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Gestão Hospitalar N.º29 1994

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Consumou-se uma<br />

orientação política<br />

com 28anos<br />

FINANCIAMENTO<br />

"A situação actual a nível dos serviços de<br />

saúde evidencia problemas financeiros<br />

preocupantes que se poderão traduzir em<br />

rupturas financeiras graves"<br />

COMPETIÇAO<br />

-<br />

GERIDA<br />

Entrevista com Caldeira<br />

da Silva, presidente<br />

do Conselho Directivo<br />

da Escola Nacional<br />

de Saúde Pública<br />

Augusto Mantas<br />

"Os passos para a reforma podem começar no terreno<br />

do debate público, bem antes da iniciativa privada"<br />

António Correia de Campos<br />

REFORMA CLINTO<br />

"Todos os cidadãos deverão dispor de um nível básico de<br />

cuidados de saúde, independentemente da sua capacidade<br />

. "<br />

para pagar os serviços<br />

Janet Guptill


Revista da Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Nº 29 • ANO VIII • SET 94 • 800$00<br />

Membro da Associação Europeia<br />

de Directores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Revista da Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

DIRECTOR<br />

Armanda Miranda<br />

CONSELHO REDACTORIAL<br />

António Paulino<br />

Ana Isabel Gonçalves<br />

Manuel Ligeiro<br />

Manuel Delgado<br />

Manuela Mota Pinto<br />

PROPRIEDADE<br />

Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Empresa jornalística nº 209259<br />

Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />

ADMINISTRAÇAO,<br />

PUBLICIDADE E ASSINATURAS<br />

APAH<br />

Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />

PRODUÇÃO GRÁFICA<br />

Augusto Teixeira<br />

MONTAGEM<br />

Montalito<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

JMToscano<br />

Tel.: 34 79735 Fax:34 79736<br />

ASSINATURA ANUAL<br />

3.000$00<br />

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL<br />

TIRAGEM<br />

2.000 exemplares<br />

Nº Registo 109060<br />

Depósito legal nº 16288/87<br />

ISSN: 0871 - 0776<br />

EDITORIAL 4<br />

MARCO do CORREIO · 5<br />

SAIBA QUE... 6<br />

Agenda de Cursos e Congressos<br />

OPINIÃO<br />

Financiamento da Saúde:<br />

equívocos e preconceitos<br />

- artigo de Manuel Delgado.<br />

DOCUMENTO 1 11<br />

Saúde: a crua realidade<br />

da Guiné-Bissau por Paulo Salgado<br />

DOCUMENTO li 15<br />

A reforma dos cuidados<br />

de saúde nos EUA e os contributos<br />

para o sistema de saúde português<br />

por Janet Guptill<br />

ENTREVISTA 19<br />

Entrevista com o Presidente<br />

da Escola Nacional de Saúde<br />

Pública, professor Caldeira da Silva<br />

INVESTIGAÇÃO 1 25<br />

O financiamento do sistema<br />

de saúde - a situação em Portugal<br />

analisada por Carlos Costa<br />

e Augusto Mantas<br />

7<br />

INVESTIGAÇÃO il 33<br />

Competição gerida - contributos<br />

para o debate indispensável.<br />

Comunicação apresentada no Forum<br />

"<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>, Novos Rumos",<br />

realizado em Lisboa,<br />

em Dezembro de 1993,<br />

por António Correia de Campos.<br />

ACONTECIMENTO 40<br />

Visita de estudo aos EU A.<br />

Ciclo de Encontros/94<br />

- A <strong>Gestão</strong> da Saúde em Portugal:<br />

Que opções? Que futuro?<br />

1 º Encontro no Porto: A <strong>Gestão</strong><br />

Privada dos Hospitais Públicos<br />

2º Encontro: O Seguro Alternativo<br />

de Saúde no contexto do SNS<br />

PERFIL<br />

46<br />

Joaquim Nogueira da Rocha,<br />

presidente do Conselho<br />

de Administração do Serviço<br />

de Utilização Comum dos Hospitais.<br />

GESTÃO 48<br />

A Unidade de Cuidados Leves por ··<br />

Carlos Gante e Gregório dos Santos.<br />

HOSPITAL ABERTO 55<br />

O Hospital de Mirandela.<br />

LEITURAS 58<br />

ASSOCIAÇÃO<br />

PORTUGUESA DE<br />

ADMINISTRADORES<br />

HOSPITALARES----------- --<br />

,. ,<br />

NORMAS EDITORIAIS<br />

1ª A Revista aceita trabalhos sobre qualquer assunto relacionado<br />

com o tema geral da gestão de serviços de saúde entendida esta no<br />

seu mais amplo sentido.<br />

2ª Os artigos deverão ser envindos ao Director. A este caberá a<br />

responsabilidade de aceitar, rejeitar ou propor modificações.<br />

3ª Os artigos deverão ser enviados em duplicado (incluindo quadros<br />

e figuras), dactilografados a duas entrelinhas em folha de<br />

formato A4. Em cada folha não deverão ser dactilografadas<br />

mais de 35 linhas. As folhas serão numeradas em ordem<br />

sequencial.<br />

4ª Os art~· os deverão ser acompanhados, sempre que possível, por<br />

fotogra ia do(s) autor(es), tipo passe.<br />

5ª Os tra alhos deverão conter em folhas separadas o seguinte:<br />

a)-Título do trabalho, nome(s) do(s) autor(es) e pequeno esboço<br />

curricular do(s) autor(es), principais funções ou titulos, até ao<br />

máximo de dois;<br />

b)-Pequena introdução ao artigo até ao máximo de uma página<br />

dactilografada;<br />

c )-0· texto·<br />

d)-Quadrbs com títulos e legendas (folhas autónomas);<br />

e)-Gráficos desenhados a traço de tinta-da-china sobre papel<br />

vegetal sem números ou palavras;<br />

3 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

f)· Títulos, legendas ou elementos dos gráficos escritos em folhas<br />

de fotocópias destes, à parte;<br />

g)-Fotografias numeradas no verso, a lápis, segundo a ordem de<br />

entrada no texto e respectivas legendas;<br />

h)-Peguenos resumos do artigo em língua francesa e inglesa,<br />

incluindo títulos;<br />

i)-Os originais não deverão conter pés-de-página. Todas as<br />

referências bibliográficas completas serão insertas no final do<br />

artigo.<br />

~Nas referências bibliográficas, os autores são colocados por ordem<br />

alfabética (apelido seguido das iniciais do nome), seguindo-se o<br />

título completo do artigo, o título abreviado da Revista, o número<br />

do volume, os números da primeira e última páginas e o ano da<br />

publicação.<br />

ES:-:·_.· . .' '.'.; ~<br />

L DE<br />

O Editorial e os Artigos não assina s são .da responsabilidade da<br />

Direcção da Associação. ' - · - ' - -· ·<br />

Os Artigos assinados são da exclus va responsabilidade dos seus<br />

autores, não com_prometendo a Asso iação com os pontos de vista<br />

neles expressos. Embora merecendo a melhor atenção, a colaboração<br />

não solicitada não será devolvida, reservando-se o direito de a<br />

publicar ou não.<br />

i<br />

ll , e; 1 1 v T [ C A


Marce> de> Ce>rr~ie><br />

ideia de entregar a gestão dos hospitais a entidades<br />

privadas teve, no fim do mês de Julho, um desenvolvimento<br />

importante com a publicação da Portaria nº<br />

704/94, em que se aprova o programa do concurso e<br />

caderno de encargos tipo, para a celebração dos respectivos<br />

contratos de gestão.<br />

Parecem estar assim, reunidas as condições objectivas para a<br />

implementação da ideia, pese embora as dúvidas ou omissões<br />

que possam suscitar, bem como a oposição de políticos,<br />

técnicos ou investidores que se sintam directa ou indirectamente<br />

envolvidos no processo.<br />

Revelando-se a impotência do Estado para realizar, ainda<br />

que através da Administração Indirecta dos respectivos<br />

Conselhos de Administração, uma gestão eficiente dos<br />

hospitais portugueses, surge como solução a outorga dessa<br />

tarefa a entidades privadas.<br />

Não se privatiza a titularidade nem a lógica de funcionamento<br />

dos hospitais. Apenas se concede a terceiros a<br />

competência para administrar os bens públicos, retirando<br />

deles a máxima efici_ência.<br />

Deduz-se que o "ambiente" privado permite ganhos de<br />

produtividade, racionalização na utilização dos meios,<br />

maior disciplina e responsabilização dos profissionais e<br />

redução significativa dos quadros.<br />

A consistência do raciocínio que vê no "Direito Privado" a<br />

solução para problemas essenciais do funcionamento hospitalar,<br />

não resiste todavia a uma análise minimamente<br />

aprofundada.<br />

Parece-nos, desde logo, comprometedor equacionar apenas<br />

as questões internas das instituições e dos serviços de saúde,<br />

de forma isolada e desenquadrada de uma reforma profunda e<br />

necessária do próprio sistema de saúde.<br />

As rneficiências dos hospitais portugueses têm causas<br />

exógenas, porventura de importância maior do que as<br />

endógenas e, muitas vezes, determinantes destas:<br />

- Um sistema de saúde desarticulado, em que o hospital é<br />

objecto de uma procura indiscriminada e, em grande parte,<br />

pela via mais onerosa: os serviços de urgência;<br />

- Um sistema de financiamento "monopolista" e "miserabilista"<br />

que inibe a adopção de estratégias ofensivas que<br />

cativem e proporcionem conforto e dignidade acrescida aos<br />

consumidores;<br />

- A ausência de um verdadeiro mercado de saúde em que as<br />

transacções entre os clientes, os prestadores e os financiadores,<br />

com base nalguma liberdade de escolha, sejam factor<br />

que estimule a racionalização de procedimentos e a satisfação<br />

dos intervenientes;<br />

- A falta de mecanismos credíveis de avaliação e garantia da<br />

qualidade dos cuidados;<br />

Privatizar o quê[<br />

- A existência de um estatuto profissional burocratizado,<br />

carreirista e desincentivador.<br />

Se o Estado quer continuar a manter a titularidade dos<br />

hospitais e a responsabilidade pelos princípios constitucionais<br />

subjacentes ao direito à Saúde de todos os cidadãos,<br />

deveria, antes de mais, dar respostas, ele próprio, a estas<br />

questões, de forma .global, sistematizada e politicamente<br />

coerente.<br />

Não duvidamos da bondade dos governantes, ao encarar a<br />

privatização da gestão como um factor de melhoria das<br />

condições de acesso e atendimento dos cidadãos, mas temos<br />

fortes reservas quanto ao seu sucesso.<br />

O carácter avulso e pretensamente "privatizador" desta<br />

medida, para além de gerar na opinião pública a ideia de<br />

que os gestores dos hospitais são incompetentes, não<br />

corresponde tão pouco aos princípios políticos do liberalismo<br />

moderno. Ao contrário do que se possa pensar, não se<br />

estão a criar condições para o desenvolvimento de uma<br />

iniciativa privada que seja titular dos meios de produção e<br />

simultaneamente responsável pelas suas própr1as regras de<br />

organização e produção. Esta seria, concerteza, uma opção<br />

de alto risco, mas teria o mérito de se revelar como uma<br />

estratégia política clara e inovadora.<br />

As meias-tintas e as falsas partidas, poderão fazer algum<br />

ruído mas logo caem no esquecimento ...<br />

***<br />

Eleições<br />

stão aí as eleições para os corpos sociais da APAH.<br />

A participação dos associados, constituindo listas,<br />

apresentando e discutindo programas, apontando<br />

críticas ou sugerindo novos caminhos é um imperativo<br />

indiscutível.<br />

Preconizamos sempre o envolvimento activo dos colegas na<br />

defesa dos seus interesses profissionais e no prestígio da sua<br />

profissão.<br />

Nem sempre o nosso trabalho tem sido fácil e o reconhecimento<br />

público dos administradores hospitalares, tem deparado<br />

nos últimos anos com variadíssimos obstáculos.<br />

Estaremos, eventualmente, numa fase conjunturalmente<br />

mais favorável que deveremos saber approveitar.<br />

Por isso o reforço do papel da Associação como parceiro<br />

reconhecido pelo Governo e outros grupos profissionais é<br />

tarefa inadiável que a todos nós e a cada um individualmente<br />

diz directamente respeito.<br />

Mantendo a nossa autonomia e distanciamento político, sem<br />

seguidismos oportunistas ou oposições revanchistas, acreditamos<br />

numa APAH forte e permanentemente renovada. 1<br />

;<br />

Homem certo<br />

no lugar certo<br />

No artigo que assina na revista<br />

anterior sobre gestão hospitalar,<br />

Manuel Delgado oferece ao ministro<br />

Paulo Mendo uma mão cheia de<br />

boas sugestões para reformular a<br />

actual legislação. "Esperamos ( ... )<br />

que na eventual revisão da lei de<br />

gestão se consagre o princípio de<br />

que o exercício do cargo de administrador-delegado<br />

está reservado<br />

a administradores hospitalares diplomados",<br />

escreve a dado passo do<br />

seu artigo de opinião.<br />

Tenho o mesmo ponto de vista e<br />

penso ser essa a posição mais<br />

acertada. Tão acertada mesmo<br />

como atribuir a direcç~o exclusivamente<br />

aos médicos. E razoável e<br />

lógico que assim seja. No fundo<br />

não é mais do que defender o<br />

conhecido princípio do homem<br />

certo para o lugar certo.<br />

Satisfação<br />

J. Santos, médico<br />

Porto<br />

Os administradores hospitalares<br />

que leram a entrevista dada pelo<br />

dr. Paulo Mendo à GESTÃO HOS­<br />

PITALAR ficaram com bons motivos<br />

para se sentir satisfeitos. Se o<br />

que disse o dr. Paulo Mendo, então<br />

ainda na qualidade de director do<br />

Hospital de Santo António, corresponder<br />

agora à sua vontade como<br />

ministro, é uma das principais<br />

aspirações dos administradores<br />

hospitalares a ficar reconhecida.<br />

Isto é, a necessidade de que quem<br />

exerce a gestão hospitalar tenha<br />

uma preparação adequada para o<br />

efeito.<br />

E não há dúvida de que em<br />

Portugal, através da Escola Nacional<br />

de Saúde Pública, só os administradores<br />

hospitalares de<br />

carreira possuem habilitação específica<br />

para gerir hospitais.<br />

Leitor identifica,do, técnico de saúde<br />

Lisboa<br />

Coerência<br />

O dr. Paulo Mendo afirmou, ainda<br />

como director do Hospital de Santo<br />

António, que "( .... ) a experiência<br />

que Portugal vem arrecadando<br />

desde que a Escola Nacional de<br />

Saúde Pública começou os seus<br />

cursos de pós-graduação em Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> tem sido extremamente<br />

positiva e mesmo<br />

exemplar para alguns países nossos<br />

amigos ( ... )." Oxalá não mude<br />

de ideias como ministro. Para<br />

marcar a diferença entre alguns<br />

dos seus antecessores.<br />

Leitor identificado, adm. hospitalar<br />

Coimbra<br />

Todos sabemos<br />

"Todos sabemos como os hospitais<br />

privados, especíalmente os com<br />

fins lucrativos, tendem a concentrar<br />

a sua actividade nos casos<br />

mais fáceis e, por isso, mais lucrativos,<br />

enquanto que os hospitais<br />

públicos têm que tratar todos os<br />

doentes".<br />

Quem o afirma é João Urbano, com<br />

a autoridade que todos os administradores<br />

hospitalares, entre os<br />

quais me incluo, lhe reconhecem.<br />

O que se pretende, pois, é que as<br />

regras de gestão para hospitais<br />

públicos e privados sejam claras e<br />

as mesmas. Que milagres - quanto<br />

disparate se tem escrito sobre a<br />

"gestão privada" do Amadora-Sintra!<br />

- não há!<br />

Leitor identificado, adm. hospitalar<br />

Lisboa<br />

Distância<br />

Ao folhear, por mero acaso, num<br />

consultório médico de Lisboa, a<br />

revista GESTÃO HOSPITALAR,<br />

enquanto esperava pela consulta,<br />

li com agrado a secção "Hospital<br />

Aberto", referente ao hospital da<br />

minha cidade - Castelo Branco.<br />

E não posso deixar de dizer,<br />

perante a realidade apresentada,<br />

quão injustas são algumas críticas<br />

e quão distantes nos encontramos<br />

já da situação ali vivida há cerca<br />

de duas dezenas de anos. Mais<br />

parecem milénios!<br />

Maria Arminda, comerciante<br />

Lisboa<br />

4 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

5 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>


Saiba qu .....<br />

Agenda<br />

- De 22 de Agosto a 23 de Setembro,<br />

está a realizar-se em San Francisco<br />

(USA), na Universidade da Califórnia<br />

um Programa Internacional de<br />

Saúde, sob o tema da prevenção da<br />

SIDA.<br />

- De 14 de Setembro a 16 de Setembro,<br />

em Maastricht (Holanda), Curso intensivo<br />

de Verão em Ciências de<br />

Saúde, sob o tema "Estratégia de<br />

investigação: a ligação entre o trabalho<br />

de enfermagem e os resultados nos<br />

doentes".<br />

- De 28 de Setembro a 30 de Setembro,<br />

em Antuérpia (Bélgica), 3º Workshop<br />

europeu sobre Economia da Saúde.<br />

- De 6 a 8 de Outubro, em Y okohama<br />

(Japão), Conferência Pan-regional<br />

da Federação Internacional dos<br />

Hospitais.<br />

- De 7 a 28 de Outubro, em Santarém,<br />

Jornadas sobre Qualidade Global -<br />

-Interacção entre Humanização e<br />

Excelência "Técnica", organizadas<br />

pela Comissão Nacional de Humanização<br />

e Qualidade dos Serviços de Saúde.<br />

- De 7 a 18 de Novembro, em San<br />

Francisco (EUA), na Universidade da<br />

Califórnia, Programa Internacional<br />

de Saúde, sob o tema "Instrumentos e<br />

Técnicas de <strong>Gestão</strong>".<br />

- De 10a11 de Novembro, em Coimbra,<br />

4º Encontro de Economia da Saúde,<br />

sobre o tema "Reforma dos Sistemas de<br />

Saúde".<br />

- De 14 a 17 de Novembro, em<br />

Jerusalém (Israel), 10ª Conferência<br />

Internacional da Sociedade Israelita<br />

para a Qualidade, sobre os temas<br />

"<strong>Gestão</strong>, Software, Economia, Sistemas<br />

de Informação, Legislação, Educação,<br />

Métodos e Instrumentos e<br />

Qualidade e Ambiente".<br />

Prémio Apifarma 93<br />

Os nossos colegas Artur Morais Vaz,<br />

Jorge Almeida Simões e Rui Janeiro da<br />

Costa, de parceria com Paula Santana<br />

(da Faculdade de Letras da Universidade<br />

de Coimbra), foram galardoados<br />

com o Prémio Apifarma/93, pelo seu<br />

trabalho "Desenvolvimento de um<br />

modelo de avaliação do estado de<br />

saúde das populações", entretanto<br />

publicado na Revista Portuguesa de<br />

Saúde pública de Abril/Junho de <strong>1994</strong>.<br />

GESTAO HOSPITALAR felicita os<br />

premiados e aconselha vivamente a<br />

leitura daquele trabalho.<br />

Direcção da Associação<br />

Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es tem<br />

acompanhado com extrema<br />

atenção as dramáticas ocorrências<br />

com doentes hemodializagos<br />

do Hospital Distrital de<br />

Evora, tendo tomado a propósito<br />

a atitude pública que a seguir se<br />

dá conhecimento.<br />

Imperativos de ordem ética e<br />

deontológica e o profundo respeito<br />

pela vida e pelo bem-estar dos<br />

doentes que frequentam os nossos<br />

hospitais impuseram-nos, todavia,<br />

extremos cuidados e algum<br />

distanciamento emocional face às<br />

graves ocorrências verificadas. O<br />

relatório da Procuradoria do<br />

I<br />

Círculo de Evora cotejado com o<br />

Despacho do Senhor Inspector­<br />

-Geral de Saúde de 5 de Abril<br />

último, levam-nos a, sobre os<br />

factos, tornar agora pública a<br />

seguinte posição:<br />

1. A Direcção da APAH lamenta<br />

profundamente a ocorrência dos<br />

factos relacionados com ·as deficiências<br />

de funcionamento da<br />

unidade de hemodiálise , do Hospital<br />

Distrital de Evora e solidariza-se<br />

com as vítimas e seus<br />

familiares.<br />

2. Considera, a propósito, que é<br />

urgente, que a A.R. ou o Governo<br />

legislem em matéria de responsabilidade<br />

por forma a que<br />

se institua o princípio da responsabilização<br />

objectiva fundada<br />

no risco. Desse modo e com<br />

base na definição rigorosa do<br />

dano em matéria de prestação<br />

de cuidados de saúde as vítimas<br />

e os seus familiares poderão ser<br />

dos mesmos imediatamente ressarcidos.<br />

3. Face às acusações de economicismo,<br />

de incúria e crime que<br />

à cerca de um ano vêm repetidamente<br />

sendo feitas contra a ex­<br />

-Administr~ção do Hospital Distrital<br />

de Evora e particularmente<br />

no que toca ao então<br />

6 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

Desagravo-·<br />

Administrador-Delegado dr. Manuel<br />

Fialho, conclui-se agora<br />

que as mesmas não tinham<br />

qualquer fundamento já que<br />

fica provado que todos os pedidos<br />

de aquisição e substituição<br />

de equipament9 da Central de<br />

tratamento de Aguas e de toda a<br />

unidade de Hemodiálise do HDE<br />

foram sempre deferidas de imediato<br />

bem como todas as recomendações<br />

propostas pela firma<br />

especializada Enkrott.<br />

4. Congratula-se, assim, esta<br />

Direcção com a postura responsável<br />

e competente do então<br />

Administrador-Delegado e sócio<br />

desta Associação dr. Manuel<br />

Fialho, por isso ilibado de qualquer<br />

procedimento criminal civil<br />

ou disciplinar, esperando<br />

deste modo contribuir para o<br />

desagravo público da sua conduta<br />

ética e profissional.<br />

5. Não cabe a esta Direcção<br />

ajuizar sobre a demissão do ex­<br />

-Conselho de Administração do<br />

HDE, nem tão pouco opinar<br />

sobre a atitude dos seus membros<br />

em se manterem em funções<br />

após os factos ocorridos.<br />

Entram, nesta matéria, questões<br />

de natureza política e do foro<br />

íntimo dos protagonistas que<br />

não nos compete comentar.<br />

6. Inversamente, parece-nos propositado<br />

referir que não concordamos<br />

com a politização da<br />

gestão hospitalar em má hora<br />

iniciada com Leonor Beleza. A<br />

lei de gestão que produziu e a<br />

forma pouco sensata como em<br />

muitos casos foi aplicada, permitiu,<br />

como neste caso, a incontornável<br />

partidarização das<br />

questões, a falta de dircernimento<br />

nas análises e a ocorrência de<br />

julgamentos precipitados.<br />

A DIRECÇÃO<br />

* Comunicado enviado ao Ministro<br />

da Saúde e à imprensa escrita,<br />

em 28 de Abril.<br />

. ' .<br />

1<br />

Manuel Delgado *<br />

Imagina-se e diz-se que<br />

se gasta pouco em Saúde,<br />

mas não se analisa e<br />

não se diz que se gasta<br />

sem prioridades, sem<br />

critérios e, mais grave,<br />

sem os resultados que,<br />

apesar de tudo, seriam<br />

'<br />

passiveis.<br />

.<br />

Financiamento da Salide:<br />

' .<br />

equ1vocos e preconceitos<br />

a área da Saúde, a<br />

agenda política<br />

tem sido, nos últimos<br />

tempos, marcada<br />

pela questão<br />

do financiamento.<br />

O debate, todavia, tem sido, a meu<br />

ver, escasso, com poucas ideias e<br />

quase sempre sem metodologias<br />

minimamente perceptíveis pelo cidadão<br />

comum.<br />

I<br />

E desde logo interessante verificar-<br />

-se que tem sido o Governo, ainda<br />

que involuntariamente nalguns<br />

casos, a lançar e a conduzir o<br />

debate sobre o financiamento:<br />

a) Fê-lo com a reforma do Estatuto<br />

do SNS de Arlindo de Carvalho, ao<br />

introduzir no sistema a figura<br />

(mítica) do Seguro Alternativo de<br />

Saúde. A insuficiência de recursos<br />

financeiros, ainda que nunca assumida<br />

de forma explícita pelo ex­<br />

-ministro, despertou a vontade de se<br />

criar, por aquela via, uma fonte<br />

alternativa de financiamento do<br />

SNS. Do desejo à realidade vai,<br />

no entanto, um passo de gigante,<br />

pois o desenvolvimento dum seguro<br />

integral, verdadeiramente alternativo<br />

ao SNS, exige muito estudo e<br />

um clima de confiança entre todos<br />

os agentes envolvidos, coisas que<br />

estão longe de estar conseguidas.<br />

b) Fê-lo, mais recentemente, com o<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 7<br />

novo ministro Paulo Mendo, ao<br />

assumir a existência de um "subfinanciamento<br />

crónico do SNS"<br />

(sic.), e ao propor como solução,<br />

que os cidadãos economicamente<br />

mais favorecidos . paguem, em percentagens<br />

progressivas em função<br />

do rendimento, parte substancial<br />

dos cuidados de saúde recebidos.<br />

Curiosamente, partindo de um<br />

diagnóstico semelhante, ainda que<br />

encapotado no primeiro cenário e<br />

assumido no segundo, o Governo<br />

propõe, em momentos diferentes,<br />

terapêuticas diferentes.<br />

A originalidade da situação reside<br />

mais na ausência de um discurso<br />

técnico-político alternativo (à esquerda<br />

e à direita) do que no<br />

enunciado das soluções.<br />

De facto, é estranho que, perante<br />

um diagnóstico desde logo discutível<br />

e redutor (o subfinanciamento<br />

crónico do SNS), e um quadro de<br />

soluções assente em critérios meramente<br />

contabilísticos, não apareçam,<br />

designadamente por parte dos<br />

restantes partidos políticos e porque<br />

é essa a sua fulcral função<br />

cívica, um discurso político · alternativo,<br />

coerente, global e inovador<br />

~obre o nosso sistema de Saúde.<br />

E que pôr o assento tónico na<br />

questão do financiamento esquecendo<br />

a árvore de problemas que<br />

se colocam no nosso sistema de ..,.


