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Espírito do Tempo<br />
memória afetiva da<br />
roupa<br />
gabriele prata<br />
moda<br />
semiótica<br />
memória afetiva<br />
entrevistas<br />
processos criativos<br />
nov -dez 2017
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO<br />
Tal dissertação não tem nenhum vínculo direto<br />
com a revista Serafina publicada pela Folha de São<br />
Paulo, tem como objetivo ser uma inspiração.
DEDICÁTORIA<br />
Para minha família que fez o sonho de estudar<br />
moda ser realidade nesses quatro anos,<br />
me apoiando, incentivando e acreditando em cada<br />
passo que dava.
AGRADECIMENTOS<br />
Agradeço a minha família que acreditou em mim,<br />
e me apoiou a viver o sonho da graduação em<br />
Moda, que esteve ao meu lado em cada passo, em<br />
cada conquista e derrota. Aos meus amigos que<br />
me ajudaram a chegar aqui, e estiveram ao meu<br />
lado quando foi preciso um respiro fora dos livros.<br />
E agradeço aos amigos que fiz no caminho, vocês<br />
foram mais que essenciais!
EPÍGRAFE<br />
Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das<br />
pessoas apenas existe. Oscar Wilde
Resumo<br />
memória afetiva<br />
2017<br />
A seguinte dissertação<br />
comprova por meio de<br />
estudos a memória<br />
afetiva guardada em<br />
roupas, provando que<br />
moda é mais que cobrir<br />
um corpo, moda é sobre<br />
escrever uma história, é<br />
sobre guardar momentos<br />
e ter objetos tangíveis<br />
como cápsulas do<br />
tempo para recordações.<br />
Palavras Chaves:<br />
1. Moda. 2. Memória<br />
Afetiva. 3. Roupa. 4.<br />
Zeitgeist. 5. Semiótica..
The following dissert<br />
a t i o n p r o v e s b y<br />
means of studies of<br />
the affec-tive memory<br />
k e p t i n c l o t h e s ,<br />
proving that fashion is<br />
more than covering a<br />
body, fashion is about<br />
writing a story, it is<br />
about kept moments<br />
and have tangible objects<br />
as time capsules<br />
for memories. Keywords:<br />
1. Fashion. 2.<br />
Affective Memory. 3.<br />
Clothing. 4. Zeitgeist. 5.<br />
Semiotics.<br />
Abstract<br />
afective memory<br />
2017
8<br />
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74<br />
introdução<br />
objetivo<br />
o que é a semiótica?<br />
mas o que é um signo?<br />
as ciências normativas<br />
os três elementos formais<br />
relação signo e objeto<br />
memória Afetiva<br />
cápsula do tempo<br />
objeto Cápsula<br />
a moda que marca<br />
projetos que trabalham a<br />
memória afetiva e afeto<br />
love project<br />
memoriando<br />
epokhé insecta shoes<br />
revivendo capas de discos<br />
corpo e moda: memória<br />
afetiva das roupas<br />
processo criativo<br />
entrevistas<br />
as repostas<br />
o estudo de projetos<br />
o estudo da semiótica<br />
memórias das décadas<br />
anos 20<br />
anos 30<br />
anos 40<br />
anos 50<br />
anos 60<br />
anos 70<br />
anos 80<br />
anos 90<br />
revista serafina<br />
peça confeccionada<br />
locação<br />
produto final<br />
conclusão<br />
editorial moda e memória<br />
fashion film<br />
referências<br />
agradecimento especial<br />
Memória Afetiva<br />
Idealizadora do projeto<br />
Gabriele Prata<br />
Editora<br />
Gabriele Prata<br />
Edição de foto<br />
Gabriele Prata, Pamela<br />
Santos<br />
Produção de moda<br />
Gabriele Prata<br />
Produção de vídeo<br />
Funny Dog Films<br />
Edição de vídeo<br />
Funny Dog Films<br />
Fotógrafa<br />
Pamela Santos<br />
Modelo Vídeo<br />
Isabella Yogui<br />
Fotógrafa Editorial<br />
Natálya Almeida<br />
Modelo Editorial<br />
Marina Câmara<br />
Colaboradores<br />
Brechó Minha Avó Tinha<br />
data 28 de novembro de 2017<br />
número 1<br />
tiragem única<br />
&<br />
(<br />
$<br />
f<br />
gabrieleprata@hotmail.com<br />
behance.net/gabrielepra7e2<br />
gabrieleprata<br />
facebook.com/gabriele.prata
BRECHÓ<br />
MINHA AVÓ TINHA
10<br />
Introdução<br />
memória afetiva<br />
2017<br />
A seguinte dissertação<br />
comprova por meio de<br />
estudos a memória<br />
afetiva guardada em<br />
roupas, provando que<br />
moda é mais que cobrir<br />
um corpo, moda é sobre<br />
escrever uma história, é<br />
sobre guardar momentos<br />
e ter objetos tangíveis<br />
como cápsulas do<br />
tempo para recordações.<br />
Palavras Chaves:<br />
1. Moda. 2. Memória<br />
Afetiva. 3. Roupa. 4.<br />
Zeitgeist. 5. Semiótica..
11<br />
O trabalho a seguir visa<br />
mostrar a memória<br />
afetiva guardada nas<br />
roupas, por meio de<br />
longos estudos de<br />
décadas e entrevistas<br />
que indicam a memória<br />
guardada nas roupas<br />
e como elas são facilmente<br />
reativadas pelas<br />
l e m b r a n ç a s q u e a<br />
mente guarda.<br />
Objetivo<br />
memória afetiva<br />
2017
12<br />
O QUE É<br />
SEMIÓTICA<br />
A imagem ‘Isto não é um cachimbo’<br />
é um dos casos mais aparece à nossa mente, qualquer coisa<br />
como aprendermos qualquer coisa que<br />
de qualquer tipo, algo simples como um<br />
famosos do estudo da semiótica,<br />
cheiro, uma formação de nuvens no céu,<br />
seu nome real é “A traição das<br />
o ruído da chuva, uma imagem em uma<br />
imagens”, de René Magritte. A revista etc., ou algo mais complexo como<br />
obra trata do objeto e sua representação,<br />
seu símbolo, questio-<br />
um tempo vivido etc., enfim, tudo que se<br />
um conceito abstrato, a lembrança de<br />
nando as percepções do ser sobre apresenta à mente [...] (Santaella, 2004,<br />
p.2)<br />
uma imagem, mos-trando que a<br />
representação de um objeto não<br />
De forma objetiva é a forma<br />
pode ser con-fundida com algo<br />
como interpretamos tudo que se<br />
real e tangível, porque ela só se<br />
apresenta à mente. No entanto de<br />
assemelha ao seu objeto.<br />
forma mais profunda e visando um<br />
A semiótica é uma das disciplinas entendimento melhor do que a<br />
que fazem parte da ampla arquitetura<br />
semiótica estuda, podemos dizer<br />
filosófica de Pierce. Essa arquitetura<br />
que ela é um estudo das linguagens,<br />
dos signos, e da<br />
está alicerçada na fenomenologia, uma<br />
quase-ciência que investiga os modos<br />
significação<br />
pela comunicação verbal e não<br />
verbal. É um campo lógico que<br />
conduz uma análise sobre diferentes<br />
temas e aspectos.<br />
Em um âmbito mais pessoal a<br />
semiótica estuda o modo como o<br />
ser pode apreender, entender e<br />
compreender os signos, podendo<br />
despertar os cinco (5) sentidos,<br />
aguçar a imaginação de cada um e<br />
funcionar como uma cápsula do<br />
tempo para as lembranças do<br />
passado, como uma memória<br />
afetiva!<br />
O estudo é bem amplo, um<br />
campo lógico, no entanto o<br />
objetivo é o mesmo: interpretação,<br />
a semiótica visa entender os<br />
meios de compreensão de grandes<br />
grupos, através de uma análise que<br />
abranja um conhecimento geral<br />
sobre os modos de interpretação<br />
dos signos, já que o mesmo pode<br />
ter diferentes comunicações e<br />
passar diferentes sensações para<br />
cada indivíduo, sendo assim a<br />
semiótica é uma ciência que tem<br />
como base a mente e sua habilidade<br />
de leitura do mundo.<br />
A semiótica estuda como interpretamos<br />
e apreendemos tudo<br />
aquilo que vemos, desde uma<br />
propaganda aos modos de ver o<br />
mundo, como já dizia John Berger,
13<br />
,a forma como cada um interpreta<br />
algo, é única, no entanto por meio<br />
de estudos é possível achar uma<br />
base que passe um único sentimento<br />
e conhecimento a grande<br />
maioria, por isso a semiótica é a<br />
base de um trabalho imagético,<br />
onde a principal atração é passar<br />
algo por meio de imagens que<br />
sejam auto interpretativas.<br />
Ainda assim ela não dá respostas<br />
sobre os signos onde não há o<br />
menor conhecimento do interpretante,<br />
ela mostra e entende<br />
como as mensagens são passadas,<br />
nos dá o caminho para<br />
entender, mostrando seus elementos<br />
e respostas, sendo composto<br />
por diferentes caminhos<br />
que levam a um único entendimento<br />
dos signos, nos permitindo<br />
analisar o processo da<br />
mensagem que o signo passa, os<br />
recursos aplicados e todos os<br />
procedimentos que o levou a ter<br />
tal significado e alcançar tal<br />
representatividade.<br />
A semiótica não dá as respostas<br />
sobre o que é cada signo se<br />
não temos nenhum conhecimento<br />
no mesmo, ela nos dá o<br />
caminho para entendê-la através<br />
de do seu campo lógico que é<br />
composto por diversas linhas que<br />
nos leva a um único caminho de<br />
entendimento.<br />
MAS O QUE É UM SIGNO?<br />
Qualquer coisa que esteja presente à<br />
mente tem a natureza de um signo.<br />
Signo é aquilo que dá corpo ao pensamento,<br />
às emoções, reações, etc. Por<br />
isso mesmo, pensamentos, emoções e<br />
reações podem ser externalizados. Essas<br />
externalizações são traduções mais ou<br />
menos fiéis de signos internos para<br />
signos externos[...] (Santaella, 2004,<br />
p.10)<br />
Um signo pode ser qualquer<br />
coisa que representa algo, o signo<br />
é o que deseja ser transmitido o<br />
objeto é o que faz ser possível essa<br />
transmissão, pela sua representação,<br />
e o efeito dessa transmissão.<br />
Os sentidos que ela irá<br />
aguçar e os sentimentos que ela irá<br />
causar é o interpretante e os<br />
efeitos interpretativos dependem<br />
diretamente do modo como o<br />
signo representa seu objeto.<br />
É a reprodução de algo, um<br />
símbolo, que atribuímos significado,<br />
valor ou sentidos, logo um<br />
signo pode ser qualquer coisa,<br />
pode ser tudo, afinal tudo que se<br />
l i g a a n o s s a m e n t e e s t á<br />
despertando qualquer um dos 5<br />
sentidos onde atri-buímos um<br />
significado claro seja ele bom ou<br />
ruim.<br />
[...] devem conter, no nível abstrato, os<br />
elementos que nos permitem descrever,<br />
analisar e avaliar todo e qualquer processo<br />
existente de signos verbais, nãoverbais<br />
e naturais: fala, escrita gestos,<br />
sons, comunicação dos animais,<br />
imagens fixas e em movimento,<br />
audiovisuais, hiper mídia etc. As diversas<br />
facetas que a análise semiótica<br />
apresenta podem assim nos levar a<br />
compreender qual a natureza e quais são<br />
os poderes de referências dos signos,<br />
que informação transmitem, como eles<br />
se estruturam em sistemas, como<br />
funcionam, como s ão emitidos<br />
produzidos, utilizados e que tipos de<br />
efeitos são capazes de provocar no<br />
receptor. (Santaella, 2004, p.4)<br />
Para os efeitos interpretativos<br />
não são necessários pensamentos<br />
bem formulados, porque eles<br />
podem ter como resultado uma<br />
reação física, causar uma emoção<br />
e aflorar sentimentos! Os processos<br />
para a realização das<br />
interpretações das mensagens<br />
partem de duas faces, que são:<br />
SIGNIFICANTE- Que desperta os<br />
aspectos sensoriais, é no significante<br />
onde o sensível é o foco,<br />
explorando as sensações que o<br />
signo causa no ser, podendo ser<br />
um signo verbal ou não verbal.
