Gestão Hospitalar N.º30 1995
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;, IJ<br />
r: 'r ivista da Associação Portuguesa<br />
e Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Nº 30 • ANO IX • DEZ/94-JAN/95 • 850$00<br />
o<br />
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J ~8.)!JLJllYllU<br />
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Membro da Associação Europeia<br />
de Directores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
DIRECTORA<br />
Armanda Miranda<br />
CONSELHO REDACTORIAL<br />
Ana Isabel Gonçalves<br />
Joaquina Matos<br />
Jorge Poole da Costa<br />
Manuel Ligeiro<br />
Manuel Delgado<br />
Vítor Freire<br />
PROPRlF.UADE<br />
Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Empresa jornalística nº 209259<br />
Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />
ADMINISTRAÇÃO E ASSINATURAS<br />
APAH<br />
Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />
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Avª. Ressano Garcia, 27-r/c 1000 Lisboa<br />
Tels.: 387 71 38/18/50/42 - 387 70 79<br />
PRODUÇÃO GRÁFICA<br />
Augusto Teixeira<br />
MONTAGEM<br />
Montalito<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
JMToscano<br />
Tel.: 3479735 Fax:3479736<br />
ASSINATURA ANUAL -3.000$00<br />
PlJBLICAÇÃO TRIMESTRAL<br />
TIRAGEM - 2.000 exemplares<br />
N 11 Registo 109060<br />
Depósito legal nº 16288/87'<br />
ISSN: 0871 - 0776<br />
1<br />
Revista da Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
EDITORIAL 4<br />
MARCO DO CORREIO 5<br />
SAIBA QUE... 6<br />
Notícias da APAH<br />
Agenda de Cursos é Congressos<br />
OPINIÃO 1<br />
Cenários para a Privatização<br />
- artigo de Manuel Delgado.<br />
OPINIÃO il<br />
12<br />
A ética na actividade hospitalar<br />
- artigo de Paula Apolinário Sousa<br />
e Maria Armanda Miranda<br />
DOCUMENTO 1<br />
Por uma política nacional<br />
de saúde mental<br />
_:_ As propostas da Associação<br />
9<br />
15<br />
DOCUMENTO li 21<br />
O futuro do sistema de saúde<br />
em Portugal, por Janet Guptill<br />
ENTREVISTA 24<br />
Entrevista com o Secretário<br />
de Estado da Saúde, Lopes Martins<br />
INVESTIGAÇAO 1 28<br />
Despesas com a Saúde em Portugal,<br />
por Francisco Ramos<br />
e Maria João Amaral<br />
INVEST.IGAÇÃO il 33<br />
O mercado de Cuidados de Saúde<br />
dos Hospitais Públicos<br />
da Região do Minho,<br />
por Lino Mesquita Machado<br />
ACONTECIMENTO 41<br />
Homenagem<br />
ao professor Augusto Mantas<br />
PERFIL 46<br />
Augusto Quintanilha Mantas<br />
GESTÃO 49<br />
As vantagens de um centro<br />
de tratamento de imagem,<br />
por Vasconcellos Guimarães<br />
HOSPITAL ABERTO<br />
51<br />
O Hospital de Abrantes<br />
- Entrevista com o administrador-<br />
-delegado, Silvino Maia Alcaravela<br />
LEITURAS 59<br />
NORMAS EDITORIAIS<br />
1ª A Revista aceita trabalhos sobre qualquer assunto relacionado<br />
com o tema geral da gestão de serviços ae saúde entendida esta no<br />
seu mais amplo sentido.<br />
Jf- Os artigos deverão ser enviados ao Director. A este caberá a<br />
responsabilidade de aceitar, rejeitar ou propor modificações.<br />
3'J Os artigos de verão ser enviados em duplicado (incluindo quadros<br />
e figuras), dactilografados a duas entrelinhas em folha de<br />
formato A 4. Em cada folha não deverão ser dactilografadas<br />
mais de 35 'linhas. As folbas serão numeradas em ordem<br />
sequencial. ·<br />
4ª Os art~<br />
· os deverão ser acompanhados, sempre que possível, por<br />
fotogra ia do(s) autor(es), tipo passe. .<br />
5ª Os tra alhos deverão conter em folhas separadas o seguinte:<br />
a)-Título do trabalho, nome(s) do(s) autor(es) e pegueno esboço<br />
curricular do(s) autor(es), principais funções ou titulos, até ao<br />
máximo de dois; ·<br />
b)-Pequena introdução ao artigo até ao máximo de uma página<br />
dactilografada;<br />
c)-0 texto;<br />
d)-Quadros com títulos e legendas (folhas autónomas);<br />
e)-Gráficos desenhados a traço de tinta-da-china sobre papel<br />
vegetal sem números ou palavras;<br />
{)-Títulos, legendas ou elementos dos gráficos escritos em folhas<br />
de fotocópias destes, à JJarte;<br />
g)-F'otografias numeradas no verso, a lápis, segundo a ordem de<br />
entrada no texto e respectivas legendas;<br />
h)-Peguenos resumos do artigo em língua francesa e inglesa,<br />
incluindo títulos;<br />
i)-Os originais não deverão conter pés-de-página. Todas as<br />
referências bibliográficas completas serão insertas no final do<br />
artigo.<br />
6ª Nas referências bibliográficas, os autores são colocados por ordem<br />
alfabetica (apelido seguido das iniciais do nome), seguindo-se o<br />
título completo do artigo, o título abreviado da Revista, o número<br />
do volume, os números da primeira e última páginas e o ano da<br />
publicação.<br />
O Editorial e os Arti gsxMg..g;ssi,11;~~n bilidade da<br />
Direcção da AssociaQ oESCOLA NP.CIONAL DE<br />
Os Artigos_ assinado são ~ Ái~ i ~Jf.J~~~abilid de dos s~us<br />
autores, nao com_pro t~GI,~ tos de vista<br />
neles expressos. Emb a merecendo a melhor atenção, colaboração<br />
não solicitada não rá devolvida, reser ando-se o ireito de a<br />
publicar ou não.<br />
3 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
BIB LICT EC:A.
Edite>rial<br />
Marce> de> Ce>rr~ie><br />
A gestão dos serviços de saúde<br />
volume de recursos envolvidos no sector da<br />
saúde e o tipo de organizações, cada vez mais<br />
diversificado, complexo e sofisticado, posto à<br />
disposição dos cidadãos, exige que os sistemas<br />
de saúde sejam geridos por profissionais de administração,<br />
especificamente habilitados e permanentemente actualizados.<br />
Esta afirmação, que há alguns anos atrás se julgaria<br />
adquirida e consensualmente partilhada por políticos e<br />
profissionais de saúde, foi a dado momento reequacionada<br />
pelo poder político, lançando-se a maior confusão<br />
na gestão dos serviços de saúde e, particularmente, na<br />
gestão dos hospitais.<br />
De repente, surgiu uma classe de pseudogestores, que<br />
com enorme desenvoltura e algum descaramento, passaram<br />
a fazer, diziam, a gestão dos hospitais. A ignorância,<br />
a insensibilidade e a arrogância, deram espaço a actos de<br />
gestão anedóticos, pretensamente tecnocráticos e socialmente<br />
desastrosos.<br />
Hoje, felizmente, a situação alterou-se em grande<br />
medida e parece caminhar-se de novo no sentido<br />
daquele postulado inicial.<br />
E é, justamente, neste contexto que parece oportuno<br />
reflectir sobre o papel do profissional de gestã•o de<br />
serviços de saúde num ambiente organizacional em que o<br />
poder, a vários títulos, se encontra sediado num grupo<br />
profissional bem definido - os médicos. Estes desencadeiam<br />
as prestações, escolhem os meios que consideram<br />
mais adequados, em suma, definem os níveis de utilização<br />
e, consequentemente, o respectivo custo.<br />
Há quem, à luz deste cenário, veja o gestor como um<br />
"contabilista" um "fiel de· armazém" ou um "hoteleiro"<br />
'<br />
'<br />
atentas as funções técnicas de natureza geral que<br />
instituições complexas como os hospitais, necessariamente<br />
têm que desenvolver. Haveria, assim, de um lado,<br />
D gestor dos serviços gerais e dos "aspectos burocráti-<br />
. cos" e, do outro, os médicos e outros técnicos de saúde<br />
que se encarregariam das tarefas clínicas.<br />
Apesar de ser ainda um cenário imaginado por muito boa<br />
gente, ele está, todavia, completamente ultrapassado,<br />
face aos desafios que as sociedades de hoje nos colocam<br />
em matéria de saúde.<br />
A adequação da oferta à procura, em quantidade,<br />
qualidade e preço socialmente ajustados, pressupõe a<br />
definição prévia de prioridades face ao tipo de mercado<br />
em que se opera e aos segmentos-alvo que se pretendem<br />
atingir, ou seja, pressupõe uma estratégia.<br />
A gestão corrente de "empresas" de saúde pressupõe a<br />
definição de o bj ectivos, a elaboração de planos de acção,<br />
a escolha criteriosa de modelos de intervenção clínica<br />
alternativos, com base em análises "custo-benefício",<br />
"custo-oportunidade" ou outras.<br />
Pressupõe também a concepção e desenvolvimento de<br />
modelos de controlo de gestão, que permitam, com base<br />
em indicadores de "performance", de natureza multidimensional,<br />
medir desempenhos, compará-los e fomentar<br />
a sua melhoria.<br />
Pressupõe ainda, um conjunto de- competências técnicas<br />
instrumentais em áreas tão importantes como os recursos<br />
humanos, o aprovisionamento, a gestão económico-financeira,<br />
o sistema de informação para a gestão, etc.<br />
Pressupõe, necessariamente, uma sólida capacidade de<br />
organização, que desenhe uma adequada estrutura<br />
(horizontal e vertical) e que crie circuitos e suportes<br />
de informação operativos, oportunos e fiáveis.<br />
Pressupõe, por fim, uma evidente capacidade de liderança,<br />
que permita prosseguir objectivos, galvanizar<br />
profissionais e cumprir uma missão.<br />
Percebe-se, assim, que a gestão de serviços de saúde não<br />
se confine às áreas de apoio geral. Pelo contrário, a<br />
ênfase que hoje se coloca na eficiência técnica e<br />
distributiva dos serviços de saúde, exige um esforço<br />
consideravelmente maior na gestão da acti vidade<br />
clínica, obviamente com a colaboração indispensável,<br />
.interessada, sincera e permanente dos técnicos de<br />
saúde, em particular, dos médicos.<br />
Há assim, à nossa frente, um amplo caminho a percorrer<br />
por gestores e por médicos, aprofundando o diálogo,<br />
conjugando esforços e espreitando novas oportunida- .<br />
des, para que os cuidados de saúde sejam mais efectivos e<br />
simultaneamente mais eficientes.<br />
'<br />
E urgente que assim seja.<br />
Mais caixões<br />
do que berços<br />
Sou de Mirandela e<br />
por razões que se prendem<br />
directamente com<br />
a minha actividade<br />
profissional, técnico<br />
paramédico, vivo em<br />
Lisboa. O motivo da<br />
minha carta tem a ver<br />
com um artigo sobre o<br />
hospital da minha terra,<br />
que muito me sensibilizou.<br />
Nele se<br />
dizia: "Um distrito<br />
que nos últimos 10<br />
anos perdeu mais de<br />
15% da sua população<br />
activa, que nos ' últimos<br />
5 teve um decréscimo<br />
de cerca de 25 %<br />
de nascimentos e onde<br />
se vendem mais caixões<br />
do que berços,<br />
tem de ser repensado, sob todas<br />
as vertentes".<br />
Sinceramente, também penso o<br />
mesmo.<br />
J. António Fontoura,<br />
paramédico<br />
Lisboa<br />
De acordo<br />
Estou perfeitamente de acordo<br />
com o prof. Correia de Campos<br />
quando, no seu artigo sobre<br />
"Competição gerida: contributos<br />
para o debate indispensável",<br />
propõe que "o papel do Estado<br />
na saúde deixe cada vez menos de<br />
ser o de Estado-empresário para<br />
ser cada vez mais o de Estado<br />
· regulador, isto é, apenas pai, que<br />
não patrão. Um Estado que seja<br />
apenas árbitro e não parte".<br />
Oxalá, sr. prof., que em breve<br />
possa ter oportunidade de concretizar<br />
a política que defende.<br />
António M. Martins,<br />
enfermeiro<br />
Coimbra<br />
Conselho<br />
Escrevo estas breves palavras<br />
para aconselhar a todos quantos<br />
passaram pela ENSP a excelente<br />
entrevista do prof. Caldeira da<br />
Silva. Não resisto também em<br />
dirigir o mesmo conselho a algumas<br />
personalidades que passaram<br />
pela Saúde - passaram, felizmente<br />
- sem se terem apercebido da<br />
importância deste estabelecimento<br />
de ensino.<br />
Leitor identificado,<br />
administrador hospitalar<br />
Lisboa<br />
Mestrado<br />
Li com agrado a entrevista que o<br />
prof. Caldeira da Silva deu, no seu<br />
último número, , à GESTÃO HOS-<br />
PIT ALAR. E realmente uma peça<br />
interessante e rica sob variadíssimos<br />
aspectos, que os administradores<br />
hospitalares, em que me<br />
incluo, terão apreciado.<br />
A novidade de um mestrado em<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong> que a<br />
Escola Nacional de Saúde Pública<br />
poderá vir a proporcionar, que a<br />
Revista justificadamente destacou,<br />
é uma boa razão para todos<br />
nos sentirmos satisfeitos.<br />
Leitor identificado,<br />
administrador hospitalar<br />
Porto<br />
4 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 5
Saiba qu49 ...<br />
Iniciativas APAH para o próximo triénio<br />
Programa<br />
I -INTRODUÇÃO<br />
Apresentamo-nos com uma<br />
lista de · continuidade do<br />
trabalho desenvolvido pe-<br />
. los actuais dirigentes.<br />
Por isso, os membros ·que<br />
compõem a presente candidatura<br />
são, no essencial, os mesmos,<br />
reforçados agora com novos colegas<br />
que, pensamos, poderão incrementar<br />
o ,trabalho associativo.<br />
Releve-se ainda, ó novo contexto<br />
estatutário da nossa Associação:<br />
mandatos de 3 anos e aumento do<br />
nº de membros dirige~tes são, em<br />
termos eleitorais, as alterações mais<br />
. importantes aprovadas na ·Última<br />
Assembleia Geral.<br />
Convirá, nestas circunstâncias, prestar<br />
contas, ainda que sucintamente,<br />
das actividades do anterior mandato.<br />
Cumprimos, no essencial, · a ·nossa<br />
. divisa programática: . «Dinamizar a<br />
Associação, Unir os Associados e ·<br />
Prestigiar os Profissionais».<br />
De facto, é hoje geralmente reconhecido<br />
por colegas e outros profissionais<br />
de saúde que a AP AH se<br />
revitalizou nos seus propósitos, nas<br />
suas. iniciativas e no seu papel como<br />
interlocutor válido e credível junto<br />
de diferentes instâncias, governa-<br />
. mentais ou profissionais.<br />
Isso contribuiu .decisivamente para o<br />
fortalecimento do espírito associativo.<br />
Realizámos várias iniciativas de<br />
natureza técnica e social e foi<br />
reconfortante verificar a presença<br />
significativa dos colegas, alguns<br />
que já não víamos há muito tempo,<br />
outros que recentemente abraçaram<br />
esta carreira.<br />
A APAH é hoje, porventura, mais<br />
conhecida e recónhecida do que no<br />
passado. Somos frequentemente convidados<br />
a participar em sessões<br />
científicas, colóquios e, debates por<br />
diferentes grupos profissionais. Somos<br />
variadíssimas vezes o bj ecto de<br />
opiniões e comentários extremamente<br />
favoráveis à nossa profissão<br />
e ao papel indispensável que temos<br />
na organização e gestão do sistema<br />
de saúde.<br />
Nã-0 podemos deixar de equacionar<br />
aqui a conjuntura politicamente<br />
favórável que atravessamos. O protagonismo<br />
de colegas nossos em<br />
funções públicas do maior relevo<br />
. são não só motivo de orgulho mas<br />
sobretudo de gratidão, pela lealdade,<br />
abertura, colaboração e apoio que<br />
nos têm permanentemente, e de uma<br />
forma geral; dispensado.<br />
Provavelmente por isso,é crescente o<br />
número de profissionais de administração<br />
hospitalar a desempenhar<br />
funções de administrador-delegado<br />
e é com satisfação que o constatamos.<br />
Mas esta tendência não ilude as<br />
questões essenciais: a legitimidade<br />
para o exercício daquele cargo(não<br />
formalmente reconhecida), a despartidarização<br />
das nomeações (frequentemente<br />
violada) e a coerência no<br />
perfil dos nomeados (nem sempre se<br />
escolhem os mais qualificados ... ).<br />
Assumimos, portanto, um papel reivindicativo<br />
ein matéria de Órgãos de<br />
gestão hospitalar e em prol de um<br />
ajustamento renovado da nossa carreira,<br />
em confronto com o novo<br />
•<br />
enquadramento jurídico: o ingresso<br />
na carreira e o exercício tutelado, as<br />
regras de progressão, o exercício de<br />
funções de administração intermédia<br />
e a sua dignificação são também<br />
preocupações que deverão estar sempre<br />
presentes na nossa acção associativa.<br />
Pautámos a nossa actuação com base<br />
em dois princípios indiscutíveis e<br />
inalienáveis: a autonomia e o apartidarismo.<br />
O primeiro permitiu-nos<br />
• • - I •<br />
sempre assumir pos1çoes propnas,<br />
de critica ou de apoio à política de<br />
saúde e às iniciativas governamentais;<br />
o segundo fez com que a AP AH e<br />
os seus dirigentes, nas suas iniciativas<br />
e nas suas posições, se confinassem<br />
sempre à defesa dos seus associados<br />
e dos preceitos técnicos e<br />
políticos que em cada momentQ<br />
julgaram mais adequados, sem com-<br />
• I • I •·<br />
prom1ssos estrateg1cos ou tacticos<br />
com qualquer quadrante ideológico<br />
ou grupo de interesses.<br />
Pensamos, no entanto, que é possível<br />
fazer mais e melhor.<br />
Reconhecemos que no anterior mandato<br />
não foi possível cumpir todo o<br />
programa proposto.<br />
No âmbito da formação especificamente<br />
dirigida aos associados, por<br />
exemplo, não foi possível concretizar<br />
as iniciativas previstas.<br />
Não é ainda satisfatório o nível de<br />
mobilização dos associados em volta<br />
ga sua Associação.<br />
E significativo o número de associados<br />
cm~ quotas ~em atraso, pese<br />
embora o avançq · assinalável na<br />
angariação de nov-0s sócios.<br />
A republicação da Revista, veículo<br />
importante de comunicação e de<br />
união, embora ainda não com a<br />
periodicidade exigível, foi indiscutivelmente<br />
um dos pontos mais significativos<br />
do actual mandato e representa<br />
um esforço financeiro dificilmente<br />
suportável. A recente<br />
assinatura de um contrato com um<br />
agente publicitário poderá a breve<br />
prazo facilitar o seu financiamento e<br />
consequentemente o ritmo da sua<br />
publicação.<br />
A precaridade de recursos foi, a<br />
propósito, a maior limitação que<br />
sentimos no nosso mandato. Recursos<br />
financeiros escassos e meios<br />
logísticos praticamente inexistentes<br />
impedem um trabalho mais profissionalizado<br />
e constante. o empenha-<br />
. menta de todos e o apoio inestimável<br />
de instituições e pessoas singulares,<br />
e os patrocínios que, embora com<br />
dificuldade, conseguimos obter, fo<br />
~am contributos impresciqdívei~ para<br />
o que se realizou.<br />
Aqui deixamos um elemento de<br />
reflexão: não é possível· manter o<br />
desenvolvimento já conseguido, nem<br />
reforçar o prestígio da AP AH e o<br />
apoio aos associados sem reponderar<br />
convenientemente a questão dos<br />
meios.<br />
li · Acções a desenvolver<br />
1. LEI DE GESTÃO HOSPITALAR<br />
Reafirmamos a nossa vontade de ver ,<br />
revista a actual lei de gestão hospi-·<br />
talar, designadamente no que se<br />
refere às condições de indigitação e ·<br />
· nomeação do Administrador-Delegado.<br />
Este deve voltar a ser, imperativamente,<br />
um profissional diplomado<br />
em administração hospitalar, reivindicação<br />
elementar, lógica e legítima,<br />
reconhecida até por outros grupos<br />
profissionais, como, por exemplo, a<br />
Ordem dos Médicos.<br />
Mas a actual lei de gestão hospitalar<br />
merece uma revisão profunda, quanto<br />
aos seus princípios enformadores<br />
e à estrutura de órgãos de gestão<br />
previstos.<br />
De facto, cerca de sete anos após a<br />
sua entrada em vigor, os resultados<br />
obtidos são de certa forma desanimadores:<br />
• Dependência crescente das Administrações,<br />
face ao Poder Central,<br />
contrariando a autonomia<br />
técnica, administrativa e financeira<br />
da gestão e a defesa primordial<br />
das populações e dos seus interesses;<br />
• Ausência de critérios minimlimente<br />
perceptíveis da avaliação<br />
da performance dos Hospitais e dos<br />
seus orgãos de gestão;<br />
• Substancial diminuição da competência<br />
técnica dos órgãos de<br />
gestão, com emergência crescente<br />
e preocupante de decisões e comportamentos<br />
tecnicamente comprometedores<br />
e eticamente discutíveis;<br />
• Não desenvolvimento de estruturas<br />
intermédias de Administração,<br />
previstas na lei, relegando os<br />
profissionais da Administração<br />
para funções meramente técnicas<br />
e administrativas ou auxiliares.<br />
Reconhecemos excepções e a tendência,<br />
que parece incrementar-se, de<br />
designar colegas nossos para administrador-delegado.<br />
Mas, ainda aqui,<br />
assistimos, com alguma frequência, a<br />
opções discutíveis quanto à competência<br />
dos nomeados, parecendo<br />
privilegiar-se critérios de natureza<br />
político-partidária.<br />
Não podemos ficar indiferentes a<br />
este fenómeno, que inverte de forma<br />
chocante princípios de competência<br />
e experiência, ao arrepio das próprias<br />
regras da carreira de administração<br />
hospitalar.<br />
2. CARREIRA DE ADMINISTRAÇÃO<br />
HOSPITALAR<br />
Apesar das insuficiências que tem, e<br />
que todos reconhecemos, a carreira é<br />
um elemento essencial de coesão e de<br />
estabilidade.<br />
A actual lei de gestão hospitalar, a<br />
forma como vem sendo aplicada e o<br />
estatuto sacio-remuneratório dos<br />
membros dos órgãos de gestão tornaram<br />
o Deccreto-Lei nº 101/80, de 8 de<br />
Maio, inadaptado face às novas<br />
realidades.<br />
Pretendemos abrir um amplo debate<br />
entre os associados sobre a carreira e<br />
o seu futuro, com vista a uma<br />
eventual proposta de ajustamento a<br />
apresentar à tutela.<br />
3. FORMAÇÃO<br />
A evolução dos sistemas de saúde em<br />
todo o mundo e as reformas em curso<br />
entre nós exigem dos administradores<br />
hospitalares uma constante actualização<br />
de conhecimentos, que<br />
lhes permita reflectir sobre o papel<br />
dos hospitais e de novas formas de<br />
organização para a prestação de<br />
cuidados de saúde, modelos de gestão<br />
mais dinâmicos e mais competitivos,<br />
novas modalidades de financiamento<br />
e regras de avaliação do<br />
sucesso e da qualidade.<br />
O recente Quadro Comunitário de<br />
Apoio abre-nos excelentes perspectivas<br />
de financiamento neste âmbito.<br />
Prometemos estudar convenientemente<br />
os condicionamentos legais e<br />
regulamentares com vista à apresentação<br />
de um programa de formação<br />
coerente e plurianual.<br />
Estamos em conversações com a<br />
ENSP e a Fundação Luso-Americana<br />
para o Desenvolvimento no sentido<br />
de se concretizar um «Ciclo de<br />
Estudos Especiais em Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>» ministrado por peritos<br />
norte-americanos.<br />
4. EVENTOS ESPECIAIS<br />
Pretendemos no próximo triénio<br />
concretizar, entre outras, as seguintes<br />
iniciativas:<br />
- I Congresso sobre a <strong>Gestão</strong> dos<br />
Hospitais Portugueses, em que se<br />
faça um balanço das últimas décadas<br />
da vida dos hospitais públicos<br />
portugueses e que incorpore três<br />
,<br />
areas essenciais:<br />
• «Novas ideias, Novos modelos» -<br />
com o contributo de conferencistas<br />
nacionais e estrangeiros de<br />
renome.<br />
• Debate sobre o passado, o<br />
presente e o futuro dos hospitais<br />
portugueses com diferentes grupos<br />
profissionais e personalidades da<br />
vida política.<br />
• «Experiências de gestão» - com a<br />
apresentação de trabalhos desenvolvidos<br />
na área da gestão e a<br />
atribuição de prémios aos melhores.<br />
- Dinamizar a realização de congressos<br />
de saúde de âmbito regional,<br />
promovendo um melhor conhecimento<br />
das realizações e dificuldades de<br />
natureza local.<br />
- Promover a organização de visitas<br />
de estudo ao estrangeiro, na sequência<br />
da bem sucedida visita aos EUA.<br />
-Continuação dos Encontros sobre a<br />
<strong>Gestão</strong> da Saúde em Portugal, face à<br />
boa aceitação que os ciclos de 1993 e<br />
1994 obtiveram e ao prestígio acrescido<br />
que tais iniciativas trouxeram<br />
para a APAH.<br />
- Candidatura à realização do Congresso<br />
da Associação Europeia de<br />
Gestores <strong>Hospitalar</strong>es em Lisboa, em<br />
1998.<br />
A AP AH é filiada na EAHM (European<br />
Association of Hospital Managers)<br />
e tem participado activamente<br />
nas suas mais recentes realizações.<br />
A actual Direcção apresentou a<br />
candidatura de Lisboa para a realização<br />
do Congresso anual de 1998,<br />
dados os atractivos singulares que<br />
nesse ano Lisboa conseguirá apresentar.<br />
Considerando a grande antecedência<br />
com que este tipo de decisões são<br />
tomadas, esperamos ter no próximo<br />
ano a confirmação dos nossos desejos,<br />
o que representará, com certeza,<br />
um momento alto de prestígio e de<br />
projecção da APAH.<br />
5. DEONTOLOGIA PROFISSIONAL<br />
Iremos promover a criação de um<br />
grupo de trabalho constituído por<br />
personalidades de indiscutível competência,<br />
no sentido de se preparar<br />
um projecto de Código Deontológico<br />
para os a·dministradores hospitalares.<br />
A estrutura e o funcionamento dos<br />
serviços e instituições de saúde, pela<br />
sua natureza e condicionalismos<br />
éticos muito próprios, colocam-nos<br />
desafios e interrogações novas, nas<br />
nossas opções e na formulação das<br />
nossas prioridades de gestão, com<br />
consequências marcantes na opinião<br />
pública e na segurança das pessoas.<br />
..<br />
6 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 7
~ 6. BENEFÍCIOS SOCIAIS<br />
Propomo-nos estudar a hipótese de<br />
viabilizarmos um plano de poupan- .<br />
ça-reforma de grupo para os associados,<br />
no ·sentido de nos facultar um<br />
complemento de reforma no futuro.<br />
Abordaremos, a propósito, entidades<br />
seguradoras especialmente vocacionadas<br />
para este tipo de produtos.<br />
7. SEDE DA APAH E UTILIDADE<br />
PÚBLICA ADMINISTRATIVA<br />
Propomo-nos estudar as condições<br />
necessárias para que a AP AH tenha<br />
uma sede própria. Para isso, é<br />
indispensável dispor de meios financeiros<br />
adequados com base em receitas<br />
estáveis e permanentes.<br />
A repescagem dos colegas com quotas<br />
em atraso, o desenvolvimento de<br />
acções de formação ou a angariação<br />
de mais publicidade para a revista,<br />
poderão ser. fontes de financiamento<br />
suficientes.<br />
Propomo-nos também solicitar superiormente<br />
o reconhecimento da<br />
APAH como instituição de utilidade<br />
pública administrativa, facto que<br />
facilitará a angariação de apoios e<br />
eliminará alguma carga burocrático<br />
-administra tiva.<br />
Eleições para os Corpos<br />
Sociais da APAH<br />
Na primeira reunião da Direcção<br />
realizada em 17 de Novembro, foram<br />
distribuídos os cargos directivos do<br />
seguinte modo:<br />
Direcção/efectivos: Manuel Delgado<br />
(Presidente); Ana Isabel Gonçalves<br />
(Tesoureira); Armanda Miranda (Secretária<br />
da Direcção e Directora da<br />
Revista); Joaquina Matos e Armanda<br />
Miranda 0l ogais ligados à formação) ~<br />
Manuel Ligeiro 0/ice-presidente); Jorge<br />
Poole da Costa, Manuel Ligeiro e<br />
Vítor Freire Albuquerque (Vogais<br />
ligados à Revista e apoio jurídico).<br />
Suplentes:Alexandre Farinha e Carlos<br />
Andrade Costa.<br />
Assembleia Geral/ efectivos~ Jorge<br />
Varanda, ·Fràncisco Guerreiro e<br />
Rosa Reis Marques. Suplente: Carlos<br />
Gil.<br />
Conselho Fiscal/efectivos: Carlos<br />
Cada vez, António Paulino e Nazaré<br />
Silva. Suplente: Maria João Amaral.<br />
Sócios proponentes da candidatura<br />
aos Corpos Sociais da AP AH da lista<br />
única para o triénio 1994-97:<br />
Ana Maria Escoval, Antón10<br />
Davide de Lima Cardoso, António<br />
Menezes Duarte, Delfim Pereira<br />
Neto Rodrigues, Joaquim<br />
Daniel Lopes Ferro, Jorge Almeida<br />
Simões, José Fernando Reis de<br />
Oliveira, José Joaquim Nogueira<br />
da Rocha, Júlio Pereira Reis,<br />
Manuela Mota Pinto, Maria Ermelinda<br />
Carrachás, Maria Fernanda<br />
Sarmento Afonso Dias<br />
Almeida Taborda, Maria Helena<br />
Reis Marques, Maria Isabel<br />
Guerreiro, Marina Judite Peres<br />
da Silva, Olga Maria Seco, Paula<br />
Alexandra Costa Português Santos,<br />
Paula Borges, Pedro Brito<br />
Esteves, Raul Moreno Rodrigues,<br />
Ru~ Manuel Lopes dos .Reis,<br />
Silvino Maia Alcaravela, Vasco<br />
Pinto dos Reis e Vitor Seabra.<br />
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Agenda<br />
- Dias 15 e 17 de Fevereiro, em<br />
Basileia (Suiça) tem lugar no Crossair<br />
Conference Center, o "Second<br />
