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Revista Sicadergs 01

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Sumário<br />

03<br />

Editorial<br />

Para melhor informar o nosso<br />

segmento o Sindicato da Indústria<br />

de Carnes e Derivados no Estado<br />

do Rio Grande do Sul lança a sua<br />

primeira publicação – a <strong>Revista</strong> do <strong>Sicadergs</strong><br />

–, que traz como matéria de capa<br />

uma reportagem especial, a respeito da<br />

rastreabilidade bovina, cada vez mais<br />

exigida pelos países que compram o<br />

produto brasileiro, sendo um requisito<br />

fundamental para entrada da carne brasileira<br />

no bloco europeu.<br />

No ranking dos mais exportados<br />

está a carne brasileira, que de vilã virou<br />

a benfeitora na dieta, pois consumida<br />

com moderação favorece em muito a<br />

saúde – são pautas da nossa publicação.<br />

Outros temas para informar o<br />

segmento estão nas páginas da revista,<br />

como o Programa de Segurança da<br />

Sanidade Agropecuária, o Sistema de<br />

Gestão de Custos e Formação de Preço<br />

de Venda nos Frigoríficos, o Programa<br />

Agregar/RS-Carnes, a abertura de novos<br />

mercados para a carne brasileira e gaúcha,<br />

dentre outros temas bem interessantes<br />

ao nosso setor.<br />

Não podíamos deixar de abordar<br />

na revista, o Sistema de Inspeção<br />

de Produtos de Origem Animal, que visa<br />

garantir a inocuidade e a segurança alimentar<br />

dos produtos de origem animal<br />

no país.<br />

Uma boa leitura e até a próxima<br />

revista, que virá sempre cheia de novidades.<br />

Grande abraço,<br />

Ronei Lauxen<br />

Presidente do <strong>Sicadergs</strong><br />

Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado<br />

do Rio Grande do Sul - SICADERGS<br />

Praça Osvaldo Cruz, nº 15, cj. 909<br />

CEP 90038-900 - Porto Alegre - RS<br />

Fone: (51)3212.6450<br />

E-mail: sicadergs@sicadergs.com.br<br />

www.sicadergs.com.br<br />

DIRETORIA GESTÃO 2<strong>01</strong>0-2<strong>01</strong>3<br />

PRESIDENTE<br />

Ronei Alberto Lauxen<br />

(Coop. Suinocultores do Caí Superior)<br />

1º VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO<br />

Paulo Ronaldo dos Santos (Boa Esperança)<br />

2º VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO<br />

Rui Mendonça Jr (Marfrig)<br />

1º SECRETÁRIO<br />

Ladislau Boes (Frig. Zimmer)<br />

2º SECRETÁRIO<br />

Adélcio Haubert (Frig. Boa Vista)<br />

1º TESOUREIRO<br />

José Rogério dos Santos (Ray Alimentos)<br />

2º TESOUREIRO<br />

Jorge Fetzner (Frig. Do Sul)<br />

SUPLENTES<br />

Gabriel da Silva Moraes (Frig. Silva)<br />

Paulo Renato Callegaro (Callegaro e Irmãos)<br />

Mauro Aymone Lopez (Frigoeste)<br />

CONSELHO FISCAL - TITULARES<br />

Maria Vitória Gonçalves (Mastersul)<br />

Roque Andreola (Cotripal)<br />

Ludwig Vanhove (Raphael Vanhove )<br />

CONSELHO FISCAL - SUPLENTES<br />

Gemiro Cason (Frig. Cason)<br />

Edson Endres (Producarne)<br />

CONSELHO DE REPRESENTANTES NA FIERGS<br />

Índice<br />

TITULARES<br />

Ronei A. Lauxen<br />

José Alfredo Laborda Knorr<br />

SUPLENTES<br />

Paulo Ronaldo dos Santos<br />

Rui Mendonça Jr<br />

SAÚDE 04<br />

SANIDADE 06<br />

MATÉRIA DE CAPA 10<br />

GESTÃO 16<br />

MERCADO 18<br />

ECONOMIA 20<br />

EMBALAGENS 26<br />

EDIÇÃO<br />

Francke | Comunicação Integrada<br />

Av. Carlos Gomes, 466 - cj. 07 - Bela Vista - Porto Alegre - RS<br />

Fone/Fax: (51) 3388.7674 - www.francke.com.br<br />

Editora Responsável: Mariza Franck (Reg. Prof. 8611/RS)<br />

Redação: Ana Lúcia Medeiros (Reg. Prof. 11582/RS) e<br />

Sérgio Giacomel (Reg. Prof. 15003/RS)<br />

Direção de Arte: Thiago Pires e Hélio de Souza<br />

Comercial: Raquel Diniz<br />

Revisão: Flávio Dotti Cesa<br />

Impressão: Orquestra Gráfica<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


04<br />

Saúde<br />

De vilã a benfeitora<br />

na dieta<br />

Consumida com moderação, carne vermelha favorece a saúde<br />

Para quem costuma incluir<br />

algum corte de carne na<br />

alimentação diária, uma boa notícia:<br />

contrariando o velho mito sobre<br />

o mal que o alimento causaria<br />

à saúde, o consumo moderado de<br />

carne vermelha pode trazer benefícios<br />

para crianças e adultos.<br />

Altas doses de<br />

proteína, nas<br />

primeiras<br />

fases de<br />

desenvolvimento<br />

do indivíduo, são<br />

de extrema<br />

importância.<br />

Quem afirma é o médico cardiologista<br />

Iran Castro, professor do<br />

curso de pós-graduação em Cardiologia<br />

da Fundação Universitária de<br />

Cardiologia, vinculada ao Instituto<br />

de Cardiologia do Rio Grande do<br />

Sul. Ele dirige um estudo que pretende<br />

demonstrar a falta de consistência<br />

científica na alegação de que a carne<br />

é um alimento ‘do mal’. A pesquisa,<br />

desenvolvida em conjunto com o<br />

professor de Agronomia da UFRGS,<br />

José Fernando Piva Lobato, trabalha<br />

na hipótese de que a carne vermelha,<br />

por si, não é prejudicial. Mesmo<br />

na chamada Dieta DASH – famoso<br />

guia alimentar para combater a hipertensão,<br />

desenvolvido através de<br />

um estudo de centros universitários<br />

nos Estados Unidos –, Castro lembra<br />

que a carne está incluída.<br />

“Estamos convencidos de que<br />

há um falso conceito. O que traz o<br />

aumento do colesterol é a gordura”,<br />

relata o cardiologista. Para ele, o<br />

problema está na chamada carne de<br />

confino, onde o gado engorda sem<br />

caminhar, e que resulta no marmoreio<br />

– acúmulo de gordura entre as<br />

fibras musculares. “O que se quer<br />

provar é que o gado de pastoreio<br />

gaúcho não tem esta gordura intrínseca”,<br />

explica, ressaltando ser este o<br />

motivo de a carne ser mais saudável.<br />

Quanto aos aspectos nutricionais,<br />

o professor enfatiza que a carne<br />

vermelha, como fonte de proteína,<br />

tem grande impacto no desenvolvimento<br />

intelectual e biológico. “Altas<br />

doses de proteína, nas primeiras fases<br />

de desenvolvimento do indivíduo,<br />

são de extrema importância”, frisa.<br />

Ele conta que há evidências científicas<br />

que dão conta de que o alimento<br />

é excelente na profilaxia de doenças<br />

como a anemia em decorrência da<br />

falta de ferro. Outro item importante<br />

são os chamados peptídeos, fator<br />

salutar importante na dieta. Castro<br />

alega que há vários trabalhos revelando<br />

que a carne vermelha tem<br />

efeito benéfico contra a hipertensão,<br />

por conter proteínas que favorecem<br />

a diminuição da pressão arterial.<br />

O cardiologista ressalta que<br />

há outros itens realmente prejudiciais<br />

à saúde, e que precisam ser observados<br />

no preparo. “O sal adicional<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


