Nº 1<br />

Indicadores de saúde da Re ião do Minho, face à Re ião Norte e Continente<br />

Indicadores<br />

Mortalidade geral (%)*<br />

Mortalidade Infantil (%)*<br />

Mortalidade Neonatal (%)*<br />

Mortalidade Perinatal (%)*<br />

Partos sem assistência (%)*<br />

Doenças de notificação obrigatória<br />

(nº casos declarados)*<br />

Tuberculose (%)*<br />

Sida (nº de casos de 1983/91 )*<br />

Esperança de vida à nascença<br />

(dois sexos;anos)*<br />

Natalidade (%)*<br />

Nº camas/1 DOO habitantes **<br />

Nº habitantes/efectivo do SNS **<br />

Nº habitantes/enfermeiro do SNS **<br />

Nº habitantes/médico do SNS **<br />

*-ano de 1991; **-ano de 1992<br />

Fontes: DEPS, 1992; DRHS, 1993<br />

Distrito<br />

de Braga<br />

8.0<br />

11 .1<br />

7.4<br />

12.6<br />

1.5<br />

462<br />

64.8<br />

15<br />

72.4<br />

15.0<br />

2.18<br />

144<br />

426<br />

736<br />

No que se refere ao estado de saúde<br />

da população da Região do Minho, a<br />

qual faz parte da Administração<br />

Regional de Saúde do N arte, e<br />

tomando os indicadores habitualmente<br />

utilizados para o efeito, podemos<br />

configurar a situação no quadro<br />

número 2.<br />

A zona de influência oficial de cada<br />

Distrito de Viana<br />

do Castelo<br />

12.7<br />

8.1<br />

3.3<br />

12.5<br />

2.3<br />

226<br />

48.0<br />

16<br />

72.8<br />

10.9<br />

2.74<br />

150<br />

532<br />

815<br />

Região Região Continente<br />

do Minho Norte<br />

9.2 9.2 10.5<br />

10.5 12.7 10.7<br />

6.6 8.2 6.9<br />

12.6 13.5 12.0<br />

1.7 1.4 1.0<br />

688 2078 743<br />

60.7 69.4 56.9<br />

31 103 707<br />

72.5 72.3 73.1<br />

14.0 13.5 11.6<br />

2.32 2.83 3.1 5<br />

145 109 93<br />

448 390 365<br />

754 534 470<br />

Hospital, que em princípio representaria<br />

a sua quota de mercado, apresenta-se<br />

mais detalhadamente no<br />

quadro número 3.<br />

A oferta de cuidados de saúde dos<br />

hospitais públicos da Região do Minho<br />

No que diz respeito ao internamento, o<br />

quadro número 4 mostra-nos como ..,,<br />

A OFERTA, A PROCURA E A UTILIZAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE<br />

NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DA REGIÃO DO MINHO<br />

Os 7 hospitais da Região do Minho possuem a seguinte caracterização geral:<br />

Quadro Nº 2<br />

Caracterização eral dos hospitais úblicos da Re ião do Minho no ano de 1993<br />

muito contribui. a grande Área geográfica Classificação Propriedade Lotação<br />

das instalações* (camas)**<br />

densidade do Distrito de<br />

Braga (280 hab/km2), uma Distrito de Braga<br />

vez que a de Viana do * Hospital de São Marcos<br />

Central M<br />

Castelo (113 hab/km2) já *Hospital D. Guimarães<br />

Distrital E<br />

(H. da Senhora da Oliveira)<br />

é mais próxima da média<br />

* Hospital D.V.N. Famalicão Distrital M<br />

nacional. A sua população (H. São João de Deus)<br />

é relativamente mais jovem<br />

do que o conjunto da (H. Santa Maria Maior)<br />

* Hospital D. Barcelos<br />

Distrital M<br />

população do Continente e<br />

* Hospital D. Fafe<br />

Distrital nível 1 M<br />

(H. São José de Fafe)<br />

dos países da União Europeia,<br />

apresentando mais do Distrito de Braga<br />

M=4<br />

Total dos Hospitais<br />

5 E=1<br />

elevadas percentagens da Distrito de Viana do Castelo<br />

* Hospital D. Viana do Castelo Distrital E<br />

componente populacional<br />

(H. de Santa Luzia)<br />

adolescente (até aos 15 * Hospital D. Ponte de Lima Distrital nível 1 M<br />

anos). O seu sistema económico<br />

revelava no ano de Total dos Hospitais do Distrito 2 E=1<br />

(H. Conde de Bertiandos)<br />

de Viana do Castelo<br />

M=1<br />

1991 acentuado pendor do<br />

Total dos Hospitais<br />

7 E=2<br />

sector secundário ( 49%) da Região do Minho<br />

M=5<br />

relativamente à média do Total Zona Norte<br />

27 E=9<br />

Continente (33, 7% ), o que<br />

M=18<br />

se reflectia positivamente lotai Continente 92 E=40<br />

na sua contribuição para o<br />

PIB (Fernandes, 1994).<br />

M=52<br />

Nº habitantes<br />

da Zona de<br />

Influência oficial<br />

Nº camas/ Nº total<br />

mil hab. de efectivos<br />

de pessoal<br />

501 248723/998 256 2.01 /0.50 1286<br />

380 243296/291803 1.56/1.30 924<br />

219 114338 1.92 468<br />

198 141834 1.40 377<br />

98 85707 1.14 180<br />

1396 748195 1.87 3235<br />

368 250061 1.47 973<br />

49 93982 0.52 126<br />

417 250061 1.67 1099<br />

1813 998256 1.82 4334<br />

6710 3014100 2.23 27747<br />

23223 9356500 2.48 100478<br />

*-E= Estado;M =Misericórdia (Elementos estimados para a Região Norte e Continente) **Sem 50, berços de recém-nascidos e Psiquiatria.<br />

Fontes: Mapas estatísticos dos Hospitais da Região do Minho referentes ao ano de 1993; OEPS, 1993; DRHS, 1992.<br />

34 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 35


· ~ uadro Nº 3<br />

r(,],füi·Mim6«·'1~mtft.11t.ifti·IJ,f§t;t.r:x:r:a.t.fü:mm.rn~1t!-ti·D;t§.!fit'tltt'ltjtmttti<br />

Zona de influência oficial<br />

Quotas de mercado(%)<br />

Hospital e área geográfica Concelhos Nº Habitantes Na Região Na Zona No<br />

Minho Norte Continente<br />

Hospital de São Marcos<br />

a) Nível Distrital Amares<br />

Braga<br />

16 715<br />

141 256<br />

Póvoa de Lanhoso 21 516<br />

Terras de Bouro 9402<br />

Vieira do Minho 15 775<br />

Vila Verde 44 059<br />

Total nível Distrital 248 723 24.9 8.3 2.7<br />

b)Nível Central Todos da Região Minho 998 256 100.0 33.1 iü.7<br />

Hospital D. Guimarães Guimarães 157 589<br />

(H. da Senhora da Oliveira) Cabeceiras de Basto 16 368<br />

Celorico de Basto 21477<br />

Fafe 47 862<br />

(+Felgueiras)* (48 015)<br />

Total 243 296 24.4 8.1 2.6<br />

( C/ Felgueiras) (291 803) (9.7) (3.1)<br />

Hospital D.V.N. Famalicão V.N.Famalicão 114 338<br />

(H. de São João de Deus) Total 114 338 11.5 3.8 1.2<br />

Hospital D. Barcelos Barcelos 111 733<br />

(H. Santa Maria Maior) Esposende 30101<br />

Total 141 834 14.2 4.7 1.5<br />

Hospital D. Fafe Fafe<br />

(H. São José de Fafe) Cabeceiras de Basto<br />

47 862<br />

16368<br />

Celorico de Basto 21477<br />

Total (nível 1) 85 707 8.6 2.8 0.9<br />

Total Distrito de Braga 748195 75.0 24.8 80<br />

Hospital D. Viana do Castelo Arcos de Valdevez 26 976<br />

(H. de Santa Luzia) Caminha 16 208<br />

Melgaço 11 018<br />

Monção 21 799<br />

Paredes de Coura 10442<br />

Ponte da Barca 13143<br />

Ponte de Lima 43421<br />

Valença 14818<br />

Viana do Castelo 83 095<br />

Vila Nova de Cerveira 9144<br />

Total 250 061 25.0 8.3 2.7<br />

Hospital D. Ponte de Lima Ponte de Lima<br />

(H. Conde de Bertiandos) Arcos de Valdevez<br />

43421<br />

26 976<br />

Paredes de Coura 10442<br />

Ponte da Barca 131 43<br />

Total (nível 1) 93 982 9.4 3.1 1.0<br />

Total Dist. Viana do Castelo 250 061 25.0 8.3 2.7<br />

Total Região do Minho 998 256 100.0 33.1 10.7<br />

Total Zona Norte 3014100 100.0 32.2<br />

Total Continente 9356 500 100.0<br />

*Fora da Região do Minho<br />

Fonte: Hospitais da Região do Minho<br />

36 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

~ se distri hui a oferta de<br />

valências/ especialidades médicas<br />

na Região do Minho, e a<br />

disponibilidade das suas camas<br />

no internamento pelos vários<br />

hospitais da Região.<br />

Relativamente à área de consultas<br />

externas, apresenta-se a<br />

situação existente no quadro 5.<br />

As restantes áreas assistenciais,<br />

designadamente a da<br />

urgência e dos meios complementares<br />

de diagnóstico e terapêutica,<br />

bem como os<br />

indicadores de movimento destes<br />

sete hospitais, sintetizam-se<br />

no quadro número 6.<br />

Os recursos humanos e materiais<br />

utilizados na oferta de cuidados<br />

de saúde dos hospitais públicos<br />

da Região do Minho<br />

Nos quadros números 7, 8, 9, 10,<br />

11 e 12 sintetiza-se o conjunto<br />

recursos humanos de que dispõem<br />

os 7 hospitais da Região<br />

do Minho para a oferta de<br />

cuidados de saúde que prestam<br />

às populações que assistem,<br />

bem como os custos que praticam<br />

e outros elementos de<br />

natureza económico-financeira.<br />

Alguns indicadores da procura<br />

não satisfeita pelos hospitais<br />

públicos da Região do Minho<br />

A intensidade do uso de recursos,<br />

em determinado período,<br />

significa a sua "utilização",<br />

sendo, pois, o resultado da<br />

interacção entre a quantidade<br />

oferecida e a procurada, ou o<br />

ponto de equilíbrio onde se<br />

cruzam as curvas da oferta e<br />

da procura (Pereira, 1992).<br />

Contudo, para termos uma<br />

ideia da procura não satisfeita<br />

não basta analisar os quadros<br />

da oferta/procura e respectiva<br />

utilização, já apresentados.<br />

Para estudo<br />

•<br />

mais profundo<br />

desta questão ter-se-ia que analisar<br />

qual a demanda dos cuidados<br />

de saúde do mercado<br />

privado que eventualmente utilizariam<br />

o mercado hospitalar<br />

público se este tivesse maior<br />

oferta, entre outros factores.<br />

Embora esta questão possa<br />

estar afectada por variáveis ~<br />

1 nvestigação<br />

Quadro Nº 4<br />

••lt:Uft.11'J!t:rmfüii.fitltftii·IM·f·iu1mmrmr:w:11MJ..Sti·t·•Mrn;;m.@m·•<br />

dos hos itais úblicos da Re ião do Minho, em 1993<br />

Valência HSM HDG HDVNF HDB HDF Total HD VC HD PL Total Dist. Total<br />

Distrito Viana do Re~ i ão<br />

Braga Castelo do inho<br />

Anestesiolog ia * * * * * *<br />

Cardiologia 15 20 * 35 * 35<br />

Cirurgia Geral 64 55 57 31 35 242 78 13 91 333<br />

;;..<br />

<<br />

.....<br />

.....<br />

u<br />

C:


Investigação<br />

Internamento*<br />

Doentes saídos 17715 17270 7997 7401 2657 53040 14474 1377 15851 68891 686700<br />

Dias de internamento 131466 115525 48854 53054 30452 379351 102510 11374 113884 493235 6365400<br />

Demora média 7.4 6.7 6.1 7.2 11 .5 7.2 7.1 8.3 7.2 7.2 9.3<br />

Taxa de ocu~ação 71 .9 83.3 61.1 73.4 85.1 74.5 76.3 63.6 74.8 74.5 73.4<br />

Ur ência<br />

SAP**<br />

Nº Urgências 123149 104502 60409 75819 58464 422343 82868 34912 117480 539823 5296500<br />

Urgências ~or dia 337 286 166 208 160 1157 227 96 322 1479 14511<br />

Consulta externa**<br />

Total de Consultas 108649 65107 34462 23725 10094 242037 74928 12216 87144 329181 4366400<br />

1 ªs Consultas 36236 25038 9123 12487 3538 86422 18880 5705 24585 111007<br />

Consultas ~or dia útil 435 260 138 95 40 968 300 49 349 1317 17466<br />

Consultas ~or sala 30622 2712 4308 3954 2523 3362 2997 2036 2811 3196<br />

Salas de Observações (50)<br />

Doentes saídos 11 381 2988 344 2316 1206 18235 4065 4065 22300<br />

Dias de internamento 11 381 2428 344 2294 1206 17653 4544 4544 22197<br />

Intervenções cirúrgicas<br />

Nº lntervenções(b) 5801 5489 3340 2214 951 15581 5292 379 5671 23466 258592<br />

Nº Intervenções<br />

~/sala o~eratória 1160 1098 1113 1107 951 11 12 1058 379 945 1067<br />

Nº Partos 3463 4252 1969 1204 10888 2509 2509 13397 80486<br />

Nº análises clínicas 303353 753678 442981 147438 62784 1710234 542 144 - 542144 2252378 31199800<br />

Nº exames lmagiologia<br />

Rad iologia conv. 60326 **** 28997 26785 14493 130601 52880 3294 56174 186775 3369700<br />

Ecografia 9662 4660 3096 1608 926 <strong>1995</strong>2 2697 2697 22649 305 100<br />

TAC 1151 1151 1151 102800<br />

Outros exames 26 **** 1504 329 51 1910 4726 135 4861 6771<br />

Total de exames 71165 45873 33597 28772 15470 195237 60303 3429 63732 258969 36159700<br />

Nºexames An. Patológica 7041 2680 1275 9721 6430 6430 16151 346800<br />

Nº transfusões 3829 3844 1834 833 10340 12813 12813 25153 161200<br />

Nº tratamentos<br />

de Fisiatria 144869 95529 84908 - 15573 340879 27622 1058 28680 269559 4449600<br />

Psi uiatria<br />

Internamento<br />

Doentes saídos 341 341 176 176 517 14163<br />

Dias de internamento 29022 29022 26798 26798 55820 1001770<br />

Demora média 85.1 85.1 152.3 152.3 108.0 70.7<br />

Taxa de ocu~ação 76.5 76.5 52.4 52.4 62.7 64.7<br />

Consultas ext. (Total} 16467 16467 6161 6161 22628 367227<br />

:Jf'!1 SO,_ Recém nascidos e Psiquiatria; **Sem Psiquiatria; -***SAP-Serviço de Atendimento Permanente, em. colaboração com a ARS de Viana do Castelo;<br />

lnclutdo no tot~I de exames . . a)- Para cwdados d1ferenoados, no ano de 1991; b)-Grandes e medias intervenções<br />

Fontes: Mapas estat1st1cos dos hosp1ta1s referentes ao ano de 1993; DEPS, 1992<br />

Quadro Nº 7<br />

i -~:.,,h, :~~~;-~ Recursos Humanos dos hos itais úblicos da Re ião do Minho, no ano de 1993<br />

Area geográfica<br />

Recursos Humanos Hospitais do Distrito de Braga<br />

Hospital de São Marcos<br />

Hospital D. Guimarães<br />

Hospital D.V.N.Famalicão<br />

Hospital D. Barcelos<br />

Hospital D. Fafe<br />

Total dos Hospitais do Distrito<br />

Recursos Humanos Hospitais DistritoViana do Castelo<br />

Hospital O.Viana do Castelo<br />

Hospital O.Ponte de Lima<br />

Total dos Hospitais do Distrito<br />

Recursos Humanos dos Hospitais da Região do Minho<br />

Efectívos totais<br />

de pessoal<br />

1286<br />

924<br />

468<br />

377<br />

180<br />

3235<br />

973<br />

126<br />

1099<br />

4334<br />

Nº médicos Nº enfermeiros<br />

260 429<br />

177 330<br />

59 143<br />

60 144<br />

14 65<br />

570 1111<br />

145 326<br />

7 39<br />

152 365<br />

722 1475<br />

* Sem incluir SO e recém-nascidos Fontes: Mapas estatísticos dos hospitais referentes ao ano de 1993; DRHS, 1993<br />

Camas*<br />

/efectivo<br />

Quadro Nº 8<br />

Custos dos hos itais úblicos da R ião do Minho, em 1992 ·<br />

Custo unitário total(escudos) HSM HDG HDVNF HDB HDF HDVC HDPL Média HHDD Média HHCC<br />

Doentetratadonointernamento 159921 172891 187479 144938 167562 175901 * 165449 288455<br />

Dia de internamento 22049 26241 30951 19704 15976 22270 * 22917 32582<br />

Consulta externa 2750 1867 3766 3299 6165 4263 * 4008 • 7589<br />

Urgência 3173 4816 4921 4575 5219 9327 * 7081 11741<br />

Análise clínica 307 242 217 541 748 206 * 386 498<br />

Examede radiologia 1472 1665 1751 1211 1314 1533 * 1780 2503.<br />

Transfusão 16024 20890 17713 10281 22795 15408 * 15108 19436<br />

Refeição 309 600 373 441 385 436 * 594 638<br />

Kg roupa lavada 102 253 132 136 243 .90 * 146 98<br />

0.47<br />

0.41<br />

0.47<br />

0.53<br />

0.54<br />

0.46<br />

0.52<br />

0.39<br />

0.47<br />

0.47<br />

como o rendimento<br />

das famílias, as suas<br />

preferências, a "relação<br />

de agência" (e<br />

respectiva indução)<br />

do médico, parece<br />

que a análise das listas<br />

de espera dos hospitais<br />

também revela<br />

pelo menos parte da<br />

procura não satisfeita.<br />

Por outro lado, algumas<br />

das insuficiências<br />

dos próprios hospitais<br />

também se reflectem<br />

nos exames requisitados<br />

ao exterior.<br />

O quadro número 13<br />

procura dar elementos<br />

para melhor análise<br />

desta problemática.<br />

Principais conclusões<br />

Face aos elementos<br />

apresentados parece-<br />

-nos importante extra-<br />

Ir as seguintes<br />

conclusões:<br />

• A Região do Minho<br />

constitui cerca de<br />

10.7% do Continente<br />

de Portugal em<br />

termos populacionais,<br />

tem uma densida<br />

de populacional<br />

Camas*<br />

/médico<br />

Camas*<br />

/enfermeiro<br />

2.33 1.41<br />

2.1 5 1.15<br />

3.71 1.53<br />

3.30 1.38<br />

7.00 1.51<br />

2.63 1.35<br />

3.50 1.56<br />

7.0 1.26<br />

3.43 1.43<br />

2.80 1.37<br />

HSM- Hospital de São Marcos; HDG -Hospital Distrital de GuimarãP.s; HDVNF- Hospital Distrital de V. N. de Famalicão; HDB -Hospital Distrital de Barcelos; HDF- Hospital Distrital de Fafe; HDVC -Hospital<br />

~1stntal de V1an~ do_ Cast~lo; HDPL -Hospital D1stntal de Ponte de Lima; HHDD - Hosp1ta1s D1stnta1s do Contmente; HHCC - Hospitais Centrais do Continente<br />

