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Revista Curinga Edição 07

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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<strong>Curinga</strong><br />

<strong>Revista</strong> laboratório | Jornalismo | UFOP | Agosto de 2013 | Ano III | nº7<br />

Edicao especial musica ’ ˆ<br />

muito<br />

barulho<br />

por<br />

tudo!<br />

Direitos autorais<br />

a<br />

’<br />

Musica negra a Lenine


<strong>Curinga</strong><br />

Expediente<br />

<strong>Curinga</strong> é uma publicação da disciplina Laboratório Impresso II<br />

<strong>Revista</strong> produzida pelos alunos do curso de Jornalismo da Ufop.<br />

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)<br />

Departamento de Ciências Sociais, Jornalismo e Serviço Social (DECSO)<br />

Universidade Federal de Ouro Preto.<br />

Professores Responsáveis:<br />

Frederico Tavares - 11311/MG (Reportagem)<br />

Priscila Borges (Planejamento Visual)<br />

Ana Carolina Lima Santos (Fotografia)<br />

Editora geral<br />

Gersica Moraes<br />

Subeditora<br />

Jéssica Romero<br />

Editora fotográfica<br />

Nara Bretas<br />

Editora de arte<br />

Caroline França<br />

Subeditora de Arte<br />

Rayana Almeida<br />

Editor digital<br />

Rolder Wangler<br />

Editores e revisores<br />

Ana Paula Rodarte, Kleiton Borges, Lorena Costa, Mariana Mendes, Paulo<br />

Victor Fanaia, Rafaela Buscacio, Tamara Martins<br />

Repórteres<br />

Adriana Souza, Filipe Barboza, Isadora Bruzzi, Jéssica Clifton, Joyce<br />

Afonso, Patrícia Botaro, Rodrigo Pucci<br />

Infografistas<br />

Alexandre Anastácio, César Raydan<br />

Diagramadores<br />

Ana Luiza Batista, Arthur Gomes da Rosa, Bárbara Costa, Ester Louback,<br />

Isadora Rabello, Lívia Almeida, Luís Fernando Bráulio, Patrícia Souza<br />

Fotógrafos<br />

Ana Luísa Rodrigues, Ana Malaco, Bárbara Zdanowsky, Bruna Silveira,<br />

Isadora Faria, Laura Ralola, Núbia Cunha, Ramon Cotta<br />

Produtores digitais<br />

Fábio Brito, Isabela Azi, Paula Peçanha<br />

Foto capa<br />

Isadora Faria<br />

Endereço: Rua do Catete 166, Centro, CEP 35420-000, Mariana-MG<br />

Tiragem: 1.500 exemplares<br />

Setembro 2013<br />

Cartas do leitor<br />

Para comentar as matérias ou sugerir pautas para nossa próxima edição,<br />

envie e-mail para<br />

revistacuringa@icsa.ufop.br<br />

Errata: Na edição passada publicamos na editoria “Perfil” a história de Marta, Mãe<br />

de Santo de um terreiro de Umbanda em Marianam, Minas Gerais. O nome do terreiro<br />

é “Mãe Maria de Aruanda” e não “Mãe Maria de Luanda”, como publicamos.<br />

Pedimos desculpas pela falha.


Editorial<br />

O som que escreve<br />

Texto: Gersica Moraes e Jéssica Romero<br />

<strong>Edição</strong> gráfica: Rayana Almeida<br />

“Minha música quer ser<br />

De categoria nenhuma<br />

Minha música quer<br />

Só ser música<br />

Minha música<br />

Não quer pouco...”<br />

Minha música - Adriana Calcanhotto<br />

Entre reportagens, fotos e palavras contadas para<br />

caber na página, um simples editorial talvez tenha<br />

sido o mais difícil de construir nessa edição temática da<br />

<strong>Curinga</strong>. O tema? Música! As dificuldades? Falar dela<br />

nos desapegando de todos os clichês, metáforas, trocadilhos<br />

e imaginários tão particulares ao seu significado. Mesmo<br />

assim seguimos, tendo cada vez mais dúvidas do que respostas.<br />

Será que isso não é óbvio? Será que moda tem a ver com<br />

música? Será que isso interessa? A mistura de provocações que<br />

esse tema causou nos trouxe até uma revista que expressa bem<br />

o que música é: algo essencialmente diverso. E talvez esteja aí a<br />

raiz de nossos questionamentos. Se música é e pode ser tanta<br />

coisa, como explicar na apresentação da revista, assim, em poucas<br />

palavras, para nós, o que ela é?<br />

Aqui descobrimos que música vende, cura, desperta sentimentos,<br />

vira hino de protesto, faz transcender, dita moda<br />

e faz dançar. Ela, que nasce da arte que só os músicos entendem,<br />

da linguagem de partituras, notas e sinfonias,<br />

se transforma em várias. Chega até nossos ouvidos<br />

através do rádio, do som alto do vizinho, das trilhas<br />

do cinema, da voz baixinha de alguém cantando e<br />

até mesmo de nossos momentos de silêncio.<br />

A sétima edição da <strong>Curinga</strong> fala sobre política,<br />

saúde, história, moda, esoterismo... Tudo isso<br />

entrelaçado à música, essa arte que também é<br />

ferramenta de mobilização social e manifesto<br />

contra opressões vividas em diferentes épocas<br />

e sociedades.<br />

O mesmo som que possui letras políticas,<br />

até pra quem não entende um determinado<br />

idioma, ganha um novo significado e<br />

provoca emoções que vão além das barreiras<br />

linguísticas. Ritmo que instiga o corpo e<br />

desperta várias sensações através da mente.<br />

Música também pode ser uma forma de ligação<br />

da nossa alma com outros mundos, uma<br />

ligação mística...<br />

Ao mesmo tempo em que a música parte<br />

de uma sequência de notas para se formar, o<br />

jornalismo parte das palavras para expressar um<br />

todo de ideias, opiniões e informações. Ambos<br />

podem caminhar lado a lado com igual pretensão:<br />

despertar algo em quem ouve e em quem lê.


ˆ<br />

comporta<br />

gritos<br />

( en)<br />

Cantados<br />

perfil: mi<br />

papo ret<br />

'<br />

- INFOGRAFICO: MUSICA NEGRA<br />

- opiniao: ˆ Rap na palestina<br />

- plural: barreiras linguisticas '<br />

- retalhos: lembrancas - gospel<br />

'<br />

- musicoterapia


- contemporaneo: ˜ direitos autorais<br />

- Entrevista: Lenine<br />

- Ensaio: grunge e moda<br />

mento: musica ' e misticismo -<br />

lton sanfoneiro -<br />

o: barbatuques -<br />

como localizar as paginas? '<br />

Como os números, as contagens e (por que não?) a matemática, também fazem parte do universo musical. A<br />

<strong>Curinga</strong>, nesta edição, transforma a numeração de suas páginas e traz na partitura a inspiração para compor uma<br />

diferente linguagem numeral.<br />

Nossa contagem obedece a uma lógica na qual a cada cinco páginas, modifica-se o símbolo numérico. Uma<br />

progressão que varia entre bolas vazias, cheias, riscadas, até a formação de notações musicais. O número correspondente<br />

à página está preenchido de preto e obedece a ordem da posição das bolas. Por exemplo, na página 1 pinta-se<br />

a primeira bola, já na 2, é a segunda bola que aparece preenchida. Passando da página cinco para a seis, muda-se o<br />

símbolo, ou seja, a contagem volta para a primeira bola, entretanto, esta com uma aparência diferente, mostrando<br />

que ali alterou-se a ordem de contagem. E assim por diante...<br />

Entenda a páginação:


Entrevista


Texto: Joyce Afonso<br />

<strong>Edição</strong> Gráfica: Ester Louback<br />

Fotos: Laura Ralola<br />

Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, ou Lenine, chamado assim por conta de uma<br />

homenagem do pai socialista ao líder soviético, nasceu em Recife no dia 2 de fevereiro<br />

de 1959. Há 30 anos, tem a música encarnada em si como profissão. O artista tem dez<br />

discos lançados, já ganhou cinco prêmios Grammy Latino e percorreu muito chão<br />

por aí. “Chão”, por sinal, é o nome do último álbum do cantor, lançado em março do<br />

ano passado. Apesar de ser autoridade no assunto, quando informado de que esta<br />

conversa seria sobre música, Lenine se assustou e disse: “Cara, mas eu não sou a<br />

pessoa mais indicada para falar de música não!” Não é o que mostra a entrevista a<br />

seguir, realizada durante o Festival Natura Musical, em Belo Horizonte, no último mês<br />

de agosto.


