Gestão Hospitalar N.º29 1994
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Consumou-se uma<br />
orientação política<br />
com 28anos<br />
FINANCIAMENTO<br />
"A situação actual a nível dos serviços de<br />
saúde evidencia problemas financeiros<br />
preocupantes que se poderão traduzir em<br />
rupturas financeiras graves"<br />
COMPETIÇAO<br />
-<br />
GERIDA<br />
Entrevista com Caldeira<br />
da Silva, presidente<br />
do Conselho Directivo<br />
da Escola Nacional<br />
de Saúde Pública<br />
Augusto Mantas<br />
"Os passos para a reforma podem começar no terreno<br />
do debate público, bem antes da iniciativa privada"<br />
António Correia de Campos<br />
REFORMA CLINTO<br />
"Todos os cidadãos deverão dispor de um nível básico de<br />
cuidados de saúde, independentemente da sua capacidade<br />
. "<br />
para pagar os serviços<br />
Janet Guptill
Revista da Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Nº 29 • ANO VIII • SET 94 • 800$00<br />
Membro da Associação Europeia<br />
de Directores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Revista da Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
DIRECTOR<br />
Armanda Miranda<br />
CONSELHO REDACTORIAL<br />
António Paulino<br />
Ana Isabel Gonçalves<br />
Manuel Ligeiro<br />
Manuel Delgado<br />
Manuela Mota Pinto<br />
PROPRIEDADE<br />
Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Empresa jornalística nº 209259<br />
Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />
ADMINISTRAÇAO,<br />
PUBLICIDADE E ASSINATURAS<br />
APAH<br />
Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />
PRODUÇÃO GRÁFICA<br />
Augusto Teixeira<br />
MONTAGEM<br />
Montalito<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
JMToscano<br />
Tel.: 34 79735 Fax:34 79736<br />
ASSINATURA ANUAL<br />
3.000$00<br />
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL<br />
TIRAGEM<br />
2.000 exemplares<br />
Nº Registo 109060<br />
Depósito legal nº 16288/87<br />
ISSN: 0871 - 0776<br />
EDITORIAL 4<br />
MARCO do CORREIO · 5<br />
SAIBA QUE... 6<br />
Agenda de Cursos e Congressos<br />
OPINIÃO<br />
Financiamento da Saúde:<br />
equívocos e preconceitos<br />
- artigo de Manuel Delgado.<br />
DOCUMENTO 1 11<br />
Saúde: a crua realidade<br />
da Guiné-Bissau por Paulo Salgado<br />
DOCUMENTO li 15<br />
A reforma dos cuidados<br />
de saúde nos EUA e os contributos<br />
para o sistema de saúde português<br />
por Janet Guptill<br />
ENTREVISTA 19<br />
Entrevista com o Presidente<br />
da Escola Nacional de Saúde<br />
Pública, professor Caldeira da Silva<br />
INVESTIGAÇÃO 1 25<br />
O financiamento do sistema<br />
de saúde - a situação em Portugal<br />
analisada por Carlos Costa<br />
e Augusto Mantas<br />
7<br />
INVESTIGAÇÃO il 33<br />
Competição gerida - contributos<br />
para o debate indispensável.<br />
Comunicação apresentada no Forum<br />
"<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>, Novos Rumos",<br />
realizado em Lisboa,<br />
em Dezembro de 1993,<br />
por António Correia de Campos.<br />
ACONTECIMENTO 40<br />
Visita de estudo aos EU A.<br />
Ciclo de Encontros/94<br />
- A <strong>Gestão</strong> da Saúde em Portugal:<br />
Que opções? Que futuro?<br />
1 º Encontro no Porto: A <strong>Gestão</strong><br />
Privada dos Hospitais Públicos<br />
2º Encontro: O Seguro Alternativo<br />
de Saúde no contexto do SNS<br />
PERFIL<br />
46<br />
Joaquim Nogueira da Rocha,<br />
presidente do Conselho<br />
de Administração do Serviço<br />
de Utilização Comum dos Hospitais.<br />
GESTÃO 48<br />
A Unidade de Cuidados Leves por ··<br />
Carlos Gante e Gregório dos Santos.<br />
HOSPITAL ABERTO 55<br />
O Hospital de Mirandela.<br />
LEITURAS 58<br />
ASSOCIAÇÃO<br />
PORTUGUESA DE<br />
ADMINISTRADORES<br />
HOSPITALARES----------- --<br />
,. ,<br />
NORMAS EDITORIAIS<br />
1ª A Revista aceita trabalhos sobre qualquer assunto relacionado<br />
com o tema geral da gestão de serviços de saúde entendida esta no<br />
seu mais amplo sentido.<br />
2ª Os artigos deverão ser envindos ao Director. A este caberá a<br />
responsabilidade de aceitar, rejeitar ou propor modificações.<br />
3ª Os artigos deverão ser enviados em duplicado (incluindo quadros<br />
e figuras), dactilografados a duas entrelinhas em folha de<br />
formato A4. Em cada folha não deverão ser dactilografadas<br />
mais de 35 linhas. As folhas serão numeradas em ordem<br />
sequencial.<br />
4ª Os art~· os deverão ser acompanhados, sempre que possível, por<br />
fotogra ia do(s) autor(es), tipo passe.<br />
5ª Os tra alhos deverão conter em folhas separadas o seguinte:<br />
a)-Título do trabalho, nome(s) do(s) autor(es) e pequeno esboço<br />
curricular do(s) autor(es), principais funções ou titulos, até ao<br />
máximo de dois;<br />
b)-Pequena introdução ao artigo até ao máximo de uma página<br />
dactilografada;<br />
c )-0· texto·<br />
d)-Quadrbs com títulos e legendas (folhas autónomas);<br />
e)-Gráficos desenhados a traço de tinta-da-china sobre papel<br />
vegetal sem números ou palavras;<br />
3 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
f)· Títulos, legendas ou elementos dos gráficos escritos em folhas<br />
de fotocópias destes, à parte;<br />
g)-Fotografias numeradas no verso, a lápis, segundo a ordem de<br />
entrada no texto e respectivas legendas;<br />
h)-Peguenos resumos do artigo em língua francesa e inglesa,<br />
incluindo títulos;<br />
i)-Os originais não deverão conter pés-de-página. Todas as<br />
referências bibliográficas completas serão insertas no final do<br />
artigo.<br />
~Nas referências bibliográficas, os autores são colocados por ordem<br />
alfabética (apelido seguido das iniciais do nome), seguindo-se o<br />
título completo do artigo, o título abreviado da Revista, o número<br />
do volume, os números da primeira e última páginas e o ano da<br />
publicação.<br />
ES:-:·_.· . .' '.'.; ~<br />
L DE<br />
O Editorial e os Artigos não assina s são .da responsabilidade da<br />
Direcção da Associação. ' - · - ' - -· ·<br />
Os Artigos assinados são da exclus va responsabilidade dos seus<br />
autores, não com_prometendo a Asso iação com os pontos de vista<br />
neles expressos. Embora merecendo a melhor atenção, a colaboração<br />
não solicitada não será devolvida, reservando-se o direito de a<br />
publicar ou não.<br />
i<br />
ll , e; 1 1 v T [ C A
Marce> de> Ce>rr~ie><br />
ideia de entregar a gestão dos hospitais a entidades<br />
privadas teve, no fim do mês de Julho, um desenvolvimento<br />
importante com a publicação da Portaria nº<br />
704/94, em que se aprova o programa do concurso e<br />
caderno de encargos tipo, para a celebração dos respectivos<br />
contratos de gestão.<br />
Parecem estar assim, reunidas as condições objectivas para a<br />
implementação da ideia, pese embora as dúvidas ou omissões<br />
que possam suscitar, bem como a oposição de políticos,<br />
técnicos ou investidores que se sintam directa ou indirectamente<br />
envolvidos no processo.<br />
Revelando-se a impotência do Estado para realizar, ainda<br />
que através da Administração Indirecta dos respectivos<br />
Conselhos de Administração, uma gestão eficiente dos<br />
hospitais portugueses, surge como solução a outorga dessa<br />
tarefa a entidades privadas.<br />
Não se privatiza a titularidade nem a lógica de funcionamento<br />
dos hospitais. Apenas se concede a terceiros a<br />
competência para administrar os bens públicos, retirando<br />
deles a máxima efici_ência.<br />
Deduz-se que o "ambiente" privado permite ganhos de<br />
produtividade, racionalização na utilização dos meios,<br />
maior disciplina e responsabilização dos profissionais e<br />
redução significativa dos quadros.<br />
A consistência do raciocínio que vê no "Direito Privado" a<br />
solução para problemas essenciais do funcionamento hospitalar,<br />
não resiste todavia a uma análise minimamente<br />
aprofundada.<br />
Parece-nos, desde logo, comprometedor equacionar apenas<br />
as questões internas das instituições e dos serviços de saúde,<br />
de forma isolada e desenquadrada de uma reforma profunda e<br />
necessária do próprio sistema de saúde.<br />
As rneficiências dos hospitais portugueses têm causas<br />
exógenas, porventura de importância maior do que as<br />
endógenas e, muitas vezes, determinantes destas:<br />
- Um sistema de saúde desarticulado, em que o hospital é<br />
objecto de uma procura indiscriminada e, em grande parte,<br />
pela via mais onerosa: os serviços de urgência;<br />
- Um sistema de financiamento "monopolista" e "miserabilista"<br />
que inibe a adopção de estratégias ofensivas que<br />
cativem e proporcionem conforto e dignidade acrescida aos<br />
consumidores;<br />
- A ausência de um verdadeiro mercado de saúde em que as<br />
transacções entre os clientes, os prestadores e os financiadores,<br />
com base nalguma liberdade de escolha, sejam factor<br />
que estimule a racionalização de procedimentos e a satisfação<br />
dos intervenientes;<br />
- A falta de mecanismos credíveis de avaliação e garantia da<br />
qualidade dos cuidados;<br />
Privatizar o quê[<br />
- A existência de um estatuto profissional burocratizado,<br />
carreirista e desincentivador.<br />
Se o Estado quer continuar a manter a titularidade dos<br />
hospitais e a responsabilidade pelos princípios constitucionais<br />
subjacentes ao direito à Saúde de todos os cidadãos,<br />
deveria, antes de mais, dar respostas, ele próprio, a estas<br />
questões, de forma .global, sistematizada e politicamente<br />
coerente.<br />
Não duvidamos da bondade dos governantes, ao encarar a<br />
privatização da gestão como um factor de melhoria das<br />
condições de acesso e atendimento dos cidadãos, mas temos<br />
fortes reservas quanto ao seu sucesso.<br />
O carácter avulso e pretensamente "privatizador" desta<br />
medida, para além de gerar na opinião pública a ideia de<br />
que os gestores dos hospitais são incompetentes, não<br />
corresponde tão pouco aos princípios políticos do liberalismo<br />
moderno. Ao contrário do que se possa pensar, não se<br />
estão a criar condições para o desenvolvimento de uma<br />
iniciativa privada que seja titular dos meios de produção e<br />
simultaneamente responsável pelas suas própr1as regras de<br />
organização e produção. Esta seria, concerteza, uma opção<br />
de alto risco, mas teria o mérito de se revelar como uma<br />
estratégia política clara e inovadora.<br />
As meias-tintas e as falsas partidas, poderão fazer algum<br />
ruído mas logo caem no esquecimento ...<br />
***<br />
Eleições<br />
stão aí as eleições para os corpos sociais da APAH.<br />
A participação dos associados, constituindo listas,<br />
apresentando e discutindo programas, apontando<br />
críticas ou sugerindo novos caminhos é um imperativo<br />
indiscutível.<br />
Preconizamos sempre o envolvimento activo dos colegas na<br />
defesa dos seus interesses profissionais e no prestígio da sua<br />
profissão.<br />
Nem sempre o nosso trabalho tem sido fácil e o reconhecimento<br />
público dos administradores hospitalares, tem deparado<br />
nos últimos anos com variadíssimos obstáculos.<br />
Estaremos, eventualmente, numa fase conjunturalmente<br />
mais favorável que deveremos saber approveitar.<br />
Por isso o reforço do papel da Associação como parceiro<br />
reconhecido pelo Governo e outros grupos profissionais é<br />
tarefa inadiável que a todos nós e a cada um individualmente<br />
diz directamente respeito.<br />
Mantendo a nossa autonomia e distanciamento político, sem<br />
seguidismos oportunistas ou oposições revanchistas, acreditamos<br />
numa APAH forte e permanentemente renovada. 1<br />
;<br />
Homem certo<br />
no lugar certo<br />
No artigo que assina na revista<br />
anterior sobre gestão hospitalar,<br />
Manuel Delgado oferece ao ministro<br />
Paulo Mendo uma mão cheia de<br />
boas sugestões para reformular a<br />
actual legislação. "Esperamos ( ... )<br />
que na eventual revisão da lei de<br />
gestão se consagre o princípio de<br />
que o exercício do cargo de administrador-delegado<br />
está reservado<br />
a administradores hospitalares diplomados",<br />
escreve a dado passo do<br />
seu artigo de opinião.<br />
Tenho o mesmo ponto de vista e<br />
penso ser essa a posição mais<br />
acertada. Tão acertada mesmo<br />
como atribuir a direcç~o exclusivamente<br />
aos médicos. E razoável e<br />
lógico que assim seja. No fundo<br />
não é mais do que defender o<br />
conhecido princípio do homem<br />
certo para o lugar certo.<br />
Satisfação<br />
J. Santos, médico<br />
Porto<br />
Os administradores hospitalares<br />
que leram a entrevista dada pelo<br />
dr. Paulo Mendo à GESTÃO HOS<br />
PITALAR ficaram com bons motivos<br />
para se sentir satisfeitos. Se o<br />
que disse o dr. Paulo Mendo, então<br />
ainda na qualidade de director do<br />
Hospital de Santo António, corresponder<br />
agora à sua vontade como<br />
ministro, é uma das principais<br />
aspirações dos administradores<br />
hospitalares a ficar reconhecida.<br />
Isto é, a necessidade de que quem<br />
exerce a gestão hospitalar tenha<br />
uma preparação adequada para o<br />
efeito.<br />
E não há dúvida de que em<br />
Portugal, através da Escola Nacional<br />
de Saúde Pública, só os administradores<br />
hospitalares de<br />
carreira possuem habilitação específica<br />
para gerir hospitais.<br />
Leitor identifica,do, técnico de saúde<br />
Lisboa<br />
Coerência<br />
O dr. Paulo Mendo afirmou, ainda<br />
como director do Hospital de Santo<br />
António, que "( .... ) a experiência<br />
que Portugal vem arrecadando<br />
desde que a Escola Nacional de<br />
Saúde Pública começou os seus<br />
cursos de pós-graduação em Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> tem sido extremamente<br />
positiva e mesmo<br />
exemplar para alguns países nossos<br />
amigos ( ... )." Oxalá não mude<br />
de ideias como ministro. Para<br />
marcar a diferença entre alguns<br />
dos seus antecessores.<br />
Leitor identificado, adm. hospitalar<br />
Coimbra<br />
Todos sabemos<br />
"Todos sabemos como os hospitais<br />
privados, especíalmente os com<br />
fins lucrativos, tendem a concentrar<br />
a sua actividade nos casos<br />
mais fáceis e, por isso, mais lucrativos,<br />
enquanto que os hospitais<br />
públicos têm que tratar todos os<br />
doentes".<br />
Quem o afirma é João Urbano, com<br />
a autoridade que todos os administradores<br />
hospitalares, entre os<br />
quais me incluo, lhe reconhecem.<br />
O que se pretende, pois, é que as<br />
regras de gestão para hospitais<br />
públicos e privados sejam claras e<br />
as mesmas. Que milagres - quanto<br />
disparate se tem escrito sobre a<br />
"gestão privada" do Amadora-Sintra!<br />
- não há!<br />
Leitor identificado, adm. hospitalar<br />
Lisboa<br />
Distância<br />
Ao folhear, por mero acaso, num<br />
consultório médico de Lisboa, a<br />
revista GESTÃO HOSPITALAR,<br />
enquanto esperava pela consulta,<br />
li com agrado a secção "Hospital<br />
Aberto", referente ao hospital da<br />
minha cidade - Castelo Branco.<br />
E não posso deixar de dizer,<br />
perante a realidade apresentada,<br />
quão injustas são algumas críticas<br />
e quão distantes nos encontramos<br />
já da situação ali vivida há cerca<br />
de duas dezenas de anos. Mais<br />
parecem milénios!<br />
Maria Arminda, comerciante<br />
Lisboa<br />
4 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
5 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>
Saiba qu .....<br />
Agenda<br />
- De 22 de Agosto a 23 de Setembro,<br />
está a realizar-se em San Francisco<br />
(USA), na Universidade da Califórnia<br />
um Programa Internacional de<br />
Saúde, sob o tema da prevenção da<br />
SIDA.<br />
- De 14 de Setembro a 16 de Setembro,<br />
em Maastricht (Holanda), Curso intensivo<br />
de Verão em Ciências de<br />
Saúde, sob o tema "Estratégia de<br />
investigação: a ligação entre o trabalho<br />
de enfermagem e os resultados nos<br />
doentes".<br />
- De 28 de Setembro a 30 de Setembro,<br />
em Antuérpia (Bélgica), 3º Workshop<br />
europeu sobre Economia da Saúde.<br />
- De 6 a 8 de Outubro, em Y okohama<br />
(Japão), Conferência Pan-regional<br />
da Federação Internacional dos<br />
Hospitais.<br />
- De 7 a 28 de Outubro, em Santarém,<br />
Jornadas sobre Qualidade Global -<br />
-Interacção entre Humanização e<br />
Excelência "Técnica", organizadas<br />
pela Comissão Nacional de Humanização<br />
e Qualidade dos Serviços de Saúde.<br />
- De 7 a 18 de Novembro, em San<br />
Francisco (EUA), na Universidade da<br />
Califórnia, Programa Internacional<br />
de Saúde, sob o tema "Instrumentos e<br />
Técnicas de <strong>Gestão</strong>".<br />
- De 10a11 de Novembro, em Coimbra,<br />
4º Encontro de Economia da Saúde,<br />
sobre o tema "Reforma dos Sistemas de<br />
Saúde".<br />
- De 14 a 17 de Novembro, em<br />
Jerusalém (Israel), 10ª Conferência<br />
Internacional da Sociedade Israelita<br />
para a Qualidade, sobre os temas<br />
"<strong>Gestão</strong>, Software, Economia, Sistemas<br />
de Informação, Legislação, Educação,<br />
Métodos e Instrumentos e<br />
Qualidade e Ambiente".<br />
Prémio Apifarma 93<br />
Os nossos colegas Artur Morais Vaz,<br />
Jorge Almeida Simões e Rui Janeiro da<br />
Costa, de parceria com Paula Santana<br />
(da Faculdade de Letras da Universidade<br />
de Coimbra), foram galardoados<br />
com o Prémio Apifarma/93, pelo seu<br />
trabalho "Desenvolvimento de um<br />
modelo de avaliação do estado de<br />
saúde das populações", entretanto<br />
publicado na Revista Portuguesa de<br />
Saúde pública de Abril/Junho de <strong>1994</strong>.<br />
GESTAO HOSPITALAR felicita os<br />
premiados e aconselha vivamente a<br />
leitura daquele trabalho.<br />
Direcção da Associação<br />
Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es tem<br />
acompanhado com extrema<br />
atenção as dramáticas ocorrências<br />
com doentes hemodializagos<br />
do Hospital Distrital de<br />
Evora, tendo tomado a propósito<br />
a atitude pública que a seguir se<br />
dá conhecimento.<br />
Imperativos de ordem ética e<br />
deontológica e o profundo respeito<br />
pela vida e pelo bem-estar dos<br />
doentes que frequentam os nossos<br />
hospitais impuseram-nos, todavia,<br />
extremos cuidados e algum<br />
distanciamento emocional face às<br />
graves ocorrências verificadas. O<br />
relatório da Procuradoria do<br />
I<br />
Círculo de Evora cotejado com o<br />
Despacho do Senhor Inspector<br />
-Geral de Saúde de 5 de Abril<br />
último, levam-nos a, sobre os<br />
factos, tornar agora pública a<br />
seguinte posição:<br />
1. A Direcção da APAH lamenta<br />
profundamente a ocorrência dos<br />
factos relacionados com ·as deficiências<br />
de funcionamento da<br />
unidade de hemodiálise , do Hospital<br />
Distrital de Evora e solidariza-se<br />
com as vítimas e seus<br />
familiares.<br />
2. Considera, a propósito, que é<br />
urgente, que a A.R. ou o Governo<br />
legislem em matéria de responsabilidade<br />
por forma a que<br />
se institua o princípio da responsabilização<br />
objectiva fundada<br />
no risco. Desse modo e com<br />
base na definição rigorosa do<br />
dano em matéria de prestação<br />
de cuidados de saúde as vítimas<br />
e os seus familiares poderão ser<br />
dos mesmos imediatamente ressarcidos.<br />
3. Face às acusações de economicismo,<br />
de incúria e crime que<br />
à cerca de um ano vêm repetidamente<br />
sendo feitas contra a ex<br />
-Administr~ção do Hospital Distrital<br />
de Evora e particularmente<br />
no que toca ao então<br />
6 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
Desagravo-·<br />
Administrador-Delegado dr. Manuel<br />
Fialho, conclui-se agora<br />
que as mesmas não tinham<br />
qualquer fundamento já que<br />
fica provado que todos os pedidos<br />
de aquisição e substituição<br />
de equipament9 da Central de<br />
tratamento de Aguas e de toda a<br />
unidade de Hemodiálise do HDE<br />
foram sempre deferidas de imediato<br />
bem como todas as recomendações<br />
propostas pela firma<br />
especializada Enkrott.<br />
4. Congratula-se, assim, esta<br />
Direcção com a postura responsável<br />
e competente do então<br />
Administrador-Delegado e sócio<br />
desta Associação dr. Manuel<br />
Fialho, por isso ilibado de qualquer<br />
procedimento criminal civil<br />
ou disciplinar, esperando<br />
deste modo contribuir para o<br />
desagravo público da sua conduta<br />
ética e profissional.<br />
5. Não cabe a esta Direcção<br />
ajuizar sobre a demissão do ex<br />
-Conselho de Administração do<br />
HDE, nem tão pouco opinar<br />
sobre a atitude dos seus membros<br />
em se manterem em funções<br />
após os factos ocorridos.<br />
Entram, nesta matéria, questões<br />
de natureza política e do foro<br />
íntimo dos protagonistas que<br />
não nos compete comentar.<br />
6. Inversamente, parece-nos propositado<br />
referir que não concordamos<br />
com a politização da<br />
gestão hospitalar em má hora<br />
iniciada com Leonor Beleza. A<br />
lei de gestão que produziu e a<br />
forma pouco sensata como em<br />
muitos casos foi aplicada, permitiu,<br />
como neste caso, a incontornável<br />
partidarização das<br />
questões, a falta de dircernimento<br />
nas análises e a ocorrência de<br />
julgamentos precipitados.<br />
A DIRECÇÃO<br />
* Comunicado enviado ao Ministro<br />
da Saúde e à imprensa escrita,<br />
em 28 de Abril.<br />
. ' .<br />
1<br />
Manuel Delgado *<br />
Imagina-se e diz-se que<br />
se gasta pouco em Saúde,<br />
mas não se analisa e<br />
não se diz que se gasta<br />
sem prioridades, sem<br />
critérios e, mais grave,<br />
sem os resultados que,<br />
apesar de tudo, seriam<br />
'<br />
passiveis.<br />
.<br />
Financiamento da Salide:<br />
' .<br />
equ1vocos e preconceitos<br />
a área da Saúde, a<br />
agenda política<br />
tem sido, nos últimos<br />
tempos, marcada<br />
pela questão<br />
do financiamento.<br />
O debate, todavia, tem sido, a meu<br />
ver, escasso, com poucas ideias e<br />
quase sempre sem metodologias<br />
minimamente perceptíveis pelo cidadão<br />
comum.<br />
I<br />
E desde logo interessante verificar-<br />
-se que tem sido o Governo, ainda<br />
que involuntariamente nalguns<br />
casos, a lançar e a conduzir o<br />
debate sobre o financiamento:<br />
a) Fê-lo com a reforma do Estatuto<br />
do SNS de Arlindo de Carvalho, ao<br />
introduzir no sistema a figura<br />
(mítica) do Seguro Alternativo de<br />
Saúde. A insuficiência de recursos<br />
financeiros, ainda que nunca assumida<br />
de forma explícita pelo ex<br />
-ministro, despertou a vontade de se<br />
criar, por aquela via, uma fonte<br />
alternativa de financiamento do<br />
SNS. Do desejo à realidade vai,<br />
no entanto, um passo de gigante,<br />
pois o desenvolvimento dum seguro<br />
integral, verdadeiramente alternativo<br />
ao SNS, exige muito estudo e<br />
um clima de confiança entre todos<br />
os agentes envolvidos, coisas que<br />
estão longe de estar conseguidas.<br />
b) Fê-lo, mais recentemente, com o<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 7<br />
novo ministro Paulo Mendo, ao<br />
assumir a existência de um "subfinanciamento<br />
crónico do SNS"<br />
(sic.), e ao propor como solução,<br />
que os cidadãos economicamente<br />
mais favorecidos . paguem, em percentagens<br />
progressivas em função<br />
do rendimento, parte substancial<br />
dos cuidados de saúde recebidos.<br />
Curiosamente, partindo de um<br />
diagnóstico semelhante, ainda que<br />
encapotado no primeiro cenário e<br />
assumido no segundo, o Governo<br />
propõe, em momentos diferentes,<br />
terapêuticas diferentes.<br />
A originalidade da situação reside<br />
mais na ausência de um discurso<br />
técnico-político alternativo (à esquerda<br />
e à direita) do que no<br />
enunciado das soluções.<br />
De facto, é estranho que, perante<br />
um diagnóstico desde logo discutível<br />
e redutor (o subfinanciamento<br />
crónico do SNS), e um quadro de<br />
soluções assente em critérios meramente<br />
contabilísticos, não apareçam,<br />
designadamente por parte dos<br />
restantes partidos políticos e porque<br />
é essa a sua fulcral função<br />
cívica, um discurso político · alternativo,<br />
coerente, global e inovador<br />
~obre o nosso sistema de Saúde.<br />
E que pôr o assento tónico na<br />
questão do financiamento esquecendo<br />
a árvore de problemas que<br />
se colocam no nosso sistema de ..,.