14<br />
SIGNIFICADO - Que é a face de<br />
compreensão onde assumimos<br />
esse posto, como receptores,<br />
podendo perceber, sentir, e entender<br />
as mensagens. Nós reagimos<br />
aos signos de forma sensível pelo<br />
significante, e no significado<br />
interpretamos o significante.<br />
SIGNIFICAÇÃO - É o resultado entre<br />
o despertar o sentido sensorial<br />
e a compre-ensão dos receptores,<br />
que é o estudo da semiótica, que<br />
explora os caminhos da mensagem<br />
até chegar no receptor.<br />
Pierce considerava o signo uma<br />
‘natureza triádica’ onde para ser<br />
interpre-tado seria preciso passar<br />
por 3 fases: 1 - O signo é analisado<br />
pela sua capacidade de significar.<br />
2 - É analisado por aquilo que ele<br />
indica, se refere ou representa. 3-<br />
No que ela causa, e desperta nos<br />
receptores, a capacidade de<br />
despertar os sentimentos e<br />
sensações nos interpretantes.<br />
AS CIÊNCIAS NORMATIVAS<br />
[...]Essa quase-ciência fornece as<br />
fundações para as três ciências<br />
normativas: estética, ética e lógica e,<br />
estas, por sua vez, fornecem as<br />
fundações para a metafísica. Todas elas<br />
são disciplinas muito abstratas e gerais<br />
que não confundem com ciências<br />
práticas. A estética, ética e lógica são<br />
chamadas normativas porque elas têm<br />
por função estudar ideias, valores e<br />
normas. Que ideias guiam nossos<br />
sentimentos? Responder essa questão é<br />
tarefa da estética. A lógica, por fim,<br />
estuda os ideais e normas que conduzem<br />
o pensamento. (Santaella, 2004, p.2)<br />
Agora para entender melhor a<br />
semiótica, vamos ver suas bases<br />
de estudo. Para a interpretação<br />
dos signos e das suas mensagens,<br />
são feitos vários estudos em várias<br />
fases para uma interpretação<br />
completa, entre elas há 3 ciências<br />
normativas:<br />
ESTÉTICA - Que guia os sentimentos,<br />
ela cuida da parte sensível,<br />
para onde a nossa sensibilidade<br />
nos leva, e sua capacidade de<br />
ativar sensações no ser ou de levar<br />
o mesmo para lembranças do<br />
passado. A estética do signo define<br />
o nosso sensível, comanda os<br />
nossos sentidos, logo a aparência<br />
desse signo irá guiar nossas<br />
emoções, definindo nossas<br />
reações sobre o mesmo.<br />
LÓGICA - Estuda as diretrizes que<br />
conduzem os pensamentos e as<br />
circunstâncias necessárias para<br />
atingir a verdade, o verdadeiro<br />
significado do signo, e sua real<br />
mensagem. Também interpreta<br />
quais os diferentes significados<br />
que o mesmo signo passa de uma<br />
mente para a outra, assim<br />
c o n s e g u i n d o a n a l i s a r s u a s<br />
múltiplas interpretações.<br />
ÉTICA - É nessa ciência que os<br />
comandos são estudados, assim<br />
sendo, a ética controla as ações<br />
seguidas das sensações passadas<br />
pelo signo.<br />
A estética está na base da ética assim<br />
como a ética está na base da lógica. A<br />
estética visa determinar o que deve ser o<br />
ideal último, o bem supremo para o qual<br />
nossa sensibilidade nos dirige. De<br />
acordo com o Pierce, esse ideal é o admirável<br />
em si, aquilo que é pura e simplesmente<br />
admirável e, por isso mesmo, nos<br />
chama para si. Pierce concluiu que<br />
aquilo que atrai a sensibilidade humana,<br />
em qualquer tempo e espaço, é o crescimento<br />
da razoabilidade concreta, ou<br />
seja, o crescimento da razão criativa corporificada<br />
no mundo. Não pode haver<br />
nada mais admirável do que encorajar,<br />
permitir e agir para que ideias, condutas<br />
e sentimentos razoáveis tenham a possibilidade<br />
de se realizar. É para esse admirável<br />
que nosso empenho ético e a força<br />
de nossa vontade devem ser conduzidos.<br />
Por ser o estudo do raciocínio correto, a<br />
lógica nos fornece os meios para agir<br />
razoavelmente, especialmente através<br />
do autocontrole crítico que o pensamento<br />
lógico nos ajuda a desenvolver [...]<br />
(Santaella, 2004, p.2)
15<br />
Para o trabalho que leva como<br />
tema a Memória Afetiva o estudo<br />
das ciências normativas foi usado,<br />
para isso as interpretações foram<br />
feitas de tais maneiras:<br />
ESTÉTICA - Por se tratar de um<br />
trabalho imagético a estética foi a<br />
primeira ciência a ser estudada,<br />
para trazer as lembranças do passado<br />
e os elementos que se-riam<br />
cápsulas do tempo. A estética<br />
para aguçar o senti-mental foi a<br />
locação usada para as fotos e<br />
vídeo, um brechó com clima aconchegante<br />
e cheio de história em<br />
araras divididas por décadas.<br />
Ainda nos elementos para aguçar<br />
o sentimental, foi trazido fotos<br />
polaroid com os acontecimentos<br />
de cada década, para uma contextualização<br />
das décadas para com<br />
a personagem do vídeo e para a<br />
modelo nas fotos.<br />
LÓGICA - O objetivo é ter uma única<br />
mensagem para todos os interpretantes,<br />
para isso foi realizado<br />
uma mensagem que pudesse ter<br />
essa interpretação única, ainda<br />
com um aspecto que ativa em<br />
cada interpretante algo diferente,<br />
referente às suas lembranças do<br />
passado, ativando suas lembranças<br />
e memórias guardadas em<br />
roupas.<br />
ÉTICA - Para ter o controle das<br />
ações dos interpretantes foi<br />
passado mensagens claras e<br />
objetivas dos temas, trazendo<br />
elementos que remetesse ao<br />
antigo e à um passado afetivo, com<br />
polaroids e ícones de algumas<br />
décadas fazendo das histórias<br />
mais reais.<br />
OS TRÊS ELEMENTOS FORMAIS<br />
Os estudos que empreendeu levaram<br />
Pierce à conclusão de que há três, e não<br />
mais do que três, elementos formais e<br />
universais em todos os fenômenos que<br />
se apresentam à percepção e à mente.<br />
Num nível de generalização máxima,<br />
esses elementos foram chamados de<br />
primeiridade, secundidade e terceiridade[...]<br />
(Santaella, 2004, p.7)<br />
Para uma interpretação ampla e<br />
de conhecimento vasto de cada<br />
percepção das mensagens que os<br />
signos apresentam, os estudos são<br />
divididos em três partes, desse<br />
modo as compreensões ficam divididas<br />
cada uma em seu fenômeno,<br />
permitindo uma análise mais profunda<br />
de cada área das mensagens<br />
dos signos, sendo ele verbal ou<br />
não-verbal.<br />
Os estudos são chamados de:<br />
1- Primeiridade, 2-Secundidade e<br />
3- Terceiridade, e podemos interpretá-las<br />
como descritas abaixo:<br />
PRIMEIRIDADE “a primeiridade<br />
aparece em tudo que estiver relacionado<br />
com acaso, possibilidade, qualidade,<br />
sentimento, originalidade, liberdade,<br />
mônada [...]” (Santanella, 2004, p.7)<br />
Ou seja, a primeiridade é a<br />
primeira percepção, o primeiro<br />
impacto, ela representa a parte<br />
mais óbvia e rápida leitura de um<br />
signo, como o mesmo se apresenta<br />
a mente nesse primeiro impacto.<br />
SECUNDIDADE “a secundidade está<br />
ligada às ideias de dependência,<br />
determinação, dualidade, ação e reação,<br />
aqui e agora, conflito, surpresa, dúvida<br />
[...]” (Santanella, 2004, p7)<br />
Ou seja, você agora interpreta o<br />
que aquela imagem realmente é,<br />
qual a sua existência e o que ela<br />
representa, entende qual a sua<br />
verdadeira forma, sem a parte<br />
sentimental da leitura, agora se vê<br />
o que ela é de forma racional.<br />
TERCEIRIDADE [...]a terceiridade diz<br />
a respeito à generalidade, continuidade,<br />
crescimento, inteligência. A forma mais<br />
simples da terceiridade, segundo Pierce,<br />
manifesta-se no signo, visto que o signo<br />
é um primeiro (algo que se apresenta à<br />
mente), ligando um segundo (aquilo que<br />
o signo indica, se refere ou representa) a<br />
um terceiro (o efeito que o signo irá<br />
provocar em um possível intérprete).<br />
(Santanella, 2004, p.7)<br />
Ou seja, este está ligado mais ao<br />
sentimento e emocional que
16<br />
Ou seja, este está ligado mais<br />
ao sentimento e emocional que<br />
aquela imagem pode passar, a<br />
terceiridade é o efeito que a<br />
imagem causa como signo, o que<br />
ela pode passar para o seu intérprete.<br />
Para trabalhar a memória<br />
afetiva é preciso passar por todas<br />
essas fases, analisando quais são<br />
os signos que podem ser cápsulas<br />
do tempo e quais podem passar<br />
afeto de uma maneira que abranja<br />
várias pessoas atingindo uma<br />
única interpretação, para isso<br />
passamos para a primeiridade,<br />
onde o primeiro impacto será de<br />
algo que se trata de história, algo<br />
antigo, a interpretação será de<br />
que se trata de algo que mexe<br />
com o tempo. A secundidade, vai<br />
mostrar o que a imagem realmente<br />
representa, e irá fazer o intérprete<br />
entender melhor do que se<br />
trata e quais são seus significados,<br />
que para este trabalho foi a<br />
locação, que por si já remete a<br />
memória, ao antigo, a uma cápsula<br />
do tempo. A terceiridade, é a<br />
maior parte de um trabalho que<br />
trata de sentimentos e emoções,<br />
ela trata das sensações que as<br />
imagens passam e o que o intérprete<br />
absorve de forma sensível,<br />
no trabalho o intérprete se insere<br />
na história pensando nas suas<br />
memórias afetivas com a roupas,<br />
se questionando o tempo todo<br />
sobre sua própria cápsula do<br />
tempo.<br />
PRIMEIRIDADE<br />
O e s t u d o p a r a a p r i m e i r a<br />
percepção do interpretante<br />
fundamentou nos elementos<br />
visuais que chamariam mais<br />
atenção de início. Logo a locação<br />
foi um ponto importante, já que a<br />
mesma carrega em si elementos<br />
que despertam sensações visuais e<br />
não visuais, um local cheio de<br />
araras, roupas, cores, histórias,<br />
remetendo ao antigo. E claro<br />
também a atitude da modelo, no<br />
poder de passar sensações por<br />
expressões.<br />
SECUNDIDADE<br />
Para uma leitura mais racional do<br />
signo, o interpretante agora<br />
percebe que se trata de um Brechó,<br />
um local que por si carrega o<br />
antigo, aquilo que já passou, mas<br />
ainda se faz presente.<br />
TERCEIRIDADE<br />
É a parte principal para o trabalho,<br />
para isso foi pensado em maneiras<br />
de passar de formas não-visuais a<br />
história que cada roupa pode ter, a<br />
história que elas carregam e os<br />
sentimentos nelas guardados.<br />
Logo os elementos trazidos foram<br />
também anti-gos, como a foto<br />
polaroid que por si já carrega uma<br />
história, tem um peso afetivo<br />
imenso até mesmo pela sua<br />
revelação feita na hora, ela teve<br />
como dever amarrar a história<br />
entre o antigo e o afetivo.<br />
RELAÇÃO ENTRE SIGNO E<br />
OBJETO<br />
Como são três os tipos de propriedades –<br />
qualidade, existente ou lei -, são também<br />
três os tipos de relação que o signo pode<br />
ter com o objeto a que se aplica ou que<br />
denota. Se o fundamento é um qualisigno,<br />
na sua relação com o objeto, o<br />
signo será um ícone; se for um existente,<br />
na sua relação com o objeto, ele será um<br />
índice; se for uma lei, será um símbolo<br />
[...] (Santaella, 2004, p.14)<br />