<strong>Curinga</strong>: A diversidade musical está<br />

presente na vida, as pessoas ouvem música<br />

porque querem. O leque musical faz com<br />

que ela chegue a gente dos mais diversos<br />

gostos, às vezes de maneira profunda.<br />

Como você enxerga essa relação íntima dos<br />

indivíduos com a música, sendo que essas<br />

pessoas, muitas vezes, não estão ligadas a<br />

ela profissionalmente?<br />

Lenine: Ah, boa! Porque independe do fato de<br />

você se profissionalizar ou não. Agora, condição<br />

sine qua non para isso acontecer ou não é o<br />

fato de você ter musicalidade. O brasileiro tem<br />

esse dom. Todo mundo tem a noção e a adequação<br />

do ritmo a tudo. Isso é muito incrível!<br />

C: Você acha que a diversidade da música<br />

chega à indústria fonográfica com a mesma<br />

riqueza em que é criada? Ou a indústria<br />

impõe um empobrecimento no processo<br />

criativo?<br />

L: Olha, essa indústria... Que indústria? (risos)<br />

Essa é uma pergunta que tem que ser<br />

compartimentada. Primeiro existem muitos<br />

processos para fazer música, e várias maneiras<br />

diferentes de você ter sucesso nisso. (risos)<br />

Mas existem caminhos e caminhos e todos<br />

eles podem ser musicais. A indústria, hoje<br />

em dia, se revela de várias maneiras. Existem<br />

ainda os ecos do que ela foi, quer dizer, daquelas<br />

multinacionais que geravam o produto<br />

naqueles veículos, que eu vi passar de vinil,<br />

para CD para videolaser, para HD, MD. Eu vi<br />

tantas formas diferentes, mas a música continua<br />

existindo, a criação continua existindo.<br />

Hoje tem uma turma que não precisa mais do<br />

físico, do papel. Então as formas são muitas,<br />

não é? É muito amplo falar sobre isso, porque<br />

são tantas maneiras e, eu mesmo, talvez seja<br />

mais uma exceção do que uma regra, porque a<br />

minha trajetória foi bem ímpar.<br />

C: Por que sua trajetória foi ímpar?<br />

L: Fui muito cabeça dura, tive que ser um<br />

pouco intransigente e só fazer o que acreditava.<br />

Isso definiu o meu caminho, então não<br />

sou exemplo para nada, acho que sou mais<br />

exceção. Eu diria que hoje é muito bacana<br />

perceber que o Brasil é como uma reunião de<br />

muitas tendências, e por isso tem essa diversidade,<br />

possui uma maneira diversa de conseguir<br />

o sucesso e cada um de um jeito diferente.<br />

E isso é muito individual, porque cada região<br />

descobriu alguma forma de sobreviver, se perpetuar<br />

e historificar o que faz. Seja fisicamente<br />

ou não.<br />

C: Com o advento das novas tecnologias,<br />

você acredita que os álbuns perderam valor<br />

e que o trabalho na produção pode ser em<br />

vão?<br />

L: Não faço parte dessa turma não, eu continuo<br />

acreditando! Não que o que eu faça seja<br />

um aglomerado de canções. De tempos em<br />

tempos faço um romance. E isso é um disco,<br />

uma série de fotos do que você faz, do que<br />

te emociona, do que te incomoda e do que te<br />

toca. É essa compulsão que me leva a fazer<br />

discos, continuo com esse desejo e ainda tenho<br />

muito chão pra trilhar! O “Chão” ainda<br />

vai comigo até... nem sei. (risos)<br />

C: As novas tecnologias deram maior força<br />

aos artistas independentes e a relação com<br />

as gravadoras têm se modificado...<br />

L: Quando você fala isso, no meio da pergunta<br />

já tive vontade de lhe interromper pra<br />

dizer assim: O que é independente? Quando<br />

falamos de produção independente... Eu não<br />

gosto dessa palavra. Porque a produção independente<br />

é a produção mais dependente. Ela<br />

depende do carinho das pessoas envolvidas,<br />

porque não tem dinheiro envolvido, da entrega<br />

de cada um, do amigo e do cara que diz “assim<br />

não, faz teu disco, faz teu projeto”. Esse<br />

movimento dependente é o que se beneficiou<br />

de melhor maneira no universo digital. O universo<br />

digital realmente democratizou muito<br />

os meios de produção de qualquer produto e<br />

a expansão disso tudo. Então, acho que todo<br />

mundo se beneficiou, primeiramente com essa<br />

disponibilidade, com esse acesso direto. Hoje<br />

em dia eu tenho a noção clara, sei quem são<br />

meus seguidores. Em cada cidade, vejo eles se<br />

comunicando nas redes sociais para irem juntos<br />

ao show, me pedindo música pra tocar e eu<br />

toco! Nos aproximou muito. E estou falando<br />

só de uma experiência pessoal, de alguém que<br />

já está com 54 anos, já passou por vários veículos<br />

e mesmo assim fica estarrecido com o<br />

poder dessa nova janela que se abre. Sou um<br />

entusiasta de todas essas novas tecnologias e<br />

tudo que puder pulverizar a arte e a criação é<br />

bem-vindo.<br />

C: O que você acha que vai ser da música<br />

daqui pra frente? Quais rumos a sua música<br />

vai seguir de agora em diante?<br />

L: Eu não sei nem o que é música agora! Imagina<br />

se vou saber o que é música daqui pra<br />

frente. Eu não, cara. Meu processo é intuitivo!<br />

Não tenho a mínima noção de onde chego. Eu<br />

sei onde eu não quero chegar! Continua sendo<br />

uma grande incógnita. Apesar do fato do processo<br />

ter sido o tempo todo intuitivo, jamais<br />

ousei entendê-lo e decupá-lo. Se tiver o desejo<br />

de fazer um disco, eu me tranco, vou e faço!<br />

Faço as canções, arranjo, mergulho profundamente<br />

nisso. Depois de mixar e tudo, esse<br />

processo chega ao cúmulo da masterização, aí<br />

então é um exorcismo. E vira o show, o melhor<br />

momento. Porque é no show que se dá o<br />

encontro, é no show que eu posso mensurar<br />

como chega o que eu faço, é no show que se dá<br />

o objetivo daquele disco ou de qualquer pro-


duto que venha a existir. Esse contato é o mais<br />

genuíno e a gente percebe, não é?<br />

C: O que é música para você?<br />

L: Música é minha profissão e meu prazer. Eu<br />

pude conjugar essas duas coisas. Sou um puta<br />

felizardo! (risos)<br />

C: O compositor e o músico imprimem no seu<br />

trabalho muito de suas ideias e percepções<br />

íntimas acerca do mundo material. E quando<br />

essa música se dissipa, ela pode levar uma<br />

mensagem engajada para quem ouve. Você<br />

se preocupa com essa responsabilidade,<br />

com o efeito da música sobre as pessoas?<br />

L: Perfeitamente. Prefiro acreditar que meu<br />

trabalho vai além do entretenimento. Prefiro<br />

acreditar que meu trabalho tem a ver com historificação.<br />

Que o que eu faço passa pelo viés<br />

da educação; que depois de um show, além de<br />

ter se divertido ou ter dançado, também tenha<br />

ficado algum tipo de residual do questionamento<br />

que minhas músicas levam. Se isso<br />

acontece ou não, aí é outra questão. Eu continuo<br />

acreditando que sim.<br />

C: Você acredita que a música pode ser<br />

política?<br />

L: Não existe nada sem ser político. Para mim,<br />

tudo é política! A política de fazer uma boa<br />

reportagem. A política da boa vizinhança. A<br />

política do amor, que é a coisa mais complexa.<br />

A política é uma coisa que está no ser humano.<br />

Nesse sentido, não estou falando de politicagem.<br />

(risos) Não estou falando de Brasília<br />

não! Estou falando de política, do convívio entre<br />

seres, de uma maneira social.<br />

C: Se a música fosse uma pessoa, quem ela<br />

seria para você?<br />

L: (Longa pausa).Um filho de Deus! (risos)<br />

Um filho do divino, um dos filhos mais perfeitos<br />

do divino.<br />

C: E se você fosse um professor, dentro de<br />

uma sala de aula e tivesse que definir o que<br />

é a música para os seus alunos, como você<br />

a definiria?<br />

L: Música é uma maneira de se tocar o outro.<br />

C: Como a música está em você? É possível<br />

separar o Lenine da música?<br />

L: Não. A música é uma coisa do convívio diário.<br />

A música é na hora da chaleira. O “Chão“<br />

é repleto de uma música que é diária comigo.<br />

A chaleira, a máquina de lavar. Sabe, tudo tem<br />

um relevo sonoro e estou atento (ele aponta<br />

para o céu enquanto um avião sobrevoa o local<br />

onde estávamos) a tudo isso. Isso compõe<br />

uma trilha sonora que é a da vida da gente.


Comportamento<br />

Melodia que<br />

transcende<br />

A experiência mística através do som<br />

Texto: Isadora Bruzzi<br />

<strong>Edição</strong> Gráfica: Patrícia Souza


As sensações que as músicas proporcionam vão muito além<br />

do que imaginamos. Música é magia. É sentir algo bom ou<br />

ruim quando se escuta, é transcender daqui para outro lugar.<br />

Há quem se utiliza dela para rituais religiosos, meditação, yoga,<br />

cura e até mesmo para a busca do autoconhecimento.<br />

Sentar para ouvir um som pode ser uma experiência mística.<br />

Essa prática vislumbra tudo aquilo que está além do plano<br />

físico. Usada pela primeira vez no Mundo Ocidental nos<br />

escritos atribuídos a Dionísio, a palavra “místico” já era vista<br />

além de uma Teologia. Segundo Ralph Lewis, escritor norteamericano,<br />

“o místico é aquele que aspira a uma união pessoal<br />

ou a unidade com o Absoluto, que ele pode chamar de Deus,<br />

Cósmico, Mente Universal, Ser Supremo.” Nesse sentido, pessoas<br />

envolvidas com o misticismo procuram alcançar uma verdadeira<br />

união com uma força superior.<br />

Jakob Bohme, filósofo alemão, escreveu que a prática é<br />

considerada a religião dos mistérios, uma busca pela ligação<br />

com a divindade de forma intuitiva. Apesar disso, há uma diferença<br />

entre o misticismo e a religião. O primeiro, ao contrário<br />

da segunda, identifica-se por ser uma experiência direta<br />

e pessoal com a natureza divina sem intervenção de dogmas,<br />

buscando uma comunhão do homem consigo mesmo.


foto: Ana Nepomuceno<br />

Através da música muitos encontram um caminho para<br />

manifestar sua fé. A devoção está acompanhada por instrumentos<br />

e canções. Os sons místicos podem ser um intermediário<br />

para alcançar a divindade, ao mesmo tempo temos escolha<br />

de qual repertório ouvir, sem intervenção de um líder para<br />

guiar nossas vontades.<br />

Cantores, bandas brasileiras e estrangeiras tiveram forte<br />

influência mística em seu trabalho. Na década de 70, foi através<br />

de seu som que Raul Seixas, o Raulzito, ultrapassou o lado<br />

comercial da música em seus shows. Considerado maluco por<br />

muitos, ele foi primordial para despertar o interesse de seus fãs<br />

no misticismo e em pensamentos da linha esotérica.<br />

O cantor vivia sem regras e acreditava em uma Sociedade<br />

Alternativa. Sua intenção era proporcionar pela música uma<br />

revolução interna do ser humano, sugerindo que as pessoas<br />

fossem livres para seguir seus próprios caminhos. As canções<br />

de Raul buscavam transmitir conhecimentos ocultos do membro<br />

da Ordem Hermética da Aurora Dourada Aleister Crowley,<br />

o que despertou a atenção de muitos para o seu estilo.<br />

Poder da música<br />

Toninho Buda, amigo de Raul Seixas, relata que seu interesse<br />

em participar do movimento da Sociedade Alternativa<br />

iniciou-se ao ver que os conhecimentos ocultos de Aleister Crowley<br />

eram transmitidos pela música. Ele entrou no movimento<br />

da época junto com Raul e o escritor Paulo Coelho.<br />

A atual relação de Toninho com o misticismo é emocionalmente<br />

a mesma. Ele fala que sua interação com o Mistério continua<br />

sendo de contemplação, mas que sempre foi cético com<br />

relação a qualquer tipo de organização humana, consequência<br />

de suas decepções com a sociedade.<br />

Ao falar da música mística como busca do autoconhecimento,<br />

o escritor acredita que não existe o fenômeno isolado.<br />

Ele enxerga a vida como uma teia de inter-relações. Segundo<br />

Toninho, a gente ouve uma música e correlaciona com alguma<br />

coisa intrínseca, que talvez nem saibamos direito o que é, pois<br />

há presença muito forte do subconsciente, conteúdos que jamais<br />

acessaremos por completo.<br />

É difícil medir a influência da música, já que ela pode causar<br />

diferentes sensações em cada um. Enrico Mencarelli, estudante<br />

de jornalismo e músico, acredita no poder dos sons<br />

sobre as pessoas, e que ele é tão ou mais influente que a visão.<br />

Exatamente pelo fato de não ser visto, o som tem um aspecto<br />

subjetivo muito forte, diferente para cada imaginação. Ele<br />

também compreende a música como instrumento para relaxar,<br />

melhorar a concentração e o aprendizado, até mesmo curar.<br />

Jan Rodrigues, estudante de engenharia ambiental, também<br />

acredita no poder da música. Ele afirma que a melodia<br />

pode levar a outra dimensão, produzindo sensações únicas. A<br />

ligação com as práticas místicas lhe trazem paz interior, algo<br />

que segundo ele está cada vez mais difícil de sentir nos dias<br />

de hoje.<br />

O mantra, sílaba ou um poema religioso, normalmente escrito<br />

em sânscrito é utilizado como técnica para facilitar a meditação<br />

e concentração, para energizar, para adormecer, despertar<br />

ou até mesmo desenvolver chakras (centros enérgicos<br />

dentro do corpo humano). Jan utiliza o mantra como meio de<br />

comunicação com seu Deus e afirma que por meio da canção<br />

sua alma é levada até a divindade, sendo assim purificada.


