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CENTENÁRIO
CENTENÁRIO<br />
MANOEL DE<br />
BARROS<br />
2017/2018<br />
ORGANIZAÇÃO e CURADORIA<br />
Ruth Albernaz<br />
Aclyse Mattos<br />
Imara Quadros<br />
José Serafim Bertoloto<br />
Gervane <strong>de</strong> Paula
“Venho <strong>de</strong> um Cuiabá e <strong>de</strong> ruelas entortadas. Meu pai teve<br />
uma venda <strong>de</strong> bananas no Beco da Marinha, on<strong>de</strong> nasci.<br />
Me criei no Pantanal <strong>de</strong> Corumbá, entre bichos do chão,<br />
pessoas humil<strong>de</strong>s, aves, árvores e rios. Aprecio viver em<br />
lugares <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes por gosto <strong>de</strong> estar entre as pedras e<br />
lagartos. Fazer o <strong>de</strong>sprezível ser prezado é coisa que me<br />
apraz. Já publiquei 10 livros <strong>de</strong> poesia; ao publicá-los me<br />
sinto como que <strong>de</strong>sonrado e fujo para o Pantanal on<strong>de</strong><br />
sou abençoado a garças. Me procurei a vida inteira e não<br />
me achei – pelo que fui salvo. Descobri que todos os<br />
caminhos levam à ignorância. Não fui para a sarjeta<br />
porque her<strong>de</strong>i uma fazenda <strong>de</strong> gado. Os bois me recriam.<br />
Agora eu sou tão ocaso! Estou na categoria <strong>de</strong> sofrer do<br />
moral, porque só faço coisas inúteis. No meu morrer tem<br />
uma dor <strong>de</strong> árvore. “<br />
Auto-retrato falado<br />
<strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>
Foto cedida por Vera Campos, afilhada <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>
TRAVESSURAS ENCANTADAS DE MANOEL DE BARROS<br />
NO SEU LINDO E UNIVERSAL QUINTAL DE PALAVRAS<br />
Fernando Ta<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Miranda Borges 1<br />
No dia 13 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2014 o criador <strong>de</strong> um quintal <strong>de</strong><br />
palavras maior do que o mundo silenciou e o céu cuiabano<br />
<strong>de</strong>bulhou em lágrimas. Nessa data faleceu em Campo Gran<strong>de</strong>,<br />
Mato Grosso do Sul, o poeta sul-americano, nascido no Beco<br />
da Marinha, em Cuiabá, Mato Grosso, <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>,<br />
imortalizado pelas suas maravilhosas travessuras com as<br />
palavras. Poeta <strong>de</strong> muitos lugares (Cuiabá, Corumbá, Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, Campo Gran<strong>de</strong>), cantou a natureza, o chão, os<br />
animais e as insignificâncias significantes do seu quintal em<br />
meio a belas tempesta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ventos e trovões. <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Barros</strong> refletiu sobre a vida, as inquietu<strong>de</strong>s infinitas da<br />
existência, a presença do nada, o silêncio das pedras, o<br />
segredo das árvores e os modos dos passarinhos na<br />
fotografia do tempo com tempo no mundo do tempo sem<br />
tempo. E nessas travessuras encantadas as árvores foram<br />
escutadas, o silêncio fotografado pela poesia e os passarinhos<br />
adoçaram o in<strong>de</strong>cifrável vazio da vida. Que as borboletas <strong>de</strong><br />
<strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong> possam continuar dando cores aos quintais,<br />
propiciem novas travessuras e novas invenções, e alarguem<br />
<strong>de</strong> palavras o silêncio movimentado e tumultuado do mundo!<br />
1<br />
Pró-Reitor <strong>de</strong> Cultura, Extensão e Vivência<br />
da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso<br />
Fotografia cedida por Vera Campos,<br />
afilhada do <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>
NO QUINTAL DE MANOEL<br />
Aclyse Mattos 1<br />
A Exposição <strong>Centenário</strong> <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong> é literalmente<br />
um sonho. Um sonho <strong>de</strong> artistas, poetas, estudantes e<br />
apaixonados pela originalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse cuiabano que expandiu<br />