Opiniao<br />
..._ Saúde, é fonte geradora de<br />
alguns equívocos e da assunção de<br />
alguns preconceitos.<br />
Vejamos:<br />
1. O subfinanciamento<br />
crónico do SNS<br />
Numa análise meramente contabilística<br />
do SNS verifica-se, de facto,<br />
a existência de um deficit que se<br />
vem acentuando, e que poderemos<br />
cifrar em cerca de 100 milhões de<br />
contos para <strong>1994</strong>, para 600 milhões<br />
de despesas orçamentadas.<br />
Todavia, uma leitura atenta de<br />
alguns indicadores importantes,<br />
obriga-nos a outras reflexões:<br />
a) Gastamos cerca de 6, 7% do PIB<br />
na Saúde, o que nos coloca praticamente<br />
na média dos países da<br />
OCDE. O esforço do Estado é, no<br />
entanto, dos mais baixos nesse<br />
ranking (4,1 % contra 6% ou mais<br />
da Alemanha, Bélgica, França e<br />
Luxemburgo, para só referirmos<br />
alguns dos nossos parceiros comunitários),<br />
cabendo aos _cidadãos um<br />
esforço directo ou por via de outros<br />
subsistemas para os quais descontam<br />
(ADSE, SAMS, Seguros, etc.)<br />
uma fatia que equivale a cerca de<br />
40% das despesas da Saúde em<br />
Portugal, só ultrapassada pelos<br />
EUA (60%), com os nossos parceiros<br />
comunitários a exigirem um<br />
esforço menor aos seus cidadãos<br />
(Alemanha - 25%; Bélgica - 17%;<br />
Dinamarca - 15%; Holanda - 25%;<br />
Luxemburgo - 7%; Espanha - 20%;<br />
França -21 %; Itália -19%; Irlanda -<br />
-11 %; Grécia - 18%; Reino Unido -<br />
-10%).<br />
b) O perfil de consumos de saúde<br />
das famílias portuguesas é, em<br />
mais de 55%, destinado a medicamentos<br />
e meios complementares de<br />
diagnóstico, apenas 4% para hospitalização,<br />
cabendo uma fatia não<br />
desprezível de cerca de 7% em<br />
despesas de transporte por razões<br />
de saúde (ambulâncias p. ex.)!<br />
Na maior parte dos países da<br />
OCDE o consumo de medicamentos<br />
e exames não atinge os 20%, a<br />
hospitalização consome cerca de<br />
50% e os transportes apresentam<br />
valores irrelevantes.<br />
Os contrastes são evidentes e<br />
obrigam-nos a pensar sobre as<br />
razões que fazem convergir recursos<br />
para certas categorias de despesas;<br />
c) A produtividade dos recursos<br />
disponíveis no SNS é francamente<br />
baixa. Há excesso de médicos<br />
nalguns hospitais centrais e carência<br />
noutros, mais periféricos. Há<br />
uma confrangedora subutilização<br />
de equipamentos e de instalações<br />
(blocos operatórios, por ex.). Há<br />
uma inapropriação comprovada na<br />
utilização de camas hospitalares,<br />
que nalguns casos ronda os 40%<br />
dos dias de internamento. Há um<br />
claro deficit no cumprimento de<br />
horários de trabalho. Pede-se um<br />
esforço desproporcionado dos Serviços<br />
de Urgência hospitalar, ao<br />
arrepio das verdadeiras necessidades<br />
e de uma gestão programada e<br />
eficiente das instituições.<br />
Há uma frequente repetição de<br />
exames complementares, penosa e<br />
incómoda para os doentes e ineficiente<br />
para o sistema, etc. etc. Ou<br />
seja, imagina-se e diz-se que se<br />
gasta pouco em Saúde, mas não se<br />
analisa e não se diz que se gasta<br />
sem prioridades, sem critérios e,<br />
mais grave, sem os resultados que,<br />
apesar de tudo, seriam possíveis.<br />
2. O papel dos cidadãos<br />
no financiamento<br />
Como sabemos, o sistema de Saúde<br />
português assenta fundamental-<br />
mente no SNS, putativamente universal,<br />
geral e tendencialmente<br />
gratuito e financiado em mais de<br />
90% pelo Orçamento do Estado.<br />
Ou seja, todo o cidadão português,<br />
que paga impostos directos (proporcionais<br />
ao rendimento) e indirectos<br />
(relacionados com o consumo,<br />
e, portanto, em grande medida<br />
proporcionais também ao rendimento)<br />
é um contribuinte líquido<br />
do SNS.<br />
O conceito de gratuidade inserido<br />
na Constituição é, assim, um conceito<br />
que se reporta apenas à<br />
situação de doente ou utente efectivo<br />
do SNS, já que este é financeiramente<br />
suportado pelos cidadãos,<br />
de acordo, no essencial, com os<br />
seus rendimentos.<br />
Para além disso, os cidadãos portugueses<br />
fazem um esforço adicional<br />
para a sua saúde individual ou<br />
familiar quando descontam para<br />
subsistemas (ADSE, SAMS, etc),<br />
contratualizam seguros complementares,<br />
pagam medicamentos<br />
nas farmácias ou internamentos e<br />
exames em clínicas ou hospitais,<br />
taxas moderadoras em serviços<br />
públicos, deslocações e tratamentos<br />
no estrangeiro, etc. E isso,<br />
repita-se, . corresponde a 40% das<br />
despesas de Saúde!<br />
As hipóteses aventadas de solicitar<br />
ao cidadão um novo esforço financeiro<br />
para a sua saúde, levantam<br />
assim fortes interrogações, pese<br />
embora, as formas diferentes que<br />
os dois cenários governamentais<br />
indiciam, a saber:<br />
a) Via Seguro Alternativo<br />
de Saúde (SAS)<br />
Ao cidadão é-lhe facultada a hipótese<br />
de optar por um seguro que se<br />
substituirá ao orçamento do Estado<br />
no financiamento da sua saúde,<br />
seja em instituições públicas ou<br />
privadas. Se for esta a opção<br />
escolhida, ao cidadão é-lhe "devolvida"<br />
a sua capitação (em 600<br />
milhões de contos gastos no SNS, a<br />
capitação seria de 60 contos), pois<br />
não fará sentido mantê-lo como<br />
contribuinte liquido para o financiamento<br />
do SNS.<br />
b) Via co-pagamento<br />
dos cuidados<br />
Aos cidadãos ser-lhes-ia cobrada<br />
uma parte substancial dos custos<br />
dos cuidados de saúde recebidos em<br />
serviços públicos (30, 50 ou 70%),<br />
conforme o seu escalão de rendimentos,<br />
ressalvando-se as situações<br />
de excepção (indigentes ou<br />
doenças catastróficas).<br />
Sem prejuízo dos dois cenários se<br />
poderem conciliar, da análise de<br />
cada um deles, resultam algumas<br />
consequências que convém dissecar:<br />
1 ª - O SAS, tal como está enunciado,<br />
parece socialmente razoável.<br />
No entanto, como já referimos, os<br />
prémios a pagar, as franquias a<br />
esportular nos momentos de consumo<br />
e a extensão dos benefícios, são<br />
questões de tal modo complexas e<br />
tão mal estudadas, que poderemos<br />
correr o risco de ter que concluir<br />
que não há cidadãos interessados,<br />
nem companhias seguradoras dis-<br />
O co-pagamento, a vingar, representaria um<br />
retrocesso de décadas quanto aos princípios hoje<br />
consagrados em todos os países da OCDE, da<br />
equidade no acesso e da solidariedade na distribuição<br />
dos custos.<br />
, .<br />
pomve1s para avançar;<br />
2ª - O co-pagamento dos cuidados, é<br />
ao contrário da anterior, uma ideia<br />
socialmente incomportável e politicamente<br />
madrasta.<br />
A vingar, representaria um retrocesso<br />
de décadas quanto aos princípios<br />
hoje consagrados em todos<br />
os países da OCDE, da equidade no<br />
acesso e da solidariedade na distribuição<br />
dos custos.<br />
O co-pagamento de cuidados de<br />
saúde compromete irremediavelmente<br />
estes dois princípios, já<br />
que, por um lado, inibe o acesso a<br />
quem não tem conjuntural ou<br />
estruturalmente dinheiro para pagar<br />
e não permite a redistribuição<br />
de rendimentos que o mecanismo<br />
da tributação, pelo menos em<br />
teoria, consegue.<br />
Convirá, a propósito, introduzir<br />
aqui a dimensão ideológica do -<br />
financiamento da Saúde.<br />
Assumida que está a falência do<br />
Estado Providência, os amantes do<br />
liberalismo, apressam-se a comparar<br />
6 consumo de cuidados de<br />
saúde ao de outro qualquer bem<br />
ou serviço. Se vamos ao supermercado<br />
comprar pão ou batatas com o<br />
dinheiro que temos na carteira, por<br />
que não ir ao médico ou ao hospital<br />
seguindo o mesmo processo? Dessa<br />
forma, pensaríamos duas vezes<br />
antes de ficarmos doentes e, neste<br />
caso, consumiríamos cuidados de 3ª<br />
de 2ª ou de 1ª, de acordo com a<br />
nossa bolsa, como quem compra<br />
carne no talho.<br />
Esquecem-se esses fundamentalistas<br />
do liberalismo, que a doença é<br />
fenómeno imponderável que, desde<br />
logo,<br />
.<br />
depende das condições<br />
.<br />
económ1co-socia1s<br />
em que se vive.<br />
Níveis de vida mais baixos desencadeiam.<br />
geralmente uma morbilidade<br />
mais elevada, mais complexa<br />
e etariamente precoce.<br />
Por outro lado, os custos da saúde<br />
são muito elevados e sobem muito<br />
mais depressa do que os rendimentos,<br />
ao ponto de serem tendencialmente<br />
incomportáveis, para os<br />
indivíduos e para as sociedades.<br />
Acresce ainda o facto de que<br />
elevados índices de morbilidade<br />
têm um efeito de arrastamento<br />
significativo, penalizando a vida<br />
familiar e o tecido produtivo.<br />
Ou seja, e é esse o esforço que se<br />
tem vindo a fazer nos países líderes<br />
da OCDE, é necessário encontrar<br />
um ou vários modelos que, associando<br />
mecanismos de mercado,<br />
de responsabilização individual e<br />
de racionalização, mantenham<br />
compromissos ideológicos fundamentais<br />
ligados à equidade e à .,..<br />
8 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 9
De»cum~nte»<br />
-41111 solidariedade, na distribuição<br />
dos recursos e na partilha dos<br />
custos.<br />
E há sobre esta matéria muito<br />
estudo feito e algumas ideias já<br />
concretizadas.<br />
No essencial, e mesmo nos países<br />
tradicionalmente com um modelo<br />
tipo SNS, começa-se por separar o<br />
financiamento da prestação de<br />
cuidados, o que, a ser aplicado<br />
entre nós, poderia trazer ganhos<br />
importantes na produtividade e no<br />
desempenho do nosso SNS.<br />
De facto, o modelo de financiamento<br />
que temos assenta em orçamentos<br />
globais de natureza retrospectiva<br />
para cada serviço ou instituição,<br />
o que, desde logo, é um convite<br />
' . /'\ .<br />
e, as vezes uma ex1gencia, para se<br />
produzir menos ou com pior qualidade.<br />
Por outro lado, não há verdadeira<br />
autonomia técnica, administrati~a<br />
e financeira das entidades públicas<br />
prestadoras, fazendo com que a sua<br />
gestão' se sinta pouco motivada e<br />
apenas sensível à ideia do reequilíbrio<br />
financeiro, mesmo que isso<br />
pressuponha encerramento de valências,<br />
listas de espera agravadas,<br />
menos qualidade hoteleira.<br />
Esta situação não é excl~siva do<br />
nosso SNS. Todos os modelos de<br />
financiamento assentes em orçamentos<br />
globais e centralmente<br />
controlados tendem para a entropia,<br />
para o empobrecimento técnico<br />
dos cuidados e para a crescente<br />
insatisfação dos utentes.<br />
Estudos transversais levados a<br />
cabo em vários países da OCDE<br />
com modelos tipo SNS e nos países<br />
do leste europeu confirmaram<br />
aqueles postulados.<br />
No caso português, essa separação<br />
(entre financiador e prestador),<br />
mesmo admitindo que o Estado<br />
continuasse a ser a entidade financiadora,<br />
permitiria aos serviços de<br />
saúde e às unidades hospitalares<br />
serem financiadas com base na sua<br />
produção, assente em preços uniformes<br />
para públicos e privados. Se<br />
acrescentarmos a isto uma certa<br />
liberdade de escolha por parte dos<br />
cidadãos, teríamos uma competição<br />
mitigada que flexibilizaria o<br />
sistema e estimularia a qualidade.<br />
Resta a magna questão de se saber<br />
Mais dinheiro para a Saúde não representa<br />
necessáriamente melhor sistema de saúde, nem<br />
cidadões mais satisfeitos<br />
de onde poderá vir, eventualmente,<br />
mais dinheiro.<br />
As verbas da Saúde deveriam ter<br />
origem em fundo~ próprios para os<br />
q.uais os cidadãos descontariam<br />
directamente, em função do seu<br />
rendimento. O Orçamento do Estado<br />
não incluiria, assim, verbas<br />
para a prestação de cuidados de<br />
saúde, cabendo a esses fundos<br />
autónomos o financiamento do<br />
sistema.<br />
Cada um de nós saberia exactamente<br />
o seu esforço financeiro para<br />
a saúde e, o que é mais importante,<br />
essa contribuição seria feita em<br />
prestações periódicas. Nos episódios<br />
de doença, ou em situações<br />
preventivas facilmente tipificáveis,<br />
o cidadão pagaria apenas uma<br />
pequena taxa de utilização.<br />
O essencial deste modelo, apenas<br />
sinteticamente formulado e que<br />
poderá ter ulteriores desenvolvimentos,<br />
radica em dois princípios<br />
fundamentais:<br />
1. Quando se está doente,<br />
independentemente da situação<br />
sócio-económica, não se<br />
deve pagar o custo dos cuidados<br />
recebidos.<br />
2. O sistema deve ser financiado<br />
essencialmente com base<br />
em mecanismos contributivos<br />
assentes na solidariedade<br />
e não no risco.<br />
Em síntese, e para que o debate<br />
sobre o financiamento da Saúde se<br />
posicione nos seus verdadeiros<br />
limites, seria interessante que os<br />
responsáveis políticos encarassem<br />
as seguintes questões:<br />
1 - Em primeiro lugar deve-se<br />
delinear um novo modelo de Saúde,<br />
que abra as portas à eficiência,<br />
à competição, à qualidade e a<br />
algumas possibilidades de escolha<br />
para o cidadão. Reduzir a questão à<br />
montagem de dispositivos para<br />
obter mais receitas não responde<br />
àqueles desafios e pode manter<br />
tudo na mesma.<br />
2 -·Os mecanismos de financiamento,<br />
embora de âmbito instrumental,<br />
podem ter consequências estratégicas<br />
e políticas importantes.<br />
Veja-se, por exemplo, a simplicidade<br />
com que se propõe que os<br />
cidadãos co-paguem os cuidados<br />
que recebem e as iniquidades que<br />
tal mecanismo representa na esteira<br />
do mais seródio neoliberalismo e<br />
cujos resultados estão à vista no<br />
sistema de saúde dos Estados<br />
Unidos da América.<br />
3. Mais dinheiro para a Saúde não<br />
representa necessariamente melhor<br />
Sistema de Saúde, nem cidadãos<br />
mais satisfeitos. Os exemplos<br />
abundam, partindo da comparação<br />
entre países da OCDE, EUA/Canadá,<br />
Dinamarca/Holanda, por exemplo.<br />
4. O país não está em condições de<br />
exigir um terceiro esforço aos<br />
cidadãos portugueses para o financiamento<br />
do Sistema de Saúde. São<br />
já os que mais gastam em despesas<br />
privadas no concerto europeu e da<br />
OCDE. Pelo contrário, terá que ser<br />
o Estado, depois de se definir um<br />
modelo de saúde credível, em<br />
termos de eficiência e de resultados,<br />
a coordenar um esforço financeiro<br />
eventualmente maior, através<br />
de uma canalização directa, selectiva<br />
e preferencial de recursos. •<br />
* Administrador hospitalar,<br />
presidente da Direcção da<br />
Associação Portuguesa de<br />
Administradores <strong>Hospitalar</strong>es.<br />
Saúde: a crua realidade<br />
da Guiné-Bissau<br />
No quadro do projecto de reabilitação do Hospital Nacional Simão<br />
Mendes, de Bissau, financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento,<br />
.uma das vertentes era a formação de pessoal "visando reforçar,<br />
por meio de cursos teóricos e práticos de dois níveis, a capacidade de<br />
gestão e de administração do pessoal existente, e eventualmente de<br />
pessoal a recrutar".<br />
acção de formação prevista<br />
no quadro do projecto de<br />
reabilitação do Hospital Nacional<br />
Simão Mendes, já levada<br />
a efeito, entroncava na noção<br />
de desenvolvimento coordenado dos<br />
recursos humanos e sanitários<br />
(DCRHS), conceito tão caro à Organização<br />
Mundial de Saúde. Reconhecemos,<br />
todavia, que, à semelhança do<br />
que se tem passado com outras<br />
iniciativas na área da formação de<br />
pessoal do sector saúde, seria fundamental<br />
a intervenção de um órgão<br />
técnico-político que introduzisse o<br />
elemento "coordenação" nesta actividade.<br />
O grupo de trabalho da OMS sobre o<br />
desenvolvimento integrado dos sistemas<br />
e dos profissionais de saúde<br />
reunido em Genebra de 6 a 10 d ~<br />
Novembro de 1989, formulou algumas<br />
recomendações aos Estados<br />
Membros, com vista a promover o<br />
desenvolvimento dos recursos humanos<br />
e sanitários. Estas recomenda-<br />
Paulo Salgado *<br />
ções vêm enunciadas no Rapport<br />
Technique da OMS, nº 801, Genéve,<br />
1990, pelo que não cairemos na<br />
tentação de aqui as referir. No<br />
entanto, pelo interesse relevante<br />
para a Guiné-Bissau, apresentaremos<br />
as suas ideias fundamentais.<br />
Em primeiro lugar, lembra esse<br />
g~upo de trabalho, os países deveriam<br />
passar em revista as suas<br />
actividades ligadas aos recursos<br />
humanos e, depois, elaborar um<br />
plano nacional, actualizado e claramente<br />
definido, sobre a política de<br />
pessoal.<br />
Em segundo lugar, os países deveriam<br />
privilegiar a atenção ao desenvolvimento<br />
de um sistema educativo<br />
colaborante com o sistema de saúde.<br />
Outra recomendação diz respeito à<br />
criação de um órgão dotado de<br />
poderes suficientes para assegurar,<br />
em tempo oportuno, a elaboração, a<br />
execução, a coordenação e a avaliação<br />
das políticas relativas ao desenvolvimento<br />
dos recursos humanos no<br />
domínio da saúde.<br />
Finalmente, os países deveriam procurar<br />
meios e processos para suscitar<br />
um interesse e uma participação<br />
envolventes por parte de grupos<br />
vários (profissionais, colectividade<br />
grande público ...)<br />
'<br />
Ideias para reflexão<br />
~p~esentamos, de seguida, algumas<br />
ideias para eventual reflexão pelas<br />
autoridades guineenses envolvidas,<br />
decorrentes da nossa experiência<br />
enquanto cooperante.<br />
Distribuição Desiquilibrada<br />
dos Recursos Humanos<br />
Há falta de recursos humanos em<br />
certas categorias profissionais, . em<br />
especial no que respeita a determinadas<br />
valências médicas ou de enfermagem.<br />
Mas existe também<br />
penúria ou excedente numa ou<br />
várias categorias profissionais, nesta<br />
ou naquela região. Em concreto<br />
(veja-se o quadro) as discrepâncias<br />
são significativas. Mas o que nele -..<br />
10 <strong>Gestão</strong> Ho"spitalar<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 11
~ ressalta com nitidez é a escassez de<br />
pessoal técnico quer na área médica<br />
quer na área de enfermagem quer<br />
ainda na área dos meios complementares<br />
de diagnóstico e terapêutica.<br />
Baixa Produtividade<br />
A baixa produtividade resulta essencialmente<br />
do fraco nível de utilização<br />
das instalações e equipamentos,<br />
principalmente do bloco operatório e<br />
dos gabinetes de consulta. Resulta<br />
ainda da constante avaria de alguns<br />
equipamentos que não podem 'ser<br />
reparados ou recuperados para o<br />
seu normal funcionamento.<br />
Trata-se, portanto, de uma baixa<br />
produtividade induzida.<br />
Sistemas de Carreiras<br />
e de Promoção<br />
A recente aprovação em Conselho de<br />
Minis_tros de algumas carreiras específicas<br />
veio alterar a situação neste<br />
particular aspecto. Haverá que pôr<br />
em execução o diploma, regulamentando,<br />
corrigindo ou melhorando<br />
alguns dos seus aspectos. Não se<br />
deve esquecer que há carreiras comuns<br />
a toda a administração cujo<br />
sistema deverá ser objecto de regulamentação<br />
adequada.<br />
Formação<br />
Neste aspecto, são notórias as deficiências<br />
no nível da planificação da<br />
formação e respectiva gestão, o que<br />
provoca a frequência repetida de<br />
acções formativas por alguns profissionais,<br />
às vezes em domínios muito<br />
diferentes da sua vocação ou formação<br />
de base, ou mesmo desperdícios<br />
financeiros que poderiam ser canalizados<br />
para outros domínios.<br />
A frequência de cursos, seminários, estágios<br />
ou outras formas de aperfeiçoamento<br />
profissional realizados no estrangeiro tem<br />
contribuído para a fuga de profissionais que,<br />
não regressando ao seu País, provocam uma<br />
sangria nos já débeis recursos humanos mais<br />
qualificados.<br />
Formação no Estrangeiro<br />
A frequência de cursos, seminários,<br />
estágios ou outras formas de aperfeiçoamento<br />
profissional realizados no<br />
estrangeiro tem contribuído para a<br />
fuga de profissionais que, não regressando<br />
ao seu País, provocam uma<br />
sangria nos já débeis recursos humanos<br />
mais qualificados.<br />
Motivação<br />
Existem alguns factores de insatisfação:<br />
falta de responsabilização pessoal<br />
nas decisões tomadas, salários<br />
baixos, falta de formação contínua,<br />
não pagamento de trabalho extraordinário.<br />
Tais factos têm provocado,<br />
pelo menos em alguns profissionais,<br />
desvio para as actividades privadas,<br />
com eventual prejuízo para o trabalho<br />
realizado nos serviços públicos,<br />
(independentemente da necessidade<br />
que há da iniciativa privada ... ).<br />
Pressupostos para o DCRHS<br />
Uma das soluções, preconizada pela<br />
OMS, é, como aliás foi referido, o<br />
lançamento ou o reforço do conceito<br />
de desenvolvimento coordenado dos<br />
recursos humanos e sanitários<br />
(DCRHS), que esta Organização pretende<br />
ajudar a implementar nos<br />
países em vias de desenvolvimento.<br />
Um primeiro aspecto é difundir os<br />
conceitos inerentes à DCRHS e<br />
construir um consenso nacional<br />
com base num plano donde constem<br />
as opções fundamentais, a estratégia,<br />
os objectivos e planificação da execução<br />
e respectiva avaliação.<br />
Para o efeito, seria vantajoso que a<br />
OMS (e outras Instituições e Organizações<br />
Internacionais) canalizassem<br />
fundos disponíveis para a cooperação<br />
bilateral, privilegiando propostas<br />
que valorizem a realidade<br />
concreta local e que não sejam<br />
intelectualmente levianas. Este<br />
apoio seria prestado ao mais alto<br />
nível, envolvendo mesmo departamentos<br />
ministeriais de países vocacionados.<br />
Neste particular aspecto,<br />
pela experiência e pragmatismo que<br />
tem, por razões linguísticas, pelos<br />
laços históricos e afectivos que unem<br />
os Povos dos dois Países, Portugal<br />
reune condições excelentes para<br />
realizar um apoio efectivo no âmbito<br />
RECURSOS HUMANOS (MÉDICOS, ENFERMEIROS E TÉCNICOS) E SUA DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL<br />
. Regiões Superfície Habitantes Densidade Número de Nº médicos Nº Enferm.* Nº Enferm. Número de Nº Técnicos<br />
(Km 2 ) (Censo prov.) populacional Médicos p/1000Hab. p/1000Hab. Técnicos** p/1000Hab.<br />
Sect. Aut. Bissau 77,5 197.610 2.549,0 63 0,32 629(a) 3, 18 183 0,93<br />
Biombo 839 60.420 72,0 1 0,17 52 8,60 6 0,10<br />
OiO 5.403 156.084 28,9 2 0,01 123 0,79 16 0,10<br />
Bafatá 5.981 143.367 23,9 4 0,03 114 0,80 15 0,10<br />