International Hospital Symposium<br />
for Efficient Energy Use".<br />
-Dias 30 e 31 de Março, tem lugar no<br />
Auditório Principal da Torre do<br />
Tombo em Lisboa, o seminário "Da<br />
Documentação Clínica" organizado<br />
pelo Núcleo de Estudos de<br />
Investigação em Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>, destinado ao pessoal<br />
dirigente da área da saúde.<br />
- Dias 18 e 19 de Maio, realiza-se em<br />
Lisboa, no Centro de Congressos da<br />
Associação Industrial Portugues~<br />
um congresso cuja designação é "A<br />
descoberta de novos rumos para<br />
as capitais europeias".<br />
- De 23 a 26 de Maio, terá lugar em<br />
Budapeste (Hungria), no Palácio dos<br />
Congressos, o XXIX Congresso<br />
Internacional dos Hospitais, sob<br />
o tema "Racionamento, Direitos e<br />
Responsabilidades em Cuidados de<br />
Saúde".<br />
- Em Outubro, decorrerá em Bruxelas<br />
(Bélgica), o XIII Congresso da<br />
Associação Europeia de Directores<br />
de Hospitais.<br />
1<br />
Forum Saúde ~ Novas estratégias na <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
A Associação Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es vai realizar,<br />
no dia 10 de Março de <strong>1995</strong>, em<br />
Lisboa, o Forum Saúde - Novas<br />
estratégias na <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
destinado a todos os profissionais<br />
de saúde e, em particular, aos<br />
responsáveis pela gestão das unidades<br />
hospitalares. Para esse evento<br />
estão previstas quatro intervenções,<br />
feitas por, Bagão Félix (ex-secretário<br />
de Estado da Segurança Social e<br />
actual presidente do C.A. da "Ocidental<br />
Seguros"); Vasco Reis (professor<br />
da Escola Nacional de Sa~de ·<br />
Pública/Universidade Nova· ue-Lisboa);<br />
Michel Cremadez ~(pro(essor<br />
dos Altos Estudos Comer.ciais, Paris,<br />
co-autor do "Strátegor" e autor<br />
de "Le Menagement Strategique<br />
Hospitalier" e director-geral do PCS<br />
(Plus, Consultants, Santé); José Carlos<br />
Lopes Martins (secretário de<br />
Estado da Saúde). Serão moderadores,<br />
Nogueira da Rocha (professor da<br />
ENSP/UNL) e Caldeira da Silva<br />
(presidente do Conselho Directivo<br />
da ENSP /UNL).<br />
Workshop sobre <strong>Gestão</strong> da Qualidade em Hospitais<br />
Integrado no programa de actividade<br />
da APAH, confirmamos a possibilidade<br />
de termos entre nós, no próximo<br />
mês de Março, o prof. Williamson,<br />
um dos mais reputados peritos a<br />
nível mundial na área da qualidade<br />
em cuidados de saúde. o prof.<br />
Williamson virá acompanhado pot<br />
um qualificado colaborador, o prof.<br />
8 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
Charles Turner, ambos participantes<br />
na task force para a Saúde com a<br />
senhora Hillary Clinton. Esta acção<br />
de formação insere-se num ciclo de<br />
quatro módulos ·destinado exclusivamente<br />
a profissionais da Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> membros da AP AH e,<br />
por isso, conta com a colaboração<br />
científica e logística da ENSP.<br />
Opiniãe><br />
~ .<br />
Cenarios para ·a Privatiza~ão<br />
Manuel Delgado *<br />
. A existência de "am-<br />
.<br />
bientes privados" de<br />
actuação no contexto<br />
de um hospital público<br />
é, provavelmente, o cenário<br />
mais controverso<br />
e, porventura, menos<br />
legítimo de todos.<br />
ideia de privatizar<br />
em presas e ~rv1 -<br />
ços públicos para<br />
incrementar a eficiência<br />
e a qualidade<br />
da produção e<br />
dos produtos é hoje um destino<br />
aparentemente inexorável na sociedade<br />
portuguesa.<br />
E as razões parecem ser óbvias:<br />
burocratização da gestão, falta de<br />
incentivos, estratégias defensivas<br />
(de interesses políticos ou partidários<br />
esquecendo os interesses dos<br />
consumidores), custos estruturais<br />
pesadíssimos, etc., etc., conduzem à<br />
ineficiência, ao desperdício e à<br />
insatisfação dos consumidores.<br />
Valerá a pena, todavia, discutir um<br />
pouco melhor o conceito em causa:<br />
"privatização".<br />
Há, sobre a matéria, que encarar<br />
várias acepções, de cuja implementação<br />
poderão resultar consequências<br />
de natureza ideológica ou<br />
política:<br />
a) num sentido maximalista, privatizar<br />
será sinónimo de propriedade<br />
privada dos meios de produção,<br />
autonomia na definição de finalidades,<br />
objectivos e valores, no<br />
desenvolvimento da gestão e no<br />
seu controlo.<br />
Aceitar-se-á este tipo de privatização<br />
em actividades sem a marca de<br />
interesse público, sujeitando-se os<br />
agentes às regras ditadas pela<br />
concorrência e pelo mercado. Ou<br />
seJa, a natureza, quantidade e<br />
•<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 9<br />
qualidade dos bens e serviços<br />
oferecidos ajustár-se-ão naturalmente<br />
às regras do mercado, salvaguardando-se,<br />
obviamente e sempre,<br />
algum papel regulador . por<br />
parte do Estado;<br />
b) num sentido oposto se orienta a<br />
noção de "privatização da gestão"<br />
de empresas e serviços públicos.<br />
Nesta acepção, privatizar significa<br />
apenas outorgar a gestão corrente<br />
a quem prometer cumprir melhor<br />
certos pressupostos de racionalidade,<br />
mas, sublinhe-se, dentro de<br />
uma missão e submetida a um<br />
controlo rigorosamenFe definido e<br />
supervisionado pelo Estado.<br />
Estarão nestas condições todo o<br />
tipo de bens e serviços, em que o<br />
Estado pretende garantir a nature- ·<br />
za, a quantidade e a qualidade da<br />
oferta;<br />
c) numa perspectiva operacional,<br />
"privatizar" significará ainda a<br />
cedência a entidades privadas, de<br />
sectores ou áreas de actividade de<br />
natureza geral ou complementar<br />
incluídas num determinado mod9<br />
de produção de. natureza pública. E<br />
. o que acontece, por exemplo, quando<br />
uma repartição pública ou um<br />
hospital contratualizam com empresas<br />
especializadas a limpeza ou<br />
a segurança das suas instalações.<br />
Nestes casos, não estão em causa,<br />
nem a missão, nem o processo<br />
produtivo, nem o controlo dos<br />
resultados que continuam a ser de<br />
natureza pública; ...
~ d) num sentido híbrido e complexo,<br />
"privatizar" poderá ainda<br />
representar a entrega à exploração<br />
privada de "áreas de negócio"<br />
claramente autonomizáveis no<br />
seio de uma empresa ou serviço<br />
público, assumindo os "privados" a<br />
propriedade de alguns meios de<br />
produção e a definição da sua<br />
própria missão, regras de funcionamento<br />
, e controlo de resultados.<br />
E o que se passará, por exemplo,<br />
sempre que um hospital admita o<br />
exercício de clínica privada nas<br />
suas instalações ou quando concessiona<br />
áreas físicas do estabelecimento<br />
à exploração de empresas de<br />
saúde privadas.<br />
Ressalvando-se alguma simplificação<br />
epistemológica, será interessante<br />
reflectirmos um pouco mais<br />
sobre cada um dos modelos enunciados<br />
e as consequências da sua<br />
aplicação para a política de saúde<br />
em Portugal:<br />
Cenário 1<br />
O livre jogo da oferta e da procura<br />
é em saúde um logro, se caírmos no<br />
simplismo de apenas imaginarmos,<br />
de um lado, as entidades prestadoras<br />
de cuidados e, de outro, os<br />
consumidores (utentes de serviços<br />
ge saúde).<br />
E que, se assim for, a ignorância do<br />
consumidor face aos "produtos"<br />
que deve ou não consumir e a<br />
posição fragilizada com que aparece<br />
junto dos prestadores, anulam<br />
-lhe, quase por completo, a sua<br />
capacidade negocial, sendo estes a<br />
definir o tipo de prestações, a<br />
quantidade, a qualidade e o pró<br />
:gno preço.<br />
E o que se passa no exercício da<br />
pura clínica privada entre nós,<br />
quer se trate de prestador individual<br />
(consultórios) quer se trate de<br />
uma prestação institucional (casas<br />
de saúde) . De facto, a clientela não<br />
apoiada por esquemas de protecção<br />
na doença, como SAMS, ADSE, etc,<br />
ou até seguradoras, é sujeita a<br />
preços claramente desconformes à<br />
relação custo-benefício e que podem<br />
variar extraordinariamente de<br />
prestador para prestador.<br />
Por outro lado, no conteúdo das<br />
prestações o cliente tende a sobrelevar<br />
as dimensões de natureza<br />
hoteleira e de relação interpes-<br />
A privatização em saúde envolve inconvenientes<br />
ponderosos que podem desvirtuar significativamente<br />
direitos constitucionais dos cidadãos<br />
portugueses.<br />
soal, ficando muitas vezes aquém<br />
das exigências mínimas as condições<br />
técnico-científicas da prestação.<br />
Em suma, preços claramente acima<br />
do razoável e não uniformizados e<br />
produto de adequação e qualidade<br />
discutíveis seria o resultado do<br />
"livre" jogo do mercado, com consequências<br />
desastrosas para a saúde<br />
das pessoas: só teriam acesso aos<br />
cuidados as pessoas com mais<br />
elevados rendimentos, ou apoiadas<br />
em regimes sociais elitistas.<br />
Cenário II<br />
"Privatizar" (apenas) a gestão de<br />
unidades de saú.de pressupõe que o<br />
Estado quer manter a titularidade<br />
dos meios de produção de natureza<br />
infra-estrutural (instalações e equipamentos<br />
pesados, por exemplo),<br />
quer preservar a missão e os<br />
objectivos das instituições (acesso<br />
universal, geral e tendencialmente<br />
gratuito), quer . supervisionar as<br />
condições de organização e funcionamento<br />
dos serviços (utilizando<br />
critérios de desempenho de natureza<br />
quantitativa e qualitativa, de<br />
efectividade e de eficiência) e ,quer<br />
proceder ao controlo de resultados<br />
(níveis de utilização, satisfação dos<br />
clientes, efectividade dos resultados<br />
finais, níveis de bem-estar,<br />
etc.).<br />
Ou sejai o Estado admite que as<br />
regras da administração pública<br />
são inadequadas face aos níveis de<br />
efectividade e de eficiência que<br />
pensa possíveis e, em conformidade,<br />
procura na gestão privada e<br />
nos seus modelos mais flexíveis e<br />
expeditos níveis de desempenho<br />
que incrementem a qualidade, a<br />
acessibilidade, a efectividade e a<br />
eficiência. Será, nesta perspectiva,<br />
um autêntico "ovo de Colombo", já<br />
que sem mudar a filosofia, o Estado<br />
garante melhor "produto" aos cidadãos<br />
e poupa dinheiro.<br />
Esta modalidade, tendencialmente<br />
aplicável no meio hospitalar a<br />
curto prazo (está um .concurso em<br />
marcha para o novo hospital da<br />
Amadora), enferma todavia de alguns<br />
preconceitos que convirá<br />
analisar:<br />
1 º- O Estado confessa-se impotente<br />
para alterar as suas próprias regras<br />
de organização e funcionamento.<br />
Ora, se assim não fosse, competir<br />
-lhe-ia, antes de mais, conceber<br />
modelos específicos de administração<br />
para a área da saúde, autonomizando<br />
de facto a gestão, libertando-a<br />
de burocracias excessivas,<br />
flexibilizando carreiras profissionais,<br />
criando incentivos, relacionando<br />
o financiamento com a<br />
produção, etc.<br />
2º- Não é claro que a gestão privada<br />
possa apresentar ganhos de produtividade<br />
sem pôr em causa o acesso<br />
universal e a qualidade dos actos.<br />
Por um lado, não há "competências"<br />
privadas comprovadamente<br />
habilitadas para gerir hospitais<br />
em condições de livre acesso e<br />
dando resposta a toda a casuística.<br />
De facto, a prática privada é<br />
entre nós limitada a entidades<br />
monoprodutivas ou com um "ca se~<br />
-mix" pouco diversificado e pouco<br />
diferenciado. Constituem em suma,<br />
um exercício complementar de<br />
menor incorporação técnica, todavia<br />
mais disponível e com melhores<br />
condições hoteleiras.<br />
Por outro lado, e decorrente do<br />
facto anterior, não será de estranhar<br />
que a "gestão privada de<br />
hospitais públicos utilize processos<br />
de "desnatação" do SNS, seleccionando<br />
para si casuística menos<br />
severa e mais apropriada e remetendo<br />
para outros estabalecimentos<br />
do SNS, situações mais complexas<br />
e pesadas, bem como os imprecisamente<br />
denominados "casos<br />
sociais".<br />
3º- As ineficiências e os desperdícios<br />
que se verificam hoje nos<br />
hospitais portugueses têm em grande<br />
medida causas exógenas relacionadas<br />
com o propno sistema de<br />
..<br />
saúde.<br />
O facto de a demanda hospitalar<br />
surgir em parte substancial através<br />
dos serviços de urgência, impõe<br />
desde logo custos elevados de<br />
estrutura e funcionamento dos<br />
serviços.<br />
A circunstância de os cuidados de<br />
saúde primários funcionarem institucionalmente<br />
e sem integração<br />
com os hospitais afecta sobremaneira<br />
a eficiência e a qualidade.<br />
A inexistência de serviços de retaguarda<br />
tipo nursing homes para<br />
doentes de evolução prolongada,<br />
casos terminais ou "sociais", arrastam<br />
a utilização indevida de recursos<br />
hospitalares e o abaixamento<br />
de níveis de produtividade.<br />
Ou seja, o impacte da privatização<br />
poderá ficar significativamente<br />
comprometido erri termos de ganhos<br />
de eficiência, face a estas<br />
ineficiências sistémicas que se<br />
manterão.<br />
Cenario III<br />
A contratação de serviços de terceiros<br />
para assegurar a prestação<br />
de certas tarefas de apoio geral é já<br />
um · dado adquirido dentro dos<br />
hospitais portugueses: a alimentação,<br />
a segurança, o tratamento de<br />
roupas, a higiene e limpeza são<br />
actividades já entregues em muitos<br />
estabelecimentos a empresas da<br />
especialidade.<br />
Está por fazer um estudo sério e<br />
rigoroso que estabeleça a relação<br />
custo-benefício e a relação custo<br />
-oportunidade de tais opções. Empiricamente,<br />
todavia, parece reconhecerem-se<br />
ganhos de qualidade.<br />
A tendência para que cada "área de<br />
negócio" se concentre no seu core<br />
business e ceda a terceiros actividades<br />
que não fazem parte da sua<br />
vocação, parece ser consensual,<br />
porque permitirá aumentar "competências"<br />
específicas e libertar a<br />
gestão corrente de áreas de natureza<br />
geral e para as quais há quem<br />
faça melhor.<br />
Cenário IV<br />
A existência de "ambientes privados"<br />
de actuação no contexto de<br />
um hospital é, provavelmente, o<br />
cenário mais controverso e, porventura,<br />
menos legítimo de todos.<br />
A questão que se coloca é, substantivamente,<br />
a seguinte: dentro de<br />
um estabelecimento público cujos<br />
princípios de actuação .obedecem a<br />
critérios de natureza exclusivamente<br />
clínica (a definição de doentes<br />
prioritários, o arranjo de listas<br />
de espera, a programação de actos,<br />
etc.), vai conviver um modelo de<br />
prestação orientado por outros<br />
valores (a casuística é seleccionada<br />
com base na capacidade de ·<br />
pagar - do próprio ou de terceira<br />
entidade - e não com base na<br />
severidade ou urgência da doença).<br />
Ora, esta situação é ética e constitucionalmente<br />
insustentável, já<br />
que admite a utilização dos recursos<br />
hospitalares para fins que<br />
exorbitam claramente a sua vocação<br />
de serviço público.<br />
A menos que se verificasse a<br />
subutilização de recursos por insuficiência<br />
da procura. Neste caso,<br />
seria até um louvável acto de<br />
gestão, "vender" serviços excedentários<br />
a terceiros. Mas, na situação<br />
portuguesa, em que o acesso aos<br />
cuidados é complicado e diferido,<br />
tal cenário é revelador de uma<br />
profunda iniquidade.<br />
*<br />
* *<br />
Parece poder inferir-se do que fica<br />
dito que a privatização em saúde,<br />
excepcionando a perspectiva operacional<br />
referida em no cenário III,<br />
envolve inconvenientes ponderosos<br />
que podem desvirtuar significativamente<br />
direitos constitucionais<br />
dos cidadaos portugueses.<br />
E de facto, se a privatização de<br />
serviços de saúde for desenvolvida<br />
de forma avulsa, sem analisar bem<br />
o papel dos diferentes agentes<br />
envolvidos (financiadores, industriais,<br />
prestadores, utilizadores) e,<br />
consequentemente, actuar no sentido<br />
de criar condições para que o<br />
mercado de saúde funcione em<br />
moldes inovadores, estamos convencidos<br />
de que não trará benefícios<br />
palpáveis para os cidadãos e<br />
não passará de uma ou outra<br />
experiência isolada.<br />
Achamos que o SNS tem que<br />
mudar, passando o Estado a ser<br />
mais agente regulador e menos<br />
agente prestador.<br />
Isto representará também a separação<br />
do financiamento e da prestação.<br />
Caberá a entidades não<br />
governamentalizadas a responsabilidade<br />
da prestação, com a contrapartida<br />
de serem pagas com base<br />
em preços competitivos, que remu-.<br />
nerem o capital e o risco, mas que<br />
mantenham custos controlados<br />
com níveis de qualidade elevados.<br />
Deveremos caminhar para a criação<br />
de "fundos de saúde" de natureza<br />
pública ou privada, que<br />
correspondam ao aforro efectivo e<br />
obrigatório das famílias.<br />
Estes "fundos" traduzir-se-ão em<br />
agentes reguladores poderosos na<br />
orientação da procura e na IJiii><br />
1 O <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 11
o - - 1n1 a o<br />
~ definição das características<br />
da oferta. Esta passará a ser<br />
necessariamente competitiva, já k<br />
que a liberdade de escolha lhe ·"'<br />
impõe níveis elevados de eficiên- ,.<br />
eia e qualidade para que se<br />
posicionem favoravelmente no<br />
momento em que se estabelecem<br />
contratos globais de prestação.<br />
Esses fundos poderão apresenta'<br />
a natureza de um seguro ma:;<br />
com contornos de cariz social<br />
não forçosamente compatível<br />
com o seguro comercial tradicional.<br />
Os princípios da solidariedade,<br />
do livre acesso, de equidade e da<br />
gratuitidade tendencial não são<br />
postos em causa nos momentos<br />
de utilização, e o aforro direccionado<br />
das famílias substituiria<br />
com vantagens a parte dos<br />
impostos que é alocada para o<br />
SNS e seria directamente dedutível<br />
na respectiva colecta.<br />
O Estado poderia manter alguns<br />
hospitais sobre a sua administração<br />
indirecta. Outros poderiam,<br />
com vantagens, passar a<br />
ser geridos com a participação<br />
_mista de autarquias, misericór- .<br />
dias, outras instituições de solidariedade<br />
social e até privadas<br />
com fins lucrativos. Concomitantemente,<br />
poderia e deveria<br />
existir uma iniciativa privada e<br />
lucrativa autónoma que se bateria<br />
com as mesmas armas num<br />
mercado cujas condições seriam<br />
iguais para todos.<br />
Acabar-se-ia,. assim, com o mo-<br />
. nopólio do Estado, no financiamento<br />
e na prestação de cuidados,<br />
cujos efeitos são bem visíveis:<br />
empobrecimento crescente<br />
das prestações, aumento das<br />
dificuldades no acesso aos cuidados,<br />
ausência de liberdade dE:<br />
escolha, burocratização e desperdício.<br />
Provavelmente gastar-se-ia mais<br />
dinheiro na saúde dos portugueses.<br />
Mas seria com certeza utilizado<br />
em seu efectivo benefício e<br />
com níveis ~e qualidade e adequação<br />
substancialmente mais<br />
elevados.<br />
Privatize-se, pois . . . neste<br />
sentido! 1<br />
* Administrador hospitalar<br />
A 8tica na actividade<br />
hospitalar<br />
Paula Apolinário Sousa *<br />
uando, em 1984t a<br />
revista GESTAO<br />
HOSPITALAR publicou<br />
um artigo<br />
sobre as Comissões<br />
de Ética nos Hospitais,<br />
da autoria do<br />
professor Daniel<br />
Serrão, não só demonstrou um<br />
enorme espírito de ~ntecipação,<br />
como também, ~ naturalmente,<br />
uma real preocupação com um<br />
tema que hoje está a ser alvo de<br />
grandes debates e objecto de referência<br />
obrigatória em momentos de<br />
decisão crucial.<br />
As questões éticas que se colocam<br />
no campo das decisões em saúde são<br />
de tal forma complexas que têm<br />
levado prescritores e órgãos de<br />
decisão e gestão a invocar cada vez<br />
com maior frequência este conceito.<br />
A. palavra ética (do grego éthikos,<br />
que significa costumes, hábitos,<br />
carácter) é do ponto de vista etimológico,<br />
o estudo dos costumes, das<br />
formas que reveste ou das normas<br />
que devem •reger a conduta do·<br />
homem.<br />
Objecto de estudo desde tempos<br />
recuados, a filosofia ética apenas<br />
Maria Armanda Miranda **<br />
nasce quando Sócrates abre a via do<br />
fundamento antropológico, ou seja,<br />
quando a razão se debruça sobre a<br />
consciência actuante (Cf. Enciclopédi~<br />
FOCUS, Vol.2, Lisboa, 1968,<br />
S.V.Etica).<br />
Filósofos como Platão, Aristóteles.<br />
Kant, Comte, Stuart Mill, Nietzs:<br />
che, Jean Paul Sartre expressaram·o<br />
seu conceito de ética.<br />
No entanto, é imprevisível a geração<br />
de futuros conceitos, dado<br />
tratar-se de um tema que questiona<br />
o que de mais importante existe na<br />
vida humana.<br />
Evoluindo, portanto, dum conceito<br />
moral, hoje em dia o termo é<br />
entendido em sentido mais vasto, o<br />
qual, não contrariando aquele, o<br />
complementa com aspectos de ordem<br />
filosófica e de direito, particulares<br />
de cada comunidade, de cada .<br />
região e mesmo de cada país.<br />
O exercício profissional<br />
nos serviços de saúde e a ética<br />
A prestação de cuidados de saúde é<br />
uma actividade exercida por homens<br />
em benefício de outros homens<br />
que se encontram em situação<br />
de vulnerabilidade. Parece tratar-<br />
•<br />
se, sem sombra de dúvida, de uma<br />
relação com uma grande componente<br />
ética, e não meramente de<br />
uma relação técnica.<br />
Exige-se que esta relação, profissional<br />
de saúde/doente, seja norteada<br />
pela competência, pelo civismo,<br />
pela solidariedade e pela inter<br />
-ajuda. O doente encontra- ~ e , pela<br />
sua própria condição de doença,<br />
numa situação de fragilidade, de<br />
fraqueza, de inferioridade.<br />
Compete a todos os profissionais de<br />
saúde estabelecer com o doente um<br />
relacionamento orientado por um<br />
rigoroso condicionamento ético.<br />
Nos dias de hoje, em que os meios<br />
complementares de diagnóstico são<br />
frequentemente invasivos, passando<br />
pela utilização de equipamentos<br />
altamente sofisticados (e, por que<br />
não dizer-se, altamente assustadores)<br />
é preciso que o doente seja<br />
devidamente acompanhado com<br />
palavras tranquilizadoras, elucidativas<br />
e com a atenção que merece.<br />
Ou não será à volta do doente que<br />
giram todas as instituições prestadoras<br />
de cuidados de saúde?<br />
Preocupações deste t~or estão presentes<br />
no Parlamento Europeu, que<br />
prepara uma Carta de Direitos do<br />
Doente que envolve aspectos fundamentais<br />
ligados à ética.<br />
O doente não pode ser encarado<br />
apenas como um corpo, uma coisa.<br />
O doente é um ser humano onde<br />
qualquer tipo de intervenção, qualquer<br />
tipo de relacionamento tem de<br />
ser pautado por princípios de respeito<br />
e solidariedade.<br />
Parafraseando o prof. Daniel Serrão,<br />
diríamos que "toda a gente é<br />
pessoa; mas o doente é mais pessoa<br />
que toda a gente".<br />
Foi com o objectivo de zelar pela<br />
correcta aplicação das normas éti-<br />
O doente é um ser humano onde qualquer tipo de<br />
intervenção, qualquer tipo de relacionamento tem<br />
de ser pautado por princípios de respe ito e<br />
solidariedade. Para{ rase ando o prof. Daniel<br />
Serrão, diríamos que "toda a gente é pessoa; mas<br />
o Mente é mais pessoa que toda a gente".<br />
cas que deverão reger a prestação<br />
de cuidados de saúde e o comportamente<br />
dos prestadores que, nos<br />
inícios da década de 80, começaram<br />
a surgir, de forma espontânea e<br />
inf qrmal, as primeiras Comissões<br />
de Etica nos ho9pitais portugueses.<br />
Comissões de Etica sem carácter<br />
institucional, sem valor legal, mas<br />
que teriam a grande faculdade de<br />
poder emitir recomendações e directrizes<br />
em nome do Homem e da<br />
sua dignidade, promover a educação<br />
ética da comunidade hospitalar ·<br />
e proceder à análise de casos<br />
concretos que contivessem questões<br />
de índole ética.<br />
Comissões de Ética cuja constituição<br />
não obedeceu a orientações enunciadas<br />
superiormente, mas cujos membros<br />
de qirácter íntegro baseariam<br />
os pareceres na sua consciência<br />
ética, nas declarações internacionais<br />
existentes sobre a matéria e<br />
nos códigos deontológicos.<br />
As Comissões de Ética<br />
e o Dec.·Lei 97/94, de 9 de Abril<br />
O Dec. Lei nº 97 /94 é o primeiro<br />
diploma legal que refere a necessidade<br />
da existência de Comissões de<br />
'<br />
Etica nos serviços de saúde. Embora<br />
o obj ecto deste decreto se<br />
confine à realização de ensaios<br />
clínicos, estão, no mesmo, claramente,<br />
definidos três princípios de<br />
carácter ético desde sempre atribuídos<br />
à defesa dos direitos à vida e<br />
integridade física da pessoa humana.<br />
A saber:<br />
1- O direito a uma correcta<br />
informação<br />
2- O consentimento livre<br />
e esclarecido<br />
3- O direi to à confidencialidade<br />
e integridade<br />
Refere-se, aliás, no preâmbulo do<br />
citado Decreto-Lei ter-se procedido<br />
~ audição da Comissão Nacional de<br />
Etica para as Ciências de Vida,<br />
para além das ordens profissionais<br />
envolvidas, revelando-se assim a<br />
preocupação de carácter ético que<br />
tais ensaios envolvem. ·<br />
Por fim, e após a definição do<br />
objecto no seu artigo 1 º, está o<br />
mesmo submetido a um princípio<br />
geral ~undamental. "O bem individual<br />
da pessoa deve prevalecer em<br />
qualquer ensaio clínico sobre os<br />
interesses da ciência e da comunidade"(<br />
artº 2º). ·<br />
Nos termos do Dec.-Lei n~ 97/94 de 9<br />
de Abril, a Comissão de Etica deve:<br />
1. Reconhecer a qualificação lllJii. .<br />
12 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 13
CIRCUITO DE ENSAIOS CLÍNICOS<br />
De»cum~nte»<br />
:Alter~ =· · ·<br />
prottltôto , ·<br />
Requer<br />
autorização<br />
Autorização<br />
prévia<br />
Recebe<br />
informação<br />
Toma<br />
conhecimento<br />
Autorização<br />
prévia<br />
A pedido<br />
Designado<br />
pelo promotor<br />
para<br />
acompanhar<br />
o ensaio<br />
clínico,<br />
relatando a<br />
sua evolução<br />
verificando as<br />
informações<br />
corrigidas<br />
mantendo-o<br />
permanentemente<br />
informado<br />
Propõe a<br />
suspensão<br />
Autoriza<br />
Autoriza<br />
Autoriza<br />
Informação Toma .<br />
conhecimento<br />
Propõe Delibera<br />
alteração do<br />
protocolo<br />
Fornece A pedido<br />
Parecer<br />
Autorização<br />
prévia<br />
Recebe<br />
informação<br />
Autorização<br />
prévia<br />
Emite<br />
parecer<br />
favorável<br />
Emite<br />
parecer<br />
Emite<br />
parecer<br />
Toma<br />
conhecimento<br />
Emite<br />
parecer<br />
Recebe<br />
informação<br />
e protocolo<br />
Recebe<br />
informação<br />
Recebe<br />
informação<br />
Toma<br />
conhecimento<br />
A pedido<br />
Toma<br />
conhecimento<br />
(l) O investigador pode assumir-se, simultaneamente, corno promotor desde que assuma as responsabilida~es iner~ntes a este último.<br />
(2) Nos estabelecimentos onde não existe Comissão de Etica não pode ser autorizada a realização de ensaios clínicos.<br />
.,.. científica do(s) médico(s) que<br />
efectuam o ensaio clínico considerando<br />
a sua qualificação profissional<br />
e o tipo de ensaio a realizar;<br />
2. Emitir parecer favorável para<br />
que o órgão de administração possa<br />
autorizar a realização dos ensaios<br />
clínicos, não podendo os mesmos<br />
realizar-se em caso contrário (no<br />
caso das instituições públicas de<br />
saúde, este parecer deve ser acompanhado<br />
de parecer igualmente<br />
favorável do Director do Serviço<br />
em que deva ocorrer o ensaio).<br />
Deduz-se claramente, tal como está<br />
explicitado no artigo 7º, que nos<br />
estabelecimentos ou unidades de<br />