Opiniao<br />

..._ Saúde, é fonte geradora de<br />

alguns equívocos e da assunção de<br />

alguns preconceitos.<br />

Vejamos:<br />

1. O subfinanciamento<br />

crónico do SNS<br />

Numa análise meramente contabilística<br />

do SNS verifica-se, de facto,<br />

a existência de um deficit que se<br />

vem acentuando, e que poderemos<br />

cifrar em cerca de 100 milhões de<br />

contos para <strong>1994</strong>, para 600 milhões<br />

de despesas orçamentadas.<br />

Todavia, uma leitura atenta de<br />

alguns indicadores importantes,<br />

obriga-nos a outras reflexões:<br />

a) Gastamos cerca de 6, 7% do PIB<br />

na Saúde, o que nos coloca praticamente<br />

na média dos países da<br />

OCDE. O esforço do Estado é, no<br />

entanto, dos mais baixos nesse<br />

ranking (4,1 % contra 6% ou mais<br />

da Alemanha, Bélgica, França e<br />

Luxemburgo, para só referirmos<br />

alguns dos nossos parceiros comunitários),<br />

cabendo aos _cidadãos um<br />

esforço directo ou por via de outros<br />

subsistemas para os quais descontam<br />

(ADSE, SAMS, Seguros, etc.)<br />

uma fatia que equivale a cerca de<br />

40% das despesas da Saúde em<br />

Portugal, só ultrapassada pelos<br />

EUA (60%), com os nossos parceiros<br />

comunitários a exigirem um<br />

esforço menor aos seus cidadãos<br />

(Alemanha - 25%; Bélgica - 17%;<br />

Dinamarca - 15%; Holanda - 25%;<br />

Luxemburgo - 7%; Espanha - 20%;<br />

França -21 %; Itália -19%; Irlanda -<br />

-11 %; Grécia - 18%; Reino Unido -<br />

-10%).<br />

b) O perfil de consumos de saúde<br />

das famílias portuguesas é, em<br />

mais de 55%, destinado a medicamentos<br />

e meios complementares de<br />

diagnóstico, apenas 4% para hospitalização,<br />

cabendo uma fatia não<br />

desprezível de cerca de 7% em<br />

despesas de transporte por razões<br />

de saúde (ambulâncias p. ex.)!<br />

Na maior parte dos países da<br />

OCDE o consumo de medicamentos<br />

e exames não atinge os 20%, a<br />

hospitalização consome cerca de<br />

50% e os transportes apresentam<br />

valores irrelevantes.<br />

Os contrastes são evidentes e<br />

obrigam-nos a pensar sobre as<br />

razões que fazem convergir recursos<br />

para certas categorias de despesas;<br />

c) A produtividade dos recursos<br />

disponíveis no SNS é francamente<br />

baixa. Há excesso de médicos<br />

nalguns hospitais centrais e carência<br />

noutros, mais periféricos. Há<br />

uma confrangedora subutilização<br />

de equipamentos e de instalações<br />

(blocos operatórios, por ex.). Há<br />

uma inapropriação comprovada na<br />

utilização de camas hospitalares,<br />

que nalguns casos ronda os 40%<br />

dos dias de internamento. Há um<br />

claro deficit no cumprimento de<br />

horários de trabalho. Pede-se um<br />

esforço desproporcionado dos Serviços<br />

de Urgência hospitalar, ao<br />

arrepio das verdadeiras necessidades<br />

e de uma gestão programada e<br />

eficiente das instituições.<br />

Há uma frequente repetição de<br />

exames complementares, penosa e<br />

incómoda para os doentes e ineficiente<br />

para o sistema, etc. etc. Ou<br />

seja, imagina-se e diz-se que se<br />

gasta pouco em Saúde, mas não se<br />

analisa e não se diz que se gasta<br />

sem prioridades, sem critérios e,<br />

mais grave, sem os resultados que,<br />

apesar de tudo, seriam possíveis.<br />

2. O papel dos cidadãos<br />

no financiamento<br />

Como sabemos, o sistema de Saúde<br />

português assenta fundamental-<br />

mente no SNS, putativamente universal,<br />

geral e tendencialmente<br />

gratuito e financiado em mais de<br />

90% pelo Orçamento do Estado.<br />

Ou seja, todo o cidadão português,<br />

que paga impostos directos (proporcionais<br />

ao rendimento) e indirectos<br />

(relacionados com o consumo,<br />

e, portanto, em grande medida<br />

proporcionais também ao rendimento)<br />

é um contribuinte líquido<br />

do SNS.<br />

O conceito de gratuidade inserido<br />

na Constituição é, assim, um conceito<br />

que se reporta apenas à<br />

situação de doente ou utente efectivo<br />

do SNS, já que este é financeiramente<br />

suportado pelos cidadãos,<br />

de acordo, no essencial, com os<br />

seus rendimentos.<br />

Para além disso, os cidadãos portugueses<br />

fazem um esforço adicional<br />

para a sua saúde individual ou<br />

familiar quando descontam para<br />

subsistemas (ADSE, SAMS, etc),<br />

contratualizam seguros complementares,<br />

pagam medicamentos<br />

nas farmácias ou internamentos e<br />

exames em clínicas ou hospitais,<br />

taxas moderadoras em serviços<br />

públicos, deslocações e tratamentos<br />

no estrangeiro, etc. E isso,<br />

repita-se, . corresponde a 40% das<br />

despesas de Saúde!<br />

As hipóteses aventadas de solicitar<br />

ao cidadão um novo esforço financeiro<br />

para a sua saúde, levantam<br />

assim fortes interrogações, pese<br />

embora, as formas diferentes que<br />

os dois cenários governamentais<br />

indiciam, a saber:<br />

a) Via Seguro Alternativo<br />

de Saúde (SAS)<br />

Ao cidadão é-lhe facultada a hipótese<br />

de optar por um seguro que se<br />

substituirá ao orçamento do Estado<br />

no financiamento da sua saúde,<br />

seja em instituições públicas ou<br />

privadas. Se for esta a opção<br />

escolhida, ao cidadão é-lhe "devolvida"<br />

a sua capitação (em 600<br />

milhões de contos gastos no SNS, a<br />

capitação seria de 60 contos), pois<br />

não fará sentido mantê-lo como<br />

contribuinte liquido para o financiamento<br />

do SNS.<br />

b) Via co-pagamento<br />

dos cuidados<br />

Aos cidadãos ser-lhes-ia cobrada<br />

uma parte substancial dos custos<br />

dos cuidados de saúde recebidos em<br />

serviços públicos (30, 50 ou 70%),<br />

conforme o seu escalão de rendimentos,<br />

ressalvando-se as situações<br />

de excepção (indigentes ou<br />

doenças catastróficas).<br />

Sem prejuízo dos dois cenários se<br />

poderem conciliar, da análise de<br />

cada um deles, resultam algumas<br />

consequências que convém dissecar:<br />

1 ª - O SAS, tal como está enunciado,<br />

parece socialmente razoável.<br />

No entanto, como já referimos, os<br />

prémios a pagar, as franquias a<br />

esportular nos momentos de consumo<br />

e a extensão dos benefícios, são<br />

questões de tal modo complexas e<br />

tão mal estudadas, que poderemos<br />

correr o risco de ter que concluir<br />

que não há cidadãos interessados,<br />

nem companhias seguradoras dis-<br />

O co-pagamento, a vingar, representaria um<br />

retrocesso de décadas quanto aos princípios hoje<br />

consagrados em todos os países da OCDE, da<br />

equidade no acesso e da solidariedade na distribuição<br />

dos custos.<br />

, .<br />

pomve1s para avançar;<br />

2ª - O co-pagamento dos cuidados, é<br />

ao contrário da anterior, uma ideia<br />

socialmente incomportável e politicamente<br />

madrasta.<br />

A vingar, representaria um retrocesso<br />

de décadas quanto aos princípios<br />

hoje consagrados em todos<br />

os países da OCDE, da equidade no<br />

acesso e da solidariedade na distribuição<br />

dos custos.<br />

O co-pagamento de cuidados de<br />

saúde compromete irremediavelmente<br />

estes dois princípios, já<br />

que, por um lado, inibe o acesso a<br />

quem não tem conjuntural ou<br />

estruturalmente dinheiro para pagar<br />

e não permite a redistribuição<br />

de rendimentos que o mecanismo<br />

da tributação, pelo menos em<br />

teoria, consegue.<br />

Convirá, a propósito, introduzir<br />

aqui a dimensão ideológica do -<br />

financiamento da Saúde.<br />

Assumida que está a falência do<br />

Estado Providência, os amantes do<br />

liberalismo, apressam-se a comparar<br />

6 consumo de cuidados de<br />

saúde ao de outro qualquer bem<br />

ou serviço. Se vamos ao supermercado<br />

comprar pão ou batatas com o<br />

dinheiro que temos na carteira, por<br />

que não ir ao médico ou ao hospital<br />

seguindo o mesmo processo? Dessa<br />

forma, pensaríamos duas vezes<br />

antes de ficarmos doentes e, neste<br />

caso, consumiríamos cuidados de 3ª<br />

de 2ª ou de 1ª, de acordo com a<br />

nossa bolsa, como quem compra<br />

carne no talho.<br />

Esquecem-se esses fundamentalistas<br />

do liberalismo, que a doença é<br />

fenómeno imponderável que, desde<br />

logo,<br />

.<br />

depende das condições<br />

.<br />

económ1co-socia1s<br />

em que se vive.<br />

Níveis de vida mais baixos desencadeiam.<br />

geralmente uma morbilidade<br />

mais elevada, mais complexa<br />

e etariamente precoce.<br />

Por outro lado, os custos da saúde<br />

são muito elevados e sobem muito<br />

mais depressa do que os rendimentos,<br />

ao ponto de serem tendencialmente<br />

incomportáveis, para os<br />

indivíduos e para as sociedades.<br />

Acresce ainda o facto de que<br />

elevados índices de morbilidade<br />

têm um efeito de arrastamento<br />

significativo, penalizando a vida<br />

familiar e o tecido produtivo.<br />

Ou seja, e é esse o esforço que se<br />

tem vindo a fazer nos países líderes<br />

da OCDE, é necessário encontrar<br />

um ou vários modelos que, associando<br />

mecanismos de mercado,<br />

de responsabilização individual e<br />

de racionalização, mantenham<br />

compromissos ideológicos fundamentais<br />

ligados à equidade e à .,..<br />

8 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 9


De»cum~nte»<br />

-41111 solidariedade, na distribuição<br />

dos recursos e na partilha dos<br />

custos.<br />

E há sobre esta matéria muito<br />

estudo feito e algumas ideias já<br />

concretizadas.<br />

No essencial, e mesmo nos países<br />

tradicionalmente com um modelo<br />

tipo SNS, começa-se por separar o<br />

financiamento da prestação de<br />

cuidados, o que, a ser aplicado<br />

entre nós, poderia trazer ganhos<br />

importantes na produtividade e no<br />

desempenho do nosso SNS.<br />

De facto, o modelo de financiamento<br />

que temos assenta em orçamentos<br />

globais de natureza retrospectiva<br />

para cada serviço ou instituição,<br />

o que, desde logo, é um convite<br />

' . /'\ .<br />

e, as vezes uma ex1gencia, para se<br />

produzir menos ou com pior qualidade.<br />

Por outro lado, não há verdadeira<br />

autonomia técnica, administrati~a<br />

e financeira das entidades públicas<br />

prestadoras, fazendo com que a sua<br />

gestão' se sinta pouco motivada e<br />

apenas sensível à ideia do reequilíbrio<br />

financeiro, mesmo que isso<br />

pressuponha encerramento de valências,<br />

listas de espera agravadas,<br />

menos qualidade hoteleira.<br />

Esta situação não é excl~siva do<br />

nosso SNS. Todos os modelos de<br />

financiamento assentes em orçamentos<br />

globais e centralmente<br />

controlados tendem para a entropia,<br />

para o empobrecimento técnico<br />

dos cuidados e para a crescente<br />

insatisfação dos utentes.<br />

Estudos transversais levados a<br />

cabo em vários países da OCDE<br />

com modelos tipo SNS e nos países<br />

do leste europeu confirmaram<br />

aqueles postulados.<br />

No caso português, essa separação<br />

(entre financiador e prestador),<br />

mesmo admitindo que o Estado<br />

continuasse a ser a entidade financiadora,<br />

permitiria aos serviços de<br />

saúde e às unidades hospitalares<br />

serem financiadas com base na sua<br />

produção, assente em preços uniformes<br />

para públicos e privados. Se<br />

acrescentarmos a isto uma certa<br />

liberdade de escolha por parte dos<br />

cidadãos, teríamos uma competição<br />

mitigada que flexibilizaria o<br />

sistema e estimularia a qualidade.<br />

Resta a magna questão de se saber<br />

Mais dinheiro para a Saúde não representa<br />

necessáriamente melhor sistema de saúde, nem<br />

cidadões mais satisfeitos<br />

de onde poderá vir, eventualmente,<br />

mais dinheiro.<br />

As verbas da Saúde deveriam ter<br />

origem em fundo~ próprios para os<br />

q.uais os cidadãos descontariam<br />

directamente, em função do seu<br />

rendimento. O Orçamento do Estado<br />

não incluiria, assim, verbas<br />

para a prestação de cuidados de<br />

saúde, cabendo a esses fundos<br />

autónomos o financiamento do<br />

sistema.<br />

Cada um de nós saberia exactamente<br />

o seu esforço financeiro para<br />

a saúde e, o que é mais importante,<br />

essa contribuição seria feita em<br />

prestações periódicas. Nos episódios<br />

de doença, ou em situações<br />

preventivas facilmente tipificáveis,<br />

o cidadão pagaria apenas uma<br />

pequena taxa de utilização.<br />

O essencial deste modelo, apenas<br />

sinteticamente formulado e que<br />

poderá ter ulteriores desenvolvimentos,<br />

radica em dois princípios<br />

fundamentais:<br />

1. Quando se está doente,<br />

independentemente da situação<br />

sócio-económica, não se<br />

deve pagar o custo dos cuidados<br />

recebidos.<br />

2. O sistema deve ser financiado<br />

essencialmente com base<br />

em mecanismos contributivos<br />

assentes na solidariedade<br />

e não no risco.<br />

Em síntese, e para que o debate<br />

sobre o financiamento da Saúde se<br />

posicione nos seus verdadeiros<br />

limites, seria interessante que os<br />

responsáveis políticos encarassem<br />

as seguintes questões:<br />

1 - Em primeiro lugar deve-se<br />

delinear um novo modelo de Saúde,<br />

que abra as portas à eficiência,<br />

à competição, à qualidade e a<br />

algumas possibilidades de escolha<br />

para o cidadão. Reduzir a questão à<br />

montagem de dispositivos para<br />

obter mais receitas não responde<br />

àqueles desafios e pode manter<br />

tudo na mesma.<br />

2 -·Os mecanismos de financiamento,<br />

embora de âmbito instrumental,<br />

podem ter consequências estratégicas<br />

e políticas importantes.<br />

Veja-se, por exemplo, a simplicidade<br />

com que se propõe que os<br />

cidadãos co-paguem os cuidados<br />

que recebem e as iniquidades que<br />

tal mecanismo representa na esteira<br />

do mais seródio neoliberalismo e<br />

cujos resultados estão à vista no<br />

sistema de saúde dos Estados<br />

Unidos da América.<br />

3. Mais dinheiro para a Saúde não<br />

representa necessariamente melhor<br />

Sistema de Saúde, nem cidadãos<br />

mais satisfeitos. Os exemplos<br />

abundam, partindo da comparação<br />

entre países da OCDE, EUA/Canadá,<br />

Dinamarca/Holanda, por exemplo.<br />

4. O país não está em condições de<br />

exigir um terceiro esforço aos<br />

cidadãos portugueses para o financiamento<br />

do Sistema de Saúde. São<br />

já os que mais gastam em despesas<br />

privadas no concerto europeu e da<br />

OCDE. Pelo contrário, terá que ser<br />

o Estado, depois de se definir um<br />

modelo de saúde credível, em<br />

termos de eficiência e de resultados,<br />

a coordenar um esforço financeiro<br />

eventualmente maior, através<br />

de uma canalização directa, selectiva<br />

e preferencial de recursos. •<br />

* Administrador hospitalar,<br />

presidente da Direcção da<br />

Associação Portuguesa de<br />

Administradores <strong>Hospitalar</strong>es.<br />

Saúde: a crua realidade<br />

da Guiné-Bissau<br />

No quadro do projecto de reabilitação do Hospital Nacional Simão<br />

Mendes, de Bissau, financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento,<br />

.uma das vertentes era a formação de pessoal "visando reforçar,<br />

por meio de cursos teóricos e práticos de dois níveis, a capacidade de<br />

gestão e de administração do pessoal existente, e eventualmente de<br />

pessoal a recrutar".<br />

acção de formação prevista<br />

no quadro do projecto de<br />

reabilitação do Hospital Nacional<br />

Simão Mendes, já levada<br />

a efeito, entroncava na noção<br />

de desenvolvimento coordenado dos<br />

recursos humanos e sanitários<br />

(DCRHS), conceito tão caro à Organização<br />

Mundial de Saúde. Reconhecemos,<br />

todavia, que, à semelhança do<br />

que se tem passado com outras<br />

iniciativas na área da formação de<br />

pessoal do sector saúde, seria fundamental<br />

a intervenção de um órgão<br />

técnico-político que introduzisse o<br />

elemento "coordenação" nesta actividade.<br />

O grupo de trabalho da OMS sobre o<br />

desenvolvimento integrado dos sistemas<br />

e dos profissionais de saúde<br />

reunido em Genebra de 6 a 10 d ~<br />

Novembro de 1989, formulou algumas<br />

recomendações aos Estados<br />

Membros, com vista a promover o<br />

desenvolvimento dos recursos humanos<br />

e sanitários. Estas recomenda-<br />

Paulo Salgado *<br />

ções vêm enunciadas no Rapport<br />

Technique da OMS, nº 801, Genéve,<br />

1990, pelo que não cairemos na<br />

tentação de aqui as referir. No<br />

entanto, pelo interesse relevante<br />

para a Guiné-Bissau, apresentaremos<br />

as suas ideias fundamentais.<br />

Em primeiro lugar, lembra esse<br />

g~upo de trabalho, os países deveriam<br />

passar em revista as suas<br />

actividades ligadas aos recursos<br />

humanos e, depois, elaborar um<br />

plano nacional, actualizado e claramente<br />

definido, sobre a política de<br />

pessoal.<br />

Em segundo lugar, os países deveriam<br />

privilegiar a atenção ao desenvolvimento<br />

de um sistema educativo<br />

colaborante com o sistema de saúde.<br />

Outra recomendação diz respeito à<br />

criação de um órgão dotado de<br />

poderes suficientes para assegurar,<br />

em tempo oportuno, a elaboração, a<br />

execução, a coordenação e a avaliação<br />

das políticas relativas ao desenvolvimento<br />

dos recursos humanos no<br />

domínio da saúde.<br />

Finalmente, os países deveriam procurar<br />

meios e processos para suscitar<br />

um interesse e uma participação<br />

envolventes por parte de grupos<br />

vários (profissionais, colectividade<br />

grande público ...)<br />

'<br />

Ideias para reflexão<br />

~p~esentamos, de seguida, algumas<br />

ideias para eventual reflexão pelas<br />

autoridades guineenses envolvidas,<br />

decorrentes da nossa experiência<br />

enquanto cooperante.<br />

Distribuição Desiquilibrada<br />

dos Recursos Humanos<br />

Há falta de recursos humanos em<br />

certas categorias profissionais, . em<br />

especial no que respeita a determinadas<br />

valências médicas ou de enfermagem.<br />

Mas existe também<br />

penúria ou excedente numa ou<br />

várias categorias profissionais, nesta<br />

ou naquela região. Em concreto<br />

(veja-se o quadro) as discrepâncias<br />

são significativas. Mas o que nele -..<br />

10 <strong>Gestão</strong> Ho"spitalar<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 11


~ ressalta com nitidez é a escassez de<br />

pessoal técnico quer na área médica<br />

quer na área de enfermagem quer<br />

ainda na área dos meios complementares<br />

de diagnóstico e terapêutica.<br />

Baixa Produtividade<br />

A baixa produtividade resulta essencialmente<br />

do fraco nível de utilização<br />

das instalações e equipamentos,<br />

principalmente do bloco operatório e<br />

dos gabinetes de consulta. Resulta<br />

ainda da constante avaria de alguns<br />

equipamentos que não podem 'ser<br />

reparados ou recuperados para o<br />

seu normal funcionamento.<br />

Trata-se, portanto, de uma baixa<br />

produtividade induzida.<br />

Sistemas de Carreiras<br />

e de Promoção<br />

A recente aprovação em Conselho de<br />

Minis_tros de algumas carreiras específicas<br />

veio alterar a situação neste<br />

particular aspecto. Haverá que pôr<br />

em execução o diploma, regulamentando,<br />

corrigindo ou melhorando<br />

alguns dos seus aspectos. Não se<br />

deve esquecer que há carreiras comuns<br />

a toda a administração cujo<br />

sistema deverá ser objecto de regulamentação<br />

adequada.<br />

Formação<br />

Neste aspecto, são notórias as deficiências<br />

no nível da planificação da<br />

formação e respectiva gestão, o que<br />

provoca a frequência repetida de<br />

acções formativas por alguns profissionais,<br />

às vezes em domínios muito<br />

diferentes da sua vocação ou formação<br />

de base, ou mesmo desperdícios<br />

financeiros que poderiam ser canalizados<br />

para outros domínios.<br />

A frequência de cursos, seminários, estágios<br />

ou outras formas de aperfeiçoamento<br />

profissional realizados no estrangeiro tem<br />

contribuído para a fuga de profissionais que,<br />

não regressando ao seu País, provocam uma<br />

sangria nos já débeis recursos humanos mais<br />

qualificados.<br />

Formação no Estrangeiro<br />

A frequência de cursos, seminários,<br />

estágios ou outras formas de aperfeiçoamento<br />

profissional realizados no<br />

estrangeiro tem contribuído para a<br />

fuga de profissionais que, não regressando<br />

ao seu País, provocam uma<br />

sangria nos já débeis recursos humanos<br />

mais qualificados.<br />

Motivação<br />

Existem alguns factores de insatisfação:<br />

falta de responsabilização pessoal<br />

nas decisões tomadas, salários<br />

baixos, falta de formação contínua,<br />

não pagamento de trabalho extraordinário.<br />

Tais factos têm provocado,<br />

pelo menos em alguns profissionais,<br />

desvio para as actividades privadas,<br />

com eventual prejuízo para o trabalho<br />

realizado nos serviços públicos,<br />

(independentemente da necessidade<br />

que há da iniciativa privada ... ).<br />

Pressupostos para o DCRHS<br />

Uma das soluções, preconizada pela<br />

OMS, é, como aliás foi referido, o<br />

lançamento ou o reforço do conceito<br />

de desenvolvimento coordenado dos<br />

recursos humanos e sanitários<br />

(DCRHS), que esta Organização pretende<br />

ajudar a implementar nos<br />

países em vias de desenvolvimento.<br />

Um primeiro aspecto é difundir os<br />

conceitos inerentes à DCRHS e<br />

construir um consenso nacional<br />

com base num plano donde constem<br />

as opções fundamentais, a estratégia,<br />

os objectivos e planificação da execução<br />

e respectiva avaliação.<br />

Para o efeito, seria vantajoso que a<br />

OMS (e outras Instituições e Organizações<br />

Internacionais) canalizassem<br />

fundos disponíveis para a cooperação<br />

bilateral, privilegiando propostas<br />

que valorizem a realidade<br />

concreta local e que não sejam<br />

intelectualmente levianas. Este<br />

apoio seria prestado ao mais alto<br />

nível, envolvendo mesmo departamentos<br />

ministeriais de países vocacionados.<br />

Neste particular aspecto,<br />

pela experiência e pragmatismo que<br />

tem, por razões linguísticas, pelos<br />

laços históricos e afectivos que unem<br />

os Povos dos dois Países, Portugal<br />

reune condições excelentes para<br />

realizar um apoio efectivo no âmbito<br />

RECURSOS HUMANOS (MÉDICOS, ENFERMEIROS E TÉCNICOS) E SUA DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL<br />

. Regiões Superfície Habitantes Densidade Número de Nº médicos Nº Enferm.* Nº Enferm. Número de Nº Técnicos<br />