as possibilida<strong>de</strong>s da poesia ao incorporar o silêncio, a sintaxe<br />
inusitada e o olhar para as coisas pequenas que tanto<br />
significam. Parece um paradoxo que em tempos <strong>de</strong> ritmo<br />
frenético, <strong>de</strong> acelerada mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, tecnologia e<br />
maquinário, o poeta <strong>Manoel</strong> alcance tamanha<br />
comunicabilida<strong>de</strong> através da natureza, da simplicida<strong>de</strong>, do<br />
vagar lento como as águas pantaneiras. Parece um<br />
paradoxo, mas é figura <strong>de</strong> poesia. Algo em cada um <strong>de</strong> nós<br />
permanece com o olhar curioso, criativo e alumbrado da<br />
criança que fomos. Um olhar que alimenta o imaginário. Esse<br />
olhar próximo, íntimo, que sabe que não sabe e talvez por isso<br />
se encante. De certo modo Cuiabá é uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> poetas.<br />
O Pantanal é um espaço <strong>de</strong> poesia. A distância em que nos<br />
encontramos do eixo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r nos carrega a todos daquele<br />
olhar que viaja até a linha do horizonte sonhando<br />
possibilida<strong>de</strong>s que escapam como o sol poente, para logo se<br />
voltar para os cajus e formigas do quintal, o colorido dos lírios<br />
e o voo azul dos sanhaços. “Para encontrar o azul eu uso<br />
pássaros” disse <strong>Manoel</strong>.<br />
Fugidia é a poesia. Mesmo que o poema tente segurar o<br />
tempo.<br />
Ele sempre voa. Como os pássaros no azul <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong>.<br />
1<br />
Poeta, escritor, professor, pesquisador, sonhador, cuiabano.<br />
Livros: Quem muito olha a lua fica louco; Festa;<br />
Natal Tropical; O Sexofonista; Assalto a mão amada.
PARA ENCONTRAR O AZUL EU USO PÁSSAROS<br />
Tributo ao <strong>Centenário</strong> <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong><br />
Ruth Albernaz¹<br />
Imara Pizzato Quadros²<br />
José Serafim Bertoloto³<br />
Gervane <strong>de</strong> Paula⁴<br />
Deus disse: Vou ajeitar a você um dom.<br />
Vou pertencer você para uma árvore. E pertenceu-me.<br />
Escuto o perfume dos rios.<br />
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.<br />
Sei botar cílio nos silêncios.<br />
Para encontrar o azul eu uso pássaros.<br />
Só não <strong>de</strong>sejo cair em sensatez. Não quero a boa razão das coisas.<br />
Quero o feitiço das palavras.<br />
(<strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>) 5<br />
<strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong> é um dos gran<strong>de</strong>s nomes da poesia<br />
mato-grossense. É a partir <strong>de</strong>sse legado que temos a honra e<br />
o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> oferecer uma homenagem em seu centenário. O<br />
poeta é cuiabano e possui raízes em Nossa Senhora do<br />
Livramento-MT. Ele revelou:<br />
O que escrevo resulta <strong>de</strong> meus armazenamentos ancestrais e <strong>de</strong><br />
meus envolvimentos com a vida. Sou filho e neto <strong>de</strong> bugres, andarejos<br />
e portugueses melancólicos. Minha infância levei com árvores e bichos<br />
do chão. Penso que a leitura e a frequentação das artes <strong>de</strong>sabrocha a<br />
imaginação para um mundo mais puro. Acho que uma inocência<br />
infantil nas palavras é salutar diante do mundo tão tecnocrata e<br />
impuro. Acho mais pura a palavra do poeta que é sempre inocente e<br />
pobre. 6<br />
A concepção <strong>de</strong>ste trabalho se <strong>de</strong>senha com a realização <strong>de</strong><br />
uma exposição coletiva intitulada “Para encontrar o azul eu<br />
uso pássaros”, a partir da perspectiva <strong>de</strong> 32 artistas<br />
convidados a produzirem obras inspiradas em poemas <strong>de</strong><br />
<strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>. As linguagens escolhidas para compor o<br />
conjunto dialógico da exposição foram: pintura sobre papel,<br />
sobre tela, escultura, instalação, fotografia, xilogravura,<br />
vi<strong>de</strong>oinstalação, intervenção, música e poesia.<br />
.