Sons do misticismo<br />

A interação que o músico estabelece com seu público pode<br />

ser muito forte, dependendo das trocas que acontecem entre<br />

um e outro. Raul queria uma revolução interna do ser humano.<br />

Outros cantores e bandas, não com a mesma intenção mas<br />

usando também da inspiração do misticismo, envolveram fãs<br />

que puderam ter acesso a esses conhecimentos através das<br />

canções. E não é difícil perceber que cada conjunto teve uma<br />

relação sentimental que o motivasse a escolher tal estilo musical.<br />

Nando Reis, cantor e compositor brasileiro, não possui<br />

uma religião, mas se diz adepto à beleza das coisas da natureza<br />

como uma manifestação divina, colocando também seus filhos<br />

e família como parte deste sentimento. Em entrevista ao blog<br />

Vya Estelar, ele explica que a canção “O Segundo Sol” foi inspirada<br />

em um texto esotérico no qual se falava no surgimento<br />

de outra estrela.<br />

O cantor diz que a expressão pode também ser interpretada<br />

como uma metáfora de uma relação amorosa. Nas palavras do<br />

compositor, “uma pessoa pode ter um segundo sol na vida”.<br />

Sua música “Mantra” conta com instrumentos próximos daqueles<br />

usados na Índia e da expressão Hare Krishna, que significa<br />

invocação direta a Deus, em amor e devoção.<br />

O oitavo álbum de estúdio da banda britânica Pink Floyd,<br />

“The Dark Side of the Moon” (1973) possuía características<br />

místicas e psicodélicas, que tornaram as músicas especiais pela<br />

diferente sensação causada nos fãs. O sentimento transmitido<br />

pelas canções do disco era de angústia humana, solidão, morte.<br />

O trabalho do conjunto musical foi marcado pela inspiração<br />

da banda com Syd Barret, um dos fundadores do Pink Floyd.<br />

Devido ao uso contínuo de drogas, o membro do grupo ficou<br />

mentalmente fragilizado e demonstrava sua indignação com<br />

a sociedade. A tradução do título da obra é “O lado escuro da<br />

lua”, fazendo alusão ao lado negro que todo humano possui.<br />

Outro famoso que se identificou com o mundo místico foi<br />

George Harrison, guitarrista dos Beatles. O músico se envolveu<br />

com a cultura indiana e o hinduísmo na década de 60, disseminando<br />

e expandindo instrumentos como a cítara, muito<br />

utilizada para meditação. O misticismo indiano se tornou elemento<br />

presente nas músicas da banda, apresentando um estilo<br />

diferente ao público do Ocidente.<br />

“The Inner Light” foi a primeira canção de George Harrison<br />

em um single dos Beatles. A parte instrumental da música foi<br />

gravada em Bombaim, na Índia, com vários músicos indianos<br />

utilizando instrumentos locais. Considerado o membro mais<br />

“quieto” da banda, George possuía interação com o espiritualismo<br />

místico.<br />

O que conecta estas bandas e cantores é a relação sensitiva<br />

com a música que a faz ser diferente e causa emoções diversas<br />

nos fãs. Pode ser o fato de a sensação não passar pela razão, de<br />

ter uma lógica “sensível”, não depender da linguagem. Gilles<br />

Deleuze, filósofo francês, afirma que a sensação é o que atinge<br />

o sujeito na relação com uma obra de arte, o mesmo pode ser<br />

pensado para a melodia.<br />

A música nos atinge de uma forma inimaginável e a busca<br />

dos sentimentos através do misticismo e dos sons nos permite<br />

desfrutar de experiências intuitivas. O interessante é se deixar<br />

levar pelo som e permitir novas experiências, isso é sentir.


Infografico<br />

Texto: Alexandre Anastácio<br />

Arte: César Diab


^<br />

ˆ<br />

˜<br />

A frase como protagonista. Esse<br />

estilo valoriza as rimas, trovas,<br />

versos em suas canções. Também cria<br />

terreno para improvisação vocal.<br />

Tendência que percorreu<br />

caminhos da múscia negra e,<br />

sobretudo, originou seu próprio estilo<br />

musical lançando luz sobre uma<br />

época.<br />

Danças singulares marcaram<br />

esse modo de ser da música. Uma<br />

representação corpórea do som que<br />

rompe com o passado em busca do<br />

novo.<br />

Estilo com alto nível de execução<br />

por parte dos instrumentistas.<br />

Caminhos para o improviso são<br />

férteis nessa corrente da música.


Opinião<br />

A paz contra o povo<br />

Texto: Jessica Clifton<br />

<strong>Edição</strong> Gráfica: Ana Luiza Batista<br />

Foto: Isadora Faria


O rap, música provinda<br />

do movimento Hip Hop, no<br />

ocidente é a voz dos marginalizados,<br />

geralmente negros e<br />

moradores das periferias, que<br />

contam seu sofrimento através<br />

das letras que falam sobre<br />

drogas, violência, problemas<br />

sociais, política e narram as<br />

dificuldades da população<br />

menos favorecida. O Oriente<br />

Médio também adotou esse<br />

estilo para dar voz as suas<br />

dificuldades, como guerras,<br />

falta de liberdade de expressão<br />

e problemas comuns aos<br />

jovens.<br />

Esse estilo musical teve<br />

seu início na década de 1960<br />

na Jamaica e se popularizou<br />

na década de 1970 nos Estados<br />

Unidos. Posteriormente o<br />

rap inseriu-se em outras culturas,<br />

mesmo com o preconceito<br />

existente em relação ao<br />

estilo musical, considerado<br />

por boa parte da população<br />

como uma música violenta e<br />

vinda da periferia. A partir do<br />

final da década de 1990 surgiu<br />

o rap árabe, com destaque<br />

para o rap palestino narrando<br />

o conflito entre Israel e Palestina.<br />

Em entrevista concedida a<br />

agência AFP, em 2006, o cantor<br />

de rap palestino Mohammad<br />

alega que, no início, as<br />

pessoas pensavam que os rappers<br />

palestinos queriam ser<br />

como os rappers americanos,<br />

principalmente por causa das<br />

roupas. Mas depois dos primeiros<br />

shows em Gaza, no<br />

início dos anos 2000, o estilo<br />

se difundiu na região.<br />

A influência ocidental foi<br />

adotada por se tratar do ritmo<br />

musical das pessoas que<br />

sofrem e, ao contrário das<br />

músicas tradicionais árabes, o<br />

rap é livre e toca diretamente<br />

seus ouvintes com letras fortes.<br />

Os palestinos mostram<br />

como são discriminados. O<br />

mundo ocidental os vê como<br />

terroristas, mas quem sofre<br />

a violência e o mal-estar são<br />

eles, através dos ataques de<br />

Israel, local cujo exército é financiado<br />

pelo Ocidente.<br />

O grupo Da Arabian MC’s<br />

(DAM), fundado em 1999, foi<br />

o primeiro de rap palestino e<br />

um dos precursores do estilo<br />

no mundo árabe. Em 2001,<br />

teve mais de um milhão de<br />

downloads da música “Min<br />

Irhabi”, tornado-se popular<br />

entre os jovens de todo o<br />

Oriente Médio. As canções do<br />

grupo combinam ritmos árabes<br />

de percussão, melodias<br />

orientais, hip hop urbano, e<br />

narram os dramas vividos pelos<br />

próprios integrantes. Outros<br />

exemplos desse estilo na<br />

Palestina são os grupos Dead<br />

Army, Shadia Mansour, Nizar<br />

Wattad.<br />

Israel tem dinheiro, poder<br />

e apoio das grandes nações, a<br />

Palestina vem perdendo suas<br />

terras e seu povo desde a criação<br />

do estado judeu no local<br />

que, segundo as tradições<br />

de algumas religiões, seria<br />

a “terra sagrada” ou “terra<br />

prometida”. É um absurdo<br />

considerar uma guerra o que<br />

ocorre na região, pois guerra<br />

tem dois lados para lutar.<br />

A Palestina não tem capital,<br />

nem condições de defesa, só a<br />

esperança do povo de ter seu<br />

lugar respeitado, conseguir<br />

alguma qualidade de vida, e<br />

o desejo de que finalmente a<br />

paz seja a favor dos palestinos<br />

após mais de 50 anos de massacre,<br />

assédio, humilhação.<br />

As pessoas do ocidente<br />

desconhecem o lado palestino.<br />

A visão sionista é difundida<br />

pelos Estados Unidos<br />

e Europa através da Organização<br />

das Nações Unidas<br />

(ONU), com a desculpa de reparação<br />

social ao conceder as<br />

terras aos judeus que foram<br />

perseguidos durante a Segunda<br />

Guerra Mundial e assim<br />

marginalizando um povo<br />

que já habitava a região. A<br />

música é a tentativa de mostrar<br />

que quem foi oprimido é<br />

hoje o opressor, e as frases de<br />

rap dos jovens ultrapassam a<br />

arte, elas são os gritos de dor<br />

de um sofrimento contínuo. E<br />

fica no ar a pergunta contida<br />

na tradução do refrão da música<br />

de “Min Irhabi”: “Quem<br />

é o terrorista? Eu sou o terrorista?<br />

Como sou eu o terrorista<br />

quando é você que tomou<br />

minha terra? Quem é o terrorista?”.


Foto ilustração: Ana Malaco<br />

Capa<br />

seja revelando a represao na ditadura ou a desigualdade n<br />

periferia, as cancoes de protesto dao voz as reivindicacoe<br />

da sociedade e acompanham suas transformacoes.


Texto: Adriana Souza<br />

<strong>Edição</strong> gráfica: Lívia Almeida<br />

a<br />

s<br />

O jingle “Vem pra rua” do grupo O Rappa ficou marcado<br />

como trilha musical nas recentes manifestações populares<br />

ocorridas no Brasil, que tiveram como mote central o aumento<br />

das passagens de ônibus. A música, originalmente produzida<br />

para a campanha publicitária de uma marca de automóveis, foi<br />

apropriada pelos manifestantes como hino de protesto devido<br />

sua letra convidativa e simbólica que coincidia com o contexto<br />

da realização de um grande evento esportivo no país.