Bolama/Bijagós 2.624 26.961 1O,1 3 0, 11 79 2,93 10 0,37<br />
Cacheu 5.175 146.981 28,4 3 0,02 115 0,78 24 0,16<br />
Gabu 9.150 134.981 14,7 3 0,02 122 0,90 22 0,16<br />
Quínara 3.138 44.793 14,3 1 0,02 96 2,14 . 7 0,16<br />
Tombali 3.737 72.441 19,4 3 0,04 112 1,55 13 0,18<br />
TOTAL 36.124,5 983.637 27,23 83 0,08 1442 1,47 296 0,30<br />
Fonte: "A Saúde em Números", A. Barai e J. Correia (Funcionários do MINSAS), elaborado no âmbito do Projecto de Reabilitação<br />
do HNSM (Curso de Base de Administração <strong>Hospitalar</strong>) Julho/1992.<br />
* ..., Inclui todas as categorias de enfermeiros, parteiras e enfermeiros auxiliares<br />
** ~- Inclui técnicos auxiliares, estatísticas, de apuramento, social, etc ...<br />
(a) - Incl4ídos os enfermeiros professores<br />
12 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
do DCRHS, sem perder de vista a<br />
harmonização de métodos e as orientações<br />
da OMS, e sem prejuízo, como<br />
é óbvio, da realidade local e das<br />
políticas definidas pelo Ministério<br />
da Saúde e Assuntos Sociais da<br />
Guiné-Bissau.<br />
Outro aspecto a desenvolver é a<br />
criação de um Órgão político-técnico<br />
dentro do Ministério da Saúde e<br />
Assuntos Sociais, dotado de meios<br />
técnicos e humanos, capaz de definir<br />
objectivos, de promover acções inovadoras,<br />
de mobilizar todos os profissionais<br />
e de dialogar com o<br />
departamento ministerial que tem a<br />
cargo a cooperação internacional.<br />
Um terceiro aspecto é a interligação<br />
entre os Ministérios da Saúde e<br />
Assuntos Sociais e da Educação que<br />
em conjunto equacionariam as necessidades<br />
em recursos humanos,<br />
estabeleceriam prioridades e promoveriam<br />
as acções tendentes à resolução<br />
dos problemas.<br />
Finalmente, um ponto· importante: a<br />
participação da população em geral e<br />
dos profissionais em particular.<br />
Sugestões<br />
No que respeita à Guiné-Bissau, não<br />
pretendendo embora apresentar uma<br />
proposta de DCRHS (pois tal tarefa<br />
compete às autoridades guineenses)<br />
gostaríamos de sugerir algumas<br />
ideias fundamentais para a sua<br />
aplicação no terreno:<br />
Planificação<br />
A República da Guiné-Bissau é um<br />
País pouco extenso e com uma<br />
população que não ultrapassa<br />
1.000.000 de habitantes; apesar de<br />
alguma diversidade geográfica e da<br />
regionalização ser uma palavra de<br />
ordem erri muitos sectores de activi-<br />
Documento<br />
A Faculdade de Medicina, que "produziu" em<br />
1992 os primeiros licenciados, há-de responder<br />
às necessidades comunitárias, pondo o acento<br />
tónico no justo equilíbrio dos cuidados de saúde<br />
primários e cuidados de saúde secundários.<br />
dade, penso que a planificação, a<br />
coordenação e a avaliação dos recursos<br />
humanos envolvidos na saúde<br />
deverão ser ef ectuadas por um órgão<br />
central. Por uma razão fundamental:é<br />
preciso escolher pessoas qualificadas<br />
e fazer todos os esforços para<br />
as reter e motivar - as autoridades<br />
guineenses não podem subvalorizar<br />
este aspecto.<br />
Mas se a planificação deve ser<br />
centralizada, ela não pode pôr em<br />
causa o "engajamento" de todos os<br />
participantes envolvidos no clima do<br />
"sistema de saúde": direcções regionais<br />
de saúde, estabelecimentos de<br />
saúde, Escola Superior de Medicina,<br />
Escola de Formação de Quadros de<br />
Saúde, grupos e associações de profissionais,<br />
associações de estudantes<br />
e a própria colectividade.<br />
Na RGB as experiências participativas<br />
têm sido ricas ao longo destes<br />
últimos anos, pelo que não será<br />
difícil promover esta forma de envolvimento.<br />
Aprendizagem<br />
em meio profissional<br />
São várias as razões que suscitam a<br />
defesa deste modelo de aprendizagem,<br />
preconizado pela OMS e UNES<br />
CO: permite dar aos estudantes o<br />
sentido do social, abrangendo igualmente<br />
a interconexão entre os facto-<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 13<br />
res sanitários e outros factores de<br />
desenvolvimento da comunidade;<br />
possibilita fazer a ligação entre a<br />
teoria e a prática, como a verdadeira<br />
dimensão para o futuro profissional<br />
de cada jovem; provoca o enriquecimento<br />
e a actualização constantes do<br />
processo educacional através do<br />
confronto permanente com as dificuldades<br />
reais, sempre com o objectivo<br />
de ultrapassar as barreiras entre<br />
os profissionais e a comunidade; e<br />
permite melhorar a qualidade dos<br />
serviços de saúde comunitários, porque<br />
os formandos (estudantes), dispondo<br />
da lição recente, pretendem<br />
-na ver imediatamente aplicada.<br />
O papel da Faculdade<br />
de Medicina<br />
Esta Escola, que "produziu" em 1992<br />
os primeiros licenciados em Medicina<br />
há-de responder às necessidades<br />
comunitárias, pondo o acento tónico<br />
no justo equilíbrio dos cuidados de<br />
saúde primários e cuidados de saúde<br />
secundários, sendo certo que os<br />
licenciados verão a sua formação e<br />
profissionalização completa através<br />
da realização de estágios em meio<br />
hospitalar e centros de saúde, considerados<br />
idóneos, em contacto directo<br />
com outros profissionais e com os<br />
utentes dos serviços de saúde.<br />
Outras questões fundamentais: ....
Documento<br />
~ quantos licenciados "produzir"?<br />
Quais as valências médicas requeridas<br />
pela realidade concreta? Como<br />
cobrir, e qual o período de tempo<br />
exigido, todas as valências médicas<br />
hospitalares? Estas questões, e outras<br />
proventura com el~s relacionadas,<br />
só terão resposta se houver<br />
ligação entre o departamento central<br />
planificador e a própria Faculdade<br />
de Medicina.<br />
O papel da Escola Técnica de<br />
Formação de Quadros da Saúde<br />
Valem aqui os princípios enunciados"<br />
no ponto anterior.<br />
Apenas se destaca mais a necessidade<br />
de diversificar e regionalizar os<br />
estágios a realizar no~ serviços de<br />
saúde.<br />
Legislação sobre<br />
recursos humanos<br />
O estabelecimento das carreiras de<br />
saúde (algumas já aprovadas em<br />
Conselho de Ministros), a regulamentação<br />
sobre a classificação de<br />
serviço, a criação de incentivos reais<br />
ao trabalho na periferia, a participação<br />
efectiva por parte dos profissionais<br />
de saúde na gestão dos<br />
estabelecimentos de saúde (designadamente<br />
dos hospitais), o pagamento<br />
do trabalho extraordinário quer nocturno<br />
quer fora das horas normais de<br />
serviço, são alguns dos aspectos que<br />
constituiriam motivo de satisfação<br />
dos profissionais.<br />
Interligação dos Ministérios<br />
Nos aspectos que percorrem simultâneamente<br />
os Ministérios da Saúde e<br />
Assuntos Sociais e da Educação ao<br />
nível da formação de base e de<br />
aperfeiçoamento profissional, há<br />
que fomentar o diálogo nas estruturas<br />
correspondentes.<br />
Informação<br />
O processo de informação deverá<br />
incluir dois aspectos.<br />
Em primeiro lugar, deverá ser criado<br />
um sistema de informação descendente<br />
dirigida a todos os funcionários,<br />
que contemple, nomeadamente,<br />
condições de trabalho, mobilidade de<br />
pessoal, classificação de serviço,<br />
direitos e deveres. No sentido ascendente,<br />
deverão ser criados mecanismos<br />
que possibilitem a audição dos<br />
problemas e anseios que se colocam a<br />
todos os trabalhadores.<br />
Em segundo lugar, para uma correcta<br />
gestão dos recursos, torna-se<br />
imperioso utilizar e criar indicadores<br />
nos serviços na justa medida em<br />
que eles fazem parte do sistema<br />
gestionário:<br />
- despesas com pessoal (remunerações,<br />
trabalho extraordinário, formação)<br />
- taxas de absentismo geral e grupal<br />
-acidentes de trabalho geral e grupal<br />
- diferença entre as remunerações<br />
mais baixas e as mais elevadas<br />
- diversos rácios (médico/cama; enfer:<br />
meiro/cama; médico/consultas; etc)<br />
Conclusões<br />
A dinâmica proporcionada pelo<br />
DCRHS envolve não apenas a educação<br />
e a formação, mas também a<br />
política e planificação e a própria<br />
gestão.<br />
Somente uma visão sistemática, integrada<br />
e abrangente da problemática<br />
e dos recursos humanos favorecerá a<br />
instauração de um clima tendente a<br />
uma saúde melhor e para todos no<br />
ano 2000.<br />
Foram mencionados alguns vectores<br />
necessários a alcançar tal desiderato,<br />
sempre reportados ao envolvimento<br />
e às orientações defendidas pela<br />
Organização Mundial de Saúde. 1<br />
* Administrador hospitalar do Hospital<br />
Geral de Santo António<br />
A reforma dos cuidados<br />
de Saúde nos EUA<br />
- Contributos para o Sistema de Saúde português<br />
enhum país do mundo está<br />
imune a um constante debate<br />
sobre a prestação dos cuida -<br />
dos de saúde aos seus cidadãos:<br />
como garantir o acesso sem que<br />
os custos disparem ou · a qualidade<br />
diminua?<br />
A resposta passa pela definição e<br />
desenvolvimento dos mecanismos de<br />
financiamento. A solução inicia-se<br />
com a formulação dos resultados<br />
desjados, ponderando o comportamento<br />
dos vários protagonistas do<br />
sistema, através de incentivos financeiros.<br />
Os objectivos de qualquer sistema de<br />
saúde são hoje relativamente consensuais<br />
e universalmente aceites:<br />
1- Todos os cidadãos deverão dispôr<br />
de um nível básico de cuidados de<br />
saúde independentemente da sua<br />
capacidade para pagar os respectivos<br />
serviços;<br />
2- O dinheiro gasto nos cuidados de<br />
saúde deve ser utilizado da forma<br />
mais eficiente possível, através de<br />
níveis apropriados de prestação ao<br />
mais baixo custo;<br />
3- O sistema deverá ser efectivo,<br />
garantindo níveis de saúde satisfatórios<br />
para a população, face aos<br />
recursos disponíveis.<br />
O Sistema de Saúde norte-americano<br />
assenta fundamentalmente no sector<br />
Janet Guptill *<br />
privado. Todavia, o Governo Federal<br />
disponibiliza programas de âmbito<br />
nacional para colmatar as desigualdades<br />
que possam ocorrer, na perspectiva<br />
do livre jogo do mercado.<br />
São particularmente bem conhecidos<br />
o "Medicare" (cuidados de saúde<br />
para as pessoas de idade superior a<br />
65 anos e para portadores de certas<br />
doenças catastróficas ou crónicas), e<br />
o "11edicaid" (cuidados de saúde<br />
para os cidadãos de baixos rendimentos),<br />
em vigor desde meados dos<br />
anos 60. Os restantes cidadãos estão<br />
maioritariamente cobertos por segu-<br />
ros privados, suportados frequentemente<br />
pelas entidades empregadoras.<br />
Os resultados proporcionaram<br />
uma rede hospitalar completamente<br />
modernizada e uma prática clínica<br />
com meios tecnológicos sempre actualizados,<br />
aos diferentes níveis:<br />
cuidados em ambulatório, consultórios<br />
particulares, cuidados domiciliários,<br />
com toda a gama de meios de<br />
d~agnóstico, terapêutica e de urgência.<br />
O resultado é hoje, em síntese, um<br />
sistema da mais elevada qualidade,<br />
mas sem olhar a custos.<br />
O crescimento dos custos dos seguros<br />
de saúde tem, todavia, impedido<br />
o acesso àqueles que se tornam<br />
incapazes de pagar os respectivos<br />
prémios, estimando-se em 34 milhões<br />
o número de pessoas não cobertas,<br />
nem por programas governamentais,<br />
nem por qualquer plano de seguro.<br />
As entidades pagadoras do sistema -<br />
governo, empregadores e os próprios<br />
indivíduos directamente - clamam<br />
por uma profunda reforma, que<br />
ponha cobro à explosão dos custos<br />
do sistema.<br />
Assim, a reforma em curso tem como<br />
objectivo prioritário a contenção dos<br />
_custos, por forma a garantir o acesso<br />
financeiro a todos os cidadãos norte<br />
-americanos. Simultaneamente, os<br />
programas previstos pretendem, cautelosamente,<br />
preservar os altos padrões<br />
de qualidade, já habituais no<br />
sistema de saúde norte-americano.<br />
. Procura-se, assim, por entre as<br />
diferentes alternativas, um novo<br />
tipo de sistema, de "com petição<br />
gerida", onde os incentivos à eficiência<br />
e à efectividade coexistam<br />
com os priscípios do livre acesso e<br />
dos custos controlados. Esta ideia -<br />
"competição gerida" - pode ser .,..<br />
14 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 15
Documento<br />
.,... extremamente útil para outros<br />
países, que também procuram soluções<br />
novas para os respectivos<br />
sistemas de saúde, já que incorpora<br />
o exercício privado da medicina e a<br />
responsabilidade do governo como<br />
entidade financiadora.<br />
O comportamento do consumidor<br />
Qualquer governo deseja que os<br />
cidadãos tenham um acesso fácil<br />
aos cuidados de saúde, em função<br />
das suas necessidades.<br />
Todavia, deseja-se também que os<br />
consumidores utilizem o sistema de<br />
forma responsável - ou seja, procurando<br />
pertinentemente os cuidados ··e<br />
sempre que possível no início das<br />
doenças, quando o seu tratamento é<br />
menos dispendioso.<br />
O papel do consumidor no financiamento<br />
dos cuidados de saúde deve,<br />
assim, incluir os seguintes incentivos:<br />
- o pagamento dos cuidados básicos<br />
deve corresponder à capacidade de<br />
pagar (ao rendimento);<br />
- Os cuidados suplementares deverão<br />
ser pagos directamente pelos indi víd<br />
uos;<br />
- Os exames de "check-up" e as<br />
intervenções precoces devem realizar-se<br />
em tempo oportuno e apropriadamente;<br />
- O consumidor deverá tender para<br />
uma relação consciente com os prestadores<br />
e com os seguradores, com<br />
base no princípio do custo-efectividade,<br />
elevada qualidade e eficiência.<br />
O comportamento do prestador<br />
Os prestadores de cuidados de saúde<br />
deverão ser recompensados por tomarem<br />
opções judiciosas no equilíbrio<br />
entre um tratamento eficaz e o<br />
respectivo custo. Deverão ser penalizados<br />
quando sobreutilizam desnecessáriamente<br />
os recursos. Contudo,<br />
deverão ser advertidos contra a<br />
sonegação de tratamentos necessários<br />
quando está em causa a qualidade<br />
dos cuidados prestados. Os<br />
Todos os cidadãos deverão dispor de um<br />
nível básico de cuidados de saúde,<br />
independentemente da sua capacidade para<br />
pagar os respectivos serviços<br />
incentivos aos prestadores deverão,<br />
assim, maximizar quer a eficiência<br />
quer a efectividade:<br />
- Deverão ser pagos para manter a<br />
saúde dos indivíduos e não apenas<br />
para tratar doenças;<br />
- Os seus honorários deverão encorajar<br />
a inovação, privilegiando modalidades<br />
de tratamento de custo<br />
mais baixo e igualmente efectivas;<br />
- Os pagamentos deverão, sempre<br />
que necessário, cobrir a prestação<br />
de cuidados catastróficos;<br />
- Os prestadores deverão manter um<br />
contacto permanente com os seus<br />
clientes, por forma a identificar<br />
precocemente a emergência das<br />
doenças (quando o seu tratamento é<br />
menos dispendioso) e preservar o seu<br />
estado de saúde.<br />
O comportamento do pagador<br />
Deverá haver um intermediário entre<br />
o governo e o prestador, que exerça<br />
uma pressão constante sobre o sistema,<br />
que faça com que as técnicas de<br />
tratamento sejam mais baratas e<br />
altamente. efectivas. As companhias<br />
de seguros podem desempenhar aqui<br />
um papel crítico e singular, habilitando<br />
o consumidor para discernir<br />
entre diferentes padrões de prestação<br />
por parte dos diferentes prestadores.<br />
A concorrência entre companhias<br />
permitirá, ou não, a cada uma delas<br />
Os prestadores de cuidados de saúde<br />
deverão ser recompensados por tomarem<br />
opções judiciosas no equilíbrio entre um<br />
tratamento eficaz e o respectivo custo.<br />
Deverão ser penalizados quando<br />
sobreutilizam desnecessáriamente os<br />
recursos<br />
ganhar quotas de mercado, jogando<br />
na oferta de planos de seguros mais<br />
baratos ou numa qualidade de<br />
serviços mais elevada para um<br />
dado preço. Elas têm, assim, um<br />
incentivo intrínseco para identificar<br />
e promover prestadores que<br />
melhor estabeleçam a relação custo-efectividade,<br />
e avaliar continuamente<br />
as atitudes e os níveis de<br />
satisfação dos consumidores, funcionando<br />
como uma espécie de<br />
controlo global do sistema:<br />
- Os cuidados de saúde básicos<br />
devem estar incluídos em todos os<br />
planos de seguro;<br />
- Os prémios deverão ser estabelecidos<br />
com base no risco ajustado,<br />
dos respectivos subscritores, mas<br />
iguais para todos os subscritores<br />
do plano;<br />
- As tabelas negociadas entre seguradoras<br />
e prestadores deverão maximizar<br />
a qualidade e minimizar os<br />
custos;<br />
- Os indivíduos que de.sejem ter<br />
acesso a serviços que ultrapassem<br />
a cobertura básica poderão aderir a<br />
programas de seguro suplementares;<br />
- As doenças catastróficas deverão<br />
ser objecto de uma cobertura especial<br />
através de programas governamentais.<br />
A reforma da saúde nos EUA<br />
A estratégia emergente para atingir<br />
aqueles objectivos (acesso, custo<br />
-efectividade e qualidade) no sistema<br />
de saúde norte-americano, inclui<br />
as seguintes componentes<br />
fundamentais:<br />
1-Acesso Universal<br />
Este a~pecto da actual reforma<br />
considera que o pagamento dos<br />
cuidados de saúde deve assentar<br />
na capacidade de pagar. Adicionalmenet,<br />
o governo garantirá que o<br />
plano básico de saúde oferecido<br />
por qualquer companhia, disponibilize<br />
o mesmo conjunto básico de<br />
serviços de saúde compreensivos:<br />
- Os empregadores serão chamados<br />
a suportar a cobertura de<br />
todos os seus empregados a um<br />
nível correspondente a 80% dos<br />
respectivos prémios de seguro;<br />
- As pessoas, individualmente,<br />
suportarão a parte remanescente<br />
dos respectivos prémios;<br />
- O governo federal dará subsídios<br />
aos indivíduos de baixos rendimentos,<br />
aos desempregados, aos<br />
precocemente aposentados e a<br />
algumas profissões.<br />
2-A Contenção dos Custos<br />
Para a consecução deste objectivo,<br />
têm sido concebidos incentivos<br />
de natureza financeira que encoragem<br />
os prestadores a serem mais<br />
eficientes na prestação de cuidados<br />
de saúde, por um lado, e<br />
encoragem os seguradores a delinear<br />
planos de saúde de baixo<br />
custo que se dirijam efectivamente<br />
às necessidades do consumidor,<br />
por outro.<br />
A componente crítica desta reforma<br />
assenta em planos de saúde<br />
competitivos, que incluirão Organizações<br />
de Manutenção de Saúde<br />
(HMO), Organizações de Prestadores<br />
Preferenciais (PPO), Alianças<br />
de Saúde, etc ...<br />
Será revisto o conceito de "malpraxis",<br />
por forma a limitar as<br />
indemnizações por negligência<br />
médica e reduzir o custo da<br />
"medicina defensiva".<br />
Serão introduzidas restrições orçamentais,<br />
com tectos anuais de ·<br />
crescimento tolerável, por forma a<br />
controlar o nível das despesas em<br />
cuidados de saúde.<br />
lilJi.<br />
w<br />
t"1<br />
e<br />
---:::><br />
O programa para a gestão da qualidade (QM)<br />
exigirá um poderoso sistema de informação e<br />
o ·desenvolvimento de um certificado do perfil<br />
dos prestadores ("report cards") que permita<br />
ao consumidor avaliá-los quanto aos custos,<br />
qualidade e outros indicadores do seu<br />
desempenho<br />
-4111 fazer apreciações isentas e descomprometidas.<br />
A melhor resposta que encontro para<br />
a sua questão é encaminhá-lo para<br />
apreciações diversas que têm sido<br />
feitas ao longo do tempo por entidades<br />
nacionais, estrangeiras e internacionais,<br />
no sentido de prezar a<br />
Instituição, o Programa de <strong>Gestão</strong><br />
<strong>Hospitalar</strong> e muitos ·dos seus ex<br />
-alunos e docentes. Anote-se, também,<br />
cargos da maior relevância que<br />
têm sido desempenhados por elementos<br />
da ENSP, na área da administração<br />
hospitalar e de cuidados de<br />
saúde, no nosso país e em diversos<br />
organismos internacionais.<br />
Quanto à batalha da conquista de<br />
prestígio pelos administradores (titulados)<br />
no contexto dos profissionais<br />
e dos serviços de saúde, não se<br />
trata de problema sui generis da<br />
sociedade portuguesa.<br />
No contexto português julgo que a<br />
questão está ultrapassada, numa<br />
(chamemO$-lhe) "guerra" em que<br />
uma forte testa-de-ponte foi lançada<br />
há decénios, já, por Coriolano Ferreira<br />
e depois consolidada, permitindo o<br />
progresso .das operações até à "paz"<br />
profissional.<br />
O Curso regular de especialização em<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong> - que irá<br />
recomeçar em Novembro do corrente<br />
ano, com algum refrescamento -<br />
beneficiará, segundo prevejo, de<br />
uma remodelação curricular, a enquadrar<br />
na reorganização das estruturas<br />
e dos programas de ensino da<br />
Escola e no aproveitamento das<br />
sinergias possibilitadas pelas diversas<br />
escolas que integram a UNL.<br />
nos do Curso de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>, e digo isto porque, nos<br />
últimos tempos, tenho estado sobre o<br />
fogo, em rajada, de contactos e<br />
pressões questionando os critérios<br />
de selecção e sugerin~o uma revisão<br />
da matéria.<br />
Claro que a Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es e a<br />
Revista não podem ficar de fora, a<br />
olhar.<br />
A questão que é levantada não tem<br />
uma resposta nem simples nem fácil.<br />
Que os candidatos devem possuir<br />
uma licenciatura é pacífico. Mas<br />
qual? Somente a de <strong>Gestão</strong> de Em-<br />
0 "choque" que representa a integra- presas? Poucas mais, tradicionalção<br />
da Escola na Universidade terá ... mente aceites? A licenciatura em<br />
que ser aproveitado como a oportuni- Medicina, sim ou não? E porque não<br />
dade, a não desperdiçar, para desper- todas?<br />
tar de um certo entorpecimento e dar O que a direcção do Curso decidiu,<br />
respostas bem actuais e adequadas às desde já, foi recorrer a critérios<br />
exigências colocadas por uma moder- muito mais exigentes nas provas de<br />
nidade onde abundam mudanças selecção dos candidatos.<br />
drásticas.<br />
E mais não digo, para manter o<br />
suspense.<br />
GH- Nos últimos anos temos sido<br />
confrontados com críticas quanto<br />
à forma de recrutamento dos<br />
alunos do Curso de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>. Concorda com<br />