Fazendo uma leitura do objeto<br />
do signo, em uma forma mais<br />
interpretativa, dividindo os signos<br />
por suas diferentes naturezas e<br />
relação com o objeto, foram feitos<br />
três diferentes grupos para<br />
diferenciá-los pelas suas características,<br />
tendo uma melhor<br />
interpretação dos signos por suas<br />
propriedades.<br />
São eles:
17<br />
ÍCONE - Remete a um objeto por similaridade, consegue<br />
remeter a algo pela sua semelhança que ligam<br />
uma qualidade a outra. Sugere através de associações<br />
o significado do signo. Por exemplo, o Memorial<br />
Nacional do Monte Rushmore são esculturas ícones de<br />
quatro presidentes americanos, que os representam<br />
pelas suas semelhanças.<br />
ÍNDICE - Indica e representa algo, ele estabelece uma<br />
associação com outra, uma experiência. Um bom<br />
exemplo é a fotografia que indica a existência daquilo<br />
que foi fotografado estabelecendo uma conexão entre<br />
a foto e o ‘objeto’ fotografado. Indica através de uma<br />
conexão de fato, existencial. As pegadas da foto por<br />
exemplo, indicam a passagem de alguém.<br />
SÍMBOLO - Diferentes dos outros dois grupos, o<br />
símbolo não associa ou representa algum objeto, ele<br />
significa algo, logo sua representação equivale a algo<br />
que não o próprio signo, para entendê-lo é preciso saber<br />
o que ele significa, e só assim o objeto do signo<br />
conseguirá ser interpretado, por um conhecimento<br />
prévio. Um exemplo de símbolos são logos, que em sua<br />
maioria são representados por um objeto que não eles<br />
mesmo. Abaixo o símbolo que representa a marca<br />
Apple, é uma maçã, mas para um interpretante que tem<br />
um conhecimento prévio sobre a marca, sabe que esse<br />
símbolo na verdade representa a empresa e não faz<br />
referência a fruta.<br />
EXEMPLOS DOS OBJETOS:<br />
ÍCONE ÍNDICE SÍMBOLO<br />
Para o trabalho de memória afetiva passar as sensações necessárias e o que era almejado, desde o início do projeto<br />
também foi estudado os seus objetos, para deixar de forma clara para o intérprete as memórias e o afetivo de cada<br />
elemento. Para isso os objetos estudados e apresentados foram:
18<br />
ÍCONE - Para abordar o objeto ícone de um projeto que<br />
visa passar a relação da memória afetiva guardada nas<br />
roupas, o estudo foi feito profundamente em cada<br />
década para descobrir seus acontecimentos, que<br />
refletiam no modo de se vestir, criando os ícones de<br />
cada década. Por exemplo, a melindrosa foi o ícone dos<br />
anos 20, assim como a calça boca de sino e as batas e<br />
coletes foram os ícones dos anos 70, cada década tem<br />
seu ícone que reflete nos comportamentos e<br />
acontecimentos do momento.<br />
ÍNDICE - Apresentando o objeto índice, a relação<br />
estudada foi com o objetivo de trazer ao intérprete o<br />
sentido de lembranças, de expor e indicar o porquê dos<br />
ícones de cada década, assim sendo o estudo foi<br />
embasado no objeto que seria a cápsula do tempo,<br />
sendo algo do passado que ainda está presente nos<br />
dias de hoje, o vintage. O objeto escolhido para indicar<br />
as histórias foram as fotos polaroid, que mostravam os<br />
acontecimentos e comportamentos da época,<br />
contextualizando e amarrando o tema.<br />
SÍMBOLO - O objeto símbolo é a locação, pois para<br />
entender o que um brechó pode significar e simbolizar é<br />
preciso um conhecimento prévio da história não só da<br />
moda, como também da história do mundo. O brechó<br />
simboliza uma caixa de memórias, nele pode ser<br />
encontrado marcas, como uma blusa rasgada<br />
simbolizando uma briga, uma mancha simbolizando<br />
um encontro que envolvesse sorvete, nele é possível<br />
encontrar histórias, é possível imaginar histórias e até<br />
mesmo criá-las. Logo o brechó é o símbolo do zeitgeist,<br />
o espírito do tempo.<br />
OS OBJETOS NO TRABALHO<br />
ÍNDICE ÍCONE SÍMBOLO
19<br />
Outro objeto símbolo do projeto são as roupas, que<br />
para um interpretante com um conhecimento prévio<br />
da moda das décadas saberá os verdadeiros<br />
significados, entenderá suas histórias, e sentirá as<br />
sensações que nelas estão guarda-das. Conseguirá<br />
entender sua representação, e terá lembranças,<br />
mesmo que sejam de memórias não vividas e sim de<br />
histórias estuda-das e vistas em filmes.
20<br />
MEMÓRIA<br />
AFETIVA<br />
[...] a mágica da roupa está no fato de<br />
que ela nos recebe: recebe nosso<br />
cheiro, nosso suor, recebe até mesmo<br />
nossa forma. E quando nossos pais, os<br />
nossos amigos, e os nossos amantes<br />
morrem, as roupas ainda ficam lá<br />
penduradas em seus armários,<br />
sustentando seus gestos ao mesmo<br />
tempo confortadores e aterradores,<br />
tocando os vivos com os mortos.<br />
(STALLYBRASS, 2004, p.10)<br />
Como dito acima, a roupa tem o<br />
poder de marcar pessoas, as<br />
fazendo presente mesmo quando<br />
por forças maiores elas não<br />
podem fazer o mesmo, elas carregam<br />
características do seu usuário,<br />
o cheiro, as marcas e as histórias<br />
que nelas ficam cravadas. Por<br />
meio de vivências, e simples<br />
hábitos como o de passar o perfume<br />
e espalhá-lo pelo corpo,<br />
deixando o cheiro também habitando<br />
a roupa, ou no hábito de<br />
deixar as mangas da blusa gastar<br />
de tanto apertá-las entre as mãos.<br />
Os hábitos do usuário determinam<br />
a história que será contada<br />
nas roupas, por meio das marcas<br />
Assim sendo, as roupas carregam<br />
personalidades, sensações e<br />
sentimentos. Onde antes habitava<br />
apenas uma peça para o frio, um<br />
simples agasalho, o tempo pode<br />
transformar na representação de<br />
um abraço, uma sensação de aconchego,<br />
uma lembrança. A roupa<br />
tem o poder de ser a cápsula do<br />
tempo para memórias que ficaram<br />
no passado, mas nela se fazem presente<br />
diariamente. Elas são uma<br />
forma de refúgio, uma plataforma<br />
para alcançar sensações.<br />
Segundo o antropólogo, nossas roupas,<br />
cabelos, calçados e maquiagem podem<br />
ser úteis para aquilo que o sociólogo<br />
Erving Goffman (1975) definiu como<br />
presentation of self (apresentação do<br />
eu) na coletividade [...] (FAÇANHA;<br />
MESQUITA, 2012, p.68)<br />
que nelas ficam, manchas,<br />
marcas do cabide<br />
rasgos todos os elementos<br />
que compõe<br />
uma peça contam uma<br />
parte da história.<br />
A memória afetiva é conservada<br />
em tudo aquilo que possa remeter<br />
algo, à uma lembrança ou um<br />
momento, a roupa é uma cápsula<br />
do tempo, nem sempre de bons<br />
momentos, no entanto ainda sim<br />
ela tem o poder de escrever uma<br />
história mostrando e aguçando as<br />
sensações e os sentimentos que<br />
nela já foram sentidos. A preservação<br />
das lembranças é mantida na<br />
mente de cada ser, sendo ativada<br />
pelos objetos que a simbolizam,<br />
como estudado na semiótica, o<br />
objeto símbolo não representa<br />
algum objeto, no entanto ele<br />
significa algo e o interpretante só<br />
irá entender esse simbolismo por<br />
um conhecimento prévio, no caso<br />
da memória guardada nas roupas o<br />
símbolo está na mente do interpretante,<br />
só o próprio interpretante<br />
irá saber o significado da roupa,<br />
o mesmo irá receber todos os<br />
sentimentos e sensações que<br />
estavam ali guarda-dos, já outro<br />
interpretante não irá receber tais<br />
lembranças e senti-mentos pois o<br />
mesmo não tem o ‘conhecimento’,<br />
a vivência que o dono da peça teve<br />
com a peça de roupa.<br />
As roupas guardam as histórias de<br />
uma vida, elas materializam os<br />
sentimentos dos momentos e os<br />
transformam em memórias palpáveis,<br />
os sentimentos vão para o<br />
externo e ficam nelas cravados,<br />
sendo um objeto símbolo da<br />
memória afetiva, elas simbolizam<br />
o que está guardado dentro do ser.<br />
Roupas marcam as pessoas<br />
diariamente, talvez essa seja uma
21<br />
justificativa para a demora ao<br />
escolher roupas logo ao acordar, o<br />
m e d o d e n ã o a c e r t a r n a<br />
combinação para um novo dia, o<br />
medo dela não combinar com o<br />
resto do dia, se chover, se o humor<br />
tiver uma grande variação, se for<br />
acontecer uma festa incrível após<br />
o trabalho. O poder de ditar seu<br />
dia pode não estar inteiramente<br />
nas roupas, mas é nelas que ficarão<br />
as memórias do dia, são elas<br />
que passam uma mensagem<br />
errada na foto, são elas que serão<br />
vistas em dez anos e dirão quem<br />
era aquela pessoa de roupas estranhas<br />
para o grupo ao seu redor.<br />
Sempre haverá um novo dia, e<br />
novas roupas, no entanto as<br />
roupas ditam as características<br />
do seu usuário assim como<br />
marcam os dias vividos pelo<br />
mesmo.<br />
O poder de marcar as pessoas<br />
pode ser pelo fato de estarmos a<br />
maior parte do tempo vestidos<br />
para um propósito, há diversos<br />
segmentos que por si já passam<br />
uma mensagem e direcionamento<br />
que podem ativar uma<br />
sensação. Quando se fala moda<br />
praia, de modo automático já se<br />
pode lembrar de uma viagem<br />
onde havia praias e piscinas, e<br />
quem sabe uma memória da<br />
infância de uma roupa de banho<br />
que estava presente em momentos<br />
como uma viagem em família.<br />
Ou então moda festa, podemos<br />
pensar em um casamento ou<br />
então numa formatura, o que<br />
e s t i v e r m o s p a s s a n d o p e l o<br />
momento irá nos levar para uma<br />
memória diferente, uma nova<br />
sensação.<br />
Quando se trata de memória<br />
afetiva o foco são as roupas que<br />
estavam presentes em momentos<br />
como alguns citados acima, são<br />
roupas que foram marcadas pelos<br />
acontecimentos onde elas estavam<br />
presente, mesmo que pelo<br />
simples fato de não ter sido a<br />
roupa escolhida para tal, ela estava<br />
lá cumprindo seu dever de cobrir o<br />
corpo, fazendo parte dos momentos.<br />
Em primeiro lugar, as roupas têm uma<br />
vida própria: elas são presenças<br />
materiais e, ao mesmo tempo, servem<br />
de código para outras presenças materiais<br />
e imateriais[...] (STALLYBRASS,<br />
2004, p.38)<br />
LEMBRANÇA, CÁPSULA<br />
DO TEMPO<br />
[...]Hannah escreve para Margareth,<br />
dizendo que após sua avó ter morrido,<br />
sua filha Rebecca, irá agora reunir os<br />
pedaços dos vestidos de sua avó para<br />
fazer uma colcha. Uma rede de roupas<br />
pode efetuar as conexões do amor<br />
através das fronteiras da ausência, da<br />
morte, porque a roupa é capaz de<br />
carregar o corpo ausente, a memória, a<br />
genealogia, bem como o valor material<br />
literal. (STALLYBRASS, 2004, p.34)<br />
Na foto a neta surpreende a avó<br />
usando o vestido de noiva usado<br />
por ela no seu dia. Uma lembrança<br />
-um vestido- que guarda todos os<br />
sentimentos e emoções do seu<br />
casamento, como também carrega<br />
toda a história de amor que levou<br />
aquele momento, ao momento de<br />
usar o vestido que a representasse<br />
e contasse sua história, e que<br />
agora continua guardando memórias<br />
e sensações, escrevendo a<br />
nova história, a de sua neta.