(Km 2 ) (Censo prov.) populacional Médicos p/1000Hab. p/1000Hab. Técnicos** p/1000Hab.<br />

Sect. Aut. Bissau 77,5 197.610 2.549,0 63 0,32 629(a) 3, 18 183 0,93<br />

Biombo 839 60.420 72,0 1 0,17 52 8,60 6 0,10<br />

OiO 5.403 156.084 28,9 2 0,01 123 0,79 16 0,10<br />

Bafatá 5.981 143.367 23,9 4 0,03 114 0,80 15 0,10<br />

Bolama/Bijagós 2.624 26.961 1O,1 3 0, 11 79 2,93 10 0,37<br />

Cacheu 5.175 146.981 28,4 3 0,02 115 0,78 24 0,16<br />

Gabu 9.150 134.981 14,7 3 0,02 122 0,90 22 0,16<br />

Quínara 3.138 44.793 14,3 1 0,02 96 2,14 . 7 0,16<br />

Tombali 3.737 72.441 19,4 3 0,04 112 1,55 13 0,18<br />

TOTAL 36.124,5 983.637 27,23 83 0,08 1442 1,47 296 0,30<br />

Fonte: "A Saúde em Números", A. Barai e J. Correia (Funcionários do MINSAS), elaborado no âmbito do Projecto de Reabilitação<br />

do HNSM (Curso de Base de Administração <strong>Hospitalar</strong>) Julho/1992.<br />

* ..., Inclui todas as categorias de enfermeiros, parteiras e enfermeiros auxiliares<br />

** ~- Inclui técnicos auxiliares, estatísticas, de apuramento, social, etc ...<br />

(a) - Incl4ídos os enfermeiros professores<br />

12 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

do DCRHS, sem perder de vista a<br />

harmonização de métodos e as orientações<br />

da OMS, e sem prejuízo, como<br />

é óbvio, da realidade local e das<br />

políticas definidas pelo Ministério<br />

da Saúde e Assuntos Sociais da<br />

Guiné-Bissau.<br />

Outro aspecto a desenvolver é a<br />

criação de um Órgão político-técnico<br />

dentro do Ministério da Saúde e<br />

Assuntos Sociais, dotado de meios<br />

técnicos e humanos, capaz de definir<br />

objectivos, de promover acções inovadoras,<br />

de mobilizar todos os profissionais<br />

e de dialogar com o<br />

departamento ministerial que tem a<br />

cargo a cooperação internacional.<br />

Um terceiro aspecto é a interligação<br />

entre os Ministérios da Saúde e<br />

Assuntos Sociais e da Educação que<br />

em conjunto equacionariam as necessidades<br />

em recursos humanos,<br />

estabeleceriam prioridades e promoveriam<br />

as acções tendentes à resolução<br />

dos problemas.<br />

Finalmente, um ponto· importante: a<br />

participação da população em geral e<br />

dos profissionais em particular.<br />

Sugestões<br />

No que respeita à Guiné-Bissau, não<br />

pretendendo embora apresentar uma<br />

proposta de DCRHS (pois tal tarefa<br />

compete às autoridades guineenses)<br />

gostaríamos de sugerir algumas<br />

ideias fundamentais para a sua<br />

aplicação no terreno:<br />

Planificação<br />

A República da Guiné-Bissau é um<br />

País pouco extenso e com uma<br />

população que não ultrapassa<br />

1.000.000 de habitantes; apesar de<br />

alguma diversidade geográfica e da<br />

regionalização ser uma palavra de<br />

ordem erri muitos sectores de activi-<br />

Documento<br />

A Faculdade de Medicina, que "produziu" em<br />

1992 os primeiros licenciados, há-de responder<br />

às necessidades comunitárias, pondo o acento<br />

tónico no justo equilíbrio dos cuidados de saúde<br />

primários e cuidados de saúde secundários.<br />

dade, penso que a planificação, a<br />

coordenação e a avaliação dos recursos<br />

humanos envolvidos na saúde<br />

deverão ser ef ectuadas por um órgão<br />

central. Por uma razão fundamental:é<br />

preciso escolher pessoas qualificadas<br />

e fazer todos os esforços para<br />

as reter e motivar - as autoridades<br />

guineenses não podem subvalorizar<br />

este aspecto.<br />

Mas se a planificação deve ser<br />

centralizada, ela não pode pôr em<br />

causa o "engajamento" de todos os<br />

participantes envolvidos no clima do<br />

"sistema de saúde": direcções regionais<br />

de saúde, estabelecimentos de<br />

saúde, Escola Superior de Medicina,<br />

Escola de Formação de Quadros de<br />

Saúde, grupos e associações de profissionais,<br />

associações de estudantes<br />

e a própria colectividade.<br />

Na RGB as experiências participativas<br />

têm sido ricas ao longo destes<br />

últimos anos, pelo que não será<br />

difícil promover esta forma de envolvimento.<br />

Aprendizagem<br />

em meio profissional<br />

São várias as razões que suscitam a<br />

defesa deste modelo de aprendizagem,<br />

preconizado pela OMS e UNES­<br />

CO: permite dar aos estudantes o<br />

sentido do social, abrangendo igualmente<br />

a interconexão entre os facto-<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 13<br />

res sanitários e outros factores de<br />

desenvolvimento da comunidade;<br />

possibilita fazer a ligação entre a<br />

teoria e a prática, como a verdadeira<br />

dimensão para o futuro profissional<br />

de cada jovem; provoca o enriquecimento<br />

e a actualização constantes do<br />

processo educacional através do<br />

confronto permanente com as dificuldades<br />

reais, sempre com o objectivo<br />

de ultrapassar as barreiras entre<br />

os profissionais e a comunidade; e<br />

permite melhorar a qualidade dos<br />

serviços de saúde comunitários, porque<br />

os formandos (estudantes), dispondo<br />

da lição recente, pretendem­<br />

-na ver imediatamente aplicada.<br />

O papel da Faculdade<br />

de Medicina<br />

Esta Escola, que "produziu" em 1992<br />

os primeiros licenciados em Medicina<br />

há-de responder às necessidades<br />

comunitárias, pondo o acento tónico<br />

no justo equilíbrio dos cuidados de<br />

saúde primários e cuidados de saúde<br />

secundários, sendo certo que os<br />

licenciados verão a sua formação e<br />

profissionalização completa através<br />

da realização de estágios em meio<br />

hospitalar e centros de saúde, considerados<br />

idóneos, em contacto directo<br />

com outros profissionais e com os<br />

utentes dos serviços de saúde.<br />

Outras questões fundamentais: ....


Documento<br />

~ quantos licenciados "produzir"?<br />

Quais as valências médicas requeridas<br />

pela realidade concreta? Como<br />

cobrir, e qual o período de tempo<br />

exigido, todas as valências médicas<br />

hospitalares? Estas questões, e outras<br />

proventura com el~s relacionadas,<br />

só terão resposta se houver<br />

ligação entre o departamento central<br />

planificador e a própria Faculdade<br />

de Medicina.<br />

O papel da Escola Técnica de<br />

Formação de Quadros da Saúde<br />

Valem aqui os princípios enunciados"<br />

no ponto anterior.<br />

Apenas se destaca mais a necessidade<br />

de diversificar e regionalizar os<br />

estágios a realizar no~ serviços de<br />

saúde.<br />

Legislação sobre<br />

recursos humanos<br />

O estabelecimento das carreiras de<br />

saúde (algumas já aprovadas em<br />

Conselho de Ministros), a regulamentação<br />

sobre a classificação de<br />

serviço, a criação de incentivos reais<br />

ao trabalho na periferia, a participação<br />

efectiva por parte dos profissionais<br />

de saúde na gestão dos<br />

estabelecimentos de saúde (designadamente<br />

dos hospitais), o pagamento<br />

do trabalho extraordinário quer nocturno<br />

quer fora das horas normais de<br />

serviço, são alguns dos aspectos que<br />

constituiriam motivo de satisfação<br />

dos profissionais.<br />

Interligação dos Ministérios<br />

Nos aspectos que percorrem simultâneamente<br />

os Ministérios da Saúde e<br />

Assuntos Sociais e da Educação ao<br />

nível da formação de base e de<br />

aperfeiçoamento profissional, há<br />

que fomentar o diálogo nas estruturas<br />

correspondentes.<br />

Informação<br />

O processo de informação deverá<br />

incluir dois aspectos.<br />

Em primeiro lugar, deverá ser criado<br />

um sistema de informação descendente<br />

dirigida a todos os funcionários,<br />

que contemple, nomeadamente,<br />

condições de trabalho, mobilidade de<br />

pessoal, classificação de serviço,<br />

direitos e deveres. No sentido ascendente,<br />

deverão ser criados mecanismos<br />

que possibilitem a audição dos<br />

problemas e anseios que se colocam a<br />

todos os trabalhadores.<br />

Em segundo lugar, para uma correcta<br />

gestão dos recursos, torna-se<br />

imperioso utilizar e criar indicadores<br />

nos serviços na justa medida em<br />

que eles fazem parte do sistema<br />

gestionário:<br />

- despesas com pessoal (remunerações,<br />

trabalho extraordinário, formação)<br />

- taxas de absentismo geral e grupal<br />

-acidentes de trabalho geral e grupal<br />

- diferença entre as remunerações<br />

mais baixas e as mais elevadas<br />

- diversos rácios (médico/cama; enfer:<br />

meiro/cama; médico/consultas; etc)<br />

Conclusões<br />

A dinâmica proporcionada pelo<br />

DCRHS envolve não apenas a educação<br />

e a formação, mas também a<br />

política e planificação e a própria<br />

gestão.<br />

Somente uma visão sistemática, integrada<br />

e abrangente da problemática<br />

e dos recursos humanos favorecerá a<br />

instauração de um clima tendente a<br />

uma saúde melhor e para todos no<br />

ano 2000.<br />

Foram mencionados alguns vectores<br />

necessários a alcançar tal desiderato,<br />

sempre reportados ao envolvimento<br />

e às orientações defendidas pela<br />

Organização Mundial de Saúde. 1<br />

* Administrador hospitalar do Hospital<br />

Geral de Santo António<br />

A reforma dos cuidados<br />

de Saúde nos EUA<br />

- Contributos para o Sistema de Saúde português<br />

enhum país do mundo está<br />

imune a um constante debate<br />

sobre a prestação dos cuida -<br />

dos de saúde aos seus cidadãos:<br />

como garantir o acesso sem que<br />

os custos disparem ou · a qualidade<br />

diminua?<br />

A resposta passa pela definição e<br />

desenvolvimento dos mecanismos de<br />

financiamento. A solução inicia-se<br />

com a formulação dos resultados<br />

desjados, ponderando o comportamento<br />

dos vários protagonistas do<br />

sistema, através de incentivos financeiros.<br />

Os objectivos de qualquer sistema de<br />

saúde são hoje relativamente consensuais<br />

e universalmente aceites:<br />

1- Todos os cidadãos deverão dispôr<br />

de um nível básico de cuidados de<br />

saúde independentemente da sua<br />

capacidade para pagar os respectivos<br />

serviços;<br />

2- O dinheiro gasto nos cuidados de<br />

saúde deve ser utilizado da forma<br />

mais eficiente possível, através de<br />

níveis apropriados de prestação ao<br />

mais baixo custo;<br />

3- O sistema deverá ser efectivo,<br />

garantindo níveis de saúde satisfatórios<br />

para a população, face aos<br />

recursos disponíveis.<br />

O Sistema de Saúde norte-americano<br />

assenta fundamentalmente no sector<br />

Janet Guptill *<br />

privado. Todavia, o Governo Federal<br />

disponibiliza programas de âmbito<br />

nacional para colmatar as desigualdades<br />

que possam ocorrer, na perspectiva<br />

do livre jogo do mercado.<br />

São particularmente bem conhecidos<br />

o "Medicare" (cuidados de saúde<br />

para as pessoas de idade superior a<br />

65 anos e para portadores de certas<br />

doenças catastróficas ou crónicas), e<br />

o "11edicaid" (cuidados de saúde<br />

para os cidadãos de baixos rendimentos),<br />

em vigor desde meados dos<br />

anos 60. Os restantes cidadãos estão<br />

maioritariamente cobertos por segu-<br />

ros privados, suportados frequentemente<br />

pelas entidades empregadoras.<br />

Os resultados proporcionaram<br />

uma rede hospitalar completamente<br />

modernizada e uma prática clínica<br />

com meios tecnológicos sempre actualizados,<br />

aos diferentes níveis:<br />

cuidados em ambulatório, consultórios<br />

particulares, cuidados domiciliários,<br />

com toda a gama de meios de<br />

d~agnóstico, terapêutica e de urgência.<br />

O resultado é hoje, em síntese, um<br />

sistema da mais elevada qualidade,<br />

mas sem olhar a custos.<br />

O crescimento dos custos dos seguros<br />

de saúde tem, todavia, impedido<br />

o acesso àqueles que se tornam<br />

incapazes de pagar os respectivos<br />

prémios, estimando-se em 34 milhões<br />

o número de pessoas não cobertas,<br />

nem por programas governamentais,<br />

nem por qualquer plano de seguro.<br />

As entidades pagadoras do sistema -<br />

governo, empregadores e os próprios<br />

indivíduos directamente - clamam<br />

por uma profunda reforma, que<br />

ponha cobro à explosão dos custos<br />

do sistema.<br />

Assim, a reforma em curso tem como<br />

objectivo prioritário a contenção dos<br />

_custos, por forma a garantir o acesso<br />

financeiro a todos os cidadãos norte­<br />

-americanos. Simultaneamente, os<br />

programas previstos pretendem, cautelosamente,<br />

preservar os altos padrões<br />

de qualidade, já habituais no<br />

sistema de saúde norte-americano.<br />

. Procura-se, assim, por entre as<br />

diferentes alternativas, um novo<br />

tipo de sistema, de "com petição<br />

gerida", onde os incentivos à eficiência<br />

e à efectividade coexistam<br />

com os priscípios do livre acesso e<br />

dos custos controlados. Esta ideia -<br />

"competição gerida" - pode ser .,..<br />

14 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 15


Documento<br />

.,... extremamente útil para outros<br />

países, que também procuram soluções<br />

novas para os respectivos<br />

sistemas de saúde, já que incorpora<br />

o exercício privado da medicina e a<br />

responsabilidade do governo como<br />

entidade financiadora.<br />

O comportamento do consumidor<br />

Qualquer governo deseja que os<br />

cidadãos tenham um acesso fácil<br />

aos cuidados de saúde, em função<br />

das suas necessidades.<br />

Todavia, deseja-se também que os<br />

consumidores utilizem o sistema de<br />

forma responsável - ou seja, procurando<br />

pertinentemente os cuidados ··e<br />

sempre que possível no início das<br />

doenças, quando o seu tratamento é<br />

menos dispendioso.<br />

O papel do consumidor no financiamento<br />

dos cuidados de saúde deve,<br />

assim, incluir os seguintes incentivos:<br />

- o pagamento dos cuidados básicos<br />

deve corresponder à capacidade de<br />

pagar (ao rendimento);<br />

- Os cuidados suplementares deverão<br />

ser pagos directamente pelos indi víd<br />

uos;<br />

- Os exames de "check-up" e as<br />

intervenções precoces devem realizar-se<br />

em tempo oportuno e apropriadamente;<br />

- O consumidor deverá tender para<br />

uma relação consciente com os prestadores<br />

e com os seguradores, com<br />

base no princípio do custo-efectividade,<br />

elevada qualidade e eficiência.<br />

O comportamento do prestador<br />

Os prestadores de cuidados de saúde<br />

deverão ser recompensados por tomarem<br />

opções judiciosas no equilíbrio<br />

entre um tratamento eficaz e o<br />

respectivo custo. Deverão ser penalizados<br />

quando sobreutilizam desnecessáriamente<br />

os recursos. Contudo,<br />

deverão ser advertidos contra a<br />

sonegação de tratamentos necessários<br />

quando está em causa a qualidade<br />

dos cuidados prestados. Os<br />

Todos os cidadãos deverão dispor de um<br />

nível básico de cuidados de saúde,<br />

independentemente da sua capacidade para<br />

pagar os respectivos serviços<br />

incentivos aos prestadores deverão,<br />

assim, maximizar quer a eficiência<br />

quer a efectividade:<br />

- Deverão ser pagos para manter a<br />

saúde dos indivíduos e não apenas<br />

para tratar doenças;<br />

- Os seus honorários deverão encorajar<br />

a inovação, privilegiando modalidades<br />

de tratamento de custo<br />

mais baixo e igualmente efectivas;<br />

- Os pagamentos deverão, sempre<br />

que necessário, cobrir a prestação<br />

de cuidados catastróficos;<br />

- Os prestadores deverão manter um<br />

contacto permanente com os seus<br />

clientes, por forma a identificar<br />

precocemente a emergência das<br />

doenças (quando o seu tratamento é<br />

menos dispendioso) e preservar o seu<br />

estado de saúde.<br />

O comportamento do pagador<br />

Deverá haver um intermediário entre<br />

o governo e o prestador, que exerça<br />

uma pressão constante sobre o sistema,<br />

que faça com que as técnicas de<br />

tratamento sejam mais baratas e<br />

altamente. efectivas. As companhias<br />

de seguros podem desempenhar aqui<br />

um papel crítico e singular, habilitando<br />

o consumidor para discernir<br />

entre diferentes padrões de prestação<br />

por parte dos diferentes prestadores.<br />

A concorrência entre companhias<br />

permitirá, ou não, a cada uma delas<br />

Os prestadores de cuidados de saúde<br />

deverão ser recompensados por tomarem<br />

opções judiciosas no equilíbrio entre um<br />

tratamento eficaz e o respectivo custo.<br />

Deverão ser penalizados quando<br />

sobreutilizam desnecessáriamente os<br />

recursos<br />

ganhar quotas de mercado, jogando<br />

na oferta de planos de seguros mais<br />

baratos ou numa qualidade de<br />

serviços mais elevada para um<br />

dado preço. Elas têm, assim, um<br />

incentivo intrínseco para identificar<br />

e promover prestadores que<br />

melhor estabeleçam a relação custo-efectividade,<br />

e avaliar continuamente<br />

as atitudes e os níveis de<br />

satisfação dos consumidores, funcionando<br />

como uma espécie de<br />

controlo global do sistema:<br />

- Os cuidados de saúde básicos<br />

devem estar incluídos em todos os<br />

planos de seguro;<br />

- Os prémios deverão ser estabelecidos<br />

com base no risco ajustado,<br />

dos respectivos subscritores, mas<br />

iguais para todos os subscritores<br />

do plano;<br />

- As tabelas negociadas entre seguradoras<br />

e prestadores deverão maximizar<br />

a qualidade e minimizar os<br />

custos;<br />

- Os indivíduos que de.sejem ter<br />

acesso a serviços que ultrapassem<br />

a cobertura básica poderão aderir a<br />

programas de seguro suplementares;<br />

- As doenças catastróficas deverão<br />

ser objecto de uma cobertura especial<br />

através de programas governamentais.<br />

A reforma da saúde nos EUA<br />

A estratégia emergente para atingir<br />

aqueles objectivos (acesso, custo­<br />

-efectividade e qualidade) no sistema<br />

de saúde norte-americano, inclui<br />

as seguintes componentes<br />

fundamentais:<br />

1-Acesso Universal<br />

Este a~pecto da actual reforma<br />

considera que o pagamento dos<br />

cuidados de saúde deve assentar<br />

na capacidade de pagar. Adicionalmenet,<br />

o governo garantirá que o<br />

plano básico de saúde oferecido<br />

por qualquer companhia, disponibilize<br />

o mesmo conjunto básico de<br />

serviços de saúde compreensivos:<br />

- Os empregadores serão chamados<br />

a suportar a cobertura de<br />

todos os seus empregados a um<br />

nível correspondente a 80% dos<br />

respectivos prémios de seguro;<br />

- As pessoas, individualmente,<br />

suportarão a parte remanescente<br />

dos respectivos prémios;<br />

- O governo federal dará subsídios<br />

aos indivíduos de baixos rendimentos,<br />

aos desempregados, aos<br />

precocemente aposentados e a<br />

algumas profissões.<br />

2-A Contenção dos Custos<br />

Para a consecução deste objectivo,<br />

têm sido concebidos incentivos<br />

de natureza financeira que encoragem<br />

os prestadores a serem mais<br />

eficientes na prestação de cuidados<br />

de saúde, por um lado, e<br />

encoragem os seguradores a delinear<br />

planos de saúde de baixo<br />

custo que se dirijam efectivamente<br />

às necessidades do consumidor,<br />

por outro.<br />

A componente crítica desta reforma<br />

assenta em planos de saúde<br />

competitivos, que incluirão Organizações<br />

de Manutenção de Saúde<br />

(HMO), Organizações de Prestadores<br />

Preferenciais (PPO), Alianças<br />

de Saúde, etc ...<br />

Será revisto o conceito de "malpraxis",<br />

por forma a limitar as<br />

indemnizações por negligência<br />

médica e reduzir o custo da<br />

"medicina defensiva".<br />

Serão introduzidas restrições orçamentais,<br />

com tectos anuais de ·<br />

crescimento tolerável, por forma a<br />

controlar o nível das despesas em<br />

cuidados de saúde.<br />

lilJi.<br />

w<br />

t"1<br />

e<br />

---:::><br />


O programa para a gestão da qualidade (QM)<br />

exigirá um poderoso sistema de informação e<br />

o ·desenvolvimento de um certificado do perfil<br />

dos prestadores ("report cards") que permita<br />

ao consumidor avaliá-los quanto aos custos,<br />

qualidade e outros indicadores do seu<br />

desempenho<br />


-4111 fazer apreciações isentas e descomprometidas.<br />

A melhor resposta que encontro para<br />

a sua questão é encaminhá-lo para<br />

apreciações diversas que têm sido<br />

feitas ao longo do tempo por entidades<br />

nacionais, estrangeiras e internacionais,<br />

no sentido de prezar a<br />

Instituição, o Programa de <strong>Gestão</strong><br />

<strong>Hospitalar</strong> e muitos ·dos seus ex­<br />

-alunos e docentes. Anote-se, também,<br />

cargos da maior relevância que<br />

têm sido desempenhados por elementos<br />

da ENSP, na área da administração<br />

hospitalar e de cuidados de<br />

saúde, no nosso país e em diversos<br />

organismos internacionais.<br />

Quanto à batalha da conquista de<br />

prestígio pelos administradores (titulados)<br />

no contexto dos profissionais<br />

e dos serviços de saúde, não se<br />

trata de problema sui generis da<br />

sociedade portuguesa.<br />

No contexto português julgo que a<br />

questão está ultrapassada, numa<br />

(chamemO$-lhe) "guerra" em que<br />

uma forte testa-de-ponte foi lançada<br />

há decénios, já, por Coriolano Ferreira<br />

e depois consolidada, permitindo o<br />

progresso .das operações até à "paz"<br />

profissional.<br />

O Curso regular de especialização em<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong> - que irá<br />

recomeçar em Novembro do corrente<br />

ano, com algum refrescamento -<br />

beneficiará, segundo prevejo, de<br />

uma remodelação curricular, a enquadrar<br />

na reorganização das estruturas<br />

e dos programas de ensino da<br />

Escola e no aproveitamento das<br />

sinergias possibilitadas pelas diversas<br />

escolas que integram a UNL.<br />

nos do Curso de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>, e digo isto porque, nos<br />

