Opinião VOCÊ NÃO PODE PERDER ESTA OFERTA! Texto: Alice Piermatei <strong>Edição</strong> Gráfica: Laio Monteiro Posso. Podemos. Ligamos a televisão: anúncio, propaganda, merchandising. Modelo famosa que, através do seu sorriso e do creme dental “x”, conquistou o mundo. Apresentador bem sucedido falando sobre um novo benefício do banco “tal”, a loja de eletrodomésticos que “tem preço” e entre as coisas que fazem você parecer mais respeitável está um sedan novo na garagem. Ser induzido a comprar, consumir ou fazer parte do grupo de pessoas que possui determinado bem é hoje algo comum. Somos levados a uma necessidade de consumo imperante. Esse imediatismo da posse - reiterado em pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que afirma que entre 2003 e 2011 o poder de compra do rendimento de trabalho dos brasileiros aumentou em 22,2% - me faz pensar que, ao passar o cartão de crédito na maquininha, enquanto dividimos a conta em 6 vezes sem juros – eu disse em até 6 vezes sem juros! - quase nunca temos certeza da vontade que nos levou até a compra. A magia mostrada nos filmes publicitários, nos outdoors e cartazes transporta a sociedade para o que seria, inconscientemente, seu ideal de perfeição. Afinal, quem não gostaria de ter uma família feliz e estruturada como as que são mostradas nos comerciais de margarina? Quem não quer adquirir respeito e status como o que pode lhe trazer um carro do ano? Quem não gostaria de ter um crediário de 12 prestações, realimentado todos os anos e através do qual as dívidas crescem cada vez mais? Segundo reportagem do Estado de Minas, de maio de 2011, há uma perspectiva do governo para um crescimento da massa salarial a uma taxa anual de 9% até 2014. Partindo desse pressuposto, ao mesmo tempo em que novas oportunidades de consumo surgem, vindas dos crescentes aumentos de salários, as portas do mercado se abrem para as classes emergentes. Poderíamos dizer, supondo que nossos gastos refletem nossos gostos e hábitos, que a fatura que chega às nossas casas é a definição de nossa personalidade? Não sei medir até que ponto nossas projeções e idealizações de futuro, imagem e carreira perpassam as ordens de consumo recebidas. Talvez um relógio novo consiga realmente dizer aos meus colegas que sou uma pessoa mais séria, mas não sei quem me convenceu disso. Seriam os tais comandos repassados pelas inúmeras propagandas? Difícil julgar comportamentos cíclicos e habituais. O papel dos profissionais de publicidade é justamente vender a marca, fazê-la ser lembrada e consumida. A economia se aquece através das vendas, por isso tem que ter capital girando para se manter. A ordem natural do sistema está posta, não se pode negar. Nisso, a quantidade que consumimos é o “x” da questão, ela é grande demais. E aí, quem é o responsável por isso? Nós, compradores, que desenvolvemos necessidades supérfluas? Os publicitários, por nos induzirem a cultivar essas necessidades? O mercado, que tem que se manter? Ou o capitalismo, modelo econômico vigente, que funciona nessa dinâmica? Ao vermos um anúncio publicitário, uma mensagem é enviada ao nosso cérebro, ela dispara um sentimento de desejo, de necessidade, um impulso a partir do qual temos vontade de adquirir o que é proposto, e rapidamente. Segue-se uma busca pelo produto: sites, lojas, telefonemas, encomendas. “Vocês aceitam cartão?” No meio do turbilhão de informações, entre os apelos de “Compre! Compre! Compre!”, esquecemos de nos perguntar qual a real necessidade de ter o objeto de desejo. Ou, ainda, de nos questionar sobre o próprio desejo. Às vezes, fazemos coleções de coisas praticamente idênticas e tentamos nos convencer de que são totalmente diferentes e úteis. Tudo isso para, no dia seguinte, ambicionar outro produto recém-lançado e muito bem cotado pela crítica. Então, seguimos com as mesmas desculpas, retiradas da necessidade imposta a nós, mas não por nós. Tem certeza que você não pode perder esta oferta? 42 LIgue para 0800-0000-0800 e faça seu pedido !!!
LAMPIÃO Jornal Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto Conheça: jornalismo.ufop.br/lampiao <strong>Curinga</strong> online Confira o o conteúdo exclusivo em nosso site. Acesse: www.revistacuringa.ufop.br 43