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Revistinha do Cine Club Edição 10

Compilação de resenhas e críticas publicadas no grupo de cinema Cine Club do Facebook.

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EDITORIAL<br />

Olá amigos,<br />

O gênero cinematográfico que ficou conheci<strong>do</strong> como ficção<br />

científica (ou sci-fi) geralmente é muito pessimista com relação<br />

ao futuro da humanidade. Tal desalento se dá, em grande parte,<br />

pelo nosso baixo progresso humanístico ao longo <strong>do</strong>s milênios,<br />

onde as pessoas sempre foram concebidas e criadas pela<br />

sociedade para sobreviverem a qualquer custo, não importan<strong>do</strong> o<br />

quê ou a quem precisarão destruir nas suas egoísticas lutas por<br />

poder ou dinheiro, fatores que, segun<strong>do</strong> essa lógica, serão<br />

determinantes nessa sobrevivência.<br />

Então é natural que os escritores e roteiristas desse gênero<br />

abordem a questão com ceticismo, e mostrem um futuro onde<br />

to<strong>do</strong> o avanço tecnológico é utiliza<strong>do</strong> como ferramenta para que<br />

os indivíduos que estão no poder aumentem o <strong>do</strong>mínio e o<br />

controle sobre os outros, se manten<strong>do</strong> no topo dessa cruel<br />

“cadeia alimentar”.<br />

Nesta edição, trazemos uma lista com “<strong>10</strong> filmes clássicos sobre<br />

distopias que você precisa conhecer”, elaborada pelo colabora<strong>do</strong>r<br />

M.V. Pacheco e eu posso garantir que são filmes realmente<br />

imperdíveis.<br />

Teremos ainda a crítica no filme nacional “Entre Irmãs” elaborada<br />

por Leonar<strong>do</strong> Barreto; <strong>do</strong> violento “Brawl in cell Block 99” <strong>do</strong><br />

diretor Z. Craig Zahler (O Rastro da Maldade, 2015) na crítica de<br />

Eduar<strong>do</strong> Kacic; o último roteiro de Akira Kurosawa: “Sob o Olhar<br />

<strong>do</strong> Mar” nos comentários de Cecília Peixoto; a crítica nada<br />

açucarada ao <strong>do</strong>cumentário “The Sugar Film” elaborada por Luiz<br />

Santiago; novamente Cecília Peixoto com o filme “Aprile” <strong>do</strong><br />

cineasta italiano Nanni Moretti e a resenha <strong>do</strong> coreano “Na Praia<br />

à Noite Sozinha” apresentada pelo Ricar<strong>do</strong> Luís.<br />

Na linha de “filmes clássicos”, temos a crítica de Cristiane Costa<br />

ao sensacional “O Galante Mr. Deeds” de Frank Capra; “A Noite<br />

<strong>do</strong> Demônio” de Jacques Torneur, “Brazil: O Filme” de Terry<br />

Gillian e “A Ilha Nua” de Kaneto Shindô nas resenhas deste editor.<br />

Boa leitura e até semana que vem!<br />

Ary Ximendes<br />

REVISTINHA DO CINE CLUB<br />

Ano I - <strong>Edição</strong> <strong>10</strong><br />

15 de outubro de 2017<br />

Editor: Ary Ximendes<br />

Design: Ary Ximendes com fotos<br />

disponíveis na internet.<br />

Colabora<strong>do</strong>res desta edição:<br />

Eduar<strong>do</strong> Kacic, Luiz Santiago,<br />

Leonar<strong>do</strong> Barreto, Cristiane Costa,<br />

Cecília Peixoto, Paulo Moura,<br />

Ricar<strong>do</strong> Luís e M.V. Pacheco.<br />

Esta publicação não possui finalidade<br />

comercial, destinan<strong>do</strong>-se única e<br />

exclusivamente para divulgação de<br />

material produzi<strong>do</strong> e publica<strong>do</strong> em<br />

grupos <strong>do</strong> Facebook, blogs e páginas<br />

de cinema com autorização <strong>do</strong>s<br />

proprietários intelectuais <strong>do</strong>s textos.<br />

O conteú<strong>do</strong> publica<strong>do</strong> é de responsabilidade<br />

de seus autores, não<br />

representan<strong>do</strong> a opinião <strong>do</strong>s editores<br />

ou da revista.<br />

Fotos e demais materiais publica<strong>do</strong>s<br />

estão na internet sob <strong>do</strong>mínio público.<br />

FICA PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO<br />

DO MATERIAL AQUI IMPRESSO.


ENTRE IRMÃS<br />

Por Leonar<strong>do</strong> Barreto em Quarta Parede<br />

‘Entre Irmãs’: um épico feminino sobre mulheres<br />

construin<strong>do</strong> os seus destinos<br />

Há uma fala de uma personagem de Entre Irmãs que é<br />

emblemática. “Eu não sou uma dama. Eu sou uma<br />

costureira”. Defini<strong>do</strong> pelo próprio diretor como um épico<br />

feminino e intimista, o longa consegue abordar em<br />

quase três horas de duração temas varia<strong>do</strong>s em uma<br />

estrutura que embora tenda ao melodrama, é<br />

sustentada por atuações muitos sólidas e um excelente<br />

visual.<br />

Em Entre Irmãs, Marjorie Estiano é Emília, uma jovem<br />

que sonha em casar e se mudar para a capital. Nanda<br />

Costa vive a impetuosa Luzia, que faz a opção de<br />

seguir um violento grupo de cangaceiros. Criadas para<br />

serem costureiras no sertão nordestino, ao serem<br />

separadas por circunstâncias adversas, elas enfrentam<br />

o preconceito e o machismo, tanto na alta sociedade<br />

quanto no interior.<br />

O diretor Breno Silveira se mostra à vontade para mais<br />

uma vez desenvolver personagens fortes, como em 2<br />

Filhos de Francisco e Gonzaga – de Pai para Filho.<br />

Desta vez ele possui a missão de retratar duas<br />

mulheres de personalidades distintas, porém firmes e<br />

decididas. Outro ponto a favor de Breno é o Nordeste.<br />

Ele sabe como poucos captar imagens e compor os<br />

cenários <strong>do</strong> interior, auxilia<strong>do</strong> por uma ótima direção de<br />

arte e figurinos que evocam instantaneamente o<br />

Nordeste <strong>do</strong> país <strong>do</strong>s anos 20 e 30, época em que se<br />

passa o filme.<br />

A fotografia também é didática ao dar visões distintas<br />

ao longa. No interior, cores quentes se misturam as da<br />

terra, enquanto enquadramentos mais abertos dão a<br />

sensação de imensidão <strong>do</strong> local. Na capital os planos<br />

são mais fecha<strong>do</strong>s (por conta da situação de uma<br />

personagem em específico) e o visual é mais clean.<br />

Outro aspecto técnico muito eficiente em Entre Irmãs é<br />

a montagem, que intercala bem as histórias de forma<br />

que haja dinamismo, algo necessário por conta da<br />

longa duração <strong>do</strong> filme. A fluidez só não é percebida no<br />

ato final, que é demasiadamente longo.<br />

A trama se inicia com um prólogo em que<br />

acontecimentos da infância das irmãs são mostra<strong>do</strong>s,<br />

passan<strong>do</strong> pela juventude até o momento em que a<br />

separação acontece. Um acontecimento inimaginável<br />

soa como uma grande surpresa logo nos primeiros<br />

minutos. Se muito <strong>do</strong> que acontece no decorrer da<br />

trama é de certa forma previsível, há alguns pontos que<br />

subvertem as expectativas <strong>do</strong> público. As escolhas das<br />

personagens são fundamentais e movem o enre<strong>do</strong>,<br />

enquanto que o enfrentamento das dificuldades em um<br />

ambiente hostil são explora<strong>do</strong>s em ambos os núcleos.<br />

O roteiro de Patrícia Andrade, basea<strong>do</strong> na obra de<br />

Frances de Pontes Peebles “A Costureira e o<br />

Cangaçeiro”, é bastante cuida<strong>do</strong>so em amarrar todas<br />

as pontas. No entanto, alguns arcos e subtramas<br />

demoram a receber seu desfecho e quan<strong>do</strong> isso<br />

acontece, há um didatismo desnecessário. Porém, o<br />

texto é sensível em muitos momentos e há espaço para<br />

diálogos mais intensos, tanto no cangaço quanto na


alta sociedade pernambucana. Há um ponto extremamente positivo que é,<br />

além de haver personagens femininas fortes, também há espaço para o<br />

desenvolvimento de personagens masculinos.<br />

BRAWL IN CELL<br />

BLOCK 99<br />

Se por um la<strong>do</strong> o longa possui uma trama de certa forma inflada por muitos<br />