faz mal”, ressalta. E é preciso também<br />

moderação no consumo. “Tudo<br />

que é em excesso faz mal.”<br />

Serviço de Informação da Carne<br />

Contribuindo para desmitificar<br />

o conceito de que a carne prejudica<br />

a saúde, o Serviço de Informação da<br />

Carne (SIC) procura orientar sobre o<br />

correto consumo do alimento, e tem<br />

desenvolvido estudos comprovando<br />

cientificamente que se trata de um<br />

O problema está<br />

na chamada<br />

carne de<br />

confino, onde o<br />

gado engorda<br />

sem caminhar,<br />

e que resulta<br />

no marmoreio –<br />

acúmulo de<br />

gordura entre as<br />

fibras musculares.<br />

alimento essencial, que pode e<br />

deve ser consumido por todos.<br />

Ele é uma das mais importantes<br />

fontes de proteínas, vitaminas e<br />

minerais, como o ferro, e a inclusão<br />

de cortes magros na relação<br />

de alimentos permitidos em dietas,<br />

além de suprir as necessidades<br />

protéicas, favorece a fidelidade<br />

às dietas.<br />

As notícias sobre os prejuízos<br />

para a saúde que a carne<br />

pode causar, conforme o SIC,<br />

têm circulado há mais de 30 anos<br />

em diversos países. Este é um dos<br />

motivos pelos quais alguns nutricionistas<br />

viam com reservas a inclusão<br />

de cortes bovinos na dieta<br />

dos pacientes. A carne era tida<br />

como causadora de doenças no<br />

coração ou contraindicada em<br />

dietas de perda de peso.<br />

A carne vermelha apresenta<br />

grandes propriedades nutricionais.<br />

Além de auxiliar no desenvolvimento<br />

corporal e cerebral de<br />

crianças e adolescentes, ela tem<br />

a capacidade de suprir os níveis<br />

de ferro para mulheres gestantes,<br />

e ajuda atletas a obter melhor desempenho<br />

físico. A carne também<br />

ajuda a colocar os hormônios em<br />

funcionamento e a prevenir doenças.<br />

Todas essas informações<br />

possuem embasamento científico<br />

fornecido pelo Comitê Técnico do<br />

SIC, formado por médicos cardiologistas,<br />

médicas veterinárias,<br />

dentistas, consultores gastronômicos,<br />

nutricionistas, engenheiros<br />

de alimentos e zootecnistas.


06<br />

Sanidade<br />

Produtor, município e<br />

consumidor só têm a<br />

ganhar com o SISBI<br />

Esta equiparação<br />

entre os serviços<br />

de inspeção<br />

permite ampliar a<br />

área de<br />

comércio de<br />

produtos de<br />

origem animal no<br />

país, garantindo<br />

a inocuidade dos<br />

mesmos para a<br />

saúde pública.<br />

Sistema de Inspeção<br />

O de Produtos de Origem<br />

Animal (SISBI/POA), em vigor desde<br />

30 de março de 2006, é um novo<br />

modelo de vistoria sanitária que pretende<br />

harmonizar os procedimentos<br />

de inspeção de municípios e estados,<br />

através da equivalência com as<br />

normas e procedimentos do Serviço<br />

de Inspeção Federal (SIF). Esta medida<br />

visa garantir a inocuidade e a<br />

segurança alimentar dos produtos<br />

de origem animal no país.<br />

A partir da publicação do<br />

Decreto 5.741, regulamentando os<br />

artigos 27-A, 28-A e 29-A da Lei<br />

8.171/91 – que dispõe sobre a política<br />

agropecuária –, foi organizado<br />

o Sistema Unificado de Atenção<br />

a Sanidade Agropecuária (SUASA).<br />

Neste enredo, como parte do SUA-<br />

SA, criou-se também o Sistema Brasileiro<br />

de Inspeção (SISBI/SUASA),<br />

que compreende a verificação dos<br />

produtos nas áreas vegetal, de insumos<br />

agrícolas e pecuários. O SISBI/<br />

POA é o ramo destinado à inspeção<br />

de itens de origem animal.<br />

As regras gerais e específicas<br />

do SUASA têm por objetivo garantir<br />

a proteção da saúde dos animais e a<br />

sanidade dos vegetais, a idoneidade<br />

dos insumos e dos serviços utilizados<br />

na agropecuária e a identidade,<br />

qualidade e segurança higiênicosanitária<br />

e tecnológica dos produtos<br />

agropecuários finais destinados aos<br />

consumidores. Compete ao Departamento<br />

de Inspeção de Produtos<br />

de Origem Animal (DIPOA/MAPA) a<br />

coordenação do SISBI, no que se refere<br />

aos produtos de origem animal<br />

– SISBI/POA.<br />

O que ocorre hoje é que a<br />

Lei 7.889, de 1989, veda a comercialização<br />

de produtos com selo<br />

municipal ou estadual fora de suas<br />

respectivas jurisdições. Com o selo<br />

do SISBI, estes mesmos produtos poderão<br />

ser comercializados irrestritamente<br />

em todo o país. “A inspeção<br />

animal, diferente dos produtos de<br />

origem vegetal, não tem delegação<br />

de competência”, esclarece a fiscal<br />

federal agropecuária e gestora do<br />

SISBI no Rio Grande do Sul, Suzane<br />

Bittencourt. Com isto, cada cidade<br />

ou estado possui seu próprio método<br />

de inspeção – e o produto fica<br />

liberado para comercialização ape-<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