últimos tempos, tenho estado sobre o<br />

fogo, em rajada, de contactos e<br />

pressões questionando os critérios<br />

de selecção e sugerin~o uma revisão<br />

da matéria.<br />

Claro que a Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es e a<br />

Revista não podem ficar de fora, a<br />

olhar.<br />

A questão que é levantada não tem<br />

uma resposta nem simples nem fácil.<br />

Que os candidatos devem possuir<br />

uma licenciatura é pacífico. Mas<br />

qual? Somente a de <strong>Gestão</strong> de Em-<br />

0 "choque" que representa a integra- presas? Poucas mais, tradicionalção<br />

da Escola na Universidade terá ... mente aceites? A licenciatura em<br />

que ser aproveitado como a oportuni- Medicina, sim ou não? E porque não<br />

dade, a não desperdiçar, para desper- todas?<br />

tar de um certo entorpecimento e dar O que a direcção do Curso decidiu,<br />

respostas bem actuais e adequadas às desde já, foi recorrer a critérios<br />

exigências colocadas por uma moder- muito mais exigentes nas provas de<br />

nidade onde abundam mudanças selecção dos candidatos.<br />

drásticas.<br />

E mais não digo, para manter o<br />

suspense.<br />

GH- Nos últimos anos temos sido<br />

confrontados com críticas quanto<br />

à forma de recrutamento dos<br />

alunos do Curso de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>. Concorda com<br />

uma base de recrutamento alargada<br />

a todas as licenciaturas ou<br />

preferiria, hoje, uma opção mais<br />

restritiva?<br />

CS - Já cá faltava o tema do<br />

recrutamento dos candidatos a alu-<br />

Entrei para o Conselho num momento que poderá representar o início de<br />

uma notável viragem da Organização, de uma autêntica reforma, a que<br />

chamam eufemisticamente "A Resposta da OMS à Mudança Global"<br />

GH- Uma das facetas porventura<br />

menos conhecidas da sua actividade<br />

profissional, prende-se com<br />

os seus variadíssimos e prestigiados<br />

contactos internacionais, o<br />

que lhe atribui uma posição privilegiada<br />

na análise dos sistemas de<br />

saúde da Europa e do Mundo. Foi<br />

Presidente da Federação Internacional<br />

dos Hospitais. Que expe-<br />

22 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

riência recolheu do desempenho<br />

desse cargo? Integra hoje o quadro<br />

de dirigentes da OMS. Como<br />

anali_sa a actividade dà OMS,<br />

comparando a sua missão e as<br />

suas finalidades com o seu impacto?<br />

Que prestígio e autoridade tem<br />

a o~s l)OS países ~o Norte e do<br />

Sul? E semelhante? E diferente? E<br />

porquê?<br />

CS - Seria falsa modéstia não reconhecer<br />

que, de facto, tive e tenho<br />

prestigiados contactos e cargos internacionais.<br />

Tive a sorte de ser aluno,<br />

visitante convidado e frequentador<br />

assíduo de uma instituição fabulosa,<br />

para introduzir no meio e· iniciar nas<br />

lides internacionais alguém que se<br />

inter.esse muito por estas questões de<br />

política e administração de saúde, o ·<br />

King' s Fund de Londres:<br />

Servir nos quadros dirigentes da<br />

Federação Internacional dos Hospitais<br />

tem sido uma experiência interessantíssima.<br />

Foram 12 anos no<br />

Conselho, foi o cargo de vice-presidente<br />

e, mais recentemente, o de<br />

presidente.<br />

Confesso-lhe que algumas vezes tive<br />

suores frios, ao consciencializar as<br />

responsabilidades da função·, ou as<br />

dificuldades das reuniões e assembleias.<br />

Mas tem sido uma experiência que<br />

muito me enriqueceu e fortaleceu,<br />

nomeadamente para conduzir processos<br />

e para enfrentar com serenidade<br />

-"'<br />

O Serviço Nacional de Saúde (SNS)<br />

representa uma conquista e uma peça<br />

muito importante no sector da saúde e<br />

por isso deve ser tratado com muita<br />

cautela e com muito respeito<br />

problemas e obstáculos caseiros... Medicamentos, ou o Código Interna-<br />

0 mesmo sucedeu com a presidência cional sobre o Marketing de Substida<br />

EHMA e com o Conselho Execu- ' tutos do Leite Materno, ou, ainda, a<br />

tivo da OMS.<br />

' , Estratégia para a Segurança, Eficá­<br />

Desta vivência rica e maravilhosa, cia e Qualidade dos Medicamentos e<br />

das atenções recebidas, dos formalismos,<br />

e das pompas que tantas vezes Entrei para o Conselho num momen­<br />

outras Tecnologias Médicas.<br />

me rodearam, das angústias e das to que poderá representar o início de<br />

dificuldades sentidas e das personalidades<br />

que contactei, guardo uma ção, de uma autêntica reforma, a que<br />

uma notável viragem da Organiza­<br />

recordação muito forte e recompensanteposta<br />

da OMS à Mudança Global" e<br />

chamam eufemisticamente "A Res­<br />

Quanto à OMS, que começo agora a que visa, afinal, uma maior transparência<br />

e eficiência, uma visão dos<br />

conhecer melhor, depois de 2 anos de<br />

Conselho Executivo, creio que ela fenómenos menos doutrinária e mais<br />

tem as qualidades e os defeitos de realista e numa postura e gestão mais<br />

todas as agências das Nações Unidas. modernas.<br />

Uma organização e um processo Neste contexto e ambiente, a minha<br />

administrativo impecáveis, aliados a posição crítica, ligeiramente irreverente<br />

segundo os cânones da OMS,<br />

uma elevadíssima qualidade técnica,<br />

mas vergando ao peso de uma estru-<br />

levou a que tivesse sido convidado<br />

tura e burocracia complica- ----------<br />

das. Tudo isto temperado<br />

com o terror de um orçamento<br />

muito cintado.<br />

Todos sabem que tenho sido<br />

um crítico da Organização e<br />

posso informar os leitores<br />

que tenho mantido esta<br />

posição no seio do Conselho.<br />

Com razão ou sem ela<br />

nunca me agradaram certas<br />

abordagens em alguns programas,<br />

um certo radicalismo,<br />

o pendor doutrinário<br />

socializante, o recurso abusado<br />

ao normativismo, a<br />

aversão pelos hospitais e<br />

pelo "management", a "Estratégia<br />

Global Saúde para<br />

Todos", etc, etc.<br />

Conhece-se pouco de várias<br />

coisas boas, êxitos e méritos<br />

da Organização. Os programas<br />

e os resultados conseguidos<br />

no controlo, na eliminação<br />

e na erradicação<br />

Outra das fraquezas do SNS está no tipo de médicos<br />

de clínica geral e modelo de cuidados de saúde<br />

primários, que desenvolveram segundo figurinos,<br />

para mim, desastrosos<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 23<br />

Entrevista<br />

das doenças a nível mun­<br />

dial, são um exemplo.<br />

Como são, também, as !niciativas<br />

sobre Critérios Eticos<br />

para a Promoção de<br />

pelo director geral, Dr. N akajima,<br />

para participar, na semana passada,<br />

numa reunião de trabalho de um<br />

grupo muito restrito de altas patentes<br />

da Organização (eu era o único<br />

membro do Conselho), destinado a<br />

rever e fazer propostas sobre a<br />

Missão, Política e Estratégia Global<br />

da OMS.<br />

Calcule-se! Isto dá bem a noção de<br />

que as coisas estão a mudar... ou<br />

poderão mudar, já que há sempre que<br />

contar com o peso, inércia e tradição<br />

enormes deste organismo internacional.<br />

Poderemos vir a assistir ao desenvolvimento<br />

de conceitos interessantes<br />

na política da OMS e tão importantes<br />

como solidariadade, segurança-saúde,<br />

marketing da saúde, responsabilidade<br />

e obrigações pessoais e colectivas<br />

em saúde.<br />

Sabe que os governos dos países em<br />

desenvolvimento e mais pobres se<br />

apoiam muito na OMS para irem,<br />

eles, buscar prestígio e força, o que<br />

dá à Organização, nesses países, uma<br />

enorme autoridade no campo da<br />

saúde.<br />

Os países muito desenvolvidos e ricos<br />

detêm autoridade sobre a OMS,<br />

nomeadamente através das suas contribuições<br />

para o orçamento.<br />

Imagine-se, por exemplo, o<br />

peso dos EUA, que contribuem<br />

com 24 % para o orçamento<br />

regular e igualmente<br />

de um modo preponderante<br />

para os orçamentos dos programas<br />

especiais.<br />

Mas assiste-se a uma certa<br />

"vingançazinha" por parte<br />

dos países em desenvolvimento<br />

e que surte efeito<br />

devido ao seu peso numérico:<br />

enquanto que os países<br />

desenvolvidos dominam no<br />

lobying, os países pobres<br />

têm tendência para dominar<br />

nas sessões da Assembleia e<br />

do Conselho.<br />

GH - Com a autoridade<br />

que tem, com os conhecimentos<br />

e experiência que<br />

acumulou ao longo de<br />

muitos anos, como médico<br />

hospitalar, como quadro<br />

superior do Ministério<br />

da Saúde e como académico,<br />

tem com certeza uma<br />

visão muito própria do<br />

nosso sistema de saúde . ..,.


_,.. esta realidade, referindo a existência<br />

de um sub-financiamento crónico<br />

do SNS.<br />

Por outro lado, o actual estado da<br />

arte em Saúde e na Medicina, aponta<br />

igualmente para a necessidade de<br />

maiores recursos financeiros, designadamente<br />

pelos seguintes aspectos:<br />

• o agravamento do peso dos idosos<br />

na sociedade portuguesa;<br />

• o rápido e crescente desenvolvimento<br />

tecnológico na área da saúde·<br />

• a '<br />

crescente consciência dos consumidores<br />

portugueses no que respeita<br />

aos problemas de saúde, o que<br />

aumenta as suas expectativas e<br />

concomitantemente as respectivas<br />

' A •<br />

ex1gencias.<br />

Mas, será que a realidade a nível<br />

micro, elaborada essencialmente<br />

através de um diagnóstico "soft", ou<br />

seja, sem um levantamento criterioso<br />

da utilização e aplicação dos recursos<br />

financeiros, bem como da respectiva<br />

eficiência, é comprovada pela<br />

perspectiva macro?<br />

Ou seja, será que Portugal quando<br />

comparado com os outros parceiros<br />

internacionais, tanto no âmbito da<br />

OCDE, como no da União Europeia<br />

(UE), apresenta um esforço financeiro<br />

diferente no sector da saúde? E<br />

nesta eventualidade, este esforço é<br />

inferior ou superior ao dos outros<br />

países?<br />

Observem-se os valores do Quadro 1.<br />

Portugal, em 1991, último ano em que<br />

é possivel proceder a comparações<br />

internacionais, gastou no sector da<br />

saúde 6.77% do PIB.<br />

Estes valores, para a média dos<br />

países da OCDE e da UE foram,<br />

respectivamente, de 9.80% e de ..<br />

7.94%.<br />

Esta proporção de gastos em relação<br />

ao PIB confere a Portugal as últimas<br />

posições para o conjunto da OCDE e<br />

o 8º posto na UE. Os países com<br />

níveis de gastos totais inferiores são<br />

a Dinamarca, a Grécia, a Espanha e<br />

o Reino Unido.<br />

Em termos de gastos totais em saúde<br />

per capita, Portugal só tem dois<br />

países com gastos inf eriqres - a<br />

Grécia e a Turquia. ·<br />

Até ao presente momento, esta análise<br />

descritiva tem sido a única que<br />

sustenta, a nível macro, a insuficiência<br />

de recursos financeiros na saúde<br />

em Portugal.<br />

Mas, será que esta análise mera-<br />

QUADRO 1<br />

Gastos totais em Saúde: % em<br />

relação ao PIB e gastos per capita<br />

1991<br />

Países DTS/PIB DTS-P<br />

AUSTRÁLIA 8.62 1407<br />

AUSTRIA 8.38 1448<br />

BELGICA 7.88 1377<br />

CANADA 10.01 1915<br />

DINAMARCA 6.53 1151<br />

FINLANDIA 8.91 1426<br />

FRANÇA 9.05 1650<br />

ALEMANHA 8.50 1659<br />

GRECIA 5.19 404<br />

ISLANDIA 8.38 1447<br />

IRLANDA 7.34 840<br />

ITALIA 8.33 1408<br />

JAPAO 6.59 1267<br />

LUXEMBURGO 7.24 1494<br />

HOLANDA 8.32 1360<br />

N. ZELANDIA 7.59 1050<br />

NORUEGA 7.58 1305<br />

PORTUGAL 6.77 624<br />

ESPANHA 6.66 848<br />

SUECIA 8.63 1443<br />

SUIÇA 7.88 1713<br />

TURQUIA 4.00 142<br />

UK 6.61 1051<br />

USA 13.40 2867<br />

OCDE (média ) 9.80 1727<br />

UE (média) 7.94 1302<br />

Fonte: OCDE, 1993<br />

# DTS/PIB -:-- % gastos totais de<br />

saúde em relafão ao PIB<br />

# DTS-PC - gastos totais em saúde<br />

per capita, valores com paridade<br />

do poder de compra<br />

mente descritiva é suficiente para<br />

caracterizar o financiamento da saúde?<br />

A resposta em termos técnicos<br />

deve ser claramente negativa.<br />

Essencialmente porque está inteiramente<br />

comprovada, teórica e empiricamente,<br />

a associação entre a<br />

riqueza dos países e o respectivo<br />

nível de gastos de cada país (Newhouse,<br />

1977; Leu, 1986; Poullier, 1986;<br />

Parkin et al. 1987; Schieber e Poullier,<br />

1989; Gerdtham e Jonsson 1991;<br />

Milne e Molana, 1991; Schieber e<br />

Poulier, 1991; Gerdtham, 1992; Gerdtham<br />

e Jonsson,'1992; Gerdtham et al.,<br />

1992; Hitiris e Posnett, 1992; Murthy,<br />

1992; Letsch, 1993).<br />

Esta associação apresenta ainda uma<br />

maior intensidade, visto que os<br />

gastos totais em saúde per capita<br />

crescem mais que proporcionalmente<br />

do que o rendimento per capita (PIB<br />

per capita).<br />

Em termos económicos, este facto<br />

pode ser explicado pela grande elasticidade<br />

dos gastos em saúde em<br />

função da respectiva riqueza.<br />

Qual será, então, a situação de<br />

Portugal, face a esta nova realidade?<br />

Metodologicamente, procedeu-se a<br />

uma análise de regressão simples,<br />

em que a variável dependente é a<br />

despesa total em saúde per capita e a<br />

variável explicativa é o rendimento<br />

per capita.<br />

Os valores utilizados, tanto para as<br />

despesas em saúde, como para o<br />

rendimento per capita, traduzem as<br />

diferenças cambiais e as diferenças<br />

do poder de compra existentes entre<br />

os diversos países (OCDE, 1992).<br />

Através da transformação Box-Cox,<br />

prova-se que o ajustamento duplamente<br />

logarítmico é o mais adequado<br />

para se proceder à análise (Costa e<br />

Nogueira, <strong>1994</strong>).<br />

A possibilidade estatística de utilizar<br />

este ajustamento (duplamente logarítmico)<br />

apresenta ainda uma vantagem<br />

em termos económicos: os<br />

coeficientes de regressão são simultaneamente<br />

elasticidades, pelo que<br />

representam a propensão marginal<br />

para o consumo em saúde, em função<br />

da respectiva riqueza.<br />

Deverá proceder-se a um levantamento<br />

rigoroso e aprofundado sobre a efi<br />

ciência na aplicação dos recurso<br />

financeiros e somente após a análi e<br />

e discus ão destes resultado , per -<br />

pectivar a estratégia financeira para o<br />

sector da saúde.<br />

26 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

Os resultados desta análise (ver Anexo<br />

I), são os seguintes (Quadro II):<br />

tamento dos países da UE apresenta<br />

gastos totais em saúde per capita<br />

QUADRO li - Gastos totais em Saúde per capita: comparação entre os<br />

valores reais e os esperados -1991<br />

Países DTSPC reais DTSPC es erados Diferen a<br />

BÉLGICA 1377 1353 24<br />

DINAMARCA 1151 1369 -218<br />

FRANÇA 1650 1432 218<br />

ALEMANHA 1659 1572 87<br />

GRECIA 404 453 -49<br />

IRLANDA 840 763 76<br />

ITALIA 1408 1293 115<br />

LUXEMBURGO 1494 1693 -199<br />

HOLANDA<br />

PORTUGAL<br />

1360<br />

624<br />

1237<br />

571<br />

123<br />

54<br />

ESPANHA<br />

848<br />

881<br />

-33<br />

UK 1051 1192 -140<br />

Fonte: OCDE, 1993<br />

#DTS-PC - gastos totais em saúde per capita valores com paridade do<br />

poder de compra<br />

• Portugal, em funç ão da sua<br />

riqueza, medida pelo rendimento<br />

per capita, e em relação ao comporsuperiores<br />

aos esperados;<br />

• os países que apresentam uma<br />

relação inversa são a Dinamarca, a<br />

Investigação<br />

Grécia, o Luxemburgo, a Espanha e<br />

o Reino Unido.<br />

Esta contradição existente entre os<br />

níveis micro (falta de recursos) e<br />

macro (valores superiores aos esperados<br />

para o nível de riqueza de<br />

Portugal), deve ser profundamente<br />

analisada.<br />

Pelo que se afigura mais adequado<br />

proceder a um levantamento rigoroso<br />

e aprofundado sobre a eficiência<br />

na aplicação dos recursos financeiros<br />

e somente após a análise e<br />

discussão destes resultados, perspecti<br />

var a estratégia financeira para o<br />

sector da saúde.<br />

A actual estrutura da origem dos<br />

fundos financeiros é racional e<br />

eficiente?<br />

A estrutura dos gastos públicos e<br />

privados em saúde, em Portugal, é<br />

agora amplamente conhecida (Quadro<br />

III).<br />

Destacam-se os seguintes aspectos:<br />

• os 61. 7% de gastos públicos em llJJll><br />

QUADRO Ili<br />

Gastos Públicos em Saúde - % em relação ao PIB, aos Gastos Totais em Saúde e ao Total da Despesa Pública<br />

Gastos Privados em Saúde - % em relação ao PIB e aos Gastos Totais em Saúde<br />

Despesa Pública Total - % em relação ao PIB<br />

~ 990 DPrS/DTS 1990 DPS/TDP 1989 TDP/PIB 1989<br />

AUSTRÁLIA 5.59 2.63 68.00 32.00 15.25 35.00<br />

AUSTRIA 5.58 2.73 67.10 32.90 11.28 49.74<br />

BELGICA 6.77 0.86 88.79 11.21 12.21 55.29<br />

CANADA 6.85 2.64 72.18 27.82 14.72 44.41<br />

DINAMARCA 5.25 1.09 82.78 17.22 9.10 59.18<br />

FINLANDIA 6.32 1.49 80.94 19.06 15.14 38.17<br />

FRANÇA 6.57 2.26 74.43 25.57 13.21 49.30<br />

ALEMANHA 5.96 2.36 71.59 28.41 13.1 o 45.BO<br />

GRECIA 4.14 1.24 77.00 23.00 12.68 31.66<br />

ISLANDIA 7.24 1.09 86.91 13.09 19.18 38.61<br />

IRLANDA 5.20 1.75 74.78 25.22 11.97 41.96<br />

ITALIA 6.28 1.81 77.61 22.39 14.05 41.79<br />

JAPAO 4.71 1.84 71 .95 28.05<br />

LUXEMBURGO 6.59 0.62 91.43 8.57 30.70 15.42<br />

HOLANDA 5.82 2.34 71.30 28.70 10.45 55.86<br />

N. ZELANDIA 5.85 1.31 81.71 18.29<br />

NORUEGA 7.09 0.35 95.25 4.75 13.01 54.69<br />

ESPANHA 5.30 1.29 80.49 19.51 11.79 42.96<br />

SUECIA 6.88 1.75 79.76 20.24 12.77 59.96<br />

SUIÇA 5.05 2.34 68.31 31.69 15.03 34.13<br />

TURQUIA 1.41 2.56 35.59 64.41 2.65 53.89<br />

UK 5.18 1.02 83.53 16.47 12.02 42.08<br />

USA 5.22 7.14 42.23 57.77 14.78 32.94<br />

OCDE {média) 5.43 3.9 58.21 41.79 14.55 36.04<br />

UE {méaia) 5.88 1.82 76.4 23.6 . 12.66 45.5 ~<br />

FONTE: OCDE, 1992 e 1993<br />

# DPWPIB - % despesa pública de saúde em relai;ão ao PIB; # DPrS/PlB - % despesa privada de saúde em relação ao<br />

PIB; DPS/DTS - % da despesa ~ública em saúde em relação à despesa total em saúde; # DPrS/DTS - % da despesa<br />

privada em saúde em relação à espesa total em saúde<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 27


1 nvestigação<br />


1 nvestigação<br />


Relarão entre a despesa pública<br />

e a riqueza dos países<br />

Os resultados da regressão são os seguintes:<br />

Ordinary least squares regression. Dep. Variable = TDP89<br />

Observations = 11 Weights = ONE<br />

Mean of LHS = 0.8652530E + 01 Std.Dev of LHS = 0.4562278E + 00<br />

StdDev of residuais = 0.1353322E + 00 Sum of squares = 0.1648332E + 00<br />

R-squared = 0.9208080E + 00 Adjusted R-squared = 0.9120089E + 00<br />

F[ 1, 9] = 0.1046479E + 03 Prob value 0.2960224E-05<br />

Log-likelihood = 0.7495616E+01 Restr.(á=O) Log-1 = -0.6451726E+01<br />

Amemiya Pr. Criter. = -0.9992030E + 00 Akaike lnfo.Crit. = 0.2164477E-01<br />

ANOVA Source Variation Degrees of Freedom Mean Square<br />

Regression 0.1916605E+01 1. 0.1916605E+01<br />

Residual 0.1648332E+OO 9. 0.1831480E-01<br />

Total 0.2081438E+01 10. 0.2081438E+OO<br />

Durbin-Watson stat. = 1.4928249 Autocorrelation = 0.2535876<br />

Variable Coefficient Std. Errar t-ratio Prob-t-óx Mean of X Std.Dev.of X<br />

························································································································ ··············<br />