A relação da música com protestos sociais<br />

é antiga. O termo “canção de protesto”, por<br />

exemplo, ganhou destaque na década de 60 e<br />

desde então tem variado em sua forma e contexto<br />

produtivo. Durante a Ditadura no Brasil,<br />

período marcado por intensa efervescência política,<br />

essas canções externavam uma vontade<br />

de mudar o mundo e politizar as pessoas,<br />

sendo difundidas principalmente por jovens<br />

da classe média brasileira. No pós Segunda<br />

Guerra, no cenário internacional, as canções<br />

de protesto também estiveram presentes na<br />

revolução cubana, na independência da Argélia,<br />

durante a guerra antiimperialista no Vietnã<br />

e nas lutas anticoloniais na África.<br />

Em junho de 2013, o Brasil apresentou<br />

imagens poéticas (termo usado pelo historiador<br />

Marcos Napolitano para se referir às<br />

ideias utópicas captadas nas letras de canções<br />

de protesto), como na década de 60. “A crença<br />

no poder da canção e do ato de cantar para<br />

todo mundo ouvir; A denúncia e o lamento de<br />

um presente opressivo além da crença na esperança<br />

de um futuro libertador’’. Como complementa<br />

o produtor musical Alex Gomes, “A<br />

música é a forma mais simples de atingir a<br />

massa, que movida por um mesmo sentimento,<br />

transforma-se num forte elemento capaz<br />

não só de influenciar, mas de transformar a<br />

sociedade, no caso fortalecer os protestos”.<br />

Alguns estudiosos acreditam que não é<br />

necessariamente o momento histórico que<br />

determina a existência dessas canções, mas<br />

também o lugar de onde elas vêm. A pluralidade<br />

que o termo “canção de protesto” atingiu<br />

está relacionada à apropriação das canções de<br />

protesto por vários grupos sociais que lutam<br />

por diferentes causas no cotidiano. O doutor<br />

em Multimeios Eduardo Paiva, professor no<br />

departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação<br />

da UNICAMP, afirma, “cada grupo<br />

social hoje tem a sua canção de protesto. O<br />

pessoal da periferia, por exemplo, tem o rap.<br />

Acredito que não existe uma canção de protesto<br />

como a de 1960 que consiga juntar todas<br />

as tribos”.<br />

Ilustração: Lívia Almeida<br />

“Nao adianta olhar pro<br />

Com muita fe e p<br />

No Brasil, letras e estilos<br />

O texto do manifesto do Centro Popular de<br />

Cultura (CPC), organização associada à União<br />

Nacional dos Estudantes (UNE), dizia, em<br />

1962, que o intelectual deveria aproximar-se<br />

das massas com o intuito de levar até elas a<br />

consciência política capaz de superar o estado<br />

de alienação e de produzir a partir de elementos<br />

da própria cultura do povo a verdadeira<br />

“arte popular revolucionária.”.<br />

Levanta aií que voceê tem<br />

E muita gre


“Nos estamos aqui para revolucionar a MPB,<br />

pra pintar de negro a asa branca,<br />

atrasar o trem das onze, pisar nas flores do<br />

Geraldo Vandre,<br />

e fazer da Amelia uma mulher qualquer.”<br />

Clemente Tadeu<br />

ceu<br />

ouca luta<br />

muito protesto pra fazer<br />

ve, vocE pode, voceê deve, pode crer”.<br />

Gabriel o pensador


Para o professor Eduardo Paiva, os elementos<br />

usados nas canções de protesto retratam<br />

o momento político em que a música está<br />

inserida e funcionam como meio canalizador<br />

de informação. Nas letras, a apropriação de<br />

vivências próximas a realidade social do público<br />

tem a finalidade de fortalecer os laços<br />

entre a música e as pessoas e disseminar determinadas<br />

mensagens.<br />

Com o Golpe de 64 e o acirramento da<br />

repressão política e cultural a partir de 1968<br />

no Brasil, nomes como Chico Buarque, Geraldo<br />

Vandré, Caetano Veloso e outros artistas,<br />

através de suas músicas, criticavam o abuso<br />

de poder e a violência, além de gritarem palavras<br />

de ordem que mobilizaram a sociedade<br />

a lutar por seus direitos. Canções como “Cálice”<br />

(1973), “Pra não dizer que não falei das<br />

flores” (1968) e “É proibido proibir” (1968),<br />

as duas últimas marcos do Festival Internacional<br />

da Canção promovido pela Rede Globo,<br />

entraram para a história deste período.<br />

Em 1985, durante a campanha das “Diretas<br />

Já”, a banda punk Plebe Rude perguntava<br />

em suas canções o que todos queriam<br />

saber: Afinal, até quando esperar para eleger<br />

o presidente?”. E o rock do Ultraje a Rigor,<br />

ironizava os militares com a canção intitulada<br />

“Inútil”.<br />

Na década seguinte, um pernambucano<br />

que misturava diferentes ritmos<br />

como o maracatu e a música eletrônica<br />

criou o gênero chamado<br />

“mangue beat”. Chico Science,<br />

líder da banda Nação Zumbi,<br />

popularizou canções<br />

que traziam nas letras<br />

a mensagem de insatisfação<br />

com os<br />

problemas do<br />

governo da<br />

época. “A<br />

cidade<br />

n ã o<br />

pára, a cidade só cresce, o de cima sobe e o<br />

debaixo desce” ou “E no meio da esperteza<br />

internacional, a cidade até que não está tão<br />

mal, a situação sempre mais ou menos, sempre<br />

uns com mais e outros com menos” são<br />

versos da letra de “A cidade”, lançada pelo<br />

cantor em 1994.<br />

No início deste século, a canção “Até<br />

Quando” (2001), de Gabriel O Pensador, também<br />

é um exemplo de mistura de ritmos para<br />

criticar a realidade. “Ela utiliza elementos de<br />

música brasileira, como uma levada de samba<br />

no início, que nos faz entender que esses problemas<br />

se passam no Brasil”, diz Bruno Mantovani,<br />

produtor musical. O primeiro verso da<br />

canção é direto: “Não adianta olhar pro céu<br />

/ Com muita fé e pouca luta / Levanta aí que<br />

você tem muito protesto pra fazer / E muita<br />

greve, você pode, você deve, pode crer”.<br />

Contagiados pelo clima das recentes<br />

manifestações em junho de 2013 no Brasil,<br />

muitos músicos criaram canções específicas<br />

para o momento. Entre eles, Leoni, com “As<br />

coisas não caem do céu”, menciona nas redes<br />

sociais, que só a ação modifica o mundo<br />

e que as pessoas nas ruas foram capazes de<br />

dizer isso de forma impactante e convincente.<br />

E Tom Zé, em “Povo Novo”, cuja letra fala de<br />

uma nova geração que sai às ruas para clamar<br />

seus direitos, um pouco retraída, mas que<br />

sabe o que quer.<br />

A trajetória histórica que liga movimentos<br />

sociais importantes a canções de protesto<br />

serve de base para vários questionamentos e<br />

associações. Matheus Nere, estudante de Direito<br />

e militante político na Assessoria Jurídica<br />

Universitária Popular da UFMG (AJUP-<br />

UFMG), lembra o atual “Movimento Passe<br />

Livre” no Brasil: “muitas das músicas e pautas<br />

se parecem e até resgatam a identidade<br />

ideológica que outrora (como nos anos 60)<br />

era mais intensa”.<br />

Protesto para quem?<br />

Um impasse marca a produção de canções<br />

de protesto. De um lado a vontade de denunciar<br />

os crimes cometidos pelas classes dominantes<br />

do sistema capitalista e, de outro, a<br />

subordinação a este sistema que vende tais<br />

produções. No meio desse dilema, estão<br />

os músicos e as bandas. O professor<br />

Eduardo Paiva se lembra de uma exceção<br />

na história das canções de<br />

protesto e da indústria da música.<br />

“Existe uma entrevista dos<br />

Rolling Stones na década de<br />

60 em que Mick Jager fala<br />

do rompimento com a<br />

gravadora porque eles<br />

não tinham liberda-


de para se<br />

manifestar<br />

contra a indústria<br />

de venda de<br />

radares para a Guerra<br />

do Vietnã, que tinha uma<br />

ligação com a gravadora”.<br />

Em contrapartida, o produtor<br />

musical Augusto Pereira aponta<br />

o grande interesse dos cantores de 60<br />

em atrelar-se à denominação Música Popular<br />

Brasileira (MPB) para conseguir mais<br />

ouvintes e vender mais discos. Segundo ele,<br />

a regra era: “Voz e violão, compassos lentos,<br />

tranquilos, com rimas repetitivas, com muitos<br />

‘ão’, no formato de um hino, coisa fácil<br />

de decorar.” Assim, muitas “canções de protesto”<br />

foram apropriadas pela indústria fonográfica<br />

como “canções de protesto da MPB”.<br />

A receita de produção era simples e os lucros<br />

das vendas iam além dos dizeres nas manifestações.<br />

O estudante Matheus Neres, que já<br />

milita há alguns anos em movimento social,<br />

concorda com a regra descrita acima e afirma<br />

que essa lógica permanece. “As canções<br />

se tornam hino quando são reiteradamente<br />

utilizadas nas manifestações, e quando conseguem<br />

ser aprendidas com facilidade”, diz.<br />

Na maioria das vezes, os interesses da<br />

indústria fonográfica e/ou dos cantores não<br />

permitem que algumas canções sejam vistas<br />

como protesto devido ao preconceito com<br />

bandas rotuladas como bregas, satânicas, ou<br />

consideradas disseminadoras de apologia ás<br />

drogas, sexo e violência. O grupo de heavy<br />

metal Iron Maiden, por exemplo, usa na canção<br />

Clansman metáforas para falar do abuso<br />

de poder, da exploração e dos problemas de<br />

uma sociedade caótica.<br />

O movimento punk da década de 80 também<br />

é uma dessas referências, assim como o<br />

rap, reggae, samba e funk. O mestrando em<br />

história, Eder Novaes, destaca a importância<br />

da banda inglesa The Clash, lembrada por seu<br />

engajamento político para o cenário do punk<br />

brasileiro, que também nasceu nas periferias.<br />

Para ele o ‘protesto’ do punk se faz de maneira<br />

distinta, abarcando outros pontos da sociedade<br />

brasileira, como a desigualdade decorrente<br />

do excesso de privilégios pelas classes<br />

dominantes. Além disso, o punk queria revolucionar<br />

a música, como visto na canção de<br />

Clemente Tadeu Nascimento, do grupo Inocentes<br />

“Nós estamos aqui para revolucionar a<br />

MPB, pra pintar de negro a asa branca,atrasar<br />

o trem das onze, pisar nas flores do Geraldo<br />

Vandré, e fazer da Amélia uma mulher qualquer.”<br />

Estudiosos<br />

como<br />

Marcos Napolitano<br />

e Fábio Zan acreditam<br />

que a realidade social<br />

faz as próprias classes desfavorecidas<br />

começarem a usar a música<br />

como protesto. Muitos artistas da nova<br />

geração da música de protesto se envolvem<br />

diretamente em ações sociais e alegam que a<br />

corrente atual é uma música política de resultados,<br />

não de utopias como viveram os jovens<br />

de 60. O historiador Luiz Carlos Maciel<br />

acredita que a origem pobre desses artistas<br />

justifica sua participação social mais objetiva.<br />

Em matéria do portal CliqueMusic da Uol,<br />

Mv Bill afirma ter o projeto de montar cursos<br />

profissionalizantes na Cidade de Deus e é um<br />

dos fundadores do Partido Popular Poder para<br />

a Maioria (PPPomar), um partido político do<br />

movimento negro. Já o grupo O Rappa é citado<br />

na mesma matéria por ter uma conhecida<br />

relação com a FASE (Federação de Órgãos<br />

para Assistência Social e Educacional), divulgando<br />

o trabalho da ONG. Na Bahia em 1983,<br />

surgiu o Afroreggae, um grupo que produzia<br />

um jornal sobre cultura negra e ao longo do<br />

tempo se transformou em uma ONG fortemente<br />

ativa ,além de atuar como banda.<br />

Com isso, as canções de protestos das periferias<br />

serviram para re-significar o termo apresentando<br />

os problemas locais e contribuindo<br />

para solucionar suas carências através de projetos<br />

sociais.<br />

Lugares marginalizados definem por si só<br />

a letra dessas canções, mostrando que elas<br />

ganharam forma e significados ao longo dos<br />

anos e não se fizeram presente somente em<br />

períodos emblemáticos da história. A canção<br />

de protesto é portanto a voz que em diferentes<br />

timbres reclama o esquecimento e os direitos<br />

de um povo. Um grito encantado que<br />

deve continuar fazendo história, ajudando a<br />

transformar a realidade.


Ensaio Fotográfico


Foto<br />

Foto e Texto:<br />

Núbia<br />

Núbia<br />

Cunha<br />

Cunha<br />

<strong>Edição</strong><br />

<strong>Edição</strong> gráfica:<br />

Arthur<br />

Arthur<br />

Rosa<br />

Rosa<br />

Modelos:<br />

Douglas<br />

Douglas Gomes,<br />

Giovanna<br />

Giovanna<br />

de<br />

de<br />

Guzzi,<br />

Marianna<br />

Marianna Leonel,<br />

Richard<br />

Richard<br />

Dias<br />

Dias e<br />

Thaís<br />

Thaís<br />

Moreira<br />

Moreira<br />

A música por diversos momentos serve como inspiração para<br />

estilistas criarem e recriarem tendências. O estilo grunge, que<br />

surgiu no final dos anos 1980, como marca registrada das bandas<br />

de rock underground de Seattle, ainda hoje é resgatado pelo<br />

mundo da moda: camisetas de bandas, calças rasgadas, casacos<br />

amarrados na cintura, estampas xadrez e coturnos. O espírito do<br />

grunge no universo fashion se modernizou com elementos como<br />

tachas, coletes, gorros e botinhas, atualizando o despojamento já<br />

característico ao movimento.