22<br />
Preservar pessoas e momentos<br />
por meio de roupas, fazem de<br />
momentos passados presentes,<br />
esse é o objetivo deste trabalho,<br />
que visa mostrar o poder que a<br />
roupa tem, sendo uma cápsula do<br />
tempo, carregando lembranças e<br />
memórias afetivas onde há uma<br />
grande carga de sentimentos.<br />
Existem peças de roupas que<br />
viraram icónicas por serem peças<br />
marcadas por pessoas, um grande<br />
exemplo é o vestido branco usado<br />
por Marilyn Monroe, no filme ‘O<br />
Pecado mora ao lado’, mesmo<br />
com a atriz estando morta e o<br />
filme ter estreado há mais de<br />
sessenta anos, ele ainda preserva<br />
a memória da grande atriz viva, e<br />
sua estética guardada nas memórias,<br />
por exemplo, não foi preciso<br />
fotos para lembrar do vestido que<br />
está sendo retratado. O vestido é<br />
uma memória viva de Marilyn<br />
mesmo sem um conhecimento<br />
prévio sobre o filme, ou até<br />
mesmo sobre a própria atriz, o<br />
vestido continua sendo um marco;<br />
que já virou fantasia e há<br />
milhares de réplicas que nem<br />
precisam ser cópias idênticas,<br />
mas a mera semelhança já causa<br />
o efeito de recordação à Marilyn.<br />
Sendo uma peça que preserva seu<br />
espírito vivo, sendo a cápsula do<br />
tempo para a lembrança da atriz<br />
no vestido.<br />
Outros grandes exemplos são<br />
peças de roupas que estão em<br />
museus amarrando histórias,<br />
contextualizando seus momentos,<br />
fazendo a narração ganhar vida,<br />
um simbolismo. A roupa tem o<br />
poder de ser o objeto tangível de<br />
diversos momentos, sendo uma<br />
maneira acessível de preservar o<br />
passado ou até mesmo preservar o<br />
presente para o futuro, contando<br />
uma história. Assim como fez<br />
Angelina Jolie ao colocar desenhos<br />
de deus filhos no véu que usou em<br />
seu casamento em 2014.<br />
Fazendo momentos do passado<br />
presentes, também estão as<br />
roupas que carregam as primeiras<br />
experiências, que sempre marcam,<br />
sendo elas: a primeira<br />
palavra, os primeiros passos, o<br />
primeiro dia na escola, o primeiro<br />
jogo de futebol, o primeiro<br />
machucado, a primeira prova, o<br />
primeiro melhor amigo, o primeiro<br />
beijo, a primeira graduação. Tudo<br />
que remete ao novo, à uma nova<br />
sensação, à uma nova experiência,<br />
à um novo aprendizado, marca e<br />
muito, as segundas tentativas não<br />
têm o mesmo peso pelo fato de<br />
não ser novidade, não ter o apelo<br />
que carrega uma nova descoberta.<br />
E assim se inicia as lembranças<br />
que as roupas carregam, por meio<br />
de marcas, as roupas são as<br />
memórias tangíveis do que um dia<br />
foi novidade, do que um dia foi o<br />
primeiro, mesmo a roupa sendo<br />
velha estando rasgada ou amarela<br />
pelo envelhecimento do tecido, a<br />
sensação e os sentimentos de<br />
novidade ficam ali guardadas<br />
como um lembrete, aquela<br />
sensação ainda se faz presente por<br />
meio do objeto tangível que a<br />
roupa se transformou as memórias<br />
e sensações do passado<br />
tornam-se eternas.
23<br />
[...] As roupas são, pois, na forma de memória,<br />
mas elas são também postos sobre os quais nos apoiamos<br />
para nos distanciar de um presente insuportável:<br />
O presente da infância, por exemplo,<br />
quando somos protegidos pelos nossos pais.<br />
(STALLYBRASS, 2004, p.42)<br />
A roupa cápsula do tempo também pode ser um refúgio, uma proteção<br />
daquilo que no presente se torna insuportável, uma realidade onde não se deseja viver,<br />
logo a roupa pode ser uma forma de resgate para uma época feliz, para uma boa lembrança, a<br />
roupa pode ser o meio de ligação entre dois pontos da história, ligando-as para um melhor<br />
momento no presente. Sendo assim guardar roupas de entes queridos, pode se transformar em<br />
algo como guardar uma companhia, onde se saberia que haveria um refúgio ou um alguém<br />
quando um alento se torna necessário. Como dito acima de diversas maneiras, a roupa é casa, é nela<br />
onde se está guardado diversas sensações, sentimentos e marcas deixadas na narrativa de uma<br />
vida, de forma não-verbal a roupa guarda e incorpora tudo que já foi vivido esperando as próximas<br />
memórias para deixar ali guardada, como um refúgio, um lar.
24<br />
OBJETO<br />
CÁPSULA<br />
[...] A moda se traduz exemplarmente pela amplitude da paixonite, pelo sucesso de<br />
massa visível nos gráficos de discos e livros mais vendidos, filmes e programas mais<br />
vistos. (LIPOVETSKY, 1987, p. 26)<br />
Diferentes décadas guardam<br />
diferentes histórias, diferentes<br />
acontecimentos e comportamentos,<br />
assim sendo cada década<br />
guarda o seu objeto cápsula,<br />
como podemos entender neste<br />
trabalho, realizando uma viagem<br />
trabalho, realizando uma viagem<br />
no tempo e vivendo todos os seus<br />
tempos.<br />
Cada década desde 1910 teve sua<br />
marca na moda, tendo mudanças<br />
recorrentes, revelando o que<br />
acontecia no mundo por conse-<br />
-quência. Suas alterações incluíam<br />
materiais, formatos, cores,<br />
composições, sobreposições,<br />
acessórios e maquiagem, onde<br />
pela vestimenta se tornou possível<br />
compreender a pessoa que a vestia<br />
e o tempo vivido.
25<br />
Logo, até nos dias atuais quando é lançado um filme,<br />
uma série que envolva um tempo que não o presente, o<br />
figurino tem que ser bem estudado para transmitir<br />
exatamente o que o personagem estava passando, o<br />
tempo que estava vivendo, e o grupo perten-cente. As<br />
roupas usadas são os ícones da década vivida nos<br />
filmes, o ‘cliché’ da época, o estudo precisa ser<br />
embasado no mundo do personagem, mergulhando no<br />
seu ambiente para passar aos telespectadores os<br />
sentimentos e tempos vividos, sendo o objeto cápsula<br />
de transmissão da sensação de uma diferente data que<br />
a vivida atualmente.<br />
O objeto cápsula carrega em si informações de outros<br />
tempos, onde o mesmo se fazia presente, a roupa tem o<br />
poder de ser esse objeto por ser um objeto viajante do<br />
tempo, pelas suas marcas características. Essas<br />
marcam podem ser passadas de forma visual e nãovisual,<br />
como em filmes e livros, onde há uma descrição<br />
dos looks dos persona-gens para uma maior<br />
aproximação dos personagens, de suas caracte-rísticas,<br />
e uma maior contex-tualização do tempo. Um filme<br />
vivido em outras décadas passa informações de<br />
vestimentas de diferentes grupos, fazendo da roupa<br />
uma cápsula do tempo para aquele contexto, aqueles<br />
personagens<br />
[...] A produção cultural é explicada em termos de diferentes<br />
modos de vida (lifestyles) e com referência à constituição das<br />
identidades sociais culturais e individuais. Nesse sentido,<br />
a criação de imagem está relacionada às<br />
manifestações observadas quando moda e<br />
indumentária são articuladas como linguagem não<br />
verbal.<br />
(FAÇANHA; MESQUITA, 2012, p.65)
26<br />
A MODA QUE MARCA<br />
[...] As roupas são preservadas; elas permanecem são os corpos que as habitam<br />
que mudam. (STALLYBRASS, 2004, p.38)<br />
No decorrer de toda a nossa vida, nosso corpo armazena<br />
sensações que estão ligadas a sentimentos e vivências afetivas.<br />
Algumas dessas sensações irão desaparecer com o passar dos<br />
tempos; outras, irão se sedimentar, deixando uma impressão<br />
gravada em nosso corpo e em nossa mente, de forma consciente<br />
ou inconsciente. O corpo não esquece. Tudo o que foi vivido<br />
durante a infância, através de sensações, permanece registrado.<br />
(VOLPI, 2015)<br />
A roupa carrega um passado, transformando uma peça de roupa<br />
abrange anos de vivência e num vintage autêntico. A moda é<br />
marcas do dia a dia, nelas são renovada todos os dias, mas há<br />
marcadas o passado e presente, tendências que voltam de um<br />
podendo passar por diferentes passado não tão distante, fazendo<br />
gerações, as marc ando de a procura por peças autênticas que<br />
diferentes formas, contextualizando<br />
diferentes vidas, ainda época de lançamento, voltarem<br />
levavam tal tendência na sua<br />
assim ela se preserva, e nela são nos dias de hoje, carregando o seu<br />
preservadas todas as histórias comportamento, o fazendo<br />
vividas por todos os s eus ressurgir nos dias atuais. A<br />
usuários. Compras feitas em ascensão de brechós é uma bela<br />
brechó, roupas passadas de mãe resposta para tal demonstração de<br />
para filha, roupas refeitas para preocupação com o vintage, com o<br />
um novo propósito enfim, todas que é autêntico, naquilo que já<br />
as roupas que são repassadas g u a r d a a m e m ó r i a d e t a l<br />
guardam mais histórias, guardam tendência, de algo que já passou<br />
um passado mais distante,<br />
pelo que se está passando.<br />
Em tempos atuais as vestimentas<br />
não tratam mais do luxo<br />
que marcas podem trazer, do preço<br />
que tais peças tiveram, e sim do<br />
valor sentimental e da carga de originalidade<br />
que elas trazem consigo.<br />
A busca pelo que é original e<br />
único é o que simboliza ter luxo, é<br />
se preocupar não só com o nome<br />
trazido na etiqueta, mas também<br />
com as sensações trazidas com o<br />
tempo, o simbolismo do vintage.<br />
As pessoas buscam roupas e<br />
objetos que sejam vintage, pela<br />
sua carga, pela sua história, por ser<br />
tratar de um objeto que vem com<br />
uma narrativa, vem de outros<br />
tempos, tendo sua própria<br />
história. E outro grupo procura o<br />
retrô por ser um ícone do antigo,<br />
por lembrar o passado mesmo que<br />
não vivido e sem uma narrativa<br />
prévia, ele faz uma viagem no<br />
tempo por se assemelhar ao<br />
antigo.