Constant -4.4554 1.282 -3.475 0.00699<br />

RPC89 1.3888 0.1358 10.230 0.00000 9.4385 0.31523<br />

Na generalidade os resultados são semelhantes<br />

aos descritos anteriormente, designadamente o<br />

aumento mais que proporcional da despesa<br />

pública per capita em função do rendimento per<br />

capita, o elevado poder explicativo do modelo e a<br />

certeza que os coeficientes de regressão são<br />

estatisticamente diferentes de zero. Os valores<br />

esperados para o total da despesa pública per<br />

capita são apresentados no Quadro IV. 1<br />

* Assistente da Disciplina Autónoma de<br />

Economia da Saúde, da ENSP - Universidade<br />

Nova de Lisboa<br />

** Prof. Auxiliar da Cadeira de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> da ENSP - Universidade<br />

Nova de Lisboa<br />

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BIBLIOGRAFIA:<br />

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SCHIEBER, GJ; POULLIER, JP.- International<br />

health care expenditures: issues and<br />

trends. Heath Affairs, 1991 (10) 106-116.<br />

Valor por insérção<br />

Cor<br />

· Contra capa 190 c.<br />

Verso capa 160 c.<br />

Verso contra capa 150 c.<br />

Página 140 c.<br />

1/2 página 85 c.<br />

1/3 página (ao alto) 54 c.<br />

1/4 página ou rodapé 40 c.<br />

Separata (por página) 70 c.<br />

P/branco<br />

105 c.<br />

65 c.<br />

40 c.<br />

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32 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

r<br />

1 nvestigação<br />

Competição gerida:<br />

contributos para o debate indispensávell 11<br />

O debate acerca da competição gerida (managed competition) dentro<br />

dos sistemas de financiamento e prestação pública de cuidados de<br />

saúde está a dominar os anos noventa, como" Saúde para todos no ano<br />

2000" dominou o debate nos anos oitenta.<br />

egundo Enthoven, "para se<br />

compreender o movimento a<br />

favor da competição e a ideia<br />

de competição gerida, é necessário<br />

compreender a história dos<br />

sistemas não competitivos que hoje<br />

ainda temos. Existindo competição<br />

nos preços, os prestadores competirão<br />

para servir os utentes que<br />

pretendem obter os máximos resultados<br />

pelo dinheiro que gastam. Mas o<br />

conceito de competição nos preços<br />

não significa que seja o preço o<br />

único factor que influencia a escolha<br />

do consumidor. A qualidade e as<br />

características do produto também<br />

aí entram. Talvez até se deva falar<br />

com mais propriedade em competição<br />

pelo valor que o dinheiro pode<br />

comprar" 1 .<br />

Seguindo esta autorizada sugestão,<br />

resolvemos analisar o actual sistema<br />

de organização e administração de<br />

hospitais em Portugal, no que respeita<br />

aos atributos "propriedade",<br />

"tutela", "modelo de gestão", "financiamento"<br />

e "responsabilização".<br />

As características mais<br />

negativas do sistema no que respeita<br />

à sua incapacidade de responder às<br />

exigências de uma gestão estratégica<br />

não são de agora, mas certamente se<br />

acentuaram nos últimos anos devido<br />

a vários factores, entre os quais se<br />

deverão destacar a opção restritiva<br />

no financiamento dos encargos correntes<br />

da saúde a par de uma quase<br />

plétora de recursos para investimento,<br />

a centralização absoluta das<br />

decisões, a destruição das pequenas<br />

ilhas de liberdade institucional ou<br />

profissional com a governamentalização<br />

do aparelho de administração<br />

e de direcção técnica, a renúncia<br />

António Correia de Campos *<br />

tácita à procura de novas fontes e<br />

métodos de financiamento e à sublimação<br />

da responsabilidade pública<br />

na administração central do Estado.<br />

Propõe-se um novo modelo de orga-<br />

nização de hospitais que, sem mudanças<br />

de maior, poderá ser<br />

transposto para todo o sistema prestador,<br />

baseado no conceito da competição<br />

gerida. Para tal, alinham-se<br />

as grandes reformas prévias na área<br />

da propriedade, do modelo de gestão,<br />

da forma de financiamento e da<br />

responsabilização. Reformas que<br />

não são isentas de riscos, alguns<br />

dos quais se identificam, seguidos<br />

das contramedidas para o seu combate.<br />

O objectivo primário deste trabalho<br />

é propiciar um debate inevitável na<br />

inteligência portuguesa que se preocupa<br />

com os problemas de saúde a<br />

nível estratégico. Um debate que<br />

será longo, mas que será tão mais<br />

útil quanto mais cedo começar a ser<br />

travado.<br />

Organização e administração<br />

de hospitais: dois modelos<br />

No final do século XX as opções que<br />

se colocam à organização e administração<br />

dos hospitais em Portugal<br />

oscilam entre dois modelos, referidos<br />

no quadro 1 como A e B. Os<br />

modelos são analisados à luz de<br />

cinco atributos: a propriedade dos.,._<br />

A tendência para a desprofissionalização<br />

dos gestores hospitalares não<br />

encontra suporte doutrinal em nenhum<br />

a teoria organizativa, antes se<br />

opondo a elas: o modelo de gestão<br />

empresarial a cargo de especialistas<br />

independentes do capital, uma das<br />

características d_a sociedade pós-industrial<br />

e tão celebrizado por Sloan e<br />

Drucker, não encontra qualquer eco<br />

nesta prática.<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 33


~estabelecimentos e serviços, quem<br />

é responsável pela sua tutela, isto é,<br />

quem neles determina o sentido geral<br />

da sua acção, qual o modelo de<br />

gestão que adoptam ou por que leis<br />

e sistemas pautam a sua conduta,<br />

quem os financia e como, e perante<br />

quem respondem.<br />

QUADRO I<br />

Modelos-tipo de organização e administração de hospitais<br />

ATRIBUTOS MODELO A MODELO B<br />

A. PROPRIEDADE administração central empresas públicas;<br />

administração local;<br />

ONG's; Universidades;<br />

privados<br />

E.TUTELA<br />

C. MODELO<br />

DE GESTÃO<br />

administração central;<br />

administração corrente<br />

não-profissional<br />

lei geral:<br />

função pública<br />

compras públicas<br />

contas públicas<br />

D. FINANCIAMENTO administração central<br />

(orçamento do Estado)<br />

E. RESPONSABILIZAÇÃO administração<br />

central<br />

Acontece que a situação presente se<br />

aproxima muito mais do modelo A<br />

que do modelo B, a ponto de com<br />

aquele se confundir. Por tal importará<br />

que analisemos as consequências<br />

a que nos tem conduzido a adopção e<br />

o progressivo reforço de tal modelo<br />

de organização e administração.<br />

Iremos seguir de perto os cinco<br />

atributos atrás identificados.<br />

O modelo<br />

de gestão centralizada<br />

O Estado é em Portugal o proprietário<br />

dos· hospitais públicos; um estado­<br />

· proprietário e decisor, não um<br />

estado-regulador. Um estado "pai e<br />

patrão". A ele cabe, através da<br />

admnistração central, decidir da<br />

construção de um novo hospital,<br />

ampliação ou grande remodelação,<br />

da suspensão ou encerramento de<br />

estabelecimentos ou serviços. Cada<br />

investimento hospitalar compete no<br />

orçamento de investimento do estado,<br />

como estradas, portos, escolas e<br />

prisões. O poder municipal não<br />

órgãos delegados dos<br />

proprietários;<br />

administração corrente<br />

profissionalizada<br />

lei geral ajustada;<br />

gestão empresarial<br />

competitiva<br />

terceiros pagadores,<br />

administração local<br />

e central, utilizadores<br />

proprietários;<br />

cidadãos<br />

mente alheios a tais decisões. Daqui<br />

decorrem duas consequências extremas:<br />

o subequipamento, em tempos<br />

de restrição macroeconómica (todo o<br />

período dos anos sessenta a meados<br />

dos oitenta) ou o sobre-equipamento<br />

(no recente período de expansão<br />

económica); conhecem-se os exemplos<br />

da plétora de camas nos distritos<br />

de Santarém e de Aveiro, sem que<br />

o Estado tivesse força de vontade<br />

para se opor às pressões partidárias<br />

locais com base em necessidades de<br />

discutível justificação.<br />

Semelhantemente, quando, por razões<br />

de economia de despesas correntes,<br />

a administração central decide<br />

suspender ou encerrar serviços (o<br />

caso de urgências e de maternidades<br />

em pequenos hospitais) nem uma voz<br />

se ergue fora de Lisboa em defesa da<br />

racionalização económica; o estado<br />

li . li<br />

pai e patrão tem que se defender<br />

sem aliados, suportando as consequências<br />

do seu excessivo paternalismo.<br />

A forma mais visível de exercício da<br />

34 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

costuma ser ouvido nem achado<br />

para tais decisões, quando muito<br />

exige-se-lhe que disponibilize terrenos<br />

e infra-estruturas a preceito. As<br />

instituições não-governamentais<br />

(ONG's), como misericórdias, associações<br />

de socorros mútuos, bem<br />

como o sector privado, são totaltutela<br />

consiste na nomeação dos<br />

órgãos de governo ou de gestão<br />

hospitalar. Cabendo à administração<br />

central essa nomeação, a distância<br />

a que ela se encontra do terreno<br />

leva a afrouxar as restrições da lei ao<br />

livre arbítrio do poder central; não se<br />

estranha que ao longo da última<br />

meia década se tenha acentuado a<br />

tendência para escolhas onde vagos<br />

critérios de "bom senso para gerir"<br />

prevalecem sobre os de especialização<br />

técnica; daí que se tenda a<br />

escolher nem sempre por critérios<br />

de estrita competência profissional.<br />

O tipo de escolha de gestores assim<br />

induzido privilegia a aderência às<br />

directivas centrais à consideração<br />

das ideossincrasias locais, tende a<br />

desconfiar da inovação científica e<br />

tecnológica que contrarie as instruções<br />

centrais de poupança, e a cair<br />

no primarismo anti-grupo profissional,<br />

considerando a profissão médica<br />

como principal responsável pelos<br />

bloqueios com que se confronta.<br />

Esta tendência para a desprofissionalização<br />

dos gestores hospitalares.<br />

não encontra suporte doutrinal em<br />

nenhuma teoria organizativa, antes<br />

se opondo a elas: o modelo de gestão<br />

empresarial a cargo de especialistas<br />

independentes do capital, uma das<br />

características da sociedade pós­<br />

-industrial e tão celebrizado por<br />

Sloan e Drucker, não encontra qualquer<br />

eco nesta prática. Como consequência,<br />

aguardam-se instruções em<br />

questões importantes, quando se<br />

requereria a decisão imediata. A<br />

administração central, enleada por<br />

mil casos, tenderá a confundir estratégia<br />

cóm táctica sempre que sentir<br />

atacadas as base da sua sobrevivência<br />

no poder.<br />

O mode'lo de gestão é inteiramente<br />

dependente das leis da função pública<br />

em matéria de recrutamento '<br />

despedimento, promoção, remuneração,<br />

formação. Tem que suportar as<br />

inelutáveis servidões induzidas pelo<br />

modelo de gestão pública: excesso e<br />

carência de pessoal, impossibilidade<br />

de encerrar ou remodelar serviços<br />

ineficientes, de abrir outros de melhor<br />

balanço ·custo-efectividade (sem<br />

o directo apadrinhamento da administração<br />

central). Não tem liberdade<br />

para premiar ou punir o<br />

pessoal em função do seu desempenho,<br />

para além do previsto nos<br />

estatutos disciplinares. Está inibida<br />

Haverá que Inventar uma nova relação<br />

da administração com os administrados<br />

que permita tirar o melhor<br />

partido dos volumosos meios que<br />

hoje estão ao seu serviço: hospitais,<br />

escolas, grandes organizações públicas<br />

não se podem acolher à mesa<br />

do orçamento com passividade bovina.<br />

de intervir em competição no mercado<br />

interno, ou no mercado público­<br />

-privado. Vive em permanente risco<br />

de ilegalidade para acomodar as leis<br />

públicas às necessidades de uma<br />

gestão flexível. Vê-se obrigada a<br />

duplicar registos contabilísticos para<br />

cumprir leis formais e necessidades<br />

de gestão. Não lhe é permitido<br />

associar a componente financeira à<br />

gestão por objectivos e inovar é-lhe<br />

quase sempre vedado, a menos que a<br />

iniciativa provenha da própria administração<br />

central.<br />

No que respeita a financiamento,<br />

este modelo de gestão encontra-se<br />

na total dependência dos critérios da<br />

administração central. Quando pressionada<br />

pela escassez de recursos<br />

correntes, a administração central<br />

tende a baixar da gestão financeira<br />

estratégica para a gestão de tesouraria.<br />

A confusão na mesma entidade<br />

das funções de proprietário, pagador<br />

e gestor conduzem a dificuldades de<br />

avaliação da performance, pelos<br />

possíveis conflitos de interesse entre<br />

aquelas. Por outro lado, sendo o<br />

financiamento central altamente<br />

fungível, esbate-se a noção de objectivos<br />

e não se procuram ligações<br />

obrigatórias entre recursos, produção<br />

e resultados. Os critérios-limite<br />

de gestão empresarial, como a falência<br />

ou a expansão obrigatória, não se<br />

podem aqui utilizar pela inexistência<br />

de competição, quer a competição<br />

interna, quer a competição externa<br />

gerida (managed competition)2.<br />

Finalmente, no que respeita à responsabiliz;lção,<br />

observa-se alongamento<br />

da cadeia hierárquica e<br />

sublimação 'de responsabilidades. A<br />

responsabilidade primária da instituição<br />

ou dos seus gastores transfere­<br />

-se para o nível de decisão política.<br />

Qualquer pequena crise local acaba<br />

por ter retumbância nacional. Perde­<br />

-se a componente comunitária da<br />

responsabilidade perante a sociedade<br />

civil directamente servida pela<br />

instituição. Daqui decorre que perante<br />

crises, os resultados oscilem entre<br />

os extremos<br />

. .<br />

da impunidade e do<br />

mamque1smo.<br />

Reinventar<br />

a administração da saúde<br />

Ao longo deste século, o estado<br />

moderno absorveu responsabilidades<br />

individuais, familiares e das<br />

comunidades locais, no intuito generoso<br />

de aumentar a segurança dos<br />

cidadãos. Assim se reduziam as<br />

incertezas do amanhã, numa rede<br />

social que regrediu da família pluricelular<br />

para a monocelular e uni­<br />

-individual até, e na mobilidade<br />

geográfica dita da pela passagem<br />

rápida pelos estadias industriais e<br />

pós-industrial. Acontece que esta<br />

mesma administração se não ajustou<br />

à digestão de tais responsabilidades.<br />

As regras básicas da administração<br />

pública portuguesa no que respeita à<br />

função pública, às aquisições e obras<br />

públicas e às contas dos serviços<br />

mantêm-se ao nível de há cinquenta<br />

anos, com pequenos ajustamentos<br />

pouco mais que cosméticos. Haverá<br />

que modernizar profundamente, mas<br />

também que inventar. Inventar uma<br />

nova relação da administração com<br />

os administrados que permita tirar q<br />

melhor partido dos volumosos meios<br />

que hoje estão ao seu serviço: hospitais,<br />

escolas, grandes organizações<br />

públicas não se podem acolher à<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 35<br />

1 nvestlgaçao<br />

mesa do orçamento com passividade<br />

bovina. Têm que assumir o seu papel<br />

de agentes económicos num ambiente<br />

onde cada custo tem que ser<br />

comparado com as vantagens que<br />

traz, dado ser impossível cobrir<br />

todas as necessidades.<br />

Nos países onde a palavra governo<br />

engloba toda a administração, a<br />

expressão "reinventar o governo"<br />

aparece associada ao sentimento<br />

generalizado de excesso de peso de<br />

uma administração federal ou estadual<br />

que pouco foi associada ao<br />

Welfare State 3 . Perante uma administração<br />

pequena, mais reguladora<br />

que tutora, onde o sector privado<br />

ocupa uma gigantesca parte do PIB,<br />

os esforços de reforma têm uma<br />

componente mais imaginativa que<br />

restruturadora. Não será assim em<br />

Portugal onde o peso da administração<br />

entronca na tradição napoleónica<br />

de actuação central mais gestora<br />

que reguladora, mais controladora<br />

que incentivadora. Todavia, as distâncias<br />

estreitam-se com o progresso<br />

das comunicações, os media transformam<br />

um país na aldeia global e a<br />

tecnologia da informação permite<br />

uma partilha do encargo decisório<br />

que não justifica mais a centralização<br />

administrativa.<br />

E num contexto de reforma da<br />

administração que estas propostas<br />

devem ser entendidas. Não se trata<br />

de propôr a destruição do estado de<br />

bem-estar, inscrito sob esse ou outro<br />

nome em todos os cadernos políticos<br />

europeus e em discussão acesa nos<br />

Estados Unidos da América. Não se<br />

trata de o trocar por qualquer<br />

solução milagrosa e de grande alívio<br />

financeiro que transporte para os<br />

indivíduos ou famílias o ónus da<br />

insegurança de que haviam sido<br />

aliviados. Trata-se antes de gerir<br />

mais sabiamente a generosidade<br />

social para que a sua manta cubra<br />

mais e melhor. Trata-se de gerir o<br />

estado de bem-estar de acordo com as<br />

exigências de eficiência na gestão de<br />

grandes agregados económicos. Só<br />

assim o Welfare State sobreviverá<br />

às crises periódicas do crescimento<br />

económico e se manterá o pano de<br />

fundo da justiça social em que<br />

assenta. A sua má gestão, além de<br />

desperdiçar recursos, deseduca os<br />

utilizadores. Fragiliza-se também<br />

com o ser periodicamente utilizada<br />

como objecto de marketing eleitoral. ~


1 nvestigação<br />


1 nvestigação<br />

A condição básica do sistema de<br />

financiamento será a universalidade<br />

de cobertura através da atribuição<br />

pelo orçamento do estado de uma<br />

dotação capitacional a cada cidadão,<br />

destinada a cobrir um esquema<br />

universal de cuidados ou serviços.<br />

Esta dotação variará ligeiramente de<br />

acordo com o sexo, idade e risco de<br />

saúde individual, devido a condicionamentos<br />

geográficos ou ocupacio-<br />

.<br />

na1s<br />

~a integração progressiva dos subsistemas<br />

públicos·. Serão criadas<br />

agências regionais de financiamento,<br />

por conversão parcial das administrações<br />

regionais de saúde, a<br />

quem incumbe proceder ao pagamento<br />

aos prestadores. Os utentes<br />

terão à sua escolha a inscrição na<br />

agência financiadora regional ou<br />

numa companhia ou mútua de<br />

seguros. Caso optem por estas<br />

últimas, serão elas a administrar<br />

as capitações respeitantes aos seus<br />

inscritos. Naturalmente, se as companhias<br />

entenderem oferecer mais<br />

cuidados que os previstos no esquema<br />

universal terão que angariar dos<br />

clientes os prémios necessários para<br />

cobrir os encargos adicionais.<br />

Agências regionais de financiamento<br />

e seguradoras terão a liberdade<br />

de celebrar contratos de prestação<br />

de serviços de saúde com hospitais,<br />

centros de saúde e prestadores<br />

privados, singulares ou colectivos,<br />

sem vinculação de área geográfica,<br />

com base na melhor relação qualidade-preço.<br />

Existirá um sistema<br />

integrado de gestão financeira e<br />

estatística relativa a todos os segurados,<br />

o qual é acessível a seguradores<br />

e prestadores. Tal serviço<br />

publicará informações regulares<br />

sobre a utilização de serviços,<br />

custos e performances. Esta informação<br />

constituirá a base das escolhas<br />

dos indivíduos em relação à<br />

sua seguradora e das seguradoras<br />

em relação aos prestadores. O duplo<br />

mecanismo de competição assegurará<br />

o funcionamento do mercado<br />

interno de cuidados de saúde dentro<br />

do SNS. O pagamento dos serviços<br />

prestados será feito com base em<br />

sistemas de classificação de doentes,<br />

oscilando os preços entre limites<br />

máximos e mínimos. Os<br />

orçamentos de funcionamento das<br />

instituições serão prospectivos, podendo<br />

receber adiantamentos periódicos<br />

das agências de<br />

financiamento que com elas contratam,<br />

com acerto de contas no final<br />

do ano. Os orçamentos de investimento<br />

serão fixados a nível da<br />

instituição, pendente de aprovação<br />

da entidade de tutela. Os recursos<br />

de investimento poderão ser originados<br />

no auto-financiamento, em<br />

empréstimos no mercado financeiro,<br />

em subvenções do orçamento do<br />

estado ou em contratos-programa<br />

com as agências financiadoras.<br />

Responsabilização: A responsabilização<br />

das administrações será assegurada<br />

perante os proprietários e<br />

por estes perante a tutela. Será<br />

criada uma comissão nacional de<br />

acreditação que visitará cada estabelecimento<br />

pelo menos uma vez por<br />

ano; as decisões desta comissão terão<br />

carácter executório. Será incentivada<br />

a associação de hospitais a nível<br />

geográfico e a nível nacional, esta<br />

última sob a forma de federação de<br />

associações, com funções que podem<br />

incluir o planeamento e a garantia<br />

de qualidade.<br />

O modelo de administração de saúde<br />

que atrás se apresenta deverá condu-<br />

zir à integração progressiva de todos<br />

os serviços, começando pelos hospitais.<br />

Mais tarde passará aos cuidados<br />

de saúde primários e à saúde<br />

mental.<br />

Alguns riscos<br />

A cnaçao de um mercado interno<br />

nos cuidados de saúde financiados<br />

pelo Estado não é isenta de problemas;<br />

para além das dificuldades<br />

operacionais de iniciar um modelo<br />

de gestão estratégica da saúde completamente<br />

novo, haverá (a) questões<br />

associadas à escassez de informação<br />

necessária às escolhas dos agentes<br />

económicos (utentes, seguradoras e<br />

prestadores), (b) problemas gerados<br />

pela minimização de risco por parte<br />

dos seguradores, (c) encargos adicionais<br />

com a complexa regulação do<br />

sistema, ( d) riscos de cartelização<br />

por parte de seguradores e prestadores<br />

e (e) dificuldades em fazer reflectir<br />

os valores societais num mercado<br />

que se pretende competitivo?<br />

Informação necessária a escolhas<br />

livres é hoje escassa: os cidadãos,<br />

ao escolherem entre a agência seguradora<br />

pública ou uma das privadas,<br />

terão de início as maiores dificuldades<br />

por falta de informação sobre a<br />

conduta passada das seguradoras e<br />

tenderão a deixar-se conduzir por<br />

argumentos de prestígio empresarial,<br />

e mais eficaz publicidade de<br />

benefícios ilusórios. Legislação de<br />

protecção do consumidor terá que<br />

ser criada para esta área de actividade<br />

e mecanismos provisórios de<br />

regulação administrativa poderão<br />

ter que ser preparados, até que a<br />

experiência faculte incentivos auto­<br />

-reguladores. Problemas semelhantes<br />

poderão ocorrer no mercado prestador:<br />

insuficiente informação sobre a<br />

efectividade, qualidade e custo dos<br />

cuidados prestados poderão levar os<br />

pagadores-seguradores a escolhas<br />

sub-óptimas. A solução para este<br />

problema terá uma gestação lenta,<br />

dependente da capacidade de implantação<br />

de sistemas integrados de<br />

informação associando as condições<br />

de saúde às actividades necessárias<br />

para as manter e melhorar. Será<br />

porventura necessário correr o risco<br />

de considerar como necessidades de<br />

saúde os cuidados utilizados para<br />

aliviar dadas formas de morbilidade,<br />

o que será uma medida operacional<br />

conceitualmente incorrecta e potencialmente<br />

prejudicial. O estudo dos<br />

tratamentos mais custo-efectivos para<br />

cada doença será um indispensável<br />

método para ajudar seguradores<br />

e prestadores a maximizarem as suas<br />

funções de utilidade.<br />

Os problemas da selecção adversa de<br />

utentes por parte das seguradoras e<br />

de descarte de utentes (patient dumping)<br />

por parte de prestadores terá<br />

que ser resolvido pela autoridade<br />

reguladora: cada seguradora que<br />

pretenda intervir no mercado deve<br />

ter que aceitar uma amostra representativa<br />

de todos os grupos em risco<br />

existentes na sociedade; cada prestador<br />

terá que aceitar um código de<br />

conduta que o deverá impedir de se<br />

descartar de clientes indesejáveis.<br />

Certamente que as diferenças de<br />

capitação-prémio podem contribuir<br />

para uma distribuição mais aleatória<br />

do risco, mas nunca expurgarão o<br />

mercado das potenciais distorções da<br />

selecção adversa. Mas também não é<br />

de excluir que a especialização<br />

produtiva de certos prestadores em<br />

áreas aparentemente não-atractivas<br />

gere correspondentes ganhos de<br />

eficiência.<br />

Os encargos adicionais com a complexa<br />

regulação do sistema são<br />

inevitáveis e têm um custo de<br />

oportunidade que deve ser confrontado<br />

com o custo de se manter uma<br />

situação onde não há mecanismos de<br />

contenção de custos para além do<br />

envelope orçamental, o risco de se<br />

gerarem dívidas cada vez mais perturbadoras<br />

de uma gestão eficiente.<br />

Acresce que os mecanismos administrativos<br />

de garantia de qualidade<br />

estão longe de razoável eficácia,<br />

quando comparados com a alternativa<br />

de competição gerida entre prestçi.dores.<br />

Os riscos de cartelização do sistema<br />

são reais: no mercado segurador a<br />

ausência de interessados em áreas de<br />

menor densidade populacional e<br />

económica levará ao domínio pela<br />

agência pública dessa área geográfica,<br />

com eventuais acréscimos de<br />

custos médios. Porém,· a associação<br />

ou fusão de seguradoras para obtenção<br />

. de economias de escala nos<br />

custos de transacção do sistema não<br />

será forçosamente uma má consequência;<br />

tal como a procura de<br />

economias de escala na prestação<br />

de serviços pode aumentar a eficiência<br />

interna dos prestadores. Salva-<br />

Os passos para a reforma podem<br />

começar no terreno do debate público,<br />

bem antes da iniciativa legislativa,<br />

como aconteceu nos Países<br />

Baixos: o relatório Dekker de 1987<br />

foi precedido de discussão propiciadora<br />

e de uma reforma do financiamento<br />

hospitalar em 1992, que abriu<br />

o caminho à reforma integral do<br />

sistema de saúde ..<br />

guardas da livre concorrência têm<br />

que ser criadas por via reguladora.<br />

A necessidade de se fazerem reflectir<br />

os valores societais nestes mercados<br />

que se pretendem competitivos tem<br />

que ser garantida através de órgãos<br />

de tutela de nível regional que<br />

controlem o funcionamento do sistema<br />

face aos valores da equidade, da<br />

satisfação dos utilizadores e do<br />

sentido de participação comunitária.<br />

A multirepresentatividade de<br />

tais órgãos de tutela e a realização<br />

de auditorias e avaliações regulares<br />

poderão fazer aproximar dos valores<br />

societais a actividade desenvolvida<br />

no sector.<br />

Conclusão<br />

Uma reforma desta complexidade e<br />

extensão não pode ser implantada<br />

por uma milagrosa e singular mudança<br />

de legislação. Ela tem de ser<br />

· precedida de inúmeros estudos da<br />

administração, dos meios académicos<br />

e dos agentes económicos e de<br />

um intenso debate político, para<br />

testar a sua viabilidade. Os passos<br />

para a reforma podem começar no<br />

terreno do debate público, bem antes<br />

da iniciativa legislativa, como aconteceu<br />

nos Países Baixos: o relatório<br />

Dekker de 1987 foi precedido de<br />

discussão propiciadora de uma reforma<br />

do financiamento hospitalar em<br />

1992, que abriu o caminho à reforma<br />

integral do sistema de saúde. E, seis<br />

anos passados, está-se ainda longe de<br />

uma aplicação total das conclusões<br />

do relatório. Todavia, o caminho foi<br />

claramente iniciado e não será maís<br />

possível regredir ao modelo antigo.<br />

O tecido empresarial do sector segurador<br />

foi profundamente reorganiza-<br />

do e os prestadores passaram a<br />

responder a estímulos de custo-efectividade.<br />

Para já a administração central do<br />

Estado pode iniciar a construção do<br />

sistema informativo que suportará o<br />

modelo decisório. Mesmo que a<br />

reforma nunca seja adaptada, o<br />

esforço não será perdido. Mais e<br />

melhor informação sobre as complexas<br />

relações entre as necessidades de<br />

saúde da população e o que a<br />

sociedade oferece para as tentar<br />

satisfazer será um importante contributo<br />

para o progresso. 1<br />

(1) Comunicado apresentado no Forum "<strong>Gestão</strong><br />

<strong>Hospitalar</strong>, Novos Rumos", realizado em Lisboa<br />

em Dezembro de 1993<br />

* Professor catedrático da ENSP - Lisboa,<br />

em comissão de serviço no Banco Mundial -<br />

Washington DC<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. Enthouen, Alain C. Managed Competition in<br />

