Habitar texto: hélen cristina foto: ana elisa siqueira arte: lara pechir
Na trama dos sonhos Quando nossos desejos são muito fantásticos alguns detalhes podem atrapalhar: a falta de grana, de talento ou de super poderes. Mas os sonhos, os que temos enquanto dormimos, estão aí para isso. Eles são, muitas vezes, uma válvula de escape para aquilo que, por algum motivo, não conseguimos realizar estando acordados. Segundo o psicólogo Bruno Bueno, sonho e fantasia por vezes se confundem, e não é para menos. Ambos caminham lado a lado na trama do conhecimento mais próprio do ser. A fantasia pode ser oriunda de desejos, de algum medo ou outro sentimento específico, ou até mesmo da mera espontaneidade criativa da mente. Pode estar relacionada àquilo que mais se almeja e sonha, ou àquilo que retrata suas maiores fraquezas. A fantasia pode desafiar valores, ir além do certo ou errado, e vivenciar, através do sonho, tudo aquilo que está reprimido. Já o sonho é uma experiência onírica, carregada de carga afetiva emocional, que se apresenta como uma forma de revelação do ser próprio, influenciada pelas experiências diurnas, pelos desejos e pelas fantasias, com a mesma intensidade e realidade com que experimentamos nosso estado de vigília. E mais que uma válvula de escape, pode ser uma ferramenta de auto compreensão, uma forma de entendermos a maneira como conseguimos absorver nossas experiências e como elas nos afetam. Muitas pessoas têm sonhos aparentemente sem nexo, confusos e na maioria das vezes nem se lembram que sonharam. Outras, no entanto, não apenas se lembram, como possuem uma habilidade a mais: conseguem se manter lúcidas. Essa capacidade de manter a consciência é conhecida como sonho lúcido porque a pessoa tem a total noção dos acontecimentos e consegue, às vezes, controlar como eles devem seguir. Algumas pessoas se dedicam a estudar este fenômeno e a aprimorar sua técnica, e dizem conseguir até mesmo induzir seus sonhos. Outras, porém, têm limitado seu controle, e são capazes apenas de discernir quando estão sonhando. André Gatti, 25 anos, diz ter sonhos lúcidos a tempo suficiente para não se lembrar do primeiro, mas percebeu há pelo menos três anos que isto não é comum a todas as pessoas. Sem dominar nenhuma técnica de controle, ele alcança a lucidez durante o sonho de maneira espontânea: “por muitas vezes, percebo a surrealidade do que está acontecendo. A partir desse momento começo a ter maior liberdade, não total, de fazer o que quero dentro do sonho”. Ele conta que isto despertou sua curiosidade, mas nunca procurou nenhum especialista no assunto, e não se considera um controlador de sonhos, porque não consegue interferir nas ações de outras pessoas, e às vezes, nem mesmo acordar quando quer. Conta ainda como consegue discernir entre sonho e realidade: “algumas vezes sou enganado, outras não. Concluo pela falta de nexo de algumas coisas, pela lógica em uma situação que está acontecendo... não sei precisar, mas apenas percebo que aquilo que está acontecendo não pode ser uma situação real, o desrespeito às leis da física, por exemplo, é flagrante.” CURINGA | EDIÇÃO <strong>12</strong> 33