Papo Reto<br />

B<br />

A<br />

R<br />

B<br />

A<br />

Corpo que se move, se diz, se cria, surpreende, estala,<br />

embola<br />

Corpo que se envolve, remexe, ecoa , rebola, arrepia<br />

Corpo que seduz... TUM, PÁ, PLAFT!<br />

Corporifique!<br />

Essas palavras buscam demostrar um pouco da identidade<br />

do grupo Barbatuques, que há 17 anos foi fundado pelo<br />

músico Fernando Barba. O grupo era composto por<br />

estudantes de música que se propuseram a criar algo novo,<br />

que poderia parecer impensável: utilizar o próprio corpo<br />

como instrumento musical! Hoje, os 15 artistas ultrapassam<br />

as barreiras culturais e ganham espaço no cenário musical<br />

brasileiro e mundial. Neste bate-papo, três deles, que estão<br />

no grupo desde o início, falam sobre a trajetória irreverente<br />

do Barbatuques.<br />

U<br />

T<br />

Q<br />

Como surgiu o grupo?<br />

Lú Horta: O grupo surgiu da iniciativa do Fernando Barba,<br />

que é um diretor musical, e que tinha uma mania incrível de<br />

fazer ações com o corpo. A gente se reuniu em 1996, como um<br />

grupo de estudo, em um primeiro momento. Todos nos conhecemos<br />

na faculdade de música. O Barba começou a organizar e<br />

dividir o corpo humano nas diferentes frequências, organizando<br />

diferentes levadas. Ele começou a traduzir ritmos brasileiros<br />

pensando o corpo humano como uma bateria.<br />

Marcelo Pretto: No começo, o foco era oficina. O pensamento<br />

de todos os integrantes do grupo não era de fazer música no<br />

sentido de ser um grupo musical. Era uma turma de uma oficina<br />

que tinha laços afetivos entre si.<br />

Lú Horta: E aí foi que o Barbatuques decolou como grupo<br />

artístico mesmo. Nasceu assim!<br />

U<br />

E<br />

Texto: Joyce Afonso e Tamara<br />

Martins<br />

<strong>Edição</strong> gráfica: Isadora Rabello<br />

Fotos: Laura Ralola<br />

Por que trabalhar especificamente com percussão corporal?<br />

Marcelo Pretto: O Barba teve essa ideia inicial. Agora, você se<br />

dar conta de que isso é uma linguagem e que tem uma gama<br />

de coisas, que é possível fazer música só com aquilo é muito<br />

positivo. A percussão corporal é curiosa, ela é ancestral, mas<br />

nunca foi usada sistematicamente, de um grupo pegar e fazer,<br />

então também era um desafio, mas a gente estava se lançando,<br />

foi uma proposta completamente nova.<br />

S


Então vocês são pioneiros no Brasil?<br />

Lú Horta: Acho que a gente é pioneiro nessa visão de pegar a<br />

linguagem musical original, do jeito que ela é tradicionalmente.<br />

Você pensa as propriedades da música e as frequências em<br />

todos os termos da linguagem musical tal qual você pensaria<br />

para um instrumento, transportando esse código para o corpo.<br />

Eu nunca vi nenhum outro grupo fazer isso.<br />

Marcelo Pretto: Fica engraçado, porque a gente brinca que<br />

não é dono da percussão corporal. Mas, somos pioneiros, sim,<br />

dentro de uma linguagem. Se for considerar o que é o Barbatuques,<br />

a gente é muito pioneiro!<br />

Em algumas entrevistas vocês já ressaltaram que fizeram<br />

mais apresentações no exterior do que no Brasil. A que vocês<br />

atribuem isso? Vocês acreditam que fora do país a música<br />

experimental tem mais espaço?<br />

Lú Horta: Não foi um acaso total, às vezes é uma questão de<br />

estrutura também. É que a gente tem uma estrutura muito<br />

grande, é difícil chegar a lugares mais simples. Isso exclui locais<br />

que adoraríamos estar no Brasil e não conseguimos chegar.<br />

Marcelo Pretto: Quando você chega a um lugar diferente,<br />

sente-se perdido com a cultura. Com a língua, então, nem se<br />

fala! Aí bastou você fazer isso aqui (barulho de palma, boca e<br />

dedos), que se abre aquele sorriso no qual você atravessa uma<br />

ponte cultural impressionante. Então o Barbatuques prescinde<br />

da palavra, você não precisa da palavra. Isso é fantástico,<br />

chegar a qualquer lugar do mundo, não mudar seu show, não<br />

traduzir. Ele ser o mesmo e a gente não ter pensado nisso. Isso<br />

que é o mais legal! Ele é assim, tem essa característica.<br />

O último álbum de vocês, o “Tum Pá” é o primeiro de cunho<br />

infantil. Por que vocês decidiram gravar um álbum para esse<br />

público?<br />

Marcelo Pretto: Essa demanda surgiu, principalmente, porque<br />

o grupo sempre se deu muito bem com as crianças. A gente<br />

foi sentindo isso. No dia em que começamos a prudzir música<br />

infantil, falo por mim, foi maravilhoso! E aí é mais outro<br />

ingrediente para essa paixão.<br />

Lú Horta: Mas é isso. Desde o início do grupo, o carinho foi<br />

imediato com as crianças. A linguagem já é lúdica em si. A<br />

única diferença de foco foi o repertório, né?! Você falar mais<br />

próximo, mais diretamente à linguagem das crianças.<br />

É perceptível que vocês têm influência de vários estilos<br />

musicais. Então, como se dá esse processo criativo? Como o<br />

grupo chega a um consenso?<br />

Dani Zulu: (Risos) O Barba geralmente chega, não em todas,<br />

mas ele chega com uma música pré-construída e a gente vai<br />

fazendo os arranjos juntos, tendo ideia, partindo de uma coisa<br />

que a gente está vivenciando. Aí também tem a proposta, depende<br />

de como a música vem.<br />

Lú Horta: O processo criativo, em si, é essa química, entendeu?<br />

Às vezes a gente se estapeia. Um acha uma coisa, outra<br />

acha outra coisa. Às vezes, um vem com uma ideia já mais ou<br />

menos pronta e todo mundo contribui. Às vezes, a ideia chega<br />

completamente pronta e a pessoa ensina aos outros a reproduzir<br />

aquilo, mas mesmo que chegue pronto, todo mundo cria<br />

junto e dá opinião. É um caldeirão, assim!<br />

Como vocês definiriam essa música que fazem?<br />

Dani Zulu: A gente até começou falando percussão corporal.<br />

“Hoje em dia eu considero que a gente faz mais uma música<br />

corpórea.<br />

Marcelo Pretto: Música feita com o corpo, música corporal.<br />

Tudo pode ser feito, não é um estilo, pelo contrário, é a possibilidade<br />

de todos os estilos. Inclusive na nossa cabeça, no nosso<br />

gosto musical que quer ouvir de tudo e quer aprender. Então, o<br />

que é comum a tudo isso? É a música que é feita com o corpo.<br />

Lú Horta: É, existe um termo que é “música orgânica”, mas,<br />

em outras palavras, é a música do corpo. Para mim o que é<br />

mais fascinante nessa linguagem é o fato de que se convocam<br />

todas as dimensões do ser. Não adianta ter um corpo que mecanicamente<br />

está funcionando para aquilo se você não está<br />

emocionalmente conectado, se intelectualmente você. Não<br />

entrou na “viagem” de colocar o pensamento nesse trabalho.<br />

Então, acho que é a música de um corpo animado com a alma.<br />

Para ver e ouvir o grupo acesse: http://www.barbatuques.com.br


Perfil


Mil tons de um<br />

sanfoneiro<br />

Texto: Filipe Barboza<br />

<strong>Edição</strong> gráfica: Bárbara Costa<br />

Fotos: Bruna Silveira<br />

Por telefone, ele não me passou o endereço<br />

completo. Com a referência de que a sua moradia<br />

“é a única da vizinhança que tem uma<br />

porteira na entrada”, chego ao movimentado<br />

e populoso bairro Cabanas, em Mariana, com<br />

a impressão de que encontraria dificuldades<br />

em procurar a casa do sujeito. Ao adentrar<br />

na região, percebo que a referência dada está<br />

suficientemente adequada, já que não foi tão<br />

complicado assim descobrir uma grande porteira<br />

de madeira em uma região de características<br />

urbanas.<br />

Entro no terreno e, logo de cara, vejo galinhas,<br />

patos, cachorros e um cavalo branco<br />

arreado. A princípio penso que estou em um<br />

sítio ou, como se diz, em um rancho bem distante<br />

de tudo. Observo atentamente o ambiente<br />

na tentativa de encontrar uma boa<br />

expressão para descrever o recinto, até que<br />

o homem, que se aproxima para me receber,<br />

comenta: “eu moro em uma espécie de roça<br />

dentro da cidade”.<br />

Quem diz a frase é Milton, 43, o sanfoneiro<br />

mais conhecido do município. Ele, que mora<br />

em um recanto rural no meio de um bairro<br />

agitado e que nos finais de semana costuma<br />

rodar a região com animadas apresentações<br />

musicais, tem um sugestivo nome artístico.<br />

“Nos lugares que eu ia tocar, todo mundo me<br />

via com a sanfona na mão. Então começaram<br />

a falar ‘Milton Sanfoneiro’... ‘Milton Sanfoneiro’...<br />

até que pegou. Hoje, se perguntarem<br />

aqui na cidade sobre Milton Ângelo Martins,<br />

ninguém sabe quem é, mas todo mundo conhece<br />

ou já ouviu falar de Milton Sanfoneiro”,<br />

conta o artista.<br />