- Elementos nao d1spontve1s. Fontes: IGIF, 1993 e hospitais<br />

38 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

Quadro N 9 9<br />

Financiamento dos serviços do Serviço Nacional de Saúde (SNS), 1990<br />

Tipo de Serviços Valor ( 1000 contos) %<br />

Administrações Regionais de Saúde 48337.0 46.6<br />

Hospitais (total) 144503.0 45.4<br />

Hospitais Centrais e Maternidades 88631 .0 27.9<br />

Hospitais Distritais 48170.0 15.1<br />

Hospitais Distritais de nível 1 7702.0 2.4<br />

Institutos de Oncologia (IPO) 7145.0 2.2<br />

Psiquiatria 9791.0 3.1<br />

Serviços Centrais com autonomia 5659.0 1.8<br />

Diversos 2655.0 0.9<br />

TOTAL 318090.0 100.0<br />

Fonte: DGFSS, 1992<br />

Quadro Nº 10<br />

Despesas dos serviços do SNS, a as e em dívida, no exercício de 1990<br />

Distrito de Braga 10357.0 6.8 7214.2 4.1 17571.2 5.4<br />

DistritodeVianadoCastelo 3672.7 2.4 2522.0 1.4 6194.7 1.9<br />

RegiãodoMinho 14029.7 9.2 9736.2 5.5 23765.9 7.3<br />

Região Norte 42454.2 28.0 39530.8 22.6 81985.0 25.1<br />

Continente 151720.2 100.0 175129.5 100.0 326849.7 100.0<br />

* Valor x 1000 contos Fonte: DGFSS, 1992<br />

Quadro Nº 11<br />

Des esas, pa as e em dívida, dos hos itais úblicos<br />

da Re ião do Minho, no exercício de 1990<br />

Hospitais e área geográfica Valor %na Região %na Região %no<br />

( 1000 contos) do Minho Norte Continente<br />

Hospitais do Distrito de Braga 7214.2 74.1 18.2 4.1<br />

Hospital de São Marcos 2862.2 29.4 7.2 1.6<br />

Hospital D. Guimarães 1687.3 17.3 4.3 1.0<br />

Hospital D. V.N.Famalicão 1226.5 12.6 3.1 0.7<br />

Hospital D. Barcelos 982.9 10.1 2.5 . 0.6<br />

Hospital D. Fafe 455.3 4.7 1.1 0.2<br />

Hoseitais Distrito Viana do Castelo 2522.0 25.9 6.4 1.4<br />

Hospital D. Viana do Castelo 2280.3 23.4 5.8 1.3<br />

Hospital D. Ponte de Lima 241.7 2.5 0.6 0.1<br />

Hospitais da Região do Minho 9736.2 100.0 24.6 5.5<br />

Hospitais da Região Norte 39530.8 100.0 22.6<br />

Continente 175129.5 100.0<br />

Fonte: DGFSS, 1992<br />

· Quadro Nº 12<br />

dupla da média nacional e a estrutura etária<br />

da população residente é relativamente mais<br />

jovem do que a do resto do Continente.<br />

Embora a sua população activa contribua<br />

fortemente para a riqueza nacional, parece<br />

não haver contrapartidas no domínio da<br />

saúde, uma vez que a capitação dos encargos<br />

do Serviço Nacional de Saúde na Região do<br />

Minho é das mais baixas do Continente (o<br />

Distrito de Braga é mesmo o que tem mais<br />

baixas capitações).<br />

• O estado de saúde da população da Região<br />

do Minho, expresso através dos respectivos ·<br />

indicadores, revela altos valores na natalidade<br />

e menores na mortalidade, relativamente<br />

à média continental, o que se traduz<br />

num saldo positivo para a evolução demográfica.<br />

Contudo a esperança de vida à<br />

nascença parece ainda ser inferior à média<br />

nacional, bem como o número de partos sem<br />

assistência. A atenuação das desigualdades,<br />

porém, poderá ser mais o reflexo da própria<br />

estrutura sócio-económica do que o resultado<br />

de intervenções no sector da saúde. O<br />

número de camas de todos os estabelecimentos<br />

oficiais de saúde por mil habitantes da<br />

Região do Minho (2.32) é inferior à média da<br />

Região Norte (2.83) e à média continental<br />

(3.15). Os índices resultam ainda piores no<br />

que se refere ao número de habitantes por<br />

médico da Região do Minho (754), que é<br />

inferior à média da Região Norte (534) e à<br />

média nacional (470), o que, em termos<br />

percentuais, significa 41.2% e 60.4% menos<br />

médicos, respectivamente. O mesmo se passa<br />

com o número de habitantes por enferneiro,<br />

em que há um défice de 14.9% face à Região<br />

Norte e de 22.7% relativamente ao Continente,<br />

e com o número de habitantes por """<br />

w.1rm


senvolvimento da Região Minho.<br />

Aos sete hospitais da Região do<br />

Minho, e a quem a ele tiver acesso,<br />

deixo este documento para apreciação<br />

e aprofundamento do seu conteúdo.<br />

•<br />

*Administrador hospitalar<br />

e administrador-delegado<br />

do Hospital de São Marcos (Braga)<br />

Ace>nt .. cim .. nte><br />

Augusto Mantas<br />

- Uma Homenagem indispensável<br />


Um aspecto da mesa de honra com o prof. Coriolano, o dr. Manuel Delgado o<br />

Director-Geral da Saúde, dr. João Nunes de Abreu e o Director-Geral do DEPS dr.<br />

Luis Magão<br />

'<br />


Sandoz -ao serviço da saúde<br />

e do bem estar das populações<br />

A experiência Sandoz está intimamente ligada a<br />

Edouard Constant Sandoz, que nasceu em 1853 na<br />

cidade suíça de Basileia.<br />

Depois de trabalhar para um industrial de corantes, em<br />

Paris, Edouard Sandoz regressou em 1880 à Suíça, onde<br />

conheceu o químico Alfred Kern. No dia 1 de Julho de<br />

1886 fundaram a fábrica de Químicos Kern e Sandoz.<br />

No ano seguinte já vendiam corantes na Europa,<br />

China, Japão e Estados Unidos da América.<br />

Logo após a sua fundação, a Sandoz começou a fabricar<br />

um medicamento de síntese denominado fenazona, sob<br />

licença de Hoechst. Pouco tempo depois iniciava o<br />

fabrico e a venda de vários químicos farmacêuticos,<br />

incluindo a barbitona, o primeiro dos barbitúricos.<br />

A Companhia conheceu um crescimento significativo<br />

durante os anos de guerra, entre 1914 e 1918, quando a<br />

falta de açucar levou a uma enorme procura de<br />

adoçantes sintéticos. A decisão da Sandoz, de fabricar<br />

sacarina, permitiu à empresa expandi_r-se consideravelmente.<br />

O Prof. Arthur Stoll, aluno do vencedor de Prémio<br />

Nobel Richard Willstatter, juntou-se à Sandoz em 1917,<br />

empreendendo o desenvolvimento da divisão farmacêutica.<br />

Cinco anos depois era lançado no mercado o<br />

primeiro produto original da Companhia, a ergotamina.<br />

Pouco depois do início da guerra de 1939-45, a Sandoz<br />

entrou no mercado agro-químico, especializando-se na<br />

produção de novos fungicidas.<br />

Nos anos imediatos ao pós-guerra assistiu-se ao início<br />

da denominada «revolução terapêutica», com a introdução<br />

de uma variedade de novos medicamentos. •<br />

Entretanto, em 1967, a Companhia fundia-se com a<br />

W ander, a produtora de Ovomaltine, para estabelecer<br />

nm negócio próspero no campo da nutrição.<br />

O grande sucesso das pesquisas da Sandoz verificou-se<br />

nos anos 70, com a descoberta da bromocriptina, que<br />

avançou o tratamento da doença de Parkinson e o<br />

isolamento e identificação da estrutura química da<br />

ciclosporina, em 1975, que resultou no desenvolvimento<br />

de um medicamento no campo do transplante de<br />

,<br />

orgaos.<br />

-<br />

O interesse da Sandoz na área da psiquiatria prosseguiu<br />

na década de 70, com a introdução da clozapina,<br />

que se tem mostrado bastante eficaz quando ministrada,<br />

sob vigilância médica, a doentes esquizofrénicos<br />

resistentes a outras terapêuticas.<br />

. Nos últimos a.nos, a Companhia tornou-se mais activa<br />

no campo da oncologia, com a introdução do antagonista<br />

do 5-HT3 tropiseton, do octreotido e com o<br />

desenvolvimento conjunto com a Shering Plough do<br />

molgramostim.<br />

O grande contributo da pesquisa da Sandoz para a<br />

saúde teve reconhecimento na atribuição do prémio<br />

Gallien, a mais prestigiada distinção na investigação<br />

farmacêutica na Europa, pela descoberta de:<br />

- Bromocriptina (1978).<br />

- Ciclosporina (1984)<br />

- Octreotido (1991)<br />

Sandoz internacional<br />

As áreas de negócio da Sandoz incluem produtos de<br />

nutrição, agroquímicos, sementes, construção e ambiente,<br />

para além da actividade farmacêutica. As<br />

operações internacionais são conduzidas por 200<br />

companhias filiadas, distribuídas por cinco continentes<br />

e empregando um total de 53.000 pessoas.<br />

Em 1993, as vendas totais do Grupo foram de<br />

aproximadamente 15 biliões de francos suíços (1800<br />

biliões de escudos), representando os produtos farmacêuticos<br />

49% das vendas totais. A Europa constitui o<br />

maior mercado para a Companhia, representando 42%<br />

das vendas do Grupo.<br />

Em 1993, a Sandoz gastou 1,7 biliões de francos suíços<br />

(200 biliões de escudos) em pesquisa e desenvolvimento.<br />

Na área farmacêutica, as despesas de pesquisa e<br />

desenvolvimento corresponderam a 18% das vendas.<br />

Uma das maiores preocupações da Companhia consiste<br />

na segurança e assuntos ambientais, tendo sido gastos<br />

aproximadamente 600 milhões de francos suíços (70<br />

biliões de escudos) nesta área, durante o período 1990-<br />

-1992.<br />

Sandoz em Portugal<br />

Produtos Sandoz Lda. é uma Companhia fundada em<br />

1947, sendo o 4º maior grupo farmacêutico em Portugal.<br />

Emprega 235 pessoas na actividade farmacêutica, que<br />

inclui a produção local numa fábrica em Cabo Ruivo<br />

(Lisboa), onde foram investidos cerca de 300 mil contos<br />

nos últimos três anos. Entre os seus colaboradores<br />

contam-se 31 licenciados, dos quais 13 são farmacêuticos<br />

e cinco são médicos.<br />

Cerca de 95% dos produtos farmacêuticos comercializados<br />

pela Sandoz são de prescrição médica. Os<br />

restantes 5% são vendidos sem receita, pelas farmácias,<br />

como especialidades farmacêuticas de venda livre.<br />

A companhia fornece medicamentos para utilização na<br />

transplantação de órgãos, osteoporose, hipertensão,<br />

doença de Parkinson, enxaqueca, cancro, doenças de<br />

pele, doenças psiquiátricas e de foro da neuroendocrinologia<br />

.<br />

Além das doenças tarmacêuticas, Produtos Sandoz<br />

Lda., comercializa produtos químicos para utilização<br />

nas indústrias têxtil, de curtumes, de plásticos e ainda<br />

produtos agro-químicos.<br />

Outras empresas do Grupo Sandoz Internacional com<br />

actividade em Portugal são: W ander Alimentação<br />

(Ovomaltine, Isostar), e MBT Portugal (produtos para<br />

a construção civil e ambiente).<br />

A perf orrnance da investigação Sandoz,<br />

reflecte-se<br />

todos os dias<br />

•<br />

no ·sorriso<br />

dos seus doentes.<br />

HY7~·k PIU·:1 no PAR<br />

1984: PRt:MlO PAR<br />

H>9~:. l"RÉMIO PAR<br />

Rl.ODf:J.'*, (nROMOCJUPTI ' )<br />

rol 1Mt J1 ""J ((:IC:J. l'fl•m/,, r Jtrlfn1Jda llHÍ•'lf flf 11no• ,,,.,,, M/11/titm dil f11tr f;1,<br />

f.1rmrt,!11t/1"i1,," lnrWJtfiÚI lrr.1pl-11f/01:<br />

PRODUTO SA OOZ,--lDA. - R. S. Caetano, 4 - Telef. 3f11 00 88 - 1200 USBOA<br />

Con1nrwin1'1 ,, • 500 m ore . MIMeliltfdO 1t eon tfófl• do ~ ComotCi# '14 u o tt • nmu · e pffiff 90ci 1 rooooo OOOtoO<br />