saúde onde não existe comissão de<br />
ética não pode ser autorizada a<br />
realização de ensaios clínicos;<br />
3. Fiscalizar a execução dos<br />
ensaios no que respeita aos aspectos<br />
éticos de segurança e integridade<br />
dos sujeitos do ensaio clínico;<br />
4. Receber comunicação periódica<br />
dos reembolsos de despesas ou<br />
prejuízos e dos respectivos montantes<br />
que os sujeitos hajam suportado<br />
pela participação no ensaio;<br />
5. Emitir parecer para o<br />
investigador sobre as propostas<br />
de alteração do protocolo que o<br />
mesmo pretende propor na sequência<br />
dos dados parciais do ensaio<br />
clínico (modificações e suspensão);<br />
6. Receber informação do investigador<br />
das medidas tomadas perante<br />
todas as reacções adversas<br />
graves ou não esperadas;<br />
7. Emitir parecer sobre a suspensão<br />
ou renovação da<br />
autorização previamente concedi-<br />
da pelo órgão de gestão sempre q'ile<br />
se verifiquem o vício ou existência<br />
do consentimento dos sujeitos,<br />
incumprimento do protocolo ou<br />
perigo para a saúde dos participantes,<br />
em especial, sempre que ocorram<br />
reacções adversas.<br />
Conclusão<br />
Do exposto poçle concluir-se que a<br />
Comissão de Etica é o órgão de<br />
consulta do órgão de gestão e do<br />
investigador, cujo parecer positivo<br />
é indispensável nas autorizações de<br />
realização de ensaios clínicos, bem<br />
como na sua modificação ou suspensao.<br />
A inexistência dos seus pareceres<br />
favoráveis pode dar origem à aplicação<br />
das coimas de maior valor<br />
previstas no Decreto-Lei nº 97 /94,<br />
de 9 de Abril.<br />
Conclui-se que, no que respeita à<br />
realização de , ensaios clínicos, às<br />
Comissões de Etica estão cometidas<br />
funções de consulta de grande<br />
importância, em termos do reconhecimento<br />
de idoneidade científica<br />
e técnica do investigador, das<br />
condições de realização do ensaio,<br />
das suas alterações, modificação e<br />
revogação. No entanto, parece-nos<br />
algo estranho que a esta Comissão<br />
não deva ser dada, obrigatoriamente,<br />
informação de retorno acerca<br />
do prosseguimento dos seus<br />
pareceres, bem como dos resultados<br />
·dos ensaios quando concluídos.<br />
Será que a~ competências da Comissão<br />
de Etica no que concerne<br />
aos ensaios clínicos esgotam as<br />
necessidades e especificidades da<br />
~ua intervenção?<br />
E nossa convicção que estas deve-<br />
rão ser de âmbito mais vasto. Pois<br />
que, se aspectos como acreditação,<br />
licenciamento, qualificação científica<br />
e técnica dos investigadores,<br />
informação e consentimento dos<br />
sujeitos, confidencialidade dos dados<br />
pessoais estão considerados<br />
relativamente aos ensaios clínicos<br />
e nada está contemplado relativamente<br />
à actividade diária da instituição,<br />
então, parece-nos que as<br />
Comissões referidas no presente<br />
diploma se po~eriam designar por<br />
Comissões de Etica para a Investigação<br />
Clínica. Ora, os problemas<br />
éticos que ocorrem diariamente<br />
numa instituição prestadora de<br />
cuidados de saúde são muito mais<br />
abrangentes do que aqueles que se<br />
relacionam com a realização de<br />
ensaios clínicos.<br />
Daí a importâl}cia da existência de<br />
Comissões de Etica com competência<br />
nos aspectos acima referidos e<br />
noutros relacionados com domínios<br />
que procuram determinar a qualidade<br />
da vida humana e os meios de<br />
a alcançar, tendo sempre em linha<br />
de conta o direito a uma correcta<br />
informação, o consentimento livre<br />
e esclarecido e o direito à confidencialidade<br />
e integridade.<br />
É nossa convicção que o legislador<br />
contemplará estes e outros aspectos<br />
quando for dado cumprimento ao nº<br />
3 do artº. 8º do Deccreto-Lei nº 97 /<br />
94, de 9 de Abril. 1<br />
* Administradora hospitalar,<br />
administradora delegada do IPO<br />
- Centro de Coimbra<br />
** Administradora hospitalar do IPO<br />
- Centro de Lisboa<br />
•<br />
Por uma política nacional de saúde mental<br />
As propostas da Associação<br />
Portuguesa de Saúde Mental<br />
No dia 1 O de Outubro de 1994 comemorou-se o Dia da Saúde Mental.<br />
GESTÃO HOSPITALAR, assinalando a data,publica um manifesto·<br />
-A Necessidade de uma Po lítica de Saúde Mental<br />
xiste em Portugal uma<br />
política nacional de saúde<br />
mental escrita? A<br />
política de saúde mental<br />
está integrada numa estratégia<br />
de cuidados de saúde primários?<br />
Existe um programa operacional<br />
para concretizar a<br />
política definida? Existe um<br />
esforço para incrementar as ca pacidades<br />
de planificação e administração<br />
a nível distrital e local? Estão<br />
bem especificadas as acções de promoção,<br />
prevenção, tratamento e<br />
reabilitação? A ligação entre serviços<br />
está especificada? A integração e<br />
continuidade de cuidados está assegurada?<br />
As respostas a estas e às restantes<br />
questões que integram o instrumento<br />
de avaliação da qualidade das políticas<br />
de saúde mental, recentemente<br />
criado pela OMS, são cruelmente<br />
eloquentes sobre a qualidade da<br />
política de saúde mental do nosso<br />
país: tal política simplesmente não<br />
existe.<br />
Quatro anos volvidos sobre o abandono<br />
da política seguida na década<br />
de 80, continua a ignorar-se qual a<br />
política que a irá substituir. Desde<br />
1990, nem um único documento foi<br />
publicado pelo Ministério da Saúde<br />
através do qual se possam conhecer<br />
os objectivos que se pretendem<br />
atingir na área da saúde mental, as<br />
estratégias e os programas operacionais<br />
preconizados, os métodos escolhi<br />
dos para a monitorização e<br />
avaliação dos desenvolvimentos alcançados.<br />
Os quatro anos da chamada nova<br />
orientação resumem-se afinal a uma<br />
medida administrativa -a integração<br />
dos Centros de Saúde Mental. Uma<br />
medida cujo alcance político não<br />
ultrapassou o bloqueio da dinâmica<br />
de desenvolvimento de serviços na<br />
comunidade capazes de funcionar<br />
como alternativas aos hospitais psiquiátricos.<br />
E cuja avaliação demonstra<br />
hoje à evidência o completo logro<br />
que representou aquilo que, à força,<br />
se pretendeu apresentar como a<br />
"psiquiatria nos hospitais gerais".<br />
Nem uma unidade de psiquiatria se<br />
criou nos hospitais gerais; pelo<br />
contrário, desviaram-se para outras<br />
especialidades, as que, iniciadas<br />
antes de 90, foram entretanto concluídas;<br />
e, cúmulo da ironia, a<br />
criação de unidades em novos hospitais<br />
em construção é agora cancelada<br />
porque, "com a integração", "a<br />
psiquiatria já está nos hospitais".<br />
Esta situação assume uma gravidade<br />
ainda maior se pensarmos que a<br />
recente reestruturação da orgânica<br />
geral do sistema de saúde, com a<br />
criação de regiões . e de unidades<br />
funcionais de saúde, veio exigir<br />
medidas claras que permitam articular<br />
o desenvolvimento dos serviços<br />
de saúde mental com os princípios<br />
orientadores do novo quadro dos<br />
serviços de saúde, e que nada foi<br />
pensado neste sentido.<br />
Neste contexto, a definição de uma<br />
política nacional de saúde mental e.,.<br />
14 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 15
Document<br />
Documento<br />
_,.. seguintes ratios :<br />
Médicos: um chefe de serviço<br />
por 75.000 habitantes; um assistente<br />
hospitalar por 25.000 habitantes.<br />
Psicólogos: um por<br />
50.000 habitantes. Enfermeiros:<br />
seis por 50.000 habitantes. Técnicos<br />
de Serviço Social: um por<br />
50.000 habitantes. Terapeutas<br />
Ocupacionais: um por 50.000<br />
habitantes.<br />
Nas áreas correspondentes às unidades<br />
funcionais de saúde onde existem<br />
Departamentos de Psiquiatria e Saúde<br />
Mental (ex-Centros de Saúde<br />
Mental e Serviços Universitários), o<br />
desenvolvimento de serviços de acordo<br />
com este modelo não levanta<br />
problemas significativos. Basta existir<br />
vontade política de superar os<br />
constrangimentos organizacionais<br />
existentes e de planificar o desenvolvimento<br />
dos dispositivos e programas<br />
ainda não existentes.<br />
Problemas organizacionais mais<br />
complexos colocam-se, evidentemente,<br />
nas áreas actualmente assistidas<br />
pelos hospitais psiquiátricos.<br />
Considerando que toda a população<br />
portuguesa deve ter direito a cuidados<br />
de saúàe mental de igual qualidade,<br />
e que nada justifica que metade<br />
da população portuguesa fique condenada<br />
a apenas ter acesso a serviços<br />
incapazes de prestar todos os cuidados<br />
considerados indispensáveis, a<br />
APSM defende a elaboração de<br />
planos regionais que assegurem o<br />
desenvolvimento do modelo atrás<br />
apresentado nas áreas geo-demográficas<br />
assistidas pelos hospitais psiquiátricos,<br />
de acordo com os<br />
seguintes princípios:<br />
• Os sectores assistidos pelas diferentes<br />
equipas dos hospitais deverão<br />
se.r dotados dos diversos<br />
dispositivos extra-hospitalares. No<br />
que se refere ao internamento de<br />
doentes agudos, deverão criar-se<br />
unidades de psiquiatria em hospitais<br />
gerais das áreas correspondentes<br />
(devendo estabelecer-se um<br />
prazo limite para a concretização<br />
deste objectivo).<br />
• Cada equipa deverá ter a autonomia<br />
administrativa indispensável<br />
ao desenvolvimento de um programa<br />
de saúde mental na sua área de<br />
intervenção. A constituição de centros<br />
de responsabilidade a nível de<br />
cada equipa poderá, num primeiro<br />
tempo, constituir uma solução ade-<br />
•<br />
é chegado o momento de abandonar as<br />
abordagens ideológicas que caracterizaram a<br />
discussão dos problemas e de se empreender<br />
uma reflexão séria, e baseada em argumentos<br />
de ordem organizacional, sobre o modelo de<br />
administração dos serviços de saúde mental.<br />
quada, desde que permita, de facto,<br />
a gestão de recursos próprios e que<br />
seja articulada com uma estratégia<br />
geral de transferência de recursos<br />
do nível hospitalar para o nível<br />
extra-hospitalar.<br />
• A nível regional deverão estabelecer-se<br />
os mecanismos necessários<br />
ao desenvolvimento de um processo<br />
eficaz de realocação de recursos,<br />
que será indispensável a criação<br />
dos novos dispositivos.<br />
Este modelo, que nos parece ser o<br />
que melhor poderá responder às<br />
necessidades do futuro, no quadro<br />
da actual estrutura dos serviços de<br />
saúde, integra os grandes princípios<br />
preconizados pela OMS e retoma,<br />
adaptando-os às condições actuais<br />
do país, os desenvolvimentos mais<br />
fecundos da reorganização dos serviços<br />
de saúde mental registados nas<br />
últimas décadas em Portugal.<br />
Direcção dos serviços locais<br />
de saúde mental<br />
Depois de vários anos de controvérsias<br />
em torno da extinção ou não<br />
extinção dos centros de saúde mental,<br />
há que reconhecer que é chegado<br />
o momento de abandonar as abordagens<br />
ideológicas que caracterizaram<br />
a discussão dos problemas e de se<br />
empreender uma reflexão séria, e<br />
baseada em argumentos de ordem<br />
organizacional, sobre o modelo de<br />
administração dos serviços de saúde<br />
mental.<br />
A verdadeira questão é a de se saber<br />
qual o modelo capaz de assegurar<br />
uma maior eficácia:<br />
•Na gestão dos recursos existentes.<br />
• Na coordenação dos diferentes<br />
dispositivos e programas de saúde<br />
mental.<br />
• Na articulação entre as intervenções<br />
a nível hospitalar e as do nível<br />
dos cuidados de saúde primários.<br />
•Na criacão de programas comuns<br />
com a Segurança Social, o IEFP, as<br />
autarquias, etc.<br />
Na maior parte dos países desenvolvidos,<br />
todos os esforços se centram<br />
actualmente no desenvolvimento de<br />
esquemas de administração de serviços<br />
de saúde mental capazes de<br />
assegurar uma gestão integrada dos<br />
recursos e uma coordenação adequada<br />
dos programas (o que se pode<br />
verificar nas medidas recentemente<br />
tomadas na Holanda, em Inglaterra e<br />
nos Estados Unidos).<br />
Não faz sentido que, no mesmo<br />
momento, em Portugal, se caminhe<br />
em sentido inverso, privando os<br />
órgãos de direcção dos serviços de<br />
saúde mental da autonomia sem a<br />
qual não é possível uma gestão<br />
dinâmica, flexível e responsável.<br />
- Neste contexto, a APSM defende<br />
que:<br />
-A nível de cada unidade funcional<br />
de saúde, os serviços de saúde<br />
mental devem ser geridos por um<br />
órgão com a autonomia necessária<br />
a uma administração eficaz dos<br />
serviços, bem como a uma defesa<br />
adequada dos interesses da saúde<br />
mental no âmbito da divisão de<br />
recursos pelos vários serviços da<br />
unidade de saúde.<br />
- Este órgão deverá ser dotado dos<br />
meios para gerir os recursos afectos<br />
aos serviços de saúde mental e ter<br />
os poderes para estabelecer protocolos<br />
de cooperação com outras<br />
estruturas de saúde.<br />
- Este órgão deverá ainda poder<br />
estabelecer programas de intervenção<br />
em conjunto com a Segurança<br />
Social e com associações privadas<br />
de solidariedade social.<br />
- Embora haja razões para duvidar<br />
das reais capacidades da figura dos<br />
Centros de Responsabilidade para<br />
garantir a autonomia e a eficácia<br />
requeridas à administração dos<br />
serviços de saúde mental, não é de<br />
excluir a hipótese de se ponderar a<br />
..<br />
•<br />
•<br />
possibilidade da sua aplicação;<br />
desde que, naturalment.e,<br />
fique demonstrada<br />
a sua superioridade em<br />
relação a outras alternati-<br />
,<br />
vas, e so nos casos em que<br />
tal se verifique.<br />
Planeamento regional<br />
Com a recente regionalização<br />
dos serviços de saúde, o<br />
planeamento regional dos<br />
serviços de saúde mental<br />
tornou-se um instrumento<br />
essencial em qualquer processo<br />
de transformação dos<br />
serviços neste sector.<br />
Neste sentido, a APSM defende:<br />
• A extinção dos três Centros<br />
de Saúde Mental existentes,<br />
estruturas<br />
totalmente obsoletas e inoperacionais<br />
a partir do momento<br />
em que existem cinco<br />
administrações regionais de<br />
saúde.<br />
• A integração nas administrações<br />
regionais de saúde de uma componente<br />
de saúde mental, que possa<br />
assegurar a coordenação dos serviços<br />
de saúde mental da região,<br />
assim como a planificação e o<br />
desenvolvimento de novos programas<br />
nesta área. A existência desta<br />
componente específica da saúde<br />
mental justifica-se, pelo ·menos nesta<br />
fase, pela dimensão dos problemas<br />
da saúde mental e pela<br />
complexidade que necessariamente<br />
assumirá a reestruturação dos serviços<br />
de saúde mental.<br />
• A elaboração de um plano regional<br />
em cada uma das regiões. Este<br />
plano deverá definir o futuro dos<br />
actuais hospitais psiquiátricos, indicar<br />
os novos serviços, criar e<br />
estabelecer os programas operacionais<br />
para a implementação dos<br />
objectivos definidos para cada região.<br />
• A criação de um Conselho Consultivo<br />
Regional de Saúde Mental.<br />
-<br />
A questão dos hospitais<br />
psiquiátricos<br />
A transição progressiva dos sistemas<br />
centrados nos hospitais psiquiátricos<br />
para sistemas baseados na comunidade,<br />
e incluindo o internamento no<br />
hospital geral, é hoje consensual em<br />
todo o mundo.<br />
Em Portugal, cerca de 80% dos<br />
recursos continuam concentrados<br />
nos hospitais psiquiátricos. Estas<br />
instituições revelam-se. claramente<br />
incapazes de assegurar uma resposta<br />
de qualidade às diferentes necessidades<br />
de cuidados das populações.<br />
Nalguns casos, até, as pessoas que<br />
nelas se encontram internadas são<br />
obrigadas a viver em condições<br />
perfeitamente inaceitáveis num país<br />
europeu.<br />
A transição progressiva dos sistemas<br />
centrados nos hospitais psiquiátricos para<br />
sistemas baseados na comunidade, e incluindo<br />
o internamento no hospital geral, é hoje<br />
consensual em todo o mundo.<br />
Neste contexto, a APSM não<br />
pode deixar de considerar que:<br />
a) uma profunda reorganização<br />
dos hospitais psiquiátricos<br />
é inevitável nos próximos<br />
anos o que implica qecisões e<br />
planos específicos para cada<br />
'<br />
um deles, a criação de serviços<br />
alternativos na comunidade,<br />
a redefinição dos<br />
recursos afectos aos hospitais<br />
e a reciclagem do seu<br />
pessoal.<br />
b) este processo, como se tem<br />
demonstrado noutros países,<br />
exige bases técnicas, planeamento<br />
e orientações políticas.<br />
Quando se ignoram os<br />
problemas e não se tomam as<br />
medidas necessárias, os custos<br />
são maiores e, no fim, são<br />
sempre os cuidados de saúde<br />
mental que saem prejudicados.<br />
c) deverá, assim, ef ectuar-se<br />
um planeamento, a nível<br />
regional, que defina o papel de<br />
cada um dos hospitais a curto e<br />
médio prazo. Deverão, em particular,<br />
estabelecer-se regras precisas<br />
de realocação de recursos, entre as<br />
quais a de que "todo o recurso<br />
retirado no hospital é para investir<br />
na criação de novas estruturas na<br />
comunidade".<br />
Revisão da lei de saúde mental<br />
A maioria dos países europeus tem,<br />
nos últimos anos, reformulado as<br />
suas leis relacionadas com os problemas<br />
de saúde mental, reforçando os<br />
instrumentos legais que defendem os<br />
direitos dos cidadãos que sofrem de<br />
problemas de saúde mental.<br />
Neste aspecto, a situação portuguesa<br />
é particularmente grave, dado o<br />
vazio legal existente neste capítulo<br />
de há alguns anos para cá.<br />
A APSM defende a urgente revisão<br />
de toda a legislação relacionada com<br />
a saúde mental, em particular a Lei<br />
2118, e considera que este é um ponto<br />
que, mais do que qualquer outro,<br />
exige um amplo debate.<br />
Reabilitação psiquiátrica<br />
A reabilitação dos doentes mentais é<br />
hoje uma dimensão tão essencial dos<br />
cuidados que justifica uma abordagem<br />
particular. Nos últimos anos têm<br />
-se feito progressos significativos _.,<br />
18 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 19
Documento<br />
~ nesta área. Mas é preciso não<br />
ignorar que para eles o Ministério da<br />
Saúde pouco ou nada contribuiu,<br />
quando poderia ter neste sector um<br />
papel insubstituível. ,<br />
Para que se possa recuperar o tempo<br />
perdido, impõem-se medidas urgentes,<br />
entre as quais a APSM destacaria:<br />
• Estabelecimento das bases jurídicas<br />
dé constituição e funcionamento<br />
de residências comunitárias para<br />
doentes mentais, com definição das<br />
regras de cooperação entre a Saúde,<br />
a Segurança Social e associações<br />
privadas de solidariedade social.<br />
• Estabelecimento de bases jurídicas<br />
de constituição e funcionamento<br />
de empresas ,sociais para doentes<br />
mentais.<br />
• Desenvolvimento de mecanismos<br />
de apoio a programas específicos de<br />
reabilitação e desinstitucionaliza<br />
_ção.<br />
A concretização destas medidas não<br />
seria difícil: a experiência noutros<br />
países é vastíssima e, mesmo entre<br />
nós, o trabalho desenvolvido pela<br />
Comissão Interministerial para a<br />
Reabilitação e Desinstitucionaiização<br />
dos Doentes Mentais, que funcionou<br />
até 1990, incluía propostas<br />
válidas neste campo.<br />
Avaliação dos serviços<br />
de saúde mental<br />
A avaliação e a garantia de qualidade<br />
dos serviços representa uma das<br />
mais eficazes alavancas de transformação<br />
e progresso dos serviços.<br />
A existência de um sistema nacional<br />
de informação na saúde mental, com<br />
uma cobertura praticamente geral,<br />
torna especialmente fácil uma monitorização<br />
do desenvolvimento dos<br />
serviços. Todavia, tem que se reconhecer<br />
que as potencialidades do<br />
sistema criado estão longe de ser<br />
devidamente a provei ta das.<br />
Neste capítulo, a APSM considera<br />
que:<br />
a) deverão ser instituídos mecanismos<br />
de monitorização das actividades<br />
desenvolvidas pelos diferentes<br />
serviços e apresentados publicamente<br />
os resultados dessa avaliação<br />
permanente.<br />
b) deverão ser definidos padrões<br />
mínimos de qualidade dos serviços<br />
de saúde mental - não só a nível de<br />
estruturas e de processos, mas<br />
também de resultados. Neste último<br />
domínio, importa especialmente<br />
introduzir avaliações da satisfação<br />
e de outras dimensões da qualidade<br />
de vida dos doentes.<br />
Na sequência da definição atrás<br />
referida, deverão ser efectuadas auditorias<br />
às várias instituições psiquiátricas<br />
destinadas a verificar até<br />
que ponto se encontram nelas garantidos<br />
os padrões mínimos de qualidade.<br />
Como sucede noutros países em que<br />
se segue esta metodologia, às instituições<br />
deverão ser dados prazos<br />
20 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
determinados para superar as insuficiências<br />
registadas.<br />
Participação dos utentes,<br />
das famílias e associações<br />
não governamentais.<br />
A saúde mental é cada vez mais uma<br />
tarefa de todos, incluindo os que<br />
necessitam de cuidados. No futuro,·<br />
a cooperação dos utentes, das famílias<br />
e das organizações não governamentais<br />
tenderá a assumir um papel<br />
cada vez mais significativo. Esta<br />
evolução necessita, contudo, de ser<br />
estimulada e apoiada. Neste sentido,<br />
a APSM defende que:<br />
a) seja regulamentada e apoiada a<br />
participação dos utentes no planeamento<br />
e gestão dos serviços, a<br />
exemplo do que já se faz em muitos<br />
outros países europeus.<br />
b) sejam definidas medidas de apoio<br />
as associações de famílias que já<br />
começam a surgir entre nós e que,<br />
certamente, poderão vir a ter um<br />
papel de grande relevo no futuro.<br />
c) sejam também especialmente<br />
acarinhá.d.os tàdos os proj ectos<br />
desenvolvido_s ~e_las associações<br />
não gove,rn.~ntais, associações<br />
que, à c~st11 d€ grande esforço e<br />
entusiasmo, ... terri desenvolvido nos<br />
últimos anos um trabalho excelente,<br />
ném sempre devidamente avaliado.<br />
Criação do Conselho Nacional<br />
de Saúde Mental<br />
A criação de um Conselho Nacional<br />
de Saúde Mental, há muito defendida,<br />
assume no momento actual uma<br />
particular acuidade. A APSM defende,<br />
assim, a imediata criação deste<br />
órgão, vocacionado para dar parecer<br />
sobre todos os assuntos relevantes<br />
para a definição e desenvolvimento<br />
de uma política de saúde mental.<br />
Este Conselho deverá integrar representantes:<br />
dos vários grupos profissiorrais<br />
implicados na prestação de<br />
cuidados de saúde mental;das diversas<br />
Faculdades de Medicina e outras<br />
instituições de ensino relacionadas<br />
çom a formação em saúde mental; da<br />
Segurança Social; do IEFP; do Secretariado<br />
Nacional de Reabilitação;<br />
das entidades privadas e das organizações<br />
de solidariedade social envolvidas<br />
na prestação de cuidados de<br />
saúde mental e de associações de<br />
utentes e famílias. 1<br />
O futuro do sistema<br />
de saúde em Portugal<br />
profissão de gestor hospitalar<br />
em Portugal está hoje a<br />
passar por profundas transformações.<br />
Os gestores que<br />
exercem verdadeiramente um papel<br />
de liderança vêm reconhecendo que<br />
os seus conhecimentos serão, porventura,<br />
insuficientes para encarar<br />
os novos desafios que o sistema de<br />
saúde lhes coloca: "competição"<br />
privada, novas tecnologias de utilização<br />
cara mas dramaticamente<br />
efectivas, e expectativas crescentes<br />
para gerir a "qualidade dos cuidados".<br />
Acrescente-se ainda, a esta<br />
lista, um ponto crítico e decisivo na<br />
gestão hospitalar: desenvolver planos<br />
estratégicos para adaptar o<br />
hospital aos desafios do próximo<br />
milénio.<br />
Os gestores hospitalares têm de<br />
redefinir os seus papéis, mais em<br />
termos das pessoas que servem do<br />
que em termos da construção• de<br />
novas e maiores estruturas, ou da<br />
aquisição dos mais recentes equipamentos<br />
ou da contratação de mais<br />
pessoal. De facto, não há orçamentos<br />
ilimitados. Nem é possível encarar<br />
um número ilimitado de doentes<br />
para atender.<br />
Portugal tem nove milhões de pessoas<br />
para cuidar - nem mais, nem<br />
menos. E este número não deverá<br />
crescer no futuro, embora a sua<br />
composição venha a mudar necessariamente.<br />
Haverá menos bebés e<br />
Janet Guptill *<br />
mais idosos a viver mais anos. Os<br />
gestores hospitalares terão que<br />
a prender a fazer opções de tal modo<br />
que o conjunto de recursos de que<br />
eles dispõem para a sua comunidade<br />
sejam, de facto, ajustados às respectivas<br />
necessidades.<br />
Razão de ser<br />
do Planeamento Estratégico<br />
De uma maneira simples, um plano<br />
estratégico fornece a estrutura necessária<br />
para a tomada de decisões,<br />
por forma a atingir o máximo benefício<br />
ao mínimo custo. Um plano<br />
estratégico analisa as necessidades<br />
da comunidade e fornece uma estrutura<br />
que adapta os recursos a essas<br />
necessidades. Esclarecendo melhor,<br />
Pôr em prática um plano estratégico garante<br />
-nos que as decisões tomadas em cadamomento<br />
não assentam em<br />
circunstancialismos políticos. Pelo contrário,<br />
são tomadas com base num entendimento<br />
sólido das tendências de longo-prazo e<br />
assentam nas projecções estatísticas da<br />
evolução das necessidades.<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 21<br />
é um desperdício de dinheiro comprar<br />
uma segunda máquina "pneumocardíaca",<br />
quando a primeira só é<br />
utilizada, em média, para 50 cirurgias<br />
do coração, por ano.<br />
Por outro lado, para uma população<br />
idosa, seria muito melhor investimento<br />
a detecção precoce de riscos<br />
d.e ataque cardíaco do que executar<br />
- 50 bl pass coronários por ano. Do<br />
mesmo modo, não fará sentido ter<br />
uma consulta de pediatria aberta das<br />
14.00 às 17.30 horas, quando os pais<br />
prefiririam levar ·as crianças ao<br />
médico antes de irem trabalhar, ou<br />
então, após o trabalho.<br />
Pôr em prática um plano estratégico<br />
garante-nos que as decisões tomadas<br />
em cada momento não assentam em<br />
circunstancialismos políticos. Pelo<br />
contrário, são tomadas com base<br />
num entendimento sólido das tendências<br />
de longo-prazo e assenta.m<br />
nas projecções estatísticas da evolução<br />
das necessidades.<br />
As questões·chave<br />
do Planeamento Estratégico<br />
Os pontos de partida para o desenvolvimento<br />
de um plano estratégico<br />
assentam quer numa análise do<br />
"ambiente" externo, quer numa análise<br />
das condições internas.<br />
Numa perspectiva externa, destaca<br />
-se, entre outras, as seguintes informações:<br />
1- Número de habitantes por idade e.<br />
sexo, por zona geográfica e respectivas<br />
projecções entre 5 e 10 anos;<br />
2- Dados históricos sobre taxas de<br />
utilização (por exemplo taxas de<br />
admissão para internamento) que<br />
mostrem a utilização de cuidados de<br />
saúde por idade e sexo e por diagnóstico<br />
(GDH), para uma dada zona<br />
geográfica;<br />
3- Tendências da tecnologia médica e<br />
suas consequências, ao nível das<br />
mudanças nas prestações ambulatórias,<br />
novas tecnologias, diagnósticos<br />
e terapias hodiernas, menos invasivas<br />
e de custo mais baixo.<br />
Na perspectiva interna, destaca-se a<br />
seguinte informação:<br />
1- Estatísticas de utilização por tipo<br />
de prestação, mostrando a . idade, o<br />
sexo, o diagnóstico e o recurso<br />
utilizado (dias de internamento,<br />
minutos em cirurgia, medicamentos<br />
e outros fornecimentos, etc.); ·<br />
2- Dados financeiros relacionando ...
