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Revista Curinga Edição 05

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Crônica<br />

Crônica sobre o peso do tempo ou<br />

apenas um conto sobre um dia qualquer<br />

[Leia no sentido horário]<br />

Texto: Kamilla Abreu<br />

<strong>Edição</strong> Gráfica: Laio Monteiro<br />

Foto: Jamylle Mol<br />

afazeres. E é este o peso do tempo: uma ditadura<br />

silenciosa que cerca e regula a nossa<br />

existência.<br />

Agora sou eu quem mostra certa inquietude<br />

em minhas ações, pois ainda tenho<br />

uma reunião com meu professor. Até que,<br />

após alguns demorados minutos, avisto no<br />

letreiro do ônibus “Ouro-Preto/Mariana” e<br />

já me posiciono para enfrentar quase uma<br />

“luta” na busca por um lugar para sentar.<br />

Empurrões, conversas altas, risadas. Passo a<br />

catraca e me acomodo em uma cadeira perto<br />

da janela. De relance, reparo, então, que<br />

o mesmo rapaz que estava ao meu lado, no<br />

ponto de ônibus, agora me observa cuidadosamente.<br />

Acho que ele busca nos meus<br />

olhos, através dos seus, alguma pista do que<br />

se passava, pois como já diziam os poetas,<br />

“os olhos são a janela da alma”. Mudo a direção<br />

do meu olhar e fixo-o na rua e, assim,<br />

vou contemplando a paisagem. Perco-me<br />

nas minhas idéias. Começo a divagar sobre<br />

a liberdade, sobre regras e, novamente, sobre<br />

como o tempo influencia nossas vidas.<br />

Fico indagando-me como seria a vida se não<br />

Hoje foi um dia como todos os outros. A<br />

noite já começa a cair e as poucas nuvens<br />

restantes formam imagens desconhecidas<br />

no céu. As pessoas passam rapidamente por<br />

mim, todas ocupadas demais para desejar,<br />

pelo menos, “boa tarde” ou “boa noite”.<br />

Os carros vêm e vão em um ritmo frenético.<br />

Eu, sentada no banco, apenas espero<br />

o ônibus depois de uma jornada difícil de<br />

trabalho. O pensamento está longe. Consigo<br />

apenas lembrar-me da minha cama bagunçada<br />

que, ao fim, será o meu único e último<br />

refúgio. Já são 18 horas. Ao meu lado, um<br />

rapaz que olha atentamente para os ponteiros<br />

de seu relógio de pulso. Talvez ele esteja<br />

cansado demais, e, assim como eu, só quer<br />

ir logo para a casa. Olhos perdidos, tentando<br />

avistar no horizonte algum sinal. Mãos<br />

aflitas e o balançar das pernas: o tic-tac<br />

do relógio, que se manifesta mentalmente<br />

no meu pensamento, começa a perturbar.<br />

Questiono-me, então, se realmente tem<br />

que ser assim. Se as horas que delimitam<br />

as nossas vidas são mesmo fundamentais.<br />

Paro um instante, observo, mais uma vez, o<br />

jovem e percebo sua ansiedade estampada<br />

em pequenos fragmentos de atitudes involuntárias.<br />

Estalar dos dedos, passos apertados<br />

de um lado para outro... Penso, então,<br />

no tempo, não aquele controlado pelas horas,<br />

mas sim o que se refere ao cotidiano,<br />

aos hábitos e à rotina, o responsável por ditar<br />

as nossas vidas. Vivemos em um sistema<br />

delimitado por horários, compromissos e<br />

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