44 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>


Diz-se de Augusto Mantas<br />

como de um mestre<br />

e fala-se de "Pai Mantas"<br />

para testemunhar<br />

a sua dimensão<br />

humana.<br />

O Pai Mantas<br />

ugusto Quintanilha Mantas, 68 anos,<br />

natural da Guarda. Concluiu o ensino<br />

secundário no Liceu Pedro Nunes, em<br />

Lisboa, com a média final de 14 valores e<br />

licenciou-se em Económicas e Financeiras com a<br />

mesma classificação em 1951. Dois anos mais<br />

tarde ingressava, como chefe dos serviços administrativos,<br />

no Instituto de Assistência Nacional<br />

aos Tuberculosos e em 1956 integrava o grupo de<br />

trabalho médico-administrativo que estudou a<br />

implantação de "enfermarias-abrigo" e "consultas-dispensário",<br />

percorrendo todos os concelhos<br />

do País.<br />

Eram os primeiros anos de uma carreira notável.<br />

A partir daí foi um nunca mais acabar de<br />

actividades, cujo desempenho haveria de fazer<br />

de Augusto Mantas um dos nomes mais respeitados<br />

ao nível da gestão dos hospitais.<br />

Até 1994, e durante 24 anos consecutivos, regeu a<br />

disciplina de Contabilidade e <strong>Gestão</strong> Económico­<br />

-Financeira-do curso de Administração <strong>Hospitalar</strong>.<br />

Entre os alunos que passaram pela Escola<br />

Nacional de Saúde Pública, e hoje administram a<br />

generalidade dos hospitais, diz-se de Augusto<br />

Mantas como de um mestre e fala-se de "Pai<br />

Mantas" para testemunhar a sua dimensão<br />

humana.<br />

O seu currículo não precisa de qualificações. Em<br />

1959, no âmbito do Conselho Coordenador do<br />

então Ministério da Saúde e Assistência, fez parte<br />

do grupo de quatro técnicos que procedeu ao<br />

primeiro levantamento exaustivo dos hospitais<br />

regionais do Continente, considerado relevante<br />

para o seu futuro desenvolvimento. No ano<br />

seguinte passou a integrar a Comissão de<br />

Normalização dos Hospitais para a Zona Sul,<br />

tendo instituído a introdução de sistemas simples<br />

de contas e impressos uniformes para a admissão<br />

de doentes. Em 1961 deslocou-se aos Distritos de<br />

Ponta Delgada e Angra do Heroísmo para<br />

elaborar estudos sobre os hospitais de S. Miguel<br />

e da Terceira, tendo estado também na origem da<br />

publicação de relatórios sobre os hospitais da<br />

Madeira. Ainda no mesmo ano, foi encarregado<br />

da abertura do novo Hospital Regional de Angra.<br />

Em 1962 aceitou o convite para chefiar a<br />

repartição central da Nova Direcção Geral dos<br />

Hospitais, exercendo simultaneamente as funções<br />

de ligação da Comissão de Reapetrechamento dos<br />

hospitais com os serviços hospitalares. Dois anos<br />

mais tarde foi nomeado Director dos Serviços de<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> da Direcção Geral dos Hospitais<br />

e um ano depois passou a ser Inspector<br />

Superior de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> da mesma Direcção<br />

Geral. Neste ano de 1965, em colaboração com<br />

o Chefe de Contabilidade do Hospital de Santa<br />

Maria, publicou o primeiro Plano de Contas<br />

<strong>Hospitalar</strong>, que vigoraria até 1971 e que permitiu<br />

introduzir nos hospitais uma contabilidade analítica<br />

de exploração, com apresentação de balanços,<br />

custos e resultados.<br />

Augusto Mantas pertenceu à equipa médico­<br />

-administrativa que, na Direcção Geral dos<br />

Hospitais, preparou as Tabelas de Encargos<br />

<strong>Hospitalar</strong>es que serviram para os acordos com<br />

a Previdência; e integrou todos os grupos de<br />

trabalho que, pelo lado da Saúde, negociaram os<br />

acordos com a Previdência Social e ADSE, em<br />

1965, 1971, 1972, 1973, 1974 e 1975.<br />

Como bolseiro da Organização Mundial de Saúde,<br />

deslocou-se a França em 1965, tendo visitado<br />

hospitais em Paris, Dijon, Lyon, Marselha e<br />

Limoges. Em 1965 frequentou, em Paris, o curso<br />

de Organização e Métodos do Ministério de<br />

Saúde francês. Em 1966 participou no IV Congresso<br />

Nacional do Trabalho, realizado em<br />

Luanda, tendo sido relator sobre <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>.<br />

Ainda no mesmo ano, em colaboração com o<br />

INII, organizou o primeiro curso intensivo para<br />

pessoal de administração hospitalar, sobre Técnicas<br />

de Organização e Métodos, no qual participou<br />

como monitor em algumas matérias. Nos três<br />

anos imediatos, também em colaboração com o<br />

INII, organizou e frequentou os primeiros programas<br />

de sensibilização, formação e aperfeiçoamento<br />

para dirigentes, técnicos e outro pessoal<br />

dos serviços centrais do Ministério e dos hospitais.<br />

A convite da Federação <strong>Hospitalar</strong> francesa,<br />

assistiu, em 1967, às II Assises Nationales de<br />

l'Hospitalisation Publique. Dali em diante, e até<br />

que se desligou da Direcção Geral dos Hospitais,<br />

foi convidado permanente.<br />

Em 1968 instalaram-se e começaram a funcionar,<br />

equipados com computadores, os dois centros<br />

Inter-hospitalares no SUCH (na zona centro) e<br />

no Hospital de S. João (na zona norte). Augusto<br />

Mantas deslocou-se, neste mesmo ano, ao Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> Regional de Grenoble onde se ensaiavam<br />

trabalhos avançados de informática hospitalar,<br />

para estudo e análise da implantação do<br />

sistema.<br />

Dada a impossibilidade de se prepararem administradores<br />

hospitalares em Portugal, fez diligências<br />

junto do professor encarregado do curso de<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong> de Rennes, monitor do<br />

curso intensivo sobre Controle de <strong>Gestão</strong> no<br />

Hospital, para que alguns técnicos portugueses<br />

seguissem o curso naquela Escola. Proposto<br />

depois o assunto oficialmente, seguiram para<br />

Rennes seis alunos portugueses.<br />

Em 1969, com os professores André Primz, de<br />

Lovaina, e Coriolano Ferreira, colaborou nos<br />

estudos e trabalhos de organização e programação<br />

do curso de Administração <strong>Hospitalar</strong>, que<br />

veio a funcionar na Escola Nacional de Saúde<br />

Pública e Medicina Tropical e que antecedeu o<br />

actual Curso de Administração <strong>Hospitalar</strong>.<br />

Organizou colóquios sobre problemas de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> para dirigentes de Hospitais<br />

Regionais, em Lisboa, Porto e Coimbra, nos quais<br />

participou como monitor (1970), tendo colaborado<br />

activamente em mais de 10 cursos de contabilidade<br />

hospitalar para pessoal dos hospitais ao<br />

longo de vários anos.<br />

Já a reger a disciplina de Contabilidade e <strong>Gestão</strong><br />

Económico-Financeira do curso de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>, e em c-0laboração com alguns dos<br />

administradores recém-formados em Rennes,<br />

apresentou um projecto de carreira de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>, sendo obrigatório, para o<br />

ingresso, o diploma do curso de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>.<br />

Em Outubro de 1972 foi nomeado vogal do grupo<br />

médico-administrativo encarregado de estudar a<br />

reestruturação do Serviço de Luta Anti-Tuberculosa<br />

e, pouco depois, faria parte da Comissão<br />

Permanente de Coordenação Inter-Ministerial de<br />

Actividades de Saúde, tendo apresentado um<br />

trabalho sobre as bases para o financiamento do<br />

sistema de saúde. Simultaneamente era indicado<br />

para vogal do Conselho Consultivo da ADSE, por<br />

parte da Direcção Geral dos Hospitais.<br />

Em 1973 foi nomeado, por despacho do Ministro da<br />

Saúde e Assistência Social, assistente eventual da<br />

Escola Nacional de Saúde Pública, cadeira de ...,.<br />

46 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 4 7


-11111 Administração <strong>Hospitalar</strong>; em Junho tomava<br />

posse do cargo de Adjunto do Director-Geral dos<br />

Hospitais e em Março de 1974 era vogal do<br />

Conselho Orientador da Direcção-Geral das<br />

Construções <strong>Hospitalar</strong>es.<br />

Em 1975 fez parte do grupo de trabalho encarregado<br />

de estudar a reestruturação do Ministério;<br />

foi designado coordenador do grupo médico­<br />

-administrativo que estudou a passagem dos<br />

Serviços Médico-Sociais da Previdência para a<br />

Saúde; e assumiu as funções de Director-Geral<br />

dos Hospitais, cargo que desempenhou -até ao<br />

momento em que requereu a dispensa desse<br />

exercício, em 1978. Em 1976 fez parte de todos os<br />

grupos de trabalho encarregados da reorganização<br />

da Secretaria de Estado da Saúde; em 1977<br />

passou a presidir à Comissão Coordenadora do<br />

Financiamento da Secretaria de Estado da Saúde;<br />

e, ainda no mesmo ano, deslocqu-se a Tóquio<br />

para, em representação da Direcção Geral dos<br />

Hospitais, participar no 20º Congresso da Federação<br />

Internacional dos Hospitais.<br />

Por despacho do Ministro das Obras Públicas de<br />

29 de Setembro de 1977, é nomeado vogal do<br />

Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes<br />

e, em 7 de Setembro de 1978, volta a ser<br />

solicitado para assumir as funções de Director­<br />

-Geral dos Hospitais, enquanto o titular do lugar<br />

foi Secretário de Estado da Saúde, até 31 de Julho<br />

de 1979.<br />

·Em Novembro de 1979 participou na XIII Mesa<br />

Redonda do CIOMS, sobre Economia e Política<br />

da Saúde, na OMS, em Genebra, e em Dezembro<br />

foi designado pelo Governo para participar, em<br />

Paris, na OCDE, na 1ª reunião de peritos<br />

nacionais, sobre os Sistemas de Políticas de<br />

Saúde e Segurança na Doença.<br />

Deslocou-se várias vezes a França em visitas de<br />

estudo a hospitais, acompanhando os finalistas de<br />

alguns cursos de Administração <strong>Hospitalar</strong>; deu<br />

aulas da sua especialidade a vários cursos de<br />

Saúde Pública e cursos para Clínicos Gerais<br />

organizados pela ENSP; organizou colóquios<br />

para provedores, directores, clínicos e administradores,<br />

sobre <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> nas três zonas<br />

do País; participo.u em dezenas de reuniões<br />

organizadas por associações médicas e por<br />

hospitais para falar sobre matérias da sua<br />

especialidade; foi monitor e responsável pelos .<br />

cursos de reciclagem para administradores hospitalares<br />

realizados pela cadeira de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> em Braga e Portalegre; integrou<br />