Os artistas convidados são: Aclyse Mattos, Adir Sodré,<br />
Benedito Nunes, Carlos Lopes, Cristina Campos, Dalva <strong>de</strong><br />
<strong>Barros</strong>, Eduardo Mahon, Gervane <strong>de</strong> Paula, Gonçalo Arruda,<br />
Hel<strong>de</strong>r Faria, Ivens Scaff, Lúcia Picanço, Lucinda Persona, Luiz<br />
Carlos Ribeiro, Luiz Renato, Marcelo Velasco, Márcia Bomfim,<br />
Márcio Aurélio, Marília Beatriz, Nilson Pimenta, Otília Teófilo,<br />
Reinaldo Mota, Rodolfo Carli, Rogério Andra<strong>de</strong>, Rosylene<br />
Pinto, Ruth Albernaaz, Valques Rodrigues, Vera Capilé, Vitória<br />
Basaia, Wan<strong>de</strong>r Mello, Yael Costa, Zeilton Mattos; e outros<br />
participantes no período expositivo, com saraus e oficinas.<br />
Com essa exposição, vislumbramos: celebrar o centenário do<br />
poeta <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>; fortalecer a cultura mato-grossense;<br />
aproximar o público apreciador <strong>de</strong> uma visão integrada que<br />
associa as artes visuais com a poesia; fomentar o tema <strong>de</strong><br />
forma transversal (pluralida<strong>de</strong> cultural, ambiente e temas<br />
locais) no ensino <strong>de</strong> Arte, Literatura e História <strong>de</strong> Mato Grosso<br />
em instituições <strong>de</strong> ensino, inclusive na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />
<strong>de</strong> Mato Grosso; propiciar o encontro <strong>de</strong> um coletivo <strong>de</strong><br />
artistas para criar e difundir a poesia <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>.<br />
A exposição “Para encontrar o azul eu uso pássaros”<br />
oportuniza ao público apreciador um contato singular com a<br />
obra <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong> e com este coletivo expressivo <strong>de</strong><br />
artistas do nosso Estado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os já consagrados até os<br />
jovens em formação.<br />
Desejamos a todos uma boa apreciação!<br />
1 Doutora em Biodiversida<strong>de</strong>, pesquisadora em Cultura e Etnoecologia, artista visual e curadora da exposição.<br />
2 Professora Doutora em Educação, curadora, docente e pesquisadora em Arte.<br />
3 Professor Doutor em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, crítico e curador <strong>de</strong> Arte.<br />
4 Artista visual e curador in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
5 BARROS, <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong>. Retrato do artista quando coisa. In: <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010, p. 369-370)<br />
6 BARROS, <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong>. O poeta. Disponível em: . Acesso em: 20 jul. 2016
MANOEL DE BARROS: O DEMIURGO DAS TERRAS ENCHARCADAS<br />
Cristina Campos 1<br />
O poeta cuiabano <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong> nasceu no bairro do<br />
Porto, em 19.12.1916. Mudou-se com a família para o pantanal<br />
<strong>de</strong> Corumbá-MT ainda bebê, on<strong>de</strong> cresceu brincando num<br />
terreiro <strong>de</strong>fronte a um acampamento, entre currais e coisas<br />
<strong>de</strong>simportantes que marcaram fundo sua obra. Aos oito anos,<br />
foi estudar em regime <strong>de</strong> internato, em Campo Gran<strong>de</strong>-MS e<br />
<strong>de</strong>pois no Rio <strong>de</strong> Janeiro-RJ, on<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>u latim, francês e<br />
adquiriu gosto por Literatura. Ainda lá, graduou-se em Direito,<br />
conheceu artistas e escritores – um mundo novo <strong>de</strong><br />
referências se lhe <strong>de</strong>scortinou. Nos anos 1960, herdou uma<br />
fazenda <strong>de</strong> gado no Pantanal, lutou para equilibrar finanças<br />