~ recursos utilizados e respectivos<br />
custos (pessoal e material por dia de<br />
internamento, custos do equipamento,<br />
gastos administrativos e outras<br />
despesas gerais);<br />
3- Inquéritos sobre a satisfação dos<br />
clientes e outras medidas de resultados<br />
na perspectiva da qualidade, tais<br />
como percentagens específicas de<br />
óbitos, taxas de readmissão e erros<br />
' I '<br />
c1rurg1cos.<br />
Todos estes dados podem, então, ser<br />
combinados para criar cenários de<br />
futuro alternativos, utilizando modelos<br />
informáticos simples.<br />
Por exemplo:<br />
Um plano estratégico global, assente na<br />
população e nas suas necessidades,<br />
fornecerá com certeza as respostas para as<br />
questões complexas que giram à volta das<br />
prioridades de financiamento em sistemas de<br />
saúde.<br />
regime ambulatório.<br />
Usando estas fórmulas e as estatísticas<br />
portuguesas (Estatísticas da Saúde,<br />
Portugal, 1991/2) e considerando<br />
um ligeiro decréscimo, quer nas<br />
• População x taxa de admissão = Nº de admissões (por GDH/área clínica)<br />
• Nº de admissões x Demora média = Nº de dias de internamento<br />
• Dias de internamento : 365 : 80% (T.0.) = Nº de camas necessárias (por serviço)<br />
As tendências da tecnologia médica<br />
vêm reduzindo as taxas de internamento<br />
(esta medida em que as<br />
prestações clínicas podem ser crescentemente<br />
realizadas em regime<br />
ambulatório), e também as "demoras<br />
médias" (em parte por questões<br />
sociais, já que muitos doentes permanecem<br />
por longos períodos em hospitais,<br />
para além do clinicamente<br />
necessário, devido à ausência de<br />
condições familiares e habitacionais<br />
de suporte).<br />
Podem, assim, perspectivar um sistema.<br />
de saúde que, servindo a mesma<br />
população, o faz com menos camas<br />
hospitalares, mas com mais recursos<br />
destinados a áreas de tratamento em<br />
Diferença. ~ntre Hoss:-itais<br />
taxas de admissão quer na "demora<br />
média", podemos construir o seguinte<br />
cenário das camas hospitalares<br />
necessárias em Portugal (estes cálculos<br />
não equacionam eventuais e<br />
previsíveis mudanças no care-mix<br />
hospitalar).<br />
1992 <strong>1995</strong><br />
População 9 840 000 9 840 000<br />
Taxa de admissão<br />
(por mil habitantes) 178.0 150.0<br />
Demora média 8.5 6.0<br />
Camas necessárias 50 986 30 329<br />
Lotação oficial 43 684 43 684<br />
Novas camas 7 302 -<br />
Excesso de célmas . - 13 355<br />
Este exemplo não pretende ser uma<br />
l!ll<br />
o<br />
Cardiologia Ortopedia Medicina Interna ORL Cirurgia Cardio-torácica<br />
Obstetrícia Cirurgia Geral Oftalmologia Ginecologia<br />
fjôtt\lftàl 111 u, , . ~1à<br />
Fonte: Estatísticas da Saúde 91/92 - Portugal I991 National Hospital Discharge Survey the Sachs Group U.S.A.<br />
formulação rigorosa e definitiva<br />
sobre a necessidade de camas em<br />
'<br />
I<br />
Portugal. E apresentado apenas para<br />
ilustrar um modelo que pode ser<br />
elaborado com dados actualizados e<br />
disponíveis.<br />
Para além disso, esttes cálculos<br />
devem ser orientados segundo a<br />
idade e o sexo da população e por<br />
diagnóstico, por forma a quantificar<br />
-se com rigor o tipo de recursos que o<br />
hospital deve disponibilizar.<br />
Portugal deve investir mais dinheiro<br />
na bertura de salas de operações<br />
para cirurgia ambulatória ou, em<br />
alternativa, investir em programas<br />
cirúrgicos para doentes internados<br />
(coração aberto, transplante de órgãos,<br />
etc.)? Deverá Portugal investir<br />
na construção de unidades de cuidados<br />
intensivos destinados a idosos<br />
(cardiologia, oncologia, nefrologia,<br />
etc.) ou, em alternativa, destinados<br />
a doentes mais novos (traumatologia,<br />
medicina desportiva, especialidades<br />
pediátricas )?<br />
Um plano estratégico global, assente<br />
na população e nas suas necessidades,<br />
fornecerá com certeza<br />
as respostas para<br />
estas e outras questões<br />
complexas que giram à<br />
volta das prioridades<br />
de financiamento em<br />
sistemas de saúde. •<br />
* Gestora<br />
de Serviços de Saúde<br />
22 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>
Entr~vista<br />
"O perfil exigido para o lugar de administrador-delegado aponta claramente para uma f armação específica<br />
facultada pelo curso de Administração <strong>Hospitalar</strong>", afirma Lopes Martins, Secretário de Estado da Saúde.<br />
Em sua opinião, "os profissionais que forma têm, na sua grande maioria, uma preparação de nível elevado e a<br />
sua alta qualificação é hoje genericamente reconhecida".<br />
ministra or - e e a o<br />
eve ter ormação especí ica<br />
ESTAO HOSPITALAR - O<br />
Senhor está praticamente<br />
há um ano a desempenhar<br />
as funções de Secretário<br />
de Estado da Saúde. Que balanço<br />
faz deste primeiro ano de governo?<br />
Que áreas especificas tem<br />
privilegiado na sua actuação?<br />
LOPES MARTINS - Obj ectivamente,<br />
um balanço positivo; de facto,<br />
em desenvolvimento do Programa<br />
do Governo, a acção do Ministér.io<br />
neste último ano foi orientada por<br />
três grandes eixos: aumentar a acessibilidade,<br />
reformular o financiamento,<br />
incrementar a eficiência.<br />
24 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
Relativamente a cada um destes<br />
objectivos, foram dados passos seguros<br />
de forma gradualista, constituindo<br />
um mix coerente de medidas, quer<br />
em matéria organizacional - como<br />
por exemplo a criação e o desenvolvimento<br />
do conceito de unidades de<br />
saúde e a distribuição mais equitativa<br />
de efectivos médicos através de<br />
concursos abertos em moldes que<br />
garantam o efectivo preenchimento,<br />
quer no iflcremento da eficiência<br />
concretizando a natureza mista do<br />
sistema de saúde, reorientando o<br />
papel do Estado como garante da<br />
prestação de cuidados e não necessariamente<br />
e sempre como executante -<br />
foram celebrados em 1994, 18 protocolos<br />
com Misericórdias para a prestação<br />
de cuidados continuados; está<br />
em curso o processo de selecção para<br />
a gestão privada de um hospital<br />
público e em fase de conclusão o<br />
diploma que viabiliza a gestão de<br />
centros de saúde ou a prestação de<br />
cuidados por grupos de médicos, quer<br />
ainda em matéria financeira, através<br />
do aprofundamento de medidas de<br />
rigor e contenção nas despesas e,<br />
muito importante, da recuperação<br />
da dívida a fornecedores com utilização<br />
de mecanismo financeiro extraordinário<br />
.<br />
Existe, podemos dizer, uma atenção<br />
sistemática e constante a todas as<br />
áreas; aliás, em saúde, dada a premência<br />
e a pressão de soluções em<br />
problemas de enorme diversidade que<br />
se revestem de natureza quase corrente,<br />
é difícil, muito difícil, estabelecer<br />
áreas privilegiadas.<br />
Naturalmente que são as múltiplas<br />
vertentes do financiamento que mais<br />
e maior preocupação suscitam.<br />
GESTÃO HOSPITALAR - É universalmente<br />
reconhecido que o<br />
crescimento das despesas da saúde<br />
tende a ser superior ao crescimento<br />
das economias dos<br />
diferentes países. Da contenção<br />
de custos, através de medidas<br />
inibidoras da utilização (anos 80),<br />
assiste-se agora, na Europa e nos<br />
EUA, por ex., a tentativas<br />
de racionalização dos sistemas<br />
de saúde (incrementando<br />
a eficiência,<br />
estabelecendo prioridades<br />
mais "custo-efectiv<br />
as", separando o<br />
financiamento da prestação,<br />
etc). O que se lhe<br />
oferece dizer sobre esta<br />
matéria e que medidas<br />
está o Governo a adoptar<br />
no sentido de introduzir<br />
maior racionalização no<br />
sistema?<br />
,<br />
"A acção do Ministério neste último ano foi orientada por três grandes<br />
eixos: aumentar a acessibilidade, reformular o financ iamento, incremen<br />
·tar a eficiência".<br />
E patente a racionalização já<br />
LM - De facto existiu<br />
(talvez ainda exista nalgualcançada<br />
em 1994. O total<br />
das despesas públicas de<br />
saúde cresceu em 1994<br />
relativamente a 1993,<br />
6,8o/o, quando, como disse<br />
atrás, o crescimento médio<br />
nos últimos anos foi de cerca<br />
de 19%.<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 25<br />
ma medida e junto de algumas<br />
pessoas) uma tendência para que o<br />
crescimento dos custos seja acompanhado<br />
de uma disponibilização crescente<br />
dos recursos provenientes dos<br />
orçamentos nacionais, sabendo-se<br />
que, tal acréscimo é feito, muitas<br />
vezes, com limitados ganhos no estado<br />
de saúde das populações.<br />
Em Portugal e na Europa a progressão<br />
real das despesas de saúde<br />
ultrapassa largamente o crescimento<br />
do PIB.<br />
Entre 1985 e 1994 as despesas públicas<br />
com saúde cresceram entre nós<br />
em média, 19% ao ano; o défice de<br />
exploração, ainda que reduzido em<br />
cada ano (cerca de 5%/ano), tem<br />
vindo a acumular-se desde há duas<br />
decadas.<br />
Para <strong>1995</strong>, em Portugal e num contexto<br />
em que as despesas de funcionamento<br />
do Estado crescem menos<br />
que a inflação, há mesmo assim um<br />
aumento do peso das funções sociais<br />
do Estado (54, 7% do total, excluindo<br />
as despesas com a dívida pública).<br />
As despesas públicas com saúde<br />
ultrapassarão, em <strong>1995</strong>, 5% do PIB.<br />
Reconhece-se um pouco por toda a<br />
parte que as despesas públicas com a<br />
saúde não podem continuar a crescer<br />
ao ritmo que têm crescido.<br />
Verifica-se por um lado um ímpeto na<br />
adopção de políticas alternativas de<br />
financiamento e por outro lado um<br />
reaquacionar da afectação e distribuição<br />
dos recursos, visando o aumento<br />
da eficiência.<br />
De facto, em face da verdade incontestável<br />
de que os meios são limitados<br />
e quase sempre insuficientes, existe<br />
a preocupação dominante,<br />
transmitida aos vários níveis<br />
da rede dos serviços de<br />
saúde, de prosseguimento<br />
co nstante de melhoria<br />
quantitativa e qualitativa<br />
do desempenho das organizações<br />
e da ponderação<br />
sistemática dos benefícios<br />
marginais, isto é do que se<br />
perde reduzindo despesas,<br />
ou mais propriamente, que<br />
benefícios adicionais se obtêm<br />
com o crescimento dos<br />
gastos.<br />
E patente a racionalização<br />
já alcançada em 1994. Não ..,_
_... obstante o crescimento da produção<br />
de cuidados de saúde, a evolução<br />
qualitativa verificada e a melhoria de<br />
resultados, o total das despesas<br />
públicas de saúde<br />
cresceu em 1994 relativamente a 1993<br />
6,8%, quando, como disse atrás, o<br />
crescimento médio nos últimos anos<br />
foi de cerca de 19%.<br />
GESTÃO HOSPITALAR - O Senhor<br />
Ministro da Saúde lançou de<br />
forma explicita o debate sobre o<br />
financiamento da Saúde, dramatizando<br />
o postulado do subfinanciamento<br />
estrutural. Atendendo<br />
ao crescimento das despesas públicas<br />
da Saúde nos últimos anos e<br />
à repartição das despesas totais<br />
da saúde entre o "Público" e o<br />
"Privado", como é que encara este<br />
problema, quando, por esta via, se<br />
secundarizam as questões da eficiência<br />
técnica e distributiva?<br />
LP - Não me parece existir dramatização<br />
na constatação serena de uma<br />
situação que, embora continuada não<br />
é estrutural e que, se encarada<br />
frontalmente, é susceptivel de ser<br />
fortemente minorada através do combate<br />
ao desperdício, através da melhoria<br />
do desempenho das instituições<br />
e da sua eficiência e através da<br />
diversificação de fontes de financiamento.<br />
A relevante questão público/privado<br />
é extraordinariamente vasta, de incidências<br />
várias e nem sempre tratada<br />
com rigor.<br />
A análise comparada deve ser feita de<br />
uma forma unívoca, com dados nacionais<br />
e de outros países absolutamente<br />
homólogos .<br />
Não é raro ver algumas conclusões<br />
(sobretudo procurando inferir a elevada<br />
percentagem de despesas privadas<br />
nas despesas totais de saúde)<br />
baseadas em items não equivalentes .<br />
Por outro lado esta questão está<br />
obviamente ligada a ciclos<br />
e à vida económica de cada<br />
,<br />
pais.<br />
A desaceleração do crescimento<br />
económico e o aumento<br />
dos défices orçamentais<br />
tem levado os países a<br />
uma redução do crescimento<br />
das despesas públicas.<br />
Em Portugal a percentagem<br />
das despesas públicas<br />
nas despesas totais de saúde<br />
era em 1970 de 89%, em<br />
1975 de 68,9%, em 1985 de<br />
A rede hospitalar portuguesa há-de ser<br />
sempre integrada por hospitais públicos<br />
com gestão pública e por hospitais<br />
públicos com gestão privada.<br />
56,3% e em 1992 de 69,8%. Neste<br />
mesmo ano a média nos países da<br />
OCDE era de 75, 8%, mas significativamente<br />
nos 24 países os únicos<br />
crescimentos da componente despesas<br />
públicas nas despesas totais de<br />
saúde entre 1985 e 1992 foram na<br />
Bélgica, nos Estados Unidos e em<br />
Portugal; em três outros mantiveram<br />
-se constantes e em todos os outros<br />
baixou.<br />
GESTÃO HOSPITALAR - Mas,<br />
em matéria de financiamento, a<br />
questão aparentemente mais polémica,<br />
prende-se com a hipótese<br />
dos cidadãos passarem a pagar,<br />
em parte substancial, a utilização<br />
dos cuidados de saúde no âmbito<br />
do SNS. De inspiração confessadamente<br />
tecnocrática, tal cenário<br />
tem, no entanto, sido objecto de<br />
profunda controvérsia ideológica<br />
à volta do carácter social da<br />
Saúde, da solidariedade, da descriminação<br />
e da emergência de<br />
cuidados de saúde elitistas. Como<br />
encara politicamente esta controversa<br />
questão, sabendo-se, até,<br />
que em todos os países de maior<br />
rendimento se procuram (ou exis- ·<br />
tem já) modelos que, precisamente,<br />
afastem a ideia do<br />
pagamento no momento da utilização?<br />
LP - O carácter social da saúde e a<br />
sua natureza de bem fundamental<br />
não evita infelizmente que os cuidados<br />
tenham que ser pagos.<br />
Eliminando o pagamento no<br />
acto da utilização, há que<br />
introduzir no sistema de<br />
financiamento da saúde diversidade<br />
de fontes, co-re -<br />
ponsabilização, selectividad<br />
desfavorecidos (como inequivocamente<br />
o faz a lei<br />
portuguesa) e, por outro<br />
lado assegurando que os<br />
doentes não paguem cuidados<br />
médicos muito caros<br />
relativamente aos seus rendimentos<br />
e que o preço seja<br />
em função da sua capacidade<br />
de pagamento.<br />
O modelo em concreto e a<br />
operacionalização destes<br />
princípios - estes sim incone<br />
solidariedade<br />
26 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
É perfeitamente claro que a gratuitidade<br />
é um mito, porventura bem<br />
intencionado mas bastante equívoco<br />
e socialmente injusto pelas razões<br />
que todos conhecemos.<br />
Retirado este ponto da controvérsia<br />
vamos ver como poderá ser suportado<br />
o aumento constante das despesas de<br />
saúde.<br />
Primeira hipótese: só a partir de<br />
orçamentos do Estado? Incrementando<br />
as receitas fiscais? Reafectando<br />
despesas, quando as funções sociais<br />
do Estado absorverão em <strong>1995</strong>, 75%<br />
do acréscimo global da Despesa<br />
Pública?<br />
Quero crer que ninguém hoje, com<br />
alguma preocupação de visão global<br />
dos problemas, poderá considerar<br />
consistente esta hipótese.<br />
Então, independentemente do modelo<br />
concreto, e eliminando naturalmente<br />
o pagamento no acto da utilização,<br />
há que introduzir no sistema de<br />
financiamento da saúde diversidade<br />
de fontes, co-responsabilização, selectividade<br />
e solidariedade.<br />
Obviamente sempre com respeito<br />
pelo princípio da equidade - todos<br />
os cidadãos deverão poder beneficiar<br />
dos cuidados médicos efectivamente<br />
necessários e a mesma necessidade<br />
deverá corresponder o mesmo tratamento,<br />
e com respeito pela protecção<br />
dos rendimentos dos cidadãos - desde<br />
logo isentando de qualquer co-responsabilização<br />
os que se encontram<br />
em situações clínicas ou pertençam a<br />
grupos sociais de risco e aqueles que<br />
financeiramente são mais<br />
..<br />
•<br />
Entrevista<br />
troversos e inabaláveis -<br />
fissionais de gestão hospitalar<br />
virá a ser brevemente<br />
vêm<br />
objecto de discussão pública,<br />
já que uma questão<br />
como esta diz respeito a<br />
todos e tem que ser serena<br />
e objectivamente reflectida,<br />
sem apropriações, sem<br />
demagogias e sem utilização<br />
indevida como arma<br />
fácil de arremesso por<br />
parte daqueles para<br />
quem é pouco relevante<br />
o mérito da solução, interessando<br />
muito mais<br />
contrariar a solução pelo<br />
facto de ser da iniciativa<br />
de origem político-partidária<br />
diferente.<br />
reassumindo um crescente<br />
protagonismo na<br />
administração dos hospitais<br />
e de outros serviços<br />
de saúde.<br />
1. Admite V. Exa. que a<br />
lei de gestão hospitalar<br />
possa vir a garantir a<br />
profissionalização desses<br />
importantes cargos?<br />
2. Considera a actual<br />
carreira de ac4ninistração<br />
hospitalar, ajustada<br />
à presente situação e aos<br />
desafios do futuro?<br />
3. E quanto ao Curso de<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong>.<br />
Que linhas de evolução<br />
GESTÃO HOSPITA<br />
deveria prosseguir?<br />
LAR - A ideia de privatizar<br />
LP - A actual lei de gestão<br />
a questão de<br />
já garante a profissionali<br />
unidades hospitalares<br />
zação de cargos de administração<br />
parece ser uma tentativa<br />
hospitalar (v.g.<br />
de ensaiar processos<br />
na gestão de centros de<br />
mais eficientes de gestão<br />
hospitalar. cuidados médicos efectivamente necessários e à mesma fil exigido para o lugar de<br />
"Todos os cidadãos deverão poder beneficiar dos responsabilidade) e o per<br />
1. Pensa que a privatização<br />
da gestão será de<br />
aponta claramente para<br />
necessidade deverá corresponder o mesmo tratamento". administrador-delegado<br />
facto uma solução a estender para a gestão de centros de saúde e uma formação específica facultada<br />
futuramente a todos os hospitais para a prestação de cuidados. Aqui, o pelo curso de administração hospitaportugueses?<br />
Estado não aliena a titularidade e a lar. Considero que não é pelo facto de<br />
2. E em que áreas pensa ser responsabilidade; estes mecanismos este requisito não estar expressa e<br />
possível obter ganhos de eficiência?<br />
Estado na protecção da sa4de mas que deixa de haver por parte de<br />
não afectam a responsabilidade do peremptoriamente previsto na lei,<br />
3. Está aberto concurso para a visam obter o máximo de utilidade no quem propõe e por parte de quem<br />
gestão privada do Hospital da aproveitamento dos bens públicos, nomeia, a designação de pessoas com<br />
Amadora. Prevê sucesso nessa através de ganhos de eficiência reco- formação em administração hospitanhecidos<br />
à actividade prívada e aos lar e com características comporta-<br />
iniciativa, face à "blindagem"<br />
(aliás responsável e necessária) mecanismos que ela pode utilizar. mentais adequadas.<br />
do caderno de encargos?<br />
Naturalmente que esta solução é O que me parece inquestionável é que<br />
Tem novidades , sobre o assunto? ·estudada caso a caso e lançada só as escolhas para integrar os Consequando<br />
as circunstâncias o determi- lhos de Administração dos Hospitais<br />
LP - E de facto em nome da<br />
eficiência, da flexibilidade de gestão,<br />
da redução do peso do Estado a há-de ser sempre integrada por hos- administração da saúde, têm sido<br />
nem. A rede hospitalar portuguesa e de outros lugares de relevo na<br />
quem compete um papel de garante pitais públicos com gestão pública e feitas à luz de critérios de competênpor<br />
hospitais públicos com gestão eia, de capacidade, de isenção de<br />
da prestação de cuidados e não,<br />
necessariamente sempre o executante.<br />
Necessariamente que o concurso e espírito de missão. O curso de Admi<br />
privada.<br />
profissionalismo e quantas vezes de<br />
Ainda visando a concretização da caderno de encargos que suporta esta nistração <strong>Hospitalar</strong> faculta · uma<br />
natureza mista do sistema de saúde solução tem que ter em conta a formação prestigiada no país e no<br />
por estímulo ao desenvolvimento do especial natureza da figura jurídica estrangeiro, actualizada e adaptada<br />
sector privado, e agora na componente<br />
do SNS, o Estado pretende, por um do serviço a gerir.<br />
Os profissionais que forma, têm na<br />
de gestão indirecta e a especificidade às necessidades do sistema de saúde.<br />
lado, incrementar os mecanismos Aquilo a que uns chamam blindagem, grande maioria uma preparação de<br />
empresariais já existentes, mecanismos<br />
tipo mercado, em serviços públirazão,<br />
prudência e segurança. ção é hoje genericamente reconheci<br />
outros chamarão com bem mais nível elevado e a sua alta qualificacos,<br />
e por outro lado, introduzir a processo do Hospital Amadora- da, quer em função da actuação que<br />
incentivos através dos contratos de -Sintra está neste momento em fase desenvolvem nas várias áreas e níveis<br />
gestão privada de unidades públicas de apreciação de propostas. da administração dos hospitais, quer<br />
e do lançamento de mecanismos de<br />
âo papel que desempenham em muiconvenção<br />
com um grupo de médicos GESTÃO HOSPITALAR - Os pro- tas outras estruturas da saúde. •<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 27
lnv~stigaçãe><br />
Despesas com a Saúde em Portugal<br />
O debate sobre o crescimento dos gastos em saúde nas sociedades mais<br />
desenvolvidas tem sido, nos últimos anos, uma constante. Em alguns<br />
casos, com especial relevância para os Estados Unidos, o aumento dos<br />
gastos tem mesmo justificado processos de reforma do sistema de saúde,<br />
COfr! maior ou menor profundidade.<br />
Francisco Ramos*<br />
m Portugal, país em que a<br />
discussão sobre temas de administração<br />
de saúde é ainda<br />
muito escassa, a questão dos<br />
gastos tem merecido alguma atenção,<br />
embora só muito espaçadamente<br />
apareçam estudos sérios e rigorosos<br />
sobre esta matéria. A sua ausência<br />
permite uma situação em que se<br />
confrontam argumentos contraditórios,<br />
tais com.o "Portugal é o país<br />
europeu em que menos se gasta em<br />
saúde" ou "nos anos mais recentes,<br />
Portugal tem feito um importante<br />
esforço de investimento na saúde".<br />
Estes argumentos, não sendo falsos,<br />
só podem ser admitidos à discussão<br />
num panorama de escassez de- informação<br />
fiável, adequada e atempada,<br />
sendo normalmente usados em conformidade<br />
com as posições de "partida"<br />
do analista. A ausência de<br />
estudos é, por um lado, sintoma do<br />
estado amorfo em que técnicos,<br />
administradores e investidores têm<br />
vivido e, por outro lado, revelador do<br />
desinteresse do poder . político em<br />
fomentar estudos independentes que<br />
Maria João Amaral**<br />
possam auxiliar a tomada de decisão.<br />
A importância do conhecimento e<br />
evolução da estrutura dos gastos em<br />
saúde não constitui um fim em si<br />
mesmo, mas permite lançar pistas e<br />
fundamentos para a discussão sobre<br />
o modo como qualquer sistema de<br />
saúde, independentemente do seu<br />
modelo organizacional, está a cumprir<br />
os objectivos gerais de:<br />
1)- eficácia, promovendo o uso de<br />
técnicas clínicas que satisfaçam as<br />
necessidades individuais dos utentes·<br />
'<br />
2)- efectividade, garantindo a me-<br />
lhoria do nível de saúde da população<br />
coberta;<br />
3)- eficiência, garantindo que os<br />
cuidados sejam prestados com um<br />
nível de utilização dos recursos<br />
disponíveis aceitável pela sociedade;<br />
4)- equidade, afectando os recursos<br />
de modo a promover uma distribuição<br />
justa dos benefícios.<br />
Todos estes objectivos também se<br />
encontram expressos na legislação<br />
portuguesa, nomeadamente na Base<br />
II da Lei de Bases da Saúde de 1990,<br />
actualmente em fase de regulamentação.<br />
Neste artigo, os autores procuram<br />
relançar o debate sobre este<br />
assunto. Longe ainda de ousarem<br />
reinventar a roda, apresenta-se alguma<br />
informação disponível sobre gastos<br />