cursos organizados para Engenheiros e Técnicos<br />

dos Serviços de Instalações de Hospitais; e foi<br />

responsável pela organização de jornadas e<br />

encontros sobre financiamento hospitalar, levados<br />

a efeito pela ENSP.<br />

Em Janeiro de 1980 Augusto Mantas ascendia a<br />

Director-Geral do Departamento de <strong>Gestão</strong> Financeira<br />

da Saúde, responsável pelo orçamento<br />

do SNS e pela distribuição dos recursos aos<br />

diversos serviços. E neste ano colaborou na<br />

F»erfil<br />

preparação do Plano de Contas para os Serviços<br />

de Saúde, aprovados por despacho ministerial de<br />

Novembro desse ano . . Entretanto dirigiu os<br />

estudos que conduziram ao novo sistema de<br />

financiamento dos hospitais, que vigorou desde<br />

1981 a 1986.<br />

Em 1984 foi nomeado presidente da Comissão<br />

Instaladora do Serviço de Informática da Saúde,<br />

de que pediu a exoneração em 1987, e neste mesmo<br />

ano mereceu a eleição para vogal do Conselho<br />

Directivo da ENSP, cargo para que voltou a ser<br />

eleito em 1990, mantendo-se nessa situação até<br />

meados de 1994. Na qualidade de director-geral do<br />

Departamento de <strong>Gestão</strong> Financeira da Saúde, foi<br />

responsável, de 1982 a 1986, pelo projecto de<br />

desenvolvimento de um sistema de informação<br />

para a gestão 'dos hospitais, em colaboração cob1<br />

a USAID da Embaixada dos EUA, em Lisboa.<br />

Convites para participar em conferências e<br />

reuniões de carácter internacional foram inúmeros:<br />

da Yale School Organization and Managemen<br />

t, para falar sobre a administração e<br />

financiamento, em Portugal, no forum Management<br />

and Financing of Hospitals Services, em<br />

Londres, em Dezembro de 1986; do Hospital<br />

Committee of E.C., para participar nas reuniões<br />

finais dos Exchange Programmes for Y oung<br />

Hospital Administrators, em 1987, 88 e 91; da<br />

OMS, para participar, em Março de 1988, numa<br />

missão em Maputo, destinada a preparar um<br />

plano de formação e treino em Economia . da<br />

Saúde para os PALOP, em colaboração com uma<br />

consultora do Banco Mundial.<br />

A partir da sua eleição para membro do Conselho<br />

Directivo da ENSP ficou com a área de Acção<br />

Externa e aí procurou desenvolver actividades de<br />

consultadoria para o exterior, especialmente para<br />

os PALOP, apresentando-se a escola a vários<br />

concursos internacionais, ou directamente ou em<br />

associações com firmas nacionais ou estrangeiras,<br />

tendo-lhe sido adjudicados alguns projectos<br />

que estão em curso e um que foi já concluído<br />

(Angola e Moçambique).<br />

Desde 1960 para cá publicou wiriadíssimos<br />

artigos e trabalhos em revistas nacionais e<br />

estrangeiras sobre matérias em que se especializou.<br />

Existem, também, algumas publicações de<br />

sua autoria, em edi~ões do Conselho Coordenador<br />

do Ministério dos Assuntos Sociais; da ENSP; da<br />

Direcção Geral dos Hospitais («Notas sobre o<br />

movimento e os dados económico-financeiros dos<br />

Hospitais Centrais», desde 1968 até 1975).<br />

A partir de 1980 e até 1985 foram editados e<br />

publicados relatórios anuais com as contas e<br />

dados sobre o movimento dos serviços integrados<br />

no Serviço Nacional de Saúde, sendo todos os<br />

comentários de sua autoria. Apresentou trabalhos<br />

em jornadas, encontros e reuniões internacionais,<br />

muitos em colaboração com outros<br />

docentes da Escola - Prof. Correia de Campos,<br />

Caldeira dá Silva, Fernanda Navarro, Vasco Reisi<br />

Francisco Ramos e Carlos Costa. 1<br />

- ·<br />

As vantagens de um centro<br />

de tratamento de imagem<br />

A proposta para o Hospital Egas Moniz é um centro de tratamento de<br />

imagem. Com ele pode assumir-se como um prestador de serviços nesta<br />

área, quer para outros hospitais, quer para pessoas singulares.<br />

,<br />

crescente o recurso à imagiologia<br />

Vasconcellos Guimarães *<br />

em sede hospitalar; cada<br />

vez mais se faz uso de exames<br />

auxiliares de diagnóstico de de imagem (TAC, RX, ressonância) e<br />

imagem; quer na assístência aos os diferentes planos da sua utilidade<br />

utentes, quer para investigação clí- levantam problemas técnicos e jurínica<br />

e/ou científica.<br />

dicos cuja ausência de respostas tem<br />

A informação clínica deste tipo de custos graves quer no plano social<br />

exames "vive" numa escala de cin- ,, quer no domínio da investigação<br />

clViica e/ou científica.<br />

Temos, para nós, que a propriedade<br />

destes exames é do utente e a ele<br />

dizem respeito; directa ou indirectamente<br />

pagou-os, são dele; não têm<br />

que se submeter ~ois ou três dias .<br />

depois a novos exames, porque<br />

alguém arbitrária e indevidamente<br />

se apropriou deles (o caso dos<br />

utentes atendidos no banco e posteriormente<br />

transferidos para outra<br />

unidade hospitalar onde vão repetir<br />

esses exames). -:.<br />

Há, no entanto, que salvaguardar a<br />

necessidade e o interesse quer no<br />

plano clínico, quer no científico,<br />

quer ainda no jurídico, em o Hospital<br />

ficar com essas informações.<br />

Então, o problema está em saber<br />

como.<br />

Actualmente dispomos de uma tecnologia<br />

designada Microfilmagem<br />

com Modelação Electrónica de Contraste.<br />

Não tem nada que ver com o<br />

sistema convencional que apenas<br />

opera a redução da película para<br />

outro suporte.<br />

1J11t-<br />

zentos muito diversificada; tal facto<br />

requer uma especialíssima atenção<br />

na gestão desta informação, particularmente<br />

quando se opera a mudança<br />

de suporte.<br />

A necessidade e utilidade desta<br />

informação residir no processo clínico<br />

é, supomos, inquestionável; o seu<br />

uso para fins curriculares, apoio na<br />

fomação pós-graduada, investigação<br />

clínica e/ou científica, ou em Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>, reclamam<br />

acesso fácil, seguro, versatilidade,<br />

sem o que a sua utilidade neste<br />

domínio se perde; por outro lado,<br />

há que definir clara e inequivocamente<br />

questões prévias como a<br />

titularidade da propriedade destes<br />

exames.<br />

Os exames auxiliares de diagóstico<br />

Boehringer<br />

lngelheim<br />

A existência de um centro de tratamento<br />

de imagem é condição sine qua<br />

non para dar resposta às necessidades<br />

do Hospital de Egas Moniz neste<br />

domínio. Com ele, o Hospital pode<br />

assumir-se como um prestador de<br />

serviços nesta área, quer para outros<br />

hospitais quer para pessoas singulares,<br />

rentabilizando deste modo o<br />

inv'estimento e tornando-o uma fonte<br />

de receita para a instituição.<br />

HOSPITAL<br />

DIVISION<br />

Val#e through innO'Uation<br />

48 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 49


No encontro do Ribatejo, do Alentejo e da Beira Baixa, Abrantes conta desde 1985 com uma moderna<br />

unidade hospitalar, f actor da sua afirmação urbana que se espera reforçada com a entrada em<br />

funcionamento em <strong>1995</strong> do troço do I.P.6 ligando-o a Castelo Branco e à auto-estrada do Norte. No centro<br />

do país o Hospital Doutor Manoel Constâncio procura desde 1985 os rumos da qualidade.<br />

"11111 O sistema EM C (Modelação Electrónica<br />

do Contraste) permite cruzar<br />

tempos de exposição e modelação<br />

electrónica diferentes, em dezenas<br />

de hipóteses; daqui resulta ser possível<br />

obter ganhos de informação, isto<br />

é, a película no negatoscópio oferece­<br />

-nos um determinado nível de informação<br />

que, tratada com estas<br />

tecnologias e observada em equipamento<br />

apropriado, é possível ficar<br />

com essa informação num suporte<br />

fílmico de 35 mm em sais de prata.<br />

Uma vez transferida a informação de<br />

um TAC para um fotograma de<br />

35mm, que possibilidades temos?<br />

a) desde logo e ao mesmo tempo que<br />

se pode visualizar a imagem no<br />

leitor, o médico pode ampliar qualquer<br />

pormenor que qmser;<br />

b) tirar cópias rapidamente a um<br />

custo aceitável constitui uma possinilidade<br />

real que significa versatilidade<br />

e segurança; versatilidade,<br />

porque o mesmo exame pode estar<br />

em vários sítios ao mesmo tempo;<br />

segurança, porque a matriz permanece<br />

em local adequado;<br />

e) introduzir imagem de uma angiografia<br />

cerebral num CD e obter tanta<br />

informação quanta aquela que está<br />

na película original significa que o<br />

médico pode, em casa, na sua TV, ter<br />

disponíveis milhares de exames; obviamente<br />

que na hipótese de utilizar<br />

um PC permite maior definição e um<br />

número de imagens disponível on<br />

line significativamente superior,<br />

além, naturalmente, de software para<br />

gestão de imagem.<br />

d) do fotograma de 35mm podemos<br />

sempre voltar à película em tamanho<br />

original, o que constitui um factor<br />

importante na situação real do potencial<br />

utilizador não dispor de leitor<br />

adequado (caso dos tribunais).<br />

Com esta primeira mudança de<br />

suporte atingimos dois objectivos<br />

essenciais:<br />

- dar ao utente os seus exames;<br />

- garantir que o Hospital fica com<br />

essa informação clínica em condições<br />

de armazenamento óptimas e<br />

susceptíveis de utilização para efeitos<br />

de assistência ao utente a que<br />

dizem respeito.<br />

Mas porque o valor da informação<br />

clínica não se esgota aqui .- ela<br />

assume particular preponderância<br />

no domínio da investigação clínica<br />

e científica e no âmbito das funções<br />

pós-graduadas - a nossa proposta é<br />

passar do fotograma de 35 mm (onde<br />

se foi obter ganho de informação)<br />

para CD através de uma central de<br />

digitalização adequada para o efeito.<br />

Trata-se de uma metodologia em que<br />

a digitalização não se opera dire,cta-<br />

mente da película para CD - como foi<br />

experimentado nos EUA - mas utilizando<br />

de permeio a microfilmagem<br />

com EMC. A diferença entre estas<br />

duas metodologias é significativa:<br />

numa, há percas de informação,<br />

noutra, há num primeiro momento<br />

ganho de informação que no CD se<br />

conserva.<br />

De facto, o que é que vamos conseguir<br />

com o CD?<br />

Cada médico poderá ter toda a<br />

informação clínica de imagem que<br />

quiser arrumada por patologias com<br />

a possibilidade de numa simples<br />

televisão ou num PC com drive para<br />

CD ter acesso àquelas imagens.<br />

A existência de um CTI - Centro de<br />

Tratamento de Imagem, como aquele<br />

que configuramos, é condição sine<br />

qua non para dar resposta às necessidades<br />

do Hospital de Egas Moniz<br />

neste domínio.<br />

Por outro lado, com este CTI o<br />

Hospital pode assumir-se como um<br />

prestador de serviços nesta área,<br />

quer para outros hospitais quer para<br />

pessoas singulares, rentabilizando<br />

deste modo o investimento e tornando-o<br />

uma fonte de receita para a<br />

instituição. 1<br />

* Administrador hospitalar<br />

Hospital Egas Moniz<br />

berto em Outubro<br />

de 1985, o Hospital<br />

Distrital de Abrantes<br />

encontra-se no<br />

décimo ano de funcionamento.<br />

Inserido numa rede<br />

hospitalar de malha<br />

apertada no Distrito de<br />

Santarém, articula-se recentemente<br />

na Unidade<br />

de Saúde Norte do Distrito<br />

com os hospitais de<br />

Tomar e Torres Novas, a<br />

cerca de 30 kms de distância<br />

de cada um deles.<br />

Geograficamente situado<br />

no ponto de encontro do<br />

Ribatejo, da Beira Baixa e<br />

ospita<br />

Impacto na economia e na sociedade a nível regional<br />

• Volume de emprego .......... ....................... .. 550 profissionais<br />