LOOKS DOS ANOS 70 E 90 SENDO USADOS HOJE<br />
27
28<br />
PROJETOS QUE TRABALHAM<br />
MEMÓRIA E AFETO<br />
Há diversos projetos que objetivam<br />
um envolvimento maior regar em si a história de amor que<br />
e único, fazendo aquele objeto car-<br />
com as memórias, que trabalham havia sido contada. No projeto, a<br />
o afeto do ser com o tempo, e a materialização é a memória afetiva,<br />
é uma história sendo eterni-<br />
necessidade do humano em<br />
g u a r d a r s u a s m e m ó r i a s e zada por meio da externalização de<br />
conseguir lembrá-las com afeto e um sentimento, é tornar visível o<br />
carinho, como se fosse possível que antes os olhos não podiam ver,<br />
congelar tal momento, tais mas o coração podia sentir. E como<br />
projetos são:<br />
diz os seus criadores - “O projeto<br />
LOVE PROJECT<br />
sensações para a impressora<br />
3D, que<br />
materializa o sentimento<br />
de cada pessoa<br />
em algo palpável<br />
sugere um futuro em que produtos<br />
únicos carregue histórias íntimas e<br />
pessoais, de modo que o seu ciclo<br />
de vida seja muito mais longo,<br />
num conceito de sustentabilidade<br />
afetiva. ” O projeto foi dividido em<br />
três experiências.<br />
EXPERIÊNCIA 1: A experiência<br />
contou com sensores que captavam<br />
as emoções dos convidados<br />
ao contarem suas histórias de<br />
amor e por meio da leitura de<br />
interfaces moldavam uma peça de<br />
design que era impressa na<br />
máquina 3D, sendo ali a história de<br />
amor materializada em um objeto<br />
tangível.<br />
O projeto ministrado pelo<br />
arquiteto Guto Requena, do estúdio<br />
Guto Requena, tem como<br />
objetivo materializar uma história<br />
de amor, pegar as sensações e<br />
sentimentos de uma pessoa e<br />
transformá-los em algo tangível.<br />
Para isso o projeto iniciou convidando<br />
pessoas a contar suas<br />
histórias de amor, e enquanto<br />
contavam sensores captavam<br />
suas emoções, como os batimentos<br />
cardíacos, o tom da voz e<br />
a atividade cerebral, cada emoção<br />
que o corpo emitia era entendido<br />
por interfaces que enviavam as
29<br />
EXPERIÊNCIA 2: Para a segunda experiência a<br />
ideia foi inserir o usuário no processo,<br />
aproximando cada vez mais o usuário do<br />
processo que materializa suas memórias antes<br />
imateriais. Enquanto contava sua história o<br />
público era convidado a usar a interface,<br />
resultando em mandalas que carregavam suas<br />
memórias.<br />
EXPERIÊNCIA 3: A última experiência do projeto<br />
tem como intenção aumentar o seu público,<br />
agora sendo um aplicativo de celular que capta<br />
as emoções e as envia para a produção de uma<br />
jóia única, uma jóia que conta e guarda a sua<br />
história de amor com você.
30<br />
MEMORIANDO<br />
Este projeto é da Maibe Maroccolo dona da marca<br />
Mattricaria, que leva o conceito do slow fashion, uma<br />
grande preocupação com o mercado da moda e os<br />
efeitos que ela causa no meio ambiente, trabalhando<br />
com o tingimento natural e a estamparia botânica, em<br />
um processo afetivo pela troca que acontece entre as<br />
matérias primas e o tecido, é uma qualidade sendo<br />
passada a outra, uma casca de cebola se transforma<br />
em uma blusa de tonalidade única, a casca de árvores<br />
já não ficam mais no chão e sim gravadas em um<br />
tecido, o processo permite dar continuidade à algo que<br />
tinha tido um ponto final, que iria parar no lixo, ou se<br />
tornar algo degradável. Para fazer as estampas o<br />
necessário é um posicionamento correto das matérias<br />
primas usadas, como flores, folhas, cascas, pétalas,<br />
que depois de determinados são passadas para o<br />
tecido deixando ali suas cores, formatos e perfumes,<br />
fixando e memorizando cada detalhe.<br />
Foi a partir desses processos que por si contam<br />
uma história que Maine decidiu contar outras<br />
histórias, eternizando momentos por meio do seu<br />
trabalho. Nasceu assim o projeto Memoriando, que<br />
busca eternizar momentos ainda mais afetivos: o<br />
casamento ou até mesmo um batizado. Eternizando o<br />
momento por meio das flores, as transformando em<br />
roupas com seu tingimento natural ou estamparia<br />
botânica, deixando gravados nas roupas os momentos<br />
passados.
31<br />
EPOKHÉ INSECTA<br />
SHOES<br />
O projeto da marca Insecta e suas fundadoras<br />
Pamella, Bárbara e Laura, tem como objetivo abordar a<br />
memória, e a importância de saber a história de um<br />
lugar, de uma pessoa e de um objeto. Para isso o projeto<br />
trata do reaproveitamento do tecido de peças que são<br />
garimpadas em brechós ou achadas em depósitos de<br />
roupas, que passam por um processo de retirada dos<br />
aviamentos, e por diferentes processos para o tecido<br />
ganhar maior resistência, assim sendo possível sua<br />
transformação em sapato. O objetivo é deixar o tecido<br />
vivo, deixar suas histórias sem um ponto final, e dar<br />
continuidade a novas vivências e experiências,<br />
deixando ainda neles o passado que já foi vivido em<br />
outra função, o que antes cobria um corpo, agora cobre<br />
um pé, contudo as marcas de suas vivências não são<br />
apagadas só tem suas funções alteradas para uma nova<br />
história. Um trabalho cheio de memória afetiva e de<br />
marcas deixadas por experiências passadas. Sendo<br />
assim foi feito um editorial que mostra os dois tempos<br />
da peça, antes como roupa e depois como sapato,<br />
deixando viva a presença do antigo dono das peças.<br />
Uma forma inteligente e bonita de se olhar para as<br />
roupas, mostrando a continuação de uma história, o fim<br />
de uma fase para o início de uma nova, no entanto<br />
totalmente diferente. O intuito é mostrar que a peça<br />
pode continuar carregando seu ‘antigo proprietário’,<br />
preser-vando suas memórias, no entanto mudando sua<br />
forma, sua função, e deixando a história ser escrita pelo<br />
seu novo usuário.
32<br />
REVIVENDO CAPAS<br />
DE DISCOS CLASSÍCAS<br />
Comemorando os nove anos de existência, a revista<br />
Serafina convidou sete artistas brasileiros para<br />
reviverem capas de discos icônicos internacionais.<br />
Relembrando as histórias e os momentos que tais<br />
discos proporcionaram em suas épocas, mostrando e<br />
recontando suas histórias.<br />
Sophie Charlotte e Daniel de<br />
Oliveira interpretam Suze Rotolo e<br />
Bob Dylan no disco ‘The<br />
Freewheellin’ de 1963.<br />
Taís Araújo posa como Donna<br />
Summer no disco ‘Four Seasons of<br />
Love’ de 1976.<br />
Liniker revive Diana Ross<br />
no disco ‘Ross’ de 1978.
33<br />
CORPO E MODA:<br />
MEMÓRIA AFETIVA<br />
DAS ROUPAS<br />
O projeto leva como objetivo tratar a memória afetiva da roupa mostrando a carga de afeto que a roupa pode ter e o<br />
poder que a peça tem em contar uma história, narrando os sentimentos nela guardados, no entanto o foco do trabalho<br />
é também falar dos corpos que as roupas habitam e a natureza íntima que é vivida entre eles. Para as fotos a mente<br />
criativa por trás do projeto fez as pessoas refletirem sobre quais roupas delas teriam mais memórias guardadas, e<br />
depois ela insere as roupas e o dono no cenário da fotografia, sem ser óbvia. Como diz o título do trabalho é estudar o<br />
corpo e a moda.
34<br />
PROCESSO CRIATIVO<br />
Iniciando o projeto, procurei há um apego muito forte em cima<br />
por livros que falassem de memória<br />
afetiva visando ter um melhor são tocados quando é feita uma<br />
das roupas e objetos, que nunca<br />
entendimento do que a mesma renovação no guarda roupa, ou<br />
poderia significar, além dos motivos<br />
que já haviam me feito escoregam<br />
tantas memórias e bons<br />
uma doação, há roupas que carlher<br />
esse tema, assim iniciei minhas<br />
leituras com livros como “O permanecem enchendo os guarda<br />
momentos que mesmo sem uso,<br />
casaco de Marx– Roupas, memórias,<br />
dor” e “O império do efê-<br />
de serem o objeto cápsula para<br />
roupas e casas por aí, com o intuito<br />
mero”, que pretendem como elas, por contextualizarem e tornarem<br />
a história viva, é por meio<br />
principal objetivo falar da relação<br />
moda e humano. O Casaco de delas que as pessoas lembram do<br />
Marx fala de uma forma mais que já viveram.<br />
afetiva, do casaco que guarda as Procurei também como a memória<br />
é tratada no ramo imagé-<br />
histórias, memórias e eterniza as<br />
pessoas, passando as sensações tico, posto que memória pode se<br />
de quem o vestia antes. Já O Império<br />
do Efêmero trata a moda como que lembranças sejam em sua<br />
tratar de áreas não-visuais, mesmo<br />
fenômeno e fala dela de modo maioria passadas como ‘filmes’ na<br />
antropológico, estudando o vestuário<br />
e suas distinções, se apro-<br />
mais sensível que apenas uma<br />
cabeça, o retratar uma memória é<br />
fundando nas mensagens que as imagem, é conseguir se assemelhar<br />
a algo, é conseguir remeter<br />
roupas passam e no consumo<br />
exacerbado que existe sobre ela. uma qualidade a outra, reviver o<br />
A partir daí fui me aprofundando<br />
nos estudos da memória e “Entendendo a fotografia de moda como<br />
passado com suas lembranças.<br />
um objeto de significação que constrói<br />
como ela se relaciona com o ser,<br />
uma mensagem por meio da articulação<br />
pude perceber que as roupas<br />
entre um plano da expressão, composto<br />
ajudam as pessoas a reviverem de formas, materialidade, cores, topologias,<br />
e um plano do conteúdo, que suas memórias sempre, e por isso<br />
articula<br />
os significados mais abstratos, a<br />
semiótica tem dado contribuições para<br />
uma maior inteligibilidade na interpretação<br />
das imagens de moda. Essas<br />
contribuições proporcionam um olhar<br />
que ultrapassa a constatação dos modos<br />
de uso das roupas e permite enxergar<br />
mais longe, compreendendo os traços<br />
constituintes de nossa própria cultura e<br />
identidade.” (Façanha, Mesquita, 2012,<br />
179)<br />
Como visto acima a fotografia é<br />
tratada de diferentes formas, tornando<br />
possível uma semelhança<br />
com o passado, o remetendo de<br />
forma sensível, revivendo as lembranças.<br />
Para isso no projeto a realização<br />
das fotos abordaram de<br />
forma sensível as atitudes e expressões<br />
das épocas, remetendo<br />
quem eram as pessoas que vestiam<br />
tais roupas que eram os<br />
ícones de cada década. Em outras<br />
pesquisas sobre como as memórias<br />
das décadas são trabalhadas,<br />
foi achado o vídeo ‘100 years of<br />
beauty’ que mostra a vestimenta<br />
de cada década com sua maquiagem<br />
e cabelo compondo o visual<br />
da personagem, de forma rígida,<br />
onde a personagem fica parada e<br />
outras pessoas a vestem e mamaquiam,<br />
conforme as décadas.<br />
Me inspirando em antigas pesquisas<br />
e na forma de retratar a memória<br />
por forma de vídeo, decidi que o
35<br />
editorial conceitual seria um fashion<br />
film, retratando de forma<br />
delicada os detalhes de cada década,<br />
e inserindo a personagem<br />
em cada tempo que é retratado,<br />
passando as emoções e sentimentos<br />
pertencentes de cada época.<br />
ENT<strong>REVISTA</strong>S<br />
Tendo em vista um aprofundamento<br />
no tema e uma maior<br />
compreensão do que a memória<br />
afetiva podia representar, fiz uma<br />
entrevista com mais de 80<br />
pessoas, trazendo ao trabalho um<br />
comprovante de autenticidade,<br />
com perguntas que objetivavam<br />
um conhecimento entre memória<br />
e roupa de formas distintas,<br />
permitindo ao fim da entrevista<br />
uma percepção de como as<br />
melhores lembranças de cada um<br />
está ligada com a roupa que tem<br />
mais afeto, ou então como a<br />
roupa que usa com mais carinho e<br />
cuidado guarda a presença de<br />
alguém distante. Com a entrevista<br />
foi possível mostrar que as<br />
roupas estão ligadas com nossas<br />
melhores e piores memórias. As<br />
perguntas para esse estudo<br />
foram:<br />
1-Qual sentido (audição, visão, tato, olfato,<br />
paladar) faz você ter mais lembranças? Explique<br />
2-Qual é a sua maior lembrança?<br />
3-Qual a melhor e a pior experiência que<br />
já viveu?<br />
4-Tem alguma roupa que faz você lembrar de<br />
alguém? Alguma te faz lembrar algum<br />
momento? Descreva<br />
5-Por qual roupa você guarda mais afeto?<br />
Ela era sua ou de outra pessoa? Você pode<br />
descrevê-la?<br />
6-Porque tem esse afeto por ela? O que ela te<br />
faz lembrar? Você guarda essa roupa?<br />
7-Ela foi comprada ou você ganhou?<br />
7.1-Se comprada foi difícil de compra-la, era uma<br />
peça cara? Onde foi?<br />
7.2-Se presenteada, de quem foi e o que<br />
representa para você?