uma base de recrutamento alargada<br />
a todas as licenciaturas ou<br />
preferiria, hoje, uma opção mais<br />
restritiva?<br />
CS - Já cá faltava o tema do<br />
recrutamento dos candidatos a alu-<br />
Entrei para o Conselho num momento que poderá representar o início de<br />
uma notável viragem da Organização, de uma autêntica reforma, a que<br />
chamam eufemisticamente "A Resposta da OMS à Mudança Global"<br />
GH- Uma das facetas porventura<br />
menos conhecidas da sua actividade<br />
profissional, prende-se com<br />
os seus variadíssimos e prestigiados<br />
contactos internacionais, o<br />
que lhe atribui uma posição privilegiada<br />
na análise dos sistemas de<br />
saúde da Europa e do Mundo. Foi<br />
Presidente da Federação Internacional<br />
dos Hospitais. Que expe-<br />
22 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
riência recolheu do desempenho<br />
desse cargo? Integra hoje o quadro<br />
de dirigentes da OMS. Como<br />
anali_sa a actividade dà OMS,<br />
comparando a sua missão e as<br />
suas finalidades com o seu impacto?<br />
Que prestígio e autoridade tem<br />
a o~s l)OS países ~o Norte e do<br />
Sul? E semelhante? E diferente? E<br />
porquê?<br />
CS - Seria falsa modéstia não reconhecer<br />
que, de facto, tive e tenho<br />
prestigiados contactos e cargos internacionais.<br />
Tive a sorte de ser aluno,<br />
visitante convidado e frequentador<br />
assíduo de uma instituição fabulosa,<br />
para introduzir no meio e· iniciar nas<br />
lides internacionais alguém que se<br />
inter.esse muito por estas questões de<br />
política e administração de saúde, o ·<br />
King' s Fund de Londres:<br />
Servir nos quadros dirigentes da<br />
Federação Internacional dos Hospitais<br />
tem sido uma experiência interessantíssima.<br />
Foram 12 anos no<br />
Conselho, foi o cargo de vice-presidente<br />
e, mais recentemente, o de<br />
presidente.<br />
Confesso-lhe que algumas vezes tive<br />
suores frios, ao consciencializar as<br />
responsabilidades da função·, ou as<br />
dificuldades das reuniões e assembleias.<br />
Mas tem sido uma experiência que<br />
muito me enriqueceu e fortaleceu,<br />
nomeadamente para conduzir processos<br />
e para enfrentar com serenidade<br />
-"'<br />
O Serviço Nacional de Saúde (SNS)<br />
representa uma conquista e uma peça<br />
muito importante no sector da saúde e<br />
por isso deve ser tratado com muita<br />
cautela e com muito respeito<br />
problemas e obstáculos caseiros... Medicamentos, ou o Código Interna-<br />
0 mesmo sucedeu com a presidência cional sobre o Marketing de Substida<br />
EHMA e com o Conselho Execu- ' tutos do Leite Materno, ou, ainda, a<br />
tivo da OMS.<br />
' , Estratégia para a Segurança, Eficá<br />
Desta vivência rica e maravilhosa, cia e Qualidade dos Medicamentos e<br />
das atenções recebidas, dos formalismos,<br />
e das pompas que tantas vezes Entrei para o Conselho num momen<br />
outras Tecnologias Médicas.<br />
me rodearam, das angústias e das to que poderá representar o início de<br />
dificuldades sentidas e das personalidades<br />
que contactei, guardo uma ção, de uma autêntica reforma, a que<br />
uma notável viragem da Organiza<br />
recordação muito forte e recompensanteposta<br />
da OMS à Mudança Global" e<br />
chamam eufemisticamente "A Res<br />
Quanto à OMS, que começo agora a que visa, afinal, uma maior transparência<br />
e eficiência, uma visão dos<br />
conhecer melhor, depois de 2 anos de<br />
Conselho Executivo, creio que ela fenómenos menos doutrinária e mais<br />
tem as qualidades e os defeitos de realista e numa postura e gestão mais<br />
todas as agências das Nações Unidas. modernas.<br />
Uma organização e um processo Neste contexto e ambiente, a minha<br />
administrativo impecáveis, aliados a posição crítica, ligeiramente irreverente<br />
segundo os cânones da OMS,<br />
uma elevadíssima qualidade técnica,<br />
mas vergando ao peso de uma estru-<br />
levou a que tivesse sido convidado<br />
tura e burocracia complica- ----------<br />
das. Tudo isto temperado<br />
com o terror de um orçamento<br />
muito cintado.<br />
Todos sabem que tenho sido<br />
um crítico da Organização e<br />
posso informar os leitores<br />
que tenho mantido esta<br />
posição no seio do Conselho.<br />
Com razão ou sem ela<br />
nunca me agradaram certas<br />
abordagens em alguns programas,<br />
um certo radicalismo,<br />
o pendor doutrinário<br />
socializante, o recurso abusado<br />
ao normativismo, a<br />
aversão pelos hospitais e<br />
pelo "management", a "Estratégia<br />
Global Saúde para<br />
Todos", etc, etc.<br />
Conhece-se pouco de várias<br />
coisas boas, êxitos e méritos<br />
da Organização. Os programas<br />
e os resultados conseguidos<br />
no controlo, na eliminação<br />
e na erradicação<br />
Outra das fraquezas do SNS está no tipo de médicos<br />
de clínica geral e modelo de cuidados de saúde<br />
primários, que desenvolveram segundo figurinos,<br />
para mim, desastrosos<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 23<br />
Entrevista<br />
das doenças a nível mun<br />
dial, são um exemplo.<br />
Como são, também, as !niciativas<br />
sobre Critérios Eticos<br />
para a Promoção de<br />
pelo director geral, Dr. N akajima,<br />
para participar, na semana passada,<br />
numa reunião de trabalho de um<br />
grupo muito restrito de altas patentes<br />
da Organização (eu era o único<br />
membro do Conselho), destinado a<br />
rever e fazer propostas sobre a<br />
Missão, Política e Estratégia Global<br />
da OMS.<br />
Calcule-se! Isto dá bem a noção de<br />
que as coisas estão a mudar... ou<br />
poderão mudar, já que há sempre que<br />
contar com o peso, inércia e tradição<br />
enormes deste organismo internacional.<br />
Poderemos vir a assistir ao desenvolvimento<br />
de conceitos interessantes<br />
na política da OMS e tão importantes<br />
como solidariadade, segurança-saúde,<br />
marketing da saúde, responsabilidade<br />
e obrigações pessoais e colectivas<br />
em saúde.<br />
Sabe que os governos dos países em<br />
desenvolvimento e mais pobres se<br />
apoiam muito na OMS para irem,<br />
eles, buscar prestígio e força, o que<br />
dá à Organização, nesses países, uma<br />
enorme autoridade no campo da<br />
saúde.<br />
Os países muito desenvolvidos e ricos<br />
detêm autoridade sobre a OMS,<br />
nomeadamente através das suas contribuições<br />
para o orçamento.<br />
Imagine-se, por exemplo, o<br />
peso dos EUA, que contribuem<br />
com 24 % para o orçamento<br />
regular e igualmente<br />
de um modo preponderante<br />
para os orçamentos dos programas<br />
especiais.<br />
Mas assiste-se a uma certa<br />
"vingançazinha" por parte<br />
dos países em desenvolvimento<br />
e que surte efeito<br />
devido ao seu peso numérico:<br />
enquanto que os países<br />
desenvolvidos dominam no<br />
lobying, os países pobres<br />
têm tendência para dominar<br />
nas sessões da Assembleia e<br />
do Conselho.<br />
GH - Com a autoridade<br />
que tem, com os conhecimentos<br />
e experiência que<br />
acumulou ao longo de<br />
muitos anos, como médico<br />
hospitalar, como quadro<br />
superior do Ministério<br />
da Saúde e como académico,<br />
tem com certeza uma<br />
visão muito própria do<br />
nosso sistema de saúde . ..,.
_,.. esta realidade, referindo a existência<br />
de um sub-financiamento crónico<br />
do SNS.<br />
Por outro lado, o actual estado da<br />
arte em Saúde e na Medicina, aponta<br />
igualmente para a necessidade de<br />
maiores recursos financeiros, designadamente<br />
pelos seguintes aspectos:<br />
• o agravamento do peso dos idosos<br />
na sociedade portuguesa;<br />
• o rápido e crescente desenvolvimento<br />
tecnológico na área da saúde·<br />
• a '<br />
crescente consciência dos consumidores<br />
portugueses no que respeita<br />
aos problemas de saúde, o que<br />
aumenta as suas expectativas e<br />
concomitantemente as respectivas<br />
' A •<br />
ex1gencias.<br />
Mas, será que a realidade a nível<br />
micro, elaborada essencialmente<br />
através de um diagnóstico "soft", ou<br />
seja, sem um levantamento criterioso<br />
da utilização e aplicação dos recursos<br />
financeiros, bem como da respectiva<br />
eficiência, é comprovada pela<br />
perspectiva macro?<br />
Ou seja, será que Portugal quando<br />
comparado com os outros parceiros<br />
internacionais, tanto no âmbito da<br />
OCDE, como no da União Europeia<br />
(UE), apresenta um esforço financeiro<br />
diferente no sector da saúde? E<br />
nesta eventualidade, este esforço é<br />
inferior ou superior ao dos outros<br />
países?<br />
Observem-se os valores do Quadro 1.<br />
Portugal, em 1991, último ano em que<br />
é possivel proceder a comparações<br />
internacionais, gastou no sector da<br />
saúde 6.77% do PIB.<br />
Estes valores, para a média dos<br />
países da OCDE e da UE foram,<br />
respectivamente, de 9.80% e de ..<br />
7.94%.<br />
Esta proporção de gastos em relação<br />
ao PIB confere a Portugal as últimas<br />
posições para o conjunto da OCDE e<br />
o 8º posto na UE. Os países com<br />
níveis de gastos totais inferiores são<br />
a Dinamarca, a Grécia, a Espanha e<br />
o Reino Unido.<br />
Em termos de gastos totais em saúde<br />
per capita, Portugal só tem dois<br />
países com gastos inf eriqres - a<br />
Grécia e a Turquia. ·<br />
Até ao presente momento, esta análise<br />
descritiva tem sido a única que<br />
sustenta, a nível macro, a insuficiência<br />
de recursos financeiros na saúde<br />
em Portugal.<br />
Mas, será que esta análise mera-<br />
QUADRO 1<br />
Gastos totais em Saúde: % em<br />
relação ao PIB e gastos per capita<br />
1991<br />
Países DTS/PIB DTS-P<br />
AUSTRÁLIA 8.62 1407<br />
AUSTRIA 8.38 1448<br />
BELGICA 7.88 1377<br />
CANADA 10.01 1915<br />
DINAMARCA 6.53 1151<br />
FINLANDIA 8.91 1426<br />
FRANÇA 9.05 1650<br />
ALEMANHA 8.50 1659<br />
GRECIA 5.19 404<br />
ISLANDIA 8.38 1447<br />
IRLANDA 7.34 840<br />
ITALIA 8.33 1408<br />
JAPAO 6.59 1267<br />
LUXEMBURGO 7.24 1494<br />
HOLANDA 8.32 1360<br />
N. ZELANDIA 7.59 1050<br />
NORUEGA 7.58 1305<br />
PORTUGAL 6.77 624<br />
ESPANHA 6.66 848<br />
SUECIA 8.63 1443<br />
SUIÇA 7.88 1713<br />
TURQUIA 4.00 142<br />
UK 6.61 1051<br />
USA 13.40 2867<br />
OCDE (média ) 9.80 1727<br />
UE (média) 7.94 1302<br />
Fonte: OCDE, 1993<br />
# DTS/PIB -:-- % gastos totais de<br />
saúde em relafão ao PIB<br />
# DTS-PC - gastos totais em saúde<br />
per capita, valores com paridade<br />
do poder de compra<br />
mente descritiva é suficiente para<br />
caracterizar o financiamento da saúde?<br />
A resposta em termos técnicos<br />
deve ser claramente negativa.<br />
Essencialmente porque está inteiramente<br />
comprovada, teórica e empiricamente,<br />
a associação entre a<br />
riqueza dos países e o respectivo<br />
nível de gastos de cada país (Newhouse,<br />
1977; Leu, 1986; Poullier, 1986;<br />
Parkin et al. 1987; Schieber e Poullier,<br />
1989; Gerdtham e Jonsson 1991;<br />
Milne e Molana, 1991; Schieber e<br />
Poulier, 1991; Gerdtham, 1992; Gerdtham<br />
e Jonsson,'1992; Gerdtham et al.,<br />
1992; Hitiris e Posnett, 1992; Murthy,<br />
1992; Letsch, 1993).<br />
Esta associação apresenta ainda uma<br />
maior intensidade, visto que os<br />
gastos totais em saúde per capita<br />
crescem mais que proporcionalmente<br />
do que o rendimento per capita (PIB<br />
per capita).<br />
Em termos económicos, este facto<br />
pode ser explicado pela grande elasticidade<br />
dos gastos em saúde em<br />
função da respectiva riqueza.<br />
Qual será, então, a situação de<br />
Portugal, face a esta nova realidade?<br />
Metodologicamente, procedeu-se a<br />
uma análise de regressão simples,<br />
em que a variável dependente é a<br />
despesa total em saúde per capita e a<br />
variável explicativa é o rendimento<br />
per capita.<br />
Os valores utilizados, tanto para as<br />
despesas em saúde, como para o<br />
rendimento per capita, traduzem as<br />
diferenças cambiais e as diferenças<br />
do poder de compra existentes entre<br />
os diversos países (OCDE, 1992).<br />
Através da transformação Box-Cox,<br />
prova-se que o ajustamento duplamente<br />
logarítmico é o mais adequado<br />
para se proceder à análise (Costa e<br />
Nogueira, <strong>1994</strong>).<br />
A possibilidade estatística de utilizar<br />
este ajustamento (duplamente logarítmico)<br />
apresenta ainda uma vantagem<br />
em termos económicos: os<br />
coeficientes de regressão são simultaneamente<br />
elasticidades, pelo que<br />
representam a propensão marginal<br />
para o consumo em saúde, em função<br />
da respectiva riqueza.<br />
Deverá proceder-se a um levantamento<br />
rigoroso e aprofundado sobre a efi<br />
ciência na aplicação dos recurso<br />
financeiros e somente após a análi e<br />
e discus ão destes resultado , per -<br />
pectivar a estratégia financeira para o<br />
sector da saúde.<br />
26 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
Os resultados desta análise (ver Anexo<br />
I), são os seguintes (Quadro II):<br />
tamento dos países da UE apresenta<br />
gastos totais em saúde per capita<br />
QUADRO li - Gastos totais em Saúde per capita: comparação entre os<br />
valores reais e os esperados -1991<br />
Países DTSPC reais DTSPC es erados Diferen a<br />
BÉLGICA 1377 1353 24<br />
DINAMARCA 1151 1369 -218<br />
FRANÇA 1650 1432 218<br />
ALEMANHA 1659 1572 87<br />
GRECIA 404 453 -49<br />
IRLANDA 840 763 76<br />
ITALIA 1408 1293 115<br />
LUXEMBURGO 1494 1693 -199<br />
HOLANDA<br />
PORTUGAL<br />
1360<br />
624<br />
1237<br />
571<br />
123<br />
54<br />
ESPANHA<br />
848<br />
881<br />
-33<br />
UK 1051 1192 -140<br />
Fonte: OCDE, 1993<br />
#DTS-PC - gastos totais em saúde per capita valores com paridade do<br />
poder de compra<br />
• Portugal, em funç ão da sua<br />
riqueza, medida pelo rendimento<br />
per capita, e em relação ao comporsuperiores<br />
aos esperados;<br />
• os países que apresentam uma<br />
relação inversa são a Dinamarca, a<br />
Investigação<br />
Grécia, o Luxemburgo, a Espanha e<br />
o Reino Unido.<br />
Esta contradição existente entre os<br />
níveis micro (falta de recursos) e<br />
macro (valores superiores aos esperados<br />
para o nível de riqueza de<br />
Portugal), deve ser profundamente<br />
analisada.<br />
Pelo que se afigura mais adequado<br />
proceder a um levantamento rigoroso<br />
e aprofundado sobre a eficiência<br />
na aplicação dos recursos financeiros<br />
e somente após a análise e<br />
discussão destes resultados, perspecti<br />
var a estratégia financeira para o<br />
sector da saúde.<br />
A actual estrutura da origem dos<br />
fundos financeiros é racional e<br />
eficiente?<br />
A estrutura dos gastos públicos e<br />
privados em saúde, em Portugal, é<br />
agora amplamente conhecida (Quadro<br />
III).<br />
Destacam-se os seguintes aspectos:<br />
• os 61. 7% de gastos públicos em llJJll><br />
QUADRO Ili<br />
Gastos Públicos em Saúde - % em relação ao PIB, aos Gastos Totais em Saúde e ao Total da Despesa Pública<br />
Gastos Privados em Saúde - % em relação ao PIB e aos Gastos Totais em Saúde<br />
Despesa Pública Total - % em relação ao PIB<br />
~ 990 DPrS/DTS 1990 DPS/TDP 1989 TDP/PIB 1989<br />
AUSTRÁLIA 5.59 2.63 68.00 32.00 15.25 35.00<br />
AUSTRIA 5.58 2.73 67.10 32.90 11.28 49.74<br />
BELGICA 6.77 0.86 88.79 11.21 12.21 55.29<br />
CANADA 6.85 2.64 72.18 27.82 14.72 44.41<br />
DINAMARCA 5.25 1.09 82.78 17.22 9.10 59.18<br />
FINLANDIA 6.32 1.49 80.94 19.06 15.14 38.17<br />
FRANÇA 6.57 2.26 74.43 25.57 13.21 49.30<br />
ALEMANHA 5.96 2.36 71.59 28.41 13.1 o 45.BO<br />
GRECIA 4.14 1.24 77.00 23.00 12.68 31.66<br />
ISLANDIA 7.24 1.09 86.91 13.09 19.18 38.61<br />
IRLANDA 5.20 1.75 74.78 25.22 11.97 41.96<br />
ITALIA 6.28 1.81 77.61 22.39 14.05 41.79<br />
JAPAO 4.71 1.84 71 .95 28.05<br />
LUXEMBURGO 6.59 0.62 91.43 8.57 30.70 15.42<br />
HOLANDA 5.82 2.34 71.30 28.70 10.45 55.86<br />
N. ZELANDIA 5.85 1.31 81.71 18.29<br />
NORUEGA 7.09 0.35 95.25 4.75 13.01 54.69<br />
ESPANHA 5.30 1.29 80.49 19.51 11.79 42.96<br />
SUECIA 6.88 1.75 79.76 20.24 12.77 59.96<br />
SUIÇA 5.05 2.34 68.31 31.69 15.03 34.13<br />
TURQUIA 1.41 2.56 35.59 64.41 2.65 53.89<br />
UK 5.18 1.02 83.53 16.47 12.02 42.08<br />
USA 5.22 7.14 42.23 57.77 14.78 32.94<br />
OCDE {média) 5.43 3.9 58.21 41.79 14.55 36.04<br />
UE {méaia) 5.88 1.82 76.4 23.6 . 12.66 45.5 ~<br />
FONTE: OCDE, 1992 e 1993<br />
# DPWPIB - % despesa pública de saúde em relai;ão ao PIB; # DPrS/PlB - % despesa privada de saúde em relação ao<br />
PIB; DPS/DTS - % da despesa ~ública em saúde em relação à despesa total em saúde; # DPrS/DTS - % da despesa<br />
privada em saúde em relação à espesa total em saúde<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 27
1 nvestigação<br />
1 nvestigação<br />
Relarão entre a despesa pública<br />
e a riqueza dos países<br />
Os resultados da regressão são os seguintes:<br />
Ordinary least squares regression. Dep. Variable = TDP89<br />
Observations = 11 Weights = ONE<br />
Mean of LHS = 0.8652530E + 01 Std.Dev of LHS = 0.4562278E + 00<br />
StdDev of residuais = 0.1353322E + 00 Sum of squares = 0.1648332E + 00<br />
R-squared = 0.9208080E + 00 Adjusted R-squared = 0.9120089E + 00<br />
F[ 1, 9] = 0.1046479E + 03 Prob value 0.2960224E-05<br />
Log-likelihood = 0.7495616E+01 Restr.(á=O) Log-1 = -0.6451726E+01<br />
Amemiya Pr. Criter. = -0.9992030E + 00 Akaike lnfo.Crit. = 0.2164477E-01<br />
ANOVA Source Variation Degrees of Freedom Mean Square<br />
Regression 0.1916605E+01 1. 0.1916605E+01<br />
Residual 0.1648332E+OO 9. 0.1831480E-01<br />
Total 0.2081438E+01 10. 0.2081438E+OO<br />
Durbin-Watson stat. = 1.4928249 Autocorrelation = 0.2535876<br />
Variable Coefficient Std. Errar t-ratio Prob-t-óx Mean of X Std.Dev.of X<br />
························································································································ ··············<br />
Constant -4.4554 1.282 -3.475 0.00699<br />
RPC89 1.3888 0.1358 10.230 0.00000 9.4385 0.31523<br />
Na generalidade os resultados são semelhantes<br />
aos descritos anteriormente, designadamente o<br />
aumento mais que proporcional da despesa<br />
pública per capita em função do rendimento per<br />
capita, o elevado poder explicativo do modelo e a<br />
certeza que os coeficientes de regressão são<br />
estatisticamente diferentes de zero. Os valores<br />
esperados para o total da despesa pública per<br />
capita são apresentados no Quadro IV. 1<br />
* Assistente da Disciplina Autónoma de<br />
Economia da Saúde, da ENSP - Universidade<br />
Nova de Lisboa<br />
** Prof. Auxiliar da Cadeira de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> da ENSP - Universidade<br />
Nova de Lisboa<br />
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BIBLIOGRAFIA:<br />
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Valor por insérção<br />
Cor<br />
· Contra capa 190 c.<br />
Verso capa 160 c.<br />
Verso contra capa 150 c.<br />
Página 140 c.<br />
1/2 página 85 c.<br />
1/3 página (ao alto) 54 c.<br />
1/4 página ou rodapé 40 c.<br />
Separata (por página) 70 c.<br />
P/branco<br />
105 c.<br />
65 c.<br />
40 c.<br />
30 c.<br />
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32 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
r<br />
1 nvestigação<br />
Competição gerida:<br />
contributos para o debate indispensávell 11<br />
O debate acerca da competição gerida (managed competition) dentro<br />
dos sistemas de financiamento e prestação pública de cuidados de<br />
saúde está a dominar os anos noventa, como" Saúde para todos no ano<br />
2000" dominou o debate nos anos oitenta.<br />
egundo Enthoven, "para se<br />
compreender o movimento a<br />
favor da competição e a ideia<br />
de competição gerida, é necessário<br />
compreender a história dos<br />
sistemas não competitivos que hoje<br />
ainda temos. Existindo competição<br />
nos preços, os prestadores competirão<br />
para servir os utentes que<br />
pretendem obter os máximos resultados<br />
pelo dinheiro que gastam. Mas o<br />
conceito de competição nos preços<br />
não significa que seja o preço o<br />
único factor que influencia a escolha<br />
do consumidor. A qualidade e as<br />
características do produto também<br />
aí entram. Talvez até se deva falar<br />
com mais propriedade em competição<br />
pelo valor que o dinheiro pode<br />
comprar" 1 .<br />
Seguindo esta autorizada sugestão,<br />
resolvemos analisar o actual sistema<br />
de organização e administração de<br />
hospitais em Portugal, no que respeita<br />
aos atributos "propriedade",<br />
"tutela", "modelo de gestão", "financiamento"<br />
e "responsabilização".<br />
As características mais<br />
negativas do sistema no que respeita<br />
à sua incapacidade de responder às<br />
exigências de uma gestão estratégica<br />
não são de agora, mas certamente se<br />
acentuaram nos últimos anos devido<br />
a vários factores, entre os quais se<br />
deverão destacar a opção restritiva<br />
no financiamento dos encargos correntes<br />
da saúde a par de uma quase<br />
plétora de recursos para investimento,<br />
a centralização absoluta das<br />
decisões, a destruição das pequenas<br />
ilhas de liberdade institucional ou<br />
profissional com a governamentalização<br />
do aparelho de administração<br />
e de direcção técnica, a renúncia<br />
António Correia de Campos *<br />
tácita à procura de novas fontes e<br />
métodos de financiamento e à sublimação<br />
da responsabilidade pública<br />
na administração central do Estado.<br />
Propõe-se um novo modelo de orga-<br />
nização de hospitais que, sem mudanças<br />
de maior, poderá ser<br />
transposto para todo o sistema prestador,<br />
baseado no conceito da competição<br />
gerida. Para tal, alinham-se<br />
as grandes reformas prévias na área<br />
da propriedade, do modelo de gestão,<br />
da forma de financiamento e da<br />
responsabilização. Reformas que<br />
não são isentas de riscos, alguns<br />
dos quais se identificam, seguidos<br />
das contramedidas para o seu combate.<br />
O objectivo primário deste trabalho<br />
é propiciar um debate inevitável na<br />
inteligência portuguesa que se preocupa<br />
com os problemas de saúde a<br />
nível estratégico. Um debate que<br />
será longo, mas que será tão mais<br />
útil quanto mais cedo começar a ser<br />
travado.<br />
Organização e administração<br />
de hospitais: dois modelos<br />
No final do século XX as opções que<br />
se colocam à organização e administração<br />
dos hospitais em Portugal<br />
oscilam entre dois modelos, referidos<br />
no quadro 1 como A e B. Os<br />
modelos são analisados à luz de<br />
cinco atributos: a propriedade dos.,._<br />
A tendência para a desprofissionalização<br />
dos gestores hospitalares não<br />
encontra suporte doutrinal em nenhum<br />
a teoria organizativa, antes se<br />
opondo a elas: o modelo de gestão<br />
