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Alderi Souza de Matos, Islã e Tolerância: Discurso Apologético e Realidade Histórica<br />
islã está seguro de suas crenças, não precisa temer que seus fiéis mantenham<br />
contato com a fé cristã.<br />
Existem valores no islã que podem ser utiliza<strong>do</strong>s para criar uma nova atitude<br />
em relação aos demais grupos religiosos. Porém, isso exigirá uma mudança<br />
de mentalidade <strong>do</strong>s juristas, <strong>do</strong>s exegetas, <strong>do</strong>s prega<strong>do</strong>res e <strong>do</strong>s governantes<br />
islâmicos, para que exerçam um novo tipo de influência sobre as suas populações.<br />
Peter Demant, autor nitidamente simpático ao islã, propõe uma reforma<br />
dessa religião em torno de alguns pontos essenciais: reinterpretação mais<br />
flexível de suas fontes, nova valorização da diversidade, reconciliação com a<br />
modernidade, valorização da democracia e atuação decisiva <strong>do</strong> islã ocidental. 70<br />
Os cristãos reconhecem a legitimidade de muitas críticas <strong>do</strong>s muçulmanos<br />
em relação ao Ocidente. O materialismo, a corrupção moral, o he<strong>do</strong>nismo e<br />
a atitude imperialista são merece<strong>do</strong>res de censura. 71 O fervor e a intensidade<br />
<strong>do</strong> islã também contrastam com o comodismo e a superficialidade de muitos<br />
cristãos ocidentais. Porém, o cristianismo entende que a violência, o espírito<br />
de vingança e a imposição de uma visão religiosa são igualmente condenáveis<br />
e pecaminosos. Eles não podem ficar passivos diante das agressões brutais que<br />
os seus irmãos sofrem em muitas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Não se trata de islamofobia,<br />
mas de uma questão de justiça e solidariedade.<br />
Ao contrário de outros líderes ocidentais, que preferem um silêncio<br />
cúmplice sobre esse tema, o primeiro-ministro inglês David Cameron falou<br />
claramente <strong>do</strong> assunto em sua mensagem de Páscoa de <strong>20</strong>15. Depois de apontar<br />
o significa<strong>do</strong> da data, mostrar a relevância <strong>do</strong> cristianismo na vida inglesa e<br />
declarar que a Inglaterra é um país cristão, ele acrescentou:<br />
Temos o dever de falar sobre a perseguição de cristãos ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. É<br />
realmente chocante que, em <strong>20</strong>15, ainda existam cristãos sen<strong>do</strong> ameaça<strong>do</strong>s,<br />
tortura<strong>do</strong>s e até mortos por causa de sua fé, <strong>do</strong> Egito à Nigéria, da Líbia à Coréia<br />
<strong>do</strong> Norte. Por to<strong>do</strong> o Oriente Médio cristãos têm si<strong>do</strong> arrasta<strong>do</strong>s de suas casas,<br />
obriga<strong>do</strong>s a fugir de vila em vila, muitos deles força<strong>do</strong>s a renunciar à sua fé<br />
ou sen<strong>do</strong> brutalmente assassina<strong>do</strong>s. A to<strong>do</strong>s esses corajosos cristãos no Iraque<br />
e na Síria que praticam a sua fé ou oferecem refúgio a outros, devemos dizer:<br />
“Nós estamos com vocês”. 72<br />
70 DEMANT, O mun<strong>do</strong> muçulmano, p. 357-364.<br />
71 Ver YANCEY, Philip. Por que os muçulmanos nos odeiam? In: WINTER, Ralph et al. Perspectivas<br />
no movimento cristão mundial. São Paulo: Vida Nova, <strong>20</strong>09, p. 481-483. No romance ficcional<br />
Submissão, publica<strong>do</strong> recentemente em português, o escritor Michel Houellebecq imagina a ascensão<br />
ao poder de um parti<strong>do</strong> político muçulmano na França e as consequências desse fato. Visto como uma<br />
crítica ao islã, o livro na realidade aponta para a decadência cultural e espiritual da Europa.<br />
72 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=A6JzlUwnSWw&feature=youtu.be. Acesso<br />
em: 22/05/<strong>20</strong>15.<br />
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