acontecimentos, isso possibilita a discussão de diversos temas. Identidade,<br />

senso de pertencimento a um local, família, machismo, sexualidade e amor<br />

são trata<strong>do</strong>s de maneiras sutis e tocantes. Também há um importante<br />

paralelo com o que acontece com Emília e Luzia, em relação as suas<br />

expectativas de futuro.<br />

As atuações de Nanda Costa e Marjorie Estiano são extremamente<br />

elogiáveis. Nanda carrega em seu olhar mais fecha<strong>do</strong> uma expressividade<br />

necessária à personagem, endurecida por circunstâncias da vida e até<br />

mesmo por sua própria personalidade. Foi uma escalação bastante acertada<br />

assim como a de Marjorie, que por sua vez traz <strong>do</strong>çura e ingenuidade em<br />

sua caracterização, algo que com o tempo os acontecimentos se<br />

encarregam de amenizar. A química entre as duas é algo muito importante<br />

aqui e elas convencem como irmãs.<br />

Julio Macha<strong>do</strong> e Romulo Estrela também estão ótimos como Carcará e<br />

Degas, personagens totalmente diferentes um <strong>do</strong> outro mas que possuem a<br />

complexidade para nos envolvermos com suas tramas. Mesmo com um<br />

tempo de tela mais reduzi<strong>do</strong>, Letícia Colin se destaca como Lindalva,<br />

trazen<strong>do</strong> uma visão diferente de mun<strong>do</strong> em contraponto aos protagonistas. O<br />

elenco de apoio cumpre seu papel com eficiência, embora haja alguns<br />

trejeitos novelescos em determina<strong>do</strong>s momentos.<br />

Carregan<strong>do</strong> consigo sensibilidade e firmeza <strong>do</strong> universo feminino em sua<br />

narrativa, Entre Irmãs ainda tem o mérito de discutir temas relevantes e que<br />

ainda são trata<strong>do</strong>s com tabu nos dias de hoje. Com mais acertos <strong>do</strong> que<br />

erros, o filme figura como mais um bom drama nacional em 2017. É uma<br />

história sobre circunstâncias e escolhas, com um visual primoroso e<br />

belíssimas atuações.<br />

(Entre Irmãs, Brasil, 2017)<br />

Direção: Breno Silveira<br />

Elenco: Ângelo Antônio, Rita Assemany, Cyria Coentro, Nanda Costa, Letícia<br />

Colin, Cláudio Jaborandy.<br />

+++++<br />

Por Eduar<strong>do</strong> Kacic em Portal<br />

<strong>do</strong> Andreoli<br />

Um <strong>do</strong>s melhores filmes lança<strong>do</strong>s<br />

em 2015, até hoje muita gente<br />

desconhece. Estou falan<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

violento western Rastro de<br />

Maldade (Bone Tomahawk),<br />

produção que chegou ao circuito<br />

completamente fora <strong>do</strong> radar <strong>do</strong>s<br />

grandes lançamentos, protagonizada<br />

por nomes como Kurt<br />

Russell e Patrick Wilson, e<br />

dirigida com mão firme e pesada<br />

por um estreante, o jovem Z.<br />

Craig Zahler. Em minha crítica<br />

para o referi<strong>do</strong> western, isso em<br />

2015, mencionei que o nome de<br />

Zahler merecia um lugar no radar<br />

<strong>do</strong> público, pois o cineasta<br />

parecia realmente ter algo a dizer<br />

com seu cinema. Hoje, depois de<br />

conferir este ultraviolento Brawl in<br />

Cell Block 99 (EUA, 2017), seu<br />

segun<strong>do</strong> filme, eu posso afirmar<br />

com um sorriso no rosto: eu<br />

estava certo.<br />

Desta vez, Zahler (responsável<br />

também pelo roteiro da<br />

produção), conta a história de<br />

Bradley Thomas (Vince Vaughn),<br />

que após perder seu emprego<br />

como motorista de um guincho e<br />

descobrir que sua esposa Lauren<br />

(Jennifer Carpenter, de O<br />

Exorcismo de Emily Rose) o está<br />

train<strong>do</strong>, decide esquecer tu<strong>do</strong> e<br />

recomeçar sua vida. Ele per<strong>do</strong>a<br />

sua esposa, e juntos eles<br />

planejam construir uma família.<br />

Para isso, entretanto, Bradley<br />

teria de trabalhar por um curto<br />

perío<strong>do</strong> como um contrabandista<br />

de drogas, o que acaba


funcionan<strong>do</strong> bem por um tempo. Porém, quan<strong>do</strong> uma negociação com um<br />

cartel acaba dan<strong>do</strong> erra<strong>do</strong>, Bradley é pego no flagra e encarcera<strong>do</strong> em um<br />

presídio de média segurança.<br />

Sua situação piora ainda mais quan<strong>do</strong> Lauren é sequestrada pelo chefão <strong>do</strong><br />

cartel, que ordena a Bradley que encontre uma maneira de ir parar no<br />

presídio de segurança máxima Redleaf, e uma vez lá, Bradley teria de matar<br />

um <strong>do</strong>s detentos, para assim pagar sua dívida com o cartel. Caso Bradley<br />

não cumpra as ordens <strong>do</strong> chefão, o bebê que sua mulher está esperan<strong>do</strong><br />

será arranca<strong>do</strong> de sua barriga por um abortista (sim, é isso mesmo). A<br />

história então acaba se tornan<strong>do</strong> uma espécie de “filme de fuga de prisão ao<br />

contrário”, com Bradley tentan<strong>do</strong> ir parar em Redleaf para assassinar o<br />

detento da cela 99.<br />

Sempre fui fã <strong>do</strong> ator Vince Vaughn, mesmo reconhecen<strong>do</strong> que na grande<br />

maioria das vezes ele repete o tipo de personagem falastrão e folga<strong>do</strong> que o<br />

fez famoso em várias comédias. Entretanto, Vaughn tem muda<strong>do</strong> bastante<br />

seu escopo de atuação atualmente, como pôde ser visto na segunda<br />

temporada da série True Detective, por exemplo. Neste Brawl in Cell Block<br />

99 contu<strong>do</strong>, Vaughn eleva seu nível de atuação a patamares que nunca<br />

havia chega<strong>do</strong> antes na carreira. O filme vive e morre com Vaughn, que<br />

entrega uma performance física, bruta e visceral, no papel de um homem<br />

que fala sussurran<strong>do</strong>, mas cuja verdadeira voz é a violência.<br />

faz o filme anterior de Zahler, o<br />

cita<strong>do</strong> e violento Rastro de<br />

Maldade, parecer um passeio no<br />

parque.<br />

Brawl in Cell Block 99 pode não<br />

ser o filme que você espera, mas<br />

ainda assim é um filme<br />

surpreendentemente rico e<br />

poderoso, apesar de sua<br />

“impressão” de filme B. Ao invés<br />

de jogar a plateia no meio da<br />

porrada desde o começo, Zahler<br />

e seu filme querem que o público<br />

invista em Bradley e se importe<br />

com suas decisões, independente<br />

<strong>do</strong> fato <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r saber que<br />