empresarial a cargo de especialistas<br />
independentes do capital, uma das<br />
características d_a sociedade pós-industrial<br />
e tão celebrizado por Sloan e<br />
Drucker, não encontra qualquer eco<br />
nesta prática.<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 33
~estabelecimentos e serviços, quem<br />
é responsável pela sua tutela, isto é,<br />
quem neles determina o sentido geral<br />
da sua acção, qual o modelo de<br />
gestão que adoptam ou por que leis<br />
e sistemas pautam a sua conduta,<br />
quem os financia e como, e perante<br />
quem respondem.<br />
QUADRO I<br />
Modelos-tipo de organização e administração de hospitais<br />
ATRIBUTOS MODELO A MODELO B<br />
A. PROPRIEDADE administração central empresas públicas;<br />
administração local;<br />
ONG's; Universidades;<br />
privados<br />
E.TUTELA<br />
C. MODELO<br />
DE GESTÃO<br />
administração central;<br />
administração corrente<br />
não-profissional<br />
lei geral:<br />
função pública<br />
compras públicas<br />
contas públicas<br />
D. FINANCIAMENTO administração central<br />
(orçamento do Estado)<br />
E. RESPONSABILIZAÇÃO administração<br />
central<br />
Acontece que a situação presente se<br />
aproxima muito mais do modelo A<br />
que do modelo B, a ponto de com<br />
aquele se confundir. Por tal importará<br />
que analisemos as consequências<br />
a que nos tem conduzido a adopção e<br />
o progressivo reforço de tal modelo<br />
de organização e administração.<br />
Iremos seguir de perto os cinco<br />
atributos atrás identificados.<br />
O modelo<br />
de gestão centralizada<br />
O Estado é em Portugal o proprietário<br />
dos· hospitais públicos; um estado<br />
· proprietário e decisor, não um<br />
estado-regulador. Um estado "pai e<br />
patrão". A ele cabe, através da<br />
admnistração central, decidir da<br />
construção de um novo hospital,<br />
ampliação ou grande remodelação,<br />
da suspensão ou encerramento de<br />
estabelecimentos ou serviços. Cada<br />
investimento hospitalar compete no<br />
orçamento de investimento do estado,<br />
como estradas, portos, escolas e<br />
prisões. O poder municipal não<br />
órgãos delegados dos<br />
proprietários;<br />
administração corrente<br />
profissionalizada<br />
lei geral ajustada;<br />
gestão empresarial<br />
competitiva<br />
terceiros pagadores,<br />
administração local<br />
e central, utilizadores<br />
proprietários;<br />
cidadãos<br />
mente alheios a tais decisões. Daqui<br />
decorrem duas consequências extremas:<br />
o subequipamento, em tempos<br />
de restrição macroeconómica (todo o<br />
período dos anos sessenta a meados<br />
dos oitenta) ou o sobre-equipamento<br />
(no recente período de expansão<br />
económica); conhecem-se os exemplos<br />
da plétora de camas nos distritos<br />
de Santarém e de Aveiro, sem que<br />
o Estado tivesse força de vontade<br />
para se opor às pressões partidárias<br />
locais com base em necessidades de<br />
discutível justificação.<br />
Semelhantemente, quando, por razões<br />
de economia de despesas correntes,<br />
a administração central decide<br />
suspender ou encerrar serviços (o<br />
caso de urgências e de maternidades<br />
em pequenos hospitais) nem uma voz<br />
se ergue fora de Lisboa em defesa da<br />
racionalização económica; o estado<br />
li . li<br />
pai e patrão tem que se defender<br />
sem aliados, suportando as consequências<br />
do seu excessivo paternalismo.<br />
A forma mais visível de exercício da<br />
34 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
costuma ser ouvido nem achado<br />
para tais decisões, quando muito<br />
exige-se-lhe que disponibilize terrenos<br />
e infra-estruturas a preceito. As<br />
instituições não-governamentais<br />
(ONG's), como misericórdias, associações<br />
de socorros mútuos, bem<br />
como o sector privado, são totaltutela<br />
consiste na nomeação dos<br />
órgãos de governo ou de gestão<br />
hospitalar. Cabendo à administração<br />
central essa nomeação, a distância<br />
a que ela se encontra do terreno<br />
leva a afrouxar as restrições da lei ao<br />
livre arbítrio do poder central; não se<br />
estranha que ao longo da última<br />
meia década se tenha acentuado a<br />
tendência para escolhas onde vagos<br />
critérios de "bom senso para gerir"<br />
prevalecem sobre os de especialização<br />
técnica; daí que se tenda a<br />
escolher nem sempre por critérios<br />
de estrita competência profissional.<br />
O tipo de escolha de gestores assim<br />
induzido privilegia a aderência às<br />
directivas centrais à consideração<br />
das ideossincrasias locais, tende a<br />
desconfiar da inovação científica e<br />
tecnológica que contrarie as instruções<br />
centrais de poupança, e a cair<br />
no primarismo anti-grupo profissional,<br />
considerando a profissão médica<br />
como principal responsável pelos<br />
bloqueios com que se confronta.<br />
Esta tendência para a desprofissionalização<br />
dos gestores hospitalares.<br />
não encontra suporte doutrinal em<br />
nenhuma teoria organizativa, antes<br />
se opondo a elas: o modelo de gestão<br />
empresarial a cargo de especialistas<br />
independentes do capital, uma das<br />
características da sociedade pós<br />
-industrial e tão celebrizado por<br />
Sloan e Drucker, não encontra qualquer<br />
eco nesta prática. Como consequência,<br />
aguardam-se instruções em<br />
questões importantes, quando se<br />
requereria a decisão imediata. A<br />
administração central, enleada por<br />
mil casos, tenderá a confundir estratégia<br />
cóm táctica sempre que sentir<br />
atacadas as base da sua sobrevivência<br />
no poder.<br />
O mode'lo de gestão é inteiramente<br />
dependente das leis da função pública<br />
em matéria de recrutamento '<br />
despedimento, promoção, remuneração,<br />
formação. Tem que suportar as<br />
inelutáveis servidões induzidas pelo<br />
modelo de gestão pública: excesso e<br />
carência de pessoal, impossibilidade<br />
de encerrar ou remodelar serviços<br />
ineficientes, de abrir outros de melhor<br />
balanço ·custo-efectividade (sem<br />
o directo apadrinhamento da administração<br />
central). Não tem liberdade<br />
para premiar ou punir o<br />
pessoal em função do seu desempenho,<br />
para além do previsto nos<br />
estatutos disciplinares. Está inibida<br />
Haverá que Inventar uma nova relação<br />
da administração com os administrados<br />
que permita tirar o melhor<br />
partido dos volumosos meios que<br />
hoje estão ao seu serviço: hospitais,<br />
escolas, grandes organizações públicas<br />
não se podem acolher à mesa<br />
do orçamento com passividade bovina.<br />
de intervir em competição no mercado<br />
interno, ou no mercado público<br />
-privado. Vive em permanente risco<br />
de ilegalidade para acomodar as leis<br />
públicas às necessidades de uma<br />
gestão flexível. Vê-se obrigada a<br />
duplicar registos contabilísticos para<br />
cumprir leis formais e necessidades<br />
de gestão. Não lhe é permitido<br />
associar a componente financeira à<br />
gestão por objectivos e inovar é-lhe<br />
quase sempre vedado, a menos que a<br />
iniciativa provenha da própria administração<br />
central.<br />
No que respeita a financiamento,<br />
este modelo de gestão encontra-se<br />
na total dependência dos critérios da<br />
administração central. Quando pressionada<br />
pela escassez de recursos<br />
correntes, a administração central<br />
tende a baixar da gestão financeira<br />
estratégica para a gestão de tesouraria.<br />
A confusão na mesma entidade<br />
das funções de proprietário, pagador<br />
e gestor conduzem a dificuldades de<br />
avaliação da performance, pelos<br />
possíveis conflitos de interesse entre<br />
aquelas. Por outro lado, sendo o<br />
financiamento central altamente<br />
fungível, esbate-se a noção de objectivos<br />
e não se procuram ligações<br />
obrigatórias entre recursos, produção<br />
e resultados. Os critérios-limite<br />
de gestão empresarial, como a falência<br />
ou a expansão obrigatória, não se<br />
podem aqui utilizar pela inexistência<br />
de competição, quer a competição<br />
interna, quer a competição externa<br />
gerida (managed competition)2.<br />
Finalmente, no que respeita à responsabiliz;lção,<br />
observa-se alongamento<br />
da cadeia hierárquica e<br />
sublimação 'de responsabilidades. A<br />
responsabilidade primária da instituição<br />
ou dos seus gastores transfere<br />
-se para o nível de decisão política.<br />
Qualquer pequena crise local acaba<br />
por ter retumbância nacional. Perde<br />
-se a componente comunitária da<br />
responsabilidade perante a sociedade<br />
civil directamente servida pela<br />
instituição. Daqui decorre que perante<br />
crises, os resultados oscilem entre<br />
os extremos<br />
. .<br />
da impunidade e do<br />
mamque1smo.<br />
Reinventar<br />
a administração da saúde<br />
Ao longo deste século, o estado<br />
moderno absorveu responsabilidades<br />
individuais, familiares e das<br />
comunidades locais, no intuito generoso<br />
de aumentar a segurança dos<br />
cidadãos. Assim se reduziam as<br />
incertezas do amanhã, numa rede<br />
social que regrediu da família pluricelular<br />
para a monocelular e uni<br />
-individual até, e na mobilidade<br />
geográfica dita da pela passagem<br />
rápida pelos estadias industriais e<br />
pós-industrial. Acontece que esta<br />
mesma administração se não ajustou<br />
à digestão de tais responsabilidades.<br />
As regras básicas da administração<br />
pública portuguesa no que respeita à<br />
função pública, às aquisições e obras<br />
públicas e às contas dos serviços<br />
mantêm-se ao nível de há cinquenta<br />
anos, com pequenos ajustamentos<br />
pouco mais que cosméticos. Haverá<br />
que modernizar profundamente, mas<br />
também que inventar. Inventar uma<br />
nova relação da administração com<br />
os administrados que permita tirar q<br />
melhor partido dos volumosos meios<br />
que hoje estão ao seu serviço: hospitais,<br />
escolas, grandes organizações<br />
públicas não se podem acolher à<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 35<br />
1 nvestlgaçao<br />
mesa do orçamento com passividade<br />
bovina. Têm que assumir o seu papel<br />
de agentes económicos num ambiente<br />
onde cada custo tem que ser<br />
comparado com as vantagens que<br />
traz, dado ser impossível cobrir<br />
todas as necessidades.<br />
Nos países onde a palavra governo<br />
engloba toda a administração, a<br />
expressão "reinventar o governo"<br />
aparece associada ao sentimento<br />
generalizado de excesso de peso de<br />
uma administração federal ou estadual<br />
que pouco foi associada ao<br />
Welfare State 3 . Perante uma administração<br />
pequena, mais reguladora<br />
que tutora, onde o sector privado<br />
ocupa uma gigantesca parte do PIB,<br />
os esforços de reforma têm uma<br />
componente mais imaginativa que<br />
restruturadora. Não será assim em<br />
Portugal onde o peso da administração<br />
entronca na tradição napoleónica<br />
de actuação central mais gestora<br />
que reguladora, mais controladora<br />
que incentivadora. Todavia, as distâncias<br />
estreitam-se com o progresso<br />
das comunicações, os media transformam<br />
um país na aldeia global e a<br />
tecnologia da informação permite<br />
uma partilha do encargo decisório<br />
que não justifica mais a centralização<br />
administrativa.<br />
E num contexto de reforma da<br />
administração que estas propostas<br />
devem ser entendidas. Não se trata<br />
de propôr a destruição do estado de<br />
bem-estar, inscrito sob esse ou outro<br />
nome em todos os cadernos políticos<br />
europeus e em discussão acesa nos<br />
Estados Unidos da América. Não se<br />
trata de o trocar por qualquer<br />
solução milagrosa e de grande alívio<br />
financeiro que transporte para os<br />
indivíduos ou famílias o ónus da<br />
insegurança de que haviam sido<br />
aliviados. Trata-se antes de gerir<br />
mais sabiamente a generosidade<br />
social para que a sua manta cubra<br />
mais e melhor. Trata-se de gerir o<br />
estado de bem-estar de acordo com as<br />
exigências de eficiência na gestão de<br />
grandes agregados económicos. Só<br />
assim o Welfare State sobreviverá<br />
às crises periódicas do crescimento<br />
económico e se manterá o pano de<br />
fundo da justiça social em que<br />
assenta. A sua má gestão, além de<br />
desperdiçar recursos, deseduca os<br />
utilizadores. Fragiliza-se também<br />
com o ser periodicamente utilizada<br />
como objecto de marketing eleitoral. ~
1 nvestigação<br />
1 nvestigação<br />
A condição básica do sistema de<br />
financiamento será a universalidade<br />
de cobertura através da atribuição<br />
pelo orçamento do estado de uma<br />
dotação capitacional a cada cidadão,<br />
destinada a cobrir um esquema<br />
universal de cuidados ou serviços.<br />
Esta dotação variará ligeiramente de<br />
acordo com o sexo, idade e risco de<br />
saúde individual, devido a condicionamentos<br />
geográficos ou ocupacio-<br />
.<br />
na1s<br />
~a integração progressiva dos subsistemas<br />
públicos·. Serão criadas<br />
agências regionais de financiamento,<br />
por conversão parcial das administrações<br />
regionais de saúde, a<br />
quem incumbe proceder ao pagamento<br />
aos prestadores. Os utentes<br />
terão à sua escolha a inscrição na<br />
agência financiadora regional ou<br />
numa companhia ou mútua de<br />
seguros. Caso optem por estas<br />
últimas, serão elas a administrar<br />
as capitações respeitantes aos seus<br />
inscritos. Naturalmente, se as companhias<br />
entenderem oferecer mais<br />
cuidados que os previstos no esquema<br />
universal terão que angariar dos<br />
clientes os prémios necessários para<br />
cobrir os encargos adicionais.<br />
Agências regionais de financiamento<br />
e seguradoras terão a liberdade<br />
de celebrar contratos de prestação<br />
de serviços de saúde com hospitais,<br />
centros de saúde e prestadores<br />
privados, singulares ou colectivos,<br />
sem vinculação de área geográfica,<br />
com base na melhor relação qualidade-preço.<br />
Existirá um sistema<br />
integrado de gestão financeira e<br />
estatística relativa a todos os segurados,<br />
o qual é acessível a seguradores<br />
e prestadores. Tal serviço<br />
publicará informações regulares<br />
sobre a utilização de serviços,<br />
custos e performances. Esta informação<br />
constituirá a base das escolhas<br />
dos indivíduos em relação à<br />
sua seguradora e das seguradoras<br />
em relação aos prestadores. O duplo<br />
mecanismo de competição assegurará<br />
o funcionamento do mercado<br />
interno de cuidados de saúde dentro<br />
do SNS. O pagamento dos serviços<br />
prestados será feito com base em<br />
sistemas de classificação de doentes,<br />
oscilando os preços entre limites<br />
máximos e mínimos. Os<br />
orçamentos de funcionamento das<br />
instituições serão prospectivos, podendo<br />
receber adiantamentos periódicos<br />
das agências de<br />
financiamento que com elas contratam,<br />
com acerto de contas no final<br />
do ano. Os orçamentos de investimento<br />
serão fixados a nível da<br />
instituição, pendente de aprovação<br />
da entidade de tutela. Os recursos<br />
de investimento poderão ser originados<br />
no auto-financiamento, em<br />
empréstimos no mercado financeiro,<br />
em subvenções do orçamento do<br />
estado ou em contratos-programa<br />
com as agências financiadoras.<br />
Responsabilização: A responsabilização<br />
das administrações será assegurada<br />
perante os proprietários e<br />
por estes perante a tutela. Será<br />
criada uma comissão nacional de<br />
acreditação que visitará cada estabelecimento<br />
pelo menos uma vez por<br />
ano; as decisões desta comissão terão<br />
carácter executório. Será incentivada<br />
a associação de hospitais a nível<br />
geográfico e a nível nacional, esta<br />
última sob a forma de federação de<br />
associações, com funções que podem<br />
incluir o planeamento e a garantia<br />
de qualidade.<br />
O modelo de administração de saúde<br />
que atrás se apresenta deverá condu-<br />
zir à integração progressiva de todos<br />
os serviços, começando pelos hospitais.<br />
Mais tarde passará aos cuidados<br />
de saúde primários e à saúde<br />
mental.<br />
Alguns riscos<br />
A cnaçao de um mercado interno<br />
nos cuidados de saúde financiados<br />
pelo Estado não é isenta de problemas;<br />
para além das dificuldades<br />
operacionais de iniciar um modelo<br />
de gestão estratégica da saúde completamente<br />
novo, haverá (a) questões<br />
associadas à escassez de informação<br />
necessária às escolhas dos agentes<br />
económicos (utentes, seguradoras e<br />
prestadores), (b) problemas gerados<br />
pela minimização de risco por parte<br />
dos seguradores, (c) encargos adicionais<br />
com a complexa regulação do<br />
sistema, ( d) riscos de cartelização<br />
por parte de seguradores e prestadores<br />
e (e) dificuldades em fazer reflectir<br />
os valores societais num mercado<br />
que se pretende competitivo?<br />
Informação necessária a escolhas<br />
livres é hoje escassa: os cidadãos,<br />
ao escolherem entre a agência seguradora<br />
pública ou uma das privadas,<br />
terão de início as maiores dificuldades<br />
por falta de informação sobre a<br />
conduta passada das seguradoras e<br />
tenderão a deixar-se conduzir por<br />
argumentos de prestígio empresarial,<br />
e mais eficaz publicidade de<br />
benefícios ilusórios. Legislação de<br />
protecção do consumidor terá que<br />
ser criada para esta área de actividade<br />
e mecanismos provisórios de<br />
regulação administrativa poderão<br />
ter que ser preparados, até que a<br />
experiência faculte incentivos auto<br />
-reguladores. Problemas semelhantes<br />
poderão ocorrer no mercado prestador:<br />
insuficiente informação sobre a<br />
efectividade, qualidade e custo dos<br />
cuidados prestados poderão levar os<br />
pagadores-seguradores a escolhas<br />
sub-óptimas. A solução para este<br />
problema terá uma gestação lenta,<br />
dependente da capacidade de implantação<br />
de sistemas integrados de<br />
informação associando as condições<br />
de saúde às actividades necessárias<br />
para as manter e melhorar. Será<br />
porventura necessário correr o risco<br />
de considerar como necessidades de<br />
saúde os cuidados utilizados para<br />
aliviar dadas formas de morbilidade,<br />
o que será uma medida operacional<br />
conceitualmente incorrecta e potencialmente<br />
prejudicial. O estudo dos<br />
tratamentos mais custo-efectivos para<br />
cada doença será um indispensável<br />
método para ajudar seguradores<br />
e prestadores a maximizarem as suas<br />
funções de utilidade.<br />
Os problemas da selecção adversa de<br />
utentes por parte das seguradoras e<br />
de descarte de utentes (patient dumping)<br />
por parte de prestadores terá<br />
que ser resolvido pela autoridade<br />
reguladora: cada seguradora que<br />
pretenda intervir no mercado deve<br />
ter que aceitar uma amostra representativa<br />
de todos os grupos em risco<br />
existentes na sociedade; cada prestador<br />
terá que aceitar um código de<br />
conduta que o deverá impedir de se<br />
descartar de clientes indesejáveis.<br />
Certamente que as diferenças de<br />
capitação-prémio podem contribuir<br />
para uma distribuição mais aleatória<br />
do risco, mas nunca expurgarão o<br />
mercado das potenciais distorções da<br />
selecção adversa. Mas também não é<br />
de excluir que a especialização<br />
produtiva de certos prestadores em<br />
áreas aparentemente não-atractivas<br />
gere correspondentes ganhos de<br />
eficiência.<br />
Os encargos adicionais com a complexa<br />
regulação do sistema são<br />
inevitáveis e têm um custo de<br />
oportunidade que deve ser confrontado<br />
com o custo de se manter uma<br />
situação onde não há mecanismos de<br />
contenção de custos para além do<br />
envelope orçamental, o risco de se<br />
gerarem dívidas cada vez mais perturbadoras<br />
de uma gestão eficiente.<br />
Acresce que os mecanismos administrativos<br />
de garantia de qualidade<br />
estão longe de razoável eficácia,<br />
quando comparados com a alternativa<br />
de competição gerida entre prestçi.dores.<br />
Os riscos de cartelização do sistema<br />
são reais: no mercado segurador a<br />
ausência de interessados em áreas de<br />
menor densidade populacional e<br />
económica levará ao domínio pela<br />
agência pública dessa área geográfica,<br />
com eventuais acréscimos de<br />
custos médios. Porém,· a associação<br />
ou fusão de seguradoras para obtenção<br />
. de economias de escala nos<br />
custos de transacção do sistema não<br />
será forçosamente uma má consequência;<br />
tal como a procura de<br />
economias de escala na prestação<br />
de serviços pode aumentar a eficiência<br />
interna dos prestadores. Salva-<br />
Os passos para a reforma podem<br />
começar no terreno do debate público,<br />
bem antes da iniciativa legislativa,<br />
como aconteceu nos Países<br />
Baixos: o relatório Dekker de 1987<br />
foi precedido de discussão propiciadora<br />
e de uma reforma do financiamento<br />
hospitalar em 1992, que abriu<br />
o caminho à reforma integral do<br />
sistema de saúde ..<br />
guardas da livre concorrência têm<br />
que ser criadas por via reguladora.<br />
A necessidade de se fazerem reflectir<br />
os valores societais nestes mercados<br />
que se pretendem competitivos tem<br />
que ser garantida através de órgãos<br />
de tutela de nível regional que<br />
controlem o funcionamento do sistema<br />
face aos valores da equidade, da<br />
satisfação dos utilizadores e do<br />
sentido de participação comunitária.<br />
A multirepresentatividade de<br />
tais órgãos de tutela e a realização<br />
de auditorias e avaliações regulares<br />
poderão fazer aproximar dos valores<br />
societais a actividade desenvolvida<br />
no sector.<br />
Conclusão<br />
Uma reforma desta complexidade e<br />
extensão não pode ser implantada<br />
por uma milagrosa e singular mudança<br />
de legislação. Ela tem de ser<br />
· precedida de inúmeros estudos da<br />
administração, dos meios académicos<br />
e dos agentes económicos e de<br />
um intenso debate político, para<br />
testar a sua viabilidade. Os passos<br />
para a reforma podem começar no<br />
terreno do debate público, bem antes<br />
da iniciativa legislativa, como aconteceu<br />
nos Países Baixos: o relatório<br />
Dekker de 1987 foi precedido de<br />
discussão propiciadora de uma reforma<br />
do financiamento hospitalar em<br />
1992, que abriu o caminho à reforma<br />
integral do sistema de saúde. E, seis<br />
anos passados, está-se ainda longe de<br />
uma aplicação total das conclusões<br />
do relatório. Todavia, o caminho foi<br />
claramente iniciado e não será maís<br />