públicqs 'd~ mocfo a discutir<br />
alguns tópicos que até aqui têm sido<br />
tratados como . axiomas e até, nalguns<br />
casos, c"mo dogmas.<br />
Assim, estudo'Q-se a evolução dos<br />
gastos púb1icos "(SNS + ADSE) ao<br />
longo do ·período 1980-92, tentando<br />
uma actualização de outros trabalhos<br />
já realizados para a década de<br />
70 (Campos) e para o período 74-84<br />
(Mantas).<br />
Comparações internacionais<br />
A Figura 1 apresenta a evolução da<br />
percentagem de gastos em saúde no<br />
PIB no período 1980 a 1990, comparando<br />
o caso português com a média<br />
dos países que integram a Comunidade<br />
Europeia.<br />
Uma primeira constatação diz respeito<br />
ao aumento dos gastos relativo<br />
à média comunitária, ficando bem<br />
evidenciado um ritmo de crescimen-<br />
De todo o quadro comunitário, Portugal<br />
.<br />
apresenta o valor mais baixo de<br />
financiamento público de saúde: apenas<br />
60.9°/o são suportados por verbas<br />
públicas, deixando quase 40o/o das<br />
despesas a cargo das famílias.<br />
J<br />
to na década de 80 bem inferior ao<br />
verificado na década anterior.<br />
A linha de tendência para o caso<br />
português mostra uma evolução de<br />
crescimento, embora bastante mais<br />
errática que a média comunitária,<br />
com picos em 1981 e 1985.<br />
Num outro plano de análise, a<br />
comparação da importância dos gastos<br />
em saúde no PIB de Portugal com<br />
a média dos países da CE, mostra que<br />
quanto a gastos totais, a posição do<br />
nosso país está bem próxima da<br />
média europeia, ultrapassando-a<br />
mesmo em 1985 e em 1989. Quanto<br />
aos gastos totais, Portugal aparece<br />
"à frente" de países como a Dinamarca<br />
o Reino Unido ou a Espanha. Se<br />
' ,<br />
considerarmos apenas os gastos publicas,<br />
então a diferença mostra-se<br />
muito significativa, pois enquanto<br />
que em Portugal, estes representam<br />
cerca de 4% do PIB, a média comunitária<br />
está acima dos 5 %, sendo<br />
Portugal o país com o menor valor de<br />
todos os que integram a CE.<br />
Quadro 1<br />
GASTOS EM SAUDE<br />
NOS PAÍSES DA C.E. (% DO P.l.B.)<br />
-··· ·.·.·.·.·.·.·.·-:-:-'.·'.·'.·:·:·:·:·:·:···:·:·:·:·:·'.·'.·'.·:·:· ::::::;:;:'.:::-:-:;:::·:;.; ::::::: ::::::::::::::::::;:;:;:·::.:- -:=:.:-:.:::.:-:-:-:-:-:-·-:-:-·-·.·.·.······<br />
Alemanha 6.3 5.9<br />
Bélgica 5.5 6.1<br />
Dinamarca 5.8 5.2<br />
Espanha 4.5 5.2<br />
França 6.0 6.6<br />
Grécia 3.6 4.0<br />
Irlanda 8.0 5.8<br />
Holanda 6.0 5.8<br />
Itália 5.6 5.9<br />
Luxemburgo 6.3 6.5<br />
,_ Reino Unido 5.2 5.2<br />
-<br />
Portugal 4.3 4.1<br />
Fonte; OCDE,1993<br />
Estes números são confirmados pelos<br />
apresentados na Figura 2, em que se<br />
refere a importância rela tiva de<br />
gastos públicos e privados em cada<br />
país da CE.<br />
De todo o quadro comunitário, Portugal<br />
apresenta o valor mais baixo de<br />
financiamento público de saúde:<br />
apenas 60.9% são suportados por<br />
verbas públicas, deixando quase<br />
40% das despesas a cargo das famílias.<br />
Os países em que o Estado assegura<br />
uma maior fatia de financiamento<br />
são o Luxemburgo (92%), o Reino<br />
Unido (86.9%), a Dinamarca (86.7%)<br />
e a Irlanda (86.5%).<br />
Esta repartição de gastos, em que os<br />
m<br />
o... 5<br />
4<br />
o<br />
-;:!2. 3<br />
o<br />
2<br />
1<br />
Fig. 1<br />
EVOLUÇÃO DAS DESPESAS EM SAÚDE<br />
PORTUGAL E C.E. (1980-90)<br />
8<br />
7<br />
•<br />
•<br />
6<br />
o 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990<br />
-TOTAL PORTUGAL ~ PÚBLICOS PORTUGAL - +-TOTAW.- - -~~ ~~L~COS C.E. 1<br />
Fonte: OCDE, 1993<br />
portugueses são os que proporcionalmente<br />
mais gastam em saúde, no<br />
ponto de consumo, não pode deixar<br />
de ser considerada no mínimo, estranha,<br />
quando se sabe que Portugal<br />
tem um Serviço Nacional de Saúde<br />
que na lei é universal, geral e<br />
tendencialmente gratuito. O facto<br />
de o nosso país, como a generalidade<br />
dos países do Sul da Europa, ter<br />
adoptado o modelo SNS apenas no<br />
final dos anos 70, em plena crise<br />
económica motivada pelos "choques<br />
petrolíferos", enquanto os países do<br />
Norte criaram sistemas do tipo universal<br />
logo no pós-guerra, com as<br />
respectivas economias em fase de<br />
desenvolvimento, será certamente<br />
100%<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
Fonte: OCDE, 1993<br />
Fig. 2<br />
uma exphca;3.n oara esta rsal1
Investigação<br />
,... 1.1.,.Pessoal<br />
A parcela mais significativa no total<br />
dos gastos do SNS tem vindo a ser (e<br />
continuará certamente a sê-lo no<br />
futuro), a que respeita a despesas<br />
com pessoal.<br />
Em 1980, estes gastos representavam<br />
44.3% da globalidade da despesa do<br />
SNS, correspondendo a 21.5 milhões<br />
de contos, sendo esta percentagem de<br />
50.8% em 1992, com um valor de 267 .2<br />
milhões de contos. Ao longo deste<br />
período verificaram-se ligeiras flutuações<br />
com os extremos a rondar<br />
os 51 % (em 83, 90 e 91) e os cerca de<br />
45% (em 87).<br />
O crescimento dos gastos em pessoal<br />
é bem evidenciado, por os mesmos<br />
21.5 milhões de contos gastos em 1980<br />
para a totalidade do SNS, serem<br />
equivalentes ao que era gasto em<br />
1992 apenas pelos Hospitais Distritais,<br />
representando assim estas instituições<br />
8% dos gastos do pessoal do<br />
SNS, para este ano. Contrariamente<br />
às expectativas, a legislação referente<br />
à remodelação de carreiras de<br />
1990, nomeadamente no que respeita<br />
à actualização de escalões e reformulação<br />
de algumas carreiras, não<br />
incrementou, de modo significativo<br />
o peso relativo da parcela correspondente<br />
a pessoal, na despesa do SNS<br />
(51 % em 91 e 50.8% em 92).<br />
_ 1.2. Bens e Serviços<br />
para Consumo Próprio<br />
A percentagem atribuída aos consumos<br />
no SNS, à semelhança da anterior,<br />
verificou-se ter tido variação<br />
positiva no período em estudo.<br />
Assim, estes gastos têm vindo a<br />
representar entre 80 e 92, uma<br />
parcela da despesa global pública<br />
em saúde que oscila entre os 16.1 %<br />
em 80 (correspondendo a 7 .8 milhões<br />
de contos) e 26.4% em 92 (139 milhões<br />
de contos).<br />
1.3. Medicamentos<br />
Quanto aos medicamentos, estes<br />
continuam a ser um muito importante<br />
posto de despesa, mantendo-se nos<br />
últimos 4 anos na casa dos 18% do<br />
total de gastos. Apesar de toda uma<br />
panóplia de medidas de contenção de<br />
gastos nesta área, que foram sucessivamente<br />
implementadas ao longo da<br />
década, o melhor que se conseguiu<br />
foi suster o crescimento relativo dos<br />
medicamentos no total dos gastos<br />
públicos.<br />
A parcela mais significativa no total<br />
dos gastos do SNS tem vindo a ser a que<br />
respeita a despesas com pessoal,<br />
sendo esta percentagem de 50.8°/o em<br />
1992, com um valor de 267.2 milhões<br />
de .contos.<br />
As famílias portuguesas têm vindo a<br />
confrontar-se com a insuficiência<br />
efectiva das prestações de serviços<br />
do SNS, o que lhes origina um gasto<br />
suplementar em serviços de saúde<br />
privados.<br />
A importância relativa da parcela<br />
dos medicamentos nos gastos públicos<br />
em saúde pode considerar-se<br />
muito semelhante à parcela dos<br />
consumos até ao ano de 88, após o<br />
qual a primeira sofreu uma substancial<br />
redução.<br />
Com efeito, os 17.1 % da despesa do<br />
SNS que eram gastos em medicamentos<br />
em 1980 (8.3 milhões de contos)<br />
atingiram em 1987 os 21.4% (correspondentes<br />
a cerca de 40 milhões de<br />
contos) vindo precisamente a partir<br />
de 88 a registar um peso relativo<br />
sucessivamente menos acentuado,<br />
até atingir e!Il 92 os 14.5% (76.4<br />
milhões de contos).<br />
Não obstante esta redução percentual,<br />
o valor da despesa em medicamentos<br />
tem vindo a crescer<br />
significativamente ao longo do período,<br />
sendo apenas de registar uma<br />
quebra em 89, imediatamente recuperada<br />
no ano seguinte.<br />
1.4. Convenções<br />
As convenções têm vindo a representar<br />
uma parcela da despesa do SNS<br />
decrescente em termos percentuais,<br />
compensando assim os acréscimos<br />
verificados nas rubricas atrás analisadas<br />
(pessoal e consumos).<br />
De 22.6% em 1980 (equivalente a 10.9<br />
milhões de contos) a percentagem da<br />
despesa do SNS gasta em convenções<br />
em 1992, decresce para 9.8% (cerca<br />
de um terço do seu peso inicial).<br />
Embora em termos absolutos esta<br />
fatia se possa considerar importante<br />
30 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
(43.4 milhões de contos) não restam<br />
dúvidas do cada vez menor peso dos<br />
gastos em convenções na despesa<br />
pública em saúde.<br />
Não será por certo alheio, o facto das<br />
instituições públicas terem vindo a<br />
actualizar-se tecnologicamente ao longo<br />
da década, num esforço reconhecido<br />
de autonomia em relação a<br />
instituições privadas; com quem mantinham<br />
elevado número de convenções.<br />
Este pressuposto será<br />
particularmente reconhecido com a<br />
introdução de novas tecnologias no<br />
âmbito da Imagiologia, bem como da<br />
assumpção por parte do Estado de<br />
uma maior intervenção na programação<br />
e fiscalização da instalação de<br />
equipamento médico pesado, quer em<br />
instituições públicas quer em privadas<br />
(Dec-Lei nº 445/88, de 5 de Dezembro).<br />
Em resumo, podemos pois concluir<br />
que a estrutura da despesa do SNS<br />
se alterou ao longo da década de 80:<br />
-á parcela qiais significativa era)<br />
e manteve-se, a da despesa com o<br />
pessoal, representando metade da<br />
totalidade dos gastos públicos em<br />
saúde, em 1992;<br />
-as convenções, que detinham um<br />
peso relativo importante no início<br />
da década, diminuiram drasticamente<br />
no princípio dos anos 90,<br />
com valores inferiores a 10%;<br />
-os consumos variaram positiva e<br />
sustentadamente, até atingirem<br />
mais de um quarto da totalidade<br />
da despesa;<br />
1<br />
1<br />
j<br />
- quanto à percentagem de gastos<br />
em medicamentos, o balanço final<br />
(não considerando os picos intermédios)<br />
é de um decréscimo<br />
inferior a 3 pontos percentuais;<br />
no período em estudo.<br />
Fig. 3<br />
Evolução da estrutura<br />
da despesa do SNS em Portugal<br />
Gastos por natureza (1980-92)<br />
100%<br />
80%<br />
mostra que, na realidade, a política<br />
de saúde em Portugal tem privilegiado<br />
o cresçimento da área hospitalar,<br />
não admitindo portanto o surgimento<br />
das continuadas queixas dos<br />
utentes acerca do funcionamento<br />
dos Centros de Saúde.<br />
Assim, para o período em<br />
análise, a despesa imputada<br />
às ARS sofreu um incremento<br />
de apenas dois<br />
pontos percentuais, contra<br />
os cerca de 10% já referidos<br />
para os hospitais.<br />
ram (ou aumentaram mesmo) a usar o<br />
sector privado, mas cada vez menos<br />
sob a cobertura do financiamento<br />
público. Por outro l~do, a difícil<br />
articulação entre os diferentes níveis<br />
de prest;ação de cuidados de saúde, a<br />
deficiente distribuição de recursos<br />
humanos pelo país e a desregrada e<br />
excessiva procura de cuidados médicos<br />
de urgência, são factores que<br />
certamente contribuem para o elevado<br />
peso da rubrica "Hospitais" na<br />
despesa global do SNS.<br />
60%<br />
A este facto não será 3. A, COMBINAÇÃO<br />
estranho uma maior con- PUBLICO-PRIVADO<br />
40% frontação dos hospitais 3.1. Evolução 1980-90<br />
com o desenvolvimento As famílias .portuguesas têm vindo a<br />
20%<br />
tecnológico. A introdução confrontar-se com a insuficiência<br />
0%<br />
de novas tecnologias, com efectiva das prestações de serviços<br />
1980 1992<br />
elevados custos de investi- do SNS, o que lhes origina um gasto<br />
CONVENÇÕES • coNSUMOS mento e de exploração dos suplementar em serviços de saúde<br />
• MEDICAMENTOS • PESSOAL equipamentos (algumas privados.<br />
2. GASTOS POR TIPO<br />
DE ACTIVIDADE<br />
A análise por tipo de actividade<br />
adopta a divisão clássica entre Hospitais<br />
e Cuidados de Saúde Primários,<br />
individualizando apenas os<br />
gastos com medicamentos e convenções,<br />
habitualmente designados por<br />
"transferências para o sector privado".<br />
A Fig.4 evidencia que a fatia mais<br />
relevante continua a ser a dos<br />
Hospitais, que aumentam a sua<br />
importância relativa no período em<br />
análise de 40% em 1980, para cerca<br />
de 50% em 1992.<br />
Fig. 4<br />
100%<br />
90%<br />
80%<br />
.. 70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
'20%<br />
10%<br />
0%<br />
Evolução da estrutura<br />
da despesa do SNS em Portugal<br />
Gastos por tipo de actividade (1980-92)<br />
100%<br />
80%<br />
60%<br />
40%<br />
20%<br />
0%<br />
1980 1992<br />
• OUTROS CONVENÇÕES ARS<br />
MEDICAMENTOS<br />
• HOSPITAL<br />
Apesar do discurso oficial referir o<br />
primado dos cuidados de saúde<br />
primários, na linha de recomendações<br />
da OMS, a frieza dos números<br />
Fig. 5<br />
EVOLUÇÃO DOS GASTOS EM SAÚDE EM PORTUGAL<br />
(1980-92)<br />
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990<br />
1 • GASTOS>) PÚBLICOS • GASTOS PRIVADOS<br />
das quais não substituíveis,<br />
mas complementares<br />
às já existentes) e a indução<br />
da procura pela nova<br />
oferta, originam novos e<br />
elevados gastos, que se<br />
reflectem na rubrica em<br />
análise.<br />
A progressiva redução das<br />
tranf erências para o sector<br />
privado, representa certamente<br />
um reforço da capacidade<br />
própria do SNS na<br />
área da prestação de cuidados.<br />
No entanto, se associarmos<br />
a esta informação os dados<br />
referentes aos gastos das famílias<br />
(Fig. 5) facilmente se concluirá da<br />
insuficiência desse reforço, antes se<br />
verificando que os utentes continua-<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 31<br />
Esta percentagem privada nos gastos<br />
totais de saúde veio, ao longo da<br />
última década a aumentar, confirmando<br />
a escassez relativa dos gastos<br />
públicos.<br />
Nas Fig. 5 e 6, pode observar-se a<br />
tendência progressiva para um maior<br />
distanciamento entre os valores dos<br />
gastos totais e públicos, que equivale<br />
a um aumento dos gastos em prestações<br />
privadas, o que é contrário à<br />
pretensão da universalidade dos cuidados<br />
de saúde estabelecida no SNS.<br />
3.2 A Matriz<br />
Público-Privado em 1992<br />
A cohabitação óbvia dos mercados<br />
público e privado na área da. saúde<br />
em Portugal, levanta a questão da<br />
prestação e financiamento dos cuidados<br />
de saúde: quem presta que ..,,.<br />
"
70000<br />
60000<br />
50000<br />
40000<br />
30000<br />
20000<br />
10000<br />
o<br />
(em Escudos)<br />
Fig. 6<br />
GASTOS PER CAPITA EM PORTUGAL (1980-90)<br />
..<br />
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990<br />
GASTOS PÚBLICOS • GASTOS PRIVADOS GASTOS TOTAIS<br />
~ cuidados e quem os financia?<br />
Em artigo publicado em 1992,<br />
A.C.Campos modeliza a combinação<br />
público-privado nestas duas vertentes.<br />
O Quadro II reproduz esse<br />
modelo.<br />
Quadro li<br />
~ • Hospitais<br />
:i • Centros de Saúde<br />
m<br />
' ':::> • Outras lnst. Públicas<br />
o.<br />
lnve<br />
ação<br />
.,.. As falhas de mercado<br />
(fenómenos não consistentes<br />
com o mercado competitivo),<br />
e que levam a que<br />
não haja a denominada<br />
"eficiência de Pareto",<br />
são, em geral, as seguintes:<br />
falhas de concorrência,<br />
características<br />
inerentes aos bens públicos,<br />
externalidades, mercados<br />
incompletos, falhas<br />
de informação, desemprego<br />
e inflação.<br />
As características especiais<br />
do mercado de saúde,<br />
que o diferenciam do mercado<br />
puramente competitivo, e como resultado<br />
das suas falhas, são, em<br />
síntese:<br />
• Papel do médico, que funciona em<br />
simultâneo como entidade prestadora<br />
e procuradora (indicando ao<br />
doente outros serviços de que precisa),<br />
havendo, por conseguinte,<br />
uma "relação de agência" entre o<br />
médico e o doente, em que este lhe<br />
delega as suas decisões sobre o<br />
consumo, em parte devido ao fenómeno<br />
de "ignorância dos consumidores".<br />
•Ignorância dos consumidores, que<br />
possuem pouca informação sobre si<br />
próprios, os preços e a qualidade.<br />
• Externa/idades do mercado de<br />
saúde, podendo os custos com<br />
alguns indivíduos trazer benefícios<br />
a outros elementos da população,<br />
que não os directamente envolvidos<br />
no acto (caso das vacinas, por<br />
exemplo).<br />
• Características especiais, como é o<br />
caso das doenças não poderem ser<br />
previstas, não se planeando a compra<br />
de serviços de saúde (o que pode<br />
ser um incentivo para a compra de<br />
seguros).<br />
•Conceito da saúde como um direito,<br />
nalguns países, tornando mais difícil<br />
a sua percepção em termos de<br />
mercado.<br />
Quanto aos modelos específicos do<br />
mercado de saúde, e conforme os<br />
países, existem, designadamente, modelos<br />
da procura gerada pela oferta<br />
(indução médica) e modelos complexos<br />
de mercado para os serviços<br />
hospitalares.<br />
Para além do mercado de serviços<br />
hospitalares e de cuidados médicos, o<br />
mercado de saúde é uma amálgama<br />
de mercados de diferentes tipos de<br />
bens e serviços, como sejam:<br />
• Mercados de consumidores directos<br />
de serviços: optometristas, dentistas,<br />
fisioterapeutas, psicólogos,<br />
etc.<br />
• Mercados de grupos que funcionam<br />
como intermediários para os<br />
consumidores: por exemplo, de enfermagem,<br />
de técnicos de radiologia,<br />
etc., cujos serviços são utilizados<br />
pelos médicos nos hospitais.<br />
• Marcados de compra e venda de<br />
bens físicos: equipamentos médicos<br />
e outros, produtos farmacêuticos<br />
(com elevado crescimento e do tipo<br />
monopolista), de artigos médicos,<br />
etc.<br />
•Mercado de serviços educacionais<br />
e de recursos humanos, como sejam<br />
os do ensino médico e de enfermagem.<br />
• Mercados de outros. serviços<br />
intermediários, tais como o dos<br />
seguros para cuidados de saúde e<br />
para os riscos de negligência (que<br />
gera acréscimo de actividade dos<br />
advogados e aumento dos prémios<br />
dos seguros à medida que se eleva o<br />
número de casos ganhos em tribunal,<br />
uma vez que os médicos querem<br />
assegurar a manutenção do seu<br />
nível de vida).<br />
Nalguns países, como Portugal,<br />
o mercado de cuidados<br />
de saúde é fortemente<br />
controlado (e regulado) pelo<br />
Estado, que é, em simultâneo,<br />
prestador,<br />
financiador e detentor dos<br />
principais meios de produçao.<br />
Conforme o maior ou menor<br />
papel do Estado no controle/regulação<br />
do mercado,<br />
assim assumem especial relevo<br />
outros conceitos, designadamente:<br />
equidade,<br />
acessibilidade, eficácia, eficiência,<br />
externalidades e incentivos.<br />
Numa economia de bem-estar poderá<br />
.haver "melhoria de Pareto" até ao<br />
ponto em que é possível beneficiar<br />
determinado indivíduo (que ainda<br />
não esteja em eficiência de Pareto),<br />
sem prejudicar a situação dos outros<br />
membros da comunidade, conduzindo-nos<br />
ao "Princípio de Pareto",<br />
segundo o qual todas as melhorias<br />
devem ser desenvolvidas, e à intervenção<br />
das entidades competentes<br />
para o ,efeito. Contudo, num contexto<br />
de "Optimo de Pareto" as considerações<br />
sobre equidade duma<br />
distribuição são irrelevap.tes, uma<br />
vez que o critério do "Optimo de<br />
Pareto" depende, fundamentalmente,<br />
da distribuição inicial, daí resultando<br />
um conflito entre os objectivos da<br />
eficiência e da equidade. A questão é<br />
particularmente delicada em saúde,<br />
uma vez que constitui um bem de<br />
mérito, como já se disse atrás, onde<br />
há um certo "paternalismo" do Governo.<br />
I<br />
Quando surge trade-off (escolhia)<br />
entre eficiência e equidade, coloca<br />
-se a interrogação de qual a eficiência<br />
que se está disposto a sacrificar para<br />
ganhar mais equidade, pelo que a<br />
avaliação do mercado de cuidados de<br />
Em Portugal, o mercado de cuidados de<br />
saúde é fortemente controlado (e<br />
regulado) pelo Estado, que é, em<br />
simultâneo, .prestador, financiador e<br />
detentor dos principais meios de<br />
produção.<br />
•<br />
saúde, bem como os programas de<br />
regulação governamental, devem utilizar<br />
uma combinação dos critérios<br />
de equidade e de eficiência, os quais,<br />
sendo diferentes podem colidir um<br />
com o outro, mas usados cuidadosamente<br />
podem ser complementares.<br />
O mercado em saúde também sofre o<br />
impacte do seu financiamento, conforme<br />
a proporção e papel dos seus<br />
principais intervenientes, ou seja, o<br />
Governo, o consumidor, e os seguros<br />
privados. Este impacte tem levado a<br />
que os governos de alguns países, por<br />
efeito de actuação no financiamento<br />
(a que se associa ou não outras<br />
variáveis, como a "propriedade da<br />
gestão", procurem formas mais eficientes<br />
de funcionamento do mercado<br />
de saúde.<br />
A Região do Minho<br />
Para efeitos deste trabalho considera-se<br />
a Região do Minho como o<br />
conjunto dos Distritos de Braga e de<br />
Viana do Castelo, que se situa a<br />
Noroeste do território Continental<br />
de Portugal, com uma área de 4885<br />
quilómetros quadrados. A região<br />
possui 23 municípios e 801 freguesias,<br />
a que corresponde cerca de um<br />
milhão de habitantes, ou seja mais,<br />
de 10% dos portugueses<br />
residentes no país, e tem<br />
uma elevada densidade<br />
populacional (204 hab/<br />
km2), quase dupla da média<br />
nacional, para o que<br />
Quadro Nº 1<br />
Indicadores de saúde da Re ião do Minho, face à Re ião Norte e Continente<br />
Indicadores<br />
Mortalidade geral (%)*<br />
Mortalidade Infantil (%)*<br />
Mortalidade Neonatal (%)*<br />
Mortalidade Perinatal (%)*<br />
Partos sem assistência (%)*<br />
Doenças de notificação obrigatória<br />
(nº casos declarados)*<br />
Tuberculose (%)*<br />
Sida (nº de casos de 1983/91 )*<br />
Esperança de vida à nascença<br />
(dois sexos;anos)*<br />
Natalidade (%)*<br />
Nº camas/1 DOO habitantes **<br />
Nº habitantes/efectivo do SNS **<br />
Nº habitantes/enfermeiro do SNS **<br />
Nº habitantes/médico do SNS **<br />
*-ano de 1991; **-ano de 1992<br />
Fontes: DEPS, 1992; DRHS, 1993<br />
Distrito<br />
de Braga<br />
8.0<br />
11 .1<br />
7.4<br />
12.6<br />
1.5<br />
462<br />
64.8<br />
15<br />
72.4<br />
15.0<br />
2.18<br />
144<br />
426<br />
736<br />
No que se refere ao estado de saúde<br />
da população da Região do Minho, a<br />
qual faz parte da Administração<br />
Regional de Saúde do N arte, e<br />
tomando os indicadores habitualmente<br />
utilizados para o efeito, podemos<br />
configurar a situação no quadro<br />
número 2.<br />
A zona de influência oficial de cada<br />
Distrito de Viana<br />
do Castelo<br />
12.7<br />
8.1<br />
3.3<br />
12.5<br />
2.3<br />
226<br />
48.0<br />
16<br />
72.8<br />
10.9<br />
2.74<br />
150<br />
532<br />
815<br />
Região Região Continente<br />
do Minho Norte<br />
9.2 9.2 10.5<br />
10.5 12.7 10.7<br />
6.6 8.2 6.9<br />
12.6 13.5 12.0<br />
1.7 1.4 1.0<br />
688 2078 743<br />
60.7 69.4 56.9<br />
31 103 707<br />
72.5 72.3 73.1<br />
14.0 13.5 11.6<br />
2.32 2.83 3.1 5<br />
145 109 93<br />
448 390 365<br />
754 534 470<br />
Hospital, que em princípio representaria<br />
a sua quota de mercado, apresenta-se<br />
mais detalhadamente no<br />
quadro número 3.<br />
A oferta de cuidados de saúde dos<br />
hospitais públicos da Região do Minho<br />
No que diz respeito ao internamento, o<br />
quadro número 4 mostra-nos como ..,,<br />
A OFERTA, A PROCURA E A UTILIZAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE<br />
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DA REGIÃO DO MINHO<br />
Os 7 hospitais da Região do Minho possuem a seguinte caracterização geral:<br />
Quadro Nº 2<br />
Caracterização eral dos hospitais úblicos da Re ião do Minho no ano de 1993<br />
muito contribui. a grande Área geográfica Classificação Propriedade Lotação<br />
das instalações* (camas)**<br />
densidade do Distrito de<br />
Braga (280 hab/km2), uma Distrito de Braga<br />
vez que a de Viana do * Hospital de São Marcos<br />
Central M<br />
Castelo (113 hab/km2) já *Hospital D. Guimarães<br />