36<br />
AS REPOSTAS<br />
Com as repostas e as conversas que derivam das entrevistas pude<br />
perceber a surpresa das pessoas ao perceber que as suas melhores e piores<br />
memórias estavam entrelaçadas com suas roupas. Grande parte das<br />
histórias que tive o prazer de escutar estavam relacionadas a viagens que<br />
marcaram muito a pessoas, por todas as primeiras experiências, surpresas, e<br />
novas histórias que foram vividas, logo para essas pessoas as roupas para<br />
qual guardavam grande carinho e afeto eram as roupas que lá foram<br />
adquiridas e guardavam as sensações, emoções e sentimentos que já<br />
passaram, mas nas roupas ficaram eternizados. Há também histórias que<br />
envolvem a saudade de alguém que hoje se faz distante ou que infelizmente<br />
já se foi, e nesses casos as roupas tiveram o poder de fazer essa saudade ser<br />
menor pela presença que as roupas eternizaram por meio do seu cheiro, da<br />
sua textura ou pela lembrança do outro com a mesma roupa. As roupas aqui<br />
tiveram um papel muito impor-tante em eternizar uma sensação de<br />
presença, em carregar um alguém e as sensações que era estar com tais<br />
pessoas, em fazer a saudade desaparecer por minutos onde a pessoa<br />
conseguia viajar nas boas memórias e sensações ali guardadas. Outras<br />
histórias foram sobre as memórias de quando se era mais jovem, e as<br />
memórias que aquela fase proporcionou, todas as roupas daquela época<br />
fazem acontecer um reencontro com um ‘eu’ do passado, trazendo<br />
memórias esquecidas e sensações já passadas. Também tiveram as histórias<br />
sobre as roupas que guardavam os momentos dos filhos, e as lembranças<br />
dos primeiros momentos deles, as roupas são guardadas até hoje, como se<br />
fossem uma cápsula do tempo para quando eles ainda eram pequenos e<br />
dependentes. Todas as histórias que tive o prazer de escutar me trouxeram<br />
um novo aprendizado, pude aprender mais sobre como a memória afetiva<br />
acontecia e entendê-la de forma abrangente. Com todos os relatos pude<br />
aprofundar meus estudos na área e assim comprovar meus estudos teóricos.<br />
Separei algumas partes das respostas, que aqui coloco de forma anônima<br />
mostrando a relação entre roupa e memória:
37<br />
“O fato de usar ela sempre em ocasiões marcantes, me traz um mix de<br />
lembranças muito boas.”<br />
“Me faz lembrar minha infância, e os dias que dormia na<br />
minha vó que ela preparava a mamadeira com a fraldinha para passar no rosto. ”<br />
“Tenho afeto por essa blusa porque comprei na melhor viagem da<br />
minha vida e ela me lembra os momentos<br />
lá. Eu a uso, mas não pretendo dar nem me desfazer de outra maneira. ”<br />
“A roupa que usei no primeiro dia de trabalho na empresa atual. ”<br />
“Me leva para perto da minha mãe. ”<br />
“As roupas da faculdade me lembram momentos gostosos e<br />
nostálgicos, que estava com amigos que quase nunca consigo encontrar, então<br />
guardo com muito carinho. ”<br />
“Tenho afeto por esse casaco por ele ser quentinho e por eu ter passado<br />
ótimos momentos quando eu usava ele. ”<br />
“Um vestido que eu usei no casamento da minha irmã, que eu fui madrinha. ”
38<br />
“Uma blusa de lã do meu avô, ele a usava muito, e quando ele faleceu foi<br />
única coisa dele que eu pedi para minha avó me dar. Uma blusa de lã cinza. ”<br />
“Uma camiseta com estampa do cantor Cartola. ”<br />
“Algumas roupas de fast fashion<br />
me marcaram por ser ‘roupa de viagem’ e<br />
sempre que eu uso eu lembro do lugar<br />
e dos momentos que eu vi na viagem. ”<br />
“Um colete de seda florido de 22 anos, era da minha mãe. ”<br />
“Minha mãe guardou o vestido que usei na minha festa de 1 ano,<br />
claro que não me lembro daquele dia, mas as<br />
fotos guardam momentos inesquecíveis,<br />
o vestido tão pequeno traz uma lembrança de um momento feliz<br />
para todos que estavam na foto comemorando. ”<br />
“Uma saia que eu mesma fiz no meu primeiro curso de corte e costura. ”<br />
“Essas roupas me lembram da minha adolescência, porque as usava elas<br />
muito para sair e encontrar meus amigos. Ambas deixo guardada até hoje. ”
39<br />
“Uma blusa da 4° serie onde meus amigos escreveram mensagens para mim,<br />
como muitas pessoas saiam nessa fase, resolvi pedir para<br />
eles escrevem no meu uniforme e<br />
tem essa blusa guardada mostrando essa nossa fase juntas! ”<br />
“Uma saia lápis, ela foi importante para mim em uma fase de aceitação do corpo. ”<br />
“Me lembra do primeiro encontro que tive com um ex-namorado. ”<br />
“Uma camiseta de manga comprida azul marinho, ficava um pouco comprida para mim,<br />
era do meu namorado e ela era muito confortável. E não sei descrever bem<br />
porque eu gostava tanto dela, mas acho que além do conforto, como a gente ficava muito<br />
tempo sem se ver, dava para matar a saudades e se sentir mais perto”<br />
“Comprei quando conheci pessoalmente um dos meus melhores amigos virtuais<br />
de adolescência. ”<br />
“uma camisa social xadrez que meu marido estava usando na<br />
primeira vez que nos encontramos. ”<br />
“As roupas das minhas afilhadas que estão guardadas até hoje de quando elas eram<br />
bebês, que sempre que vejo<br />
me faz lembrar o tempo de quando ainda eram pequenas. ”
40<br />
“Quando fui promovido de atendente para coordenador do Mcdonald's, meu<br />
primeiro uniforme de gerente. ”<br />
“Uma blusa me faz lembrar do meu primeiro dia de trabalho. ”<br />
“Ganhei de um amigo da família que tenho uma consideração enorme e para mim é uma<br />
honra usar as camisas que um dia foram dele e que com certeza carregam<br />
grandes histórias que ele viveu. ”<br />
“Nunca senti afeto por nenhuma roupa. ”<br />
“Quando eu tinha 14 anos minha mãe comprou uma blusa de flanela verde quadriculada<br />
com azul, vermelho e preto bem fininhos. Na época passávamos por momentos bem<br />
difíceis. Essa blusa foi comprada de uma sacoleira, que parcelava as roupas. Usei essa<br />
blusa por muito tempo e todos os dias, por ser a única que eu tinha para ir para a<br />
escola, junto com uma calça jeans claro com risquinhos brancos e bolso costurado pelo<br />
lado de fora (essa calça tinha sido da minha mãe) ”<br />
“Uma camisa manga longa de botão xadrez preta e branca, que divido com meu<br />
pai, porque temos o mesmo gosto. ”<br />
“Um colar, que minha mãe me deu,<br />
tenho ele até hoje, mesmo quebrado. ”
41<br />
“Ela me faz lembrar vários momentos, principalmente meu intercâmbio.<br />
Estava sempre com ela. ”<br />
“Um vestido que estava usando quando meu namorado me pediu em<br />
namoro. ”<br />
“Eu estava usando no dia que fui demitida do meu primeiro estágio. Ainda<br />
tenho essas roupas guardadas porque são novinhas, além de serem um presente da<br />
minha avó, não as uso e não gosto nem de olhá-las”<br />
“Me faz lembrar de bons momentos, e também deixa saudade, por isso não<br />
tenho usado desde então. ”<br />
“Sempre tem algumas peças que você bate o olho e vê certas pessoas dentro<br />
da roupa. ”<br />
“A enfermeira pediu a menor roupa que tinha, e essa é a que tenho guardada para sempre<br />
comigo, a primeira roupa que ele vestiu. ”<br />
“Me faz lembrar a infância, me faz lembrar o como éramos inocentes. ”<br />
“Uma camisola da minha avó. Eu guardo ela com bastante cuidado e vou cuidar<br />
até o fim da minha vida. ”
42<br />
“Tenho uma camisa azul de botões, que eu usava muito durante o primeiro e o segundo<br />
ano da escola, que me lembram o início da fase que me levou a pessoa<br />
que sou hoje. ”<br />
“Uma roupa meio fajuta que tinha nos meus vinte anos. Uma calça azul e uma camisa<br />
branca, era a única que eu tinha, comprei o tecido e mandei fazer. ”<br />
“Eu associo muitas memórias com as minhas roupas. Sempre que vou<br />
jogar algo fora porque não serve ou estragou, eu resisto porque lembro de<br />
momentos que passei com a peça. Por exemplo, lembro da camisa com que<br />
passei o réveillon com meus amigos, do tênis que ficou sujo por causa de um show, do<br />
cheiro da camiseta com que disputei um campeonato na faculdade. ”<br />
“Acho que por ser tão colorida e infantil, era como se fosse um pedaço da minha<br />
infância.”<br />
“Comprei-o a uns 8 anos atrás e ainda uso. ”<br />
“Meu vestido de formatura.”<br />
“tive uma roupa que me lembrou alguém, e foi minha ex namorada. Quando eu viajei<br />
para o intercâmbio eu levei uma camisa que ela tinha usado e eu dormia ao lado<br />
dessa camisa todos os dias. ”
43<br />
“Uma blusa de seda com estampa étnica, que tenho a mais de 10 anos e pertencia à<br />
minha tia (já falecida). A blusa já rasgou na lateral, eu costurei e voltou a rasgar<br />
novamente, e mesmo assim eu ainda uso a blusa. Tenho a imagem da minha<br />
tia usando essa blusa, e uso até hoje.”<br />
“foi usado por mim e todos meus irmãos quando éramos pequenos. ”<br />
“Lembro da roupa que o meu ex namorado usava no dia em que nos<br />
conhecemos. ”<br />
“Uma camiseta do meu avô, que ele esqueceu quando veio me visitar, então a<br />
peguei para usar como pijama. ”<br />
“ela é muito confortável, me remete à casa dos meus pais e às<br />
lembranças. ”<br />
“guardo o bordado para tentar costurar em outra roupa. ”<br />
“Meu vestido de formatura.”<br />
“Quando eu viajei para o intercâmbio eu levei uma camisa da minha ex, que ela tinha<br />
usado e eu dormia ao lado dessa camisa todos os dias. ”
44<br />
“Camisa unissex social, era da minha mãe, tenho a mesma há mais de 9 anos e até hoje<br />
a uso. Usei ela em Paris, quando fui no show do Moulin Rouge.”<br />
“Representa uma lembrança de uma amiga muito querida, como uma<br />
irmã... a cor me faz lembrar em como ela era alegre. ”<br />
“me faz lembrar o período em que morei no Japão. ”<br />
“Um moletom branco, que estava usando no dia do encontro com minha<br />
amiga, está roupa me faz lembrar dela. ”<br />
“um moletom cinza de tecido bem mole, usei muito a blusa e hoje ela está aos<br />
pedaços, mas guardo e durmo com ela todos os dias. Para onde<br />
vou, ela vai também. ”<br />
“Minhas roupas de futebol, os uniformes, que me lembram minha infância,<br />
quando eu jogava com os amigos todos os dias. ”<br />
“Uma camisa que era do meu pai, uma camisa de mangas curtas, na cor preta com umas<br />
frutas desenhadas, meu pai adorava usar. Tenho afeto pois me faz lembrar muito<br />
dele usando com felicidade como se fosse a melhor peça de<br />
roupa que ele tinha, minha irmã a guarda. ”
45<br />
“Us top, onde comprei minha calça jeans era básico não tinha nada demais,<br />
mas foi a primeira, o que foi algo marcante. ”<br />
“um casaco super pesado, sempre fui muito elogiado usando ele. ”<br />
“eu pedia muito por essa blusa e um dia eu estava na casa dos meus avós,<br />
quando minha mãe trouxe essa blusa. Ela era de Soft, quentinha e cor de Rosa. ”<br />
“Me faz lembrar da minha tia, e o afeto é pela tia<br />
sempre ter estado presente na minha vida. ”<br />
“A roupa que meu marido usava quando nos conhecemos<br />
no sítio, um paletó cinza que fechava na frente. ”<br />
“Uma roupa chita que minha mãe mandava fazer,<br />
só usávamos em ocasião especial e um sapato que<br />
chamávamos de tomara que caia, porque era só usar aquilo que caia. ”<br />
“Para trabalhar usávamos uma roupa feita de saca de farinha,<br />
reaproveitada da farinha usada em casa já que não tínhamos dinheiro para comprar. ”<br />
“Meu casaco da faculdade. ”
46<br />
“me trazem recordações da minha avó, faz com que eu sinta que ela está<br />
por perto. ”<br />
“minha mãe que me deu e usei em uma data especial: casamento de<br />
um amigo/irmão. ”<br />
“Sou neta de costureira e todas as minhas roupas de bebês eram feitos pela minha<br />
vó, uma das pessoas mais importantes na minha vida. ”<br />
“me lembra das pessoas que passaram na minha vida escolar. ”<br />
“Pessoas que gostam muito de um estilo específico de roupas, sempre me<br />
fazem lembrar delas ao ver certas peças. ”<br />
“sou muito apegada com minhas roupas, por eu achar que mesmo sem<br />
gostar tanto assim, em algum momento eu vou sentir falta delas. ”<br />
“Quando era menor minha mãe tinha um robe que ela não usava e ficava comigo, ficava<br />
com ele o tempo inteiro, e dei o nome de Bia! ”<br />
“Um colar que era da minha mãe, ela usava, mas estava guardado, um<br />
pingente com os signos, uso eles sempre!!”