e, finalmente, <strong>de</strong>dicou-se integralmente à produção literária.<br />
Permaneceu no anonimato até a década <strong>de</strong> 1980, quando o<br />
sucesso chegou. Faleceu no dia 13.11.2014, em Campo<br />
Gran<strong>de</strong>-MS.<br />
A poética barreana fixa-se nas coisas do chão pantaneiro da<br />
infância – pedras, bichos, ciscos, árvores – e em elementos<br />
que a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong>scarta. Seus tipos humanos<br />
preferidos são vagabundos, andarilhos, ciganos, que<br />
gradativamente se aproximam <strong>de</strong> seres lendários, como o<br />
Lobisomem e o Pé <strong>de</strong> Garrafa. Sua temática explora<br />
principalmente uma autobiografia<br />
inventada e a metalinguagem, valorizando o “criançamento<br />
das palavras”. A obra manoelina provoca-nos a olhar para o<br />
chão <strong>de</strong> nossa terra <strong>de</strong> modo criativo, afinal barros são<br />
maleáveis e vocacionados a adquirirem novas formas,<br />
estimulando-nos (todos) a ver o mundo com os olhos livres.<br />
1<br />
Pesquisadora e escritora<br />
ocupa a Ca<strong>de</strong>ira 16 na Aca<strong>de</strong>mia Mato-grossense <strong>de</strong> Letras
Artistas participantes e<br />
fragmentos <strong>de</strong>
Estátua <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> no Porto<br />
<strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong><br />
<strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> bronze<br />
Passam os carros<br />
Olham <strong>de</strong> longe<br />
Tocam as gentes<br />
Andam <strong>de</strong> perto<br />
<strong>Manoel</strong> por certo<br />
Volta ao seu bairro<br />
Canta assim quieto<br />
Canto é uma praça<br />
Mundo é o quintal<br />
Jus ao poeta:<br />
<strong>Barros</strong>, <strong>Manoel</strong><br />
Busto <strong>de</strong> versos<br />
Pedra <strong>de</strong> céu<br />
Aclyse Mattos<br />
Cuiabá, 01 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2016<br />
(<strong>Centenário</strong> <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> - Estátua para passarinhos)<br />
Aclyse Mattos
Adir Sodré<br />
Performance e instalação/ Materiais diversos/ dimensões variáveis 2017
“Invento para me conhecer”<br />
Menino do Mato. In: Poesia Completa pag. 457. São Paulo: Editora Leya, 2013.<br />
Sem título<br />
142 x 142 cm<br />
Benedito Óleo sobre Nunes tela<br />
Contemplação / Pintura-objeto com Materiais diversos / Dimensões variaveis / 2017
Queria que os passarinhos do lugar escolhessem minhas margens para pousar.<br />
E escolhessem minhas árvores para cantar.<br />
Eu queria apren<strong>de</strong>r a harmonia dos gorjeios.<br />
Menino do Mato. In: Poesia Completaz pag. 30. São Paulo: Editora Leya, 2013<br />
Carlos Lopes<br />
Sem título / Óleo sobre tela / 142 x 142 / 2016
Um olhar transpassado <strong>de</strong> azul:<br />
– <strong>de</strong>sentorta o espírito;<br />
– bota gorjeio em bico <strong>de</strong> sanhaço;<br />
– locupleta-se <strong>de</strong> infinitu<strong>de</strong>.<br />
Cristina Campos
...que a importância <strong>de</strong> uma coisa não se me<strong>de</strong> com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a<br />
importância <strong>de</strong> uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.<br />
“Sobre importâncias”, no livro “Memórias inventadas – as infâncias”. São Paulo: Planeta, 2010<br />
Dalva <strong>de</strong> <strong>Barros</strong><br />
Retrato <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong> (<strong>de</strong>talhe da obra) / Óleo sobre tela / 40 x 50 cm / 2017
gota que canta<br />
vira chuva<br />
o choro não:<br />
é água muda<br />
Eduardo Mahon