Distrital E<br />
(H. da Senhora da Oliveira)<br />
é mais próxima da média<br />
* Hospital D.V.N. Famalicão Distrital M<br />
nacional. A sua população (H. São João de Deus)<br />
é relativamente mais jovem<br />
do que o conjunto da (H. Santa Maria Maior)<br />
* Hospital D. Barcelos<br />
Distrital M<br />
população do Continente e<br />
* Hospital D. Fafe<br />
Distrital nível 1 M<br />
(H. São José de Fafe)<br />
dos países da União Europeia,<br />
apresentando mais do Distrito de Braga<br />
M=4<br />
Total dos Hospitais<br />
5 E=1<br />
elevadas percentagens da Distrito de Viana do Castelo<br />
* Hospital D. Viana do Castelo Distrital E<br />
componente populacional<br />
(H. de Santa Luzia)<br />
adolescente (até aos 15 * Hospital D. Ponte de Lima Distrital nível 1 M<br />
anos). O seu sistema económico<br />
revelava no ano de Total dos Hospitais do Distrito 2 E=1<br />
(H. Conde de Bertiandos)<br />
de Viana do Castelo<br />
M=1<br />
1991 acentuado pendor do<br />
Total dos Hospitais<br />
7 E=2<br />
sector secundário ( 49%) da Região do Minho<br />
M=5<br />
relativamente à média do Total Zona Norte<br />
27 E=9<br />
Continente (33, 7% ), o que<br />
M=18<br />
se reflectia positivamente lotai Continente 92 E=40<br />
na sua contribuição para o<br />
PIB (Fernandes, 1994).<br />
M=52<br />
Nº habitantes<br />
da Zona de<br />
Influência oficial<br />
Nº camas/ Nº total<br />
mil hab. de efectivos<br />
de pessoal<br />
501 248723/998 256 2.01 /0.50 1286<br />
380 243296/291803 1.56/1.30 924<br />
219 114338 1.92 468<br />
198 141834 1.40 377<br />
98 85707 1.14 180<br />
1396 748195 1.87 3235<br />
368 250061 1.47 973<br />
49 93982 0.52 126<br />
417 250061 1.67 1099<br />
1813 998256 1.82 4334<br />
6710 3014100 2.23 27747<br />
23223 9356500 2.48 100478<br />
*-E= Estado;M =Misericórdia (Elementos estimados para a Região Norte e Continente) **Sem 50, berços de recém-nascidos e Psiquiatria.<br />
Fontes: Mapas estatísticos dos Hospitais da Região do Minho referentes ao ano de 1993; OEPS, 1993; DRHS, 1992.<br />
34 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 35
· ~ uadro Nº 3<br />
r(,],füi·Mim6«·'1~mtft.11t.ifti·IJ,f§t;t.r:x:r:a.t.fü:mm.rn~1t!-ti·D;t§.!fit'tltt'ltjtmttti<br />
Zona de influência oficial<br />
Quotas de mercado(%)<br />
Hospital e área geográfica Concelhos Nº Habitantes Na Região Na Zona No<br />
Minho Norte Continente<br />
Hospital de São Marcos<br />
a) Nível Distrital Amares<br />
Braga<br />
16 715<br />
141 256<br />
Póvoa de Lanhoso 21 516<br />
Terras de Bouro 9402<br />
Vieira do Minho 15 775<br />
Vila Verde 44 059<br />
Total nível Distrital 248 723 24.9 8.3 2.7<br />
b)Nível Central Todos da Região Minho 998 256 100.0 33.1 iü.7<br />
Hospital D. Guimarães Guimarães 157 589<br />
(H. da Senhora da Oliveira) Cabeceiras de Basto 16 368<br />
Celorico de Basto 21477<br />
Fafe 47 862<br />
(+Felgueiras)* (48 015)<br />
Total 243 296 24.4 8.1 2.6<br />
( C/ Felgueiras) (291 803) (9.7) (3.1)<br />
Hospital D.V.N. Famalicão V.N.Famalicão 114 338<br />
(H. de São João de Deus) Total 114 338 11.5 3.8 1.2<br />
Hospital D. Barcelos Barcelos 111 733<br />
(H. Santa Maria Maior) Esposende 30101<br />
Total 141 834 14.2 4.7 1.5<br />
Hospital D. Fafe Fafe<br />
(H. São José de Fafe) Cabeceiras de Basto<br />
47 862<br />
16368<br />
Celorico de Basto 21477<br />
Total (nível 1) 85 707 8.6 2.8 0.9<br />
Total Distrito de Braga 748195 75.0 24.8 80<br />
Hospital D. Viana do Castelo Arcos de Valdevez 26 976<br />
(H. de Santa Luzia) Caminha 16 208<br />
Melgaço 11 018<br />
Monção 21 799<br />
Paredes de Coura 10442<br />
Ponte da Barca 13143<br />
Ponte de Lima 43421<br />
Valença 14818<br />
Viana do Castelo 83 095<br />
Vila Nova de Cerveira 9144<br />
Total 250 061 25.0 8.3 2.7<br />
Hospital D. Ponte de Lima Ponte de Lima<br />
(H. Conde de Bertiandos) Arcos de Valdevez<br />
43421<br />
26 976<br />
Paredes de Coura 10442<br />
Ponte da Barca 131 43<br />
Total (nível 1) 93 982 9.4 3.1 1.0<br />
Total Dist. Viana do Castelo 250 061 25.0 8.3 2.7<br />
Total Região do Minho 998 256 100.0 33.1 10.7<br />
Total Zona Norte 3014100 100.0 32.2<br />
Total Continente 9356 500 100.0<br />
*Fora da Região do Minho<br />
Fonte: Hospitais da Região do Minho<br />
36 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
~ se distri hui a oferta de<br />
valências/ especialidades médicas<br />
na Região do Minho, e a<br />
disponibilidade das suas camas<br />
no internamento pelos vários<br />
hospitais da Região.<br />
Relativamente à área de consultas<br />
externas, apresenta-se a<br />
situação existente no quadro 5.<br />
As restantes áreas assistenciais,<br />
designadamente a da<br />
urgência e dos meios complementares<br />
de diagnóstico e terapêutica,<br />
bem como os<br />
indicadores de movimento destes<br />
sete hospitais, sintetizam-se<br />
no quadro número 6.<br />
Os recursos humanos e materiais<br />
utilizados na oferta de cuidados<br />
de saúde dos hospitais públicos<br />
da Região do Minho<br />
Nos quadros números 7, 8, 9, 10,<br />
11 e 12 sintetiza-se o conjunto<br />
recursos humanos de que dispõem<br />
os 7 hospitais da Região<br />
do Minho para a oferta de<br />
cuidados de saúde que prestam<br />
às populações que assistem,<br />
bem como os custos que praticam<br />
e outros elementos de<br />
natureza económico-financeira.<br />
Alguns indicadores da procura<br />
não satisfeita pelos hospitais<br />
públicos da Região do Minho<br />
A intensidade do uso de recursos,<br />
em determinado período,<br />
significa a sua "utilização",<br />
sendo, pois, o resultado da<br />
interacção entre a quantidade<br />
oferecida e a procurada, ou o<br />
ponto de equilíbrio onde se<br />
cruzam as curvas da oferta e<br />
da procura (Pereira, 1992).<br />
Contudo, para termos uma<br />
ideia da procura não satisfeita<br />
não basta analisar os quadros<br />
da oferta/procura e respectiva<br />
utilização, já apresentados.<br />
Para estudo<br />
•<br />
mais profundo<br />
desta questão ter-se-ia que analisar<br />
qual a demanda dos cuidados<br />
de saúde do mercado<br />
privado que eventualmente utilizariam<br />
o mercado hospitalar<br />
público se este tivesse maior<br />
oferta, entre outros factores.<br />
Embora esta questão possa<br />
estar afectada por variáveis ~<br />
1 nvestigação<br />
Quadro Nº 4<br />
••lt:Uft.11'J!t:rmfüii.fitltftii·IM·f·iu1mmrmr:w:11MJ..Sti·t·•Mrn;;m.@m·•<br />
dos hos itais úblicos da Re ião do Minho, em 1993<br />
Valência HSM HDG HDVNF HDB HDF Total HD VC HD PL Total Dist. Total<br />
Distrito Viana do Re~ i ão<br />
Braga Castelo do inho<br />
Anestesiolog ia * * * * * *<br />
Cardiologia 15 20 * 35 * 35<br />
Cirurgia Geral 64 55 57 31 35 242 78 13 91 333<br />
;;..<br />
<<br />
.....<br />
.....<br />
u<br />
C:
Investigação<br />
Internamento*<br />
Doentes saídos 17715 17270 7997 7401 2657 53040 14474 1377 15851 68891 686700<br />
Dias de internamento 131466 115525 48854 53054 30452 379351 102510 11374 113884 493235 6365400<br />
Demora média 7.4 6.7 6.1 7.2 11 .5 7.2 7.1 8.3 7.2 7.2 9.3<br />
Taxa de ocu~ação 71 .9 83.3 61.1 73.4 85.1 74.5 76.3 63.6 74.8 74.5 73.4<br />
Ur ência<br />
SAP**<br />
Nº Urgências 123149 104502 60409 75819 58464 422343 82868 34912 117480 539823 5296500<br />
Urgências ~or dia 337 286 166 208 160 1157 227 96 322 1479 14511<br />
Consulta externa**<br />
Total de Consultas 108649 65107 34462 23725 10094 242037 74928 12216 87144 329181 4366400<br />
1 ªs Consultas 36236 25038 9123 12487 3538 86422 18880 5705 24585 111007<br />
Consultas ~or dia útil 435 260 138 95 40 968 300 49 349 1317 17466<br />
Consultas ~or sala 30622 2712 4308 3954 2523 3362 2997 2036 2811 3196<br />
Salas de Observações (50)<br />
Doentes saídos 11 381 2988 344 2316 1206 18235 4065 4065 22300<br />
Dias de internamento 11 381 2428 344 2294 1206 17653 4544 4544 22197<br />
Intervenções cirúrgicas<br />
Nº lntervenções(b) 5801 5489 3340 2214 951 15581 5292 379 5671 23466 258592<br />
Nº Intervenções<br />
~/sala o~eratória 1160 1098 1113 1107 951 11 12 1058 379 945 1067<br />
Nº Partos 3463 4252 1969 1204 10888 2509 2509 13397 80486<br />
Nº análises clínicas 303353 753678 442981 147438 62784 1710234 542 144 - 542144 2252378 31199800<br />
Nº exames lmagiologia<br />
Rad iologia conv. 60326 **** 28997 26785 14493 130601 52880 3294 56174 186775 3369700<br />
Ecografia 9662 4660 3096 1608 926 <strong>1995</strong>2 2697 2697 22649 305 100<br />
TAC 1151 1151 1151 102800<br />
Outros exames 26 **** 1504 329 51 1910 4726 135 4861 6771<br />
Total de exames 71165 45873 33597 28772 15470 195237 60303 3429 63732 258969 36159700<br />
Nºexames An. Patológica 7041 2680 1275 9721 6430 6430 16151 346800<br />
Nº transfusões 3829 3844 1834 833 10340 12813 12813 25153 161200<br />
Nº tratamentos<br />
de Fisiatria 144869 95529 84908 - 15573 340879 27622 1058 28680 269559 4449600<br />
Psi uiatria<br />
Internamento<br />
Doentes saídos 341 341 176 176 517 14163<br />
Dias de internamento 29022 29022 26798 26798 55820 1001770<br />
Demora média 85.1 85.1 152.3 152.3 108.0 70.7<br />
Taxa de ocu~ação 76.5 76.5 52.4 52.4 62.7 64.7<br />
Consultas ext. (Total} 16467 16467 6161 6161 22628 367227<br />
:Jf'!1 SO,_ Recém nascidos e Psiquiatria; **Sem Psiquiatria; -***SAP-Serviço de Atendimento Permanente, em. colaboração com a ARS de Viana do Castelo;<br />
lnclutdo no tot~I de exames . . a)- Para cwdados d1ferenoados, no ano de 1991; b)-Grandes e medias intervenções<br />
Fontes: Mapas estat1st1cos dos hosp1ta1s referentes ao ano de 1993; DEPS, 1992<br />
Quadro Nº 7<br />
i -~:.,,h, :~~~;-~ Recursos Humanos dos hos itais úblicos da Re ião do Minho, no ano de 1993<br />
Area geográfica<br />
Recursos Humanos Hospitais do Distrito de Braga<br />
Hospital de São Marcos<br />
Hospital D. Guimarães<br />
Hospital D.V.N.Famalicão<br />
Hospital D. Barcelos<br />
Hospital D. Fafe<br />
Total dos Hospitais do Distrito<br />
Recursos Humanos Hospitais DistritoViana do Castelo<br />
Hospital O.Viana do Castelo<br />
Hospital O.Ponte de Lima<br />
Total dos Hospitais do Distrito<br />
Recursos Humanos dos Hospitais da Região do Minho<br />
Efectívos totais<br />
de pessoal<br />
1286<br />
924<br />
468<br />
377<br />
180<br />
3235<br />
973<br />
126<br />
1099<br />
4334<br />
Nº médicos Nº enfermeiros<br />
260 429<br />
177 330<br />
59 143<br />
60 144<br />
14 65<br />
570 1111<br />
145 326<br />
7 39<br />
152 365<br />
722 1475<br />
* Sem incluir SO e recém-nascidos Fontes: Mapas estatísticos dos hospitais referentes ao ano de 1993; DRHS, 1993<br />
Camas*<br />
/efectivo<br />
Quadro Nº 8<br />
Custos dos hos itais úblicos da R ião do Minho, em 1992 ·<br />
Custo unitário total(escudos) HSM HDG HDVNF HDB HDF HDVC HDPL Média HHDD Média HHCC<br />
Doentetratadonointernamento 159921 172891 187479 144938 167562 175901 * 165449 288455<br />
Dia de internamento 22049 26241 30951 19704 15976 22270 * 22917 32582<br />
Consulta externa 2750 1867 3766 3299 6165 4263 * 4008 • 7589<br />
Urgência 3173 4816 4921 4575 5219 9327 * 7081 11741<br />
Análise clínica 307 242 217 541 748 206 * 386 498<br />
Examede radiologia 1472 1665 1751 1211 1314 1533 * 1780 2503.<br />
Transfusão 16024 20890 17713 10281 22795 15408 * 15108 19436<br />
Refeição 309 600 373 441 385 436 * 594 638<br />
Kg roupa lavada 102 253 132 136 243 .90 * 146 98<br />
0.47<br />
0.41<br />
0.47<br />
0.53<br />
0.54<br />
0.46<br />
0.52<br />
0.39<br />
0.47<br />
0.47<br />
como o rendimento<br />
das famílias, as suas<br />
preferências, a "relação<br />
de agência" (e<br />
respectiva indução)<br />
do médico, parece<br />
que a análise das listas<br />
de espera dos hospitais<br />
também revela<br />
pelo menos parte da<br />
procura não satisfeita.<br />
Por outro lado, algumas<br />
das insuficiências<br />
dos próprios hospitais<br />
também se reflectem<br />
nos exames requisitados<br />
ao exterior.<br />
O quadro número 13<br />
procura dar elementos<br />
para melhor análise<br />
desta problemática.<br />
Principais conclusões<br />
Face aos elementos<br />
apresentados parece-<br />
-nos importante extra-<br />
Ir as seguintes<br />
conclusões:<br />
• A Região do Minho<br />
constitui cerca de<br />
10.7% do Continente<br />
de Portugal em<br />
termos populacionais,<br />
tem uma densida<br />
de populacional<br />
Camas*<br />
/médico<br />
Camas*<br />
/enfermeiro<br />
2.33 1.41<br />
2.1 5 1.15<br />
3.71 1.53<br />
3.30 1.38<br />
7.00 1.51<br />
2.63 1.35<br />
3.50 1.56<br />
7.0 1.26<br />
3.43 1.43<br />
2.80 1.37<br />
HSM- Hospital de São Marcos; HDG -Hospital Distrital de GuimarãP.s; HDVNF- Hospital Distrital de V. N. de Famalicão; HDB -Hospital Distrital de Barcelos; HDF- Hospital Distrital de Fafe; HDVC -Hospital<br />
~1stntal de V1an~ do_ Cast~lo; HDPL -Hospital D1stntal de Ponte de Lima; HHDD - Hosp1ta1s D1stnta1s do Contmente; HHCC - Hospitais Centrais do Continente<br />
- Elementos nao d1spontve1s. Fontes: IGIF, 1993 e hospitais<br />
38 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
Quadro N 9 9<br />
Financiamento dos serviços do Serviço Nacional de Saúde (SNS), 1990<br />
Tipo de Serviços Valor ( 1000 contos) %<br />
Administrações Regionais de Saúde 48337.0 46.6<br />
Hospitais (total) 144503.0 45.4<br />
Hospitais Centrais e Maternidades 88631 .0 27.9<br />
Hospitais Distritais 48170.0 15.1<br />
Hospitais Distritais de nível 1 7702.0 2.4<br />
Institutos de Oncologia (IPO) 7145.0 2.2<br />
Psiquiatria 9791.0 3.1<br />
Serviços Centrais com autonomia 5659.0 1.8<br />
Diversos 2655.0 0.9<br />
TOTAL 318090.0 100.0<br />
Fonte: DGFSS, 1992<br />
Quadro Nº 10<br />
Despesas dos serviços do SNS, a as e em dívida, no exercício de 1990<br />
Distrito de Braga 10357.0 6.8 7214.2 4.1 17571.2 5.4<br />
DistritodeVianadoCastelo 3672.7 2.4 2522.0 1.4 6194.7 1.9<br />
RegiãodoMinho 14029.7 9.2 9736.2 5.5 23765.9 7.3<br />
Região Norte 42454.2 28.0 39530.8 22.6 81985.0 25.1<br />
Continente 151720.2 100.0 175129.5 100.0 326849.7 100.0<br />
* Valor x 1000 contos Fonte: DGFSS, 1992<br />
Quadro Nº 11<br />
Des esas, pa as e em dívida, dos hos itais úblicos<br />
da Re ião do Minho, no exercício de 1990<br />
Hospitais e área geográfica Valor %na Região %na Região %no<br />
( 1000 contos) do Minho Norte Continente<br />
Hospitais do Distrito de Braga 7214.2 74.1 18.2 4.1<br />
Hospital de São Marcos 2862.2 29.4 7.2 1.6<br />
Hospital D. Guimarães 1687.3 17.3 4.3 1.0<br />
Hospital D. V.N.Famalicão 1226.5 12.6 3.1 0.7<br />
Hospital D. Barcelos 982.9 10.1 2.5 . 0.6<br />
Hospital D. Fafe 455.3 4.7 1.1 0.2<br />
Hoseitais Distrito Viana do Castelo 2522.0 25.9 6.4 1.4<br />
Hospital D. Viana do Castelo 2280.3 23.4 5.8 1.3<br />
Hospital D. Ponte de Lima 241.7 2.5 0.6 0.1<br />
Hospitais da Região do Minho 9736.2 100.0 24.6 5.5<br />
Hospitais da Região Norte 39530.8 100.0 22.6<br />
Continente 175129.5 100.0<br />
Fonte: DGFSS, 1992<br />
· Quadro Nº 12<br />
dupla da média nacional e a estrutura etária<br />
da população residente é relativamente mais<br />
jovem do que a do resto do Continente.<br />
Embora a sua população activa contribua<br />
fortemente para a riqueza nacional, parece<br />
não haver contrapartidas no domínio da<br />
saúde, uma vez que a capitação dos encargos<br />
do Serviço Nacional de Saúde na Região do<br />
Minho é das mais baixas do Continente (o<br />
Distrito de Braga é mesmo o que tem mais<br />
baixas capitações).<br />
• O estado de saúde da população da Região<br />
do Minho, expresso através dos respectivos ·<br />
indicadores, revela altos valores na natalidade<br />
e menores na mortalidade, relativamente<br />
à média continental, o que se traduz<br />
num saldo positivo para a evolução demográfica.<br />
Contudo a esperança de vida à<br />
nascença parece ainda ser inferior à média<br />
nacional, bem como o número de partos sem<br />
assistência. A atenuação das desigualdades,<br />
porém, poderá ser mais o reflexo da própria<br />
estrutura sócio-económica do que o resultado<br />
de intervenções no sector da saúde. O<br />
número de camas de todos os estabelecimentos<br />
oficiais de saúde por mil habitantes da<br />
Região do Minho (2.32) é inferior à média da<br />
Região Norte (2.83) e à média continental<br />
(3.15). Os índices resultam ainda piores no<br />
que se refere ao número de habitantes por<br />
médico da Região do Minho (754), que é<br />
inferior à média da Região Norte (534) e à<br />
média nacional (470), o que, em termos<br />
percentuais, significa 41.2% e 60.4% menos<br />
médicos, respectivamente. O mesmo se passa<br />
com o número de habitantes por enferneiro,<br />
em que há um défice de 14.9% face à Região<br />
Norte e de 22.7% relativamente ao Continente,<br />
e com o número de habitantes por """<br />
w.1rm
senvolvimento da Região Minho.<br />
Aos sete hospitais da Região do<br />
Minho, e a quem a ele tiver acesso,<br />
deixo este documento para apreciação<br />
e aprofundamento do seu conteúdo.<br />
•<br />
*Administrador hospitalar<br />
e administrador-delegado<br />
do Hospital de São Marcos (Braga)<br />
Ace>nt .. cim .. nte><br />
Augusto Mantas<br />
- Uma Homenagem indispensável<br />
Um aspecto da mesa de honra com o prof. Coriolano, o dr. Manuel Delgado o<br />
Director-Geral da Saúde, dr. João Nunes de Abreu e o Director-Geral do DEPS dr.<br />
Luis Magão<br />
'<br />
Sandoz -ao serviço da saúde<br />
e do bem estar das populações<br />
A experiência Sandoz está intimamente ligada a<br />
Edouard Constant Sandoz, que nasceu em 1853 na<br />
cidade suíça de Basileia.<br />
Depois de trabalhar para um industrial de corantes, em<br />
Paris, Edouard Sandoz regressou em 1880 à Suíça, onde<br />
conheceu o químico Alfred Kern. No dia 1 de Julho de<br />
1886 fundaram a fábrica de Químicos Kern e Sandoz.<br />
No ano seguinte já vendiam corantes na Europa,<br />
China, Japão e Estados Unidos da América.<br />
Logo após a sua fundação, a Sandoz começou a fabricar<br />
um medicamento de síntese denominado fenazona, sob<br />
licença de Hoechst. Pouco tempo depois iniciava o<br />
fabrico e a venda de vários químicos farmacêuticos,<br />
incluindo a barbitona, o primeiro dos barbitúricos.<br />
A Companhia conheceu um crescimento significativo<br />
durante os anos de guerra, entre 1914 e 1918, quando a<br />
falta de açucar levou a uma enorme procura de<br />
adoçantes sintéticos. A decisão da Sandoz, de fabricar<br />
sacarina, permitiu à empresa expandi_r-se consideravelmente.<br />
O Prof. Arthur Stoll, aluno do vencedor de Prémio<br />
Nobel Richard Willstatter, juntou-se à Sandoz em 1917,<br />
empreendendo o desenvolvimento da divisão farmacêutica.<br />
Cinco anos depois era lançado no mercado o<br />
primeiro produto original da Companhia, a ergotamina.<br />
Pouco depois do início da guerra de 1939-45, a Sandoz<br />
entrou no mercado agro-químico, especializando-se na<br />
produção de novos fungicidas.<br />
Nos anos imediatos ao pós-guerra assistiu-se ao início<br />
da denominada «revolução terapêutica», com a introdução<br />
de uma variedade de novos medicamentos. •<br />
Entretanto, em 1967, a Companhia fundia-se com a<br />
W ander, a produtora de Ovomaltine, para estabelecer<br />
nm negócio próspero no campo da nutrição.<br />
O grande sucesso das pesquisas da Sandoz verificou-se<br />
nos anos 70, com a descoberta da bromocriptina, que<br />
avançou o tratamento da doença de Parkinson e o<br />
isolamento e identificação da estrutura química da<br />
ciclosporina, em 1975, que resultou no desenvolvimento<br />
de um medicamento no campo do transplante de<br />
,<br />
orgaos.<br />
-<br />
O interesse da Sandoz na área da psiquiatria prosseguiu<br />
na década de 70, com a introdução da clozapina,<br />
que se tem mostrado bastante eficaz quando ministrada,<br />
sob vigilância médica, a doentes esquizofrénicos<br />
resistentes a outras terapêuticas.<br />
. Nos últimos a.nos, a Companhia tornou-se mais activa<br />
no campo da oncologia, com a introdução do antagonista<br />
do 5-HT3 tropiseton, do octreotido e com o<br />
desenvolvimento conjunto com a Shering Plough do<br />
molgramostim.<br />
O grande contributo da pesquisa da Sandoz para a<br />
saúde teve reconhecimento na atribuição do prémio<br />
Gallien, a mais prestigiada distinção na investigação<br />
farmacêutica na Europa, pela descoberta de:<br />
- Bromocriptina (1978).<br />
- Ciclosporina (1984)<br />
- Octreotido (1991)<br />
Sandoz internacional<br />
As áreas de negócio da Sandoz incluem produtos de<br />
nutrição, agroquímicos, sementes, construção e ambiente,<br />
para além da actividade farmacêutica. As<br />
operações internacionais são conduzidas por 200<br />
companhias filiadas, distribuídas por cinco continentes<br />
e empregando um total de 53.000 pessoas.<br />
Em 1993, as vendas totais do Grupo foram de<br />
aproximadamente 15 biliões de francos suíços (1800<br />
biliões de escudos), representando os produtos farmacêuticos<br />
49% das vendas totais. A Europa constitui o<br />
maior mercado para a Companhia, representando 42%<br />
das vendas do Grupo.<br />
Em 1993, a Sandoz gastou 1,7 biliões de francos suíços<br />
(200 biliões de escudos) em pesquisa e desenvolvimento.<br />
Na área farmacêutica, as despesas de pesquisa e<br />
desenvolvimento corresponderam a 18% das vendas.<br />
Uma das maiores preocupações da Companhia consiste<br />
na segurança e assuntos ambientais, tendo sido gastos<br />
aproximadamente 600 milhões de francos suíços (70<br />
biliões de escudos) nesta área, durante o período 1990-<br />
-1992.<br />
Sandoz em Portugal<br />
Produtos Sandoz Lda. é uma Companhia fundada em<br />
1947, sendo o 4º maior grupo farmacêutico em Portugal.<br />
Emprega 235 pessoas na actividade farmacêutica, que<br />
inclui a produção local numa fábrica em Cabo Ruivo<br />
(Lisboa), onde foram investidos cerca de 300 mil contos<br />
nos últimos três anos. Entre os seus colaboradores<br />
contam-se 31 licenciados, dos quais 13 são farmacêuticos<br />
e cinco são médicos.<br />
Cerca de 95% dos produtos farmacêuticos comercializados<br />
pela Sandoz são de prescrição médica. Os<br />
restantes 5% são vendidos sem receita, pelas farmácias,<br />
como especialidades farmacêuticas de venda livre.<br />
A companhia fornece medicamentos para utilização na<br />
transplantação de órgãos, osteoporose, hipertensão,<br />
doença de Parkinson, enxaqueca, cancro, doenças de<br />
pele, doenças psiquiátricas e de foro da neuroendocrinologia<br />
.<br />
Além das doenças tarmacêuticas, Produtos Sandoz<br />
Lda., comercializa produtos químicos para utilização<br />
nas indústrias têxtil, de curtumes, de plásticos e ainda<br />
produtos agro-químicos.<br />
Outras empresas do Grupo Sandoz Internacional com<br />
actividade em Portugal são: W ander Alimentação<br />
(Ovomaltine, Isostar), e MBT Portugal (produtos para<br />
a construção civil e ambiente).<br />
A perf orrnance da investigação Sandoz,<br />
reflecte-se<br />
todos os dias<br />
•<br />
no ·sorriso<br />
dos seus doentes.<br />
HY7~·k PIU·:1 no PAR<br />
1984: PRt:MlO PAR<br />
H>9~:. l"RÉMIO PAR<br />
Rl.ODf:J.'*, (nROMOCJUPTI ' )<br />
rol 1Mt J1 ""J ((:IC:J. l'fl•m/,, r Jtrlfn1Jda llHÍ•'lf flf 11no• ,,,.,,, M/11/titm dil f11tr f;1,<br />
f.1rmrt,!11t/1"i1,," lnrWJtfiÚI lrr.1pl-11f/01:<br />
PRODUTO SA OOZ,--lDA. - R. S. Caetano, 4 - Telef. 3f11 00 88 - 1200 USBOA<br />
Con1nrwin1'1 ,, • 500 m ore . MIMeliltfdO 1t eon tfófl• do ~ ComotCi# '14 u o tt • nmu · e pffiff 90ci 1 rooooo OOOtoO<br />
44 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>
Diz-se de Augusto Mantas<br />
como de um mestre<br />
e fala-se de "Pai Mantas"<br />
para testemunhar<br />
a sua dimensão<br />
humana.<br />
O Pai Mantas<br />
ugusto Quintanilha Mantas, 68 anos,<br />
natural da Guarda. Concluiu o ensino<br />
secundário no Liceu Pedro Nunes, em<br />
Lisboa, com a média final de 14 valores e<br />
licenciou-se em Económicas e Financeiras com a<br />
mesma classificação em 1951. Dois anos mais<br />
tarde ingressava, como chefe dos serviços administrativos,<br />
no Instituto de Assistência Nacional<br />
aos Tuberculosos e em 1956 integrava o grupo de<br />
trabalho médico-administrativo que estudou a<br />
implantação de "enfermarias-abrigo" e "consultas-dispensário",<br />
percorrendo todos os concelhos<br />
do País.<br />
Eram os primeiros anos de uma carreira notável.<br />
A partir daí foi um nunca mais acabar de<br />
actividades, cujo desempenho haveria de fazer<br />
de Augusto Mantas um dos nomes mais respeitados<br />
ao nível da gestão dos hospitais.<br />
Até 1994, e durante 24 anos consecutivos, regeu a<br />
disciplina de Contabilidade e <strong>Gestão</strong> Económico<br />
-Financeira-do curso de Administração <strong>Hospitalar</strong>.<br />
Entre os alunos que passaram pela Escola<br />
Nacional de Saúde Pública, e hoje administram a<br />