ele é um homem capaz de<br />

transformar um indivíduo em suco<br />

de carne. Graças à performance<br />

colossal de Vaughn e a direção<br />

sem concessões de Zahler, Brawl<br />

in Cell Block 99 consegue<br />

escapar ileso da corda bamba de<br />

ser um filme grindhouse, para ser<br />

um drama contundente que<br />

genuinamente se importa com<br />

seu trágico protagonista.<br />

Brawl in Cell Block 99 ainda não<br />

tem previsão de estreia nos<br />

cinemas brasileiros, e deve<br />

chegar ao país diretamente<br />

através <strong>do</strong> serviço de streaming e<br />

VOD.<br />

Não dá para negar que Brawl in Cell Block 99 tem uma vibe daqueles filmes<br />

de cadeia fuleiros exibi<strong>do</strong>s na TV Bandeirantes. Contu<strong>do</strong>, o drama exposto<br />

no filme nunca soa barato, e se Zahler quisesse, ele poderia ter parti<strong>do</strong> direto<br />

para a ação. Ao invés disso, ele toma seu tempo, sempre pausan<strong>do</strong> a<br />

narrativa para que o público possa analisar a bússola moral <strong>do</strong> protagonista,<br />

que sempre que tenta fazer algo de bom, acaba ten<strong>do</strong> que enfrentar<br />

consequências ruins. Bradley não é um sociopata que procura pela violência,<br />

mas é na violência que ele se destaca. Ele parece ser um homem que não<br />

sente realmente nenhum tipo de <strong>do</strong>r física, mas também não é indestrutível.<br />

O protagonista é o tipo de homem que quan<strong>do</strong> toma uma decisão, nunca<br />

volta atrás. Ele não barganha, não apela, e não despista. Ele escolhe um<br />

caminho e massacra quem estiver à sua frente.<br />

Para Vaughn, sua performance em Brawl in Cell Block 99 não poderia ser<br />

mais diferente <strong>do</strong> que seus outros papéis. O ator não precisa que o público<br />

goste de Bradley, mas ele quer que o especta<strong>do</strong>r entenda suas decisões. Ao<br />

invés de se apoiar no diálogo, Vaughn se apoia no físico, usan<strong>do</strong> seu<br />

tamanho e estatura para controlar o tempo da cena, compon<strong>do</strong> um<br />

personagem que deve ser temi<strong>do</strong> e respeita<strong>do</strong>, e cujas manifestações de<br />

violência expressam sua verdadeira e demoli<strong>do</strong>ra personalidade.<br />

A violência que ele impõe é aterrorizante, e Zahler caminha sobre uma linha<br />

tênue ao mostrar como esta violência carrega o que há de melhor e pior em<br />

Bradley. Sua habilidade em castigar pessoas é o que o colocou em sua difícil<br />

situação, mas é também a única coisa que pode salvar Lauren e seu bebê<br />

que está por vir. Resta então ao público torcer pela fúria destrutiva de seu<br />

protagonista, à medida em que Zahler a retrata com tanta brutalidade, que é<br />

impossível o filme ganhar uma censura inferior à dezoito anos. O filme exalta<br />

cada um de seus sangrentos momentos, e eles são tantos e tão brutais, que<br />

(Idem, EUA, 2017)<br />

Direção: S. Craig Zahler<br />

Elenco: Jennifer Carpenter, Vince<br />

Vaughn, Tom Guiry, Don<br />

Johnson, Mustafa Shakir<br />

+++++


SOB O OLHAR DO MAR<br />

delicada, sobre gueixas em busca<br />

<strong>do</strong> amor, que foi muito bem<br />

fotografada e encenada.<br />

Último romance escrito pelo<br />

diretor Akira Kurosawa.<br />

(Umi Wa Miteita, Japao, 2002)<br />

Direção: Kei Kumai.<br />

Roteiro: Akira Kurosawa, Kei<br />

Kumai, Shugoro Yamamoto.<br />

Elenco: Nagiko Tôno, Hidetaka<br />

Yoshioka, Masatoshi Nagase,<br />

Misa Shimizu.<br />

Minha nota: 3,8 -5<br />

.Por Cecília Peixoto em <strong>Cine</strong>ma Oriental<br />

"É impossível viver sem algo que nos dê animo."<br />

Um bordel numa cidade à beira-mar. O século: XIX. Uma prostituta que<br />

ainda conserva a pureza <strong>do</strong>s sentimentos e apaixona-se pelos clientes.<br />

Quan<strong>do</strong> um samurai (Hidetaka Yoshioka, de Rapsódia em Agosto) vai parar<br />

lá, fugin<strong>do</strong> de uma briga na qual se metera e em que tem lembrança de ter<br />

feri<strong>do</strong> alguém, apesar de muito bêba<strong>do</strong>, O-Shin (a linda Nagiko Tohno) o<br />

ajuda. Fusanosuke, esse é o nome dele, fica muito agradeci<strong>do</strong> e passa a<br />

procurar O-Shin. Ela, alertada pelas outras, principalmente por Kikuno, tenta<br />

evitar de vê-lo. A diferença de classe é muito grande entre eles, o que aquele<br />

jovem bem-nasci<strong>do</strong> vai querer com uma moça como ela? Mas isso não<br />

impede que O-Shin se apaixone pelo jovem samurai.<br />

+++++<br />

THAT SUGAR FILM<br />

Fusanosuke lhe diz que ela não tem que ter vergonha <strong>do</strong> que é, que ela<br />

apenas teve menos sorte que ele e que acredita que se ela deixar de exercer<br />

a profissão, voltará a ser pura. Isso acalenta a esperança não só nela quanto<br />

nas amigas <strong>do</strong> bordel, que se dispõem a atender os clientes dela para livrá-la<br />

<strong>do</strong> peca<strong>do</strong>, enquanto Fusanosuke faz uma viagem.<br />

Como não se encantar com essas mulheres? As gueixas, retratadas sem<br />

vulgaridade, muito pelo contrário, elas eram de uma beleza, sempre com<br />

seus lin<strong>do</strong>s quimonos e pentea<strong>do</strong>s, mostran<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> e empatia umas com<br />

as outras. Uma história simples e sensível, onde os sonhos de cada uma são<br />

revela<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> elas ajudam O-Shin. Porque embora elas temessem por<br />

O-Shin, por ela se envolver emocionalmente, quan<strong>do</strong> elas resolvem ajudá-la<br />

a se casar com um samurai, elas também estão realizan<strong>do</strong> o la<strong>do</strong> romântico<br />

escondi<strong>do</strong> delas.<br />

Um outro jovem rapaz (Masatoshi Nagase de Trem Mistério) aparece e se<br />

apaixona por O-Shin,<br />

Um temporal avassala<strong>do</strong>r atinge o vilarejo, provocan<strong>do</strong> a fúria <strong>do</strong> mar e o<br />

transbordamento <strong>do</strong>s rios. Um velho cliente aparece para resgatar Kikuno,<br />

ele quer que ela fuja com ele, mas ela não quer, o que provoca uma outra<br />

briga no filme.<br />

O mar, que testemunhou to<strong>do</strong>s os dramas daquele bordel e das gueixas,<br />

vem agora mudar toda a vida delas. A cena de O-Shin e Kikuno no telha<strong>do</strong>,<br />

quase tocan<strong>do</strong> as estrelas, é de uma beleza ímpar.<br />

Akira Kurosawa escreveu esse roteiro que deixou inédito em 1993. Adaptou<br />

<strong>do</strong>is contos: "O Cheiro de uma Flor Desconhecida" e "Antes que o Orvalho<br />