Queria que os passarinhos do lugar escolhessem minhas margens para pousar.<br />
E escolhessem minhas árvores para cantar.<br />
Eu queria apren<strong>de</strong>r a harmonia dos gorjeios.<br />
Gervane <strong>de</strong> Paula<br />
A Fazenda / Instalação / Materiais diversos / Dimensões variáveis / 2017
As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis.<br />
Elas <strong>de</strong>sejam ser olhadas <strong>de</strong> azul – Que nem uma criança que você olha <strong>de</strong> ave.<br />
In: Livro das Ignorãnças, 1994.<br />
Gonçalo Arruda<br />
Sem título / Mista sobre tela / 80 x 110 cm / 2016
Venho <strong>de</strong> um Cuiabá e <strong>de</strong> ruelas entortadas.<br />
Meu pai teve uma venda <strong>de</strong> bananas no beco da marinha, on<strong>de</strong> nasci.<br />
In: Poesia Completa. São Paulo: Ed. Leya, pag. 324.<br />
Hel<strong>de</strong>r Faria<br />
FOTOGRAFIA INFRAVERMELHA N° 24 / Fotografia em infravermelho / Detalhe / 21 X 223 cm / 2017
Nequinho<br />
Amassa <strong>Barros</strong><br />
Molda ventos<br />
Persegue ermos<br />
Torce versos<br />
Em <strong>de</strong>manda <strong>de</strong><br />
Insignificâncias<br />
Ivens Scaff
Aprendi que o artista não vê apenas. Ele tem visões.<br />
A visão vem acompanhada <strong>de</strong> loucuras,<br />
<strong>de</strong> coisinhas à toa, <strong>de</strong> fantasias, <strong>de</strong> peraltagens.<br />
Eu vejo pouco. Uso mais ter visões.<br />
Nas visões vêm as imagens, todas as transfigurações.<br />
O poeta humaniza as coisas, o tempo, o vento.<br />
As coisas, como estão no mundo, <strong>de</strong> tanto vê-las nos dão tédio.<br />
Temos que arrumar novos comportamentos para as coisas.<br />
E a visão nos socorre <strong>de</strong>sse mesmal.<br />
In: Livro sobre nada, 1996.<br />
Lúcia Picanço<br />
A festa I / Acrílica sobre tela / 50 x 80 cm / 2016
<strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong><br />
A palavra é seu tempo<br />
Converteu-se na secreta forma da poesia<br />
O corpo feito árvore,<br />
guardando todas as chuvas.<br />
Lucinda Persona
CARREGANDO ÁGUA NA PENEIRA<br />
Carregando Água na Peneira é uma inserção cênica-poética<br />
concebida e interpretada pelo ator e dramaturgo Luiz Carlos Ribeiro,<br />
um dos intérpretes pioneiros da poética do saudoso <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>.<br />
São recortes <strong>de</strong> estrofes <strong>de</strong> poemas, fragmentos <strong>de</strong> contos, causos<br />
pantaneiros, on<strong>de</strong> a alma, o humor refinado e crítico do nosso<br />
homenageado, <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>, é o ponto marcante <strong>de</strong>ssa<br />
intervenção artística.<br />
Texto: Lúcia Palma<br />
Luiz Carlos Ribeiro<br />
Inserção cênica-poética / 15 min / 2017 / Participação especial Pescuma
A vida não seria a mesma<br />
sem o eterno arrastar-se da<br />
lesma<br />
Agora comendo grama<br />
Pela raiz<br />
Vai<br />
Seja o que sempre quis!<br />
Luiz Renato
Uma coisa que o homem <strong>de</strong>scobre <strong>de</strong> tanto seu encosto no chão é o<br />
êxtase do nada.<br />
In: Concerto a céu aberto para solos <strong>de</strong> ave, pg.52.<br />
Marcelo Velasco<br />
Na linha do olhar / Dimensões variáveis / instalação com esculturas em fibras <strong>de</strong> vidro/ 2017
Quando meus olhos estão sujos <strong>de</strong> civilização,<br />
cresce por <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> árvores e aves.<br />
In: Poesia Completa, pg. 184. São Paulo: Editora Leya, 2013.<br />
Marcia Bomfim<br />
Sem título / Xilogravura <strong>de</strong> topo / 68 x 72 cm / 2017
...o rio encosta as margens na sua voz azul.<br />
Concerto a céu aberto para solos <strong>de</strong> ave<br />
