044001 TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO LEON MORRIS ED VIDA NOVA

“esperança de Israel” é o tema de Lucas até o fim (At 28.20). Mas quando os judeus como
um todo não o aceitaram, isso não significou que o plano de Deus havia sido frustrado. Sig-
nificou que a extensão desse plano aos gentios ficou evidente. Lucas expressa esse pensamento
no relato do discurso de Paulo na sinagoga em Antioquia da Pisídia (o primeiro
sermão de Paulo que ele registra). Paulo diz que “cumpria" que os pregadores falassem a
“palavra de Deus” primeiro aos judeus. Mas quando estes a rejeitaram, os pregadores se
voltaram para os gentios (At 13.46-47).
O que importa é que a vinda de Jesus significa a chegada de uma nova época. Ele não
veio para consertar um judaísmo desgastado aplicando-lhe um remendo novo.8 Seu vinho
novo não podia ser contido pelos odres velhos do judaísmo convencional (5.36-37). Ele
estava ensinando algo radicalmente novo, e não entenderemos Jesus (ou Lucas) enquanto
não virmos isso. Ele reconhece que nem todos ficarão felizes com o que se está fazendo.
Sempre haverá aqueles que dirão: “O velho é excelente” (5.39) e se recusarão até a experi-
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mentar o novo.
Lucas dá muito destaque à importância de uma mudança radical em todo o modo
de viver. Logo no começo do seu evangelho ele relata que um anjo anunciou que a obra de
João Batista seria “converter o coração dos pais aos filhos” (1.17). Os pais podem ser os
grandes patriarcas de antigamente, e o anjo pode estar dizendo que a conduta dos contemporâneos
de Zacarias desagrada aos patriarcas. João Batista os conclama a viver de modo
diferente, para que se tornem aceitáveis aos patriarcas. Desse modo, ele converteria o coração
desses eminentes personagens, para que então aceitassem seus descendentes. Ou ele
pode estar pensando nas famílias da sua época, divididas pelo mal que fazem. Quando
forem convencidas a fazer o que é correto, haverá harmonia entre pais e filhos. IndepetV-
dentemente de como interpretemos essa passagem, há uma convocação para uma mudança
total de conduta, refletida nas palavras: “habilitar para o Senhor um povo preparado”
(1.17). Assim como estava, o povo não estava preparado para o Senhor. Habilitá-lo exigia
uma mudança muito grande.
Mateus e Marcos têm essa frase desta forma: “Ninguém põe remendo de pano novo em veste velha",
sendo que a ênfase está na resistência maior do remendo; ele se rasga do pano velho, deixando um buraco maior.
Lucas está dizendo: “Remendar uma roupa velha com um pedaço rasgado de uma roupa nova equivale a
estragar ambas, a nova porque é rasgada e a velha porque receb e um remendo inadequado” (Leon Morris, Ths
Gospel accoràmg to st. Luke. London, 1974, p. 121). E evidente que a idéia do remendo foi usada mais de urru
vez, com força diferente em cada ocasião. Certamente há força no modo como Jesus o coloca, em Mateus e
Marcos. Em Lucas, porém, a idéia é que ele não combina com o velho.
Alguns manuscritos têm: “O velho é melhor", mas o texto correto é: “O velho é bom". Jesus não está tilando
de pessoas que comparam os dois caminhos e se decidem pelo velho, mas daquelas apegadas a seus hábitos
antigos e que nem mesmo levam em consideração o novo. Elas não saem do lugar.