Milton, que toca sanfona desde os cinco<br />

anos de idade (aprendeu com o pai na cidade<br />

natal de Diogo de Vasconcelos – localizada a<br />

cerca de 50 km de Mariana), faz de tudo um<br />

pouco dentro do rancho arrendado. Cria, compra<br />

e vende animais, trabalha como domador<br />

de cavalos e também aproveita para ensaiar<br />

sozinho (ou com outros músicos), de vez em<br />

quando, na varanda de sua casa. “Os vizinhos<br />

nunca reclamaram, até porque eu sei onde<br />

posso ir com o som. Aliás, o que acontece, na<br />

maioria das vezes, é o oposto. Quando se inicia<br />

o ensaio, começa a chegar gente para acompanhar”,<br />

relata.<br />

Se pudesse o sanfoneiro só viveria de música,<br />

mas ele sabe que não é tão simples assim.<br />

“A gente toca muito em determinados<br />

períodos do ano, como junho, julho e agosto,<br />

devido à quantidade de festas na região. Tem<br />

época que essa demanda diminui. Por isso é<br />

preciso correr atrás de outras coisas”.<br />

A luta não é em vão, afinal de contas,


Milton tem dois filhos: Pedro Henrique, nove<br />

anos, fruto do primeiro casamento, e Milton<br />

Junior, um ano e quatro meses, do seu atual<br />

relacionamento. Pedro não mora com o pai,<br />

mas passa todos os finais de semana no rancho.<br />

É direto quando perguntado se vai seguir<br />

também a carreira musical: “Não gosto de<br />

tocar não. Meu pai tentou me ensinar, eu até<br />

gostei uma vez, mas depois nunca mais gostei.<br />

Eu quero ser dançarino de Hip Hop, dança de<br />

rua. Sei muito já”, afirma o menino enquanto<br />

ensaia timidamente alguns passos. Observando<br />

o filho, o sanfoneiro pondera: “Eu gostaria<br />

que ele aprendesse a tocar, porque a música<br />

faz bem pra alma, faz bem pra tudo, mas não<br />

posso obrigá-lo”.<br />

O tom profissional da<br />

música<br />

Quatro dias após o primeiro encontro, retorno<br />

à residência de Milton em uma noite de<br />

ensaio com o objetivo de ver (e ouvir) como<br />

funciona, na prática, o forró. O sanfoneiro<br />

puxa no seu acordeom branco – com o acompanhamento<br />

da dupla sertaneja Ronei Costa<br />

e Fabiano – a canção “Do jeito que a moçada<br />

gosta”, famosa nas vozes de Zezé de Camargo<br />

e Luciano.<br />

Em shows, geralmente, os três músicos<br />

sobem ao palco com uma sanfona e dois violões.<br />

Um contrabaixista, contratado pelo trio,<br />

completa a banda. Mas isso se altera de acordo<br />

com o propósito da festa. Milton para o ensaio<br />

para me explicar esse processo. “A estruturação<br />

da banda varia muito. Em apresentações<br />

menores costumam ir quatro músicos, mas,<br />

se a festa for maior, a gente coloca baterista e<br />

tecladista. E, se o contratante quiser, tem jeito<br />

até de acrescentar dançarinas”, ressalta.<br />

Se a quantidade de músicos que sobem no<br />

palco vem ao gosto de quem contrata e paga o<br />

espetáculo, a escolha das músicas fica a cargo<br />

do público. O sanfoneiro, que não tem repertório<br />

próprio (nem composições registradas),<br />

faz exibição de canções que vão de Luiz Gonzaga<br />

e Gino e Geno a Gusttavo Lima e Victor<br />

e Leo. “O meu estilo é o forró. O que eu gosto<br />

mesmo é de puxar um xote, um forró pé-deserra,<br />

daqueles bem dançantes. Mas a gente<br />

tem que tocar o que está na moda também, o<br />

que passa nas rádios. E se o povo pede o sertanejo<br />

universitário, não podemos deixar de<br />

fazer”, afirma o versátil músico.<br />

Milton Sanfoneiro toca e canta em festas<br />

particulares e públicas. Casamentos, batizados,<br />

cavalgadas, rodeios, quadrilhas, ou seja,<br />

onde couber a musicalidade dos foles e baixos<br />

da sua bela sanfona, o músico entra sem<br />

fazer feio. E para provar que é “pau pra toda<br />

obra”, ele conta que realizou, no início da década<br />

passada, um grande show na exposição<br />

agropecuária de Mariana. A apresentação fez<br />

tanto sucesso que chegou aos ouvidos do cantor<br />

Sérgio Reis. Este, em uma atitude muito<br />

elegante, fez questão de chamar o sanfoneiro<br />

para tocar algumas canções na noite seguinte<br />

da festa. “O Sérgio Reis falou assim no meio


do seu show: ‘Oh gente, alguém aqui conhece<br />

o Milton Sanfoneiro?’ O pessoal começou a<br />

bater palma, gritar meu nome e eu lá no meio<br />

do povo com aquela emoção toda... Aí ele disse<br />

assim: ‘Uai, mas o show aqui é de quem? É<br />

meu ou dele? Por que quando gritei o nome<br />

de Milton Sanfoneiro vocês aplaudiram mais<br />

do que na hora que entrei no palco?’. Ele falou<br />

tudo isso brincando, mas essa brincadeira<br />

marcou a minha vida”, relembra Milton com<br />

a foto do momento em mãos.<br />

De todas essas experiências em apresentações<br />

musicais, o sanfoneiro tem apenas duas<br />

ponderações: não gosta de tocar em barzinho<br />

e nem em casas de show. “Quando eu ia em<br />

barzinho, geralmente, o dono pedia para tocar<br />

músicas que fizesse o povo ficar sentado<br />

tomando chope, mas eu acabava animando o<br />

ambiente com levadas mais agitadas e o pessoal<br />

saía das cadeiras pra dançar”, conta. Já<br />

nas casas de show a história é outra: “nessas<br />

boates, você tem hora para começar, mas não<br />

para terminar. Enquanto tiver chegando gente,<br />

o proprietário quer que você toque, pois a<br />

bilheteria faz o faturamento da casa. Isso desgasta<br />

o músico”, explica.<br />

O tom que agrega<br />

Se Milton tem restrições de tocar em alguns<br />

lugares, no terreno de sua casa a conversa<br />

é outra. Com o solo de acordeom da canção<br />

“Pica pau na madeira”, de Gino e Geno, ele<br />

retoma o animado ensaio ao lado dos amigos<br />

e vizinhos que se aproximam do forró.<br />

O anfitrião prepara o ambiente com muito<br />

carinho. Para beber tem cerveja, refrigerante e<br />

a tradicional cachacinha mineira. E ninguém<br />

fica com fome, pois o músico faz questão de<br />

colocar na mesa uma panela de arroz soltinho,<br />

outra de tropeiro e uma deliciosa leitoa<br />

à pururuca assada ali mesmo, em um forno<br />

de barro.<br />

Música vai, música vem e começo a perceber<br />

naquele ambiente que o ensaio é, na realidade,<br />

uma grande confraternização de gente.<br />

Milton e a dupla Ronei Costa e Fabiano abrem<br />

espaço para outras pessoas puxarem as mais<br />

diferentes músicas. O grupo de amigos toca<br />

Amado Batista, Felipe e Falcão, Falamansa e<br />

o ensaio acontece na melhor improvisação de<br />

todas, quase como uma moda de viola.<br />

Nesse momento, o Milton dos pequenos,<br />

médios e grandes shows (inclusive da memorável<br />

exibição com Sérgio Reis) contracena<br />

com o outro Milton: o sujeito simples que<br />

leva uma vida rural dentro do perímetro urbano<br />

de Mariana. É ali que o prazer de tocar<br />

se confunde com o de bater um bom papo, de<br />

tomar um refrigerante (porque o sanfoneiro<br />

não bebe álcool), de comer uma leitoa à pururuca<br />

e, principalmente, de tratar o outro com<br />

a aquela hospitalidade característica de quem<br />

vive na roça. No final da festança, que teoricamente<br />

seria um ensaio, Milton sintetiza qual<br />

tom representa a música em sua vida: “música<br />

é alegria, te traz novas amizades, você conhece<br />

novos lugares e pessoas. É tudo de bom!”


Contemporâneo<br />

Legislação<br />

em<br />

Update<br />

Texto: Patrícia Botaro<br />

Fotografia: Bárbara Zdanowsky<br />

<strong>Edição</strong> gráfica: Luís Fernando Bráulio<br />

Modelos: Rafael Camara, Tácito Chimato, Marllon Bento<br />

A internet mudou o hábito de quem era acostumado a ouvir<br />

vinis e cds. Temos à nossa disposição várias maneiras de<br />

consumir música, seja executando downloads ou via streaming<br />

(ouvindo sem baixá-las). As novas tecnologias alteraram,<br />

também, a divulgação dos trabalhos dos artistas. Diversas<br />

bandas optam por associar-se a instituições, como o Escritório<br />

Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), que garantem<br />

a proteção de seus materiais, mas há outras que preferem<br />

trabalhar de forma independente. Esses novos hábitos mudam<br />

o cenário da indústria fonográfica, mas a proteção na rede se<br />

faz necessária de modo a assegurar os direitos dos artistas.<br />

Acontece que, no Brasil, ainda não existe uma lei que garanta a<br />

totalidade dos direitos autorais sobre as reproduções musicais<br />

no ciberespaço, apenas a lei de Direitos Autorais Brasileira,<br />

criada em 1998, época anterior às tecnologias que temos hoje.


Paulinho da Viola - Pecado Capital<br />

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Roberto Carlos - Ciúme de você<br />

