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IV Simpósio Interdesigners

Livro de Atas da Quarta Edição do Simpósio Interdesigners

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Por fim, a terceira era a forja, em que moldava-se o material por marteladas e<br />

choque térmico. “ (...) Na joalheria crioula, exemplos de joias feitas com forja são os<br />

berloques ocos, como as romãs, onde dois semicírculos são soldados para formar<br />

a esfera, que depois será cinzelada para receber os arabescos decorativos em sua<br />

superfície.” (CUNHA; MILZ, 2011, p. 145).<br />

A complexidade dessas técnicas levava anos para ser dominada.<br />

4. Conclusão<br />

Toda a materialidade disponível em um ambiente cria um leque de possibilidades<br />

para o nascimento de peças e ideias, porém não são apenas as ferramentas necessárias<br />

para se criar algo novo e único. A história nos permite ver a influência sobre<br />

aqueles que fizeram as peças, bem como a influência deles sobre a mesma.<br />

É um ciclo em que o homem atua sobre o objeto e, por consequência, o objeto<br />

atua sobre o homem. O homem negro, trazido como escravo da África, traz consigo<br />

seus conhecimentos em extração de ouro e ourivesaria, que são explorados<br />

pelos senhores brancos, produzindo as mais diversas alfaias litúrgicas e joias, em<br />

sua maioria direcionados a igreja e a população branca. Contudo, a produção de<br />

joias crioulas implica em não só uma vertente estética majoritariamente barroca,<br />

prezando por volumes e excessos, indo contra a tendência neoclássica europeia,<br />

mas na criação de peças direcionadas para um público específico formado de<br />

mulheres negras.<br />

A compra ou encomenda dessas peças resultava na afirmação da presença negra<br />

no meio, normalmente invisibilizado por seu estado social, de modo a ser usada<br />

como pagamento na compra das cartas de alforrias tanto da proprietária quanto de<br />

familiares. Os processos usados facilitaram sua produção, usando de ligas baratas<br />

e padrões de repetição, facilitando o acesso a estas peças.<br />

Ainda sim, era um bem de luxo com forte apelo social, uma vez que impunha à<br />

sociedade a presença da mulher negra e possibilitou mudanças sociais.<br />

Os meios de produção usados na criação de peças da joalheria crioula são<br />

fundamentais para sua acessibilidade , bem como o negro, como produtor de conhecimento<br />

prático e técnico, e a negra como usuária e proprietária da mesma.<br />

A joia se traduz como resultado da sociedade em que foi criada, carregando<br />

consigo toda carga técnica, cultural e histórica do período em questão.<br />

5. Referências<br />

CUNHA, Laura; MILZ, Thomaz. Joias de Crioula – Jewelry of the Brazilian<br />

crioula. São Paulo: Terceiro Nome, 2011. 204p.<br />

FACTUM, Ana Beatriz S. Joalheria escrava baiana​: a construção histórica do<br />

design de jóias brasileiro. São Paulo, 2009.<br />

RUSSEL-WOOD, A. J. R. Escravos e libertos no Brasil Colonial​. Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 2005. 481p.<br />

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