Seque", de Syugoro Yamamoto. Sua intenção era desmentir os críticos que<br />

diziam que não sabia escrever personagens femininos. O filme procurou<br />

seguir todas as anotações (desenhos, sketches e até mesmo o desenho de<br />

produção de Kurosawa), inclusive com determina<strong>do</strong>s detalhes, por exemplo,<br />

a heroína é a única a usar quimono vermelho. Foi o filho de Kurosawa quem<br />

escolheu o diretor Kei Kumai para dirigi-lo. Assim, ele contou esta história<br />

Por Luiz Santiago em Plano<br />

Crítico<br />

Primeiro longa-metragem dirigi<strong>do</strong><br />

por Damon Gameau, That Sugar<br />

Film é um <strong>do</strong>cumentário<br />

australiano que parte de<br />

questionamentos <strong>do</strong> cineasta<br />

sobre uma dieta com a massiva<br />

presença de açúcar (frutose) no<br />

cotidiano. Em da<strong>do</strong> momento da<br />

fita ele expõe, através de uma<br />

explicação cômica atrelada a uma<br />

excelente animação, como<br />

funciona o processo de digestão<br />

<strong>do</strong> açúcar em nosso organismo,<br />

marcan<strong>do</strong> um ponto importante<br />

das reflexões sugeridas na obra,<br />

ou seja, não importa se estamos<br />

lidan<strong>do</strong> com sacarose, xarope de<br />

milho com alto teor de frutose ou<br />

com as mais diversas variações<br />

dadas pela indústria alimentícia:


ao digerir esse alimento com uma determinada enzima, nosso organismo<br />

separa glicose e frutose, fazen<strong>do</strong> o perigo permanecer. A obra nos ajuda a<br />

tornar plural o olhar para a má alimentação em nosso tempo e ressalta que a<br />

gordura não é exatamente a senhora de to<strong>do</strong>s os males.<br />

contra a gordura, iniciada nos<br />

anos 1980, e o estabelecimento<br />

<strong>do</strong> açúcar como o “mocinho <strong>do</strong>ce”<br />

da história, ainda hoje encoberto<br />

por caminhos de pesquisas<br />

suspeitas que exibem com<br />

orgulho a frase “não há consenso<br />

de que faz mal“. Um daqueles<br />

filmes “inconvenientes” que nos<br />

faz pensar, nos impulsiona a<br />

pesquisar da<strong>do</strong>s sobre o tema e<br />

nos faz querer mudar alguns <strong>do</strong>s<br />

hábitos alimentares mais comuns<br />

que adquirimos ao longo <strong>do</strong>s<br />

anos.<br />

A concepção <strong>do</strong> filme parte, na verdade, de um experimento. No momento<br />

em que estava filman<strong>do</strong> a obra, Gameau já estava em uma dieta livre de<br />

açúcar há 3 anos, e então, prestes a ser pai e com uma grande quantidade<br />

de notícias e da<strong>do</strong>s alarmantes sobre o tema em mãos, resolveu usar o<br />

próprio corpo como cobaia. Aqui, o especta<strong>do</strong>r percebe o caráter rigoroso <strong>do</strong><br />

projeto, o que em termos de valor <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário — não apenas no tema,<br />

mas no caminho utiliza<strong>do</strong> para se chegar às conclusões científicas — torna a<br />

obra um bom espaço de discussão, mesmo nas discordâncias, uma vez que<br />

o trajeto percorri<strong>do</strong> teve uma cuida<strong>do</strong>sa preparação, primeiro com os<br />

exames de sangue, depois pela consulta em diferentes especialistas e só<br />

então chegan<strong>do</strong> ao estabelecen<strong>do</strong> da nova dieta.<br />

Um <strong>do</strong>s problemas frequentes encontra<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>cumentários com<br />

temáticas “onde não exite consenso científico” é o uso solto de justificativas<br />

e processos analíticos, boa parte deles feitos para confundir ou encobrir<br />

caminhos diferentes de interpretação, o que não acontece aqui. That Sugar<br />

Film não só é uma obra criativa, com entrevistas, imagens geradas por<br />

computa<strong>do</strong>r, esquetes cômico-histórico-didáticos (protagoniza<strong>do</strong>s por Hugh<br />

Jackman, Stephen Fry e Brenton Thwaites), cenas de viagem, inserção de<br />

novas telas, processos de consulta médica, música e animações; mas é<br />

também um <strong>do</strong>cumentário que lida honestamente com o outro la<strong>do</strong> da<br />

moeda, abordan<strong>do</strong> alguns de seus caminhos e entrevistan<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s<br />

representantes deste la<strong>do</strong>, liga<strong>do</strong> à Coca-Cola e cuja entrevista é um misto<br />

de vergonha e marketing muitíssimo bem pago. O diretor poderia trazer mais<br />

representantes para comentar o problema e inseri-los de maneira mais firme<br />

nos últimos blocos <strong>do</strong> longa, mas isto é apenas um caminho de construção<br />

da problemática, não algo que inutilize ou classifique a obra como uma<br />

falácia <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>ra que quer demonizar o tão delicioso açúcar.<br />

Sen<strong>do</strong> orienta<strong>do</strong> por sua nutricionista a manter exatamente o mesmo nível<br />

de carboidratos por dia (ao longo <strong>do</strong> processo ele chegou, inclusive, a ingerir<br />

menos <strong>do</strong> que antes), o diretor colocou na dieta produtos SAUDÁVEIS (com<br />

a tag light ou diet) contento açúcar, manten<strong>do</strong> a média que a maioria da<br />

população consome por dia, e isso sem mergulhar nas junkie foods. Apenas<br />

com drinques energéticos, chás, estimulantes e “substitui<strong>do</strong>res de refeição”,<br />

o <strong>do</strong>cumentarista conseguiu aumentar consideravelmente, em três meses de<br />

experimento, o seu peso, a circunferência <strong>do</strong> abdômen, o nível de gordura<br />

no fíga<strong>do</strong>, além de desenvolver um estágio de letargia e, talvez uma das<br />

coisas mais terríveis que o excesso que açúcar pode trazer, a falta de<br />

clareza mental, devi<strong>do</strong> ao descontrole <strong>do</strong> cérebro ao lidar com os picos de<br />

“felicidade” pela ingestão de um produto <strong>do</strong>ce e a espera de outra “<strong>do</strong>se”<br />

(exatamente como um vicia<strong>do</strong> em drogas) para que o esta<strong>do</strong> de euforia volte<br />

novamente. O mais interessante é que no processo, o autor também<br />

manteve o ritmo diário de exercícios diários. Mesmo assim, os resulta<strong>do</strong>s<br />

foram catastróficos.<br />

Abordan<strong>do</strong> com cautela as mudanças históricas, colocan<strong>do</strong> algumas<br />

propagandas de TV, problematizan<strong>do</strong> a ação de produtos com alto teor de<br />

açúcar em comunidades (nativas ou não) e alertan<strong>do</strong> para o vício que o<br />

produto causa, That Sugar Film abre uma porta para que o especta<strong>do</strong>r<br />

pense sobre o tema, convidan<strong>do</strong>-nos a entender e a questionar a guerra<br />

(That Sugar Film ,Austrália, 2014)<br />

Direção: Damon Gameau<br />

Roteiro: Damon Gameau<br />

Elenco: Damon Gameau, Hugh<br />

Jackman, Milla Bakaitis, Richard<br />

Davies, Skylar Delphinus,<br />

Christina Evans, Stephen Fry,<br />

Zoe Gameau, Lisa Gloufchis,<br />

Benjamin Hancock, Zelia Kitoko,<br />

Isabel Lucas, Jessica Marais,<br />

Brenton Thwaites<br />

+++++<br />

APRILE<br />

Por Cecília Peixoto em <strong>Cine</strong>ma<br />

Italiano, Capisce?<br />

Nanni Moretti interpreta ele<br />

próprio e o filme tem a<br />

participação da esposa e da mãe<br />

dele.