possível regredir ao modelo antigo.<br />
O tecido empresarial do sector segurador<br />
foi profundamente reorganiza-<br />
do e os prestadores passaram a<br />
responder a estímulos de custo-efectividade.<br />
Para já a administração central do<br />
Estado pode iniciar a construção do<br />
sistema informativo que suportará o<br />
modelo decisório. Mesmo que a<br />
reforma nunca seja adaptada, o<br />
esforço não será perdido. Mais e<br />
melhor informação sobre as complexas<br />
relações entre as necessidades de<br />
saúde da população e o que a<br />
sociedade oferece para as tentar<br />
satisfazer será um importante contributo<br />
para o progresso. 1<br />
(1) Comunicado apresentado no Forum "<strong>Gestão</strong><br />
<strong>Hospitalar</strong>, Novos Rumos", realizado em Lisboa<br />
em Dezembro de 1993<br />
* Professor catedrático da ENSP - Lisboa,<br />
em comissão de serviço no Banco Mundial -<br />
Washington DC<br />
REFERÊNCIAS<br />
1. Enthouen, Alain C. Managed Competition in<br />
Health Gare Financing and Deliuery: History,<br />
Theory and Practice, Paper yresented for a<br />
Robert Wood Johnson Foundation Under its<br />
Changes in Health Gare Financing lnitiatiue,<br />
Washington, DC, January 1993<br />
2. Congress of the United States. Congressional<br />
Budget Office, Manag_ed Competition and its<br />
Poteritial to Reduce Health Spending, a CBO<br />
Stu_dy, May 1993<br />
3. Více·President Al Gore, Creating a Government<br />
that Works Better and Costs Less, The<br />
Report of the National Performance Review,<br />
SeQt_ember 1993, Plume-Penguin Books<br />
4. Maarse J. The insurer-provider relationship in<br />
health care, from administration to strategic<br />
management: the Dutch case, Eur. J. Public<br />
Health 1993; 3: 72·76<br />
5. Campos A. C. Ref arma da Saúde em Portugal.<br />
Cenários de f antes de Financiamento e Estatuto<br />
de Prestadores, Nova Economia, Reu. Ass. Est.<br />
Fac Econ. UN Lisboa, 6·3. Trim.1992<br />
6. Ouretueit J., Purchasing f ar health gain; the<br />
problems and prospects for purchasing for health<br />
gain in the "managed markets" of the NHS and<br />
other European health systems, Eur. J. Public<br />
Health 1993; 3: 77·84<br />
38 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
Ge.stão <strong>Hospitalar</strong> 39
Ace»nt~cim .. nte»<br />
Visita de Estudo<br />
aos Estados Unidos<br />
viagem de estudo aos EUA<br />
promovida pela Associação<br />
Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es (AP AH),<br />
de 25 de Março a 8 de Abril de <strong>1994</strong>,<br />
tinha em vista o contacto com<br />
organismos públicos e privados de<br />
saúde, de particular relevo e renome<br />
internacional, que dessem uma<br />
visão dos avanços técnico-científicos<br />
na área da gestão hospitalar e<br />
uma percepção alargada das novas<br />
correntes actuais da política americana<br />
para a Saúde.<br />
O conjunto de visitas e meetings<br />
realizados foi importante para a<br />
nossa formação, pela variadíssima<br />
gama de comunicações que nos<br />
foram apresentadas, abrangendo aspectos<br />
plurifacetados da organização<br />
da saúde na América e dos movimen-<br />
Arminda Cepeda *<br />
tos de opinião particularmente efervescentes<br />
a propósito da reforma<br />
Clinton.<br />
Para se ter uma perspectiva global do<br />
programa de visitas efectuado, apresentarei<br />
a seguir os tópicos das<br />
principais visitas e encontros oficiais<br />
que nos foram proporcionados.<br />
GREATER NEW YORK HOSPITAL<br />
ASSOCIATION (GNYHA) - Nova Iorque<br />
Este encontro realizou-se na sede da<br />
GNYHA, uma associação de 152<br />
hospitais e estabelecimentos de saúde<br />
para doentes de evolução prolongada<br />
(long term care facilies) da área<br />
metropolitana de Nova Iorque, que<br />
tem por objectivo desenvolver acções<br />
conjugadas para a melhoria do acesso<br />
e dos cuidados prestados à população,<br />
designadamente intervindo na política<br />
de saúde, propondo reformas e defendendo<br />
os interesses dos seus<br />
associados (instituições de saúde)<br />
junto das instâncias do poder ou dos -<br />
próprios tribunais.<br />
Este meeting envolveu a apresentação<br />
de várias comunicações sobre o sistema<br />
de saúde americano e, em contraponto,<br />
sobre as alterações previstas<br />
para este sistema na reforma Clinton,<br />
cujo projecto se encontra em aceso<br />
debate no Senado.<br />
O ponto alto deste encontro foi, sem<br />
dúvida, a intervenção do dr. Ruy V.<br />
Lourenço, reitor da N ew Jersey<br />
Medical School, um médico português<br />
radicado nos EUA há 20 anos, e<br />
simultaneamente uma individualidade<br />
de grande renome científico e técnico<br />
em Nova Iorque.<br />
Deu-nos um panorama assaz vivo da<br />
organização e funcionamento dos<br />
Hospitais na América, em confronto<br />
com os hospitais portugueses, que<br />
tem visitado nos últimos anos.<br />
BETH ISRAEL SOUTH HOSPITAL<br />
- Nova Iorque<br />
O Beth Israel South Hospital é um<br />
hospital privado, de fundação judaica,<br />
situado na baixa de Manhattan ( lower<br />
Neil Neuberger, representante da CPSC ·Empresa de Comunicação que preparou a viagem, durante a recepção, oferecida<br />
pelo embaixador português Francisco Knopfeli<br />
40 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
1.<br />
Intervenção de Scott Parker, presidente da Federação Internacional dos Hospitais e presidente do Grupo IHC, que gere uma<br />
importante cadeia hospitalar do Utah<br />
Manhattan), que é apenas uma peça<br />
de um sistema de cuidados de saúde<br />
extremamente vasto - The Beth Israel<br />
Health Care System, envolvendo uma<br />
rede de 13 estabelecimentos de saúde<br />
nas áreas de Manhattan e Bronx, e<br />
departamentos vários de investigação<br />
e ensino médico em ligação com<br />
importantes centros uiniversitários.<br />
A visita foi breve, sendo, porém, de<br />
destacar os Serviços de Imagiologia,<br />
de alto avanço tecnológico na área da<br />
tomografia cardiológica, e com sofisticados<br />
sistemas computorizados.<br />
Outra vertente de interesse foi o<br />
projecto-piloto do Departamento de<br />
Educação para o Acolhimento do<br />
Utente, que desenvolve uma matriz<br />
de atendimento personalizado ao<br />
doente, em todos os níveis do seu<br />
percurso hospitalar, e está ensaiando<br />
formas de habitat familiar, em alguns<br />
serviços, por forma a que o doente<br />
possa recriar um ambiente idêntico ao<br />
do seu quotidiano em família (sala de<br />
convívio, kitchnette, jogos, leitura,<br />
visitas privadas, auto-administração<br />
de medicamentos, etc.)<br />
Esta visita envolveu ainda, durante o<br />
almoço de trabalho, a apresentação de<br />
várias comunicações com dados estatísticos<br />
relativos ao Beth Israel Hospital<br />
e à sua rede de serviços integradas,<br />
salientando-se a articulação<br />
com as estruturas comunitárias de<br />
saúde.<br />
U.S. PUBLIC HEALTH SERVICE OFFICE<br />
- Washington<br />
Este encontro teve lugar na sede do<br />
U.S. Public Health Service Office,<br />
organismo central do Department of<br />
Health Human Services (correspondente<br />
ao nosso Ministério da Saúde),<br />
estando presentes vários representantes<br />
de departamentos ou direcções<br />
-gerais, que integram a rede de gabinetes<br />
ministeriais dedicados à saúde<br />
pública.<br />
Este conjunto de comunicações permitiu-nos<br />
uma visão global das áreas<br />
de intervenção destes organismos<br />
centrais, que cobrem a política geral<br />
para a saúde pública, a pesquisa e<br />
disseminação de informação para a<br />
melhoria da qualidade dos serviços,<br />
estudos científicos sobre eficiência e<br />
eficácia nos cuidados de saúde, a<br />
distribuição equitativa de recursos<br />
humanos para áreas de população<br />
desfavorecida, e ainda um importante<br />
enfoque na política de medicamentos e<br />
de nutrição, salientando-se as normàs<br />
estritas para avaliação e controlo da<br />
qualidade dos medicamentos e produtos<br />
alimentares.<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 41<br />
DYRKSEN SENATE OFFICE BUILDING<br />
- Washington<br />
Esta sessão teve lugar na sede dos<br />
Serviços Centrais do Senado americano,<br />
a Assembleia Legislativa, que<br />
juntamente com a Câmara dos Representantes<br />
integra o Congresso, órgão<br />
supremo legislativo nos EU A.<br />
No Dirksen Building funcionam efectivamente<br />
todos os serviços técnicos e<br />
administrativos de apoio ao Senado,<br />
envolvendo uma gama multiforme de<br />
comités, secretariados, e gabinetes<br />
técnicos que permanentemente estudam<br />
os projectos legislativos a apresentar<br />
ao Senado, polarizando-se em<br />
torno dos 100 senadores, que dispõem,<br />
individualmente, de um alargado<br />
staff de consultores e executivos.<br />
O meeting constou de um painel de<br />
curtas exposições que se centraram<br />
essencialmente em abordagens sucessivas<br />
e sob vários prismas do projecto<br />
· da reforma Clinton, proferidas por<br />
elementos qualificados do staff dos<br />
senadores que integram o comité que<br />
deverá apresentar o parecer final ao<br />
Senado.<br />
. Através do painel foi-nos dado constatar<br />
as múltiplas discussões em curso<br />
e o leque alargado de consultas que os<br />
senadores promovem junto das suas<br />
"bases de apoio" e, por outro lado, o ...
-11111 sistema complexo de lobbies que<br />
actuam nos bastidores para influenciar<br />
as decisões do Senado em favor dos<br />
seus grupos de interesses.<br />
Intervieram ainda representantes de<br />
associações de hospitais (a District of<br />
Columbia Hospital Association e a<br />
American Hospital Association), entidades<br />
que têm grande peso político e<br />
comunitário nos Estados Unidos, bem<br />
como representantes de organizações<br />
privadas de saúde, que funcionam na<br />
óptica do seguro de saúde (Blue<br />
Cross/Blue Shields).<br />
JOHNS HOPKINS UNIVERSITY SCHOOL<br />
OF HYGIENE AND PUBLIC HEALTH<br />
- Baltimore<br />
O programa incluia esta visita, como<br />
prioritária, dado o renome internacional<br />
e o prestígio científico desta escola<br />
universitária, considerada "referência<br />
obrigatória" para todos os institutos<br />
universitários de Saúde Pública, a<br />
nível mundial.<br />
A J ohns Hopkins School detém<br />
actualmente o top dentro das suas<br />
congéneres nos EUA (a par de<br />
Harvard, em Dallas), e nele estão<br />
sediados inúmeros centros de pesquiza<br />
que colaboram activamente com a<br />
Organização Mundial de Saúde em<br />
Hospital de Crianças em Utah em Salt Lake City<br />
estudos e proj ectos no terreno em 40<br />
países do mundo.<br />
A Escola dispõe de um quadro de 365<br />
docentes full time e é frequentada por<br />
mais de 1300 alunos, oriundos de 78<br />
países.<br />
Neste meeting colaboraram o reitor e<br />
vários docentes qualificados, com<br />
temas de actualidade, como programas<br />
de ·educação para a saúde em<br />
zonas rurais, desenvolvimento de<br />
planos de saúde pública de emergência<br />
nos países subdesenvolvidos, o<br />
planeamento da Saúde na Europa<br />
versus sistema de saúde americano.<br />
Foi interessante a este propósito a<br />
ênfase dada ao Serviço Nacional de<br />
Saúde existente em Portugal, pela sua<br />
filosofia subjacente de solidariedade e<br />
protecção social de base igualitária,<br />
que seria lamentável destruir, para<br />
correr atrás de soluções liberalizantes,<br />
quando na América se procura<br />
neste momento controlar os prejuízos<br />
que resultaram de posições excessivamente<br />
liberalizantes.<br />
O momento mais interessante deste<br />
painel foi, porém, a intervenção de um<br />
jovem médico português, que está a<br />
concluir a sua especialidade em Oncologia<br />
(transplante de medula) no<br />
Hospital da Universidade de Johns<br />
42 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
Hopkins, após ter feito Medicina<br />
Interna no Hospital de Dallas.<br />
O dr. José Luís Passos Coelho<br />
(H.S.M.) deu-nos. uma panorâmica<br />
muito viva da organização hospitalar<br />
americana, esbatendo certos tabús,<br />
como o da "menor qualidade" dos<br />
hospitais públicos. Considera que<br />
estes são, em muitos casos, modelares<br />
e que o ensino é de elevado nível.<br />
Mas o reitor da J ohns Hopkins<br />
deixou, por fim, uma mensagem<br />
urgente para os portugueses: não<br />
construam mais hospitais; melhorem<br />
os hospitais existentes; façam a conexão<br />
dos centros de saúde com os<br />
hospitais.<br />
STANFORD UNIVERSITY HOSPITAL<br />
- Stanford (San Francisco)<br />
Este moderno hospital universitário,<br />
situado a 30 milhas a sul de San<br />
Francisco, na Califórnia, é peça<br />
-chave do Stanford University Medical<br />
Center, um campus universitário<br />
que integra, além de uma escola<br />
médica, um vasto conjunto de clínicas<br />
(centros de consultas especializadas)<br />
e um hospital pediátrico.<br />
Este campus universitário é o mais<br />
famoso do Oeste Americano e para ele<br />
acorrem doentes dos mais variados<br />
pontos do mundo, em busca dos<br />
tratamentos mais avançados em certos<br />
domínios (transplante da medula,<br />
cirurgia cardiovascular, multitransplantes,<br />
cirurgia pulmonar, nefrologia<br />
e diálise, hematologia, epilepsia,<br />
etc.).<br />
O Stanford University Hospital, com<br />
uma lotação de 549 camas, está assim<br />
vocacionado para "serviços de ponta",<br />
sendo, pois, um hospital de 3º nível,<br />
ou seja, de último recurso, na hierarquia<br />
da prestação de cuidados. A ele<br />
só acorrem os doentes triadas pelos<br />
hospitais centrais dos vários Estados,<br />
ou credenciados pelas autoridades<br />
máximas de saúde de países estrangeiros,<br />
e após um estudo prévio rigoroso<br />
do Stanford Hospital em que intervêm<br />
as telecomunicações e as bases de<br />
dados computorizados.<br />
As suas instalações têm sofrido beneficiações<br />
sucessivas ao longo dos seus<br />
30 anos de existência, sendo extremamente<br />
modernas algumas alas do<br />
edifício, que privilegiam o acolhimento<br />
ao utente e aos seus familiares, com<br />
enormes salas de lazer e de actividades<br />
culturais (música ao vivo, galeria de<br />
pintura, etc.).<br />
Esta visita contou também com uma<br />
sessão prévia, de várias comunicações,<br />
pelas autoridades máximas do Hospital,<br />
que apresentaram as linhas de<br />
orientação da sua actividade, com<br />
ênfase na orgânica de administração,<br />
em que dominam os circuitos informatizados,<br />
com aplicação dos mais<br />
avançados programas na área da<br />
informação para a gestão e da informática<br />
médica, procurando-se na fase<br />
actual ultrapassar os programas sectoriais<br />
para obter uma gestão integral<br />
dos sistemas, numa óptica globalizante<br />
de controlo de custos/eficácia.<br />
LDS HOSPITAL - Salt Lake City<br />
O LDS Hospital (Later Day Saints<br />
Hospital) é um hospital muito moderno,<br />
de 500 camas, em Salt Lake City,<br />
capital do Estado de Utah.<br />
Este Hospital faz parte de um sistema<br />
integrado e completo de serviços de<br />
saúde, do Estado de Utah (abrangendo<br />
ainda dois Estados limítrofes -<br />
Idaho e Wyoming), designado por<br />
Intermountain Health Care (IHC),<br />
que contém uma rede de 90 estabelecimentos.<br />
prestadores de cuidados,<br />
desde cuidados primários a serviços<br />
de evolução prolongada para idosos ou<br />
doentes crónicos, pretendendo-se um<br />
acompanhamento e apoio à população,<br />
ao longo de toda a sua vida, e em todas<br />
as situações de crise ou doença, sem<br />
descurar uma gama vasta de acções e<br />
serviços vocacionados para a prevenção<br />
e educação para a saúde.<br />
O nome do Hospital provém da sua<br />
fundação pelo grupo religioso Later<br />
Day Saints (Igreja Mormon's), que<br />
tem a sua sede em Salt Lake City.<br />
Recentemente, porém, o Hospital foi<br />
adquirido por uma sociedade independente,<br />
de fins beneficentes, que<br />
gere a rede de Serviços do Intermountain<br />
Health Care.<br />
Num meeting realizado num.a das<br />
salas de conferências, foi-nos apresentado<br />
um completo programa de informática<br />
médica - (HELP), o mais<br />
avançado nesta área, que se desenvolve<br />
a partir de um computador central<br />
com terminais em todos os serviços de<br />
Apoio Médico e computadores pessoais<br />
na cama de cada doente, e tem<br />
por base uma gestão integrada e<br />
interactiva de todas as informações<br />
laboratoriais, de terapêutica medicamentosa,<br />
registos de sinais vitais pelos<br />
Serviços de Enfermagem, de diagnóstico<br />
clínico e sucessivas correcções<br />
evolutivas deste, em função de novos<br />
dados complementares, que permitem<br />
a aferição constante do diagnóstico e<br />
das terapêuticas , num f ead-back<br />
permanente do circuito, de base<br />
sistémica.<br />
PRIMARY CHILDREN'S MEDICAL<br />
CENTER - Salt Lake City<br />
Esta última visita teve lugar no<br />
Hospital Pediátrico mais moderno do<br />
Estado de UT AH, que foi inaugurado<br />
apenas há 2 anos e está integrado no<br />
Sistema de Cuidados IHC.<br />
Este Centro Pediátrico tem ainda<br />
várias extensões ao longo da região,<br />
clínicas de consulta e serviços de<br />
reabilitação e ainda uma unidade de<br />
Psiquiatria Infantil, de 36 camas.<br />
O Hospital Pediátrico, de 250 camas,<br />
dispõe de avançados serviços na área<br />
Acontecimento<br />
da cirurgia cardiovascular e uma<br />
unidade de Cuidados Intensivos de<br />
alta tecnologia.<br />
As áreas de ludoterapia e psicomotricidade<br />
são muito atractivas, sendo<br />
dado particular relevo ao bem-estar<br />
das crianças para além das horas de<br />
tratamento.<br />
Todo o Hospital revela um clima de<br />
humanização, onde a serenidade, a luz<br />
e a decoração dos interiores é reconfortante.<br />
Durante o almoço de boas-vindas, em<br />
que fomos recebidos com grande<br />
gentileza, o presidente da Intermountain<br />
Health Care Inc., Mr. Scott<br />
Parker, que é também o presidente ·<br />
da Federação Internacional dos Hospitais,<br />
expôs as linhas gerais deste<br />
sistema integrado de cuidados, que<br />
pretende ser um modelo completo de<br />
saúde global comunitária.<br />
Em seguida foi aberto um interessante<br />
debate sobre a reforma Clinton, de<br />
que Mr. Parker é um dos principais<br />
consultores, a nível federal.<br />
CONCLUSÃO<br />
Para concluir penso que devo salientar<br />
o óptimo programa que nos foi<br />
proporcionado, não só a nível profissional,<br />
mas também social (também<br />
neste campo foi muito aliciante) sendo<br />
aqui de realçar a qualidade dos<br />
serviços do Center for Public Service<br />
Communications - uma sociedade<br />
americana, de consultadoria e public<br />
relations, na área da saúde, sediada<br />
em Washington, que programou toda<br />
a viagem e prestou apoio constante aos<br />
participantes ao longo do percurso.<br />
Mas um agradecimento final deve ser<br />
feito à Associação Portuguesa de<br />
Administradores <strong>Hospitalar</strong>es, cuja<br />
direcção, e em especial, o seu presidente,<br />
dr. Manuel Delgado, desenvolveram<br />
os melhores esforços para o seu<br />
êxito. 1<br />
* Administradora hospitalar<br />
Destaque-se a recepção do Embaixador de<br />
Portugal em Washington, dr. Francisco Knopfeli,<br />
pela total disponibilidade e simpatia inexcedível,<br />
e o convívio com a colónia portuguesa de S. José<br />
da Califórnia {oriund@ essencialmente do arquipélago<br />
dos Açores), sob o patrocínio do nosso<br />
cônsul-geral em San Francisco.<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 43
Ciclo de Encontros/94<br />
<strong>Gestão</strong> da Saúde em Portugal:<br />
Que opções? Que Futuro?<br />
1 Encontro: "A <strong>Gestão</strong> Privada<br />
dos Hospitais Públicos"<br />
PORTO- 29 de Abril, 94<br />
Convidado: José Lopes Martins,<br />
secretário de Estado da Saúde<br />
A Direcção da APAH decidiu, este ano,<br />
abrir o Ciclo de Encontros na cidade do<br />
Porto. O tema e a personalidade<br />
convidada mobilizaram um elevado<br />
número de participantes e o debate,<br />
bastante vivo, prendêu durante cerca<br />
de 4 horas, a atenção de todos.<br />
<strong>Gestão</strong> Privada do Hospital Público.<br />
Era necessário delimitar cQm rigor o<br />
objecto a privatizar. E foi justamente<br />
essa uma das principais preocupações<br />
presentes no discurso do Secretário de<br />
Estado.<br />
Não questionando o Direito dos cidadãos<br />
à protecção da sua saúde, que<br />
decorre do texto constitucional, o dr.<br />
Lopes Martins esclareceu, desde logo,<br />
que não estavam em causa, nem a<br />
titularidade nem a responsabilidade<br />
do Estado. De facto, acrescentou,<br />
esses princípios são intocáveis e o<br />
conceito de privatização subjacente<br />
apenas abrange a perspectiva da<br />
"gestão indirecta" do Estado, que por<br />
razões de estrutura, administrativas e<br />
operacionais, pode ser cedida a terceiras<br />
entidades. Pretende-se, assim, retirar<br />
a máxima utilidade dos ben&<br />
públicos numa lógica de micro e<br />
macro eficiência, outorgando à sociedade<br />
civil capacidade de iniciativa para<br />
fazer melhor. .<br />
"A expressão gestão privada é, neste<br />
contexto, igual à gestão indirecta - por<br />
entidades privadas - e não forma de<br />
alienar a responsabilidade e titularidade<br />
do Estado", esclareceu. E por isso<br />
mesmo, adiantou, há que encontrar<br />
formas que associem a flexibilidade e<br />
virtualidades da gestão privada ao<br />
imperativo de se criarem mecanismos<br />
de fiscalização, supervisão e acreditação<br />
por parte do Estado.<br />
Depois de passar em revista os contratos-tipo<br />
que a legislação contempla (o<br />
contrato de gestão, a convenção com<br />
grupos de médicos e o contrato<br />
-programa), Lopes Martins centrou a<br />
sua atenção nos mecanismos processuais<br />
indispensáveis para o bom êxito<br />
destas iniciativas: existirá, por princípio,<br />
concurso público; será elaborado<br />
um caderno de encargos tipo, por<br />
modalidade de contrato a estabelecer<br />
será, obviamente, elaborado um contrato<br />
com a entidade terceira a quem a<br />
exploração for atribuída. Entrou, então,<br />
na parte porventura nuclear e ao<br />
mesmo tempo mais controversa em<br />
matéria de privatização, colocando<br />
três questões fundamentais:<br />
1 º - Como retribuir os serviços<br />
prestados, incentivando por um lado<br />
a eficiência e controlando, por outro, o<br />
so breconsumo?<br />
2º - Como se regerão as relações entre<br />
a entidade terceira, que faz a gestão, e<br />