In: Poesia Completa pg. 291. São Paulo: Editora Leya, 2013.<br />
...o rio encosta as margens na sua voz azul.<br />
Concerto a céu aberto para solos <strong>de</strong> ave [1991]<br />
In: Poesia Completa pag. 291<br />
Marcio Aurelio<br />
Fundo <strong>de</strong> rio / Acrílica sobre piçarras esculpidas / 30 x 60 cm / 2017
Tomo goles <strong>de</strong> azul<br />
por que?<br />
Embebedando-me <strong>de</strong> azulões<br />
e escorrendo Sanhaçosque<br />
<strong>de</strong>pendurados em meus braços<br />
apressam visões em terras<br />
<strong>de</strong> revoadas azuladas.<br />
Marília Beatriz
Os sonhos não tem comportamento.<br />
Sempre havia <strong>de</strong> existir nos sonhos daquele menino o primitivismo do seu<br />
existir. E as imagens que ele organizava com o auxílio das suas palavras eram<br />
concretas. Ele até chegou um dia a pegar na crina do vento.<br />
Era sonho?<br />
Menino do Mato. In: Poesia Completa. São Paulo: Ed. Leya, Pg 464.<br />
Transparências e retalhos sem nome<br />
Colagem Textil<br />
Dimensões variáveis<br />
Nilson Pimenta<br />
2017<br />
Sem título / Acrílica sobre tela / 60 x 80 / 2017
As coisas que não tem nome são mais pronunciadas por crianças.<br />
O Livro das Ignorâncias, 1994.<br />
Otília Teófilo<br />
Transparências e retalhos sem nome / Colagem textil / Dimensões variáveis / 2017
Eu queria ser banhado como um rio…<br />
Livre é quem não tem rumo.<br />
Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Aprendiz. In: Poesia completa pg. 457. São Paulo: Editora Leya. 2013.<br />
Reinaldo Gaspar<br />
A arte <strong>de</strong> infantilizar formigas<br />
Des<strong>de</strong> o 78 começo x 60 do x 50 mundo cm água e chão se amam [...] / Ví<strong>de</strong>oinstalação / 3 minutos / 2017<br />
Acrílica sobre objeto
Formiga é um ser tão pequeno que não agüenta nem neblina.<br />
Bernardo me ensinou: Para infantilizar formigas é só pingar um<br />
pouquinho <strong>de</strong> água no coração <strong>de</strong>las. Achei fácil.<br />
Arte <strong>de</strong> Infantilizar Formigas<br />
In: Livro Sobre Nada. Rio <strong>de</strong> Janeiro - Editora Record, 1996 – projeto releituras<br />
Rodolfo Carli<br />
A arte <strong>de</strong> infantilizar formigas / Acrílica sobre objeto / 78 x 60 x 50 cm / 2017
Mensagem Póstuma pra quem não morreu<br />
Só quem teve um olhar <strong>de</strong> luz,<br />
com lágrimas coloridas da terra e das águas<br />
Só quem conseguiu retirar do vento<br />
o som do seu pensamento<br />
Só quem por <strong>de</strong>scaminhos percebia<br />
a beleza <strong>de</strong> paus e pedras<br />
Só quem enxergava<br />
a gran<strong>de</strong>za das insignificâncias<br />
Só quem tinha caminhos sem inícios<br />
e princípios que finalizam<br />
Só quem olhava pro chão<br />
e enxergava o céu<br />
Só você, <strong>Manoel</strong>.<br />
Rogério Andra<strong>de</strong>
Deixei uma ave me amanhecer.<br />
Concerto a Céu aberto para solos <strong>de</strong> ave.<br />
In: Poesia Completa. São Paulo: Ed. Leya, pag. 275.<br />
Rosylene Pinto<br />
De barro, <strong>Manoel</strong> / Escultura em cerâmica figurativa / 44 x 22 x 21 cm / 2016
Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:<br />
Vou pertencer você para uma árvore. E pertenceu-me.<br />
Escuto o perfume dos rios.<br />
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.<br />
Sei botar cílio nos silêncios.<br />
Para encontrar o azul eu uso pássaros.<br />
Só não <strong>de</strong>sejo cair em sensatez. Não quero a boa razão das coisas.<br />
Quero o feitiço das palavras.<br />
Retrato do artista quando coisa. In: <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>. Poesia completa. Pag 369-370. São Paulo: Leya, 2010,<br />
Ruth Albernaaz<br />