Sanidade<br />

07<br />

nas na respectiva jurisdição. Isto restringiu<br />

a comercialização de produtos<br />

em âmbito municipal e estadual<br />

– o que acaba sendo desleal para a<br />

competitividade.<br />

O objetivo do SISBI é permitir<br />

que o tratamento seja similar entre<br />

os produtos, permitindo que a inspeção<br />

do município esteja no padrão<br />

federal. Como explica Suzane, o intuito<br />

é “dar equiparação aos sistemas,<br />

para que aqueles que tenham<br />

equivalência ao sistema maior possam<br />

comercializar seus produtos em<br />

uma área maior”. Isto ocorre pela<br />

avaliação da equivalência – que é<br />

considerada a palavra-chave deste<br />

processo. “É provar que os métodos<br />

de inspeção de estados e municípios<br />

tenham a mesma eficácia que o federal”,<br />

explica.<br />

No Rio Grande do Sul, a solicitação<br />

foi realizada em 2008, e<br />

este pedido está em processo, informa<br />

Suzane. Cerca de 400 estabelecimentos<br />

estão registrados com a<br />

inspeção estadual. Porém, apenas<br />

dois municípios possuem adesão ao<br />

SISBI – Santa Cruz do Sul e Rosário<br />

do Sul. Ademais, existem outros três<br />

estados que já participam do Sistema<br />

– Paraná, Bahia e Minas Gerais.<br />

Para aderir ao SISBI, o Estado<br />

ou Município deve fazer a solicitação,<br />

através da Secretaria da<br />

Agricultura, e apresentar uma série<br />

de documentos. É preciso comprovar<br />

que o serviço de inspeção tem<br />

condições de trabalho e de pessoas.<br />

E também, no aspecto da questão<br />

legal, certificar de como está constituído<br />

o sistema. Esta documentação<br />

é encaminhada ao DIPOA e é feita<br />

auditoria documental e, após, no<br />

local. No caso de pessoas jurídicas,<br />

quem faz a adesão é o sistema de<br />

inspeção.<br />

O reconhecimento da equivalência<br />

permitirá a adesão ao SISBI/<br />

POA, visando harmonizar os procedimentos<br />

de inspeção no país, possibilitando<br />

a ampliação do âmbito<br />

de comercialização dos produtos de<br />

origem animal, nas diversas escalas<br />

de produção, preservando a inocuidade<br />

destes produtos e, consequentemente,<br />

a saúde pública, com<br />

o intuito de promover o desenvolvimento<br />

e a inclusão social em todas<br />

as regiões brasileiras.<br />

Conforme a fiscal, a grande<br />

vantagem para o município ou es-<br />

Para um<br />

município<br />

integrar o<br />

SISBI, o Estado<br />

respectivo já<br />

deve estar<br />

participando.<br />

Mas estão<br />

previstas<br />

exceções .<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


08<br />

Sanidade<br />

tados é que os produtos inspecionados<br />

têm maior área de comercialização.<br />

Inclusive para as agroindústrias<br />

de caráter familiar, a adesão ao sistema<br />

de inspeção é importante para<br />

permitir esta ampliação. “Não é o<br />

fato de ser familiar que vai prescindir<br />

de aspectos sanitários”, frisa.<br />

Serviço municipal<br />

responsável<br />

De acordo com o diretor técnico<br />

da Superintendência do Ministério<br />

da Agricultura, Pecuária e<br />

Abastecimento no Estado (MAPA/<br />

RS), José Severo, o SISBI/POA visa<br />

estimular que as cidades tenham<br />

um Sistema de Inspeção responsável,<br />

explicando que uma das metas<br />

é auxiliar a organizar o município<br />

em torno do cadastro de entidades<br />

produtivas. A vantagem da adoção<br />

do Sistema se reflete em benefícios<br />

para produtores e cidades – que<br />

podem obter ganhos fiscais e reconhecimento<br />

– e em garantias de<br />

inocuidade para o consumidor. “As<br />

origens alimentares devem ter sanidade”,<br />

relata o diretor.<br />

A adesão ao Sistema ocorre<br />

de maneira “cascata” – para que<br />

um município possa integrá-lo, é<br />

preciso que o Estado respectivo já<br />

esteja participando. Entretanto, estão<br />

previstas na legislação exceções<br />

específicas e transitórias, onde o<br />

serviço municipal de inspeção pode<br />

ser diretamente verificado pelo SIF.<br />

Os municípios e estados podem pedir<br />

a equivalência dos seus serviços<br />

de inspeção com o Sistema Coordenador<br />

do SISBI. Para obtê-la, devem<br />

requerer o reconhecimento de<br />

equivalência dos seus serviços de<br />

inspeção ao MAPA/RS, necessitando<br />

comprovar que têm condições de<br />

avaliar a qualidade e a inocuidade<br />

dos produtos com eficiência similar<br />

ao MAPA/RS. Para tanto, o Ministério<br />

exige como contrapartida dos<br />

requerentes a garantia de infraestrutura<br />

administrativa – incluindo pessoal<br />

capacitado e locais adequados<br />

para realização dos trabalhos, além<br />

de sistemas de dados –, controle<br />

ambiental e medidas para combater<br />

e prevenir fraudes.<br />

Esta equiparação entre os serviços<br />

de inspeção permite ampliar<br />

a área de comércio de produtos de<br />

origem animal no país, garantindo<br />

a inocuidade dos mesmos para a<br />

saúde pública. Ao trabalhar com a<br />

concepção de sanidade, o produtor<br />

poderá estabelecer novas oportunidades<br />

de negócio. De acordo<br />

com Severo, existem cerca de 1.100<br />

agroindústrias no Estado, que precisariam<br />

estar incluídas em ações de<br />

inspeção.<br />

Conforme Severo, não é difícil<br />

a adoção do sistema. “O que<br />

há é a falta de cultura para produzir<br />

alimentos com inocuidade”, relata.<br />

O diretor explica que o Sistema é<br />

aplicado em sua grande parte, para<br />

pessoas jurídicas – o que representa<br />

uma dificuldade em relação à inspeção<br />

nas pequenas propriedades<br />

familiares ou de pessoa física. Para<br />

Severo, o espaço para estas indústrias<br />

deveria estar em novos nichos<br />

de mercado. “Essas agroindústrias<br />

só poderão sobreviver se pensarem<br />

em produtos diferenciados”, frisa.<br />

A vantagem<br />

da adoção do<br />

Sistema se<br />

reflete em<br />

benefícios para<br />

produtores e<br />

cidades – que<br />

podem obter<br />

ganhos fiscais e<br />

reconhecimento<br />

– e em garantias<br />

de inocuidade<br />

para o<br />

consumidor.<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


10<br />

Matéria de Capa<br />

Rastreabilidade<br />

bovina garante<br />

alta qualidade<br />

Rastreabilidade é cada vez mais exigida<br />

pelos compradores da carne brasileira<br />

A rastreabilidade bovina<br />

é um processo longo que<br />

envolve controles, mão de<br />

obra especializada e<br />

não tolera erros.<br />

rastreabilidade bovina é<br />

A um sistema de controle<br />

do animal desde o seu nascimento<br />

até o abate, e a importância de<br />

sua aplicabilidade incorpora dois<br />

conceitos essenciais para garantir<br />

a qualidade da carne brasileira.<br />

O médico veterinário e professor<br />

Júlio Barcellos, do Núcleo de Estudos<br />

em Sistemas de Produção de<br />

Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva<br />

(Nespro) da UFRGS, informa<br />

que o primeiro conceito diz respeito<br />

às novas exigências dos consumidores<br />

da carne bovina, em<br />

particular da União Europeia, e o<br />

segundo, como forma de controle<br />

de todo o processo de produção<br />

desde a fazenda até o varejo. Nos<br />

dois casos, ocorre a busca pela<br />

garantia de qualidade final, por<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Novembro de 2<strong>01</strong>0


Matéria de Capa<br />

11<br />

Dr. Júlio Barcellos - médico veterinário e professor<br />

meio de informações que constituem<br />

o rastro por onde o produto<br />

passou. Com isto é identificada<br />

qualquer anormalidade que coloque<br />

em risco a saúde do consumidor.<br />

“Assim, é possível responsabilizar<br />

quem produziu o dano e<br />

evitar novos problemas de saúde<br />

do consumidor.” Cada vez mais<br />

exigida pelos países compradores<br />

de carne brasileira, a rastreabilidade<br />

é um requisito básico para<br />

entrada do produto no bloco europeu.<br />

De acordo com Barcellos,<br />

a União Europeia, a partir da perda<br />

de confiança de seus consumidores<br />

de carne e como principal<br />

importador da carne brasileira,<br />

garante, com a rastreabilidade,<br />

qualidade do seu produto, que<br />

terá como informações a origem<br />

do gado e o processo de produção.<br />

A partir desses princípios, o<br />

sistema definiu que a rastreabilidade<br />

da carne está na origem dos<br />

animais. “Portanto, é necessário,<br />

além de conhecer o local de criação<br />

do gado, conhecer o próprio<br />

animal, a maneira de produzi-lo<br />

e ainda as suas movimentações.”<br />

Para realizar um balanço<br />

criterioso sobre o gado, Barcellos<br />

orienta que a fazenda deve estar<br />

georreferenciada (local de criação),<br />

seus animais identificados<br />

(conhecer o gado), o sistema de<br />

produção (registros de procedimentos<br />

sanitários, alimentares e<br />

práticas de manejo) e a movimentação<br />

(de onde o gado veio – se<br />

foi comprado de outra fazenda e<br />

para qual frigorífico foi enviado).<br />

Raros são os<br />

casos de<br />

problemas de<br />

saúde<br />

decorrentes<br />

do consumo de<br />

carne bovina.<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Novembro de 2<strong>01</strong>0


12<br />

Matéria de Capa<br />

“Todos esses procedimentos<br />

a maioria dos pecuaristas realizam,<br />

no entanto, para que a fazenda<br />

seja rastreada, ela precisa<br />

que todos esses eventos sejam<br />

auditados e certificados.” Portanto,<br />

o professor frisa, não basta<br />

fazer ou informar o que foi feito,<br />

mas, sim, provar por meio de<br />

uma auditoria realizada por uma<br />

terceira parte – a certificadora.<br />

“Diante da auditoria, se tudo estiver<br />

correto, a fazenda está aprovada,<br />

porém se ocorrer em inconformidades,<br />

como diferenças no<br />

número de animais, ausência de<br />

registros que comprovem determinada<br />

prática com o gado, entre<br />

outros requisitos importantes para<br />

o procedimento, a fazenda não<br />

será aprovada.”<br />

A adoção de controles mais<br />

eficientes sobre a sua criação faz<br />

com que o pecuarista atinja outro<br />

patamar organizacional no<br />

seu rebanho. “Isto vai lhe conferir<br />

um diferencial de competitividade<br />

que nada mais é do que estar<br />

apto para vender a mercados<br />

mais exigentes. O resultado é a<br />

agregação de valor para o seu<br />

gado”, salienta Barcellos.<br />

Estamos<br />

consumindo<br />

carne<br />

rastreada e<br />

com alta<br />

qualidade.<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Novembro de 2<strong>01</strong>0


