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FIDES REFORMATA XX, Nº 1 (<strong>20</strong>15): 61-87<br />
que entendem como ameaça e desrespeito à sua religião. Por exemplo, uma<br />
hadith afirma que Maomé desaconselhou a reprodução da sua figura para que<br />
não se tornasse um objeto de culto. Isso não impediu que pintores islâmicos<br />
medievais o retratassem em muitas obras de arte. Hoje, se uma publicação<br />
ostenta um desenho <strong>do</strong> profeta, mesmo que inocente e não desrespeitoso, tal<br />
fato desperta acusações de blasfêmia e reações muitas vezes letais de multidões<br />
ensandecidas, pelo mun<strong>do</strong> afora. 67 Este sentimento de ofensa não está presente<br />
com tal intensidade em outras religiões.<br />
Outro problema <strong>do</strong> islã é a incapacidade de compreender que o cristianismo<br />
não pode ser responsabiliza<strong>do</strong> por tu<strong>do</strong> de mau que ocorre no Ocidente e<br />
pelas ações negativas de países ocidentais em relação ao mun<strong>do</strong> muçulmano.<br />
Além de haver no hemisfério norte a plena separação entre igreja e esta<strong>do</strong>, as<br />
sociedades europeias e norte-americanas são fortemente secularizadas, ten<strong>do</strong><br />
há muito aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> as melhores convicções e valores <strong>do</strong> cristianismo. É<br />
igualmente injusto despejar reações de frustração e fúria sobre as pacíficas<br />
comunidades cristãs que sobrevivem com tanta dificuldade no mun<strong>do</strong> islâmico.<br />
Quanto à alegação de que o extremismo é uma distorção perversa <strong>do</strong><br />
verdadeiro islã, é importante lembrar que, no cristianismo, mesmo os grupos<br />
mais aberrantes <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong>utrinário ou ético jamais a<strong>do</strong>taram práticas<br />
tão violentas. Que adeptos de outras religiões bradam “Deus é grande!” (Allahu<br />
Akbar) enquanto cometem os maiores atos de crueldade? A agressividade latente<br />
no islã desde os seus primórdios e externada nas muitas situações mencionadas<br />
acima leva a concluir que a diferença entre o radicalismo islâmico e o islã<br />
majoritário não é tanto de natureza, e sim de grau. 68 A diferenciação que se faz<br />
entre Dar al-islam (“a casa <strong>do</strong> islã”) e Dar al-harb (“a casa da guerra”), esta<br />
última sen<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> não muçulmano a ser conquista<strong>do</strong>, não é indicativa de<br />
uma atitude pacífica e tolerante.<br />
conclusão<br />
A interação entre os mun<strong>do</strong>s cristão e muçulmano é uma realidade inevitável<br />
na contemporaneidade. Assim como os muçulmanos, os cristãos também<br />
creem na plena veracidade da sua fé e desejam compartilhá-la com to<strong>do</strong>s os<br />
povos e culturas. Eles querem dialogar e debater com os adeptos de outras<br />
religiões num ambiente de liberdade, respeito e convivência cordial. 69 Se o<br />
67 Foi o que ocorreu no Níger a partir <strong>do</strong> dia 16 de janeiro de <strong>20</strong>15, depois que o jornal Charlie<br />
Heb<strong>do</strong> publicou em sua capa uma charge de Maomé.<br />
68 Ver: BRASIL, Felipe Moura. O mito da minoria radical muçulmana. Disponível em: http://veja.<br />
abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/<strong>20</strong>15/01/07/o-mito-da-minoria-radical-muculmana/.<br />
69 O Seminário Teológico Reforma<strong>do</strong>, em Jackson, Mississipi, é um <strong>do</strong>s poucos que têm um<br />
programa volta<strong>do</strong> especificamente para o estu<strong>do</strong> e ministério a esse grupo, denomina<strong>do</strong> “Our Muslim<br />
Neighbors” (nossos vizinhos muçulmanos).<br />
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