Retrato do artista quando coisa / Mista sobre tela / 110 x 80 cm / 2016
Os jardins se borboletam.<br />
(Significa que os jardins se esvaziaram <strong>de</strong> suas sépalas e <strong>de</strong> suas pétalas?<br />
Significa que os jardins se abrem agora só para o buliço das borboletas?)<br />
In:Poesia Completa, pg. 358. São Paulo: Leya, 2010.<br />
Valques Rodrigues<br />
Sem título / Objeto / 50 x 80 x 135 cm / 2017
Raiar do sol<br />
Acorda<br />
Que o dia já raiou<br />
Sabiá trouxe a ninhada<br />
Para tudo apreciar<br />
Beija-flor do bico doce<br />
Veio aqui só pra espiar<br />
Pois o sol trouxe seus raios<br />
Pra brincar e pra dançar<br />
Acorda<br />
Acorda...<br />
Música: 3 minutos<br />
Vera Capilé
Vitoria Basaia<br />
Sem título / Pigmento natural sobre papel / 200 x 200 cm / 2017
Ainda estavam ver<strong>de</strong>s as estrelas<br />
quando eles vinham<br />
com seus cantos rorejados <strong>de</strong> lábios.<br />
Os passarinhos se molhavam <strong>de</strong> vermelho na manhã [...]<br />
In: Compêndio para uso dos Pássaros. In: Poesia Completa, pag. 103. São Paulo: Editora Leya, 2013.<br />
Wan<strong>de</strong>r Melo<br />
Céu <strong>de</strong> Pássaros / Acrílica sobre Tela / 50 x 80 cm / 2016
Filos sofia<br />
Definiões inconstantes<br />
Te ser te ter<br />
Posse ou consciência<br />
Filos Sofia<br />
Definições inconstantes<br />
Te ser te ter<br />
Posse ou consciência<br />
Tecla toca conhecer<br />
Pensar agir per<strong>de</strong>r<br />
Tecla toca conhecer<br />
Pensar agir per<strong>de</strong>r<br />
Momentar<br />
Momentar<br />
Intimação<br />
Estimação<br />
I<strong>de</strong>alizar<br />
Intimação<br />
Estimação<br />
I<strong>de</strong>alizar<br />
Jogar-te frases<br />
Não mais minhas<br />
Ventania<br />
Jogar-te frases<br />
Não mais minhas<br />
Tufão <strong>de</strong> letrar<br />
Ventania<br />
Escancarar<br />
Perdição<br />
Desconcentrar<br />
Encaraste<br />
Fatualizar.<br />
Tufão <strong>de</strong> letrar<br />
Escancarar<br />
Perdição<br />
Desconcentrar Yael Costa<br />
Encaraste<br />
Fatualizar.<br />
Yael Costa
Experimentando a manhã dos galos<br />
... poesias, a poesia é<br />
- é como a boca<br />
dos ventos<br />
na harpa<br />
nuvem<br />
a comer na árvore<br />
vazia que<br />
<strong>de</strong>sfolha a noite...<br />
Compêndio para uso dos pássaros.<br />
In: Poesia Completa, pág. 109. São Paulo: Editora Leya, 2010.<br />
Zeilto Mattos<br />
Manhã com Galos / Acrílica sobre tela / 110 x 110 cm / 2017
Programação<br />
05. <strong>de</strong>z. 2017<br />
19h – Abertura da Exposição <strong>Centenário</strong> <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong><br />
19h15 - Música com Vera Capilé<br />
19h30 - Inserção Cênica - poética com Luiz Carlos Ribeiro.<br />
20h - Performance <strong>de</strong> Adir Sodré<br />
20h30 – Sarau “Um passarinho me recita” Palco aberto.<br />
12. <strong>de</strong>z. 2017<br />
19h – Sarau “Poesia é pássaro livre que sai dos interiores olhares”. Palco aberto aos artistas.<br />
19. <strong>de</strong>z. 2017<br />
Aniversário <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>.<br />
18h30 – Palestra com Cristina Campos. Local: Centro Cultural – MACP.<br />
19h30 – Sarau “Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) – sem nome” com Bia Correa, Otília<br />
Teófilo, Neneto Sá, Roberto Boaventura, Luiz Renato, Gomes Filho, Fran Frassetto, Mari Gemma, Maysa<br />
Rosário, Paulo Wagner, Maria Ligia Caviglioni, Janio Ribeiro, Wagton Douglas, Kwang II, Ge Lacerda e<br />
Vera Capilé e participação especial Jefferson Neves no piano.<br />
28. fev. 2018<br />
19 h – Sarau <strong>de</strong> Encerramento. Participações especiais: Ivan Belém e Vital Siqueira; Vera Capilé e Habel dy<br />
Anjos.
