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044001 TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO LEON MORRIS ED VIDA NOVA

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Então, por que Lucas decidiu incluir essas passagens, tão incomuns no modo como se<br />

referem ã crucificação, e com um peso de significado tão grande para quem conhecia a maneira<br />

judaica de pensar? Parece que ele queria transmitir a idéia de que Jesus tomou sobre si a<br />

nossa maldição.28 Paulo faz só uma referência à maldição (G13.13), e Pedro também se refere<br />

uma vez ao madeiro (IPe 2.24). Essa maneira de ver a cruz restringe-se no Novo Testamento<br />

a essas três passagens em Atos e a Gálatas e IPedro. O fato de Cristo ter levado sobre si a<br />

nossa maldição não é uma idéia repisada no ensino do Novo Testamento, mas uma maneira<br />

de Lucas olhar a cruz, maneira essa que ele usa mais do que qualquer outro.<br />

Às vezes os teólogos destacam que Lucas não registra o equivalente a Marcos 10.45<br />

— a constatação de que Jesus veio para dar sua vida em resgate de muitos — e que, em seu<br />

longo texto, ele não desenvolve uma teoria própria da expiação. Por isso, afirma-se que<br />

Lucas está interessado nos sofrimentos de Jesus, não como expiação mas como caminho<br />

para a glória. Jesus foi muito maltratado pelos homens, mas suportou seus sofrimentos<br />

com paciência e entrou na glória. Assim, Conzelmann pensa que, em Lucas, “não se extrai<br />

uma importância soteriológica direta do sofrimento ou da morte de Jesus”.29 Alguns estudiosos<br />

concluem que Lucas era um cristão típico do início da igreja: com profunda gratidão<br />

a Deus por ter enviado Jesus, mas sem uma idéia clara de que a morte dejesus trouxe a salvação.<br />

Essa idéia, dizem, é resultado do trabalho de pensadores como Paulo.<br />

Podemos concordar que Lucas não tinha a perspicácia teológica de Paulo, Mas<br />

:quem a tem? Isso não é motivo para descartar as conclusões que Lucas tira. E verdade que<br />

os estudiosos da expiação sempre passarão mais tempo com Paulo do que com Lucas, mas<br />

isso não quer dizer que devem desprezar Lucas. Afinal de contas, ele diz explicitamente<br />

que o corpo dejesus foi dado por nós, que o cálice na última ceia foi a nova aliança no seu<br />

sangue derramado por nós e que devemos recordar tudo isso na celebração da ceia. Ele diz<br />

que a morte de Cristo comprou os pecadores, que a profecia de Isaías 53 com seu sofrimento<br />

vicário foi cumprida e que Cristo levou sobre si a maldição de Deus.<br />

Por que ele dá tanto destaque aos sofrimentos e à morte dejesus? Provavelmente ele<br />

não lhes atribui outro sentido que não o soteriológico. Ele não diz que Jesus foi um mártir,<br />

por exemplo. Quando ele faz várias declarações sobre o sentido da morte de Cristo e dedica<br />

tanto espaço para mostrar isso, podemos aceitar muito bem que, para ele, assim como para<br />

outros escritores do Novo Testamento, o Calvário foi mais do que a rejeição de um<br />

homem bom e religioso. Foi a maneira escolhida por Deus para proporcionar salvação aos<br />

pecadores.<br />

Cf. Marshall: "Podemos nos perguntar se há aqui um indício da idéia, desenvolvida por Paulo, de que se<br />

pensava que alguém que assim morresse estava sob a maldição de Deus” (The Acts o f the Apostles. Leicester,<br />

1980, p. 120). Neil, no entanto, não tem dúvidas, mas fala sobre Cristo ter sido pendurado em uma árvore:<br />

"Isto o fez maldito segundo a lei” (The Acts o f the Apostles, p. 97).<br />

The theology o f st Luke, p. 201.

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