Depois de "Caro Diário", filme de caráter autobiográfico que recebeu o<br />

prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes de 1994, "Aprile" é uma<br />

espécie de continuação, mas intercala<strong>do</strong> de ficção. Quan<strong>do</strong> Silvia, sua<br />

mulher, anuncia que está grávida, um misto de felicidade e pânico se<br />

apodera <strong>do</strong> nosso cineasta.<br />

TAKES<br />

NA PRAIA À<br />

NOITE SOZINHA<br />

Por Ricar<strong>do</strong> Luís em Espaço<br />

<strong>Cine</strong> Fashion<br />

Nanni, que tinha aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> um projeto musical, lastimavelmente para o<br />

ator principal que estava dan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> de si, está às voltas com um<br />

<strong>do</strong>cumentário sobre as efervescentes eleições na Itália de 1996. Sem<br />

cabeça para se envolver com algo tão sério, ao mesmo tempo ele está<br />

preocupa<strong>do</strong> com o futuro da Itália, desse Itália que elegeu Berlusconi em<br />

1994, dessa Itália que será o berço <strong>do</strong> seu filho. O musical ainda não saiu de<br />

sua cabeça mas ele se sente responsável por fazer um filme político. Ele<br />

acredita que o filho, mesmo ainda na barriga da mãe, já sofre influências,<br />

então ele gosta de conversar bastante com ele, se preocupa até com os<br />

filmes que ele e Silvia vão ver nos cinemas. O que dirá com a situação <strong>do</strong><br />

país? Para Nanni, a formação <strong>do</strong> caráter já começa desde a gestação.<br />

E assim ele segue ansioso, com sua lambretinha, incapaz de concluir nada.<br />

Que filme poderá ser mais importante agora que o filme de sua vida, que o<br />

nascimento de seu primeiro filho?<br />

A equipe cobra concentração dele, mas seus pensamentos voam com os<br />

cuida<strong>do</strong>s que quer ter com seu filho e ao mesmo tempo com cenas <strong>do</strong><br />

musical que imagina. É assim que a equipe o vê no meio de uma reunião<br />

responden<strong>do</strong> as coisas mais desconexas, isso quan<strong>do</strong> não está ensaian<strong>do</strong><br />

uns passinhos de dança.<br />

Na praia à noite sozinha (Coreia<br />

<strong>do</strong> Sul - Bamui haebyun-eoseo<br />

honja - Zeta Filmes - Drama),<br />

direção Hong Sang-Soo<br />

Younghee (Kim Min-hee) é uma<br />

atriz famosa que tem a sua vida<br />

pessoal exposta após um caso<br />

com um homem casa<strong>do</strong>. Ela<br />

acaba então decidin<strong>do</strong> deixar sua<br />

cidade e passar um tempo em<br />

Hamburgo, na Alemanha, e dar<br />

uma pausa na carreira. E, ao<br />

retornar à Coréia, Younghee<br />

reencontra os velhos amigos e<br />

começa a refletir sobre suas<br />

possibilidades de futuro. Em<br />

noites regadas a álcool, ela se<br />

libera e diz o que realmente<br />

sente, geran<strong>do</strong> conflitos bem<br />

complexos com eles.<br />

Seu filho Pietro nasceu no dia 18 de abril de 1996. E é então que até o filho<br />

participa <strong>do</strong> filme. Três dias depois, Romano Prodi, da coalizão centroesquerda,<br />

vence as eleições. É portanto em abril que Pietro nasce, é em<br />

abril que a política italiana muda radicalmente de rumo. Aprile. Chega enfim<br />

abril, é como se to<strong>do</strong>s os seus pensamentos e sentimentos, como rios,<br />

estivessem convergin<strong>do</strong> para esse mês e finalmente desaguam, forman<strong>do</strong><br />

um turbilhão de emoções. E finalmente em abril essas emoções podem se<br />

alinhar de novo, forman<strong>do</strong> um compasso, um compasso tão apaixona<strong>do</strong>, um<br />

movimento que ele quer compartilhar com to<strong>do</strong>s... de preferência em uma<br />

confeitaria, para mostrar que a vida também pode ser <strong>do</strong>ce. E qual a melhor<br />

forma de fazer isso se não cantan<strong>do</strong> e dançan<strong>do</strong>?<br />

"Aprile" recebeu o Prêmio David di Donatello de Melhor Ator Coadjuvante:<br />

Silvio Orlan<strong>do</strong>.<br />

(Aprile, Itália, 1998)<br />

Direção e roteiro: Nanni Moretti.<br />

Elenco: Nanni Moretti. Silvia Nono, Agatha Moretti, Silvio Orlan<strong>do</strong>.<br />

Minha nota 3,8/5<br />

+++++<br />

+++++


CINEMA CLÁSSICO<br />

O GALANTE MR. DEEDS<br />

Por Cristiane Costa em Madame Lumiére<br />

Longfellow Deeds, um a<strong>do</strong>rável toca<strong>do</strong>r de Tumba, interpreta<strong>do</strong> pelo icônico Gary Cooper, herda uma fortuna , vira motivo<br />

de notícias enganosas que descredibilizam sua sanidade e é alvo de oportunistas e ambiciosos. Como essa dinâmica,<br />

Frank Capra, um <strong>do</strong>s maiores cineastas humanistas, realiza uma das mais divertidas e charmosas comédias <strong>do</strong> <strong>Cine</strong>ma, O<br />

Galante Mr. Deeds.<br />

Com várias produções no auge <strong>do</strong>s anos 30, o diretor é de uma época na qual as comédias eram afiadas para tratar temas<br />

sociais e criticar a sociedade de aparências de um mo<strong>do</strong> bem humora<strong>do</strong> e igualmente cortante. Contemporâneo de<br />

cineastas que investiram no gênero como Howard Hawks e Ernst Lubitsch, Capra é reconheci<strong>do</strong> pelo seu lega<strong>do</strong> com<br />

clássicos como Aconteceu naquela noite (1934), Do mun<strong>do</strong> nada se leva (1938), A mulher faz o homem (1939) e A<br />

felicidade não se compra (1946) que enobrecem a comédia com um approach dramático bastante enraiza<strong>do</strong> no idealismo <strong>do</strong><br />

diretor. O velho dita<strong>do</strong> "Dinheiro não traz felicidade" cabe bem na filmografia de Capra. Em grande parte <strong>do</strong>s seus longas, a<br />

integridade <strong>do</strong> homem é reforçada como um valor universal e vital.<br />

Merecidamente vence<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Oscar de melhor diretor por esse filme, o cineasta demonstra um vigor excepcional na direção<br />

ao transformar um plot aparentemente medíocre em uma marcante comédia. No início, Mr. Deeds tem um jeito abobalha<strong>do</strong><br />

e desloca<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Não se importa com dinheiro e tem uma reação atípica que muitos outros não teriam ao ganhar um<br />

grande quantia de dinheiro. Muito queri<strong>do</strong> pela população de uma cidade <strong>do</strong> interior, Mr. Deeds é apresenta<strong>do</strong> como um<br />

homem íntegro e terno, bem nos moldes <strong>do</strong>s heróis Caprianos. Pouco a pouco, o roteiro <strong>do</strong> experiente Robert Riskin, que<br />

tem uma forte parceria com Capra em outros filmes, evoluí para mostrar como as pessoas podem ser bem invejosas e<br />

nocivas com o outro. Mr Deeds vira motivo de chacota com posteriores danos pessoais. Aqueles que ama e que deveriam<br />

protegê-lo, como a jornalista Babe Bennett (Jean Artur), mostram as garras da ambição e da hipocrisia. Mas, nunca é tarde<br />

para se redimir! Afinal, Capra é um otimista.<br />

A comédia é um espetáculo na junção <strong>do</strong> roteiro, elenco e direção. Transborda em elementos comuns nos filmes da época<br />

como o jornalismo impresso, a mise en scène de um tribunal e os personagens periféricos e patrióticos. Especificamente<br />

aqui, com destreza e articulação, Capra e Riskin trabalham muito bem com grande elenco. Há espaço para outros atores