47<br />
O ESTUDO DE PROJETOS<br />
Depois de fazer a pesquisa e mostrar por entrevistas a<br />
existência da memória nas roupas e o modo como as<br />
histórias se entrelaçam, estudei outros projetos que<br />
abordavam o tema Memória, pretendendo aprender<br />
como poderia ser passado aos intérpretes a memória<br />
de forma visual e de maneira que todos pudessem ter<br />
uma compreensão do tema.<br />
Alguns projetos que vi usavam a tecnologia como meio<br />
de dar forma a esses sentimentos, já outros tratavam a<br />
memória de uma forma mais delicada e manual,<br />
abordando a memória de outras formas. Vendo que a<br />
memória poderia ganhar formas de diversas maneiras,<br />
estudei como trabalhar a forma imagética das<br />
memórias com o objetivo de passar as sensações e<br />
mostrar as emoções das memórias de uma forma que<br />
ainda não havia sido retratado em nenhuma das<br />
minhas pesquisas e estudos.<br />
O ESTUDO DA SEMIÓTICA<br />
A semiótica foi grande parte do projeto que pretende<br />
passar ao intérprete sensações, a semiótica estuda as<br />
formas que as mensagens são passadas a mente, e se<br />
baseando em seus estudos é possível entender cada<br />
fase do processo até chegar a uma mensagem concreta<br />
com conteúdo para um entendimento fácil dos<br />
intérpretes. Foi com o estudo da semiótica que iniciei<br />
meu processo de transformar a memória afetiva das<br />
roupas em algo concreto, materializando o interno em<br />
algo externo, e deixando visível aos olhos do intérprete<br />
o que a memória das roupas poderia guardar.<br />
MEMÓRIA DAS<br />
DÉCADAS<br />
Para compreender a memória da moda fiz um estudo<br />
da sua história a partir da década de 20 até a década dos<br />
anos 90, embasando minha pesquisa no que acontecia<br />
no mundo para compreender melhor como tais<br />
acontecimentos refletiram na moda, tendo uma melhor<br />
compreensão das mudanças que ocorriam em cada<br />
década assim tendo uma interpretação visual mais rica<br />
dos elementos que constituem as épocas e os motivos<br />
de eles estarem ali.<br />
Ter esse estudo como base tornou o entendimento da<br />
moda mais compreensivo, me fazendo entender de<br />
forma abrangente suas mudanças, interpretando seus<br />
acontecimentos, assimilando as memórias que<br />
estavam guardadas nas roupas, quais eram as emoções<br />
e sentimentos que nelas estariam guardados.<br />
Desse modo consegui entender quais eram os<br />
sentimentos das décadas, pelos seus acontecimentos,<br />
apontando assim qual era o comportamento da década<br />
e quais eram as histórias que estavam sendo contadas<br />
em cada roupa.<br />
Com esse conhecimento sobre as histórias das<br />
décadas, definindo quais eram os ícones de cada época,<br />
as roupas usadas nos editoriais foram escolhidas,<br />
fazendo assim nascer a cronologia que guia a história<br />
passada no editorial, passando de forma imagética todo<br />
o estudo feito anteriormente, comunicando os<br />
acontecimentos e comportamentos.
48<br />
Grandes avanços tecnológicos acontecem, como<br />
avanços na eletricidade, na modernização de fábricas e<br />
também no surgimento do cinema falado, criando o<br />
contexto chamado de ‘American Way of Life’ que<br />
acabou rápido com a queda da bolsa de Nova York em<br />
1929, levando diversos investidores a falência.<br />
Coco Chanel se firma como uma forte estilista,<br />
fazendo roupas femininas confortáveis se inspirando<br />
no guarda roupa masculino, trazendo peças feitas<br />
para os homens para o universo feminino, com<br />
20 ANOS<br />
ANOS<br />
tecidos fluidos e em peças mais curtas, diferente<br />
das peças da época anterior.<br />
Os anos 20 foi marcado pela liberdade vinda da<br />
virada de século e a vestimenta livre de espartilhos<br />
de outras épocas, as Melindrosas são a marca dos<br />
anos 20, modernas elas estavam sempre produzidas,<br />
com um charme próprio, o modo de se vestir e seu<br />
comportamento eram consequências da Era do Jazz,<br />
onde era permitido mostrar a perna e ombros e ter<br />
uma maquiagem mais carregada.<br />
Os anos seguintes a grande quebra da bolsa de<br />
Nova York são conhecidos como Grande depressão,<br />
marcados pela falta de empregos, falências e o<br />
desespero.<br />
O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin é um<br />
sucesso no cinema, o filme mostrava a vida dos<br />
operários durante a revolução industrial, fazendo uma<br />
30<br />
crítica ao formato de produção das grandes<br />
fábricas que faziam de seus funcionários verdadeiras<br />
máquinas de produção, visando um lucro maior.<br />
A consequência dos anos 20 é uma enorme crise<br />
financeira, fazendo a moda perder o glamour que as<br />
melindrosas haviam trazido, a moda nos anos 30 é<br />
sóbria, transmite seriedade e praticidade com a<br />
temida chegada da segunda guerra mundial.
49<br />
Os anos 40 foi marcado por acontecimentos<br />
tristes e por grandes mortes na população mundial<br />
causadas pelo movimento nazista e pela segunda<br />
guerra mundial, que durou 6 anos tendo seu fim em<br />
1945. A escassez de tecidos e matérias primas fez<br />
com que as roupas fossem reformadas e produzidas<br />
em casa para a diminuição de gastos, fazendo as<br />
mulheres terem menos roupas, com peças mais<br />
ANOS<br />
40<br />
versáteis e pensadas na sua ergonomia facilitando<br />
os movimentos, com cinturas marcadas e saias retas,<br />
pensadas para serem práticas no trabalho que antes<br />
eram exercidos pelos homens, que agora estavam em<br />
guerra. Uma prática que ficou famosa na época pela<br />
escassez de material, foi o leg-painting, que imitava<br />
as meias de nylon com um risco reto na parte de trás<br />
das pernas das mulheres, passando a ideia de que as<br />
mulheres ainda estavam usando as meias.<br />
Os anos 50 também ficou conhecido como ‘Anos<br />
Dourados’ por ser a década do pós-guerra e ser uma<br />
época de grandes revoluções científicas e<br />
tecnológicas, como o início da transmissão televisiva,<br />
causando mudanças nos meios de comunicação, com<br />
diversas propagandas passando exemplos de estilos<br />
de vida. Nessa década as mulheres eram ‘esposas<br />
troféus’ e as propagandas da época explicavam como<br />
ser a esposa perfeita, como cuidar da casa, como<br />
cuidar dos filhos. As famílias eram compostas por<br />
mulheres que cuidavam da casa e homens que as<br />
ANOS<br />
50<br />
sustentavam trabalhando fora de casa,<br />
comportamentos que transmitiam uma família<br />
estável e feliz, para a época. A vestimenta das<br />
mulheres transmitia delicadeza e feminilidade, com<br />
roupas que marcavam a cintura, tinham a saia<br />
volumosa e cores claras compondo modos<br />
monocromáticos de se vestir. Foi a década de grandes<br />
ídolos como Elvis Presley que conquistou toda uma<br />
geração com sua música, transmitindo um<br />
sentimento bom depois de tudo que havia acontecido.<br />
E Marilyn Monroe que marcou a década com sua<br />
autenticidade e a liberdade que tinha em se expressar.
50<br />
Marcado por ter sido a época espacial, os anos 60<br />
tiveram grandes acontecimentos nessa área, o<br />
homem consegue ir ao espaço ainda no começo da<br />
década, e chega a lua na missão Apollo 11 de 1969. É<br />
lançado o primeiro computador com disco rígido.<br />
Satélites começam a ser lançados e a transmissão da<br />
TV agora é feita por eles, a TV ganha cor, deixando as<br />
transmissões ainda mais interessantes. A moda é<br />
uma consequência dos avanços tecnológicos sendo<br />
60 ANOS<br />
ANOS<br />
marcada por roupas com um olhar futurístico, as<br />
roupas tinham materiais inusitados para a moda,<br />
como o plástico sendo aplicado em diversas peças, e<br />
as cores eram chamativas e várias vezes até mesmo<br />
metálicas para ter coerência com o mundo espacial.<br />
Mesmo em meio a tantas revoluções é construído o<br />
Muro de Berlim em 1961. Os Beatles se tornam uma<br />
febre mundial com o álbum Please, Please, Me; No<br />
Brasil o tropicalismo e a MPB estão em alta, e a<br />
cantora Elis Regina começa a fazer sucesso.<br />
Época marcada por protestos em busca da liberdade<br />
de expressão e a não discriminação entre raças ou<br />
sexo. Logo nessa época os hippies que surgiram no<br />
final dos anos 60 com o festival de Woodstock em<br />
1969, dominam com sua forma de se vestirem,<br />
roupas largas, leves e coloridas. Também surgem os<br />
punks com inspirações nas bandas Sex Pistols, The<br />
Machine e David Bowie que estouraram nos anos 70,<br />
levando um modo de se vestir mais rebelde, com<br />
70<br />
roupas rasgadas, cores escuras e acessórios<br />
inusitados como alfinetes. Ainda nos anos 70 teve a<br />
era disco, levados pelo seu ritmo e enchendo as<br />
discotecas da época com muito brilho. Mesmo com<br />
vários grupos sociais a moda se entrelaça com seus<br />
destaques como a calça boca de sino e os macacões<br />
que apareceu em todos os grupos, de diferentes<br />
formas, atendendo os gostos. Afinal todos os distintos<br />
grupos tinham o mesmo objetivo: liberdade de<br />
expressão.