• Volume de profissionais com<br />

formação superior .... .... .............................. ... 55%<br />

•Rendimento mensal distri buído<br />

às famílias (remunerações) ............ ......... 120 000 contos<br />

• Rendimento anual distribuído<br />

às famílias e empresas<br />

a nível regional .......................... .................... 1 500 000 contos<br />

• Esforço de recrutamento até<br />

ao ano 2000 .......... ........... .......... .. ................. + 60 profissionais<br />

• Objectivo de crescimento<br />

da actividade até ao ano 2000 .... .. .. + 25%<br />

• Despesas de exploração<br />

em 1994 (previsões) ......... .......................... 2 300 000 contos<br />

rantes<br />

do Alentejo, retira dessa<br />

localização uma tendência<br />

estrutural a que as<br />

populações abrangidas<br />

no seu espaço-cliente se<br />

distanciem sigificativamente<br />

da definição administrativa<br />

da sua área de<br />

influência, fenómeno que<br />

não tem favorecido a<br />

estabilidade necessária a<br />

um melhor planeamento<br />

estratégico.<br />

Nas condicionantes anteriormente<br />

referidas fez-se<br />

assentar o Conselho de<br />

Administração, desde a<br />

sua abertura, numa ....<br />

50 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 51


Hospital ahert«><br />

VAL~NCIAS 1 ESPECIALIDADES<br />

MÉDICAS<br />

- INTERNAMENTO:<br />

MEDICINA E ESPECIAL1L>ADES MÉDICAS<br />

• MEDICINA INTERNA ... ...<br />

• CARDIOLOGIA<br />

• GASTROENTEROLOGIA<br />

CIRURGIA E ESPECIALIDADES CIRÚRGICAS<br />

• CIRURGIA GERAL<br />

•OTORRINO<br />

•UROLOGIA<br />

• OFTALMOLOGIA<br />

• OBSTETRiCIA I GINECOLOGIA<br />

• PEDIATRIA/ NEONATOLOGIA<br />

•ORTOPEDIA<br />

Esquema de serviços e lotações<br />

MEIOS COMPLEMENTARES DE<br />

DIAGNOSTICO E TERAP~UTICA<br />

. • PATOLOGIA CLÍNICA (ANÁLISES)<br />

• RADIOLOGIA CONVENCIONAL<br />

•ECOGRAFIA<br />

• ECOCARDIOGRAFIA<br />

• ENDOSCOPIA DIGESTIVA I UROLÓGICA I<br />

I GINECOLÓGICA<br />

• ELECTROCARDIOGRAFIA<br />

• AUDIOMETRIA<br />

• IMUNO-HEMOTERAPIA (S. SANGUE)<br />

• LITOTRÍCIA ULTRASSÓNICA POR VIA<br />

ENDOSCÓPICA<br />

• MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO<br />

• ANESTESIOLOGIA<br />

LOTAÇÃO TOTAL 359 CAMAS<br />

O grupo dg, Carta <strong>Hospitalar</strong> pro.cedeu em 1987 à -revisão do Programa de<br />

Serviço e Lotações que presidiu à construção do hospital, tendo a lotação<br />

oficial passado de 359 para 291 camas assim distribuídas:<br />

MElllClllA E ESPEC. MmtCAS CIRUll&IA I ESPEC. CIROR&ICAS OBSTETRÍ- 6111ECOLO- llE{)TALO- U.C.INTER-<br />

MEDClllA &ASTROEI CARlllOLO- CIRUR61A OTORRINO UROL061A<br />

OFTAU40- ORTOPEDIA CIA &IA PEDIATRIA &IA MlDIOS<br />

lllTERllA TEROL061A &IA 6ERAL L061A<br />

48 5 11 48 16 13 13 38 35 19 35 8 3<br />

Lotação construída e equipada ....................... 359 camas<br />

Lotação oficial ................................................. 291 "<br />

Lota cão activa (1994) ....................................... 210 "<br />

O esquema de serviços e lotações corresponde à diferenciação de um hospital<br />

de nível 2 em que as valências básicas estão dimensionadas para servir 90 mil<br />

habitantes e as intermédias para cerca de 160 mil habitantes.<br />

~ estratégia de gestão orientada no<br />

sentido duma cultura da qualidade<br />

global, indispensável à viabilização<br />

do hospital e orientada segundo os<br />

vectores básicos:<br />

-Afirmação da qualidade técnica<br />

e da eficácia dos serviços;<br />

- Satisfação dos utentes<br />

e dos profissionais;<br />

- Produção de serviços<br />

a custos socialmente aceitáveis;<br />

Através duma gestão participada por<br />

objectivos conseguiu-se o envolvimento<br />

dos serviços na realização<br />

das metas do hospital. Dispõe-se de<br />

um sistema de informação que permite<br />

uma avaliação responsável dos<br />

resultados e um planeamento sustentado<br />

dos serviços.<br />

A satisfação dos utentes constitui<br />

outro vector fundamental da gestão<br />

no H.D. Abrantes com tradução na<br />

criação do Gabinete de Acolhimento<br />

e Atendimpnto na Urgência, introdução<br />

da Ementa Múltipla de Refeições,<br />

na facultação do acompanhamento<br />

dos · pais das crianças<br />

internadas, na assistência do marido<br />

ao parto, na disposição de telefones<br />

móveis para os doentes acamados, na<br />

personalização dos cuidados médicos<br />

e de enfermagem, entre outros.<br />

A pesquisa da opinião dos doentes<br />

associada à exploração dos elementos<br />

fornecidos pelo Gabinete do<br />

Utente vem constituindo um instrumento<br />

importante na avaliação da<br />

satisfação e da imagem da instituição<br />

junto do público, com relevância<br />

na orientação do esforço de gestão.<br />

No domínio assistencial a criação da<br />

Unidade de Recobro no Bloco Operatório,<br />

a introdução da Consulta de<br />

Pré-Anestesiologia, o desenvolvimento<br />

da tecnologia laboratorial,<br />

da ecocardiografia na área das doenças<br />

cardiológicas e da campimetria<br />

na área oftalmológica, constituem ·<br />

passos recentes no caminho da eficá-<br />

eia, da qualidade e da humanização,<br />

evitando penosas deslocações a centros<br />

distantes.<br />

Em 1994 foram iniciadas as técnicas<br />

de artroscopia em Cirurgia Ortopédica<br />

e está a ser feita a formação<br />

externa de cirurgiões e enfermeiros<br />

para a introdução a curto prazo da<br />

Cirurgia Laparoscópica (por via<br />

endoscóp,ica).<br />

Neste domínio importa ainda referir<br />

a diferenciação decorrente da função<br />

de Hospital de Apoio Peri-Natal no<br />

ambito do Plano de Saúde Materna e<br />

Infantil, com o equipamento e entrada<br />

em actividade da Unidade de<br />

Cuidados Intermédios de Neonatologia.<br />

No domínio da modernização administrativa<br />

foi feito um esforço considerável<br />

na informatização em rede<br />

da gestão de doentes bem como na<br />

dotação de equipamentos informáticos<br />

de diversas áreas do hospital.<br />

Articulando a pesquisa e a acção o<br />

H.D.A. assumiu-se como campo de<br />

experiências no domínio da promoção<br />

da adequação de utilização do<br />

Internamento, do planeamento de<br />

Altas, da avaliação da produção<br />

hospitalar através dos grupos de<br />

diagnóstico homogéneos, da implementação<br />

dum novo modelo de gestão<br />

de pessoal de enfermagem, desenvolvendo<br />

igualmente um grande<br />

esforço de apoio técnico a diversos<br />

grupos de trabalho de organismos<br />

centrais e facultando campos de<br />

estágio e visitas a milhares de<br />

profissionais de saúde de todo o país.<br />

A determinação no serviço às populações<br />

levou à ultrapassagem dos<br />

muros do hospital, deslocando médicos<br />

pediatras aos Centros de Saúde, e<br />

num esforço pioneiro promove desde<br />

1990, em conjunto com a A.R.S. de<br />

Santarém, esforços de melhoria do<br />

atendimento nos Serviços de Urgência.<br />

Recrutamento<br />

e formação de pessoal<br />

Desde a instalação que tem sido<br />

seguida uma política de recrutamento<br />

faseado e integrado dos diversos<br />

grupos sócioprofissionais. Melhorou<br />

fortemente a atracção do hospital<br />

sobre diversos sectores técnicos estratégicos,<br />

nomeadamente médicos e<br />

enfermeiros, a par de uma maior<br />

lndicêl_dores da actividade assistencial 1986-1994<br />

Serviços<br />

1986 1990 1991 1992 1993 1994<br />

'<br />

índiCadores Actividade<br />

LOTAÇÃO (ACTIVA) 171 201 201 201 201 201<br />

1<br />

N DOENTES SAiDOS 3944 6761 7227 7556 7483 7705<br />

T<br />

E DIAS INTERNAMENTO 47618 56301 55642 56611 58973 58044<br />

R<br />

N<br />

%OCUPAÇÃO 76.29 76.74 75.84 76.95 80.38 79.12<br />

A DEMORA MÉDIA 12.07 8.33 7.7 7.49 7.88 7.53<br />

M<br />

E EXIST~NCIA MÉDIA 130.46 154.25 152.44 154.6 161 .5 159<br />

N<br />

'<br />

T ÍNDICE CASE MIX 1 • 0.99 1.003 0.993 0.998 (0.99º5) *<br />

o VALOR PRODUÇÃO AJUS-<br />

TADAINTERNAMENTO<br />

I •:<br />

3944 6693 7252 7500 7500 7667<br />

URG~NCIA 30357 42948 ' 46678 43132 52101 51010<br />

CONSULTAS EXTERNAS 29958 45889 45961 46845 47159 46400<br />

INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS 1093 2375 2389 2565 2737 2731<br />

ANÁLISES CLÍNICAS 121137 233408 254060 315371 358412 380000 *<br />

EXAMES ESPECIAIS 619 2885 2558 3939 4686 4700 *<br />

IMAGIOLOGIA (EXAMES) 22157 42883 43508 46877 51147 50000 *<br />

TRANSFUSÕES 1238 2585 2268 2970 3233 4000 *<br />

TRATAMENTOS REABILITAÇÃO 27363 48356 52966 46973 50731 62000 *<br />

PRODUÇÃO GLOBAL AJUSTADA ( 1 5394 8810 9480 9642 9906 10043<br />

..<br />

*<br />

iNDICE DE ACTIVIDADE 100 164 175 178 . 184 187<br />

(l)Produção Global Ajustada - com base na fórmula de ajustamento do IGIFSS =Doentes Saídos Ajustados<br />