A NOITE DO DEMÔNIO<br />

que se referem a personas que afetam a vida de Mr. Deeds<br />

e que são retratos dessa sociedade como Jean Artur, a<br />

jornalista esperta e ambiciosa que deseja subir na carreira,<br />

e George Bancroft, o editor patético que a<strong>do</strong>ra notícias<br />

ridículas e topa tu<strong>do</strong> para a primeiro página. Personagens<br />

como fazendeiros, autoridades legais e médicas, vizinhas<br />

<strong>do</strong> interior e to<strong>do</strong>s os interesseiros em heranças também<br />

são essenciais para o grande momento: Mr. Deeds é louco<br />

ou não?. O que essa sociedade bisbilhoteira incapaz de<br />

olhar para o próprio umbigo tem a dizer? Ela está realmente<br />

atenta às virtudes <strong>do</strong> homem ou seus argumentos são tão<br />

superficiais como as aparências?<br />

Com louvores, destaque especial para a paciência de Gary<br />

Cooper em um papel que a sanidade <strong>do</strong> personagem é<br />

testada. Além de combinar com os faroestes como o<br />

imperdível Will Kane, em Matar ou Morrer(High Noon), o<br />

ator cabe muito bem em personagens gentleman com suas<br />

feições angelicais que agregam humor, delicadeza e um<br />

toque de melancolia. Ele se destaca como um galã que não<br />

é apenas um rosto bonito mas um homem que transmite<br />

credibilidade, ética e atrai a simpatia <strong>do</strong> público. Assim é o<br />

Mr. Deeds: encanta<strong>do</strong>r! Ele encarna bem os peculiares atos<br />

que são foco de zombaria, o romantismo e a timidez diante<br />

da amada e o estilo nobre e lúci<strong>do</strong> de quem não perde suas<br />

humildes origens e não está à venda por qualquer preço.<br />

Até mesmo as mirabolantes ações de generosidade de Mr<br />

Deeds, obviamente nutridas pelos propósitos idealistas,<br />

sentimentais e políticos de Capra, são graciosos.<br />

Demonstram que talvez a generosidade seja um ato de<br />

loucura em um mun<strong>do</strong> ganancioso que, a to<strong>do</strong> momento,<br />

testa a nossa humanidade e mina o riso fácil, despoja<strong>do</strong>.<br />

(Mr. Deeds Goes to Town, EUA, 1936)<br />

Direção: Frank Capra<br />

Elenco: Gary Cooper, Jean Arthur, George Bancroft,<br />

Lionel Stander, Ruth Donnelly.<br />

+++++<br />

Por Ary Ximendes em <strong>Cine</strong> <strong>Club</strong><br />

O especialista norte-americano em parapsicologia John Holden<br />

(Dana Andrews) é chama<strong>do</strong> por um colega, o professor Harrigton<br />

(Maurice Denham), até a Inglaterra para desmascarar o líder de<br />

uma seita satânica conheci<strong>do</strong> como Dr. Kraswell (Niall<br />

MacGinnis), mas ao chegar a Londres, Holden descobre que<br />

Harrigton morreu em um suposto acidente, e se junta à sobrinha<br />

<strong>do</strong> professor, Joanna (Peggy Cummins), para tentar desvendar o<br />

que realmente aconteceu. Entretanto o Dr. Kraswell quer que o<br />

especialista Holden se afaste das investigações e ameaça-o com<br />

uma maldição. Cético ao extremo, Holden não acredita em nada<br />

que não possa ver, tocar ou ouvir, e não liga para as ameaças <strong>do</strong><br />

líder satânico. Mas ele pode estar incorren<strong>do</strong> em um erro, que<br />

poderá lhe valer um encontro com o Demo e custar sua vida.<br />

“A Noite <strong>do</strong> Demônio” é mais um excelente filme de Tourneur (A<br />

Marca da Pantera, A Morta-Viva) onde o diretor utiliza-se de toda<br />

sua técnica cinematográfica, usan<strong>do</strong> e abusan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s efeitos de<br />

câmera, luzes e sombras, mostran<strong>do</strong>-nos um demônio bastante<br />

aterra<strong>do</strong>r com belos efeitos visuais.<br />

Entretanto, a grande falha <strong>do</strong> filme é mostrar o sobrenatural logo<br />

no início da história, perden<strong>do</strong> a chance de alimentar no<br />

expecta<strong>do</strong>r as mesmas dúvidas que atingem o protagonista <strong>do</strong><br />

filme.<br />

Mesmo assim essa luta <strong>do</strong> Bem contra o Mal gera momentos<br />

fantásticos, e o filme é um grande espetáculo para fãs <strong>do</strong> gênero.<br />

(Night of The Demon, 1957)<br />

Direção: Jacques Tourneur<br />

Elenco: Dana Andrews, Peggy Cummins, Niall MacGinnis,<br />

Athene Seyler, Maurice Denham<br />

+++++


BRAZIL, O FILME<br />

A ILHA NUA<br />

Por Ary Ximendes em <strong>Cine</strong> <strong>Club</strong><br />

Em uma sociedade futura e totalitária, Sam Lowry<br />

(Price) é um funcionário <strong>do</strong> governo que é<br />

promovi<strong>do</strong> e transferi<strong>do</strong> por influência da mãe,<br />

uma senhora viciada em cirurgias plásticas, e<br />

descobre que o Esta<strong>do</strong> executou um homem<br />

inocente acusa<strong>do</strong> de terrorismo. Conhece então o<br />

verdadeiro procura<strong>do</strong> (De Niro), um trabalha<strong>do</strong>r<br />

autônomo que sabota as instalações<br />

governamentais.<br />

Durante seus sonhos Sam Lowry imagina-se um<br />

herói ala<strong>do</strong>, que liberta uma linda mulher das<br />

garras de monstros japoneses. Entretanto ele<br />

descobre na vida real uma mulher idêntica à diva<br />

de seus sonhos (Kim Greist), e tenta protegê-la<br />

<strong>do</strong> governo que também a classificou como<br />

terrorista. Os <strong>do</strong>is acabam envolvi<strong>do</strong>s em muitas<br />

perseguições, onde se mistura realidade e<br />

fantasia.<br />

Embora guarde semelhanças com “1984” de<br />

Orwell (dirigi<strong>do</strong> nas telas por Michael Radford);<br />

aqui Terry Gilliam investe na comédia de erros (o<br />

inocente executa<strong>do</strong> teve o nome troca<strong>do</strong> por um<br />

inseto esmaga<strong>do</strong>) com altas <strong>do</strong>ses de humor<br />

negro. Na distopia <strong>do</strong> ex-integrante <strong>do</strong> Monty<br />

Phyton, bombas terroristas matam e mutilam<br />

inocentes e pretensos terroristas pagam até pelos<br />

objetos com os quais serão tortura<strong>do</strong>s.<br />

O título “Brazil” não faz referência ao nosso país,<br />

mas sim à música “Aquarela <strong>do</strong> Brasil” de Ary<br />

Barroso, que sofre vários arranjos diferentes e<br />

tem a própria letra alterada na cena final.<br />

Um filme curioso, surreal, que merece ser visto<br />

como mais uma crítica ao totalitarismo e à<br />

burocracia <strong>do</strong>s governos.<br />

Segun<strong>do</strong> o diretor Terry Gillian o filme forma uma<br />

trilogia, a Trilogia da Imaginação, juntamente com<br />

"Os Bandi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Tempo" e "As Aventuras <strong>do</strong><br />

Barão de Munchausen".<br />

(Brazil,Inglaterra, 1985)<br />

Direção: Terry Gilliam<br />

Elenco: Jonathan Pryce, Kim Greist, Robert De<br />

Niro, Bob Hoskins, Ian Holm, Michael Palin, Terry<br />

Gilliam.<br />

+++++<br />

Por Ary Ximendes em <strong>Cine</strong>ma Oriental<br />

Um casal de camponeses mora em uma pequena ilha com seus <strong>do</strong>is pequenos filhos.<br />

