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Jonathan Luís Hack, Jeremias: Um Panorama Teológico<br />
pessoas religiosas. Eles realmente criam que Javé é o Senhor <strong>do</strong> universo e que<br />
o templo era o local de sua habitação. Seu engano não reside em sua correta<br />
percepção da soberania de Javé sobre todas as nações, nem em sua suposição<br />
de que ele escolheu habitar entre seu povo em Jerusalém. 39 O problema teológico<br />
aqui é a inferência incorreta de que Deus sempre protegeria seu povo de<br />
qualquer inimigo. Essa proteção era garantida, pensavam eles, por três razões<br />
principais:<br />
(a) A reputação de Javé ficaria prejudicada entre as nações se Israel fosse<br />
derrota<strong>do</strong>. Essa era uma maneira antiga e comum de barganhar com Deus:<br />
lembrá-lo de considerar seu nome santo e sua glória (como Moisés em Êx<br />
33.1-17). Não consideravam que a reputação dele também ficaria prejudicada<br />
se ele simplesmente desconsiderasse o peca<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu povo.<br />
(b) A aliança eterna estabelecida por Javé com Davi (2Sm 7.4-17; 23.1-7)<br />
e sua escolha de Sião (Jerusalém) como local de sua habitação são eventos<br />
fundamentais na história de Israel. O templo proporcionava um local para se<br />
entrar na presença <strong>do</strong> Deus To<strong>do</strong>-Poderoso e a<strong>do</strong>rá-lo. Javé se alegra com a<br />
ideia de Davi sobre um santuário central e aceita a oração de Salomão (1Rs<br />
9.3-9), estabelecen<strong>do</strong> as mesmas condições de obediência que sempre estão<br />
presentes em nosso relacionamento com Deus. Entretanto, aquilo que foi outorga<strong>do</strong><br />
como meio de graça para a vida na presença de Deus se deturpou em<br />
uma esperança enganosa de proteção incondicional da parte de Deus.<br />
(c) A pregação de Isaías no século anterior reforçou seriamente esse conceito<br />
(Is 55.3). Ele orientou Ezequias a confiar completamente no livramento<br />
de Deus e a não temer seus inimigos (Is 36-37; ver especialmente 37.35),<br />
basean<strong>do</strong>-se na aliança divina com Davi. Portanto, na época de Jeremias, o<br />
povo aguardava o mesmo tipo de livramento (21.2) e os profetas proclamavam<br />
“paz, paz” como palavra de Javé para Israel (6.14; 8.11; 14.13; 23.17). 40 Entenderam<br />
a aliança de forma errada, apegan<strong>do</strong>-se às promessas, mas ignoran<strong>do</strong><br />
as responsabilidades. Gaban<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> ponto teológico erra<strong>do</strong>, 41 transformaram a<br />
a<strong>do</strong>ração ao Senhor em camuflagem para suas más ações.<br />
Jeremias expõe a falácia da confiança deles em seu Sermão <strong>do</strong> Templo<br />
(7.1-14). 42 Eles estão erra<strong>do</strong>s porque a verdadeira segurança não está em um<br />
39 Para um estu<strong>do</strong> mais extenso sobre o engano <strong>do</strong> povo em Jeremias, ver: OVERHOLT, Thomas W.<br />
The Threat of Falsehood: A Study in the Theology of the Book of Jeremiah. SBT2 16. Londres: SCM,<br />
1970, especialmente p. 86-104.<br />
40 Para uma análise desses oráculos de salvação, ver: SISSON, Jonathan Paige. “Jeremiah and the<br />
Jerusalem Conception of Peace”. Journal of Biblical Literature 105 (1986), p. 429-442.<br />
41 Deviam se gloriar acerca de um conhecimento real de Javé (9.23-24; 22.16). Ver: Brueggemann,<br />
“Bragging about the Right Stuff”. Journal for Preachers 26 (<strong>20</strong>03), p. 27-32, especialmente<br />
p. 31.<br />
42 Brueggemann, Like Fire, p. 16: “Jeremias parece ser um homem que fala a verdade em<br />
um mun<strong>do</strong> de falsidade e autoengano” (grifos <strong>do</strong> autor).<br />
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