Matéria de Capa<br />

13<br />

Você Sabia<br />

? ?<br />

? ? ?<br />

A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado<br />

Federal aprovou, em 2009, a proposta que conceitua e disciplina<br />

a aplicação de rastreabilidade na cadeia produtiva das carnes de<br />

bovinos e de búfalos. O principal objetivo do PLC nº 135/09 é o<br />

aperfeiçoamento de controles e garantias nos campos da saúde animal,<br />

saúde pública e inocuidade dos alimentos. O monitoramento<br />

de um animal ou grupo de animais durante todos os estágios da sua<br />

vida, bem como seguir um produto por todas as fases de produção,<br />

transporte, processamento e distribuição dessas carnes, é a proposta<br />

da medida.<br />

A implementação da rastreabilidade<br />

bovina é voluntária e as<br />

fazendas que optam por aplicá-la<br />

assinam um Termo de Compromisso<br />

e assumem pela veracidade<br />

das informações fornecidas.<br />

No caso das fazendas, que não<br />

são aprovadas nas auditorias,<br />

elas não são passíveis de multa e<br />

a não conformidade não é uma<br />

transgressão, informou o professor.<br />

Porém, ele esclarece que toda<br />

a propriedade que informou que<br />

determinado medicamento não<br />

foi utilizado e o produtor o utilizou,<br />

o estabelecimento sofrerá<br />

penalidades pelo Ministério da<br />

Agricultura, Pecuária e Abastecimento<br />

(MAPA). “A identificação<br />

de um resíduo na carne permite<br />

chegar até a origem, e isso sim é<br />

infração”, diz.<br />

Como é feita<br />

a rastreabilidade<br />

O processo de rastreabilidade<br />

bovina é coordenado pelo<br />

Ministério da Agricultura, Pecuária<br />

Abastecimento (MAPA), por<br />

meio de regulação própria que<br />

constitui o chamado SISBOV (Serviço<br />

de Rastreabilidade da Cadeia<br />

Produtiva de Bovinos e Bubalinos).<br />

Barcellos ressalta que o processo<br />

é voluntário e está baseado nos<br />

seguintes aspectos: adesão do<br />

produtor ao sistema; cadastro da<br />

fazenda no sistema; identificação<br />

de todos os animais da fazenda<br />

por meio de brincos específicos<br />

ou outros dispositivos de identificação;<br />

registros de todas as operações<br />

de campo – vacinações,<br />

medicações, nascimentos, mortes,<br />

entre outros; além de registros da<br />

movimentação do gado por meio<br />

de documentos próprios – notas<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Novembro de 2<strong>01</strong>0


14<br />

Matéria de Capa<br />

fiscais de compra ou venda, guias<br />

de trânsito animal, informações<br />

do proprietário de nascimentos e<br />

mortes ou transferências de animais.<br />

“Todos esses procedimentos<br />

são auditados pela certificadora<br />

credenciada pelo MAPA.”<br />

Segundo Barcellos, após<br />

a certificação, o produtor pode<br />

submeter-se a uma nova auditoria,<br />

agora acompanhada dos auditores<br />

do MAPA, que farão uma<br />

nova certificação. “Se tudo estiver<br />

correto, a propriedade estará<br />

apta para entrar numa outra lista<br />

– chamada traces – que é enviada<br />

para a União Europeia.” Mediante<br />

análise da União Europeia (UE),<br />

será incluída a fazenda na lista de<br />

propriedades aptas para exportar<br />

para UE. “Isso constitui, no final,<br />

as fazendas aptas para exportar.”<br />

A rastreabilidade bovina é<br />

um processo longo que envolve<br />

controle, mão de obra especializada<br />

e não tolera erros, frisa o<br />

professor. “É uma oportunidade<br />

para poucos que já estão relativamente<br />

organizados no seu processo<br />

gerencial e produtivo.” Outro<br />

aspecto importante apontado pelo<br />

especialista é que para aproveitar<br />

os benefícios da rastreabilidade,<br />

o pecuarista deve comercializar o<br />

seu gado no frigorífico que está<br />

apto para exportar a União Europeia,<br />

pois, por enquanto, somente<br />

nesse mercado existe um prêmio<br />

pelo gado rastreado.<br />

No estado do Rio Grande do<br />

Sul, em particular, existe um pouco<br />

mais de 100 propriedades rastreadas<br />

e habilitadas para a União<br />

Européia, informa Barcellos. “Com<br />

isso, o volume de gado ofertado<br />

aos frigoríficos exportadores é<br />

muito reduzido e não resulta em<br />

ganhos significativos para o setor.”<br />

Segundo o professor, o frigorífico,<br />

para exportar, necessita de quantidades<br />

mínimas para acondicionar<br />

A exigência<br />

da rastreabilidade<br />

é<br />

para exportar<br />

para a<br />

União Europeia.<br />

em contêineres e transportá-lo até<br />

o destino. Para esta quantidade<br />

mínima são necessários muitos<br />

animas, pois para exportar, além<br />

do gado rastreado, o animal tem<br />

que atingir um determinado grau<br />

de acabamento, peso de carcaça<br />

e idade. “Assim, nem todos os que<br />

têm gado rastreado conseguem<br />

atingir todas as condições. Muitas<br />

vezes, isto é frustrante para o pecuarista,<br />

mas é um caminho irreversível<br />

para a pecuária de corte<br />

e em particular para o Rio Grande<br />

do Sul.”<br />

Referência de segurança<br />

“Raros são os casos de problemas<br />

de saúde decorrentes do<br />

consumo de carne bovina”, informa<br />

o médico veterinário e professor,<br />

Júlio Barcellos. A carne bovina<br />

no Brasil, oriunda dos abates regularizados,<br />

inspecionada desde a<br />

sua origem, abate, processamento<br />

e comercialização, passa por um<br />

sistema de inspeção e controles<br />

existentes no Brasil. Segundo o<br />

professor, em particular no âmbito<br />

estadual e federal, asseguram os<br />

requisitos de qualidade e de segurança<br />

do alimento semelhantes<br />

aos países desenvolvidos. “A rastreabilidade<br />

é um método evoluído<br />

que se incorpora nos atuais controles,<br />

ampliando a segurança e<br />

a qualidade da carne.” De outra<br />

parte, segundo ele, com a rastreabilidade<br />

todos os agentes envolvidos<br />

na cadeia produtiva da carne<br />

assumem suas responsabilidades,<br />

de modo que também contribuem<br />

para a qualidade final, não sendo<br />

de exclusiva responsabilidade de<br />

apenas um dos elos.<br />

Atualmente, os nichos de<br />

mercado e consumidores com<br />

maior poder aquisitivo valorizam<br />

esse tipo de controle e estão dispostos<br />

a pagar mais por ele, diz<br />

Barcellos. “A exigência da rastreabilidade<br />

é para exportar a União<br />

Europeia, mas em breve os organismos<br />

envolvidos com a proteção<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Novembro de 2<strong>01</strong>0


Matéria de Capa<br />

do consumidor também estarão exigindo o mesmo tipo de<br />

controle para o mercado interno.” Barcellos destaca que<br />

o mercado está colhendo os benefícios da rastreabilidade,<br />

pois apenas 25% do boi é exportado. O restante todo fica<br />

no mercado interno, embora não haja divulgação. “Estamos<br />

consumindo carne rastreada e com alta qualidade.”<br />

Para fora do país<br />

“Haverá um crescimento no universo de consumidores<br />

preocupados com a saúde”, sinaliza Barcellos.<br />

Conforme o professor, isso é visível nos países Europeus,<br />

no Canadá, nos Estados Unidos e no Japão, que constituem<br />

os principais mercados de carne no mundo, com<br />

grandes volumes e elevados preços. “Por isso, é uma preocupação<br />

dos governos desses países assegurar garantias<br />

à carne, por ser um produto de alta perecibilidade. Assim,<br />

o caminho é o controle desde a origem para que sejam<br />

dadas garantias a respeito.”<br />

O governo brasileiro, tendo em vista o incremento<br />

das exportações de carne, instituiu um Sistema Nacional<br />

de Rastreabilidade. Conforme o especialista, esse sistema<br />

está definido, em Instrução Normativa específica e de competência<br />

do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento<br />

(MAPA/RS). Nos últimos dois anos, inclusive, sofreu<br />

vários ajustes que o tornaram mais factível com a realidade<br />

brasileira, mas que ainda passa<br />

por novas modificações em apreciação<br />

da União Europeia.