Encurva<strong>do</strong>s sob o peso de barris d’água, que carregam sobre os ombros, eles escalam<br />

a íngreme encosta para irrigar um pequeno pedaço de terra, de onde tiram seu<br />

sustento. A vida deles é dura, pois precisam buscar essa água <strong>do</strong>ce em outra ilha<br />

vizinha em um velho barco. Essa embarcação também serve para que a mulher leve o<br />

filho menor para a escola, enquanto o outro tenta pescar o alimento diário da família; e<br />

para que eles comprem sementes e negociem a pequena produção com os<br />

comerciantes <strong>do</strong> continente.<br />

É uma vida de isolamento e sacrifício, onde a fragilidade física da mulher fica evidente a<br />

cada passo trôpego que dá ao subir a montanha com tanta carga sobre ela. Quan<strong>do</strong> ela<br />

tropeça, e derruba o precioso líqui<strong>do</strong> que carrega, a brutalidade aflora, e o castigo vem<br />

rápi<strong>do</strong>, pois o mari<strong>do</strong> esbofeteia seu rosto com violência. Ela não reclama e fica<br />

resignada como se merece<strong>do</strong>ra fosse da agressão sofrida, pois sabe que depende da<br />

água para viver e que não poderia tê-la derrama<strong>do</strong>, mas a injustiça paira sobre o gesto<br />

<strong>do</strong> seu esposo diante desse pequeno e involuntário acidente.<br />

A vida transcorre arduamente para eles através das estações <strong>do</strong> ano, enquanto aram,<br />

semeiam e colhem; até que a terra-mãe de repente cobra seu preço e decide engolir um<br />

<strong>do</strong>s membros da família que alimentara, mostran<strong>do</strong> que a <strong>do</strong>r pungente e irreparável de<br />

uma perda pode ser muito maior <strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s os sacrifícios que o ser humano comete<br />

para se manter vivo. Agora, revoltada, a mulher joga a água fora e destrói algumas<br />

plantas, mas desta vez o mari<strong>do</strong> não pode repreendê-la, apenas lhe lançar um pouco de<br />

compreensão através de um olhar de tristeza. Mas o ciclo da vida continua, e a terra<br />

continuará a alimentar pessoas e a se alimentar delas; e os camponeses precisarão<br />

subsistir, mesmo que agora carreguem corações feri<strong>do</strong>s.<br />

Em “A Ilha Nua”, o cineasta Kaneto Shindô nos leva às origens <strong>do</strong> cinema, mostran<strong>do</strong><br />

que essa arte pode abdicar das palavras e mergulhar em sua própria essência, ou seja:<br />

no mun<strong>do</strong> das imagens e <strong>do</strong>s sentimentos.<br />

Com o mutismo peculiar de seus personagens e cenas, quebra<strong>do</strong> esporadicamente pelo<br />

som <strong>do</strong> vento, das folhas, de cabras e de gansos, ou mesmo pela música afinada de<br />

Hikaru Hayashi; o diretor constrói uma obra única onde os diálogos são desnecessários,<br />

pois nossos corações e almas muitas vezes se adaptam e até entendem melhor o<br />

silêncio. Uma obra-prima indispensável.<br />

Nota: os russos descobriram o filme primeiro, e ele venceu o Festival de Moscou em<br />

1961, mas os ocidentais só foram descobri-lo no ano seguinte e ele foi nomea<strong>do</strong> ao<br />

BAFTA somente em 1963. Mas a concorrência era de peso, vejam só: “Através de um<br />

Espelho” (Ingmar Bergman), “Jules e Jim” (Truffaut), “O Milagre de Anne Sullivan”<br />

(Arthur Penn), “O Ano Passa<strong>do</strong> em Marienbad” (Alain Resnais), “Amor, Sublime Amor”<br />

(Robert Wise), “Lola, A Flor Proibida” (Jacques Demy) e, entre outros, “Lawrence da<br />

Arábia” que acabou fican<strong>do</strong> com o prêmio... É mole? Pelo menos o filme de Shindô ficou<br />

em ótima companhia entre os indica<strong>do</strong>s. Mas que foi uma injustiça não ter si<strong>do</strong> indica<strong>do</strong><br />

ao Oscar... isso foi.<br />

(Hadaka no Shima, Japão, 1960)<br />

Direção: Kaneto Shindô<br />

Elenco: Nobuko Otowa, Taiji Tonoyama, Shinji Tanaka.<br />

+++++


Por M.V. Pacheco em Tu<strong>do</strong> sobre o seu filme<br />

Distopia ou antiutopia é o pensamento, a filosofia ou o<br />

processo discursivo basea<strong>do</strong> numa ficção cujo valor<br />

representa a antítese da utopia ou promove a vivência<br />

em uma “utopia negativa” . As distopias são geralmente<br />

caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo, por<br />

opressivo controle da sociedade.<br />

A maioria das distopias tem alguma conexão com o<br />

nosso mun<strong>do</strong>, mas frequentemente se refere a um<br />

futuro imagina<strong>do</strong> ou a um mun<strong>do</strong> paralelo no qual a<br />

distopia foi engendrada pela ação ou falta de ação<br />

humana, por um mau comportamento ou por<br />

ignorância.<br />

Listei <strong>10</strong> filmes essenciais. Mas não são os únicos. Há<br />

outros igualmente importantes. Mas segui uma linha de<br />

raciocínio, priorizan<strong>do</strong> algumas características da<br />

distopia. E são ótimos filmes, para duas gerações<br />

diferentes curtirem.<br />

Semana que vem, sai a segunda parte com filmes<br />

Distópicos mais atuais.<br />

Confiram:<br />

A literatura distópica costuma apresentar pelo menos<br />

alguns <strong>do</strong>s seguintes traços:<br />

Tem conteú<strong>do</strong> moral, projetan<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> como os<br />

nossos dilemas morais presentes figurariam no futuro;<br />

Oferecem crítica social e apresentam as simpatias<br />

políticas <strong>do</strong> autor; Exploram a estupidez coletiva; O<br />

poder é manti<strong>do</strong> por uma elite, mediante a somatização<br />

e consequente alívio de certas carências e privações<br />

<strong>do</strong> indivíduo; Discurso pessimista, raramente<br />

"flertan<strong>do</strong>" com a esperança; Violência banalizada e<br />

generalizada.<br />

Paralelo a isto, outras características são bem<br />

presentes no cinema: Homem vs Máquina; Sociedade<br />

em colapso, Tirania; Opressão; Alta Tecnologia não<br />

resultante em avanço social; Escassez de Recursos<br />

Naturais; Devastação Global; Luta por Sobrevivência<br />

(geralmente resultan<strong>do</strong> num conflito Homem vs<br />

Homem); Paranoia Tecnológica (tecnologia<br />

aliena<strong>do</strong>ra/controla<strong>do</strong>ra/ simulacro de realidade/<br />

virtualização total <strong>do</strong> homem); Ciência Antiética<br />

(experiências com cobaias humanas, experiências<br />

genéticas, armas biológicas, mutações, clonagem).<br />

O futuro é distante e o mun<strong>do</strong> está sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

poderosos, que isolaram os mais pobres no subsolo<br />

como se fossem seus escravos, para que trabalhassem<br />

em prol <strong>do</strong>s mesmos. Comanda<strong>do</strong>s por Freder<br />

Fredersen (Gustav Fröhlich), os operários são<br />

obriga<strong>do</strong>s a trabalharem sem parar para que a cidade<br />

não pare. Obra-prima de Fritz Lang, reconheci<strong>do</strong> como<br />

um <strong>do</strong>s filmes-mu<strong>do</strong>s mais importantes já lança<strong>do</strong>s no<br />

cinema, continuan<strong>do</strong> atual ainda hoje.


