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IV Simpósio Interdesigners

Livro de Atas da Quarta Edição do Simpósio Interdesigners

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Convém situar o corpo sem órgãos (CsO) não enquanto entidade física, definida<br />

por sua constituição. Ora, Artaud, a quem devemos este conceito, já deixara claro<br />

que o CsO opõem-se menos aos órgãos que o compõem que ao organismo que os<br />

unifica e territorializa (DELEUZE, 1995). Pois, ele não se dará pela conjunção e pelo<br />

funcionamento, mas sim pelo limiar que se impõe a um ser. Ele se faz existir não<br />

pela sua organização ou estrutura, mas pela capacidade intensiva de agregar. Ao<br />

CsO se acoplam máquinas das mais diversas, e que não é esta conjunção que define<br />

um Corpo, mas sim esta unidade abstrata que circulará o espaço e demarcará o território<br />

do Eu – hajam máquinas acopladas ou não. O CsO é antes uma identidade<br />

que uma existência; é o plano pelo qual operam-se os devires e os fluxos afetivos,<br />

mas jamais sendo estes. Desta forma podemos entender que esta subjetividade,<br />

à qual nos referimos como singularidade e pessoalidade intransponível ao ser, de<br />

fato é seu CsO; cabendo enfim à subjetividade a operação dos fluxos e o corte dos<br />

mesmos. Se elevamos uma sobreposição dos planos maquínicos anteriormente, o<br />

CsO será esta altura, e o fluxo abstrato transversal a subjetividade instaurada. Há<br />

de se explicar os conceitos determinantes para tal análise: os de devir e de multiplicidade.<br />

Devires serão tomados como as potencialidades de um ser; disposições<br />

virtuais de fluxos no plano das multiplicidades; e que cada devir traçará uma linha<br />

de fuga para fora de seus territórios – desterritorializando-os. E multiplicidade será<br />

a conjunção destes infinitos devires, potencialidades virtuais, que se encontram<br />

compreendidos por um ente – os fluxos imanentes do CsO.<br />

Oras, evocando um ciclo próprio para cada análise – de estabelecer um território,<br />

agenciar os fluxos e desterritorializa-lo para novamente territorializa-lo, e de novo<br />

– podemos afirmar que, ao estender as estruturas universais e os matemas exatos<br />

para o campo do subjetivo, jamais restará espaço para os fluxos e agenciamentos<br />

caóticos que operam as máquinas. O método não é compatível com o objeto<br />

de estudo. E se formos pensar em métodos, podemos estabelecer o diferencial da<br />

multiplicidade: ele traz os acontecimentos subjetivos e caóticos para um momento<br />

a priori, porém, sempre na condição de possibilidade. É a isso que Foucault se<br />

refere quando diz que “a questão que se coloca é a de saber se se pode utilizar sem<br />

jogo de palavras a noção de estrutura, ou, ao menos, se é da mesma estrutura que<br />

se fala em matemáticas e nas ciências humanas; questão que é central, se se quiser<br />

conhecer as possibilidades e os direitos, as condições e os limites de uma formalização<br />

justificada” (FOUCAULT, 1992. P 399): se podemos pensar de alguma forma<br />

em fazer ciência da complexidade humana, é essa.<br />

São os fluxos dos devires que fogem a qualquer território que comporão uma<br />

subjetividade: esta congregação de universos incorporais se liga ao CsO, portanto,<br />

pelo agenciamento desses desejos; e que estes desejos existem em um plano virtual,<br />

que comporta a existência simultânea dos fluxos infinitos com velocidades ilimitadas,<br />

ao qual nomeamos multiplicidade. De certo, a multiplicidade de qualquer ente<br />

se caracteriza pela fuga dos devires de qualquer território existencial de um Eu. É<br />

por isso que qualquer singularidade é impermanente: pois se projetam desejos e<br />

intenções para fora de qualquer singularidade atual. É entendendo esta dimensão<br />

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