51<br />
Enquanto acontecia o movimento Diretas Já no<br />
Brasil, no outro lado do mundo é derrubado o muro<br />
de Berlim. Os anos 80 foi marcado por uma geração<br />
que nasceu depois dos avanços tecnológicos então<br />
suas inspirações são pessoas que eles ouviam nas<br />
ANOS<br />
80<br />
rádios e viam na TV, como Madonna que fez muito<br />
sucesso pelas suas músicas sem censuras e uma<br />
rebeldia que marcou a geração que seguia seu modo<br />
de se vestir, com várias sobreposições de peças e<br />
diferentes elementos para contextualizar a<br />
despreocupação com limites..<br />
Os anos 90 foi uma década levada pelas músicas e<br />
séries que nela nasceram. Os Mamonas Assassinas<br />
eram sucesso entre todas as idades com seu humor,<br />
Legião Urbana, Kid Abelha, Caetano Veloso são todos<br />
músicos que marcaram os anos 90. Já as séries que<br />
guiaram os comportamentos e vestimentas da década<br />
ANOS<br />
90<br />
são as americanas como Friends e Um Maluco no<br />
Pedaço que influenciaram milhares de pessoas a<br />
quererem ser como eles e terem suas vidas, mesmo<br />
que fosse só pela sensação de fazer parte daquela<br />
história. A moda ficou marcada com as roupas que<br />
estavam sendo mostradas na TV.
52<br />
SERAFINA<br />
A revista escolhida para a realização do projeto foi a Serafina,<br />
a revista do Jornal Folha de São Paulo, que tem sua propagação<br />
bimestralmente e existe desde 2008. Suas reportagens tratam<br />
de assuntos e de personalidades que envolvem o cenário<br />
sóciocultural do Brasil e exterior, tratando de temas como<br />
moda, arte, design, gastronomia, luxo, tecnologia e turismo.<br />
Com tamanha diversidade de assuntos ela atrai um público que<br />
não só aqueles que leem revistas de moda, mas também um<br />
público interessado em outros temas, ela consegue reunir em<br />
uma revista diferentes interesses. Trazendo reportagens para<br />
um público interessado em cultura, curioso por saber mais e<br />
uma preocupação com o tempo, em uma reportagem fixa na<br />
revista chamada ‘Vintage’, onde eles convidam uma<br />
personalidade para reviver uma foto sua de outras décadas, na<br />
mesma pose e mesma expressão, respondendo as mesmas<br />
perguntas em duas colunas, um lado com respostas da forma<br />
em que ela pensava na época que foi tirada a foto original e na<br />
outra coluna com respostas atuais, mostrando as mudanças<br />
que aconteceram nesse período.<br />
Por isso a revista foi escolhida pensando em um público geral que consome moda, não somente o público que segue<br />
e consome as novas tendências, mas sim o público que se veste diariamente, que escolhe suas roupas. Quero<br />
conseguir alcançar um público mais amplo e geral, que se identifica com o tema, sendo assim qualquer pessoa, sem<br />
ser necessário um público que entenda de moda e suas novidades, mas um público que tem interesse em histórias e<br />
gostaria de relembrá-las. O público da Serafina seria um público que se interessaria em saber sobre as memórias que as<br />
roupas contam, teria curiosidade em descobrir quais as memórias retratadas na revista e refletir sobre as suas próprias<br />
memórias, aquelas que estão guardadas no seu guarda-roupa. Eles estariam dispostos a reviver suas histórias e reviver<br />
as sensações antigas, tendo gosto em ver que a memória afetiva da moda está com eles todos os dias.
53<br />
PEÇA CONFECCIONADA<br />
Foi feita uma peça do zero como requisito<br />
da linha escolhida, o ano escolhido foi 1920, e<br />
com os estudos já prontos foi possível<br />
perceber quais eram os acontecimentos<br />
daquela década, o que as pessoas estavam<br />
fazendo, e como elas estavam vivendo.<br />
Acrescentando memória afetiva pessoal, a<br />
construção da roupa foi inspirada também em<br />
um livro que levo como preferido, “A menina de<br />
vinte” de Sophie Kinsella, onde a personagem<br />
uma jovem dançarina de Charleston dos anos<br />
20 com grande senso de moda, fala com<br />
muitos detalhes sobre suas roupas e da<br />
importância de cada detalhe das peças que ela<br />
amava. No livro fica claro como a personagem<br />
guarda memória afetiva das suas roupas, e<br />
como ela pode contextualizar a história de sua<br />
família, mostrando o que cada peça pode<br />
representar e ativar na memória dos<br />
familiares. Logo para a confecção do vestido<br />
peguei relatos do livro onde era contado com<br />
grandes detalhes as peças usadas pela<br />
personagem, e transformei em uma memória<br />
tangível, fazendo assim do vestido uma<br />
memória da história que é passada para<br />
milhares de interpretantes. Esse foi o meu<br />
símbolo para remeter ao livro, o meu objeto<br />
cápsula do tempo para lembrar do que é<br />
contado.
54<br />
LOCAÇÃO<br />
Com o estudo da semiótica, resolvi abordar o tema com uma estética que por si trouxesse uma história e<br />
conseguisse passar um sentimento único a todos, que seria de algo antigo que ainda se faz presente, um lugar cheio de<br />
lembranças e tendências que vão e voltam.<br />
Para isso procurei parcerias com brechós que passassem essas sensações, encontrei o brechó Minha Avó Tinha, com<br />
quem fechei parceria e realizei os dois editoriais usando a locação, sendo eles as fotos comerciais e o fashion film<br />
conceitual. Com a locação que refletia os sentimentos guardados fiz os trabalhos pensando em como trabalhá-los para<br />
a revista, unindo os estudos da semiótica com os ícones, símbolos e estéticas, fazendo os trabalhos terem uma<br />
singularidade de abordagem.<br />
PRODUTO FINAL<br />
Trabalhando a imagem de moda utilizei os estudos feitos até aqui para realizar dois projetos que relacionassem a<br />
memória afetiva, para isso realizei um fashion film conceitual, retratando as memórias de cada década. Trouxemos<br />
uma personagem que vai ao brechó e se encanta com as histórias que ali estão guardadas, se encanta observando cada<br />
detalhe do local, depois de suas andanças ela começa a entrar nas histórias, sendo a roupa um objeto cápsula, se<br />
sentindo parte daqueles momentos, tendo as sensações que aquelas roupas tinham guardadas, e no final do vídeo a<br />
personagem se insere nas histórias, agora mostrando que faz parte daquela história.<br />
E para as fotos comerciais, a abordagem foi direcionada para as atitudes que tais roupas representam, foi o<br />
resultado dos estudos sobre os comportamentos de cada década que resultaram no que cada roupa ali traduzia, as<br />
roupas são ícones de uma década, elas mostram quais eram os costumes, comportamentos e histórias que com elas<br />
foram vividas, elas indicam os acontecimentos. A ideia foi passar de forma objetiva e de rápida compreensão, os<br />
comportamentos e sensações que cada década passa e mantém vivo.
55<br />
CONCLUSÃO<br />
Passando por diversas áreas para comprovar a memória afetiva existente nas roupas, pode-se concluir que moda<br />
não se trata apenas de seguir tendências ou apenas de se vestir como dita padrões, moda também trata de se<br />
descrever, de contar a sua história, moda trata de representação, e de se vestir com o que te incorpora, te<br />
representa. Com os estudos foi percebido que a memória afetiva está no dia a dia, contando e recontando as<br />
memórias do passado, eternizando histórias, fazendo das roupas memórias tangíveis e objetos cápsulas para o<br />
momento presente. No presente projeto com abordagens nas pesquisas que visam tratar a memória afetiva, foi<br />
possível concluir e comprovar que as roupas têm funções maiores que cobrir um corpo, a moda como mostra o<br />
trabalho, conta histórias, traduz acontecimentos e grava na sua estética momentos, fazendo a memória afetiva<br />
presente em todos as partes da vida de todos os seus usuários.
56<br />
MODA<br />
Fotos Natálya Almeida, modelo Marina Câmara e styling Gabriele Prata<br />
ESPÍRITO DO TEMPO<br />
MEMÓRIA AFETIVA<br />
DA ROUPA
57<br />
AS HISTÓRIAS E SENSAÇÕES<br />
QUE AS ROUPAS GUARDAM
vestido e faixa com pena Gabriele Prata, colares e piteira brechó Minha Avó Tinha
vestido e<br />
faixa com<br />
pena<br />
Gabriele<br />
Prata,<br />
colares e<br />
piteira<br />
brechó<br />
Minha Avó<br />
Tinha
look<br />
completo<br />
brechó<br />
Minha Avó<br />
Tinha
look<br />
completo<br />
brechó<br />
Minha Avó<br />
Tinha
look<br />
completo<br />
brechó<br />
Minha Avó<br />
Tinha
look<br />
completo<br />
brechó<br />
Minha<br />
Avó<br />
Tinha
look<br />
completo<br />
brechó<br />
Minha Avó<br />
Tinha,<br />
meias<br />
Porto das<br />
Festas
look<br />
completo<br />
brechó<br />
Minha Avó<br />
Tinha,<br />
meias<br />
Porto das<br />
Festas
look<br />
completo<br />
brechó<br />
Minha Avó<br />
Tinha,<br />
meias<br />
Porto das<br />
Festas
look<br />
completo<br />
brechó<br />
Minha Avó<br />
Tinha,<br />
meias<br />
Porto das<br />
Festas
look<br />
completo<br />
brechó<br />
Minha Avó<br />
Tinha,<br />
meias<br />
Porto das<br />
Festas
look<br />
completo<br />
brechó<br />
Minha Avó<br />
Tinha,<br />
meias<br />
Porto das<br />
Festas
70<br />
MODA<br />
Vídeo por Funny Dog Films, modelo Isabella Yogui e styling Gabriele Prata<br />
Fashion Film<br />
Moda X Lembrança<br />
Memória Afetiva da Roupa
71<br />
PARA SENTIR<br />
QR CODE PARA VÍDEO
72<br />
REFERÊNCIAS<br />
STALLYBRASS, Peter. O casaco de Marx: roupa, memória, dor. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004<br />
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SANTAELLA, Lucia. Semiótica Aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson, 2004<br />
FAÇANHA, Astrid. MESQUITA, Cristiane. Styling e Criação de Imagem de Moda. São Paulo: Editora Senac São Paulo,<br />
2012<br />
OLIVEIRA, Erivam. VICENTINI, Ari. Fotojornalismo: Uma viagem entre o analógico e o digital. São Paulo: Cengage<br />
Learning, 2009<br />
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REED, Paula. 50 Ícones Que Inspiraram A Moda - 1950. São Paulo:Publifolha, 2014<br />
REED, Paula. 50 Ícones Que Inspiraram A Moda - 1960. São Paulo:Publifolha, 2014<br />
REED, Paula. 50 Ícones Que Inspiraram A Moda - 1970. São Paulo:Publifolha, 2014<br />
REED, Paula. 50 Ícones Que Inspiraram A Moda - 1980. São Paulo:Publifolha, 2014<br />
REED, Paula. 50 Ícones Que Inspiraram A Moda - 1990. São Paulo:Publifolha, 2014<br />
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LEVENTON, Melissa. História Ilustrada do Vestuário. São Paulo: Publifolha, 2009<br />
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73<br />
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100 years of beauty. Disponível em: . Acessado em 03/11/2017<br />
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Look anos 90. Disponível em:. Acessado em 03/11/2017<br />
Tingimento Natural E Estamparia Botânica Com A Mattricaria. Disponível<br />
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Epokhé. Disponível em:.<br />
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Artistas revivem capas de CDs clássicos. Disponível<br />
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Corpo e Moda: Memória afetiva das roupas. Disponível em:.<br />
Acessado em 03/11/2017<br />
Esculpindo memória afetiva. Vídeo. Guto Requena. Blumenau: TEDx Talks, 20/02/2015, 17 min, 03 segs.
74<br />
AGRADECIMENTOS ESPECIAL<br />
Quero agradecer uma pessoa de forma especial, a<br />
mulher que esteve comigo desde os primeiros passos<br />
na graduação, me acompanhando por onde fosse, e<br />
permaneceu, me apoiando, ajudando e sonhando<br />
comigo. Mãe, obrigada, obrigada pela vida, pelos<br />
sonhos que vivemos e pela parceria, por estarmos<br />
sempre juntas, por sermos sempre nós.<br />
Eu amo você!