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“Não tem que ter nada<br />

que impeça cada vez mais a<br />

proliferação de cultura por aí<br />

a fora.” é o que diz Fernando<br />

Anitelli, vocalista do Teatro<br />

Mágico, banda independente<br />

que utiliza a internet como<br />

modo de reprodução e divulgação<br />

de suas músicas. Em<br />

entrevista ao blog Musica x Direitos<br />

Autorais o vocalista conta<br />

que a banda já recebeu convites<br />

de gravadoras para contrato,<br />

mas recusaram, pois<br />

preferem disponibilizar suas<br />

músicas de graça na internet<br />

e nenhuma das propostas incluía<br />

isso.<br />

A banda atribui o sucesso<br />

que conquistou a internet e<br />

aos fãs, que filmam os shows<br />

e postam no site Youtube, além<br />

de baixar as músicas gratuitamente.<br />

A trupe vende seus<br />

cds a R$ 5,00 depois do show<br />

e por R$ 10,00 pelo site. Para<br />

eles o importante é que a música<br />

e a cultura sejam acessíveis<br />

a todos. Fernando chama<br />

isso de “pirataria saudável”.<br />

Uma fã do Teatro Mágico, em<br />

entrevista também para o<br />

blog Musica x Direitos Autorais,<br />

diz que “a essência deles está<br />

em ser um grupo alternativo,<br />

que deu certo e que conquistou<br />

o público por ter seu<br />

material democratizado na<br />

internet.”<br />

Assim como o Teatro Mágico,<br />

várias bandas agem de<br />

forma independente no meio<br />

musical, se associando ou não<br />

a instituições que garantam<br />

seus direitos e optam por liberar<br />

suas obras direto na rede.<br />

O produtor musical e atual<br />

vereador da cidade de Ouro<br />

Preto, Chiquinho de Assis,<br />

também é um artista independente<br />

e concorda com as<br />

bandas que não se associam a<br />

gravadoras, mas diz que não<br />

se deve ignorar a segurança<br />

autoral desses artistas. Hoje,<br />

tais bandas têm uma opinião<br />

sobre associar-se a gravadoras,<br />

mas podem mudar<br />

de ideia depois. “Cito aqui<br />

Bertold Brecht: ‘Onde o ouro<br />

fala, tudo cala’. Nesse caso,<br />

tudo toca, tudo canta”, diz o<br />

produtor.<br />

A Rua da Virada, formada<br />

em 2012, é uma banda de Minas<br />

Gerais independente que<br />

já recebeu proposta da gravadora<br />

Micheli Records, do<br />

Rio de Janeiro. Não fecharam<br />

contrato por não acharem as<br />

propostas interessantes. As<br />

músicas são criadas e adaptadas<br />

por Adner Sena e Rao<br />

Soares, todas registradas no<br />

International Standard Recording<br />

Code (ISRC), ou Código<br />

de Gravação Padrão Internacional<br />

e, em breve, na Biblioteca<br />

Nacional. A divulgação<br />

do trabalho foi feita, inicialmente,<br />

no “boca a boca”. Em<br />

seguida, passaram a disponibilizar<br />

as músicas na internet,<br />

ação que repercutiu de forma<br />

positiva. A banda não se associou<br />

ainda a nenhuma instituição<br />

de arrecadação, mas<br />

Adner diz que em algum momento<br />

isso vai acabar acontecendo,<br />

já que somente desse<br />

modo a legislação prevê retorno<br />

financeiro para os artistas.<br />

Já o grupo In Box, atualmente<br />

associado da UBE<br />

(União Brasileira de Escritores),<br />

tem suas músicas registradas<br />

na Sociedade Brasileira<br />

de Autores Compositores<br />

e Escritores de Música (SBA-<br />

CEM). No início trabalharam<br />

de forma independente<br />

e três anos depois assinaram<br />

contrato com o Midas Music.<br />

Segundo Daniel Fina, baixista,<br />

assinar contrato com<br />

uma gravadora reconhecida<br />

é o “sonho de todo músico”,<br />

por isso optaram por fazê-lo.<br />

A divulgação da banda é feita<br />

basicamente pelo site ou na<br />

sua página no facebook, além<br />

da venda de camisas, canecas,<br />

adesivos e bolsas.<br />

Lei de Direitos<br />

Autorais e<br />

internet<br />

O MySpace é uma rede social<br />

que divulga, de maneira<br />

legalizada, trabalhos de<br />

diversas bandas. A cantora<br />

paulista Malu Magalhães, por<br />

exemplo, ganhou visibilidade<br />

e lançou um cd depois de<br />

divulgar suas músicas nessa<br />

plataforma. Bandas como<br />

o Coldplay e os Guns N’ Roses<br />

também lançaram seus álbuns<br />

“Vila la Vida” e “Chinese<br />

Democracy”, em 2008,<br />

no MySpace, antes mesmo de<br />

colocá-los a venda. O site não<br />

oferece downloads, fazendo<br />

com que o usuário permaneça<br />

ali enquanto escuta a música<br />

e acessa informações sobre a<br />

banda de seu interesse. Além<br />

do MySpace existem outras<br />

maneiras para escutar ou baixar<br />

músicas gratuitamente<br />

como o 4shared, Kboing, Itunes,<br />

Ares, Soundcloud e Last.fm.<br />

Mesmo tão popular, o<br />

MySpace não está livre de fiscalizações.<br />

A gravadora Merlin<br />

Network, uma agência internacional<br />

criada para defender<br />

os direitos das gravadoras<br />

independentes de todo o<br />

mundo no ambiente digital,<br />

cancelou o acordo com o site<br />

no final de 2012. O MySpace<br />

continuou reproduzindo, no<br />

início desse ano, canções no<br />

modo streaming de bandas associadas<br />

a Merlin sem ter seus<br />

direitos renegociados. Segundo<br />

o site Tecmundo, o MySpace<br />

assumiu a culpa e disse que<br />

membros aleatórios foram<br />

responsáveis pelas postagens.<br />

A lei brasileira nº 9.610/08<br />

aprovada em fevereiro de<br />

1998 e que regulariza os direitos<br />

autorais é gerenciada<br />

pela Diretoria de Direitos Intelectuais<br />

do Ministério da<br />

Cultura, o MinC. O advogado<br />

Guilherme Varella, do Instituto<br />

de Defesa do Consumidor<br />

(Idec) disse em entrevista<br />

para o site Portal Brasil, que<br />

essa lei precisa ser reformulada<br />

pelo fato de ter sido<br />

criada fora do ambiente repleto<br />

de tecnologia que temos<br />

atualmente. Segundo ele, se<br />

levarmos em consideração as<br />

normas dos direitos autorais,<br />

estamos agindo errado, já que<br />

hoje usamos a internet com<br />

muito mais frequência para<br />

baixar e trocar conteúdos.


Ultraje a Rigor - Mim quer tocar (Money)<br />

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Cássia Eller - Sabotagem<br />

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A advogada Líbine Christian,<br />

especialista na área criminal,<br />

explica que diferentemente<br />

do que acontece no<br />

Brasil, existem tratados fora<br />

do país que garantem a proteção<br />

no meio digital, como o<br />

WIPO Copyright Treaty (WCT).<br />

O WCT protege os direitos do<br />

autor em todos os programas<br />

de computador, sem importar<br />

como está sendo usado. “A<br />

partir do momento que o Brasil<br />

enxergar a necessidade de<br />

proteção dos Direitos Autorais,<br />

firmando acordos como<br />

o mencionado acima, teremos<br />

efetivamente uma proteção<br />

maior aos direitos do autor e<br />

a possibilidade de punir infratores<br />

que comercializam e exploram<br />

músicas sem a devida<br />

autorização”, diz ela.<br />

Para o produtor musical<br />

Chiquinho de Assis, é preciso<br />

que haja uma reformulação<br />

na lei de Direitos Autorais.<br />

Ele acredita que hoje é impossível<br />

se pensar no direito autoral<br />

no Brasil sem considerar<br />

as atuais plataformas digitais<br />

e a existência de autores que<br />

distribuem seus trabalhos<br />

na rede. Há artistas que não<br />

veêm necessidade de cobrança<br />

e outros que não enxergam<br />

dessa maneira. Para ele, essa<br />

divisão de opiniões só será resolvida<br />

depois da revisão desse<br />

regulamento.<br />

Adner Sena, um dos integrantes<br />

da Rua da Virada,<br />

também concorda que a Lei<br />

de Direitos Autorais tem que<br />

se adaptar ao atual contexto<br />

de produção, distribuição e<br />

divulgação da arte. Mas ele<br />

vê também a necessidade de<br />

uma mudança no conceito<br />

de autoria. ”A Lei do Direito<br />

Autoral parte da velha noção<br />

do autor como proprietário de<br />

sua obra. Há, com isso, a meu<br />

ver, a valorização da música<br />

enquanto produto, mas uma<br />

total desconsideração do seu<br />

trabalho enquanto processo.<br />

Acho que a lei entende pouco<br />

das artes”, explica o músico.<br />

Trabalhando de forma independente<br />

ou não, muitos<br />

artistas se associam a instituições<br />

que recolhem os valores<br />

de arrecadação de suas<br />

músicas. O autor tem direito<br />

de ser recompensado pela<br />

exploração e reprodução das<br />

suas obras. Uma dessas instituições<br />

é o Ecad.<br />

O Ecad<br />

A lei Medeiros e Albuquerque<br />

foi a primeira lei brasileira<br />

criada sobre o direito<br />

do autor, em 1º de agosto de<br />

1898. Mas, somente com a<br />

chegada do Código Civil de<br />

1916, a sociedade começou<br />

a se preocupar com a importância<br />

dos direitos autorais, já<br />

que no ano seguinte foi criada<br />

a Sociedade Brasileira de Autores<br />

Teatrais (SBAT). A compositora<br />

Chiquinha Gonzaga<br />

foi uma das principais líderes<br />

da sociedade. No início trabalhou<br />

apenas com autores<br />

teatrais, anos depois começou<br />

a lidar com produtores musicais.<br />

Depois da criação da<br />

SBAT, outras sociedades foram<br />

surgindo. O aumento<br />

dessas associações fez com<br />

que a arrecadação desses direitos<br />

se tornasse confusa e<br />

desordenada. Associados deixavam<br />

de pagar por não saber<br />

a quem pagar. Para acabar<br />

com as disputas das sociedades<br />

arrecadadoras foi instituída,<br />

em 1973, a Lei de Direito<br />

Autoral nº 5.988/73. Essa lei<br />

determinava a criação de um<br />

sistema único para gerenciar<br />

os direitos autorais: o Ecad.<br />

O Escritório Central de<br />

Arrecadação e Distribuição<br />

(Ecad) é a principal forma de<br />

fiscalização, cobrança e distribuição<br />

do dinheiro para os artistas.<br />

Atualmente é mantida<br />

pela Lei de Direitos Autorais<br />

brasileira. O escritório é uma<br />

instituição privada que fica<br />

no Rio de Janeiro e tem nove<br />

associados. Essas associações<br />

têm a responsabilidade de<br />

controlar e enviar os dados de<br />

cada sócio e o seu repertório<br />

ao Ecad.<br />

No dia 10 de julho desse<br />

ano, foi aprovado no Senado<br />

Federal e na Câmara o projeto<br />

de lei que define novas condições<br />

de arrecadação e distribuição<br />

de direitos autorais<br />

sobre obras musicais. Esse<br />

texto base, aprovado pela<br />

Comissão de Constituição e<br />

Justiça (CCJ), segundo o site<br />

do Senado Federal, garante o<br />

direito dos próprios artistas<br />

definirem os preços de suas<br />

composições e as formas de<br />

cobrança. Exige, ainda, transparência<br />

do Ecad e das associações<br />

que lidam com esse<br />

tipo de serviço e prevê a fiscalização<br />

dessas associações<br />

pelo Ministério da Cultura.<br />

Em 2012 foram arrecadados<br />

mais de 600 milhões de<br />

reais. Muitos artistas brasileiros<br />

acompanharam a votação<br />

diretamente do Senado, em<br />

Brasília, como Lenine, Caetano<br />

Veloso, Roberto Carlos,<br />

e Carlinhos Brow. “Queremos<br />

fiscalização acirrada”, diz a<br />

cantora Roberta Miranda em<br />

entrevista à TV Senado.<br />

Os artistas dizem que não<br />

há transparência do órgão, reclamam<br />

das taxas altas e ressaltam<br />

que a distribuição do<br />

dinheiro não é correta. A CPI<br />

do Ecad foi criada para investigar<br />

essas irregularidades no<br />

funcionamento do escritório.<br />

“O que estamos fazendo é um<br />

update no Ecad”, ressalta Carlinhos<br />

Brown, também em<br />

entrevista para a TV Senado.<br />

A lei foi aprovada e publicada<br />

no Diário Oficial da União, no<br />

dia 15 de agosto desse ano. A<br />

nova lei passa a vigorar dentro<br />

de 120 dias e destinará<br />

85% dos valores arrecadados<br />

aos artistas, que recebem hoje<br />

75,5%.<br />

Uma coisa é certa: mudanças<br />

trazem novas possibilidades.<br />

A evolução da<br />

tecnologia mudou o nosso<br />

comportamento no que diz<br />

respeito ao consumo e a produção<br />

de música. A internet<br />

facilitou o acesso à música<br />

e o modo de divulgá-la, ajudando<br />

a propagar o trabalho<br />

das bandas que ouvimos, mas<br />

não queremos atrapalhar o<br />

trabalho delas. A reivindicação<br />

por novas leis é pertinente,<br />

para garantir os direitos<br />

dos artistas e de seus fãs.


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Cartola - O mundo é um moinho<br />