16<br />

Gestão<br />

Gestão de custos nos<br />

frigoríficos resulta em<br />

mais benefícios<br />

Sistema de custos é uma boa alternativa para a competitividade<br />

Adotar um sistema de gestão<br />

de custos e formação<br />

de preço de venda nos frigoríficos é<br />

uma prática que traz inúmeros benefícios,<br />

pois fornece informações necessárias<br />

para alcançar resultados<br />

confiáveis e seguros para o sucesso<br />

do empreendimento. A consultora<br />

tributária e empresarial, Mami<br />

Ueno, destaca que adotar uma análise<br />

de custos dos frigoríficos resulta<br />

em fazer uma análise criteriosa de<br />

quatro aspectos fundamentais.<br />

O primeiro é que o frigorífico,<br />

por ser um negócio que está no<br />

meio do processo da cadeia produtiva,<br />

ou seja, ele recebe o produto,<br />

a carne bovina do produtor, e<br />

desta matéria-prima criam-se vários<br />

produtos que são vendidos aos estabelecimentos<br />

comerciais, ele sofre<br />

a pressão de ambos, criando um<br />

“efeito sanduíche”, de um lado, o<br />

fornecedor – para aumentar o preço<br />

–, e de outro, seu comprador – em<br />

reduzir o preço. Por isso, é essencial<br />

que se faça uma gestão de custo e<br />

formação de venda que garanta a<br />

rentabilidade do negócio, “princípio<br />

fundamental para a perpetuidade<br />

de qualquer empresa”, diz Ueno.<br />

Mami Ueno, Consultora tributária e empresarial<br />

Os custos altos da burocracia<br />

brasileira são o segundo aspecto<br />

que deve ser gerenciado de forma<br />

eficaz. Segundo a consultora, calcular<br />

de forma precisa e corretamente<br />

os tributos, tanto no custo do produto<br />

como no preço de venda, é fundamental,<br />

para não correr o risco<br />

com análises e decisões enganosas.<br />

No produto que o frigorífico gera<br />

ainda predomina a característica<br />

de “commoditie”. Este é o terceiro<br />

aspecto que deve ser revisto, afirma<br />

Ueno. “Foi uma das principais atividades<br />

econômicas desde o seu início<br />

e possui uma relação direta com<br />

toda a sua tradição, arte e cultura.”<br />

Entenda o passo a passo<br />

Para uma adequada gestão<br />

de custos e formação do preço de<br />

vendas do setor da carne, é fundamental<br />

entender o fluxo do negócio<br />

do segmento, além de suas características<br />

e peculiaridades. No setor<br />

da carne, é preciso estar atento às<br />

seguintes informações:<br />

• De uma matéria-prima se<br />

extraem centenas de produtos (em<br />

torno de 700 a 800 produtos). Portanto,<br />

há um processo de desmembramento,<br />

com agregação de custos<br />

de produção;<br />

• Os produtos podem ser obtidos<br />

em fases, como os derivados<br />

do petróleo, sendo assim, perfeitamente<br />

aplicáveis os conceitos de<br />

produtos de 1ª, 2ª, 3ª geração e<br />

assim por diante;<br />

• Os cortes podem mudar de<br />

acordo com o seu destino (cliente,<br />

localidades, hábitos de uma determinada<br />

região, por exemplo).<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


Gestão<br />

Portanto, para a empresa implantar<br />

um modelo de gestão de<br />

custos, deve considerar não somente<br />

várias metodologias técnicas e<br />

conceitos, como Custeio Direto/Indireto,<br />

Fixo/Variável, Activity Based<br />

Costing - ABC, Target Costing, Ponto<br />

de Equilíbrio, entre outros, deve<br />

considerar as peculiaridades e características<br />

do negócio. “O sistema<br />

deve se moldar ao negócio e não o<br />

inverso”, salienta Ueno.<br />

Vantagens dos cálculos<br />

As vantagens dos frigoríficos<br />

aplicarem os cálculos de custos resultam,<br />

em primeiro lugar, na formação<br />

e análise do mix de produtos,<br />

ou seja, quais os produtos que<br />

dão mais ou menos rentabilidade.<br />

“Com a análise das margens de<br />

contribuição, por exemplo, eu posso<br />

ter a melhor decisão de preço e<br />

competitividade no mercado.”<br />

Qual é o meu volume de venda<br />

e produção mínima para o empate<br />

– o ponto de equilíbrio? É o<br />

segundo questionamento que toda<br />

empresa precisa fazer. “O ponto<br />

de empate significa que a receita é<br />

igual ao custo, se vender menos, tenho<br />

prejuízo, e a partir daquele ponto<br />

para cima passarei a ter lucro.”<br />

O terceiro aspecto é a racionalização<br />

de custos e a melhoria da<br />

qualidade e produtividade. A gestão<br />

de custos fornece informações<br />

mais precisas e seguras para uma<br />

análise dos processos de produção<br />

e administração, com o objetivo de<br />

otimizar o uso dos recursos. “Se o<br />

empresário quer ampliar o negócio,<br />

ou iniciar novos empreendimentos,<br />

é preciso um sistema de informação<br />

com uma gestão de custos já implementados.<br />

Assim, terá muito mais<br />

subsídios para a tomada de decisão<br />

estratégica”, afirma a consultora.<br />

Para colocar em prática o cálculo<br />

de custo, o empresário precisa<br />

ter profissionais especializados. O<br />

grupo de profissionais deve ser composto<br />

pelas áreas contábil e de controladoria,<br />

em conjunto com o setor<br />

da administração. “É uma questão<br />

de mentalidade de gestão em primeiro<br />

lugar. Além de saber vender<br />

e produzir bem é necessário ter uma<br />

gestão e controle do resultado, para<br />

garantir o lucro. Sem rentabilidade<br />

nenhum negócio tem vida longa, inclusive<br />

frigoríficos.”<br />

Se o<br />

empresário quer<br />

ampliar o<br />

negócio, ou<br />

iniciar novos<br />

empreendimentos,<br />

é preciso um<br />

sistema de<br />

informação com<br />

uma gestão de<br />

custos já<br />

implementados.


18<br />

Mercados<br />

Carne está no ranking<br />

dos mais exportados<br />

As tendências das exportações na visão da Abrafrigo<br />

Entendemos que<br />

todas as plantas<br />

que cumprem<br />

os requisitos<br />

sanitários<br />

brasileiros<br />

estão aptas para<br />

exportar para<br />

qualquer lugar<br />

do mundo [...]<br />

agronegócio é responsável<br />

por 25% do Pro-<br />

O<br />

duto Interno Bruto (PIB) e um terço<br />

dos empregos. Em 2009, representou<br />

42% das exportações, com US$<br />

64,7 bilhões dos US$ 152,2 bilhões<br />

exportados pelo Brasil, e dentre os<br />

produtos mais exportados está a carne<br />

brasileira. O diretor da área internacional<br />

da Associação Brasileira<br />

de Frigoríficos (Abrafrigo), Thomas<br />

Kim, informa que os maiores mercados<br />

para carne brasileira são Oriente<br />

Médio, União Europeia e Rússia.<br />

Além de Hong Kong e África, para<br />

onde é destinado um grande volume<br />

de produtos todos os anos.<br />

Porém, algumas barreiras impostas<br />

pelos países importadores<br />

atrapalham a comercialização de<br />

produtos de carne brasileira. Segundo<br />

Kim, normalmente são barreiras<br />

sanitárias, “mas no fundo são comerciais,<br />

disfarçadas para proteger<br />

interesses de alguns grupos de países<br />

importadores”. Ele cita como<br />

exemplo a Rússia, a Indonésia, a<br />

China e a África do Sul.<br />

De acordo com Kim, outros<br />

mercados que não têm ainda acordo<br />

sanitário com Brasil e é muito<br />

importante para o Brasil ter como<br />

importadores são os países da Coreia<br />

do Sul, Japão e Taiwan. “Esses<br />

países pagam muito bem para o<br />

corte de carne, mas exigem que a<br />

região que fornece a matéria-prima<br />

esteja livre da febre aftosa sem vacinação.”<br />

No momento, somente o<br />

estado de Santa Catarina tem esse<br />

status de livre de febre aftosa sem<br />

vacinação. “Portanto, é um sério<br />

candidato para exportar a carne bovina<br />

e suína para esses países.”<br />

Um dos entraves para melhorar<br />

a exportação de carne bovina<br />

para o Brasil é também a falta de<br />

animal pronto para abate, destaca<br />

o representante da Abrafrigo. “Com<br />

o abate de fêmeas ocorrido nos<br />

últimos anos, houve a redução do<br />

rebanho nacional. Hoje, existe novo<br />

ciclo de boi cujo período de maturação<br />

leva alguns anos.” Além disso, o<br />

Brasil tem abatido animais mais jovens,<br />

antecipando a idade do abate.<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


