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entrega que raramente vem<strong>os</strong> no público da Broadway. Suspeito que aquelas mulheres balançariam a cabeça se<br />

alguém viesse lhes dizer que Shakespeare não tem mais importância. Ele tem importância, e por isso suas obras<br />

são lidas em salas de aula pelo mun<strong>do</strong>. Mas também é importante o mo<strong>do</strong> como lecionam<strong>os</strong>. No ensino médio,<br />

eu odiava Shakespeare. A credito que ele sé é plenamente compreendi<strong>do</strong> pela representação. Se aquela<br />

professora tivesse alguma vez p<strong>os</strong>to seus alun<strong>os</strong> para ensaiar algumas cenas das peças, duvi<strong>do</strong> que ela<br />

escrevesse aquela carta.<br />

ALMANAQUE LITERÁRIO<br />

Autores mais respeitáveis – e o exemplo mais célebre é o russo Leon Tolstoi – já levantaram objeções à<br />

moralidade da obra de Shakespeare. Por quê?<br />

Tolstoi tinha inveja de Shakespeare, e o mesmo vale para George Bernard Shaw. Não tenho paciência com esse<br />

desprezo romântico por Shakespeare, com base em sua moral. O que interessa é a visão profunda que ele n<strong>os</strong><br />

oferece de ambição, ciúme, racismo, nacionalismo, desejo, amor, ódio. Passad<strong>os</strong> quatro sécul<strong>os</strong>, essa visão<br />

ainda ressoa com poder e verdade entre leitores e especta<strong>do</strong>res.<br />

Qual é o grande debate, hoje, entre <strong>os</strong> especialistas em Shakespeare?<br />

É a discussão que divide, de um la<strong>do</strong>, aqueles que afirmam que Shakespeare escrevia para o teatro, e, <strong>do</strong> outro,<br />

aqueles que dizem que ele escrevi para a página, para ser li<strong>do</strong>. Eu estou com o primeiro grupo. Quan<strong>do</strong><br />

Shakespeare morreu, em 1616 metade de suas peças ainda não havia si<strong>do</strong> publicada. Se não f<strong>os</strong>se pela<br />

dedicação de seus colegas atores, que em 1623 publicaram um volume pioneiro <strong>do</strong> teatro de Shakespeare – o<br />

chama<strong>do</strong> PRIMEIRO FÓLIO –, uma dúzia ou mais de suas peças não teria sobrevivi<strong>do</strong>.<br />

Estudi<strong>os</strong><strong>os</strong> como o senhor c<strong>os</strong>tumam desmentir a ideia de que se sabe pouco sobre Shakespeare. Mas<br />

<strong>os</strong> <strong>do</strong>cument<strong>os</strong> existentes n<strong>os</strong> permitem dizer algo sobre o homem – sua sexualidade, seus g<strong>os</strong>t<strong>os</strong>, sua<br />

personalidade?<br />

Sabem<strong>os</strong> muito sobre Shakespeare, bem mais <strong>do</strong> que sabem<strong>os</strong> sobre qualquer outro personagem de seu tempo<br />

e de sua classe social. Mas não sabem<strong>os</strong> das fofocas pelas quais tem<strong>os</strong> curi<strong>os</strong>idade: quais eram suas crenças<br />

religi<strong>os</strong>as e políticas? Com quem ele <strong>do</strong>rmiu? Que tipo de amigo, mari<strong>do</strong> e pai ele foi? Nunca tive muito interesse<br />

em especular sobre isso O que interessa são as peças.<br />

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