quan<strong>do</strong> vê uma mulher preferir ser queimada com sua<br />

vasta biblioteca ao invés de permanecer viva.<br />

Basea<strong>do</strong> no livro homônimo de George Orwell, em uma<br />

sociedade futurística totalitária, controlada pelo "Big<br />

Brother", o amor é proibi<strong>do</strong>. Winston Smith (Edmond<br />

O'Brien) é um funcionários <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, ele é<br />

responsável por reescrever a história e, ao se<br />

apaixonar por Julia (Jan Sterling), é visto como rebelde,<br />

sofren<strong>do</strong> tortura e lavagem cerebral pelo seu crime.<br />

Em uma desolada Inglaterra <strong>do</strong> futuro, a violência das<br />

gangues juvenis impera, provocan<strong>do</strong> um clima de<br />

terror.Alex (Malcolm McDowell) lidera uma das<br />

gangues e, após praticar vários crimes, é preso e<br />

submeti<strong>do</strong> à reeducação pelo Esta<strong>do</strong>, com base em<br />

uma técnica de reflexos condiciona<strong>do</strong>s.Quan<strong>do</strong> ele<br />

volta à sua vida em liberdade, é persegui<strong>do</strong> por<br />

aqueles que foram suas vítimas, Mr. Alexander (Patrick<br />

Magee) e sua esposa.<br />

A cidade de Alphaville é comandada pelo computa<strong>do</strong>r<br />

Alpha 60, que aboliu os sentimentos em seus<br />

habitantes. Lemmy Caution (Eddie Constantine) é um<br />

agente envia<strong>do</strong> ao local, com a missão de encontrar o<br />

professor von Braun, cria<strong>do</strong>r de Alpha 60. Seu objetivo<br />

é convence-lo a destruir a máquina. o percurso<br />

Natacha (Anna Karina), a filha <strong>do</strong> professor, lhe ajuda<br />

como guia.<br />

Uma obra psicodélica sobre um futuro distópico onde a<br />

população é forçada a viver em grandes cidades<br />

subterrâneas controladas por computa<strong>do</strong>res. Coisas<br />

como o livre arbítrio, religião, desejos e sexo são<br />

proibi<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s são controla<strong>do</strong>s por drogas que<br />

reprimem seus pensamentos e os deixam "dóceis" para<br />

fazerem suas funções na sociedade de maneira que<br />

não interfira no "equilíbrio" das coisas. Até que o<br />

humano THX-1138 (Robert Duvall) com sua parceira<br />

desafiam o sistema não apenas para defender seu<br />

romance (que é proibi<strong>do</strong>), mas para tentar escapar da<br />

cidade subterrânea e viver livres no "mun<strong>do</strong> de cima"<br />

Em um Esta<strong>do</strong> totalitário em um futuro próximo, os<br />

"bombeiros" têm como função principal queimar<br />

qualquer tipo de material impresso, pois foi<br />

convenciona<strong>do</strong> que literatura um propaga<strong>do</strong>r da<br />

infelicidade. Mas Montag (Oskar Werner), um<br />

bombeiro, começa a questionar tal linha de raciocínio


Em 2022 a face da Terra está bem modificada. Em<br />

Nova York há 40 milhões de habitantes e o efeito<br />

estufa aumentou muito a temperatura, deixan<strong>do</strong> o calor<br />

ficar quase insuportável. No entanto os ricos vivem em<br />

con<strong>do</strong>mínios de luxo, onde belas mulheres são parte<br />

da mobília. Mas a comida está escassa para to<strong>do</strong>s,<br />

tanto que um vidro de geleia de morango custa 150<br />

dólares. Neste contexto é assassina<strong>do</strong> um milionário,<br />

William R. Simonson (Joseph Cotten), que quan<strong>do</strong> viu<br />

que seria morto não esboçou gesto nenhum para se<br />

defender. O detetive Robert Thorn (Charlton Heston) é<br />

designa<strong>do</strong> para investigar o caso e constata algo<br />

realmente estarrece<strong>do</strong>r.<br />

Sam Lowry (Jonathan Pryce) vive num Esta<strong>do</strong><br />

totalitário, controla<strong>do</strong> pelos computa<strong>do</strong>res e pela<br />

burocracia. Neste Esta<strong>do</strong> futurista, to<strong>do</strong>s são<br />

governa<strong>do</strong>s por fichas e cartões de crédito e ainda<br />

precisam pagar por tu<strong>do</strong>, até mesmo pela permanência<br />

na prisão. Em meio à opressão, Sam acaba se<br />

apaixonan<strong>do</strong> por Jill Layton (Kim Greist), uma terrorista.<br />

+++++<br />

HOMENAGEM<br />

JEAN ROCHEFORT<br />

No mun<strong>do</strong> de 2293, após descobrir o segre<strong>do</strong> da<br />

imortalidade, um grupo de intelectuais resolve se isolar<br />

num mun<strong>do</strong> paralelo chama<strong>do</strong> Vortex. Lá, eles vivem<br />

longe da violência e <strong>do</strong> egoísmo humano. Para<br />

preservar essa condição, eles criam o mito de 'Zar<strong>do</strong>z',<br />

um espécie de deus simboliza<strong>do</strong> numa cabeça de<br />

pedra, que mantém uma legião de extermina<strong>do</strong>res,<br />

<strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>s a matar as pessoas, de forma a evitar a<br />

procriação. A estabilidade deste mun<strong>do</strong> será<br />

perturbada quan<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s extermina<strong>do</strong>res, Zed (Sean<br />

Connery), consegue ultrapassar a barreira <strong>do</strong> Vortex e<br />

se relacionar com os seus habitantes.<br />

Por Paulo Moura em <strong>Cine</strong> <strong>Club</strong><br />

A vida não poderia ser mais perfeita no século 23.<br />

To<strong>do</strong>s tem direito ao bom e o melhor. Porém, não<br />

podem ultrapassar a idade de 30 anos. Logan (Michael<br />

York) é a pessoa responsável por repreender os que<br />

não cumprem a regra. Até o dia em que ele atinge a<br />

idade permitida, decidin<strong>do</strong> por fugir.<br />

Passou meio batida aqui no Brasil a morte de<br />

Jean Rochefort, o grande ator francês que nos<br />

deixou esta semana. Rochefort brilhava em<br />

qualquer gênero, <strong>do</strong> drama pesa<strong>do</strong> às<br />

comédias amalucadas. Fez mais de 160<br />

filmes, quase sempre como o terceiro ou o<br />

quarto nome <strong>do</strong> elenco. Quan<strong>do</strong> lhe deram o<br />

papel principal, como em O Mari<strong>do</strong> da<br />

Cabeleireira, Eu Sou o Senhor <strong>do</strong> Castelo ou<br />

A Viagem de Meu Pai, criou personagens<br />

fortíssimos e inesquecíveis. Mas para mim<br />

sua maior criação foi mesmo o cínico Marquês<br />

de Bellegarde, em Cain<strong>do</strong> no Ridículo, dirigi<strong>do</strong><br />

por Patrick Leconte.


Blogs, páginas e grupos de colabora<strong>do</strong>res<br />

MADAME LUMIÉRE<br />

GRUPOS: <strong>Cine</strong> Saudade - <strong>Cine</strong>ma Clássico e Antigo - <strong>Cine</strong> <strong>Club</strong> - Point <strong>do</strong> <strong>Cine</strong>ma – CINEMA –<br />

Clássicos <strong>do</strong> <strong>Cine</strong>ma – Eterna Paixão pela Sétima Arte – Beco <strong>do</strong>s Cinéfilos – O <strong>Cine</strong>toscópio –<br />

Horrorscópio - Falan<strong>do</strong> de <strong>Cine</strong>ma – Amantes da Sétima Arte – Tu<strong>do</strong> sobre o seu filme: o grupo .

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