Mercado<br />

19<br />

Thomas Kim, diretor da Abrafrigo<br />

“Tudo isso tem deixado o mercado<br />

sem animais prontos, dificultando a<br />

montagem de escala de produção<br />

nos frigoríficos, o que está elevando<br />

o preço da arroba de boi.” Um<br />

outro problema apontado por Kim é<br />

a taxa cambial. “O dólar, valendo<br />

abaixo de R$ 1,70, a arroba do boi<br />

chega a US$ 60 dólares, colocando<br />

o preço da carne brasileira no nível<br />

da Austrália e dos Estados Unidos. É<br />

extremamente importante, que o governo<br />

tome medidas urgentes para<br />

resolver a questão cambial.”<br />

Segundo Kim, a expectativa<br />

de melhora nas exportações de<br />

carne não é algo a curto prazo, e<br />

a Abrafrigo como entidade representante<br />

do segmento está se mobilizando<br />

para ampliar a abertura<br />

de novos mercados para a carne<br />

brasileira. A questão de abertura<br />

de novos mercados depende também<br />

da mobilização do Ministério<br />

de Agricultura. “O Ministério poderá<br />

intensificar as negociações sanitárias<br />

com os países com os quais<br />

ainda não temos acordos sanitários,<br />

e ampliar o leque de qualificações<br />

para habilitação aos países onde já<br />

exportamos.”<br />

Segundo ele, os pequenos<br />

e médios frigoríficos têm trabalhado<br />

para poder exportar e cumprir<br />

os requisitos sanitários, como boas<br />

práticas de fabricação para poder<br />

vender para a Europa e África<br />

do Sul. “Entendemos que todas as<br />

plantas que cumprem os requisitos<br />

sanitários brasileiros estão aptas<br />

para exportar para qualquer lugar<br />

do mundo, e portanto, defendemos<br />

que o Ministério de Agricultura deve<br />

intensificar a promoção dessa ideia,<br />

não aceitando as exigências sanitárias<br />

dos países importadores.”<br />

Em relação às novas tendências<br />

de exportações, o Rio Grande<br />

do Sul tem grande potencial para<br />

disputar mercado com Coreia do<br />

Sul, Japão e Taiwan, diz Klim, por<br />

ser um Estado que produz a ração<br />

de animais Angus – uma raça de<br />

bovinos, destinada à produção de<br />

carne de qualidade superior – que<br />

é muito desejada por esses países.<br />

“Eles gostam do corte deste tipo de<br />

animal que se adapta bem ao clima<br />

gaúcho. É um Estado com grande potencial<br />

e qualidade diferenciada para<br />

esses países mais exigentes.”<br />

Kim complementa que se o Rio<br />

Grande do Sul tiver condições de trabalhar,<br />

ampliando a raça deste rebanho,<br />

poderá inclusive fornecer uma<br />

qualidade de carne apreciada pelos<br />

países asiáticos. “Porém, não basta<br />

apenas ampliar a produção. Precisa<br />

montar uma estrutura para uma padronização<br />

de carcaças com qualidade<br />

realmente superior objetivando<br />

alcançar um valor agregado maior<br />

nos países mais exigentes.”<br />

Os principais mercados de distribuição<br />

de carne de cortes dianteiros,<br />

chamado popularmente de carne<br />

de segunda (acém, pescoço, palheta,<br />

peito e músculo dianteiro) são Rússia,<br />

Egito, Líbia e Argélia. Já o Irã é um<br />

grande mercado que, tanto como a<br />

Venezuela, compra tanto carne dianteira<br />

como carne de corte traseiros<br />

(filé mignon, contrafilé, alcatra, coxão<br />

mole, coxão duro, patinho, músculo<br />

traseiro, entre outros). No caso<br />

de Hong Kong, a preferência é por<br />

corte de carne.<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


20<br />

Economia<br />

Agregar RS aumenta<br />

competitividade das<br />

indústrias<br />

O ano de 2<strong>01</strong>0 deve fechar com R$ 95 milhões de<br />

créditos tributários concedidos para as indústrias<br />

Gilmar Tietböhl, secretário da Seappa.<br />

Instituído para aumentar o<br />

abate de gado sob inspeção<br />

sanitária oficial, o programa Agregar<br />

RS Carnes, da Secretaria da<br />

Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio<br />

(Seappa), qualifica a produção<br />

e aumenta a competitividade<br />

da cadeia produtiva de carne. Em<br />

2009, fechou o ano com 1.262.7<strong>01</strong><br />

animais, entre bovinos, bubalinos e<br />

ovinos, abatidos nestas condições e<br />

o montante de R$ 93.614.521,83<br />

de ICMS declarados. Isto soma R$<br />

58.576.289,49 em créditos concedidos<br />

pelo governo do Estado aos<br />

estabelecimentos participantes do<br />

programa. O ex-secretário da Seappa,<br />

Gilmar Tietböhl, informa que<br />

desde 2002, quando foi lançado o<br />

Agregar RS, o número de animais<br />

abatidos sob inspeção sanitária até<br />

o mês de outubro, deste ano, já foi<br />

de 975 mil bovinos abatidos. “Os<br />

números mostram como foi uma<br />

medida adequada à criação do programa.”<br />

Atualmente existem 93 indústrias<br />

autorizadas para participar<br />

do Agregar RS que estão adequadas<br />

às condições frigoríficas e às exigências<br />

sanitárias.<br />

Por meio do programa, os<br />

habilitados recebem a concessão<br />

do crédito presumido de 3,6% para<br />

entrada de gado comprado de produtor<br />

do Rio Grande do Sul sobre o<br />

valor da nota fiscal e crédito especial<br />

de 4% nas saídas internas. E o Estado<br />

ganha na defesa sanitária animal<br />

(uma de suas principais ações de<br />

governo) e, consequentemente, na<br />

defesa da saúde humana. Além do<br />

aumento na arrecadação do ICMS,<br />

que deve, obrigatoriamente, ser declarado<br />

pelos estabelecimentos integrantes.<br />

De acordo com o secretário,<br />

através do incentivo fiscal se organizou<br />

a cadeia produtiva. O restante<br />

das melhorias vem por consequência,<br />

com mais qualidade e competitividade.<br />

Pela força do exemplo, mais<br />

indústrias começaram a se agregar<br />

ao programa. “O setor privado ga-<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