(I. C.Mix) + (Urgências/34. 7) + (Consultas/51.2) ; * Valores Provisórios<br />

O desenvolvimento da actividade e a melhoria da utilização constituem<br />

resultados duma dinâmica de melhoria do acesso e da eficiência técnica do<br />

hospital;<br />

As dificuldades de recrutamento de pessoal médico e de enfermagem têm<br />

desacelerado os ritmos de crescimento nos últimos três anos.<br />

...<br />

Evolução do Ambulatório 1981/1994 ·<br />

Consultas externas e urgência (volume de atendimentos)<br />

riliii. Urgência - -<br />

50000<br />

f--cons. Externa<br />

40000<br />

30000<br />

20000<br />

10000<br />

o .<br />

O acesso às consultas apresenta-se muito superior à mé - nacional dos<br />

hospitais distritais. Desde 1986 que o volume de consultas ultrapassa o das<br />

urgências, situação invulgar no panorama hospitalar português. Nos últimos<br />

dois anos a Urgência volta a acusar os efeitos das deficiências na ~articulação<br />

dos cuidados primários e hospitalares.<br />

-<br />

estabilização dos diversos sectorer<br />

de pessoal; persistem neste momento<br />

dificuldades de recrutamento nas<br />

áreas médicas da anestesiologia,<br />

radiologia, anatomia patológica; o<br />

recrutamento de pessoal de enfermagem<br />

encontra-se bloqueado por indisponibilidade<br />

de lugares de ingresso<br />

inersnte à vigencia de um quadro<br />

com 7 anos; este facto constitui<br />

conjuntamente com as dificuldades<br />

de anestesiologia o maior factor de<br />

estrangulamento funcional do hospital<br />

e aguarda a alteração do quadro<br />

já discutido superiormente para ser<br />

ultrapassado.<br />

O desenvolvimento das concessões<br />

nas áreas dos serviços hoteleiros tem<br />

permitido a es Jização do efectivo<br />

médio anual e desacelerar o crescimento<br />

da despesa com pessoal cuja<br />

taxa se apresenta inferior ao nível da<br />

inflação em 1993 e 1994.<br />

O Departamento de Formação, na<br />

dependência da Administração do<br />

Pessoal, integra a formação dos<br />

diversos sectores desenvolvendo a<br />

par dos programas de formação<br />

previstos nos planos de acção, todos<br />

os programas de acolhimento e<br />

integração de pessoal os quais se<br />

vêm revelando factores importantes<br />

da difusão da " cultura" do<br />

H.D .Abrantes.<br />

~ .,. . . . .... ·::.: .·:-:·:·:-:-:-:-:-..· .· .·:- .-:-:·:·:·:·:·:-:-:-<br />

Diária/lntern. 13695 18651 22089 21693<br />

Doente saído<br />

internamento 114080 143614 165449 170962<br />

Consulta 2405 3114 3338 4025<br />

Urgência 5322 6475 8361 7753<br />

Refeição 371 430 494 452<br />

Kg roupa tratada 117 121 129 150<br />

Análise . 322 355 282 316<br />

Exame radiológico 916 1240 1380 11279<br />

Tratamento reabil. 377 390 479 604<br />

lmuno-hemoterapia<br />

(Transfusão) - 13318 16682 15192 12817<br />

* Valores em escudos<br />

Apesar de funcionar ainda apenas a<br />

70% da sua capacidade de produção<br />

os custos unitários situam-se abaixo<br />

dos valores médios nacionais para os<br />

hospitais distritais.<br />

Um financiamento baseado na produção<br />

por G.D.H. , cujo "índice de<br />

case mix" de doentes saídos do<br />

Internamento se tem situado em<br />

torno de 0.995 nos últimos três anos,<br />

cobrindo claramente os custos do<br />

Internamento nos últimos anos.<br />

. ..,.<br />

52 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 53


Ho<br />

Um trabalho coeso duma equipa de gestão integrando médicos,<br />

enfermeiros, engenheiros e administradores revelou-se f actor fundamental<br />

duma dinâmica no rumo da qualidade e tivemos a felicidade<br />

dessa situação acontecer neste hospital ao longo dos 1 O anos, reconhece<br />

Silvino Maia Alcaravela, administrador-delegado do Hospital Distrital<br />

de Abrantes.<br />

Trabalho coeso<br />

ao longo de 1 O. anos<br />

ESTAO HOSPITALAR -<br />

Em que se tem traduzido,<br />

eni termos de resultados e<br />

do ponto de vista da gestão,<br />

a estratégia rumo à qualidade?<br />

SILVINO ALCARAVELA<br />

- A estratégia de promoção<br />

d!.. qualidade impunha-se<br />

naturalmente perante a instalação<br />

e desenvolvimento<br />

de um novo hospital e tem<br />

tradução evidente em diversos<br />

indicadores. Ao nível da<br />

capacidade técnica e da<br />

disponibilidade de serviços<br />

verifica-se um salto qualitativo<br />

e quantitativo muito<br />

grande, quer em termos de<br />

recrutamento de pessoal, quer da<br />

tecnologia instalada, permitindo sustentar<br />

melhorias da qualidade assistencial.<br />

Além destas melhorias qualitativas<br />

A opinião dos utentes do Hospital de Abrantes<br />

:~-!~-~-' __.;______--==---; "-'!<br />

r_\j_, ··i_. ~- -'_§§JJ_flMf_m..._JI<br />

54 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

'frutas tlê 1j.mva1êueiâ<br />

tia ínfuê~ãô Hm;pitaiãt<br />

1~gg=-1994<br />

1988 1990 1992 1993 1994<br />

foi possível providenciar aumentos<br />

significativos no acesso aos cuidados<br />

através da disponibilidade de serviços<br />

e nas melhorias de eficiência<br />

entretanto verificadas.<br />

Em 1993 o H.D.A., providenciava 422<br />

consultas/mil habitantes, 437 atendimentos<br />

urgentes/1000 hab. e 68 internamentos/1000<br />

hab., muito superiores<br />

a taxas de frequência que<br />

caracterizam os hospitais distritais.<br />

Decorrendo do aumento da disponibilidade<br />

e da aceitabilidade do hospital<br />

verifica-se o alargamento do<br />

seu espaço-cliente e um crescimento<br />

muito acentuado da atracção sobre<br />

concelhos exteriores à sua área de<br />

influência tradicional.<br />

Evolui de modo interessante a utilização<br />

adequada das camas activas,<br />

aumentando a rotação de camas,<br />

apesar de grande ausência de condições<br />

para a continuidade dos cuidados<br />

bem identificados nos relatórios<br />

de Planeamento de Altas.<br />

A partir de 1990 os custos<br />

unitários do hospital tendem<br />

a situar-se abaixo do nível<br />

médio dos hospitais distritais,<br />

e isto apesar de um<br />

nível de activação inferior a<br />

70% da capacidade teórica<br />

da produção de serviços.<br />

Os indicadores do balanço<br />

social traduzem a existência<br />

dum clima social favorável à<br />

satisfação dos profissionais e<br />

à realização dos objectivos<br />

~:. instituição até ªº presen-<br />

r<br />

1 ~<br />

1 •<br />

! ~<br />

t~ ~ -<br />

Novo Sistewna hn~,grado de lnform{tçáo para a <strong>Gestão</strong><br />

Elementos duma Estratégia de Promoção<br />

da Qualidade e da Eflooda<br />

~~ · I<br />

@<br />

1111\. 1<br />

=e~<br />

lll!itiê<br />

~<br />

il 1<br />

1 . -~ 1<br />

GH - Da sua experiência de<br />

instalação de um novo hospital e<br />

do desenvolvimento da sua gestão<br />

ao longo de 10 anos quer apontar<br />

alguns aspecto8' mais relevantes<br />

para o processo de gestão?<br />

SA - A compreensão que reputamos<br />

indispensável da complexidade do<br />

sistema sóciotécnico do hospital,<br />

revelou-se da maior importância.<br />

Trata-se de um processo que exige<br />

algum tempo de vivência intensa da<br />

vida da instituição hospitalar e sem o<br />

qual surge fortemente comprometida<br />

a capacidade de aliviar tensões,<br />

neutralizar conflitos, que condiconam<br />

fortemente a eficácia da gestão.<br />

Um trabalho coeso duma equipa de<br />

gestão integrando médicos, enfermeiros,<br />

engenheiros e administradores<br />

revelou-se factor fundamental duma<br />

dinâmica no rumo da qualidade e<br />

tivemos a felicidade dessa situação<br />

acontecer neste hospital ao longo<br />

dos 10 anos . _<br />

A conjugação da pesquisa e da acção<br />

revelou-se igualmente estratégica à<br />

sustentação do processo de gestão,<br />

contribuindo para a sedimentação<br />

duma cultura hospitalar orientada<br />

por valores da qualidade.<br />

A participação em diversos projectos<br />

relativos à utilização do Internamento,<br />

ao Planeamento de Altas, à gestão<br />

do pessoal de enfermagem, à gestão<br />

de materjais .e à garantia da qualidade<br />

vem-se revelando, para além de<br />

instrumentos de animação do hospital,<br />

interessantes ferramentas da<br />

gestão. Considero igualmente estratégico<br />

um permanente e profundo<br />

sentido de diálogo com os diversos<br />

actores do hospital. Uma gestão<br />

participada por objectivos é indispensável<br />

à superação das tendências<br />

balcanizadoras dos diversos subsistemas<br />

da àrea assistencial.<br />

A concepção e aplicação dum sistema<br />

de informação para a gestão<br />

dotado de indicadores pertinentes e<br />

socialmente reconhecidos pelos responsáveis<br />

dos serviços é também, · do<br />

meu ponto de vista, indispensável ao<br />

diálogo eficaz no seio da instituição<br />

hospitalar.<br />

Finalmente desejaria salientar que<br />

um processo de construção e mudança<br />

duma cultura institucional assenta<br />

numa entusiástica adesão da<br />

equipa de gestão aos valores da<br />

qualidade e do respeito pelos utentes<br />

dos serviços. Assenta ainda e é bom<br />

que se diga numa participação empenhada<br />

e orgulhosa de muitos profissionais<br />

nos diversos níveis do sistema.<br />

GH - E que resultados têm sido<br />

obtidos? Os doentes manifestam­<br />

-se satisfeitos?<br />

SA - A procura dessa avaliação<br />

traduz-se na elaboração de inquéritos<br />

sistemáticos de pesquisa de opini.ão<br />

aos doentes internados, no<br />

tratamento das reclamações, críticas,<br />

sugestões e elogios que nos<br />

chegam através do Gabinete do 1J11i-<br />

Honraram-nos com a sua preferência, confiando-nos a gestão<br />

dos seus serviços de alimentação as Unidades <strong>Hospitalar</strong>es:<br />

HOSP. DIST. DE ABRANTES • HOSP. DIST. DE BRAGANÇA • HOSP. DIST. DE CASTELO BRANCO • HOSP. DIST. DO FUNDÃO .. • HOSP.<br />

DIST. DE MIRANQELA • HOSP. DIST. SOUSA MARTINS(GUARDA) ~ HOSP. DIST. DE TORRES VEDRAS • HOSP. GERAL DA COL. PORT<br />

DO BRASIL(_COVOES) • HOSP. MIGtIEL BOMBARDA • tJ:OSP. PEDIAT. DE COIMBRA • HOSP. REINALDO DOS SANTOS(V.F DE XIRA) ~<br />