Health Gare Financing and Deliuery: History,<br />

Theory and Practice, Paper yresented for a<br />

Robert Wood Johnson Foundation Under its<br />

Changes in Health Gare Financing lnitiatiue,<br />

Washington, DC, January 1993<br />

2. Congress of the United States. Congressional<br />

Budget Office, Manag_ed Competition and its<br />

Poteritial to Reduce Health Spending, a CBO<br />

Stu_dy, May 1993<br />

3. Více·President Al Gore, Creating a Government<br />

that Works Better and Costs Less, The<br />

Report of the National Performance Review,<br />

SeQt_ember 1993, Plume-Penguin Books<br />

4. Maarse J. The insurer-provider relationship in<br />

health care, from administration to strategic<br />

management: the Dutch case, Eur. J. Public<br />

Health 1993; 3: 72·76<br />

5. Campos A. C. Ref arma da Saúde em Portugal.<br />

Cenários de f antes de Financiamento e Estatuto<br />

de Prestadores, Nova Economia, Reu. Ass. Est.<br />

Fac Econ. UN Lisboa, 6·3. Trim.1992<br />

6. Ouretueit J., Purchasing f ar health gain; the<br />

problems and prospects for purchasing for health<br />

gain in the "managed markets" of the NHS and<br />

other European health systems, Eur. J. Public<br />

Health 1993; 3: 77·84<br />

38 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

Ge.stão <strong>Hospitalar</strong> 39


Ace»nt~cim .. nte»<br />

Visita de Estudo<br />

aos Estados Unidos<br />

viagem de estudo aos EUA<br />

promovida pela Associação<br />

Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (AP AH),<br />

de 25 de Março a 8 de Abril de <strong>1994</strong>,<br />

tinha em vista o contacto com<br />

organismos públicos e privados de<br />

saúde, de particular relevo e renome<br />

internacional, que dessem uma<br />

visão dos avanços técnico-científicos<br />

na área da gestão hospitalar e<br />

uma percepção alargada das novas<br />

correntes actuais da política americana<br />

para a Saúde.<br />

O conjunto de visitas e meetings<br />

realizados foi importante para a<br />

nossa formação, pela variadíssima<br />

gama de comunicações que nos<br />

foram apresentadas, abrangendo aspectos<br />

plurifacetados da organização<br />

da saúde na América e dos movimen-<br />

Arminda Cepeda *<br />

tos de opinião particularmente efervescentes<br />

a propósito da reforma<br />

Clinton.<br />

Para se ter uma perspectiva global do<br />

programa de visitas efectuado, apresentarei<br />

a seguir os tópicos das<br />

principais visitas e encontros oficiais<br />

que nos foram proporcionados.<br />

GREATER NEW YORK HOSPITAL<br />

ASSOCIATION (GNYHA) - Nova Iorque<br />

Este encontro realizou-se na sede da<br />

GNYHA, uma associação de 152<br />

hospitais e estabelecimentos de saúde<br />

para doentes de evolução prolongada<br />

(long term care facilies) da área<br />

metropolitana de Nova Iorque, que<br />

tem por objectivo desenvolver acções<br />

conjugadas para a melhoria do acesso<br />

e dos cuidados prestados à população,<br />

designadamente intervindo na política<br />

de saúde, propondo reformas e defendendo<br />

os interesses dos seus<br />

associados (instituições de saúde)<br />

junto das instâncias do poder ou dos -<br />

próprios tribunais.<br />

Este meeting envolveu a apresentação<br />

de várias comunicações sobre o sistema<br />

de saúde americano e, em contraponto,<br />

sobre as alterações previstas<br />

para este sistema na reforma Clinton,<br />

cujo projecto se encontra em aceso<br />

debate no Senado.<br />

O ponto alto deste encontro foi, sem<br />

dúvida, a intervenção do dr. Ruy V.<br />

Lourenço, reitor da N ew Jersey<br />

Medical School, um médico português<br />

radicado nos EUA há 20 anos, e<br />

simultaneamente uma individualidade<br />

de grande renome científico e técnico<br />

em Nova Iorque.<br />

Deu-nos um panorama assaz vivo da<br />

organização e funcionamento dos<br />

Hospitais na América, em confronto<br />

com os hospitais portugueses, que<br />

tem visitado nos últimos anos.<br />

BETH ISRAEL SOUTH HOSPITAL<br />

- Nova Iorque<br />

O Beth Israel South Hospital é um<br />

hospital privado, de fundação judaica,<br />

situado na baixa de Manhattan ( lower<br />

Neil Neuberger, representante da CPSC ·Empresa de Comunicação que preparou a viagem, durante a recepção, oferecida<br />

pelo embaixador português Francisco Knopfeli<br />

40 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

1.<br />

Intervenção de Scott Parker, presidente da Federação Internacional dos Hospitais e presidente do Grupo IHC, que gere uma<br />

importante cadeia hospitalar do Utah<br />

Manhattan), que é apenas uma peça<br />

de um sistema de cuidados de saúde<br />

extremamente vasto - The Beth Israel<br />

Health Care System, envolvendo uma<br />

rede de 13 estabelecimentos de saúde<br />

nas áreas de Manhattan e Bronx, e<br />

departamentos vários de investigação<br />

e ensino médico em ligação com<br />

importantes centros uiniversitários.<br />

A visita foi breve, sendo, porém, de<br />

destacar os Serviços de Imagiologia,<br />

de alto avanço tecnológico na área da<br />

tomografia cardiológica, e com sofisticados<br />

sistemas computorizados.<br />

Outra vertente de interesse foi o<br />

projecto-piloto do Departamento de<br />

Educação para o Acolhimento do<br />

Utente, que desenvolve uma matriz<br />

de atendimento personalizado ao<br />

doente, em todos os níveis do seu<br />

percurso hospitalar, e está ensaiando<br />

formas de habitat familiar, em alguns<br />

serviços, por forma a que o doente<br />

possa recriar um ambiente idêntico ao<br />

do seu quotidiano em família (sala de<br />

convívio, kitchnette, jogos, leitura,<br />

visitas privadas, auto-administração<br />

de medicamentos, etc.)<br />

Esta visita envolveu ainda, durante o<br />

almoço de trabalho, a apresentação de<br />

várias comunicações com dados estatísticos<br />

relativos ao Beth Israel Hospital<br />

e à sua rede de serviços integradas,<br />

salientando-se a articulação<br />

com as estruturas comunitárias de<br />

saúde.<br />

U.S. PUBLIC HEALTH SERVICE OFFICE<br />

- Washington<br />

Este encontro teve lugar na sede do<br />

U.S. Public Health Service Office,<br />

organismo central do Department of<br />

Health Human Services (correspondente<br />

ao nosso Ministério da Saúde),<br />

estando presentes vários representantes<br />

de departamentos ou direcções­<br />

-gerais, que integram a rede de gabinetes<br />

ministeriais dedicados à saúde<br />

pública.<br />

Este conjunto de comunicações permitiu-nos<br />

uma visão global das áreas<br />

de intervenção destes organismos<br />

centrais, que cobrem a política geral<br />

para a saúde pública, a pesquisa e<br />

disseminação de informação para a<br />

melhoria da qualidade dos serviços,<br />

estudos científicos sobre eficiência e<br />

eficácia nos cuidados de saúde, a<br />

distribuição equitativa de recursos<br />

humanos para áreas de população<br />

desfavorecida, e ainda um importante<br />

enfoque na política de medicamentos e<br />

de nutrição, salientando-se as normàs<br />

estritas para avaliação e controlo da<br />

qualidade dos medicamentos e produtos<br />

alimentares.<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 41<br />

DYRKSEN SENATE OFFICE BUILDING<br />

- Washington<br />

Esta sessão teve lugar na sede dos<br />

Serviços Centrais do Senado americano,<br />

a Assembleia Legislativa, que<br />

juntamente com a Câmara dos Representantes<br />

integra o Congresso, órgão<br />

supremo legislativo nos EU A.<br />

No Dirksen Building funcionam efectivamente<br />

todos os serviços técnicos e<br />

administrativos de apoio ao Senado,<br />

envolvendo uma gama multiforme de<br />

comités, secretariados, e gabinetes<br />

técnicos que permanentemente estudam<br />

os projectos legislativos a apresentar<br />

ao Senado, polarizando-se em<br />

torno dos 100 senadores, que dispõem,<br />

individualmente, de um alargado<br />

staff de consultores e executivos.<br />

O meeting constou de um painel de<br />

curtas exposições que se centraram<br />

essencialmente em abordagens sucessivas<br />

e sob vários prismas do projecto<br />

· da reforma Clinton, proferidas por<br />

elementos qualificados do staff dos<br />

senadores que integram o comité que<br />

deverá apresentar o parecer final ao<br />

Senado.<br />

. Através do painel foi-nos dado constatar<br />

as múltiplas discussões em curso<br />

e o leque alargado de consultas que os<br />

senadores promovem junto das suas<br />

"bases de apoio" e, por outro lado, o ...


-11111 sistema complexo de lobbies que<br />

actuam nos bastidores para influenciar<br />

as decisões do Senado em favor dos<br />

seus grupos de interesses.<br />

Intervieram ainda representantes de<br />

associações de hospitais (a District of<br />

Columbia Hospital Association e a<br />

American Hospital Association), entidades<br />

que têm grande peso político e<br />

comunitário nos Estados Unidos, bem<br />

como representantes de organizações<br />

privadas de saúde, que funcionam na<br />

óptica do seguro de saúde (Blue<br />

Cross/Blue Shields).<br />

JOHNS HOPKINS UNIVERSITY SCHOOL<br />

OF HYGIENE AND PUBLIC HEALTH<br />

- Baltimore<br />

O programa incluia esta visita, como<br />

prioritária, dado o renome internacional<br />

e o prestígio científico desta escola<br />

universitária, considerada "referência<br />

obrigatória" para todos os institutos<br />

universitários de Saúde Pública, a<br />

nível mundial.<br />

A J ohns Hopkins School detém<br />

actualmente o top dentro das suas<br />

congéneres nos EUA (a par de<br />

Harvard, em Dallas), e nele estão<br />

sediados inúmeros centros de pesquiza<br />

que colaboram activamente com a<br />

Organização Mundial de Saúde em<br />

Hospital de Crianças em Utah em Salt Lake City<br />

estudos e proj ectos no terreno em 40<br />

países do mundo.<br />

A Escola dispõe de um quadro de 365<br />

docentes full time e é frequentada por<br />

mais de 1300 alunos, oriundos de 78<br />

países.<br />

Neste meeting colaboraram o reitor e<br />

vários docentes qualificados, com<br />

temas de actualidade, como programas<br />

de ·educação para a saúde em<br />

zonas rurais, desenvolvimento de<br />

planos de saúde pública de emergência<br />

nos países subdesenvolvidos, o<br />

planeamento da Saúde na Europa<br />

versus sistema de saúde americano.<br />

Foi interessante a este propósito a<br />

ênfase dada ao Serviço Nacional de<br />

Saúde existente em Portugal, pela sua<br />

filosofia subjacente de solidariedade e<br />

protecção social de base igualitária,<br />

que seria lamentável destruir, para<br />

correr atrás de soluções liberalizantes,<br />

quando na América se procura<br />

neste momento controlar os prejuízos<br />

que resultaram de posições excessivamente<br />

liberalizantes.<br />

O momento mais interessante deste<br />

painel foi, porém, a intervenção de um<br />

jovem médico português, que está a<br />

concluir a sua especialidade em Oncologia<br />

(transplante de medula) no<br />

Hospital da Universidade de Johns<br />

42 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

Hopkins, após ter feito Medicina<br />

Interna no Hospital de Dallas.<br />

O dr. José Luís Passos Coelho<br />

(H.S.M.) deu-nos. uma panorâmica<br />

muito viva da organização hospitalar<br />

americana, esbatendo certos tabús,<br />

como o da "menor qualidade" dos<br />

hospitais públicos. Considera que<br />

estes são, em muitos casos, modelares<br />

e que o ensino é de elevado nível.<br />

Mas o reitor da J ohns Hopkins<br />

deixou, por fim, uma mensagem<br />

urgente para os portugueses: não<br />

construam mais hospitais; melhorem<br />

os hospitais existentes; façam a conexão<br />

dos centros de saúde com os<br />

hospitais.<br />

STANFORD UNIVERSITY HOSPITAL<br />

- Stanford (San Francisco)<br />

Este moderno hospital universitário,<br />

situado a 30 milhas a sul de San<br />

Francisco, na Califórnia, é peça­<br />

-chave do Stanford University Medical<br />

Center, um campus universitário<br />

que integra, além de uma escola<br />

médica, um vasto conjunto de clínicas<br />

(centros de consultas especializadas)<br />

e um hospital pediátrico.<br />

Este campus universitário é o mais<br />

famoso do Oeste Americano e para ele<br />

acorrem doentes dos mais variados<br />

pontos do mundo, em busca dos<br />

tratamentos mais avançados em certos<br />

domínios (transplante da medula,<br />

cirurgia cardiovascular, multitransplantes,<br />

cirurgia pulmonar, nefrologia<br />

e diálise, hematologia, epilepsia,<br />

etc.).<br />

O Stanford University Hospital, com<br />

uma lotação de 549 camas, está assim<br />

vocacionado para "serviços de ponta",<br />

sendo, pois, um hospital de 3º nível,<br />

ou seja, de último recurso, na hierarquia<br />

da prestação de cuidados. A ele<br />

só acorrem os doentes triadas pelos<br />

hospitais centrais dos vários Estados,<br />

ou credenciados pelas autoridades<br />

máximas de saúde de países estrangeiros,<br />

e após um estudo prévio rigoroso<br />

do Stanford Hospital em que intervêm<br />

as telecomunicações e as bases de<br />

dados computorizados.<br />

As suas instalações têm sofrido beneficiações<br />

sucessivas ao longo dos seus<br />

30 anos de existência, sendo extremamente<br />

modernas algumas alas do<br />

edifício, que privilegiam o acolhimento<br />

ao utente e aos seus familiares, com<br />

enormes salas de lazer e de actividades<br />

culturais (música ao vivo, galeria de<br />

pintura, etc.).<br />

Esta visita contou também com uma<br />

sessão prévia, de várias comunicações,<br />

pelas autoridades máximas do Hospital,<br />

que apresentaram as linhas de<br />

orientação da sua actividade, com<br />

ênfase na orgânica de administração,<br />

em que dominam os circuitos informatizados,<br />

com aplicação dos mais<br />

avançados programas na área da<br />

informação para a gestão e da informática<br />

médica, procurando-se na fase<br />

actual ultrapassar os programas sectoriais<br />

para obter uma gestão integral<br />

dos sistemas, numa óptica globalizante<br />

de controlo de custos/eficácia.<br />

LDS HOSPITAL - Salt Lake City<br />

O LDS Hospital (Later Day Saints<br />

Hospital) é um hospital muito moderno,<br />

de 500 camas, em Salt Lake City,<br />

capital do Estado de Utah.<br />

Este Hospital faz parte de um sistema<br />

integrado e completo de serviços de<br />

saúde, do Estado de Utah (abrangendo<br />

ainda dois Estados limítrofes -<br />

Idaho e Wyoming), designado por<br />

Intermountain Health Care (IHC),<br />

que contém uma rede de 90 estabelecimentos.<br />

prestadores de cuidados,<br />

desde cuidados primários a serviços<br />

de evolução prolongada para idosos ou<br />

doentes crónicos, pretendendo-se um<br />

acompanhamento e apoio à população,<br />

ao longo de toda a sua vida, e em todas<br />

as situações de crise ou doença, sem<br />

descurar uma gama vasta de acções e<br />

serviços vocacionados para a prevenção<br />

e educação para a saúde.<br />

O nome do Hospital provém da sua<br />

fundação pelo grupo religioso Later<br />

Day Saints (Igreja Mormon's), que<br />

tem a sua sede em Salt Lake City.<br />

Recentemente, porém, o Hospital foi<br />

adquirido por uma sociedade independente,<br />

de fins beneficentes, que<br />

gere a rede de Serviços do Intermountain<br />

Health Care.<br />

Num meeting realizado num.a das<br />

salas de conferências, foi-nos apresentado<br />

um completo programa de informática<br />

médica - (HELP), o mais<br />

avançado nesta área, que se desenvolve<br />

a partir de um computador central<br />

com terminais em todos os serviços de<br />

Apoio Médico e computadores pessoais<br />

na cama de cada doente, e tem<br />

por base uma gestão integrada e<br />

interactiva de todas as informações<br />

laboratoriais, de terapêutica medicamentosa,<br />

registos de sinais vitais pelos<br />

Serviços de Enfermagem, de diagnóstico<br />

clínico e sucessivas correcções<br />

evolutivas deste, em função de novos<br />

dados complementares, que permitem<br />

a aferição constante do diagnóstico e<br />

das terapêuticas , num f ead-back<br />

permanente do circuito, de base<br />

sistémica.<br />

PRIMARY CHILDREN'S MEDICAL<br />

CENTER - Salt Lake City<br />

Esta última visita teve lugar no<br />

Hospital Pediátrico mais moderno do<br />

Estado de UT AH, que foi inaugurado<br />

apenas há 2 anos e está integrado no<br />

Sistema de Cuidados IHC.<br />

Este Centro Pediátrico tem ainda<br />

várias extensões ao longo da região,<br />

clínicas de consulta e serviços de<br />

reabilitação e ainda uma unidade de<br />

Psiquiatria Infantil, de 36 camas.<br />

O Hospital Pediátrico, de 250 camas,<br />

dispõe de avançados serviços na área<br />

Acontecimento<br />

da cirurgia cardiovascular e uma<br />

unidade de Cuidados Intensivos de<br />

alta tecnologia.<br />

As áreas de ludoterapia e psicomotricidade<br />

são muito atractivas, sendo<br />

dado particular relevo ao bem-estar<br />

das crianças para além das horas de<br />

tratamento.<br />

Todo o Hospital revela um clima de<br />

humanização, onde a serenidade, a luz<br />

e a decoração dos interiores é reconfortante.<br />

Durante o almoço de boas-vindas, em<br />

que fomos recebidos com grande<br />

gentileza, o presidente da Intermountain<br />

Health Care Inc., Mr. Scott<br />

Parker, que é também o presidente ·<br />

da Federação Internacional dos Hospitais,<br />

expôs as linhas gerais deste<br />

sistema integrado de cuidados, que<br />

pretende ser um modelo completo de<br />

saúde global comunitária.<br />

Em seguida foi aberto um interessante<br />

debate sobre a reforma Clinton, de<br />

que Mr. Parker é um dos principais<br />

consultores, a nível federal.<br />

CONCLUSÃO<br />

Para concluir penso que devo salientar<br />

o óptimo programa que nos foi<br />

proporcionado, não só a nível profissional,<br />

mas também social (também<br />

neste campo foi muito aliciante) sendo<br />

aqui de realçar a qualidade dos<br />

serviços do Center for Public Service<br />

Communications - uma sociedade<br />

americana, de consultadoria e public<br />

relations, na área da saúde, sediada<br />

em Washington, que programou toda<br />

a viagem e prestou apoio constante aos<br />

participantes ao longo do percurso.<br />

Mas um agradecimento final deve ser<br />

feito à Associação Portuguesa de<br />

Administradores <strong>Hospitalar</strong>es, cuja<br />

direcção, e em especial, o seu presidente,<br />

dr. Manuel Delgado, desenvolveram<br />

os melhores esforços para o seu<br />

êxito. 1<br />

* Administradora hospitalar<br />

Destaque-se a recepção do Embaixador de<br />

Portugal em Washington, dr. Francisco Knopfeli,<br />

pela total disponibilidade e simpatia inexcedível,<br />

e o convívio com a colónia portuguesa de S. José<br />

da Califórnia {oriund@ essencialmente do arquipélago<br />

dos Açores), sob o patrocínio do nosso<br />

cônsul-geral em San Francisco.<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 43