generalidade dos hospitais, diz-se de Augusto<br />
Mantas como de um mestre e fala-se de "Pai<br />
Mantas" para testemunhar a sua dimensão<br />
humana.<br />
O seu currículo não precisa de qualificações. Em<br />
1959, no âmbito do Conselho Coordenador do<br />
então Ministério da Saúde e Assistência, fez parte<br />
do grupo de quatro técnicos que procedeu ao<br />
primeiro levantamento exaustivo dos hospitais<br />
regionais do Continente, considerado relevante<br />
para o seu futuro desenvolvimento. No ano<br />
seguinte passou a integrar a Comissão de<br />
Normalização dos Hospitais para a Zona Sul,<br />
tendo instituído a introdução de sistemas simples<br />
de contas e impressos uniformes para a admissão<br />
de doentes. Em 1961 deslocou-se aos Distritos de<br />
Ponta Delgada e Angra do Heroísmo para<br />
elaborar estudos sobre os hospitais de S. Miguel<br />
e da Terceira, tendo estado também na origem da<br />
publicação de relatórios sobre os hospitais da<br />
Madeira. Ainda no mesmo ano, foi encarregado<br />
da abertura do novo Hospital Regional de Angra.<br />
Em 1962 aceitou o convite para chefiar a<br />
repartição central da Nova Direcção Geral dos<br />
Hospitais, exercendo simultaneamente as funções<br />
de ligação da Comissão de Reapetrechamento dos<br />
hospitais com os serviços hospitalares. Dois anos<br />
mais tarde foi nomeado Director dos Serviços de<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> da Direcção Geral dos Hospitais<br />
e um ano depois passou a ser Inspector<br />
Superior de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> da mesma Direcção<br />
Geral. Neste ano de 1965, em colaboração com<br />
o Chefe de Contabilidade do Hospital de Santa<br />
Maria, publicou o primeiro Plano de Contas<br />
<strong>Hospitalar</strong>, que vigoraria até 1971 e que permitiu<br />
introduzir nos hospitais uma contabilidade analítica<br />
de exploração, com apresentação de balanços,<br />
custos e resultados.<br />
Augusto Mantas pertenceu à equipa médico<br />
-administrativa que, na Direcção Geral dos<br />
Hospitais, preparou as Tabelas de Encargos<br />
<strong>Hospitalar</strong>es que serviram para os acordos com<br />
a Previdência; e integrou todos os grupos de<br />
trabalho que, pelo lado da Saúde, negociaram os<br />
acordos com a Previdência Social e ADSE, em<br />
1965, 1971, 1972, 1973, 1974 e 1975.<br />
Como bolseiro da Organização Mundial de Saúde,<br />
deslocou-se a França em 1965, tendo visitado<br />
hospitais em Paris, Dijon, Lyon, Marselha e<br />
Limoges. Em 1965 frequentou, em Paris, o curso<br />
de Organização e Métodos do Ministério de<br />
Saúde francês. Em 1966 participou no IV Congresso<br />
Nacional do Trabalho, realizado em<br />
Luanda, tendo sido relator sobre <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>.<br />
Ainda no mesmo ano, em colaboração com o<br />
INII, organizou o primeiro curso intensivo para<br />
pessoal de administração hospitalar, sobre Técnicas<br />
de Organização e Métodos, no qual participou<br />
como monitor em algumas matérias. Nos três<br />
anos imediatos, também em colaboração com o<br />
INII, organizou e frequentou os primeiros programas<br />
de sensibilização, formação e aperfeiçoamento<br />
para dirigentes, técnicos e outro pessoal<br />
dos serviços centrais do Ministério e dos hospitais.<br />
A convite da Federação <strong>Hospitalar</strong> francesa,<br />
assistiu, em 1967, às II Assises Nationales de<br />
l'Hospitalisation Publique. Dali em diante, e até<br />
que se desligou da Direcção Geral dos Hospitais,<br />
foi convidado permanente.<br />
Em 1968 instalaram-se e começaram a funcionar,<br />
equipados com computadores, os dois centros<br />
Inter-hospitalares no SUCH (na zona centro) e<br />
no Hospital de S. João (na zona norte). Augusto<br />
Mantas deslocou-se, neste mesmo ano, ao Centro<br />
<strong>Hospitalar</strong> Regional de Grenoble onde se ensaiavam<br />
trabalhos avançados de informática hospitalar,<br />
para estudo e análise da implantação do<br />
sistema.<br />
Dada a impossibilidade de se prepararem administradores<br />
hospitalares em Portugal, fez diligências<br />
junto do professor encarregado do curso de<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong> de Rennes, monitor do<br />
curso intensivo sobre Controle de <strong>Gestão</strong> no<br />
Hospital, para que alguns técnicos portugueses<br />
seguissem o curso naquela Escola. Proposto<br />
depois o assunto oficialmente, seguiram para<br />
Rennes seis alunos portugueses.<br />
Em 1969, com os professores André Primz, de<br />
Lovaina, e Coriolano Ferreira, colaborou nos<br />
estudos e trabalhos de organização e programação<br />
do curso de Administração <strong>Hospitalar</strong>, que<br />
veio a funcionar na Escola Nacional de Saúde<br />
Pública e Medicina Tropical e que antecedeu o<br />
actual Curso de Administração <strong>Hospitalar</strong>.<br />
Organizou colóquios sobre problemas de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> para dirigentes de Hospitais<br />
Regionais, em Lisboa, Porto e Coimbra, nos quais<br />
participou como monitor (1970), tendo colaborado<br />
activamente em mais de 10 cursos de contabilidade<br />
hospitalar para pessoal dos hospitais ao<br />
longo de vários anos.<br />
Já a reger a disciplina de Contabilidade e <strong>Gestão</strong><br />
Económico-Financeira do curso de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>, e em c-0laboração com alguns dos<br />
administradores recém-formados em Rennes,<br />
apresentou um projecto de carreira de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>, sendo obrigatório, para o<br />
ingresso, o diploma do curso de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>.<br />
Em Outubro de 1972 foi nomeado vogal do grupo<br />
médico-administrativo encarregado de estudar a<br />
reestruturação do Serviço de Luta Anti-Tuberculosa<br />
e, pouco depois, faria parte da Comissão<br />
Permanente de Coordenação Inter-Ministerial de<br />
Actividades de Saúde, tendo apresentado um<br />
trabalho sobre as bases para o financiamento do<br />
sistema de saúde. Simultaneamente era indicado<br />
para vogal do Conselho Consultivo da ADSE, por<br />
parte da Direcção Geral dos Hospitais.<br />
Em 1973 foi nomeado, por despacho do Ministro da<br />
Saúde e Assistência Social, assistente eventual da<br />
Escola Nacional de Saúde Pública, cadeira de ...,.<br />
46 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 4 7
-11111 Administração <strong>Hospitalar</strong>; em Junho tomava<br />
posse do cargo de Adjunto do Director-Geral dos<br />
Hospitais e em Março de 1974 era vogal do<br />
Conselho Orientador da Direcção-Geral das<br />
Construções <strong>Hospitalar</strong>es.<br />
Em 1975 fez parte do grupo de trabalho encarregado<br />
de estudar a reestruturação do Ministério;<br />
foi designado coordenador do grupo médico<br />
-administrativo que estudou a passagem dos<br />
Serviços Médico-Sociais da Previdência para a<br />
Saúde; e assumiu as funções de Director-Geral<br />
dos Hospitais, cargo que desempenhou -até ao<br />
momento em que requereu a dispensa desse<br />
exercício, em 1978. Em 1976 fez parte de todos os<br />
grupos de trabalho encarregados da reorganização<br />
da Secretaria de Estado da Saúde; em 1977<br />
passou a presidir à Comissão Coordenadora do<br />
Financiamento da Secretaria de Estado da Saúde;<br />
e, ainda no mesmo ano, deslocqu-se a Tóquio<br />
para, em representação da Direcção Geral dos<br />
Hospitais, participar no 20º Congresso da Federação<br />
Internacional dos Hospitais.<br />
Por despacho do Ministro das Obras Públicas de<br />
29 de Setembro de 1977, é nomeado vogal do<br />
Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes<br />
e, em 7 de Setembro de 1978, volta a ser<br />
solicitado para assumir as funções de Director<br />
-Geral dos Hospitais, enquanto o titular do lugar<br />
foi Secretário de Estado da Saúde, até 31 de Julho<br />
de 1979.<br />
·Em Novembro de 1979 participou na XIII Mesa<br />
Redonda do CIOMS, sobre Economia e Política<br />
da Saúde, na OMS, em Genebra, e em Dezembro<br />
foi designado pelo Governo para participar, em<br />
Paris, na OCDE, na 1ª reunião de peritos<br />
nacionais, sobre os Sistemas de Políticas de<br />
Saúde e Segurança na Doença.<br />
Deslocou-se várias vezes a França em visitas de<br />
estudo a hospitais, acompanhando os finalistas de<br />
alguns cursos de Administração <strong>Hospitalar</strong>; deu<br />
aulas da sua especialidade a vários cursos de<br />
Saúde Pública e cursos para Clínicos Gerais<br />
organizados pela ENSP; organizou colóquios<br />
para provedores, directores, clínicos e administradores,<br />
sobre <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> nas três zonas<br />
do País; participo.u em dezenas de reuniões<br />
organizadas por associações médicas e por<br />
hospitais para falar sobre matérias da sua<br />
especialidade; foi monitor e responsável pelos .<br />
cursos de reciclagem para administradores hospitalares<br />
realizados pela cadeira de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> em Braga e Portalegre; integrou<br />
cursos organizados para Engenheiros e Técnicos<br />
dos Serviços de Instalações de Hospitais; e foi<br />
responsável pela organização de jornadas e<br />
encontros sobre financiamento hospitalar, levados<br />
a efeito pela ENSP.<br />
Em Janeiro de 1980 Augusto Mantas ascendia a<br />
Director-Geral do Departamento de <strong>Gestão</strong> Financeira<br />
da Saúde, responsável pelo orçamento<br />
do SNS e pela distribuição dos recursos aos<br />
diversos serviços. E neste ano colaborou na<br />
F»erfil<br />
preparação do Plano de Contas para os Serviços<br />
de Saúde, aprovados por despacho ministerial de<br />
Novembro desse ano . . Entretanto dirigiu os<br />
estudos que conduziram ao novo sistema de<br />
financiamento dos hospitais, que vigorou desde<br />
1981 a 1986.<br />
Em 1984 foi nomeado presidente da Comissão<br />
Instaladora do Serviço de Informática da Saúde,<br />
de que pediu a exoneração em 1987, e neste mesmo<br />
ano mereceu a eleição para vogal do Conselho<br />
Directivo da ENSP, cargo para que voltou a ser<br />
eleito em 1990, mantendo-se nessa situação até<br />
meados de 1994. Na qualidade de director-geral do<br />
Departamento de <strong>Gestão</strong> Financeira da Saúde, foi<br />
responsável, de 1982 a 1986, pelo projecto de<br />
desenvolvimento de um sistema de informação<br />
para a gestão 'dos hospitais, em colaboração cob1<br />
a USAID da Embaixada dos EUA, em Lisboa.<br />
Convites para participar em conferências e<br />
reuniões de carácter internacional foram inúmeros:<br />
da Yale School Organization and Managemen<br />
t, para falar sobre a administração e<br />
financiamento, em Portugal, no forum Management<br />
and Financing of Hospitals Services, em<br />
Londres, em Dezembro de 1986; do Hospital<br />
Committee of E.C., para participar nas reuniões<br />
finais dos Exchange Programmes for Y oung<br />
Hospital Administrators, em 1987, 88 e 91; da<br />
OMS, para participar, em Março de 1988, numa<br />
missão em Maputo, destinada a preparar um<br />
plano de formação e treino em Economia . da<br />
Saúde para os PALOP, em colaboração com uma<br />
consultora do Banco Mundial.<br />
A partir da sua eleição para membro do Conselho<br />
Directivo da ENSP ficou com a área de Acção<br />
Externa e aí procurou desenvolver actividades de<br />
consultadoria para o exterior, especialmente para<br />
os PALOP, apresentando-se a escola a vários<br />
concursos internacionais, ou directamente ou em<br />
associações com firmas nacionais ou estrangeiras,<br />
tendo-lhe sido adjudicados alguns projectos<br />
que estão em curso e um que foi já concluído<br />
(Angola e Moçambique).<br />
Desde 1960 para cá publicou wiriadíssimos<br />
artigos e trabalhos em revistas nacionais e<br />
estrangeiras sobre matérias em que se especializou.<br />
Existem, também, algumas publicações de<br />
sua autoria, em edi~ões do Conselho Coordenador<br />
do Ministério dos Assuntos Sociais; da ENSP; da<br />
Direcção Geral dos Hospitais («Notas sobre o<br />
movimento e os dados económico-financeiros dos<br />
Hospitais Centrais», desde 1968 até 1975).<br />
A partir de 1980 e até 1985 foram editados e<br />
publicados relatórios anuais com as contas e<br />
dados sobre o movimento dos serviços integrados<br />
no Serviço Nacional de Saúde, sendo todos os<br />
comentários de sua autoria. Apresentou trabalhos<br />
em jornadas, encontros e reuniões internacionais,<br />
muitos em colaboração com outros<br />
docentes da Escola - Prof. Correia de Campos,<br />
Caldeira dá Silva, Fernanda Navarro, Vasco Reisi<br />
Francisco Ramos e Carlos Costa. 1<br />
- ·<br />
As vantagens de um centro<br />
de tratamento de imagem<br />
A proposta para o Hospital Egas Moniz é um centro de tratamento de<br />
imagem. Com ele pode assumir-se como um prestador de serviços nesta<br />
área, quer para outros hospitais, quer para pessoas singulares.<br />
,<br />
crescente o recurso à imagiologia<br />
Vasconcellos Guimarães *<br />
em sede hospitalar; cada<br />
vez mais se faz uso de exames<br />
auxiliares de diagnóstico de de imagem (TAC, RX, ressonância) e<br />
imagem; quer na assístência aos os diferentes planos da sua utilidade<br />
utentes, quer para investigação clí- levantam problemas técnicos e jurínica<br />
e/ou científica.<br />
dicos cuja ausência de respostas tem<br />
A informação clínica deste tipo de custos graves quer no plano social<br />
exames "vive" numa escala de cin- ,, quer no domínio da investigação<br />
clViica e/ou científica.<br />
Temos, para nós, que a propriedade<br />
destes exames é do utente e a ele<br />
dizem respeito; directa ou indirectamente<br />
pagou-os, são dele; não têm<br />
que se submeter ~ois ou três dias .<br />
depois a novos exames, porque<br />
alguém arbitrária e indevidamente<br />
se apropriou deles (o caso dos<br />
utentes atendidos no banco e posteriormente<br />
transferidos para outra<br />
unidade hospitalar onde vão repetir<br />
esses exames). -:.<br />
Há, no entanto, que salvaguardar a<br />
necessidade e o interesse quer no<br />
plano clínico, quer no científico,<br />
quer ainda no jurídico, em o Hospital<br />
ficar com essas informações.<br />
Então, o problema está em saber<br />
como.<br />
Actualmente dispomos de uma tecnologia<br />
designada Microfilmagem<br />
com Modelação Electrónica de Contraste.<br />
Não tem nada que ver com o<br />
sistema convencional que apenas<br />
opera a redução da película para<br />
outro suporte.<br />
1J11t-<br />
zentos muito diversificada; tal facto<br />
requer uma especialíssima atenção<br />
na gestão desta informação, particularmente<br />
quando se opera a mudança<br />
de suporte.<br />
A necessidade e utilidade desta<br />
informação residir no processo clínico<br />
é, supomos, inquestionável; o seu<br />
uso para fins curriculares, apoio na<br />
fomação pós-graduada, investigação<br />
clínica e/ou científica, ou em Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>, reclamam<br />
acesso fácil, seguro, versatilidade,<br />
sem o que a sua utilidade neste<br />
domínio se perde; por outro lado,<br />
há que definir clara e inequivocamente<br />
questões prévias como a<br />
titularidade da propriedade destes<br />
exames.<br />
Os exames auxiliares de diagóstico<br />
Boehringer<br />
lngelheim<br />
A existência de um centro de tratamento<br />
de imagem é condição sine qua<br />
non para dar resposta às necessidades<br />
do Hospital de Egas Moniz neste<br />
domínio. Com ele, o Hospital pode<br />
assumir-se como um prestador de<br />
serviços nesta área, quer para outros<br />
hospitais quer para pessoas singulares,<br />
rentabilizando deste modo o<br />
inv'estimento e tornando-o uma fonte<br />
de receita para a instituição.<br />
HOSPITAL<br />
DIVISION<br />
Val#e through innO'Uation<br />
48 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 49
No encontro do Ribatejo, do Alentejo e da Beira Baixa, Abrantes conta desde 1985 com uma moderna<br />
unidade hospitalar, f actor da sua afirmação urbana que se espera reforçada com a entrada em<br />
funcionamento em <strong>1995</strong> do troço do I.P.6 ligando-o a Castelo Branco e à auto-estrada do Norte. No centro<br />
do país o Hospital Doutor Manoel Constâncio procura desde 1985 os rumos da qualidade.<br />
"11111 O sistema EM C (Modelação Electrónica<br />
do Contraste) permite cruzar<br />
tempos de exposição e modelação<br />
electrónica diferentes, em dezenas<br />
de hipóteses; daqui resulta ser possível<br />
obter ganhos de informação, isto<br />
é, a película no negatoscópio oferece<br />
-nos um determinado nível de informação<br />
que, tratada com estas<br />
tecnologias e observada em equipamento<br />
apropriado, é possível ficar<br />
com essa informação num suporte<br />
fílmico de 35 mm em sais de prata.<br />
Uma vez transferida a informação de<br />
um TAC para um fotograma de<br />
35mm, que possibilidades temos?<br />
a) desde logo e ao mesmo tempo que<br />
se pode visualizar a imagem no<br />
leitor, o médico pode ampliar qualquer<br />
pormenor que qmser;<br />
b) tirar cópias rapidamente a um<br />
custo aceitável constitui uma possinilidade<br />
real que significa versatilidade<br />
e segurança; versatilidade,<br />
porque o mesmo exame pode estar<br />
em vários sítios ao mesmo tempo;<br />
segurança, porque a matriz permanece<br />
em local adequado;<br />
e) introduzir imagem de uma angiografia<br />
cerebral num CD e obter tanta<br />
informação quanta aquela que está<br />
na película original significa que o<br />
médico pode, em casa, na sua TV, ter<br />
disponíveis milhares de exames; obviamente<br />
que na hipótese de utilizar<br />
um PC permite maior definição e um<br />
número de imagens disponível on<br />
line significativamente superior,<br />
além, naturalmente, de software para<br />
gestão de imagem.<br />
d) do fotograma de 35mm podemos<br />
sempre voltar à película em tamanho<br />
original, o que constitui um factor<br />
importante na situação real do potencial<br />
utilizador não dispor de leitor<br />
adequado (caso dos tribunais).<br />
Com esta primeira mudança de<br />
suporte atingimos dois objectivos<br />
essenciais:<br />
- dar ao utente os seus exames;<br />
- garantir que o Hospital fica com<br />
essa informação clínica em condições<br />
de armazenamento óptimas e<br />
susceptíveis de utilização para efeitos<br />
de assistência ao utente a que<br />
dizem respeito.<br />
Mas porque o valor da informação<br />
clínica não se esgota aqui .- ela<br />
assume particular preponderância<br />
no domínio da investigação clínica<br />
e científica e no âmbito das funções<br />
pós-graduadas - a nossa proposta é<br />
passar do fotograma de 35 mm (onde<br />
se foi obter ganho de informação)<br />
para CD através de uma central de<br />
digitalização adequada para o efeito.<br />
Trata-se de uma metodologia em que<br />
a digitalização não se opera dire,cta-<br />
mente da película para CD - como foi<br />
experimentado nos EUA - mas utilizando<br />
de permeio a microfilmagem<br />
com EMC. A diferença entre estas<br />
duas metodologias é significativa:<br />
numa, há percas de informação,<br />
noutra, há num primeiro momento<br />
ganho de informação que no CD se<br />
conserva.<br />
De facto, o que é que vamos conseguir<br />
com o CD?<br />
Cada médico poderá ter toda a<br />
informação clínica de imagem que<br />
quiser arrumada por patologias com<br />
a possibilidade de numa simples<br />
televisão ou num PC com drive para<br />
CD ter acesso àquelas imagens.<br />
A existência de um CTI - Centro de<br />
Tratamento de Imagem, como aquele<br />
que configuramos, é condição sine<br />
qua non para dar resposta às necessidades<br />
do Hospital de Egas Moniz<br />
neste domínio.<br />
Por outro lado, com este CTI o<br />
Hospital pode assumir-se como um<br />
prestador de serviços nesta área,<br />
quer para outros hospitais quer para<br />
pessoas singulares, rentabilizando<br />
deste modo o investimento e tornando-o<br />
uma fonte de receita para a<br />
instituição. 1<br />
* Administrador hospitalar<br />
Hospital Egas Moniz<br />
berto em Outubro<br />
de 1985, o Hospital<br />
Distrital de Abrantes<br />
encontra-se no<br />
décimo ano de funcionamento.<br />
Inserido numa rede<br />
hospitalar de malha<br />
apertada no Distrito de<br />
Santarém, articula-se recentemente<br />
na Unidade<br />
de Saúde Norte do Distrito<br />
com os hospitais de<br />
Tomar e Torres Novas, a<br />
cerca de 30 kms de distância<br />
de cada um deles.<br />
Geograficamente situado<br />
no ponto de encontro do<br />
Ribatejo, da Beira Baixa e<br />
ospita<br />
Impacto na economia e na sociedade a nível regional<br />
• Volume de emprego .......... ....................... .. 550 profissionais<br />
• Volume de profissionais com<br />
formação superior .... .... .............................. ... 55%<br />
•Rendimento mensal distri buído<br />
às famílias (remunerações) ............ ......... 120 000 contos<br />
• Rendimento anual distribuído<br />
às famílias e empresas<br />
a nível regional .......................... .................... 1 500 000 contos<br />
• Esforço de recrutamento até<br />
ao ano 2000 .......... ........... .......... .. ................. + 60 profissionais<br />
• Objectivo de crescimento<br />
da actividade até ao ano 2000 .... .. .. + 25%<br />
• Despesas de exploração<br />
em 1994 (previsões) ......... .......................... 2 300 000 contos<br />
rantes<br />
do Alentejo, retira dessa<br />
localização uma tendência<br />
estrutural a que as<br />
populações abrangidas<br />
no seu espaço-cliente se<br />
distanciem sigificativamente<br />
da definição administrativa<br />
da sua área de<br />
influência, fenómeno que<br />
não tem favorecido a<br />
estabilidade necessária a<br />
um melhor planeamento<br />
estratégico.<br />
Nas condicionantes anteriormente<br />
referidas fez-se<br />
assentar o Conselho de<br />
Administração, desde a<br />
sua abertura, numa ....<br />
50 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 51
Hospital ahert«><br />
VAL~NCIAS 1 ESPECIALIDADES<br />
MÉDICAS<br />
- INTERNAMENTO:<br />
MEDICINA E ESPECIAL1L>ADES MÉDICAS<br />
• MEDICINA INTERNA ... ...<br />
• CARDIOLOGIA<br />
• GASTROENTEROLOGIA<br />
CIRURGIA E ESPECIALIDADES CIRÚRGICAS<br />
• CIRURGIA GERAL<br />
•OTORRINO<br />
•UROLOGIA<br />
• OFTALMOLOGIA<br />
• OBSTETRiCIA I GINECOLOGIA<br />
• PEDIATRIA/ NEONATOLOGIA<br />
•ORTOPEDIA<br />
Esquema de serviços e lotações<br />
MEIOS COMPLEMENTARES DE<br />
DIAGNOSTICO E TERAP~UTICA<br />
. • PATOLOGIA CLÍNICA (ANÁLISES)<br />
• RADIOLOGIA CONVENCIONAL<br />
•ECOGRAFIA<br />
• ECOCARDIOGRAFIA<br />
• ENDOSCOPIA DIGESTIVA I UROLÓGICA I<br />
I GINECOLÓGICA<br />
• ELECTROCARDIOGRAFIA<br />
• AUDIOMETRIA<br />
• IMUNO-HEMOTERAPIA (S. SANGUE)<br />
• LITOTRÍCIA ULTRASSÓNICA POR VIA<br />
ENDOSCÓPICA<br />
• MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO<br />
• ANESTESIOLOGIA<br />
LOTAÇÃO TOTAL 359 CAMAS<br />
O grupo dg, Carta <strong>Hospitalar</strong> pro.cedeu em 1987 à -revisão do Programa de<br />
Serviço e Lotações que presidiu à construção do hospital, tendo a lotação<br />
oficial passado de 359 para 291 camas assim distribuídas:<br />
MElllClllA E ESPEC. MmtCAS CIRUll&IA I ESPEC. CIROR&ICAS OBSTETRÍ- 6111ECOLO- llE{)TALO- U.C.INTER-<br />
MEDClllA &ASTROEI CARlllOLO- CIRUR61A OTORRINO UROL061A<br />
OFTAU40- ORTOPEDIA CIA &IA PEDIATRIA &IA MlDIOS<br />
lllTERllA TEROL061A &IA 6ERAL L061A<br />
48 5 11 48 16 13 13 38 35 19 35 8 3<br />
Lotação construída e equipada ....................... 359 camas<br />
Lotação oficial ................................................. 291 "<br />
Lota cão activa (1994) ....................................... 210 "<br />
O esquema de serviços e lotações corresponde à diferenciação de um hospital<br />
de nível 2 em que as valências básicas estão dimensionadas para servir 90 mil<br />
habitantes e as intermédias para cerca de 160 mil habitantes.<br />
~ estratégia de gestão orientada no<br />
sentido duma cultura da qualidade<br />
global, indispensável à viabilização<br />
do hospital e orientada segundo os<br />
vectores básicos:<br />
-Afirmação da qualidade técnica<br />
e da eficácia dos serviços;<br />
- Satisfação dos utentes<br />
e dos profissionais;<br />
- Produção de serviços<br />
a custos socialmente aceitáveis;<br />
Através duma gestão participada por<br />
objectivos conseguiu-se o envolvimento<br />
dos serviços na realização<br />
das metas do hospital. Dispõe-se de<br />
um sistema de informação que permite<br />