REITORA<br />
Myrian Thereza <strong>de</strong> Moura Serra<br />
VICE-REITOR<br />
Evandro Aparecido Soares da Silva<br />
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO<br />
Bruno César Souza Moraes<br />
AUDIOVISUAL<br />
Felipe Zulian<br />
Guilherme Alves<br />
Isabelle Fanaia<br />
Reinaldo Gaspar Mota<br />
FOTOGRAFIA<br />
Rosylene Pinto<br />
PRÓ-REITORA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL<br />
Professora Erivã Garcia Velasco<br />
PRÓ-REITOR DE CULTURA, EXTENSÃO E VIVÊNCIA<br />
Fernando Ta<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Miranda Borges<br />
PRÓ-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO<br />
Lisiane Pereira <strong>de</strong> Jesus<br />
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA<br />
Patricia Silva Osorio<br />
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />
Ozerina Victor <strong>de</strong> Oliveira<br />
PRÓ-REITORA DE PLANEJAMENTO<br />
Tereza Christina Mertens Aguiar Veloso<br />
COORDENADORA DE CULTURA<br />
Ana Paula F. Dias<br />
SUPERVISORA DO MUSEU DE ARTE E DE CULTURA POPULAR/ MACP<br />
Sílvia C. <strong>de</strong> O. Aragão<br />
EQUIPE MUSEU DE ARTE E DE CULTURA POPULAR/ MACP<br />
An<strong>de</strong>rson José Rezen<strong>de</strong><br />
Matheus Costa<br />
Sthephanny Borges<br />
ORGANIZAÇÃO e CURADORIA<br />
Ruth Albernaz<br />
Aclyse Mattos<br />
Imara Pizzato Quadros<br />
José Serafim Bertoloto<br />
Gervane <strong>de</strong> Paula<br />
ARTE GRÁFICA<br />
Athus Braz Santos<br />
Lucas Fernando Vieira<br />
Yael Costa<br />
MONTAGEM<br />
Rodrigo Leite<br />
ARTISTAS PARTICIPANTES<br />
Aclyse Mattos<br />
Adir Sodré<br />
Benedito Nunes<br />
Carlos Lopes<br />
Cristina Campos<br />
Dalva <strong>de</strong> <strong>Barros</strong><br />
Eduardo Mahon<br />
Gervane <strong>de</strong> Paula<br />
Gonçalo Arruda<br />
Hel<strong>de</strong>r Faria<br />
Ivens Scaff<br />
Lúcia Picanço<br />
Lucinda Persona<br />
Luiz Carlos Ribeiro<br />
Luiz Renato<br />
Marcelo Velasco<br />
Marcia Bomfm<br />
Márcio Aurélio<br />
Marília Beatriz<br />
Nilson Pimenta<br />
Otília Teófilo<br />
Reinaldo Mota<br />
Rodolfo Carli<br />
Rogério Andra<strong>de</strong><br />
Rosylene Pinto<br />
Ruth Albernaaz<br />
Valques Rodrigues<br />
Vera Capilé<br />
Vitória Basaia<br />
Wan<strong>de</strong>r Mello<br />
Yael Costa<br />
Zeilton Mattos<br />
Albernaz, Ruth. Mattos, Aclyse. Quadros, Imara. Bertoloto, José Serafim.<br />
De Paula, Gervane – Organizadores.<br />
Para encontrar o azul eu uso pássaros: centenário <strong>de</strong> <strong>Manoel</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Barros</strong>.<br />
Cuiabá, Mato Grosso, 2017.<br />
48f. il. 15x21 cm<br />
1.<strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong> 2. Cultura 3. Arte 4. Poesia. 5. Mato Grosso. 6.<br />
Interdisciplinarida<strong>de</strong><br />
ISBN: 978-85-327-0612-6
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO<br />
Quando eu nasci<br />
o silêncio foi aumentado.<br />
[<strong>Manoel</strong> <strong>de</strong> <strong>Barros</strong>]
CENTENÁRIO<br />
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