Ciclo de Encontros/94<br />

<strong>Gestão</strong> da Saúde em Portugal:<br />

Que opções? Que Futuro?<br />

1 Encontro: "A <strong>Gestão</strong> Privada<br />

dos Hospitais Públicos"<br />

PORTO- 29 de Abril, 94<br />

Convidado: José Lopes Martins,<br />

secretário de Estado da Saúde<br />

A Direcção da APAH decidiu, este ano,<br />

abrir o Ciclo de Encontros na cidade do<br />

Porto. O tema e a personalidade<br />

convidada mobilizaram um elevado<br />

número de participantes e o debate,<br />

bastante vivo, prendêu durante cerca<br />

de 4 horas, a atenção de todos.<br />

<strong>Gestão</strong> Privada do Hospital Público.<br />

Era necessário delimitar cQm rigor o<br />

objecto a privatizar. E foi justamente<br />

essa uma das principais preocupações<br />

presentes no discurso do Secretário de<br />

Estado.<br />

Não questionando o Direito dos cidadãos<br />

à protecção da sua saúde, que<br />

decorre do texto constitucional, o dr.<br />

Lopes Martins esclareceu, desde logo,<br />

que não estavam em causa, nem a<br />

titularidade nem a responsabilidade<br />

do Estado. De facto, acrescentou,<br />

esses princípios são intocáveis e o<br />

conceito de privatização subjacente<br />

apenas abrange a perspectiva da<br />

"gestão indirecta" do Estado, que por<br />

razões de estrutura, administrativas e<br />

operacionais, pode ser cedida a terceiras<br />

entidades. Pretende-se, assim, retirar<br />

a máxima utilidade dos ben&<br />

públicos numa lógica de micro e<br />

macro eficiência, outorgando à sociedade<br />

civil capacidade de iniciativa para<br />

fazer melhor. .<br />

"A expressão gestão privada é, neste<br />

contexto, igual à gestão indirecta - por<br />

entidades privadas - e não forma de<br />

alienar a responsabilidade e titularidade<br />

do Estado", esclareceu. E por isso<br />

mesmo, adiantou, há que encontrar<br />

formas que associem a flexibilidade e<br />

virtualidades da gestão privada ao<br />

imperativo de se criarem mecanismos<br />

de fiscalização, supervisão e acreditação<br />

por parte do Estado.<br />

Depois de passar em revista os contratos-tipo<br />

que a legislação contempla (o<br />

contrato de gestão, a convenção com<br />

grupos de médicos e o contrato­<br />

-programa), Lopes Martins centrou a<br />

sua atenção nos mecanismos processuais<br />

indispensáveis para o bom êxito<br />

destas iniciativas: existirá, por princípio,<br />

concurso público; será elaborado<br />

um caderno de encargos tipo, por<br />

modalidade de contrato a estabelecer<br />

será, obviamente, elaborado um contrato<br />

com a entidade terceira a quem a<br />

exploração for atribuída. Entrou, então,<br />

na parte porventura nuclear e ao<br />

mesmo tempo mais controversa em<br />

matéria de privatização, colocando<br />

três questões fundamentais:<br />

1 º - Como retribuir os serviços<br />

prestados, incentivando por um lado<br />

a eficiência e controlando, por outro, o<br />

so breconsumo?<br />

2º - Como se regerão as relações entre<br />

a entidade terceira, que faz a gestão, e<br />

o pessoal que aí trabalha?<br />

3º - De que forma será exercido o<br />

poder regulador do Estado, atendendo<br />

ao facto de esses contratos produzirem<br />

uma "<strong>Gestão</strong> Indirecta do Estado"?<br />

Para a primeira questão, levantou<br />

várias hipóteses, desde o pagamento<br />

por envelope global até ao pagamento<br />

dos actos, sempre referenciados por<br />

padrões de utilização préviamente<br />

definidos e cujo cumprimento será<br />

incentivado e a sua ultrapassagem<br />

tendencialmente penalizada.<br />

Admitiu, para a segunda questão, o<br />

direito de opção dos profissionais de<br />

saúde entre as regras do Direito do<br />

Público e as regras do Direito Privado<br />

com suspensão do vínculo à função<br />

pública.<br />

Quanto à terceira questão, admitiu a<br />

integração de representantes do Estado<br />

na própria Administração das<br />

unidades "privatizadas" ou, em alternativa,<br />

a criação de protocolos de<br />

controlo de gestão bem definidos e<br />

executados dentro de uma periodiciqade<br />

pré-estabelecida.<br />

A intervenção do Secretário de Estado,<br />

em que frisou sempre a importância<br />

do debate para que novos contributos<br />

surgissem e pudessem ser<br />

eventualmente incorporados nas peças<br />

procedimentais a criar, seguiram­<br />

-se as perguntas, as dúvidas e as<br />

ópiniões de muitos dos participantes.<br />

Destaquemos, fundamentalmente<br />

duas: a do dr. Moreno Rodrigues e a<br />

do sr. Manuel Agonia.<br />

O administrador-delegado do Hospital<br />

de Santo António, colocou três<br />

problemas ligados à "gestão privada":<br />

1 º problema - Se o objectivo da<br />

privatização é aumentar a eficiência,<br />

Lopes Martins, secretário de Estado da Saúde, com Manuel Delgado, presidente<br />

da APAH<br />

44 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

verifica-se, todavia,<br />

que custos unitários<br />

mais baixos, representam<br />

custos globais<br />

mais elevados.<br />

Como controlar este<br />

crescimento das<br />

despesas?<br />

2º problema - No<br />

sector público há<br />

espartilhos que dificultam<br />

a eficiência<br />

técnica. Parece que<br />

o Estado os reconhece,<br />

mas simultaneamente<br />

mostra a<br />

sua incapacidade<br />

para os ultrapassar,<br />

ao optar pela "gestão<br />

privada".<br />

3º problema - Haverá,<br />

no futuro pró­<br />

generalizado da procura<br />

e o aumento descontrolado<br />

das despesas e<br />

dos custos, o prof.<br />

Vasco Reis afirmou<br />

que nós, em Portugal,<br />

nunca levamos as reformas<br />

de saúde, entretanto<br />

delineadas, até às<br />

suas últimas consequências.<br />

Daí não termos<br />

soluções para o<br />

subfinanciamento, para<br />

a ineficiência técnica,<br />

para a utilização dos<br />

serviços sem critério e<br />

sem definição de prioridades.<br />

Traçou, em<br />

seguida, os principais<br />

objectivos do SAS<br />

(mais escolhas para o<br />

cidadão, mais qualidade<br />

e maior eficiên­<br />

óa) e as regras subjacentes ao modelo<br />

de ;eguro preconizado: um seguro<br />

voluntário; de base familiar; de natureza<br />

vitalícia; com total liberdade de<br />

aceitação por parte do cidadão; sem<br />

limites de idade; compreenssivo ou<br />

geral; com prémios em concorrência;<br />

com comparticipação estatal.<br />

Revelou dados inéditos correspondentes<br />

ao estudo de mercado patrocinado<br />

pelo Ministério de Saúde, em que se<br />

verifica haver níveis interessantes de<br />

adesão por parte dos cidadãos tenden·­<br />

cialmente mais novos. Apresentou<br />

ainda simulações referentes ao impacto<br />

do modelo de seguro no financiamento<br />

do sistema.<br />

A sua extensa intervenção foi acompanhada<br />

com grande interesse pelas<br />

pessoas presentes e, dado o ineditismo<br />

de alguns dados apresentados, deu<br />

aso a várias perguntas, predominantemente<br />

por parte dos representantes do<br />

sector segurador. Estes, colocando-se<br />

numa posição diferente da esboçada<br />

pelo prof. Vasco Reis, afirmaram não<br />

ser viável um seguro verdadeiramente<br />

alternativo e opcional, antes um<br />

seguro complementar, limitado e,<br />

obviamente, selectivo, em que os<br />

pressupostos de perenidade, idade<br />

ilimitada e compreensividade seriam<br />

sempre postergados.<br />

Gerou-se, neste ponto, uma interessante<br />

polémica que, no essencial, tinha<br />

subjacente diferentes naturezas de<br />

seguro: tendencialmente social ou<br />

eminentemente comercial.<br />

Obviamente que não houve consenso! 1<br />

ximo, o risco de nos<br />

confrontarmos com duas lógicas de<br />

gestão de unidades hospitalares: uma,<br />

em que a procura e a casuística são<br />

ilimitadas, incluindo o ensino, investigação,<br />

estágios, etc - a administração<br />

pública; outra, em que a procura é<br />

"controlada" e as exigências de outra<br />

natureza não se colocam - a administração<br />

"privada" . As performances<br />

serão, naturalmente diferentes e enganadoramente<br />

comparáveis.<br />

A intervenção do accionista principal<br />

da Clipóvoa, sr. Manuel Agonia,<br />

embora se tivesse desviado dos propósitos<br />

deste Encontro, não deixou de<br />

se revestir de algumas notas interessantes.<br />

Centrando-se na diferença<br />

entre privatização da gestão e iniciativa<br />

privada em saúde, Manuel Agonia<br />

disse esperar do Governo uma política<br />

de abertura à iniciativa privada em<br />

competição com o sector público e não<br />

"falsas" soluções como a privatização<br />

da gestão, que pouco ou nada acrescentarão<br />

ao panorama da saúde em<br />

Portugal. Reivindicou o direito a<br />

posicionar-se no mercado da saúde<br />

em pé de igualdade com o sector<br />

público, pois sem condições, não<br />

haverá qualquer hipótese de sucesso<br />

da iniciativa privada neste importante<br />

sector social.<br />

'<br />

As diferentes questões que lhe foram<br />

colocadas, Lopes Martins respondeu<br />

de forma satisfatória e esclarecedora,<br />

tendo a oportunidade de desenvolver<br />

alguns pontos da sua intervenção<br />

inicial. •<br />

Vasco Reis, durante a sua comunicação, extremamente aprofundada<br />

li Encontro: "O Seguro<br />

Alternativo de Saúde<br />

no contexto do SNS"<br />

Convidado: Prof. Vasco Reis<br />

Lisboa, 24 de Junho/94<br />

Com a elevada participação de gestores<br />

hospitalares e representantes de<br />

empresas seguradoras, o II Encontro<br />

de <strong>1994</strong> teve na figura do prof. Vasco<br />

Reis, o protagonista central para<br />

abordar o tema do Seguro Alternativo<br />

de Saúde.<br />

Tema porventura crucial para a<br />

reforma de saúde, a questão do<br />

financiamento em que necessariamente<br />

se inclui este Seguro Alternativo,<br />

pode desencadear consequências<br />

estratégicas importantes quer ao nível<br />

. da oferta de cuidados (diversidade,<br />

competição, eficiência, efectividade e<br />

qualidade), quer ao nível de procura<br />

(opções de escolha, acesso racionalizado,<br />

eventualmente, também, efeitos<br />

descriminatórios e elitistas).<br />

O prof. Vasco Reis acompanhou,<br />

desde o início, os estudos preliminares<br />

do Ministério da Saúde para<br />

futura negociação com as seguradoras<br />

e eventual implementação de um<br />

modelo de seguro de saúde verdadeiramente<br />

alternativo. Por isso, a comunicação<br />

que apresentou foi extremamente<br />

aprofundada e sempre<br />

suportada por uma expressiva base<br />

de dados.<br />

Começando por enquadrar o tema na<br />

questão mais vasta da crise dos<br />

sistemas de saúde, com o crescimento<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 45<br />

Acontecimento


Uma Rocha na gestão hospitalar<br />

ascido a 6 de Agosto de 1936, na vila de Rio<br />

de Moinhos, concelho de Penafiel, distrito<br />

do Porto, Joaquim Nogueira da Rocha é<br />

hoje, reconhecidamente, uma das figuras<br />

mais destacadas da gestão hospitalar em Portugal.<br />

Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito<br />

de Lisboa em 1965, diplomou-se em Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> pela Escola Nacional de Saúde Pública<br />

(II curso) em 1971, atingindo, como profissional, o<br />

topo da carreira no ano seguinte. Actualmente é<br />

presidente do Conselho de Administração do<br />

Serviço de Utilização Comum dos Hospitais,<br />

depois de ter estado à frente da sua Comissão<br />

Directiva de Abril de 1990 a Junho de 1993. Antes,<br />

porém, como o seu recheado currículo regista,<br />

passou pela Direcção-Geral dos Hospitais, onde<br />

desempenhou os cargos de Técnico de Organização<br />

(1965) e Chefe de Repartição (1965-68); fez parte da<br />

administração dos Hospitais Civis. de Lisboa -<br />

Desterro, Arroias, Curry Cabral e Dona Estefânia<br />

(1968-78) - e foi seu administrador geral de Maio de<br />

1978 a Setembro de 1979. A partir daí, durante<br />

praticamente seis anos consecutivos, dirigiu a<br />

Organizâção e Recursos Humanos da Segurança<br />

Social, tendo sido depois, de Junho de 1986 a<br />

Junho de 1990, o responsável pelas Instalações e<br />

Equipamentos de Saúde. Entretanto prestara<br />

colaboração e assessoria, na área da saúde, aos<br />

ministros dos Assuntos Sociais do VI e VIII<br />

I<br />

Governos Constitucionais. E sobretudo nesta<br />

altura que se regista importante contribuição ao<br />

nível legislativo.<br />

Com efeito, Nogueira da Rocha, para além de ser<br />

autor de vários projectos de diplomas na esfera da<br />

Segurança Social, designadamente os que visaram<br />

a criação, de 1979 a 1985, dos Centros<br />

Regionais, é também autor ou co-autor de<br />

diversos projectos de diplomas no âmbito da<br />

saúde. A título ilustrativo, valerá a pena citar<br />

alguns exemplos mais relevantes. Em 1987:<br />

projecto de decreto-lei e de decreto destinados a<br />

reformular a gestão hospitalar, trabalho que viria<br />

a dar lugar ao Decreto-Lei nº 19/88, de 21 de<br />

Janeiro e Decreto Regulamentar nº 3/88, de 22 de<br />

Janeiro; em 1988: projecto de decreto regulamentar<br />

regional destinado a aplicar na Região<br />

Autónoma dos Açores o Decreto-Lei nº 19/88 e<br />

Decreto Regulamentar nº3/88; de 1990 a 1993:<br />

projecto de Estatuto do Serviço Nacional de<br />

Saúde e projecto de decreto-lei com vista a<br />

reformular a orgânica do Ministério da Saúde.<br />

Nogueira da Rocha foi, além disso, em 1993, um<br />

dos membros do grupo encarregado de proceder à<br />

regulamentação do_ Estatuto do Serviço Nacional<br />

de Saúde, tendo colaborado, no ano seguinte, na<br />

preparação de novos quadros legais destinados à<br />

gestão privada de unidades de saúde.<br />

A docência tem sido, ao longo da sua carreira, o<br />

complemento da actividade profissional propriamente<br />

dita. De 1976 a 1986 leccionou, como<br />

assistente da Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

a cadeira de Administração <strong>Hospitalar</strong>, de que há<br />

oito anos passou a ser professor auxiliar após<br />

prestação de provas públicas. A partir de 1987 é<br />

director do Gabinete de Direito da Saúde da<br />

ENSP, sendo igualmente professor coordenador<br />

sem agregação da Universidade Internacional<br />

desde 1988.<br />

Decorrente da sua actividade docente e carreira<br />

académica, muitas têm sido as acções de formação<br />

por si orientadas ou realizadas, através de cursos,<br />

seminários e conferências. Destacam-se cursos<br />

monográficos na ENSP; seminários sobre Direito<br />

da Saúde, organizados conjuntamente pela Faculdade<br />

de Direito de Lisboa e pela ENSP; cursos de<br />

formação, aperfeiçoamento e reciclagem realizados<br />

em diversos hospitais do país; cursos de<br />

formação e aperfeiçoamento em Angola, na<br />

qualidade de consultor do Instituto Nacional de<br />

Administração e de várias empresas. Além disso,<br />

foi prelector em diferentes escolas de enfermagem<br />

e foi a figura central em múltiplas conferências<br />

sobre temas de saúde e segurança social, nomeadamente,<br />

política de saúde, sistemas de saúde,<br />

hospital do futuro e organização administrativa<br />

da Segurança Social.<br />

Ao nível da consultoria várias são, e de relevo,<br />

algumas das tarefas desempenhadas por Nogueira<br />

da Rocha. Foi consultor de várias entidades:<br />

Governo Regional dos Açores (Secretaria Regional<br />

dos Assuntos Sociais) para a reorganização<br />

dos Serviços de Saúde (1982-88); Empresa Geral de<br />

Fomento, com a responsabilidade de preparar o<br />

concurso de adjudicação do Hospital Conde S.<br />

Januário, em Macau, análise de propostas e<br />

escolha do adjudicatário (1985-86); Governo<br />

Regional da Madeira, para chefiar o projecto de<br />

reestruturação do Centro <strong>Hospitalar</strong> do Funchal<br />

(1989); Partex/CPS, para a realização de acções de<br />

formação em gestão destinadas a dirigentes do<br />

Ministério da Saúde da República Popular de<br />

Angola (1990); ENSP, na qualidade de professor<br />

auxiliar, para o Programa de Assistência Técnica<br />

à Reabilitação do Hospital Américo Boavida, em<br />

Luanda (1991); e do Instituto Nacional de<br />

Administração e das Nações Unidas (Programa<br />

para o Desenvolvimento), com a responsabilidade<br />

da implementação de acções de formação em<br />

gestão para dirigentes do Ministério da Saúde de<br />

Angola (1992).<br />

Diversos foram também, os grupos de trabalho e<br />

as comissões a que pertenceu: Comissão de<br />

Escolha dos novos hospitais de Lisboa e Coimbra<br />

(1973-74); Comissão de Programação do Hospital<br />

Oriental de Lisboa (1974); Comissão de Reestruturação<br />

da Carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

(1976); Comissão de Informática do Ministério dos<br />

Assuntos Sociais (1978); Comissão para a Desconcentração<br />

(1980); Conselho Superior da Reforma<br />

Administrativa (1980-85); Grupo de Modernização<br />

Administrativa do Ministério da Saúde (1990);<br />

Grupo de Trabalho para a Regulamentação do<br />

Estatuto do Serviço Nacional de Saúde (1993); e<br />

da Comissão para a Qualidade e Racionalização<br />

da Administração Pública.<br />

De 1979 a 1985 Nogueira da Rocha foi representante<br />

dos Ministérios dos Assuntos Sociais e do­<br />

Em prego e Segurança Social em encontros<br />

internacionais sobre informática em Segurança<br />

Social, e de 1986 a 1990 desempenhou a mesma<br />

função ao nível do Ministério da Saúde sobre<br />

arquitectura e engenharia hospitalares.<br />

Inúmeros são ainda cursos, estágios e visitas de<br />

estudo sobre temas de saúde e segurança social,<br />

quer em Portugal quer no estrangeiro (Brasil,<br />

Espanha, França, Angola, Inglaterra, Finlândia,<br />

Grécia, Luxemburgo, Holanda, Polónia, Estados<br />

Unidos, Canadá).<br />

Nogueira da Rocha é autor de algumas dezenas de<br />

artigos publicados em revistas nacionais e<br />

estrangeiras, destacando-se a autoria exclusiva<br />

de dois trabalhos académicos: "O hospital público<br />

- empresa pública", trabalho final do curso de<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong> (1971); "O hospital,<br />

estrutura, dinâmica de gestão, desenvolvimento<br />

organizacional - três propostas convergentes",<br />

tese do concurso para professor auxiliar da<br />

Escola Nacional de Saúde Pública (1985). •<br />

46 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 4 7


G~stãe><br />

Unidade de Cuidados Leves<br />

Com a publicação da Lei de Bases<br />

da Saúde, a Lei n 48/90 de 24 de<br />

Agosto, foi aberto o caminho para<br />

a introdução de alterações relativamente<br />

profundas no cenário da<br />

prestação de cuidados de saúde.<br />

' 1 uz da Lei de Bases da Saúde<br />

são expressamente definidas,<br />

como principais directrizes<br />

da política de saúde, entre<br />

outras, a garantia de igualdade dos<br />

cidadãos no acesso aos cuidados de<br />

saúde e a garantia da equidade na<br />

distribuição dos recursos, o que<br />

constitui uma emanação de princípios<br />

de natureza constitucional: o<br />

princípio da subordinação da organização<br />

.estrutural e funcional dos<br />

serviços de saúde aos interesses dos<br />

utentes; a gestão dos recursos de<br />

forma a evitar desperdícios e a<br />

utilização indevida dos serviços.<br />

Indicado o caminho com a Lei de<br />

Bases, era imperioso prosseguir com<br />

a regulamentação dos aspectos mais<br />

importantes, sendo um deles, a aprovação<br />

de um novo Estatuto do.<br />

Serviço Nacional de Saúde (SNS).<br />

A barreira estrutural e funcional que<br />

separa cuidados primários de cuidados<br />

hospitalares é abolida por, comprovadamente,<br />

se revelar<br />

"incorrecta do ponto de vista médico<br />

e geradora de disfunçõs sob o<br />

ponto de vista organizativo".<br />

Carlos Gante *<br />

Preocupações de compreensividade<br />

de cuidados, e de articulação e<br />

integração de serviços são constantes<br />

desta reforma do SNS.<br />

I<br />

E neste clima de mudança e inovação<br />

que surge o projecto da criação<br />

de uma Unidade de Cuidados Leves<br />

no Hospital Distrital da Figueira da<br />

Foz que pretende, a um tempo,<br />

contribuir para uma gestão mais<br />

racional dos recursos, aumentar o<br />

índice de adequação e apropriação<br />

dos cuidados prestados e dar um<br />

importante passo para a destruição<br />

do muro entre cuidados primários e<br />

l)ospitalares.<br />

E assumidamemte uma nova experiência<br />

de gestão e organização de<br />

cuidados, na linha do que é preconizado<br />

nas leis de gestão hospitalar de<br />

1988 e pretende-se que esta unidade,<br />

à semelhança do que é afirmado no n<br />

2 da Base II de Lei 48/90 para a<br />

política de saúde, tenha "(...) carácter<br />

evolutivo, adaptando-se permanentemente<br />

às condições da<br />

QUADRO 1 - Movimento assistencial do internamento de cirurgia,<br />

medicina e ortopedia no ano de 1990<br />

CIRURGIA MEDICINA ORTOPEDIA<br />

Lotação 33 . 34 34<br />

Doentes tratados 1202 980 704<br />

Dias de tratamento 10200 11549 10838<br />

Demora média (dias} 8,49 11,79 15,40<br />

Taxa de ocupação (%} 93, 16 95,89 87,34<br />

48 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

Gregório dos Santos **<br />

realidade( ... ), às suas necessidades e<br />

aos seus recursos".<br />

Definição, finalidades, objectivos<br />

O proj ecto de criação de uma unidade<br />

de cuidados leves no Hospital<br />

Distrital da Figueira da Foz surge da<br />

confluência de dois vectores fundamentais.<br />

O primeiro decorre da busca de<br />

soluções tendentes à obtenção de<br />

uma maior eficiência interna por<br />

efeito da aplicação, à prestação de<br />

cuidados em internamento, de um<br />

modelo do tipo "cuidados degressivos"<br />

que genericamente se caracterizará<br />

pela possibilidade de alocar,<br />

I I •<br />

apenas e so, os recursos necessar10s<br />

e suficientes a cada uma das fases do<br />

ep~sódio de internamento.<br />

O segundo vector traduz-se na possibilidade<br />

de se obterem maiores<br />

níveis de adequação na prestação<br />

de cuidados, reduzindo o risco de<br />

prestação de cuidados excessivos ou<br />

inapropriados, a fim de se alcançarem<br />

índices de qualidade elevados e<br />

altos níveis de satisfação dos cidadãos.<br />

A Unidade de Cuidados Leves (UCL)<br />

é, inequivocamente, uma unidade de<br />

internamento, embora destinada a<br />

situações clínicas com baixo grau<br />

de severidade, em fase de pré-alta. .<br />

Admite doentes provenientes dos<br />

serviços de medicina, cirurgia e<br />

ortopedia, de acordo com critérios a<br />

explicitar adiante, relativamente aos<br />

quais seja previsível terem alta<br />

clínica nos três a quatro dias posteriores<br />

à admissão na U CL.<br />

A lotação da unidade, a definir em<br />

capítulo ulterior deste trabalho, não<br />

se traduz num aumento rígido do<br />

número de camas daqueles três<br />

serviços. Ao invés, todas as camas<br />

da UCL estão ao serviço das três<br />

valências, de forma flexível e elástica,<br />

consoante a pressão da procura.<br />

Uma unidade funcional deste tipo, é<br />

também um novo espaço gestionário<br />

que reclama um modelo de gestão<br />

mais flexível, mais actuante e mais<br />

sensível a alterações ambientais.<br />

Com estas características sumariamente<br />

descritas, a UCL é algo que se<br />

situará entre o internamento clássico<br />

de agudos e o regime ambulatório.<br />

Não porque seja um "tercium genus"<br />

mas porque, num "continuum" temporal<br />

que vai da admissão à transfe-<br />

QUADRO li - Movimento assistencial do internamento de cirurgia,<br />

medicina e ortopedia no ano de 1991<br />

CIRURGIA MEDICINA ORTOPEDIA<br />

Lotação 30(a) 34 34<br />

Doentes tratados 1038 11 62 660<br />

Dias de tratamento 11052 11549 11520<br />

Demoramédia(dias) 8,45 11,79 17,45<br />

Taxa de ocupação (%) 100,93 95,89 92,83<br />

{a) O serviço dispunha de mais três camas para recobro<br />

neste projecto a criação das condições<br />

necessárias ao desenvolvimento<br />

da cirurgia ambulatória.<br />

A UCL terá um papel privilegiado na<br />

ligação do Hospital à Comunidade,<br />

trazendo o cidadão (familiar, amigo<br />

do doente) para dentro da organização<br />

e procurando inseri-lo num<br />

conceito mais vasto de equipa terapêutica<br />

norteada por critérios de<br />

recuperação e reintegração.<br />

Poder-se-á com esta unidade, e devido<br />

à sua situação estratégica, lançar<br />

as bases para uma política de trans-<br />

O que se pretende com a criação da UCL<br />

é, antes de mais, adequar o nível de<br />

cuidados às necessidades de saúde dos<br />

cidadãos, aumentar os níveis de efi ...<br />

ciência, obter ganhos em sede de<br />

organização e promover maiores índices<br />

de qualidade e satisfação<br />

rência de cuidados, passando pela<br />

alta hospitalar, a UCL reúne as<br />

condições privilegiadas, para a prestação<br />

dos cuidados de saúde em<br />

sentido amplo que preparem o cidadão<br />

para um "check out" apoiado.<br />

Em resumo, o que se pretende com a<br />

criação da UCL é, antes de mais,<br />

adequar o nível de cuidados às<br />

necessidades de saúde dos cidadãos,<br />

aumentar os níveis de eficiência,<br />

obter ganhos em sede de organização<br />

e promover maiores índices de<br />

qualidade e satisfação.<br />

Outros grandes objectivos estratégicos<br />

estão associados à U CL, tais<br />

como o aumento da capacidade de<br />

resposta do internamento programa·<br />

do e resposta diferenciada às situações<br />

que solicitam internamento de<br />

curta duração, com destaque para a<br />

cirurgia electiva que poderá ver<br />

ferência de cuidados, com verdadeira<br />

integração de serviços.<br />

Caracterização<br />

Localização<br />

Nos anos 60, foi construído um<br />

edifício, do lado sul do Mondego<br />

destinado a Sanatório Helio-Marítimo<br />

e depois a Hospital Ortopédico e<br />

de Recuperação, que esteve devoluto<br />

durante cerca de dez anos. Em 1975 o<br />

Hospital Distrital da Figueira da Foz<br />

transitou para estas instalações,<br />

desvinculando-as do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

de Coimbra, instituição a que<br />

estavam afectas.<br />

A área organizacional de internamento,<br />

embora com uma lotação<br />

oficial de 220 camas, pratica uma<br />

lotação de 187 e é constituída, no<br />

bloco central, por quatro serviços:<br />

cirurgia, ortopedia, obstetrícia e<br />

especialidades cirúrgicas, respectivarnente<br />

com 33, 34, 26 e 32 camas. O<br />

restante internamento está instalado<br />

em construção anexa de um só piso<br />

com amplos e longos corredores de<br />

acesso internos, para as especialidades<br />

de medicina e pediatria, com 34 e<br />

28 camas. Junto a estes, encontra-se<br />

um serviço de internamento temporariamente<br />

ocupado com o serviço de<br />

urgência, enquanto se processam as<br />

obras de remodelação deste serviço.<br />

I<br />

•<br />

E neste espaço que se proJecta,<br />

depois de efectuar algumas obras de<br />

adaptação, a instalação da Unidade<br />

de Cuidados Leves e provavelmente o<br />

hospital de dia de quimioterapia.<br />

No capítulo destinado aos elementos<br />

de programação falar-se-á da sua<br />

estrutura física; no entanto, importa<br />

desde já sublinhar que a UCL terá<br />

acesso directamente ao exterior.<br />

Lotação<br />

Para a definição da lotação da<br />

unidade atendeu-se a uma série de<br />

factores:<br />

Em primeiro lugar ao histórico de<br />

doentes tratados nos últimos anos ..,.<br />

QUADRO Ili - Movimento assistencial do internamento de cirurgia,<br />

· medicina e ortopedia no ano de 1992<br />

CIRURGIA MEDICINA ORTOPEDIA<br />

Lotação 33 34 34<br />

Doentes trtados 1301 1624 971<br />

Dias de tratamento 10774 11568 10017<br />

Demora média (dias) 8,28 7, 12 13,91<br />

Taxa de ocupação(%) 89,20 92,96 80,50<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 49