Economia<br />

21<br />

nha com competitividade – e o setor<br />

público, arrecadando mais receita,<br />

pode fazer mais investimento. Um<br />

programa que, além de proporcionar<br />

mais qualidade, aumentou o<br />

volume arrecadado, em torno de<br />

100%, do ano de 2005 até agora.”<br />

Com a concessão de crédito,<br />

as vantagens para as indústrias<br />

são a redução de impostos e mais<br />

competitividade. “Estar no Agregar<br />

RS é como ter uma certificação,<br />

um diferencial no mercado”, diz<br />

Tietböhl. Para o Estado, a diminuição<br />

da alíquota e o aumento da<br />

arrecadação do ICMS. “Embora<br />

diminua a alíquota, aumenta a arrecadação<br />

do ICMS, e o mais importante<br />

é que o Estado cumpre o<br />

seu papel de vigilante de sanidade<br />

dos rebanhos gaúchos”, complementa<br />

o secretário.<br />

O ano de 2<strong>01</strong>0 deve ser<br />

encerrado com 96 empresas habilitadas<br />

ao Agregar RS e aproximadamente<br />

R$ 95 milhões de créditos<br />

tributários concedidos para as indústrias,<br />

inscritas no programa. Em<br />

2009, foram R$ 65,5 milhões em<br />

créditos tributários concedidos. “Todas<br />

as indústrias estão muito satisfeitas<br />

e aumentou o número de empresas<br />

aderindo ao programa, pois<br />

o mercado de carne está aquecido e<br />

se manterá assim por muito tempo.”<br />

Além disso, o <strong>Sicadergs</strong> está estimulando<br />

as indústrias a participarem<br />

do Agregar RS, destacou o secretário.<br />

“As pessoas se reúnem em sindicatos<br />

para adquirir mais forças, em<br />

defesa dos interesses da categoria,<br />

e não apenas estimular o abate,<br />

como também ampliar o mercado<br />

para a carne.”<br />

•<br />

As pessoas se reúnem em<br />

sindicatos para adquirir<br />

mais forças em defesa dos<br />

interesses e não apenas<br />

estimular o abate, como<br />

também ampliar o<br />

mercado para a carne.<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


22<br />

Economia<br />

Sanidade da<br />

carne bovina<br />

Programa de Segurança da Sanidade<br />

Agropecuária do MAPA/RS<br />

As estratégias de<br />

sanidade<br />

animal são<br />

estruturadas por<br />

meio de<br />

projetos cujo<br />

desenho atende<br />

às especificações<br />

de cada<br />

enfermidade.<br />

processo de produção<br />

O e industrialização de<br />

carne e derivados evoluiu consideravelmente<br />

nas últimas décadas. A<br />

tecnologia envolvida na melhoria<br />

de produtividade e a otimização<br />

de técnicas pecuárias contribuíram<br />

em grande escala para que<br />

o Brasil – e especificamente, o Rio<br />

Grande do Sul – pudesse atingir<br />

um patamar de excelência na criação<br />

de bovinos.<br />

Para garantir um alimento de<br />

qualidade na mesa do consumidor,<br />

há também muito empenho por parte<br />

das autoridades sanitárias. São<br />

elas que visam certificar a inocuidade<br />

e confirmar que os produtos adquiridos<br />

não irão causar prejuízo à<br />

saúde das pessoas.<br />

No Rio Grande do Sul, a garantia<br />

de saúde dos rebanhos bovinos<br />

é feita através de diversos programas,<br />

específicos de cada área<br />

ou patologia. O médico veterinário<br />

Bernardo Todeschini, chefe do serviço<br />

de sanidade da Superintendência<br />

do Ministério da Agricultura, Pecuária<br />

e Abastecimento (MAPA/RS),<br />

explica que para assegurar a qualidade<br />

são desempenhadas inúmeras<br />

ações. “As estratégias de sanidade<br />

animal são estruturadas por meio de<br />

projetos cujo desenho atende às especificações<br />

de cada enfermidade”,<br />

relata.<br />

Todas essas atividades visam<br />

controle, prevenção e erradicação<br />

de doenças conhecidas dos produtores.<br />

Conforme Todeschini, em cada<br />

programa, é feito o monitoramento<br />

e, através dele, são estabelecidas as<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


23<br />

ações necessárias. “São adotadas,<br />

de maneira geral, medidas como a<br />

vacinação e monitoramento biológico”,<br />

explica.<br />

O serviço de sanidade está<br />

também vinculado a sistemas de<br />

monitoramento do gado. Este controle<br />

serve tanto para acompanhar<br />

as cargas de produtos quanto para a<br />

rastreabilidade dos animais. Todeschini<br />

ressalta que, dentre os processos<br />

desenvolvidos pelo MAPA/RS, há<br />

aqueles que são de adesão voluntária<br />

e outros cuja vinculação é obrigatória.<br />

A aceitação destas práticas<br />

é necessária para que os produtores<br />

gaúchos possam encontrar novos e<br />

maiores nichos de mercado, já que<br />

as exigências de sanidade para carnes<br />

e derivados – especialmente por<br />

países europeus – têm tornado cada<br />

vez mais restritivas as aquisições de<br />

exportadores.<br />

Doenças e problemas<br />

conhecidos dos produtores<br />

Dentre os inúmeros programas<br />

que buscam assegurar a sanidade<br />

dos bovinos nos campos<br />

gaúchos, o veterinário Todeschini<br />

enumera cinco, que são de grande<br />

prioridade para o MAPA/RS. Eles<br />

procuram combater e prevenir distúrbios<br />

e problemas de saúde bovinos<br />

conhecidos, além de inspecionar<br />

o trânsito animal.<br />

O Programa Nacional de Erradicação<br />

da Febre Aftosa compreende<br />

estratégias de vacinação de<br />

todo gado bovino e vigilância das<br />

epidemias. O Rio Grande do Sul já<br />

São adotadas,<br />

de maneira<br />

geral, medidas<br />

como a<br />

vacinação e<br />

monitoramento<br />

biológico.<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


24<br />

Economia<br />

é considerado zona livre da doença<br />

sem vacinação. Já o controle e<br />

erradicação da tuberculose e brucelose<br />

é um trabalho de adesão<br />

voluntária e visa certificar as propriedades<br />

livres das doenças. No<br />

entanto, passa a ser uma exigência<br />

na comercialização para outros<br />

países. “É obrigatório para alguns<br />

mercados de exportação, como a<br />

Rússia”, explica Todeschini.<br />

O Programa Nacional de<br />

Controle de Resíduos Biológicos,<br />

que visa detectar o uso de substâncias<br />

proibidas ou o uso de medicamentos<br />

fora do prazo de carência.<br />

O veterinário comenta que esta é<br />

uma ação para assegurar a inocuidade<br />

da carne, pois possibilita a<br />

administração correta de remédios<br />

no gado, que obedeçam ao prazo<br />

de carência – tempo necessário<br />

entre a administração do medicamento<br />

e a sua completa eliminação<br />

pelo animal.<br />

O controle de raiva e encefalopatia<br />

(espongiforme bovina,<br />

conhecida por doença da vacalouca)<br />

é importante para aceitação<br />

no mercado exportador. A raiva e<br />

vaca-louca são zoonoses que geram<br />

barreiras sanitárias em vários países.<br />

E o Controle de Trânsito, feito<br />

por intermédio da Guia de Trânsito<br />

Animal (GTA), que é de porte obrigatório<br />

para animais em deslocamento,<br />

possibilita acompanhar a<br />

movimentação do bovino, da criação<br />

ao abate e venda. Os casos de<br />

descumprimento de uso da guia resultam<br />

em sanção. “Além de multa,<br />

pode ser determinado o abate ou<br />

sacrifício do animal”, alerta.<br />

Sanidade em todos<br />

os níveis<br />

A inspeção ocorre não apenas<br />

na fazenda, com o gado ainda<br />

em pé. Ela também se estende pelo<br />

restante da cadeia de produção, incluindo<br />

o frigorífico onde a carne é<br />

alocada. Como conta Todeschini,<br />

a verificação no pós-abate permite<br />

identificar problemas não detectáveis<br />

anteriormente, assim como as<br />

condições de armazenamento. Os<br />

achados de abate – substâncias encontradas<br />

na inspeção – geram um<br />

relatório, em que é possível saber de<br />

onde veio a enfermidade, a origem<br />

do animal, e outros dados. “A partir<br />

disso, o serviço de sanidade vai até<br />

a fazenda”, relata.<br />

A grande vantagem dos programas<br />

de sanidade é tornar a produção<br />

gaúcha mais competitiva,<br />

garimpando mercados inclusive no<br />

exterior. A missão do MAPA/RS, informa<br />

o veterinário, é promover o desenvolvimento<br />

sustentável e a competitividade<br />

do agronegócio em benefício<br />

da sociedade brasileira. Todeschini<br />

atenta, porém, que o sucesso destas<br />

estratégias envolve a adoção plena<br />

por todos. “É importante pensar que<br />

aqueles que não aderem prejudicam<br />

aqueles os que fazem sua parte”,<br />

enfatiza. Isto porque as barreiras de<br />

ordem sanitária acabam afetando<br />

não somente uma propriedade, mas<br />

toda a região. “É tarefa do produtor<br />

auxiliar o serviço veterinário no<br />

cumprimento de suas obrigações, e<br />

daqueles que o circundam”, lembra,<br />

destacando que só é possível “com a<br />

participação da sociedade, dos produtores<br />

e do governo”, de modo que<br />

possa ser sustentável e benéfica para<br />

toda a coletividade.<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


26<br />

Embalagens<br />

Produto embalado é<br />

A embalagem a vácuo aumenta o<br />

tempo de conservação, diminui perda<br />

de peso em água e elimina risco<br />

de contaminação.<br />

Para garantir a qualidade<br />

dos alimentos que chegam<br />

ao consumidor, é preciso segurança<br />

na utilização de materiais<br />

e um processo de envase confiável.<br />

O uso das tecnologias atuais de<br />

embalagem permite que a produção<br />

e distribuição de empresas e<br />

indústrias sejam mais bem administradas,<br />

sem prejuízo para as características<br />

dos produtos.<br />

Uma das mais modernas tecnologias<br />

na comercialização de<br />

carne fresca é o uso das embalagens<br />

a vácuo. Com ela, é possível<br />

embalar praticamente todos os cortes<br />

– desde peças inteiras a pequenas<br />

porções. Nos últimos anos, nos<br />

pontos comerciais, os produtos embalados<br />

a vácuo – incluindo aqueles<br />

em atmosfera modificada (ATM)<br />

– vêm tendo grande procura.<br />

Embalagens plásticas estão<br />

sendo cada vez mais utilizadas nas<br />

indústrias frigoríficas para acondicionar<br />

e conservar carnes e derivados.<br />

As vantagens de uso podem<br />

ser observadas na flexibilidade de<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