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acava aqui<br />

`<br />

5:40/ 5:51


Retalhos<br />

O Gatilho da Memória<br />

Lembranças<br />

Texto: Rodrigo Pucci<br />

<strong>Edição</strong> gráfica: Isadora Rabello<br />

No filme “O Lado Bom da Vida” (2012), o protagonista Pat<br />

Solitano (Bradley Cooper) tem um sério problema com uma<br />

música. A canção “My Cherie Amour” de Stevie Wonder funciona<br />

como um “disparador”, que ao ser acionado faz com que<br />

o personagem tenha um surto, remetendo a uma péssima lembrança.<br />

Segundo Geraldo José Ballone, médico psiquiatra e professor<br />

de psiquiatria da Faculdade de Medicina da PUC Campinas,<br />

“a música acompanha praticamente todos os momentos<br />

emocionais importantes nas nossas vidas, desde as canções de<br />

ninar até a música fúnebre.” Em seu blog psiqweb.med.br, Ballone<br />

ainda explica: “a atividade musical envolve quase todas as<br />

regiões do cérebro. A música que emociona acaba ativando as<br />

estruturas das regiões cerebelares (responsáveis<br />

pela produção e liberação dos neurotransmissores<br />

dopamina e noradrenalina) e principalmente<br />

da amígdala, que é a principal área<br />

do processamento emocional.”<br />

O artista autônomo Alejandro Villa, 37<br />

anos, recorda-se de uma viagem que fez ao<br />

Uruguai, há mais ou menos 15 anos, marcada<br />

por uma trilha sonora. “Éramos quatro<br />

amigos em uma kombi, e havia um disco do<br />

Legião Urbana que foi repetido várias e várias<br />

vezes pela estrada. Até hoje, quando ouço a<br />

voz de Renato Russo, me lembro daquela viagem<br />

inesquecível.”<br />

A aposentada Edinéia Luzia da Silva, 63,<br />

sempre que ouve o cantor Roberto Carlos,<br />

lembra-se de quando era jovem. “Uma ótima<br />

lembrança que eu tenho é a de um show do<br />

Roberto Carlos na cidade em que nasci, Cachoeiro<br />

de Itapemirim. Ouvi-lo hoje não só<br />

me faz lembrar daquele dia, mas de toda minha<br />

juventude”.<br />

Ao longo de nossas vidas adquirimos<br />

diversas experiências. Quando estas são<br />

acompanhadas de música, ficamos sujeitos<br />

a reviver tais histórias através da lembrança<br />

musical. É como se nossa memória estivesse<br />

sempre com o dedo no gatilho, pronta para<br />

atirar, trazendo à tona momentos agradáveis<br />

como a juventude de Edinéia e Alejandro ou o<br />

trauma de Pat Solitano.<br />

O<br />

Ilustração: Lucas Salum<br />

Embalos de<br />

Musicoterapia<br />

Texto: Rodrigo Pucci<br />

<strong>Edição</strong> gráfica: Isadora Rabello<br />

Ocean Drum<br />

Com relatos de utilizações similares desde a Grécia Antiga,<br />

a musicoterapia se diferencia das outras formas de tratamento<br />

por estar incluída na categoria de terapias alternativas. Nela<br />

“a música é a linguagem que desencadeia o processo terapêutico<br />

e possibilita a ativação do imaginário”, afirma a doutora<br />

Alcita Coelho, formada em Música pela Universidade Federal<br />

de Uberlândia (UFU) e Musicoterapia pela Universidade de Ribeirão<br />

Preto (UNAERP).<br />

Segundo a doutora, “é possível criar imagens mentais a<br />

partir de uma audição. Não precisa haver letra, às vezes uma<br />

música instrumental pode remeter a uma determinada época<br />

ou a alguma paisagem”. O trabalho pode ser feito em grupo<br />

ou individualmente, dependendo das características e necessidades<br />

dos envolvidos. Idosos, gestantes, bebês, crianças com


Comprar, ouvir e orar<br />

Gospel<br />

Texto: Rodrigo Pucci<br />

<strong>Edição</strong> gráfica: Isadora Rabello<br />

tã. Não passa de uma mera rotulação para<br />

agradar aos fiéis ouvintes. A música que<br />

fala sobre a fé em Cristo é gospel; seja por<br />

meio do pop/rock, metal, rap ou reggae.<br />

O jornalista, publicitário e diretor de<br />

marketing do Salão Internacional Gospel,<br />

Marcelo Rebello, 39, relaciona essa pluralidade<br />

a uma abertura da Igreja para outros<br />

estilos: “Na década de 80, a Música<br />

Gospel era fechada dentro da Igreja. De<br />

uns tempos para cá, houve um crescimento<br />

em termos de quantidade, de qualidade<br />

e de investimento. A própria Igreja abriu<br />

as portas para poder fazer música de uma<br />

forma diferente. Antes não podia ter bateria,<br />

guitarra, não podia tocar rock, reggae,<br />

a música tinha que ser clássica, lírica, sacra<br />

mesmo.” Essa mudança de comportamento<br />

reflete também as preferências do<br />

mercado musical.<br />

Em se tratando de números, apesar do<br />

maior número de vendas de um disco do<br />

segmento pertencer ao Padre Marcelo Rossi,<br />

os evangélicos vêm ganhando espaço,<br />

reflexo da mudança no comportamento<br />

religioso da população. Segundo dados do<br />

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />

(IBGE), entre 2000 e 2010, a porcentagem<br />

de evangélicos no Brasil subiu de<br />

15,5% para 22,2%, já a população católica<br />

no mesmo período diminuiu de 73,6%<br />

para 64,6%.<br />

Fotos: Ramon Cotta<br />

De acordo com a última pesquisa sobre<br />

o perfil musical brasileiro feita em 2011 pela<br />

Associação Brasileira de Produtores de Discos<br />

(ABPD), os artistas representantes do estilo<br />

conhecido como Gospel ocupam metade da<br />

lista dos 10 Cds mais vendidos do ano. Um<br />

retrato da influência da fé na venda de discos.<br />

Esse tipo de música surge no início do<br />

século 17 nos Estados Unidos e tem como<br />

principal essência a Música Cristã Negra, originada<br />

da imposição aos escravos para que<br />

participassem dos cultos religiosos. Como na<br />

época a maioria das igrejas não dispunha de<br />

instrumentos, as canções eram interpretadas<br />

em estilo acapella.<br />

Já o termo “Gospel” só viria a ser utilizado<br />

em uma coletânea de músicas chamada<br />

“Gospel songs” de Philip Bliss, considerado<br />

um dos pais do gênero, em 1874. A palavra<br />

vem da expressão “god spell”, que significava<br />

“boas novas”, fazendo alusão à chegada de<br />

Cristo no mundo. Com letras que glorificam o<br />

Senhor, o gênero serviu de grande influência<br />

aos artistas do blues/rock dos anos 1950, tais<br />

como Mahalia Jackson, Aretha Franklin, Ray<br />

Charles, além de Elvis Presley, que cantou em<br />

cultos religiosos durante a infância.<br />

No Brasil, mesmo ocupando a vice-liderança<br />

em número de vendas, o “Gospel” caracteriza<br />

quase que exclusivamente artistas<br />

evangélicos, enquanto que o catolicismo é representado<br />

pela Música Contemporânea Crisdificuldade<br />

de aprendizado, pessoas com Síndrome de Down,<br />

Alzheimer, em coma e com problemas psiquiátricos são pacientes<br />

comuns. A musicoterapia também pode ser aplicada em<br />

conjunto com UTIs, tratamento fisioterápicos, de câncer; e em<br />

escolas regulares e dinâmicas de grupo em empresas.<br />

Para o musicoterapeuta, cada sessão é única, tal como uma<br />

apresentação é para um artista. Profissional da área há mais de<br />

15 anos, Alcita explica que a Musicoterapia trabalha com um<br />

conceito chamado identidade sonora e a sua aplicação pode<br />

variar segundo a vivência individual, o tipo de música que<br />

mobiliza o paciente. “Então, ao contrário do que muita gente<br />

imagina, nem sempre a pessoa vai ouvir uma música calma e<br />

meditar. Isso depende da história musical de cada um e essa<br />

identidade é muito forte”.<br />

O local onde ocorrem as sessões é chamado de “set”. Ele<br />

deve ser confortável e oferecer possibilidades para a experimentação<br />

musical. O ambiente deve estar montado privilegiando<br />

estímulos diversos, com instrumentos que podem<br />

ou não ser usados. Deve ter espaço para movimentos que<br />

podem estar ligados a expressão pela música.<br />

No “set” onde atua a doutora Alcita Coelho, é possível<br />

observar instrumentos variados, desde os conhecidos piano,<br />

tambor e violão até outros mais exóticos como o caxixi,<br />

agogô e o ocean drum, uma espécie de caixa com várias bolinhas<br />

dentro, que ao ser rodada, imita o som de ondas do<br />

mar, atribuindo poder terapêutico às ondas sonoras.


Texto: Kleiton Borges<br />

<strong>Edição</strong> gráfica: Ana Luiza Batista<br />

Foto: Isadora Faria<br />

Plural<br />

“A música tem uma linguagem<br />

universal”- palavras<br />

do holandês Tijs Michiel<br />

Verwest, mais conhecido<br />

como DJ Tiesto. A trance music<br />

de Tiesto mistura batidas<br />

eletrônicas e vozes. Sugere,<br />

como o nome já diz, uma sensação<br />

de transe para quem<br />

ouve. Podemos não entender<br />

holandês entretanto a euforia<br />

e vitalidade transmitidas<br />

por suas músicas ultrapassam<br />

barreiras linguísticas.<br />

Certa vez, meu velho pai<br />

confessou-me que uma das<br />

músicas mais marcantes de<br />

sua vida é “Ob La Dí, Ob La<br />

Dá, lagos on”(sic). A primeira<br />

parte da sentença é inconfundível:<br />

um sucesso dos<br />

Beatles de 1968. Porém, o que<br />

me intrigou foi justamente a<br />

segunda. Pra ele, pouco importa<br />

que o correto seja “Life<br />

goes on”. Nascido em Minas<br />

Gerais, nunca saiu das terras<br />

tupiniquins. Quantos milhões<br />

de pessoas tem suas vidas<br />

marcadas por músicas nas<br />

quais, suas letras não fazem<br />

sentido? Ou ainda, quantas<br />

músicas sequer possuem letras<br />

e, somente por sua melodia,<br />

ficam guardadas na<br />

memória? A música consegue<br />

superar o “verb to be”.<br />

De acordo com o professor<br />

de música Edésio de Lara<br />

Melo, a música acompanha<br />

a humanidade desde que o<br />

Homo Sapiens surgiu na terra<br />

há cerca de 100 mil anos.<br />

“O ser humano usava além<br />

da voz, o próprio corpo como<br />

instrumento de percussão. O<br />

homem por assim dizer é o<br />

‘instrumento musical’ mais<br />

antigo que se conhece”, afirma<br />

Edésio.<br />

“Quem me<br />

enfeitiçou<br />

O mar, marée,<br />

bateau<br />

Tu as le<br />

parfum<br />

De la cachaça<br />

e de suor”<br />

(Joana Francesa, Chico Buarque)<br />

Talvez essa junção homem,<br />

voz e instrumento expliquem<br />

minhas questões. A<br />

linguagem musical tem sua<br />

universalidade, somos músicos<br />

e seres sonoros em nossa<br />

essência.<br />

Dispensa dicionários, regras<br />

ou acordos gramaticais.<br />

Não é feita para ser necessariamente<br />

compreendida, mas<br />

acima de tudo para ser sentida.<br />

Mesmo quando não se intende<br />

o verso, a voz se torna<br />

mais um instrumento dentro<br />

da composição, e um dos<br />

mais harmoniosos, diga-se de<br />

passagem.<br />

Apesar do canto ser a<br />

expressão musical mais evidente<br />

do ser humano, aquilo<br />

que é cantado nem sempre<br />

possui uma fórmula.Exemplo<br />

disso é a letra da canção<br />

“Joana Francesa” composta<br />

para o filme homônimo de<br />

Cacá Diegues. Chico Buarque<br />

brinca com a linguagem, usa<br />

duas línguas de origem latina<br />

– francês e o português – na<br />

mesma canção, transcendendo<br />

a “barreira” linguística dos<br />

idiomas.<br />

Até quando não há uma<br />

voz dentro da composição, a<br />

música tem a capacidade de<br />

nos transportar. Prova disso é<br />

a ópera “As Quatro Estações”<br />

de Vivaldi. Seja na América<br />

do Sul, onde ouço a canção,<br />

seja na Itália, país de origem<br />

do músico, a intensidade do<br />

inverno ou o vigor do verão<br />

são sentidos através da música<br />

orquestrada.<br />

A música é a arte e a ciência<br />

de combinar os sons de<br />

modo agradável ao ouvido.<br />

Devemos considerar que cada<br />

ouvido é acariciado de um jeito<br />

diferente por ela, porém,<br />

por mais exigente que esse<br />

ouvido seja, sempre existirá<br />

uma música para agradá-lo,<br />

afinal: ser humano é ser música.


<strong>Curinga</strong>online<br />

Fotos: FÁBIO BRITO<br />

O disco de vinil no reprodutor<br />

digital, o mp3 em formato de CD.<br />

No ensaio desta edição online da<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Curinga</strong>, confira o encontro<br />

de gerações e dispositivos musicais.<br />

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