uma avaliação responsável dos<br />
resultados e um planeamento sustentado<br />
dos serviços.<br />
A satisfação dos utentes constitui<br />
outro vector fundamental da gestão<br />
no H.D. Abrantes com tradução na<br />
criação do Gabinete de Acolhimento<br />
e Atendimpnto na Urgência, introdução<br />
da Ementa Múltipla de Refeições,<br />
na facultação do acompanhamento<br />
dos · pais das crianças<br />
internadas, na assistência do marido<br />
ao parto, na disposição de telefones<br />
móveis para os doentes acamados, na<br />
personalização dos cuidados médicos<br />
e de enfermagem, entre outros.<br />
A pesquisa da opinião dos doentes<br />
associada à exploração dos elementos<br />
fornecidos pelo Gabinete do<br />
Utente vem constituindo um instrumento<br />
importante na avaliação da<br />
satisfação e da imagem da instituição<br />
junto do público, com relevância<br />
na orientação do esforço de gestão.<br />
No domínio assistencial a criação da<br />
Unidade de Recobro no Bloco Operatório,<br />
a introdução da Consulta de<br />
Pré-Anestesiologia, o desenvolvimento<br />
da tecnologia laboratorial,<br />
da ecocardiografia na área das doenças<br />
cardiológicas e da campimetria<br />
na área oftalmológica, constituem ·<br />
passos recentes no caminho da eficá-<br />
eia, da qualidade e da humanização,<br />
evitando penosas deslocações a centros<br />
distantes.<br />
Em 1994 foram iniciadas as técnicas<br />
de artroscopia em Cirurgia Ortopédica<br />
e está a ser feita a formação<br />
externa de cirurgiões e enfermeiros<br />
para a introdução a curto prazo da<br />
Cirurgia Laparoscópica (por via<br />
endoscóp,ica).<br />
Neste domínio importa ainda referir<br />
a diferenciação decorrente da função<br />
de Hospital de Apoio Peri-Natal no<br />
ambito do Plano de Saúde Materna e<br />
Infantil, com o equipamento e entrada<br />
em actividade da Unidade de<br />
Cuidados Intermédios de Neonatologia.<br />
No domínio da modernização administrativa<br />
foi feito um esforço considerável<br />
na informatização em rede<br />
da gestão de doentes bem como na<br />
dotação de equipamentos informáticos<br />
de diversas áreas do hospital.<br />
Articulando a pesquisa e a acção o<br />
H.D.A. assumiu-se como campo de<br />
experiências no domínio da promoção<br />
da adequação de utilização do<br />
Internamento, do planeamento de<br />
Altas, da avaliação da produção<br />
hospitalar através dos grupos de<br />
diagnóstico homogéneos, da implementação<br />
dum novo modelo de gestão<br />
de pessoal de enfermagem, desenvolvendo<br />
igualmente um grande<br />
esforço de apoio técnico a diversos<br />
grupos de trabalho de organismos<br />
centrais e facultando campos de<br />
estágio e visitas a milhares de<br />
profissionais de saúde de todo o país.<br />
A determinação no serviço às populações<br />
levou à ultrapassagem dos<br />
muros do hospital, deslocando médicos<br />
pediatras aos Centros de Saúde, e<br />
num esforço pioneiro promove desde<br />
1990, em conjunto com a A.R.S. de<br />
Santarém, esforços de melhoria do<br />
atendimento nos Serviços de Urgência.<br />
Recrutamento<br />
e formação de pessoal<br />
Desde a instalação que tem sido<br />
seguida uma política de recrutamento<br />
faseado e integrado dos diversos<br />
grupos sócioprofissionais. Melhorou<br />
fortemente a atracção do hospital<br />
sobre diversos sectores técnicos estratégicos,<br />
nomeadamente médicos e<br />
enfermeiros, a par de uma maior<br />
lndicêl_dores da actividade assistencial 1986-1994<br />
Serviços<br />
1986 1990 1991 1992 1993 1994<br />
'<br />
índiCadores Actividade<br />
LOTAÇÃO (ACTIVA) 171 201 201 201 201 201<br />
1<br />
N DOENTES SAiDOS 3944 6761 7227 7556 7483 7705<br />
T<br />
E DIAS INTERNAMENTO 47618 56301 55642 56611 58973 58044<br />
R<br />
N<br />
%OCUPAÇÃO 76.29 76.74 75.84 76.95 80.38 79.12<br />
A DEMORA MÉDIA 12.07 8.33 7.7 7.49 7.88 7.53<br />
M<br />
E EXIST~NCIA MÉDIA 130.46 154.25 152.44 154.6 161 .5 159<br />
N<br />
'<br />
T ÍNDICE CASE MIX 1 • 0.99 1.003 0.993 0.998 (0.99º5) *<br />
o VALOR PRODUÇÃO AJUS-<br />
TADAINTERNAMENTO<br />
I •:<br />
3944 6693 7252 7500 7500 7667<br />
URG~NCIA 30357 42948 ' 46678 43132 52101 51010<br />
CONSULTAS EXTERNAS 29958 45889 45961 46845 47159 46400<br />
INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS 1093 2375 2389 2565 2737 2731<br />
ANÁLISES CLÍNICAS 121137 233408 254060 315371 358412 380000 *<br />
EXAMES ESPECIAIS 619 2885 2558 3939 4686 4700 *<br />
IMAGIOLOGIA (EXAMES) 22157 42883 43508 46877 51147 50000 *<br />
TRANSFUSÕES 1238 2585 2268 2970 3233 4000 *<br />
TRATAMENTOS REABILITAÇÃO 27363 48356 52966 46973 50731 62000 *<br />
PRODUÇÃO GLOBAL AJUSTADA ( 1 5394 8810 9480 9642 9906 10043<br />
..<br />
*<br />
iNDICE DE ACTIVIDADE 100 164 175 178 . 184 187<br />
(l)Produção Global Ajustada - com base na fórmula de ajustamento do IGIFSS =Doentes Saídos Ajustados<br />
(I. C.Mix) + (Urgências/34. 7) + (Consultas/51.2) ; * Valores Provisórios<br />
O desenvolvimento da actividade e a melhoria da utilização constituem<br />
resultados duma dinâmica de melhoria do acesso e da eficiência técnica do<br />
hospital;<br />
As dificuldades de recrutamento de pessoal médico e de enfermagem têm<br />
desacelerado os ritmos de crescimento nos últimos três anos.<br />
...<br />
Evolução do Ambulatório 1981/1994 ·<br />
Consultas externas e urgência (volume de atendimentos)<br />
riliii. Urgência - -<br />
50000<br />
f--cons. Externa<br />
40000<br />
30000<br />
20000<br />
10000<br />
o .<br />
O acesso às consultas apresenta-se muito superior à mé - nacional dos<br />
hospitais distritais. Desde 1986 que o volume de consultas ultrapassa o das<br />
urgências, situação invulgar no panorama hospitalar português. Nos últimos<br />
dois anos a Urgência volta a acusar os efeitos das deficiências na ~articulação<br />
dos cuidados primários e hospitalares.<br />
-<br />
estabilização dos diversos sectorer<br />
de pessoal; persistem neste momento<br />
dificuldades de recrutamento nas<br />
áreas médicas da anestesiologia,<br />
radiologia, anatomia patológica; o<br />
recrutamento de pessoal de enfermagem<br />
encontra-se bloqueado por indisponibilidade<br />
de lugares de ingresso<br />
inersnte à vigencia de um quadro<br />
com 7 anos; este facto constitui<br />
conjuntamente com as dificuldades<br />
de anestesiologia o maior factor de<br />
estrangulamento funcional do hospital<br />
e aguarda a alteração do quadro<br />
já discutido superiormente para ser<br />
ultrapassado.<br />
O desenvolvimento das concessões<br />
nas áreas dos serviços hoteleiros tem<br />
permitido a es Jização do efectivo<br />
médio anual e desacelerar o crescimento<br />
da despesa com pessoal cuja<br />
taxa se apresenta inferior ao nível da<br />
inflação em 1993 e 1994.<br />
O Departamento de Formação, na<br />
dependência da Administração do<br />
Pessoal, integra a formação dos<br />
diversos sectores desenvolvendo a<br />
par dos programas de formação<br />
previstos nos planos de acção, todos<br />
os programas de acolhimento e<br />
integração de pessoal os quais se<br />
vêm revelando factores importantes<br />
da difusão da " cultura" do<br />
H.D .Abrantes.<br />
~ .,. . . . .... ·::.: .·:-:·:·:-:-:-:-:-..· .· .·:- .-:-:·:·:·:·:·:-:-:-<br />
Diária/lntern. 13695 18651 22089 21693<br />
Doente saído<br />
internamento 114080 143614 165449 170962<br />
Consulta 2405 3114 3338 4025<br />
Urgência 5322 6475 8361 7753<br />
Refeição 371 430 494 452<br />
Kg roupa tratada 117 121 129 150<br />
Análise . 322 355 282 316<br />
Exame radiológico 916 1240 1380 11279<br />
Tratamento reabil. 377 390 479 604<br />
lmuno-hemoterapia<br />
(Transfusão) - 13318 16682 15192 12817<br />
* Valores em escudos<br />
Apesar de funcionar ainda apenas a<br />
70% da sua capacidade de produção<br />
os custos unitários situam-se abaixo<br />
dos valores médios nacionais para os<br />
hospitais distritais.<br />
Um financiamento baseado na produção<br />
por G.D.H. , cujo "índice de<br />
case mix" de doentes saídos do<br />
Internamento se tem situado em<br />
torno de 0.995 nos últimos três anos,<br />
cobrindo claramente os custos do<br />
Internamento nos últimos anos.<br />
. ..,.<br />
52 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 53
Ho<br />
Um trabalho coeso duma equipa de gestão integrando médicos,<br />
enfermeiros, engenheiros e administradores revelou-se f actor fundamental<br />
duma dinâmica no rumo da qualidade e tivemos a felicidade<br />
dessa situação acontecer neste hospital ao longo dos 1 O anos, reconhece<br />
Silvino Maia Alcaravela, administrador-delegado do Hospital Distrital<br />
de Abrantes.<br />
Trabalho coeso<br />
ao longo de 1 O. anos<br />
ESTAO HOSPITALAR -<br />
Em que se tem traduzido,<br />
eni termos de resultados e<br />
do ponto de vista da gestão,<br />
a estratégia rumo à qualidade?<br />
SILVINO ALCARAVELA<br />
- A estratégia de promoção<br />
d!.. qualidade impunha-se<br />
naturalmente perante a instalação<br />
e desenvolvimento<br />
de um novo hospital e tem<br />
tradução evidente em diversos<br />
indicadores. Ao nível da<br />
capacidade técnica e da<br />
disponibilidade de serviços<br />
verifica-se um salto qualitativo<br />
e quantitativo muito<br />
grande, quer em termos de<br />
recrutamento de pessoal, quer da<br />
tecnologia instalada, permitindo sustentar<br />
melhorias da qualidade assistencial.<br />
Além destas melhorias qualitativas<br />
A opinião dos utentes do Hospital de Abrantes<br />
:~-!~-~-' __.;______--==---; "-'!<br />
r_\j_, ··i_. ~- -'_§§JJ_flMf_m..._JI<br />
54 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
'frutas tlê 1j.mva1êueiâ<br />
tia ínfuê~ãô Hm;pitaiãt<br />
1~gg=-1994<br />
1988 1990 1992 1993 1994<br />
foi possível providenciar aumentos<br />
significativos no acesso aos cuidados<br />
através da disponibilidade de serviços<br />
e nas melhorias de eficiência<br />
entretanto verificadas.<br />
Em 1993 o H.D.A., providenciava 422<br />
consultas/mil habitantes, 437 atendimentos<br />
urgentes/1000 hab. e 68 internamentos/1000<br />
hab., muito superiores<br />
a taxas de frequência que<br />
caracterizam os hospitais distritais.<br />
Decorrendo do aumento da disponibilidade<br />
e da aceitabilidade do hospital<br />
verifica-se o alargamento do<br />
seu espaço-cliente e um crescimento<br />
muito acentuado da atracção sobre<br />
concelhos exteriores à sua área de<br />
influência tradicional.<br />
Evolui de modo interessante a utilização<br />
adequada das camas activas,<br />
aumentando a rotação de camas,<br />
apesar de grande ausência de condições<br />
para a continuidade dos cuidados<br />
bem identificados nos relatórios<br />
de Planeamento de Altas.<br />
A partir de 1990 os custos<br />
unitários do hospital tendem<br />
a situar-se abaixo do nível<br />
médio dos hospitais distritais,<br />
e isto apesar de um<br />
nível de activação inferior a<br />
70% da capacidade teórica<br />
da produção de serviços.<br />
Os indicadores do balanço<br />
social traduzem a existência<br />
dum clima social favorável à<br />
satisfação dos profissionais e<br />
à realização dos objectivos<br />
~:. instituição até ªº presen-<br />
r<br />
1 ~<br />
1 •<br />
! ~<br />
t~ ~ -<br />
Novo Sistewna hn~,grado de lnform{tçáo para a <strong>Gestão</strong><br />
Elementos duma Estratégia de Promoção<br />
da Qualidade e da Eflooda<br />
~~ · I<br />
@<br />
1111\. 1<br />
=e~<br />
lll!itiê<br />
~<br />
il 1<br />
1 . -~ 1<br />
GH - Da sua experiência de<br />
instalação de um novo hospital e<br />
do desenvolvimento da sua gestão<br />
ao longo de 10 anos quer apontar<br />
alguns aspecto8' mais relevantes<br />
para o processo de gestão?<br />
SA - A compreensão que reputamos<br />
indispensável da complexidade do<br />
sistema sóciotécnico do hospital,<br />
revelou-se da maior importância.<br />
Trata-se de um processo que exige<br />
algum tempo de vivência intensa da<br />
vida da instituição hospitalar e sem o<br />
qual surge fortemente comprometida<br />
a capacidade de aliviar tensões,<br />
neutralizar conflitos, que condiconam<br />
fortemente a eficácia da gestão.<br />
Um trabalho coeso duma equipa de<br />
gestão integrando médicos, enfermeiros,<br />
engenheiros e administradores<br />
revelou-se factor fundamental duma<br />
dinâmica no rumo da qualidade e<br />
tivemos a felicidade dessa situação<br />
acontecer neste hospital ao longo<br />
dos 10 anos . _<br />
A conjugação da pesquisa e da acção<br />
revelou-se igualmente estratégica à<br />
sustentação do processo de gestão,<br />
contribuindo para a sedimentação<br />
duma cultura hospitalar orientada<br />
por valores da qualidade.<br />
A participação em diversos projectos<br />
relativos à utilização do Internamento,<br />
ao Planeamento de Altas, à gestão<br />
do pessoal de enfermagem, à gestão<br />
de materjais .e à garantia da qualidade<br />
vem-se revelando, para além de<br />
instrumentos de animação do hospital,<br />
interessantes ferramentas da<br />
gestão. Considero igualmente estratégico<br />
um permanente e profundo<br />
sentido de diálogo com os diversos<br />
actores do hospital. Uma gestão<br />
participada por objectivos é indispensável<br />
à superação das tendências<br />
balcanizadoras dos diversos subsistemas<br />
da àrea assistencial.<br />
A concepção e aplicação dum sistema<br />
de informação para a gestão<br />
dotado de indicadores pertinentes e<br />
socialmente reconhecidos pelos responsáveis<br />
dos serviços é também, · do<br />
meu ponto de vista, indispensável ao<br />
diálogo eficaz no seio da instituição<br />
hospitalar.<br />
Finalmente desejaria salientar que<br />
um processo de construção e mudança<br />
duma cultura institucional assenta<br />
numa entusiástica adesão da<br />
equipa de gestão aos valores da<br />
qualidade e do respeito pelos utentes<br />
dos serviços. Assenta ainda e é bom<br />
que se diga numa participação empenhada<br />
e orgulhosa de muitos profissionais<br />
nos diversos níveis do sistema.<br />
GH - E que resultados têm sido<br />
obtidos? Os doentes manifestam<br />
-se satisfeitos?<br />
SA - A procura dessa avaliação<br />
traduz-se na elaboração de inquéritos<br />
sistemáticos de pesquisa de opini.ão<br />
aos doentes internados, no<br />
tratamento das reclamações, críticas,<br />
sugestões e elogios que nos<br />
chegam através do Gabinete do 1J11i-<br />
Honraram-nos com a sua preferência, confiando-nos a gestão<br />
dos seus serviços de alimentação as Unidades <strong>Hospitalar</strong>es:<br />
HOSP. DIST. DE ABRANTES • HOSP. DIST. DE BRAGANÇA • HOSP. DIST. DE CASTELO BRANCO • HOSP. DIST. DO FUNDÃO .. • HOSP.<br />
DIST. DE MIRANQELA • HOSP. DIST. SOUSA MARTINS(GUARDA) ~ HOSP. DIST. DE TORRES VEDRAS • HOSP. GERAL DA COL. PORT<br />
DO BRASIL(_COVOES) • HOSP. MIGtIEL BOMBARDA • tJ:OSP. PEDIAT. DE COIMBRA • HOSP. REINALDO DOS SANTOS(V.F DE XIRA) ~<br />
HOSP. S. JOAO DE DEUS(FAMALICAO) • HOSP. S. JOSE DE FAFE • HOSP. DO STO. ESPÍRITO DE ANGRA DO HEROÍSMO(AÇORES) •<br />
HOSP. DE STA LUZIA(ELVAS) • HOSP. DE VIALONGA • MATERN. ALFREDO DA COSTA(LISBOA) • MAIBRN. JÚLIO DINIS(PORTO)<br />
NUTRIRES T, C OMPANHIA POR~GUESA DE RESTAURAÇÃO COLECTIVA, S. A<br />
SEDE: R. Francisco Tomás da Costa, 2-2 2 Esq. 1600 LISBOA - •
aberto<br />
EFICÁCIA DE GESTÃO - Desvios entre os objectivos e os níveis de actividade realizados em 1994<br />
respostas que correspondam ao que<br />
temos chamado os desafios de conjuntura<br />
até ao final do século.<br />
Em primeiro lugar continuar a desenvolver<br />
a nossa cultura de qualidade,<br />
base indispensável à afirmação<br />
do hospital; em segundo, promover a<br />
inovação tecnológica a par do recrutamento<br />
do pessoal que permita<br />
manter e desenvolver a credibilidade<br />
do hospital. A introdução da<br />
cirurgia laparoscópica, a continuidade<br />
da artroscopia, as aplicações de<br />
laser nas especialidades cirúrgicas<br />
constituem algumas das inoyações<br />
capazes de sustentar o desenvolvimento<br />
do hospital.<br />
- Em terceiro lugar há que diversificar<br />
e desenvolver a oferta de serviços<br />
quer no domínio da hospitalização<br />
privada, quer das unidades de internamento<br />
de mais longa duração , a<br />
que o Ministério da Saúde tem<br />
chamado "hospitéis" e que correspondem<br />
aos desafios que o envelhecimento<br />
tero posto cada vez mais.<br />
No domínio das novas tecnologias de<br />
diagnóstico e tratamento considera<br />
-se da maior importância um esforço<br />
de equipamento nas áreas da tomo<br />
1 ernamento AmbulatóNO Meios Complementares Diagnóstico e Terapêutíca Serv.<br />
70 .<br />
Hoteleiros<br />
j<br />
• Doentes Saídos Ajustados pelo Índice do Case Mix.<br />
-<br />
56 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
60 · A linha 100 corresponde aos índices de actividade realizados em 1993<br />
-41111 no futuro, continuar-se-á a desenvolver<br />
a concessão de serviços de<br />
apoio geral encontrando-se actualmente<br />
concessionados, os serviços de<br />
alimentação, bar, bazar, Lavandaria<br />
e limpezas gerais.<br />
GH - E como perspectiva a<br />
integração do hospital na rede<br />
hospitalar distrital face à construção<br />
de 2 novos hospitais, de<br />
Tomar e Torres Novas?<br />
SA - O Hospital de Abrantes integra<br />
com os de Torres Novas e Tomar a<br />
Unidade de Saúde Norte do Ribatejo,<br />
com uma população abrangida da<br />
ordem dos 260.000 habitantes, e é<br />
nesse espaço integrado que vai oferecer<br />
os seus serviços.<br />
O Conselho de Administração do Hospital Distrital de Abrantes<br />
A construção de dois novos hospitais<br />
não se traduzindo num aumento<br />
significativo das lotações actuais<br />
r ão deixára contudo de tornar mais<br />
EVOLUÇÃO DAS COMPONENTES DA DESPESA DE EXPLORAÇÃO - 1988/94 '<br />
o<br />
ANOS<br />
1938 19 9 19 o 1991 19 l 1993 1994<br />
- -<br />
f OA\ CC. E ER\'l fE~Ei ROS 61639 84634 125290 192396 249781 280781 310Wl<br />
i.b.-Co\!MfOS-\0\1lS Fh. \OS 55160 74018 92483 96316 140005 160000<br />
• )~fiLA 00 E ~h 1EtjAA 00 56094 79100 92483 96316 91241 92000<br />
RECEITAS PRÓPRIAS DA EXPLORAÇÃO 1986 - 1993<br />
~--A;;;;;- 1m 1981 198s !' 1989 1990 1m 1992 1993<br />
1<br />
; ~ditad_o~ ~ 1 l<br />
. 1-· ··--···-· ..........-....·-·..----. ·-·............ ..._............ ..... -r·--·--r-........_.., .<br />
;;~:~-t::- -~- -~- -~::;~~- -;:~ :~-~:~t~~:~f ~-1<br />
f<br />
'Nível ·····-·-· de ·-·--·----·-····~~··-· Cobertura cf<br />
i<br />
--·-····---·· --------- ----·---·-·..- ...·--·----·-·-·--·-·---+-----··----· 1 ....._______<br />
,Dei "&p!oraçio pot 8.9'W. 10.4" 10.5% 10.5% 10,95%, 12.5% li 1l6% 1 16% 1<br />
1<br />
Reeeitas Ptõprias _<br />
Evolução da taxa de cobertura da despesa de exploração através de receitas próprias<br />
a Despesa de Exploração<br />
2000000 •Receitas Próprias<br />
da Explqração<br />
1500XJO ,._ _<br />
500000 .- ·<br />
__ _<br />
"!<br />
.<br />
1986 1987 1988 l 1989 1990 1991 1992 1993<br />
concorrencial o mercado da saúde no<br />
espaço regional em que se integra.<br />
Numa estratégia de complementaridade<br />
gerida parece particularmente<br />
adequada e necessária a organização<br />
dos serviços no contexto da Unidade<br />
de Saúde do Norte do Ribatejo.O<br />
redimensionamento da oferta de<br />
serviços e a ultrapassagem do carácter<br />
fragmentário da rede hospitalar,<br />
a articulação com o sector privado,<br />
revelam-se tarefas complexas , áreas<br />
do meu ponto de vista indispensáveis<br />
a uma linha de preocupações de<br />
eficiência e garantia da qualidade a<br />
prosseguir de modo integrado no<br />
ambito da Unidade de Saúde Norte<br />
do Ribatejo.<br />
GH - Está assim rejeitada a tese<br />
do "elefante branco" com que<br />
algum sensacionalismo jornalístico<br />
traduziu o hiperdimensionamento<br />
do hospital?<br />
SA - A Unidade de Saúde Norte do<br />
Ribatejo passará a dispor de 2. 7<br />
camas por mil habitantes, valor que<br />
pode considerar-se razoável e susceptí<br />
vel de permitir uma utilização<br />
optimiza&a em benefício das populações<br />
do distrito. Tal dependerá contudo<br />
dum quadro institucional e<br />
legal que ·permita a concretização<br />
das mudanças. Quero, a propoósito<br />
do elefante, referir-lhe que o H.D.A.<br />
representou em 1993 2,24 % da<br />
produção global ajustada dos hospitais<br />
distritais, tendo a sua quota de<br />
financiamento público sido de 1,97%.<br />
Posso ainda informar que no amplo<br />
jardim do hospital permanecem verdejantes<br />
os relvados e desabrocham<br />
em cada Primavera muitas flores.<br />
Afinal, será possível que por aqui<br />
ande algum elefante? Branco pelo<br />
menos não será! 1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
.<br />
1<br />
1<br />
A gestão estratégica<br />
é a única forma de gestão<br />
participati úa susceptível<br />
de provocar evoluções<br />
importantes numa instituição<br />
de tipo profissional.<br />
I<br />
E esta participação que torna<br />
possível um melhoramento<br />
dos modos de actuação,<br />
'<br />
assim como a procura<br />
de uma visão colectiva<br />
I<br />
das orientações. E aqui que reside<br />
a principal inovação e, ao mesmo<br />
tempo, a grande dificuldade, pois<br />
esta participação só é possível<br />
com uma verdadeira evolução<br />
da mentalidade dos profissionais.<br />
Ser- lhes-á necessário<br />
abandonar os seus reflexos<br />
individualistas e cessar<br />
de construir um pseudo-consenso<br />
sobre a designação administração.<br />
m termos legais tudo aponta,<br />
pelo menos desde o Decreto<br />
-Lei nº. 19/88, para que o<br />
hospital público se organize<br />
e adopte conceitos empresariais.<br />
No entanto, poucas formas de<br />
actua:~ão empresarial foram pensadas<br />
e, ainda menos, postas em<br />
prática.<br />
Este livro versa tudo sobre gestão,<br />
mas foge ao comum dos livros sobre<br />
este tema na medida em que<br />
desenvolve um conceito de gestão<br />
com um especial pendor "empresarial",<br />
o conf:eito de gestão estratégica,<br />
e, mais , aplica-o a<br />
instituições de saúde.<br />
O conceito não é novo, começou a<br />
ser desenvolvido na década de 60,<br />
no sector empresarial norte-americano,<br />
e teve como grandes defensores<br />
Porter e, inclusivé, Mintzberg.<br />
E tanto não é um conceito novo<br />
que já se encontram autores que o<br />
criticam.<br />
A gestão estratégica é fundada na<br />
difusão, ao má.is profundo da orga-<br />
MICHEL CREMADEZ<br />
EA COLLABORATION AVEC<br />
FRANÇOIS GRATEAU<br />
Le<br />
management<br />
stratégique<br />
hospitalier<br />
Manuela Mota Pinto*<br />
nização, das preocupações que a<br />
divisão vertical do trabalho atribui<br />
unicamente aos escalões superiores<br />
da direcção. _<br />
"Le Management Stratégique Hospitalier"<br />
consegue, através de uma<br />
análise extremamente clara e coerente,<br />
caracterizar o hospital, sob o<br />
ponto de vista organizativo, adaptando-o<br />
ao contexto socioeconómico<br />
que o envolve e muitas vezes o<br />
tolhe. No entanto, não se fica por<br />
esta mera caracterização, antes faz<br />
evoluir as suas formas organizativas<br />
a ponto de inverter aquela<br />
~ .<br />
consequencia.<br />
O diagnóstico da situação actual, a<br />
abertura do hospital ao meio-ambiente,<br />
a reorganização da velha<br />
estratégia, o desenvolvimento de<br />
um sistema de informação estratégico,<br />
a conquista de vantagens<br />
concorrenciais e a modificação<br />
organizacional necessária ao tipo<br />
de gestão' ~stratégica proposta são<br />
t f t f -t t f f t t<br />
lnterEditions<br />
alguns dos subtemas desenvolvidos.<br />
Cremadez afirma que "quanto<br />
maior for a maturidade estratégica<br />
das instituições, mais se desiquilibra<br />
o actual processo de planificação<br />
do sistema de saúde e se<br />
enfraquece as estruturas de tutela<br />
( ... )O modo de planificação actual,<br />
tecnocrático e centralizado é particularmente<br />
vulnerável aos modos<br />
ge actuação aqui propostos".<br />
E um livro francês aplicado à<br />
realidade francesa. No entanto, a<br />
similitude entre as formas organizativas,<br />
francesa e portuguesa,<br />
torna-o facilmente transportável<br />
para a nossa realidade, sendo,<br />
assim, um importante livro de<br />
consulta.<br />
*Administradora hospitalar<br />
"' , ,., NAL DE<br />
Ma~1§~~.P-lmté.giqu<br />
pttrr-tier -<br />
2, Michel Cremadez<br />
I erEditions<br />
58 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 59<br />
E- ~ 2 l 1 C· f E C r
Para uma melhor qualidade de vida ...<br />
investigamos,<br />
desenvolvemos e fabricamos<br />
fármacos·<br />
de_ elevada segurança<br />
e eficácia.