o pessoal que aí trabalha?<br />
3º - De que forma será exercido o<br />
poder regulador do Estado, atendendo<br />
ao facto de esses contratos produzirem<br />
uma "<strong>Gestão</strong> Indirecta do Estado"?<br />
Para a primeira questão, levantou<br />
várias hipóteses, desde o pagamento<br />
por envelope global até ao pagamento<br />
dos actos, sempre referenciados por<br />
padrões de utilização préviamente<br />
definidos e cujo cumprimento será<br />
incentivado e a sua ultrapassagem<br />
tendencialmente penalizada.<br />
Admitiu, para a segunda questão, o<br />
direito de opção dos profissionais de<br />
saúde entre as regras do Direito do<br />
Público e as regras do Direito Privado<br />
com suspensão do vínculo à função<br />
pública.<br />
Quanto à terceira questão, admitiu a<br />
integração de representantes do Estado<br />
na própria Administração das<br />
unidades "privatizadas" ou, em alternativa,<br />
a criação de protocolos de<br />
controlo de gestão bem definidos e<br />
executados dentro de uma periodiciqade<br />
pré-estabelecida.<br />
A intervenção do Secretário de Estado,<br />
em que frisou sempre a importância<br />
do debate para que novos contributos<br />
surgissem e pudessem ser<br />
eventualmente incorporados nas peças<br />
procedimentais a criar, seguiram<br />
-se as perguntas, as dúvidas e as<br />
ópiniões de muitos dos participantes.<br />
Destaquemos, fundamentalmente<br />
duas: a do dr. Moreno Rodrigues e a<br />
do sr. Manuel Agonia.<br />
O administrador-delegado do Hospital<br />
de Santo António, colocou três<br />
problemas ligados à "gestão privada":<br />
1 º problema - Se o objectivo da<br />
privatização é aumentar a eficiência,<br />
Lopes Martins, secretário de Estado da Saúde, com Manuel Delgado, presidente<br />
da APAH<br />
44 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
verifica-se, todavia,<br />
que custos unitários<br />
mais baixos, representam<br />
custos globais<br />
mais elevados.<br />
Como controlar este<br />
crescimento das<br />
despesas?<br />
2º problema - No<br />
sector público há<br />
espartilhos que dificultam<br />
a eficiência<br />
técnica. Parece que<br />
o Estado os reconhece,<br />
mas simultaneamente<br />
mostra a<br />
sua incapacidade<br />
para os ultrapassar,<br />
ao optar pela "gestão<br />
privada".<br />
3º problema - Haverá,<br />
no futuro pró<br />
generalizado da procura<br />
e o aumento descontrolado<br />
das despesas e<br />
dos custos, o prof.<br />
Vasco Reis afirmou<br />
que nós, em Portugal,<br />
nunca levamos as reformas<br />
de saúde, entretanto<br />
delineadas, até às<br />
suas últimas consequências.<br />
Daí não termos<br />
soluções para o<br />
subfinanciamento, para<br />
a ineficiência técnica,<br />
para a utilização dos<br />
serviços sem critério e<br />
sem definição de prioridades.<br />
Traçou, em<br />
seguida, os principais<br />
objectivos do SAS<br />
(mais escolhas para o<br />
cidadão, mais qualidade<br />
e maior eficiên<br />
óa) e as regras subjacentes ao modelo<br />
de ;eguro preconizado: um seguro<br />
voluntário; de base familiar; de natureza<br />
vitalícia; com total liberdade de<br />
aceitação por parte do cidadão; sem<br />
limites de idade; compreenssivo ou<br />
geral; com prémios em concorrência;<br />
com comparticipação estatal.<br />
Revelou dados inéditos correspondentes<br />
ao estudo de mercado patrocinado<br />
pelo Ministério de Saúde, em que se<br />
verifica haver níveis interessantes de<br />
adesão por parte dos cidadãos tenden·<br />
cialmente mais novos. Apresentou<br />
ainda simulações referentes ao impacto<br />
do modelo de seguro no financiamento<br />
do sistema.<br />
A sua extensa intervenção foi acompanhada<br />
com grande interesse pelas<br />
pessoas presentes e, dado o ineditismo<br />
de alguns dados apresentados, deu<br />
aso a várias perguntas, predominantemente<br />
por parte dos representantes do<br />
sector segurador. Estes, colocando-se<br />
numa posição diferente da esboçada<br />
pelo prof. Vasco Reis, afirmaram não<br />
ser viável um seguro verdadeiramente<br />
alternativo e opcional, antes um<br />
seguro complementar, limitado e,<br />
obviamente, selectivo, em que os<br />
pressupostos de perenidade, idade<br />
ilimitada e compreensividade seriam<br />
sempre postergados.<br />
Gerou-se, neste ponto, uma interessante<br />
polémica que, no essencial, tinha<br />
subjacente diferentes naturezas de<br />
seguro: tendencialmente social ou<br />
eminentemente comercial.<br />
Obviamente que não houve consenso! 1<br />
ximo, o risco de nos<br />
confrontarmos com duas lógicas de<br />
gestão de unidades hospitalares: uma,<br />
em que a procura e a casuística são<br />
ilimitadas, incluindo o ensino, investigação,<br />
estágios, etc - a administração<br />
pública; outra, em que a procura é<br />
"controlada" e as exigências de outra<br />
natureza não se colocam - a administração<br />
"privada" . As performances<br />
serão, naturalmente diferentes e enganadoramente<br />
comparáveis.<br />
A intervenção do accionista principal<br />
da Clipóvoa, sr. Manuel Agonia,<br />
embora se tivesse desviado dos propósitos<br />
deste Encontro, não deixou de<br />
se revestir de algumas notas interessantes.<br />
Centrando-se na diferença<br />
entre privatização da gestão e iniciativa<br />
privada em saúde, Manuel Agonia<br />
disse esperar do Governo uma política<br />
de abertura à iniciativa privada em<br />
competição com o sector público e não<br />
"falsas" soluções como a privatização<br />
da gestão, que pouco ou nada acrescentarão<br />
ao panorama da saúde em<br />
Portugal. Reivindicou o direito a<br />
posicionar-se no mercado da saúde<br />
em pé de igualdade com o sector<br />
público, pois sem condições, não<br />
haverá qualquer hipótese de sucesso<br />
da iniciativa privada neste importante<br />
sector social.<br />
'<br />
As diferentes questões que lhe foram<br />
colocadas, Lopes Martins respondeu<br />
de forma satisfatória e esclarecedora,<br />
tendo a oportunidade de desenvolver<br />
alguns pontos da sua intervenção<br />
inicial. •<br />
Vasco Reis, durante a sua comunicação, extremamente aprofundada<br />
li Encontro: "O Seguro<br />
Alternativo de Saúde<br />
no contexto do SNS"<br />
Convidado: Prof. Vasco Reis<br />
Lisboa, 24 de Junho/94<br />
Com a elevada participação de gestores<br />
hospitalares e representantes de<br />
empresas seguradoras, o II Encontro<br />
de <strong>1994</strong> teve na figura do prof. Vasco<br />
Reis, o protagonista central para<br />
abordar o tema do Seguro Alternativo<br />
de Saúde.<br />
Tema porventura crucial para a<br />
reforma de saúde, a questão do<br />
financiamento em que necessariamente<br />
se inclui este Seguro Alternativo,<br />
pode desencadear consequências<br />
estratégicas importantes quer ao nível<br />
. da oferta de cuidados (diversidade,<br />
competição, eficiência, efectividade e<br />
qualidade), quer ao nível de procura<br />
(opções de escolha, acesso racionalizado,<br />
eventualmente, também, efeitos<br />
descriminatórios e elitistas).<br />
O prof. Vasco Reis acompanhou,<br />
desde o início, os estudos preliminares<br />
do Ministério da Saúde para<br />
futura negociação com as seguradoras<br />
e eventual implementação de um<br />
modelo de seguro de saúde verdadeiramente<br />
alternativo. Por isso, a comunicação<br />
que apresentou foi extremamente<br />
aprofundada e sempre<br />
suportada por uma expressiva base<br />
de dados.<br />
Começando por enquadrar o tema na<br />
questão mais vasta da crise dos<br />
sistemas de saúde, com o crescimento<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 45<br />
Acontecimento
Uma Rocha na gestão hospitalar<br />
ascido a 6 de Agosto de 1936, na vila de Rio<br />
de Moinhos, concelho de Penafiel, distrito<br />
do Porto, Joaquim Nogueira da Rocha é<br />
hoje, reconhecidamente, uma das figuras<br />
mais destacadas da gestão hospitalar em Portugal.<br />
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito<br />
de Lisboa em 1965, diplomou-se em Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> pela Escola Nacional de Saúde Pública<br />
(II curso) em 1971, atingindo, como profissional, o<br />
topo da carreira no ano seguinte. Actualmente é<br />
presidente do Conselho de Administração do<br />
Serviço de Utilização Comum dos Hospitais,<br />
depois de ter estado à frente da sua Comissão<br />
Directiva de Abril de 1990 a Junho de 1993. Antes,<br />
porém, como o seu recheado currículo regista,<br />
passou pela Direcção-Geral dos Hospitais, onde<br />
desempenhou os cargos de Técnico de Organização<br />
(1965) e Chefe de Repartição (1965-68); fez parte da<br />
administração dos Hospitais Civis. de Lisboa -<br />
Desterro, Arroias, Curry Cabral e Dona Estefânia<br />
(1968-78) - e foi seu administrador geral de Maio de<br />
1978 a Setembro de 1979. A partir daí, durante<br />
praticamente seis anos consecutivos, dirigiu a<br />
Organizâção e Recursos Humanos da Segurança<br />
Social, tendo sido depois, de Junho de 1986 a<br />
Junho de 1990, o responsável pelas Instalações e<br />
Equipamentos de Saúde. Entretanto prestara<br />
colaboração e assessoria, na área da saúde, aos<br />
ministros dos Assuntos Sociais do VI e VIII<br />
I<br />
Governos Constitucionais. E sobretudo nesta<br />
altura que se regista importante contribuição ao<br />
nível legislativo.<br />
Com efeito, Nogueira da Rocha, para além de ser<br />
autor de vários projectos de diplomas na esfera da<br />
Segurança Social, designadamente os que visaram<br />
a criação, de 1979 a 1985, dos Centros<br />
Regionais, é também autor ou co-autor de<br />
diversos projectos de diplomas no âmbito da<br />
saúde. A título ilustrativo, valerá a pena citar<br />
alguns exemplos mais relevantes. Em 1987:<br />
projecto de decreto-lei e de decreto destinados a<br />
reformular a gestão hospitalar, trabalho que viria<br />
a dar lugar ao Decreto-Lei nº 19/88, de 21 de<br />
Janeiro e Decreto Regulamentar nº 3/88, de 22 de<br />
Janeiro; em 1988: projecto de decreto regulamentar<br />
regional destinado a aplicar na Região<br />
Autónoma dos Açores o Decreto-Lei nº 19/88 e<br />
Decreto Regulamentar nº3/88; de 1990 a 1993:<br />
projecto de Estatuto do Serviço Nacional de<br />
Saúde e projecto de decreto-lei com vista a<br />
reformular a orgânica do Ministério da Saúde.<br />
Nogueira da Rocha foi, além disso, em 1993, um<br />
dos membros do grupo encarregado de proceder à<br />
regulamentação do_ Estatuto do Serviço Nacional<br />
de Saúde, tendo colaborado, no ano seguinte, na<br />
preparação de novos quadros legais destinados à<br />
gestão privada de unidades de saúde.<br />
A docência tem sido, ao longo da sua carreira, o<br />
complemento da actividade profissional propriamente<br />
dita. De 1976 a 1986 leccionou, como<br />
assistente da Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
a cadeira de Administração <strong>Hospitalar</strong>, de que há<br />
oito anos passou a ser professor auxiliar após<br />
prestação de provas públicas. A partir de 1987 é<br />
director do Gabinete de Direito da Saúde da<br />
ENSP, sendo igualmente professor coordenador<br />
sem agregação da Universidade Internacional<br />
desde 1988.<br />
Decorrente da sua actividade docente e carreira<br />
académica, muitas têm sido as acções de formação<br />
por si orientadas ou realizadas, através de cursos,<br />
seminários e conferências. Destacam-se cursos<br />
monográficos na ENSP; seminários sobre Direito<br />
da Saúde, organizados conjuntamente pela Faculdade<br />
de Direito de Lisboa e pela ENSP; cursos de<br />
formação, aperfeiçoamento e reciclagem realizados<br />
em diversos hospitais do país; cursos de<br />
formação e aperfeiçoamento em Angola, na<br />
qualidade de consultor do Instituto Nacional de<br />
Administração e de várias empresas. Além disso,<br />
foi prelector em diferentes escolas de enfermagem<br />
e foi a figura central em múltiplas conferências<br />
sobre temas de saúde e segurança social, nomeadamente,<br />
política de saúde, sistemas de saúde,<br />
hospital do futuro e organização administrativa<br />
da Segurança Social.<br />
Ao nível da consultoria várias são, e de relevo,<br />
algumas das tarefas desempenhadas por Nogueira<br />
da Rocha. Foi consultor de várias entidades:<br />
Governo Regional dos Açores (Secretaria Regional<br />
dos Assuntos Sociais) para a reorganização<br />
dos Serviços de Saúde (1982-88); Empresa Geral de<br />
Fomento, com a responsabilidade de preparar o<br />
concurso de adjudicação do Hospital Conde S.<br />
Januário, em Macau, análise de propostas e<br />
escolha do adjudicatário (1985-86); Governo<br />
Regional da Madeira, para chefiar o projecto de<br />
reestruturação do Centro <strong>Hospitalar</strong> do Funchal<br />
(1989); Partex/CPS, para a realização de acções de<br />
formação em gestão destinadas a dirigentes do<br />
Ministério da Saúde da República Popular de<br />
Angola (1990); ENSP, na qualidade de professor<br />
auxiliar, para o Programa de Assistência Técnica<br />
à Reabilitação do Hospital Américo Boavida, em<br />
Luanda (1991); e do Instituto Nacional de<br />
Administração e das Nações Unidas (Programa<br />
para o Desenvolvimento), com a responsabilidade<br />
da implementação de acções de formação em<br />
gestão para dirigentes do Ministério da Saúde de<br />
Angola (1992).<br />
Diversos foram também, os grupos de trabalho e<br />
as comissões a que pertenceu: Comissão de<br />
Escolha dos novos hospitais de Lisboa e Coimbra<br />
(1973-74); Comissão de Programação do Hospital<br />
Oriental de Lisboa (1974); Comissão de Reestruturação<br />
da Carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
(1976); Comissão de Informática do Ministério dos<br />
Assuntos Sociais (1978); Comissão para a Desconcentração<br />
(1980); Conselho Superior da Reforma<br />
Administrativa (1980-85); Grupo de Modernização<br />
Administrativa do Ministério da Saúde (1990);<br />
Grupo de Trabalho para a Regulamentação do<br />
Estatuto do Serviço Nacional de Saúde (1993); e<br />
da Comissão para a Qualidade e Racionalização<br />
da Administração Pública.<br />
De 1979 a 1985 Nogueira da Rocha foi representante<br />
dos Ministérios dos Assuntos Sociais e do<br />
Em prego e Segurança Social em encontros<br />
internacionais sobre informática em Segurança<br />
Social, e de 1986 a 1990 desempenhou a mesma<br />
função ao nível do Ministério da Saúde sobre<br />
arquitectura e engenharia hospitalares.<br />
Inúmeros são ainda cursos, estágios e visitas de<br />
estudo sobre temas de saúde e segurança social,<br />
quer em Portugal quer no estrangeiro (Brasil,<br />
Espanha, França, Angola, Inglaterra, Finlândia,<br />
Grécia, Luxemburgo, Holanda, Polónia, Estados<br />
Unidos, Canadá).<br />
Nogueira da Rocha é autor de algumas dezenas de<br />
artigos publicados em revistas nacionais e<br />
estrangeiras, destacando-se a autoria exclusiva<br />
de dois trabalhos académicos: "O hospital público<br />
- empresa pública", trabalho final do curso de<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong> (1971); "O hospital,<br />
estrutura, dinâmica de gestão, desenvolvimento<br />
organizacional - três propostas convergentes",<br />
tese do concurso para professor auxiliar da<br />
Escola Nacional de Saúde Pública (1985). •<br />
46 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 4 7
G~stãe><br />
Unidade de Cuidados Leves<br />
Com a publicação da Lei de Bases<br />
da Saúde, a Lei n 48/90 de 24 de<br />
Agosto, foi aberto o caminho para<br />
a introdução de alterações relativamente<br />
profundas no cenário da<br />
prestação de cuidados de saúde.<br />
' 1 uz da Lei de Bases da Saúde<br />
são expressamente definidas,<br />
como principais directrizes<br />
da política de saúde, entre<br />
outras, a garantia de igualdade dos<br />
cidadãos no acesso aos cuidados de<br />
saúde e a garantia da equidade na<br />
distribuição dos recursos, o que<br />
constitui uma emanação de princípios<br />
de natureza constitucional: o<br />
princípio da subordinação da organização<br />
.estrutural e funcional dos<br />
serviços de saúde aos interesses dos<br />
utentes; a gestão dos recursos de<br />
forma a evitar desperdícios e a<br />
utilização indevida dos serviços.<br />
Indicado o caminho com a Lei de<br />
Bases, era imperioso prosseguir com<br />
a regulamentação dos aspectos mais<br />
importantes, sendo um deles, a aprovação<br />
de um novo Estatuto do.<br />
Serviço Nacional de Saúde (SNS).<br />
A barreira estrutural e funcional que<br />
separa cuidados primários de cuidados<br />
hospitalares é abolida por, comprovadamente,<br />
se revelar<br />
"incorrecta do ponto de vista médico<br />
e geradora de disfunçõs sob o<br />
ponto de vista organizativo".<br />
Carlos Gante *<br />
Preocupações de compreensividade<br />
de cuidados, e de articulação e<br />
integração de serviços são constantes<br />
desta reforma do SNS.<br />
I<br />
E neste clima de mudança e inovação<br />
que surge o projecto da criação<br />
de uma Unidade de Cuidados Leves<br />
no Hospital Distrital da Figueira da<br />
Foz que pretende, a um tempo,<br />
contribuir para uma gestão mais<br />
racional dos recursos, aumentar o<br />
índice de adequação e apropriação<br />
dos cuidados prestados e dar um<br />
importante passo para a destruição<br />
do muro entre cuidados primários e<br />
l)ospitalares.<br />
E assumidamemte uma nova experiência<br />
de gestão e organização de<br />
cuidados, na linha do que é preconizado<br />
nas leis de gestão hospitalar de<br />
1988 e pretende-se que esta unidade,<br />
à semelhança do que é afirmado no n<br />
2 da Base II de Lei 48/90 para a<br />
política de saúde, tenha "(...) carácter<br />
evolutivo, adaptando-se permanentemente<br />
às condições da<br />
QUADRO 1 - Movimento assistencial do internamento de cirurgia,<br />
medicina e ortopedia no ano de 1990<br />
CIRURGIA MEDICINA ORTOPEDIA<br />
Lotação 33 . 34 34<br />
Doentes tratados 1202 980 704<br />
Dias de tratamento 10200 11549 10838<br />
Demora média (dias} 8,49 11,79 15,40<br />
Taxa de ocupação (%} 93, 16 95,89 87,34<br />
48 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
Gregório dos Santos **<br />
realidade( ... ), às suas necessidades e<br />
aos seus recursos".<br />
Definição, finalidades, objectivos<br />
O proj ecto de criação de uma unidade<br />
de cuidados leves no Hospital<br />
Distrital da Figueira da Foz surge da<br />
confluência de dois vectores fundamentais.<br />
O primeiro decorre da busca de<br />
soluções tendentes à obtenção de<br />
uma maior eficiência interna por<br />
efeito da aplicação, à prestação de<br />
cuidados em internamento, de um<br />
modelo do tipo "cuidados degressivos"<br />
que genericamente se caracterizará<br />
pela possibilidade de alocar,<br />
I I •<br />
apenas e so, os recursos necessar10s<br />
e suficientes a cada uma das fases do<br />
ep~sódio de internamento.<br />
O segundo vector traduz-se na possibilidade<br />
de se obterem maiores<br />
níveis de adequação na prestação<br />
de cuidados, reduzindo o risco de<br />
prestação de cuidados excessivos ou<br />
inapropriados, a fim de se alcançarem<br />
índices de qualidade elevados e<br />
altos níveis de satisfação dos cidadãos.<br />
A Unidade de Cuidados Leves (UCL)<br />
é, inequivocamente, uma unidade de<br />
internamento, embora destinada a<br />
situações clínicas com baixo grau<br />
de severidade, em fase de pré-alta. .<br />
Admite doentes provenientes dos<br />
serviços de medicina, cirurgia e<br />
ortopedia, de acordo com critérios a<br />
explicitar adiante, relativamente aos<br />
quais seja previsível terem alta<br />
clínica nos três a quatro dias posteriores<br />
à admissão na U CL.<br />
A lotação da unidade, a definir em<br />
capítulo ulterior deste trabalho, não<br />
se traduz num aumento rígido do<br />
número de camas daqueles três<br />
serviços. Ao invés, todas as camas<br />
da UCL estão ao serviço das três<br />
valências, de forma flexível e elástica,<br />
consoante a pressão da procura.<br />
Uma unidade funcional deste tipo, é<br />
também um novo espaço gestionário<br />
que reclama um modelo de gestão<br />
mais flexível, mais actuante e mais<br />
sensível a alterações ambientais.<br />
Com estas características sumariamente<br />
descritas, a UCL é algo que se<br />
situará entre o internamento clássico<br />
de agudos e o regime ambulatório.<br />
Não porque seja um "tercium genus"<br />
mas porque, num "continuum" temporal<br />
que vai da admissão à transfe-<br />
QUADRO li - Movimento assistencial do internamento de cirurgia,<br />
medicina e ortopedia no ano de 1991<br />
CIRURGIA MEDICINA ORTOPEDIA<br />
Lotação 30(a) 34 34<br />
Doentes tratados 1038 11 62 660<br />
Dias de tratamento 11052 11549 11520<br />
Demoramédia(dias) 8,45 11,79 17,45<br />
Taxa de ocupação (%) 100,93 95,89 92,83<br />
{a) O serviço dispunha de mais três camas para recobro<br />
neste projecto a criação das condições<br />
necessárias ao desenvolvimento<br />
da cirurgia ambulatória.<br />
A UCL terá um papel privilegiado na<br />
ligação do Hospital à Comunidade,<br />
trazendo o cidadão (familiar, amigo<br />
do doente) para dentro da organização<br />
e procurando inseri-lo num<br />
conceito mais vasto de equipa terapêutica<br />
norteada por critérios de<br />
recuperação e reintegração.<br />
Poder-se-á com esta unidade, e devido<br />
à sua situação estratégica, lançar<br />
as bases para uma política de trans-<br />
O que se pretende com a criação da UCL<br />
é, antes de mais, adequar o nível de<br />
cuidados às necessidades de saúde dos<br />
cidadãos, aumentar os níveis de efi ...<br />
ciência, obter ganhos em sede de<br />
organização e promover maiores índices<br />
de qualidade e satisfação<br />
rência de cuidados, passando pela<br />
alta hospitalar, a UCL reúne as<br />
condições privilegiadas, para a prestação<br />
dos cuidados de saúde em<br />
sentido amplo que preparem o cidadão<br />
para um "check out" apoiado.<br />
Em resumo, o que se pretende com a<br />
criação da UCL é, antes de mais,<br />
adequar o nível de cuidados às<br />
necessidades de saúde dos cidadãos,<br />
aumentar os níveis de eficiência,<br />
obter ganhos em sede de organização<br />
e promover maiores índices de<br />
qualidade e satisfação.<br />
Outros grandes objectivos estratégicos<br />
estão associados à U CL, tais<br />
como o aumento da capacidade de<br />
resposta do internamento programa·<br />
do e resposta diferenciada às situações<br />
que solicitam internamento de<br />
curta duração, com destaque para a<br />
cirurgia electiva que poderá ver<br />
ferência de cuidados, com verdadeira<br />
integração de serviços.<br />
Caracterização<br />
Localização<br />
Nos anos 60, foi construído um<br />
edifício, do lado sul do Mondego<br />
destinado a Sanatório Helio-Marítimo<br />