Gestao<br />

QUADRO IV - Doentes tratados nos internan;tentos de cirurgia, medicina e<br />

ortopedia nos primeiros semestres de 1991, 1992 e 1993<br />

CIRURGIA MEDICINA ORTOPEDIA<br />

Lotação 33<br />

1993 660<br />

1992 687<br />

1991 645<br />

-


G<br />

e<br />

s t a - o<br />

~ GDH, o doente tem alta no mesmo<br />

serviço onde foi admitido (salvaguardadas,<br />

as situações de verdadeira<br />

transferência). Apenas passa pela<br />

UCL porque é suposto que aí tenha<br />

recebido cuidados mais apropriados<br />

com os consequentes reflexos ao nível<br />

da qualidade, que a sua "transição"<br />

para a UCL, permitirá à organização<br />

obter enormes ganhos de eficiência e,<br />

tudo visto, que a capacidade de<br />

intervenção do hospital junto da<br />

população será reforçada.<br />

Modelo de financiamento<br />

De tudo quanto ficou dito pode<br />

concluir-se que o funcionamento de<br />

uma unidade com estas características<br />

terá que ser facilmente ajustável<br />

às solicitações do momento.<br />

Esta capacidade de ajustamento<br />

funcional está intimamente ligada<br />

ao modelo de gestão a adoptar o<br />

qual terá que ser concebido de<br />

acordo com a filosofia "JIT" (Just in<br />

Time).<br />

A selecção dos diversos profissionais<br />

deverá fazer-se de acordo com critérios<br />

objectivos que privilegiem não<br />

só as capacidades cognitivas(saber­<br />

-saber), mas também as capacidades<br />

de execução(saber-fazer) e de relacionamento(saber-estar,<br />

saber-ser).<br />

Requer-se de toda a organização um<br />

esforço de adaptação às novas situações<br />

que uma unidade deste tipo,<br />

muito mais aberta e em permanente<br />

contacto com o exterior, inevitavelmente<br />

produzirá.<br />

Requer-se de todo o pessoal a adopção<br />

de atitudes e comportamentos<br />

que facilitem o relacionamento, agora<br />

muito mais intenso, com a envolvente<br />

familiar e social do doente. ·<br />

A par dos efeitos positivos esperados<br />

de uma unidade como a UCL, há que<br />

saber antecipar e reduzir o impacto<br />

de alguns efeitos perversos ·que irão<br />

surgir desde os perigos decorrentes<br />

da maior exposição do hospital ao<br />

exterior até fenómenos mais ou<br />

menos extensos de resistência à<br />

mudança.<br />

Em termos funcionais, é incentivada<br />

a colaboração de outras especialidades<br />

no seguimento/vigilância do<br />

doente , por solicitação da equipa/<br />

médico responsável, sem contudo pôr<br />

em causa o princípio da responsabilidade<br />

pela alta clínica que será<br />

sempre do serviço a que essa equipa<br />

ou médico pertençam.<br />

A UCL terá uma forte ligação à<br />

comunidade, será altamente permeável<br />

ao exterior e estará muito mais<br />

próxima dos cuidados em ambulatório e<br />

da saúde domiciliária e familiar do que<br />

qualquer outra unidade clássica<br />

Considerando que qualquer admissão<br />

na UCL deve ter já alta programada<br />

para o 3º ou 4º dias seguintes,<br />

qualquer intercorrência que prejudique<br />

esse calendário, determinárá o<br />

retorno à unidade inicial.<br />

O horário das visitas deverá ser o<br />

mais alargado possível, tendencialmente<br />

12 ou mais horas por dia,<br />

devendo convidar-se os familiares, e<br />

amigos do doente a participar activamente<br />

no processo de terapêutica,<br />

reabilitação e de reinserção.<br />

Esta q.uestão prende-se com outra<br />

vertente fundamental da UCL que é<br />

o ensino ao doente e aos seus<br />

familiares tendo em vista a preparação<br />

da alta e a continuidade de<br />

cuidados.<br />

Deverão ser elaborados programas<br />

de ensino teórico e prático a operacionalizar<br />

de acordo com a grelha<br />

dos horários de visitas por forma a<br />

transmitir aos cidadãos um corpo de<br />

conhecimentos que lhes permita proporcionar<br />

ao doente um acompanhamento<br />

de qualidade.<br />

Deverá investir-se na criação de um<br />

sistema de informação ao público<br />

que lhe permita conhecer e explorar<br />

todas as virtualidades da unidade.<br />

Deverá igualmente apostar-se na<br />

troca constante de informação com<br />

os vários agentes do sistema de saúde<br />

e da segurança social da zona funcional<br />

da Figueira da Foz (Centro de<br />

Saúde, médico assistente, serviços de<br />

saúde ocupacional de empresas, Centro<br />

Regional de Segurança Social, ... )<br />

numa perspectiva de verdadeira integração<br />

de cuidados.<br />

Poderão ser frutíferas experiências<br />

de desenvolvimento de sistemas telemáticas,<br />

geradores de fluxos de<br />

informação que permitam ao utente<br />

uma correcta utilização das diversas<br />

linhas de serviço, colocando-o verdadeiramente<br />

no centro do sistema.<br />

Uma primeira aposta será feita na<br />

52 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

informatização da "nota de alta".<br />

Definição de competências<br />

Não é, naturalmente, intenção dos<br />

autores proceder de forma exaustiva<br />

à definição das competências do<br />

director e do enfermeiro chefe da<br />

UCL.<br />

Em primeiro lugar porque não é esta<br />

a sede própria para um trabalho<br />

desta natureza. Em segundo lugar<br />

porque tais competências estão clara<br />

e expressamente definidas na lei.<br />

O que se pretende é, tão só, realçar<br />

alguns dos aspectos materiais do<br />

exercício de competências fundamentais<br />

para a operacionalização do<br />

modelo conceptual definido para a<br />

Unidade de Cuidados Leves.<br />

Assim, ao Director e ao Enfermeiro<br />

chefe da UCL compete, em especial:<br />

- Elaborar o plano de acção da<br />

unidade, procuran


"'4pela análise dos níveis de utilização,<br />

pela selecção e explicação e<br />

correcção pronta dos eventuais desvios<br />

aos "standards" estabelecidos.<br />

No que diz respeito à lotação, ela foi<br />

definida tendo em conta diversos<br />

factores oportunamente invocados.<br />

Todavia, caso se venha a revelar<br />

incorrecta, quer por defeito quer<br />

por excesso, poderá ser rapidamente<br />

corrigida. Tanto o modelo de gestão<br />

como a estrutura física das instalações<br />

onde a UCL se situará, permitem<br />

a rápida adopção de mecanismos<br />

de ajustamento da oferta de camas às<br />

eventuais variações da procura salvaguardadas<br />

as finalidades que a<br />

Unidade pretende atingir.<br />

A escolha da "diária de internamento"<br />

como unidade de medida de<br />

produção da UCL não é pacífica. De<br />

facto, outras hipóteses se colocaram<br />

e competiram antes de se optar. O<br />

que se pretendeu foi acima de tudo<br />

garantir a satisfação de duas condições<br />

fundamentais: escolher uma<br />

unidade de medida que não fosse<br />

conflituante com a unidade de classificação<br />

de doentes em GDH ou de<br />

algum modo subverter a lógica do<br />

seu funcionamento e, por outro lado,<br />

garantir a medição da produção<br />

intermédia na qual são consumidos<br />

recursos relativamente homogéneos.<br />

Concebida desta forma, a diária de<br />

internamento terá um valor a apurar<br />

em cada período de avaliação e será<br />

esse valor a base para se ef ectuar a<br />

ulterior imputação de custos aos<br />

serviços de origem dos doentes.<br />

Conclusão<br />

Tudo quanto se escreveu sobre a<br />

UCL, embora assente na convicção<br />

dos autores, são apena~ conceitos e<br />

opções em aberto, que a realidade,<br />

sempre mais rica que a actividade de<br />

concepção e planeamento, se há-de<br />

encarregar de mudar, de inflectir ou<br />

de confirmar. 1<br />

*, ** Administradores hospitalares<br />

do Centro de Oncologia de Coimbra<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

BEECH, r. et al. - Estimting the financial savings<br />

from maintaining the levei o{ acute services with<br />

fewer beds., "International Journal Of Health<br />

Planning and Management", vol. 5, nº2, Apr/Jun<br />

1990, PP 89-103.<br />

CAETANO, Eduardo. Elementos de Programação<br />

de Hospitais e Centros de Saúde. Lisboa, 1987.<br />

CALDEIRA DA SILVA, J.M. - Caracterização<br />

dos hospitais e cuidados hospitalares em Portugal,<br />

Separata dos "Arquivos do Instituto Nacional<br />

de,Saúde", vol. VII. Lisboa 1982.<br />

DURAN, Hernán. Planeamento da Saúde. Aspectos<br />

conceptuais e operativos. Ministério da<br />

Saúde, Departamento de Estudos e Planeamento<br />

da Saúde, Lisboa, 1989.<br />

HA WTHORNE, D.D. - Hospital-based unit<br />

improves utilization, "Hospitais", vol. 49, October<br />

1, 11975, pp.62-65.<br />

KALUZNY, A. e outros. Management of Health<br />

Services. New Jersey, Prentice Hall, 1982<br />

ROCHA, J.J.N. - O hospital em mudança,<br />

comunicação no âmbito do Ciclo de Conferências<br />

Modernizar os Meios, Humanizar a Saúde - Anos<br />

90, Guimarãaes, Novembro 1990.<br />

WILLIAMS, S.J. - Ambulatory Care: Can<br />

Hospitais Compete?, "Hospital and Health Services<br />

Administration", vol. 28, nº5, September/<br />

October 1983.<br />

He»!E5pitc.I<br />

~b.erte»<br />

Um distrito que nos últimos 1 O anos perdeu mais de 15% da sua população activa, que nos últimos 5 anos teve<br />

um decréscimo de cerca de 25% de nascimentos e onde se vendem mais caixões que berços, tem de ser<br />

repensado, sob todas as vertentes.<br />

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e<br />

tem tido na região.<br />

na análise dos problemas da gestão<br />

da Saúde, publicada em Portugal.<br />

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_______ com o nº ------ - - 1<br />

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• Início em Janeiro de <strong>1994</strong> e fim em Janeiro de 1995<br />

onhecedores que somos do<br />

interior profundo de Trás-os-<br />

-Montes, não havendo medidas<br />

globais para toda esta<br />

região, temos a certeza de que nos<br />

próximos anos a tendência é de um<br />

maior agravamento e desertificação<br />

de algumas zonas<br />

da região.<br />

Com uma população envelhecida,<br />

onde a acessibilidade<br />

viária ainda é um<br />

tormento para algumas<br />

gentes, é necessário criar<br />

a nível de saúde e apoio<br />

social algumas estruturas<br />

próprias, nomeadamente a<br />

nível geriátrico.<br />

O sector da saúde é, sem<br />

margem para dúvidas, um<br />

dos que mais incremento<br />

Dispõe de três hospitais bem equipados,<br />

foram construídos novos centros<br />

de saúde e outros estão programa-<br />

dos.<br />

Se a nível de estruturas físicas foram<br />

Mais caixões<br />

do que<br />

berços<br />

resolvidas as necessidades básicas, o<br />

mesmo ainda se não verificou relativamente<br />

ao grave problema dos<br />

recursos humanos. As paredes não<br />

tratam doentes!<br />

I<br />

E um problema humano, que não<br />

passa só pelo sector da<br />

saúde, tendo muito mais a<br />

ver com as condições sócio­<br />

-económicas de toda a região,<br />

as condições de vida,<br />

a acessibilidade aos grandes<br />

centros do· litoral, em<br />

suma, com o desenvolvimento.<br />

Com a criação das Unidades<br />

de Saúde, as boas condições<br />

físicas e técnicas<br />

que podemos oferecer aos<br />

profissionais, a conclusão<br />

da via rápida, que nos ~<br />

54 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 55


l-lospital aberto<br />

.. ligará aos grandes centros, e<br />

algum optimismo, pensamos que<br />

paulatinamente se preencherão<br />

os nossos quadros médicos.<br />

O Hospital Distrital de Mirandela<br />

foi inaugurado em 1956<br />

com uma lotação de 70 camas.<br />

Em 1972 concluiu-se uma ampliação<br />

que lotou o Hospital<br />

com 120 camas, sem que qualquer<br />

área de apoio existente<br />

tenha sido reestruturada. Hoje<br />

dispomos de 150 camas.<br />

O problema da ampliação do<br />

HDM foi discutido ao longo de<br />

duas décadas sem que houvesse<br />

qualquer resultado.<br />

Apresentou o actual Conselho<br />

de Administração em 1989 um<br />

projecto de ampliação que mereceu<br />

aprovação ministerial,<br />

tendo iniciado em Outubro de<br />

1990 a 1 ª fase das obras, concluídas<br />

e inauguradas em Julho<br />

de 1993.<br />

Tal ampliação e equipamento orçou<br />

em 800 mil contos. Obra moderna e<br />

excelentemente equipada, dotou o<br />

Hospital dos seguintes sectores:<br />

uma ala de Consulta Externa, com 10<br />

gabinetes e respectivos apoios; um<br />

novo Laboratório de Análises Clínicas,<br />

com óptimas instalações e excelente<br />

equipamento; um novo Serviço<br />

de Imagiologia, com excelente equipamento<br />

convencional e ecográfico;<br />

uma urgência com todos os requisitos,<br />

a todos os níveis, nomeadamente<br />

Consulta externa<br />

,,...va,,...1e....,.n_c..,.-ia_s -------:-:----':-=-=------==-=--<br />

Medicina<br />

Cardiologia<br />

Cirurgia<br />

Obstetrícia<br />

Ginecologia<br />

Neurologia<br />

Oftalmologia<br />

Otorrinolaringologia<br />

Pediatria<br />

Urõlogia<br />

TOTAL<br />

1991 ~992 1993<br />

1500 1334 776<br />

215 247<br />

4045 3370 3786<br />

958 631 607<br />

1410 921 809<br />

179<br />

3062 3200 3102<br />

1140 1999 1359<br />

494 315 382<br />

1409 735 433<br />

14018 12720 11680<br />

Internamento<br />

.~tli.MJfül~(~]irii:;jj:i~Jl~,lil!lill<br />

1991 1992 1993<br />

Lotação 156 142 142<br />

Doentes tratados 4732 4390 4298<br />

Dias de internamento 31115 30285 31028<br />

Demora média 6, 70 6,97 7,35<br />

Taxa de ocupação 55,23 58,27 59,86<br />

equipamento de emergência em Bloco<br />

Operatório próprio; um bloco<br />

autónomo de partos com quatro<br />

salas de dilatação e duas de expulsão,<br />

preparadas para cirurgia obstétrica<br />

e ginecológica; um bloco médico/cirúrgico<br />

central com 3 suites<br />

operatórias, equipamento de ponta e<br />

todos os apoios, nomeadamente uma<br />

sala de recobro com quatro camas;<br />

uma esterilização central moderna e<br />

funcional.<br />

Toda a ampliação ficou dotada de<br />

56 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

sistema de ar condicionado .<br />

Para apoio do Hospital foi construída<br />

uma central técnica com<br />

quatro centrais: hidropressora,<br />

- . ..<br />

gases, cogeraçao e mcmeraçao<br />

-<br />

e oficinas.<br />

O velho edifício foi remodelado<br />

no seu exterior, estando já o<br />

projecto da remodelação interior<br />

elaborado, prevendo-se o<br />

início das obras para Novembro.<br />

Irá dispor de enfermarias de<br />

duas e três camas mantendo<br />

sensivelmente a mesma lotação.<br />

Um hospital pensado fundamentalmente<br />

para a vertente de<br />

ambulatório, com poder de resposta<br />

em tempo útil e de dimensão<br />

realista, com atendimento<br />

personalizado e humanizado.<br />

Com as estruturas e tecnologia<br />

de que dispõe e resolvido a curto<br />

prazo o problema médico, conseguir-se-á<br />

uma unidade de excelência.<br />

Após publicação da nova legislação<br />

de saúde, com a regionalização e a<br />

criação das novas unidades funcionais,<br />

mercê da experiência adquirida<br />

com o nosso plano integrado,· foi<br />

escolhido este hospital para experiência<br />

piloto na criação de uma<br />

Unidade de Saúde composta pelos<br />

Hospitais de Mirandela e Macedo de<br />

Cavaleiros, especializado em Ortotraumatologia<br />

e Fisiatria, e por sete<br />

Centros de Saúde, que garantirá a<br />

cobertura de toda a zona sul do<br />

distrito, com cerca de 86 mil<br />

habitantes.<br />

O Hospital de Mirandela dispõe<br />

do serviço de 14 especialidades<br />

médicas: anestesiologia,<br />

cjrurgia, ginecologia,<br />

imagiologia, medicina, neonatologia,<br />

obstetrícia, oftalmologia,<br />

otorrinolaringologia,<br />

pediatria, patologia clínica,<br />

urologia, neurologia e cardiologia.<br />

Estas últimas três especialidades<br />

fazem apenas consulta<br />

externa. Além do internamento<br />

faz-se a cobertura de 24<br />

horas no Serviço de Urgência.<br />

A nível de especialidades,<br />

anestesiologia, cirurgia e medicina,<br />

funcionam 24 horas em<br />

presença física, mantendo prevenção,<br />

como as outras especialidades,<br />

até às 8 horas.<br />

Em primeira linha, a equipa de<br />

urgência está já integrada com<br />

clínicos gerais, dando cumprimento<br />

às novas directrizes ministeriais.<br />

Mercê da sua localização, é o Serviço<br />

de Urgência com maior movimento<br />

do distrito. Cerca de 33 mil<br />

utentes/ano.<br />

O quadro de pessoal encontra-se<br />

relativamente bem dimensionado,<br />

estando com grandes dificuldades<br />

apenas no preenchimento do quadro<br />

médico. Neste grupo profissional<br />

64 % dos lugares estão por preencher.<br />

A produtividade, mercê dos melhoramentos<br />

incrementados, como hospital<br />

vocacionado para o ambulatório,<br />

aumentou significativamente, como<br />

se observa nos quadros. Foram feitos<br />

vários acordos de colaboração com a<br />

Sub-Região de Saúde, para a qual<br />

fornecemos grande parte da nossa<br />

produção.<br />

Com a criação da Unidade de Saúde<br />

e o melhoramento da interligação<br />

funcional estamos aptos, porque nos<br />

preparamos, a prestar um serviço<br />

eficaz e eficiente.<br />

A nível cirúrgico e nas especialidades<br />

de que dispomos, ou não existem<br />

listas de· espera ou são pouco significativas.<br />

Quanto ao internamento, a procura<br />

tem-se mantido estável ao longo dos<br />

RECURSOS HUMANOS EXISTENTES<br />

Bragança 25<br />

Mirandela 16<br />

Macedo de<br />

Cavaleiros 6<br />

TOTAL 47<br />

% lugares<br />

vagos<br />

em quadro 64<br />

anos pelo que o número de camas,<br />

cerca de 150, é razoável a mé.dio<br />

prazo.<br />

Como referimos, remodelar-se-á este<br />

sector, criando apenas as condições ·<br />

necessárias, sem qualquer aumento<br />

de camas.<br />

Como se observa no quadro, os<br />

índices dg produtividade, para um<br />

hospital desta dimensão são bons. ·<br />

O financiamento hospitalar constitui<br />

uma das nossas principais preocupações.<br />

Os actuais subsídios estatais de<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 57<br />

Médicos Enferm. Administ. Técnicos Auxiliares<br />

147 40 27 151<br />

89 26 26 76<br />

47 9 8 22<br />

283 75 61 249<br />

10 24 31 18<br />

exploração têm exigido um enorme<br />

esforço a todas as instituições e<br />

criado os problemas por demais<br />

. conhecidos.<br />

É de referir que, apesar de a instituição<br />

ter aumentado siginificativamente,<br />

não obteve qualquer reforço<br />

financeiro.<br />

Uma coisa, porém, poderá garantir­<br />

-se: não será por falta de verbas que<br />

deixará de se apostar na qualidade e<br />

no aumento da produtividade.<br />

As instituições são o que os seus<br />

profissionais querem que sejam. •


evistà "Health Affairs"<br />

e o Centro de Estudos<br />

de Política Interna da<br />

Escola para os Assuntos<br />

Públicos e Internacionais da<br />

Universidade de Princeton,<br />

promoveram nos últimos dias<br />

de Outubro de 1993 um<br />

workshop para discussão do<br />

plano de saúde do Presidente<br />

Clinton.<br />

Estiveram em confronto os<br />

defensores do Plano, designadamente<br />

através de um conjunto<br />

de especialistas em saúde da<br />

própria Administração Clinton,<br />

e os seus críticos mais<br />

proeminentes, através de um<br />

grupo, especialmente convidado,<br />

de peritos em economia da<br />

saúde.<br />

Um painel de gestores de serviços<br />

de saúde, com a sua visão<br />

predominantemente prática e 75<br />

personalidades da vida política<br />

norte-americana, representando<br />

um justo equilíbrio das forças em<br />

presença no Congresso, ou pertencentes<br />

a organismos governamentais<br />

directamente envolvidos na<br />

reforma da saúde, completaram o<br />

elenco de participantes.<br />

Os resultados dessa iniciativa foram<br />

posteriormente compilados<br />

numa edição especial da "Health<br />

Affairs" e é essa a proposta de<br />

LEITURAS neste número da G ES-<br />

. TÃO HOSPITALAR.<br />

Trata-se, de facto, de uma reunião<br />

de documentos e apontamentos de<br />

raro valor académico, político e<br />

operacional, que para além de<br />

ilustrar diferentes opm10es, apresenta<br />

ainda duas carecterísticas<br />

singulares:<br />

- Aborda de forma aprofundada<br />

diversos aspectos do Plano de<br />

Saúde da Administração Clinton,<br />

desde os de natureza política,<br />

percorrendo desenvolvidamente as<br />

questões económicas, a perspectiva<br />

da indústria e das seguradoras, os<br />

aspectos específicos da saúde men-<br />

---l-1iJl.J.,-"'.w.;....a-~~~~ n tação de um<br />

ES ca.s~ i~vél> Ed dados sobre a<br />

' .. ~in iãomd .&onsu idores, a situação<br />

econom1ca os seguros de<br />

saúde e os níveis e cobertura dos<br />

trabalhadores por seguros da responsabilidade<br />

dos · mpregadores;<br />

rJ).<br />

... ·;:r:: Hí/laryRo&wmClinwn<br />

•<br />

-~ "'""---·~"-·""""<br />

9 The Rationale bclünd d>oClimon H..lth R•funn Plan<br />

\~ã!ter A. Ze!m.Jn<br />

. . ~ .<br />

192 Mental Hoalrh •nd Subsome..: Abu.e Covecng<<br />

B.manl S. Arons. RidumlG. Fnmk, HowardH. Goidman, Thomss G.<br />

McGrdTe, and Shannan Sfms •<br />

206 Anricrusc, Competition, and Heulth Cnre Refurm<br />

iw...,, E. lllocl.and DonaliM. folk<br />

n4<br />

••<br />

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