Embalagens<br />

27<br />

sinônimo de confiança<br />

adaptação às linhas de produção<br />

e à diversidade de produtos, além<br />

de contribuírem no manuseio,<br />

transporte e proteção do alimento,<br />

permitindo a conservação das características<br />

desejáveis para o consumidor.<br />

O consumidor que é, aliás,<br />

um dos maiores motores das mudanças<br />

nas formas de embalagem<br />

de produtos alimentícios. A exigência<br />

do cliente por produtos diferenciados<br />

é fator importante, e<br />

que determina a busca de melhores<br />

formas de acondicionamento. Na<br />

comercialização de cortes de carne,<br />

através de máquinas especiais,<br />

os produtos são embalados e o ar<br />

removido, garantindo uma maior<br />

vida útil do produto nas prateleiras.<br />

Uma das grandes vantagens<br />

da embalagem a vácuo é sua capacidade<br />

de conservação. Produtos<br />

cárneos, por exemplo, ficam sem<br />

contato direto com o ar – pois o oxigênio<br />

é o principal responsável pelo<br />

perecimento acelerado da carne. A<br />

cor vermelha brilhante, característica<br />

da carne fresca, é decorrente da<br />

presença de oximioglobina, molécula<br />

que apresenta esse pigmento.<br />

Com o tempo, o contato com o ar<br />

faz a oximioglobina oxidar, dando<br />

a ela a cor amarronzada. O aspecto<br />

e sabor rançoso da carne envelhecida<br />

também são causados pela<br />

oxidação dos lipídeos (gorduras), o<br />

que favorece o desenvolvimento de<br />

bactérias.<br />

Conforme Rogério Matias,<br />

coordenador comercial da Selovac<br />

soluções para embalagens, a carne<br />

embalada a vácuo, por estar protegida<br />

do contato físico com agentes<br />

contaminadores, ajuda a tornar o<br />

produto mais higiênico e saudável,<br />

restringindo a possibilidade de<br />

contaminação após o envasamento<br />

e mantendo suas características.<br />

“Obviamente, a aparência e a<br />

apresentação do produto também<br />

são melhoradas com o uso deste<br />

processo”, afirma.<br />

A embalagem é uma proteção<br />

contra quaisquer contaminações<br />

– microbiológicas, físicas ou<br />

de odores, por exemplo. Isto possibilita<br />

deixar as carnes já cortadas,<br />

embaladas e disponíveis para o<br />

sistema de autosserviço. Este pode,<br />

inclusive, ser um diferencial de<br />

atendimento nos estabelecimentos<br />

comerciais, contribuindo para aumentar<br />

as vendas.<br />

O processo de fechamento<br />

de embalagens de carne a vácuo é<br />

utilizado basicamente para estender<br />

seu tempo útil de venda – chamada<br />

de shelf life, ou vida de prateleira.<br />

“Para isso, é necessário que as embalagens<br />

sejam apropriadas, com<br />

bom nível de barreira a gases, inibindo<br />

o crescimento de bactérias,<br />

fungos e outros micro-organismos<br />

que necessitam de oxigênio para se<br />

desenvolver”, explica Matias. Por<br />

A aparência e a<br />

apresentação do<br />

produto também<br />

são melhoradas<br />

com o uso de<br />

embalagens a<br />

vácuo.<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


28<br />

Embalagens<br />

O processo de<br />

fechamento de<br />

embalagens de<br />

carne a vácuo<br />

é utilizado<br />

basicamente<br />

para estender<br />

seu tempo útil<br />

de venda.<br />

isso, as empresas devem investir<br />

em maquinários adequados para o<br />

procedimento. “Os equipamentos<br />

a vácuo devem ter um alto padrão<br />

de qualidade, que permita um bom<br />

nível de vácuo na câmara e que<br />

possibilite fácil acesso à higienização<br />

e assepsia, a fim de se evitar a<br />

contaminação durante a realização<br />

do processo.”<br />

Na industrialização de carnes,<br />

geralmente, as embalagens<br />

mais utilizadas são confeccionadas<br />

em material de Nylon e Polietileno<br />

– conhecidas como Nylon/Poli<br />

–, além das termoencolhíveis – que<br />

retraem as sobras plásticas após<br />

o fechamento. O coordenador da<br />

Selovac adianta que, para um melhor<br />

resultado, o importante é que<br />

o material tenha alta resistência<br />

mecânica a rasgos e perfurações<br />

e baixa taxa de permeabilidade ao<br />

ar – que é um dos principais agentes<br />

deteriorantes. Isto para criar<br />

uma condição anaeróbica adequada,<br />

onde a atividade das bactérias<br />

são severa ou totalmente inibidas,<br />

aumentando o tempo de conservação.<br />

“Outro fator importante é<br />

a baixa permeabilidade ao vapor<br />

d’água, que evita a desidratação<br />

superficial, e a consequente perda<br />

de peso”, destaca.<br />

O fornecimento de carnes a<br />

vácuo é uma tendência que está<br />

se consolidando no mercado – e<br />

provavelmente seja, em um futuro<br />

breve, a principal forma de comércio<br />

deste produto. Além de ser uma<br />

forma segura de garantir a qualidade<br />

e a durabilidade, ficam mantidos<br />

aspectos de higiene e boa apresentação.<br />

Matias ressalta que os benefícios<br />

da embalagem não param aí.<br />

“Além da assepsia e higienização,<br />

obtemos outras vantagens com o<br />

processo de embalagem a vácuo,<br />

como aumento considerável do<br />

tempo de conservação, diminuição<br />

da perda de peso em água ou gotejamento,<br />

eliminação do risco de<br />

contaminação pós-envase, proteção<br />

mecânica contra agentes físicos,<br />

preservação do aroma e ausência<br />

de odores indesejáveis”.<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1


30<br />

Vitrine de Negócios<br />

A FASAN é uma empresa com<br />

20 anos de atividade no Rio Grande<br />

do Sul, com sede em Porto Alegre,<br />

especializada na revenda de instrumentos<br />

e equipamentos industriais<br />

como balanças, estufas, agitadores,<br />

destiladores, manômetros, registradores,<br />

capelas, autoclaves, banhos,<br />

monitores de gases, explosímetros,<br />

anemômetros, decibelímetro, opacímetros,<br />

entre outros.<br />

Representa a empresa MET-<br />

TLER TOLEDO, divisão processo,<br />

fabricante de medidores de pH,<br />

oxigênio dissolvido, condutividade,<br />

TOC, redox e turbidez, destacando-se<br />

o eletrodo de pH ISFET, destinado<br />

a indústria alimentícia, que<br />

não tem vidro na sua construção,<br />

evitando a quebra e podendo ser<br />

utilizado diretamente “on-line” com<br />

total segurança. Além disto, também<br />

está lançando o novo equipamento<br />

de processo que mede turbidez<br />

e cor.<br />

Também distribui os produtos<br />

da marca TESTO, que fabrica diversos<br />

equipamentos destinados a<br />

indústria alimentícia, como termômetros<br />

de precisão, termômetros infravermelho<br />

(sem contato), registradores<br />

de temperatura (data logger),<br />

medidores de umidade, medidores<br />

de umidade para ar-comprimido,<br />

analisadores da qualidade de óleo<br />

de fritura, analisadores da qualidade<br />

do ar, manifold para controle de<br />

eficiência de refrigeração, manômetros<br />

de pressão diferencial, analisadores<br />

de gases para caldeiras,<br />

destaque para o lançamento do<br />

Termovisor 881, que mede a temperatura<br />

pela imagem térmica, com<br />

câmera para captura da foto real<br />

do ponto que esta sendo analisado.<br />

METAL MARC<br />

INDÚSTRIA METALÚRGICA LTDA<br />

Localizada em Guaporé –<br />

RS, a Metal Marc Indústria Metalúrgica<br />

vem há mais de 13 anos<br />

atuando no segmento da indústria<br />

da carne (aves, suínos e bovinos) e<br />

laticínios. Inicialmente atendendo<br />

somente ao estado do Rio Grande<br />

do Sul, atualmente tem seu mercado<br />

expandido para todo o território<br />

nacional.<br />

Seu sucesso se deve à qualidade<br />

e confiabilidade de seus produtos,<br />

desenvolvidos desde o projeto<br />

até a fabricação e instalação,<br />

além do excelente atendimento.<br />

Para tanto, este processo é realizado<br />

por uma equipe altamente especializada<br />

e com ampla experiência<br />

neste segmento, gerando a satisfação<br />

do cliente.<br />

•<br />

<strong>Revista</strong> Carne RS n°1 / Janeiro de 2<strong>01</strong>1

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