e depois a Hospital Ortopédico e<br />
de Recuperação, que esteve devoluto<br />
durante cerca de dez anos. Em 1975 o<br />
Hospital Distrital da Figueira da Foz<br />
transitou para estas instalações,<br />
desvinculando-as do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
de Coimbra, instituição a que<br />
estavam afectas.<br />
A área organizacional de internamento,<br />
embora com uma lotação<br />
oficial de 220 camas, pratica uma<br />
lotação de 187 e é constituída, no<br />
bloco central, por quatro serviços:<br />
cirurgia, ortopedia, obstetrícia e<br />
especialidades cirúrgicas, respectivarnente<br />
com 33, 34, 26 e 32 camas. O<br />
restante internamento está instalado<br />
em construção anexa de um só piso<br />
com amplos e longos corredores de<br />
acesso internos, para as especialidades<br />
de medicina e pediatria, com 34 e<br />
28 camas. Junto a estes, encontra-se<br />
um serviço de internamento temporariamente<br />
ocupado com o serviço de<br />
urgência, enquanto se processam as<br />
obras de remodelação deste serviço.<br />
I<br />
•<br />
E neste espaço que se proJecta,<br />
depois de efectuar algumas obras de<br />
adaptação, a instalação da Unidade<br />
de Cuidados Leves e provavelmente o<br />
hospital de dia de quimioterapia.<br />
No capítulo destinado aos elementos<br />
de programação falar-se-á da sua<br />
estrutura física; no entanto, importa<br />
desde já sublinhar que a UCL terá<br />
acesso directamente ao exterior.<br />
Lotação<br />
Para a definição da lotação da<br />
unidade atendeu-se a uma série de<br />
factores:<br />
Em primeiro lugar ao histórico de<br />
doentes tratados nos últimos anos ..,.<br />
QUADRO Ili - Movimento assistencial do internamento de cirurgia,<br />
· medicina e ortopedia no ano de 1992<br />
CIRURGIA MEDICINA ORTOPEDIA<br />
Lotação 33 34 34<br />
Doentes trtados 1301 1624 971<br />
Dias de tratamento 10774 11568 10017<br />
Demora média (dias) 8,28 7, 12 13,91<br />
Taxa de ocupação(%) 89,20 92,96 80,50<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 49
Gestao<br />
QUADRO IV - Doentes tratados nos internan;tentos de cirurgia, medicina e<br />
ortopedia nos primeiros semestres de 1991, 1992 e 1993<br />
CIRURGIA MEDICINA ORTOPEDIA<br />
Lotação 33<br />
1993 660<br />
1992 687<br />
1991 645<br />
-
G<br />
e<br />
s t a - o<br />
~ GDH, o doente tem alta no mesmo<br />
serviço onde foi admitido (salvaguardadas,<br />
as situações de verdadeira<br />
transferência). Apenas passa pela<br />
UCL porque é suposto que aí tenha<br />
recebido cuidados mais apropriados<br />
com os consequentes reflexos ao nível<br />
da qualidade, que a sua "transição"<br />
para a UCL, permitirá à organização<br />
obter enormes ganhos de eficiência e,<br />
tudo visto, que a capacidade de<br />
intervenção do hospital junto da<br />
população será reforçada.<br />
Modelo de financiamento<br />
De tudo quanto ficou dito pode<br />
concluir-se que o funcionamento de<br />
uma unidade com estas características<br />
terá que ser facilmente ajustável<br />
às solicitações do momento.<br />
Esta capacidade de ajustamento<br />
funcional está intimamente ligada<br />
ao modelo de gestão a adoptar o<br />
qual terá que ser concebido de<br />
acordo com a filosofia "JIT" (Just in<br />
Time).<br />
A selecção dos diversos profissionais<br />
deverá fazer-se de acordo com critérios<br />
objectivos que privilegiem não<br />
só as capacidades cognitivas(saber<br />
-saber), mas também as capacidades<br />
de execução(saber-fazer) e de relacionamento(saber-estar,<br />
saber-ser).<br />
Requer-se de toda a organização um<br />
esforço de adaptação às novas situações<br />
que uma unidade deste tipo,<br />
muito mais aberta e em permanente<br />
contacto com o exterior, inevitavelmente<br />
produzirá.<br />
Requer-se de todo o pessoal a adopção<br />
de atitudes e comportamentos<br />
que facilitem o relacionamento, agora<br />
muito mais intenso, com a envolvente<br />
familiar e social do doente. ·<br />
A par dos efeitos positivos esperados<br />
de uma unidade como a UCL, há que<br />
saber antecipar e reduzir o impacto<br />
de alguns efeitos perversos ·que irão<br />
surgir desde os perigos decorrentes<br />
da maior exposição do hospital ao<br />
exterior até fenómenos mais ou<br />
menos extensos de resistência à<br />
mudança.<br />
Em termos funcionais, é incentivada<br />
a colaboração de outras especialidades<br />
no seguimento/vigilância do<br />
doente , por solicitação da equipa/<br />
médico responsável, sem contudo pôr<br />
em causa o princípio da responsabilidade<br />
pela alta clínica que será<br />
sempre do serviço a que essa equipa<br />
ou médico pertençam.<br />
A UCL terá uma forte ligação à<br />
comunidade, será altamente permeável<br />
ao exterior e estará muito mais<br />
próxima dos cuidados em ambulatório e<br />
da saúde domiciliária e familiar do que<br />
qualquer outra unidade clássica<br />
Considerando que qualquer admissão<br />
na UCL deve ter já alta programada<br />
para o 3º ou 4º dias seguintes,<br />
qualquer intercorrência que prejudique<br />
esse calendário, determinárá o<br />
retorno à unidade inicial.<br />
O horário das visitas deverá ser o<br />
mais alargado possível, tendencialmente<br />
12 ou mais horas por dia,<br />
devendo convidar-se os familiares, e<br />
amigos do doente a participar activamente<br />
no processo de terapêutica,<br />
reabilitação e de reinserção.<br />
Esta q.uestão prende-se com outra<br />
vertente fundamental da UCL que é<br />
o ensino ao doente e aos seus<br />
familiares tendo em vista a preparação<br />
da alta e a continuidade de<br />
cuidados.<br />
Deverão ser elaborados programas<br />
de ensino teórico e prático a operacionalizar<br />
de acordo com a grelha<br />
dos horários de visitas por forma a<br />
transmitir aos cidadãos um corpo de<br />
conhecimentos que lhes permita proporcionar<br />
ao doente um acompanhamento<br />
de qualidade.<br />
Deverá investir-se na criação de um<br />
sistema de informação ao público<br />
que lhe permita conhecer e explorar<br />
todas as virtualidades da unidade.<br />
Deverá igualmente apostar-se na<br />
troca constante de informação com<br />
os vários agentes do sistema de saúde<br />
e da segurança social da zona funcional<br />
da Figueira da Foz (Centro de<br />
Saúde, médico assistente, serviços de<br />
saúde ocupacional de empresas, Centro<br />
Regional de Segurança Social, ... )<br />
numa perspectiva de verdadeira integração<br />
de cuidados.<br />
Poderão ser frutíferas experiências<br />
de desenvolvimento de sistemas telemáticas,<br />
geradores de fluxos de<br />
informação que permitam ao utente<br />
uma correcta utilização das diversas<br />
linhas de serviço, colocando-o verdadeiramente<br />
no centro do sistema.<br />
Uma primeira aposta será feita na<br />
52 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
informatização da "nota de alta".<br />
Definição de competências<br />
Não é, naturalmente, intenção dos<br />
autores proceder de forma exaustiva<br />
à definição das competências do<br />
director e do enfermeiro chefe da<br />
UCL.<br />
Em primeiro lugar porque não é esta<br />
a sede própria para um trabalho<br />
desta natureza. Em segundo lugar<br />
porque tais competências estão clara<br />
e expressamente definidas na lei.<br />
O que se pretende é, tão só, realçar<br />
alguns dos aspectos materiais do<br />
exercício de competências fundamentais<br />
para a operacionalização do<br />
modelo conceptual definido para a<br />
Unidade de Cuidados Leves.<br />
Assim, ao Director e ao Enfermeiro<br />
chefe da UCL compete, em especial:<br />
- Elaborar o plano de acção da<br />
unidade, procuran
"'4pela análise dos níveis de utilização,<br />
pela selecção e explicação e<br />
correcção pronta dos eventuais desvios<br />
aos "standards" estabelecidos.<br />
No que diz respeito à lotação, ela foi<br />
definida tendo em conta diversos<br />
factores oportunamente invocados.<br />
Todavia, caso se venha a revelar<br />
incorrecta, quer por defeito quer<br />
por excesso, poderá ser rapidamente<br />
corrigida. Tanto o modelo de gestão<br />
como a estrutura física das instalações<br />
onde a UCL se situará, permitem<br />
a rápida adopção de mecanismos<br />
de ajustamento da oferta de camas às<br />
eventuais variações da procura salvaguardadas<br />
as finalidades que a<br />
Unidade pretende atingir.<br />
A escolha da "diária de internamento"<br />
como unidade de medida de<br />
produção da UCL não é pacífica. De<br />
facto, outras hipóteses se colocaram<br />
e competiram antes de se optar. O<br />
que se pretendeu foi acima de tudo<br />
garantir a satisfação de duas condições<br />
fundamentais: escolher uma<br />
unidade de medida que não fosse<br />
conflituante com a unidade de classificação<br />
de doentes em GDH ou de<br />
algum modo subverter a lógica do<br />
seu funcionamento e, por outro lado,<br />
garantir a medição da produção<br />
intermédia na qual são consumidos<br />
recursos relativamente homogéneos.<br />
Concebida desta forma, a diária de<br />
internamento terá um valor a apurar<br />
em cada período de avaliação e será<br />
esse valor a base para se ef ectuar a<br />
ulterior imputação de custos aos<br />
serviços de origem dos doentes.<br />
Conclusão<br />
Tudo quanto se escreveu sobre a<br />
UCL, embora assente na convicção<br />
dos autores, são apena~ conceitos e<br />
opções em aberto, que a realidade,<br />
sempre mais rica que a actividade de<br />
concepção e planeamento, se há-de<br />
encarregar de mudar, de inflectir ou<br />
de confirmar. 1<br />
*, ** Administradores hospitalares<br />
do Centro de Oncologia de Coimbra<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
BEECH, r. et al. - Estimting the financial savings<br />
from maintaining the levei o{ acute services with<br />
fewer beds., "International Journal Of Health<br />
Planning and Management", vol. 5, nº2, Apr/Jun<br />
1990, PP 89-103.<br />
CAETANO, Eduardo. Elementos de Programação<br />
de Hospitais e Centros de Saúde. Lisboa, 1987.<br />
CALDEIRA DA SILVA, J.M. - Caracterização<br />
dos hospitais e cuidados hospitalares em Portugal,<br />
Separata dos "Arquivos do Instituto Nacional<br />
de,Saúde", vol. VII. Lisboa 1982.<br />
DURAN, Hernán. Planeamento da Saúde. Aspectos<br />
conceptuais e operativos. Ministério da<br />
Saúde, Departamento de Estudos e Planeamento<br />
da Saúde, Lisboa, 1989.<br />
HA WTHORNE, D.D. - Hospital-based unit<br />
improves utilization, "Hospitais", vol. 49, October<br />
1, 11975, pp.62-65.<br />
KALUZNY, A. e outros. Management of Health<br />
Services. New Jersey, Prentice Hall, 1982<br />
ROCHA, J.J.N. - O hospital em mudança,<br />
comunicação no âmbito do Ciclo de Conferências<br />
Modernizar os Meios, Humanizar a Saúde - Anos<br />
90, Guimarãaes, Novembro 1990.<br />
WILLIAMS, S.J. - Ambulatory Care: Can<br />
Hospitais Compete?, "Hospital and Health Services<br />
Administration", vol. 28, nº5, September/<br />
October 1983.<br />
He»!E5pitc.I<br />
~b.erte»<br />
Um distrito que nos últimos 1 O anos perdeu mais de 15% da sua população activa, que nos últimos 5 anos teve<br />
um decréscimo de cerca de 25% de nascimentos e onde se vendem mais caixões que berços, tem de ser<br />
repensado, sob todas as vertentes.<br />
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na análise dos problemas da gestão<br />
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onhecedores que somos do<br />
interior profundo de Trás-os-<br />
-Montes, não havendo medidas<br />
globais para toda esta<br />
região, temos a certeza de que nos<br />
próximos anos a tendência é de um<br />
maior agravamento e desertificação<br />
de algumas zonas<br />
da região.<br />
Com uma população envelhecida,<br />
onde a acessibilidade<br />
viária ainda é um<br />
tormento para algumas<br />
gentes, é necessário criar<br />
a nível de saúde e apoio<br />
social algumas estruturas<br />
próprias, nomeadamente a<br />
nível geriátrico.<br />
O sector da saúde é, sem<br />
margem para dúvidas, um<br />
dos que mais incremento<br />
Dispõe de três hospitais bem equipados,<br />
foram construídos novos centros<br />
de saúde e outros estão programa-<br />
dos.<br />
Se a nível de estruturas físicas foram<br />
Mais caixões<br />
do que<br />
berços<br />
resolvidas as necessidades básicas, o<br />
mesmo ainda se não verificou relativamente<br />
ao grave problema dos<br />
recursos humanos. As paredes não<br />
tratam doentes!<br />
I<br />
E um problema humano, que não<br />
passa só pelo sector da<br />
saúde, tendo muito mais a<br />
ver com as condições sócio<br />
-económicas de toda a região,<br />
as condições de vida,<br />
a acessibilidade aos grandes<br />
centros do· litoral, em<br />
suma, com o desenvolvimento.<br />
Com a criação das Unidades<br />
de Saúde, as boas condições<br />
físicas e técnicas<br />
que podemos oferecer aos<br />
profissionais, a conclusão<br />
da via rápida, que nos ~<br />
54 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 55
l-lospital aberto<br />
.. ligará aos grandes centros, e<br />
algum optimismo, pensamos que<br />
paulatinamente se preencherão<br />
os nossos quadros médicos.<br />
O Hospital Distrital de Mirandela<br />
foi inaugurado em 1956<br />
com uma lotação de 70 camas.<br />
Em 1972 concluiu-se uma ampliação<br />
que lotou o Hospital<br />
com 120 camas, sem que qualquer<br />
área de apoio existente<br />
tenha sido reestruturada. Hoje<br />
dispomos de 150 camas.<br />
O problema da ampliação do<br />
HDM foi discutido ao longo de<br />
duas décadas sem que houvesse<br />
qualquer resultado.<br />
Apresentou o actual Conselho<br />
de Administração em 1989 um<br />
projecto de ampliação que mereceu<br />
aprovação ministerial,<br />
tendo iniciado em Outubro de<br />
1990 a 1 ª fase das obras, concluídas<br />
e inauguradas em Julho<br />
de 1993.<br />
Tal ampliação e equipamento orçou<br />
em 800 mil contos. Obra moderna e<br />
excelentemente equipada, dotou o<br />
Hospital dos seguintes sectores:<br />
uma ala de Consulta Externa, com 10<br />
gabinetes e respectivos apoios; um<br />
novo Laboratório de Análises Clínicas,<br />
com óptimas instalações e excelente<br />
equipamento; um novo Serviço<br />
de Imagiologia, com excelente equipamento<br />
convencional e ecográfico;<br />
uma urgência com todos os requisitos,<br />
a todos os níveis, nomeadamente<br />
Consulta externa<br />
,,...va,,...1e....,.n_c..,.-ia_s -------:-:----':-=-=------==-=--<br />
Medicina<br />
Cardiologia<br />
Cirurgia<br />
Obstetrícia<br />
Ginecologia<br />
Neurologia<br />
Oftalmologia<br />
Otorrinolaringologia<br />
Pediatria<br />
Urõlogia<br />
TOTAL<br />
1991 ~992 1993<br />
1500 1334 776<br />
215 247<br />
4045 3370 3786<br />
958 631 607<br />
1410 921 809<br />
179<br />
3062 3200 3102<br />
1140 1999 1359<br />
494 315 382<br />
1409 735 433<br />
14018 12720 11680<br />
Internamento<br />
.~tli.MJfül~(~]irii:;jj:i~Jl~,lil!lill<br />
1991 1992 1993<br />
Lotação 156 142 142<br />
Doentes tratados 4732 4390 4298<br />
Dias de internamento 31115 30285 31028<br />
Demora média 6, 70 6,97 7,35<br />
Taxa de ocupação 55,23 58,27 59,86<br />
equipamento de emergência em Bloco<br />
Operatório próprio; um bloco<br />
autónomo de partos com quatro<br />
salas de dilatação e duas de expulsão,<br />
preparadas para cirurgia obstétrica<br />
e ginecológica; um bloco médico/cirúrgico<br />
central com 3 suites<br />
operatórias, equipamento de ponta e<br />
todos os apoios, nomeadamente uma<br />
sala de recobro com quatro camas;<br />
uma esterilização central moderna e<br />
funcional.<br />
Toda a ampliação ficou dotada de<br />
56 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
sistema de ar condicionado .<br />
Para apoio do Hospital foi construída<br />
uma central técnica com<br />
quatro centrais: hidropressora,<br />
- . ..<br />
gases, cogeraçao e mcmeraçao<br />
-<br />
e oficinas.<br />
O velho edifício foi remodelado<br />
no seu exterior, estando já o<br />
projecto da remodelação interior<br />
elaborado, prevendo-se o<br />
início das obras para Novembro.<br />
Irá dispor de enfermarias de<br />
duas e três camas mantendo<br />
sensivelmente a mesma lotação.<br />
Um hospital pensado fundamentalmente<br />
para a vertente de<br />
ambulatório, com poder de resposta<br />
em tempo útil e de dimensão<br />
realista, com atendimento<br />
personalizado e humanizado.<br />
Com as estruturas e tecnologia<br />
de que dispõe e resolvido a curto<br />
prazo o problema médico, conseguir-se-á<br />
uma unidade de excelência.<br />
Após publicação da nova legislação<br />
de saúde, com a regionalização e a<br />
criação das novas unidades funcionais,<br />
mercê da experiência adquirida<br />
com o nosso plano integrado,· foi<br />
escolhido este hospital para experiência<br />
piloto na criação de uma<br />
Unidade de Saúde composta pelos<br />
Hospitais de Mirandela e Macedo de<br />
Cavaleiros, especializado em Ortotraumatologia<br />
e Fisiatria, e por sete<br />
Centros de Saúde, que garantirá a<br />
cobertura de toda a zona sul do<br />
distrito, com cerca de 86 mil<br />
habitantes.<br />
O Hospital de Mirandela dispõe<br />
do serviço de 14 especialidades<br />
médicas: anestesiologia,<br />
cjrurgia, ginecologia,<br />
imagiologia, medicina, neonatologia,<br />
obstetrícia, oftalmologia,<br />
otorrinolaringologia,<br />
pediatria, patologia clínica,<br />
urologia, neurologia e cardiologia.<br />
Estas últimas três especialidades<br />
fazem apenas consulta<br />
externa. Além do internamento<br />
faz-se a cobertura de 24<br />
horas no Serviço de Urgência.<br />
A nível de especialidades,<br />
anestesiologia, cirurgia e medicina,<br />
funcionam 24 horas em<br />
presença física, mantendo prevenção,<br />
como as outras especialidades,<br />
até às 8 horas.<br />
Em primeira linha, a equipa de<br />
urgência está já integrada com<br />
clínicos gerais, dando cumprimento<br />
às novas directrizes ministeriais.<br />
Mercê da sua localização, é o Serviço<br />
de Urgência com maior movimento<br />
do distrito. Cerca de 33 mil<br />
utentes/ano.<br />
O quadro de pessoal encontra-se<br />
relativamente bem dimensionado,<br />
estando com grandes dificuldades<br />
apenas no preenchimento do quadro<br />
médico. Neste grupo profissional<br />
64 % dos lugares estão por preencher.<br />
A produtividade, mercê dos melhoramentos<br />
incrementados, como hospital<br />
vocacionado para o ambulatório,<br />
aumentou significativamente, como<br />
se observa nos quadros. Foram feitos<br />
vários acordos de colaboração com a<br />
Sub-Região de Saúde, para a qual<br />
fornecemos grande parte da nossa<br />
produção.<br />
Com a criação da Unidade de Saúde<br />
e o melhoramento da interligação<br />
funcional estamos aptos, porque nos<br />
preparamos, a prestar um serviço<br />
eficaz e eficiente.<br />
A nível cirúrgico e nas especialidades<br />
de que dispomos, ou não existem<br />
listas de· espera ou são pouco significativas.<br />
Quanto ao internamento, a procura<br />
tem-se mantido estável ao longo dos<br />
RECURSOS HUMANOS EXISTENTES<br />
Bragança 25<br />
Mirandela 16<br />
Macedo de<br />
Cavaleiros 6<br />
TOTAL 47<br />
% lugares<br />
vagos<br />
em quadro 64<br />
anos pelo que o número de camas,<br />
cerca de 150, é razoável a mé.dio<br />
prazo.<br />
Como referimos, remodelar-se-á este<br />
sector, criando apenas as condições ·<br />
necessárias, sem qualquer aumento<br />
de camas.<br />
Como se observa no quadro, os<br />
índices dg produtividade, para um<br />
hospital desta dimensão são bons. ·<br />
O financiamento hospitalar constitui<br />
uma das nossas principais preocupações.<br />
Os actuais subsídios estatais de<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 57<br />
Médicos Enferm. Administ. Técnicos Auxiliares<br />
147 40 27 151<br />
89 26 26 76<br />
47 9 8 22<br />
283 75 61 249<br />
10 24 31 18<br />
exploração têm exigido um enorme<br />
esforço a todas as instituições e<br />
criado os problemas por demais<br />
. conhecidos.<br />
É de referir que, apesar de a instituição<br />
ter aumentado siginificativamente,<br />
não obteve qualquer reforço<br />
financeiro.<br />
Uma coisa, porém, poderá garantir<br />
-se: não será por falta de verbas que<br />
deixará de se apostar na qualidade e<br />
no aumento da produtividade.<br />
As instituições são o que os seus<br />
profissionais querem que sejam. •
evistà "Health Affairs"<br />
e o Centro de Estudos<br />
de Política Interna da<br />
Escola para os Assuntos<br />
Públicos e Internacionais da<br />
Universidade de Princeton,<br />
promoveram nos últimos dias<br />
de Outubro de 1993 um<br />
workshop para discussão do<br />
plano de saúde do Presidente<br />
Clinton.<br />
Estiveram em confronto os<br />
defensores do Plano, designadamente<br />
através de um conjunto<br />
de especialistas em saúde da<br />
própria Administração Clinton,<br />
e os seus críticos mais<br />
proeminentes, através de um<br />
grupo, especialmente convidado,<br />
de peritos em economia da<br />
saúde.<br />
Um painel de gestores de serviços<br />
de saúde, com a sua visão<br />
predominantemente prática e 75<br />
personalidades da vida política<br />
norte-americana, representando<br />
um justo equilíbrio das forças em<br />
presença no Congresso, ou pertencentes<br />
a organismos governamentais<br />
directamente envolvidos na<br />
reforma da saúde, completaram o<br />
elenco de participantes.<br />
Os resultados dessa iniciativa foram<br />
posteriormente compilados<br />
numa edição especial da "Health<br />
Affairs" e é essa a proposta de<br />
LEITURAS neste número da G ES-<br />
. TÃO HOSPITALAR.<br />
Trata-se, de facto, de uma reunião<br />
de documentos e apontamentos de<br />
raro valor académico, político e<br />
operacional, que para além de<br />
ilustrar diferentes opm10es, apresenta<br />
ainda duas carecterísticas<br />
singulares:<br />
- Aborda de forma aprofundada<br />
diversos aspectos do Plano de<br />
Saúde da Administração Clinton,<br />
desde os de natureza política,<br />
percorrendo desenvolvidamente as<br />
questões económicas, a perspectiva<br />
da indústria e das seguradoras, os<br />
aspectos específicos da saúde men-<br />
---l-1iJl.J.,-"'.w.;....a-~~~~ n tação de um<br />
ES ca.s~ i~vél> Ed dados sobre a<br />
' .. ~in iãomd .&onsu idores, a situação<br />
econom1ca os seguros de<br />
saúde e os níveis e cobertura dos<br />
trabalhadores por seguros da responsabilidade<br />
dos · mpregadores;<br />
rJ).<br />
... ·;:r:: Hí/laryRo&wmClinwn<br />
•<br />
-~ "'""---·~"-·""""<br />
9 The Rationale bclünd d>oClimon H..lth R•funn Plan<br />
\~ã!ter A. Ze!m.Jn<br />
. . ~ .<br />
192 Mental Hoalrh •nd Subsome..: Abu.e Covecng<<br />
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McGrdTe, and Shannan Sfms •<br />
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