HOSP. S. JOAO DE DEUS(FAMALICAO) • HOSP. S. JOSE DE FAFE • HOSP. DO STO. ESPÍRITO DE ANGRA DO HEROÍSMO(AÇORES) •<br />

HOSP. DE STA LUZIA(ELVAS) • HOSP. DE VIALONGA • MATERN. ALFREDO DA COSTA(LISBOA) • MAIBRN. JÚLIO DINIS(PORTO)<br />

NUTRIRES T, C OMPANHIA POR~GUESA DE RESTAURAÇÃO COLECTIVA, S. A<br />

SEDE: R. Francisco Tomás da Costa, 2-2 2 Esq. 1600 LISBOA - •


aberto<br />

EFICÁCIA DE GESTÃO - Desvios entre os objectivos e os níveis de actividade realizados em 1994<br />

respostas que correspondam ao que<br />

temos chamado os desafios de conjuntura<br />

até ao final do século.<br />

Em primeiro lugar continuar a desenvolver<br />

a nossa cultura de qualidade,<br />

base indispensável à afirmação<br />

do hospital; em segundo, promover a<br />

inovação tecnológica a par do recrutamento<br />

do pessoal que permita<br />

manter e desenvolver a credibilidade<br />

do hospital. A introdução da<br />

cirurgia laparoscópica, a continuidade<br />

da artroscopia, as aplicações de<br />

laser nas especialidades cirúrgicas<br />

constituem algumas das inoyações<br />

capazes de sustentar o desenvolvimento<br />

do hospital.<br />

- Em terceiro lugar há que diversificar<br />

e desenvolver a oferta de serviços<br />

quer no domínio da hospitalização<br />

privada, quer das unidades de internamento<br />

de mais longa duração , a<br />

que o Ministério da Saúde tem<br />

chamado "hospitéis" e que correspondem<br />

aos desafios que o envelhecimento<br />

tero posto cada vez mais.<br />

No domínio das novas tecnologias de<br />

diagnóstico e tratamento considera­<br />

-se da maior importância um esforço<br />

de equipamento nas áreas da tomo­<br />

1 ernamento AmbulatóNO Meios Complementares Diagnóstico e Terapêutíca Serv.<br />

70 .<br />

Hoteleiros<br />

j<br />

• Doentes Saídos Ajustados pelo Índice do Case Mix.<br />

-<br />

56 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

60 · A linha 100 corresponde aos índices de actividade realizados em 1993<br />


-41111 no futuro, continuar-se-á a desenvolver<br />

a concessão de serviços de<br />

apoio geral encontrando-se actualmente<br />

concessionados, os serviços de<br />

alimentação, bar, bazar, Lavandaria<br />

e limpezas gerais.<br />

GH - E como perspectiva a<br />

integração do hospital na rede<br />

hospitalar distrital face à construção<br />

de 2 novos hospitais, de<br />

Tomar e Torres Novas?<br />

SA - O Hospital de Abrantes integra<br />

com os de Torres Novas e Tomar a<br />

Unidade de Saúde Norte do Ribatejo,<br />

com uma população abrangida da<br />

ordem dos 260.000 habitantes, e é<br />

nesse espaço integrado que vai oferecer<br />

os seus serviços.<br />

O Conselho de Administração do Hospital Distrital de Abrantes<br />

A construção de dois novos hospitais<br />

não se traduzindo num aumento<br />

significativo das lotações actuais<br />

r ão deixára contudo de tornar mais<br />

EVOLUÇÃO DAS COMPONENTES DA DESPESA DE EXPLORAÇÃO - 1988/94 '<br />

o<br />

ANOS<br />

1938 19 9 19 o 1991 19 l 1993 1994<br />

- -<br />

f OA\ CC. E ER\'l fE~Ei ROS 61639 84634 125290 192396 249781 280781 310Wl<br />

i.b.-Co\!MfOS-\0\1lS Fh. \OS 55160 74018 92483 96316 140005 160000<br />

• )~fiLA 00 E ~h 1EtjAA 00 56094 79100 92483 96316 91241 92000<br />

RECEITAS PRÓPRIAS DA EXPLORAÇÃO 1986 - 1993<br />

~--A;;;;;- 1m 1981 198s !' 1989 1990 1m 1992 1993<br />

1<br />

; ~ditad_o~ ~ 1 l<br />

. 1-· ··--···-· ..........-....·-·..----. ·-·............ ..._............ ..... -r·--·--r-........_.., .<br />

;;~:~-t::- -~- -~- -~::;~~- -;:~ :~-~:~t~~:~f ~-1<br />

f<br />

'Nível ·····-·-· de ·-·--·----·-····~~··-· Cobertura cf<br />

i<br />

--·-····---·· --------- ----·---·-·..- ...·--·----·-·-·--·-·---+-----··----· 1 ....._______<br />

,Dei "&p!oraçio pot 8.9'W. 10.4" 10.5% 10.5% 10,95%, 12.5% li 1l6% 1 16% 1<br />

1<br />

Reeeitas Ptõprias _<br />

Evolução da taxa de cobertura da despesa de exploração através de receitas próprias<br />

a Despesa de Exploração<br />

2000000 •Receitas Próprias<br />

da Explqração<br />

1500XJO ,._ _<br />

500000 .- ·<br />

__ _<br />

"!<br />

.<br />

1986 1987 1988 l 1989 1990 1991 1992 1993<br />

concorrencial o mercado da saúde no<br />

espaço regional em que se integra.<br />

Numa estratégia de complementaridade<br />

gerida parece particularmente<br />

adequada e necessária a organização<br />

dos serviços no contexto da Unidade<br />

de Saúde do Norte do Ribatejo.O<br />

redimensionamento da oferta de<br />

serviços e a ultrapassagem do carácter<br />

fragmentário da rede hospitalar,<br />

a articulação com o sector privado,<br />

revelam-se tarefas complexas , áreas<br />

do meu ponto de vista indispensáveis<br />

a uma linha de preocupações de<br />

eficiência e garantia da qualidade a<br />

prosseguir de modo integrado no<br />

ambito da Unidade de Saúde Norte<br />

do Ribatejo.<br />

GH - Está assim rejeitada a tese<br />

do "elefante branco" com que<br />

algum sensacionalismo jornalístico<br />

traduziu o hiperdimensionamento<br />

do hospital?<br />

SA - A Unidade de Saúde Norte do<br />

Ribatejo passará a dispor de 2. 7<br />

camas por mil habitantes, valor que<br />

pode considerar-se razoável e susceptí<br />

vel de permitir uma utilização<br />

optimiza&a em benefício das populações<br />

do distrito. Tal dependerá contudo<br />

dum quadro institucional e<br />

legal que ·permita a concretização<br />

das mudanças. Quero, a propoósito<br />

do elefante, referir-lhe que o H.D.A.<br />

representou em 1993 2,24 % da<br />

produção global ajustada dos hospitais<br />

distritais, tendo a sua quota de<br />

financiamento público sido de 1,97%.<br />

Posso ainda informar que no amplo<br />

jardim do hospital permanecem verdejantes<br />

os relvados e desabrocham<br />

em cada Primavera muitas flores.<br />

Afinal, será possível que por aqui<br />

ande algum elefante? Branco pelo<br />

menos não será! 1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

.<br />

1<br />

1<br />

A gestão estratégica<br />

é a única forma de gestão<br />

participati úa susceptível<br />

de provocar evoluções<br />

importantes numa instituição<br />

de tipo profissional.<br />

I<br />

E esta participação que torna<br />

possível um melhoramento<br />

dos modos de actuação,<br />

'<br />

assim como a procura<br />

de uma visão colectiva<br />

I<br />

das orientações. E aqui que reside<br />

a principal inovação e, ao mesmo<br />

tempo, a grande dificuldade, pois<br />

esta participação só é possível<br />

com uma verdadeira evolução<br />

da mentalidade dos profissionais.<br />

Ser- lhes-á necessário<br />

abandonar os seus reflexos<br />

individualistas e cessar<br />

de construir um pseudo-consenso<br />

sobre a designação administração.<br />

m termos legais tudo aponta,<br />

pelo menos desde o Decreto­<br />

-Lei nº. 19/88, para que o<br />

hospital público se organize<br />

e adopte conceitos empresariais.<br />

No entanto, poucas formas de<br />

actua:~ão empresarial foram pensadas<br />

e, ainda menos, postas em<br />

prática.<br />

Este livro versa tudo sobre gestão,<br />

mas foge ao comum dos livros sobre<br />

este tema na medida em que<br />

desenvolve um conceito de gestão<br />

com um especial pendor "empresarial",<br />

o conf:eito de gestão estratégica,<br />

e, mais , aplica-o a<br />

instituições de saúde.<br />

O conceito não é novo, começou a<br />

ser desenvolvido na década de 60,<br />

no sector empresarial norte-americano,<br />

e teve como grandes defensores<br />

Porter e, inclusivé, Mintzberg.<br />

E tanto não é um conceito novo<br />

que já se encontram autores que o<br />

criticam.<br />

A gestão estratégica é fundada na<br />

difusão, ao má.is profundo da orga-<br />

MICHEL CREMADEZ<br />

EA COLLABORATION AVEC<br />

FRANÇOIS GRATEAU<br />

Le<br />

management<br />

stratégique<br />

hospitalier<br />

Manuela Mota Pinto*<br />

nização, das preocupações que a<br />

divisão vertical do trabalho atribui<br />

unicamente aos escalões superiores<br />

da direcção. _<br />

"Le Management Stratégique Hospitalier"<br />

consegue, através de uma<br />

análise extremamente clara e coerente,<br />

caracterizar o hospital, sob o<br />

ponto de vista organizativo, adaptando-o<br />

ao contexto socioeconómico<br />

que o envolve e muitas vezes o<br />

tolhe. No entanto, não se fica por<br />

esta mera caracterização, antes faz<br />

evoluir as suas formas organizativas<br />

a ponto de inverter aquela<br />

~ .<br />

consequencia.<br />

O diagnóstico da situação actual, a<br />

abertura do hospital ao meio-ambiente,<br />

a reorganização da velha<br />

estratégia, o desenvolvimento de<br />

um sistema de informação estratégico,<br />

a conquista de vantagens<br />

concorrenciais e a modificação<br />

organizacional necessária ao tipo<br />

de gestão' ~stratégica proposta são<br />

t f t f -t t f f t t<br />

lnterEditions<br />

alguns dos subtemas desenvolvidos.<br />

Cremadez afirma que "quanto<br />

maior for a maturidade estratégica<br />

das instituições, mais se desiquilibra<br />

o actual processo de planificação<br />

do sistema de saúde e se<br />

enfraquece as estruturas de tutela<br />

( ... )O modo de planificação actual,<br />

tecnocrático e centralizado é particularmente<br />

vulnerável aos modos<br />

ge actuação aqui propostos".<br />

E um livro francês aplicado à<br />

realidade francesa. No entanto, a<br />

similitude entre as formas organizativas,<br />

francesa e portuguesa,<br />

torna-o facilmente transportável<br />

para a nossa realidade, sendo,<br />

assim, um importante livro de<br />

consulta.<br />

*Administradora hospitalar<br />

"' , ,., NAL DE<br />

Ma~1§~~.P-lmté.giqu<br />

pttrr-tier -<br />

2, Michel Cremadez<br />

I erEditions<br />

58 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 59<br />

E- ~ 2 l 1 C· f E C r


Para uma melhor qualidade de vida ...<br />

investigamos,<br />

desenvolvemos e fabricamos<br />

fármacos·<br />

de_ elevada segurança<br />

e eficácia.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!